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PARECER
INTRODUÇÃO
Passamos ao parecer.
Em outras palavras: sob o ponto de vista econômico, o tributo é construído para que
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O resultado é que o tributo não foi recolhido pela Consulente nem teve seu
custo econômico repassado aos contribuintes de fato, na sistemática originalmente
concebida pela norma tributária de regência. Quem deveria arcar com o custo
econômico do tributo ficou livre dessa imposição, por força das liminares.
Essa fratura do modelo legal do tributo deu-se como efeito concreto de medidas
liminares satisfativas mas potencialmente irreversíveis. Aqui se faz necessária breve
explicação lógico-conceitual.
Como já dissemos:
1 Marins, James. Direito Processual Tributário Brasileiro (Administrativo e Judicial) 7ª edição. Dialética,
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2014, p. 670.
2 Marins, James. Direito Processual Tributário Brasileiro (Administrativo e Judicial) 7ª edição. Dialética,
2014, p. 669.
Isso quer dizer, em última análise, que os pedidos liminares formulados pelos
contribuintes de fato, quando concedidos, modificaram a estrutura jurídica e
econômica do tributo – comprometendo irreversivelmente sua possibilidade de
cobrança do contribuinte de direito.
E o fato concreto é que a Consulente nada pôde fazer para impedir esse
nefasto efeito. A Consulente não solicitou nem tampouco deu causa às medidas
judiciais e sofreu os efeitos de pedidos formulados por contribuintes de fato, sob pena
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de desobediência.
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Esse é o crédito sub-judice na ação judicial para a qual este parecer foi
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solicitado.
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Fica claro, então, que a situação fática em exame é peculiar sob, pelo menos,
dois pontos de vista fundamentais.
O tributo, em suma, está sendo cobrado (a) de quem, pela lei, não o deve e
(b) de quem tentou cumprir o que a lei lhe determinava mas foi impedido de fazê-lo
por liminares em processos dos quais não foi parte.
Contra essa cobrança foi movida ação anulatória que, depois de sentença
pela parcial procedência, encontra-se em grau de recurso de apelação.
2. O DESMEMBRAMENTO DA COBRANÇA
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administrativa pelo sujeito passivo, só será exigível o crédito tributário quando houver
decisão definitiva no processo administrativo.
3 Machado, Hugo de Brito. Comentário ao Código Tributário Nacional, Atlas, 2005, Volume III, p. 223.
4 Vejam-se também, sobre a função de garantia da suspensão da exigibilidade pelos recursos os
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aportes doutrinários de Machado Segundo, Seixas Filho, Cleucio Nunes e Alberto Xavier: “Em
homenagem ao princípio da segurança jurídica e da impossibilidade de serem perenizados os conflitos,
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o processo administrativo, assim como o processo judicial, possui um número finito de recursos, e
hipóteses específicas nas quais tais recursos são cabíveis. Esgotados todos os recursos, ou não
interpostos os ainda eventualmente indisponíveis, diz-se que a decisão administrativa é definitiva.”
(Machado Segundo, Hugo de Brito. Processo Tributário, 5ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2010, p.
176). “Considerando-se, então, somente estar definitivamente constituído o crédito tributário, quando
não possa mais ser impugnado pelo sujeito passivo, a contagem do prazo prescricional será iniciada
quando esgotados os efeitos dos recursos administrativos ou preclusos os prazos para recorrer.”
(Seixas Filho, Aurélio Pitanga. Estudos de Procedimento Administrativo Fiscal, Freitas Bastos Editora,
pp. 302-303).“De outro lado, as reclamações e os recursos administrativos do processo tributário têm
o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário (CTN, art. 151, III). Isto quer dizer, enquanto
não for decidido definitivamente o processo administrativo de lançamento de ofício, a Fazenda Pública
está impedida de exigir o crédito tributário. Dito de outro modo, não poderá inscrever na dívida ativa
para obtenção do título executivo e, posteriormente, cobrar o crédito tributário por meio de execução
fiscal.” (Nunes, Cleucio Santos. Teoria e Prática do Processo Tributário, Dialética, São Paulo, 2002,
p.283). “Um outro traço do regime jurídico da impugnação administrativa que revela bem a sua função
subjetiva ou ‘garantística’ consiste na atribuição a essa impugnação de efeito suspensivo, ou seja, de
suspender a exigibilidade do crédito tributário ‘construído’ pelo ato administrativo primário em que o
lançamento se traduz. É o que resulta do art. 151, inciso III, do Código Tributário Nacional, segundo o
qual suspendem a exigibilidade de crédito tributário ‘as reclamações e os recursos, nos termos das leis
reguladoras do processo tributário administrativo’. Quer isto dizer que, na ponderação entre o interesse
público na imediata execução do ato tributário e o interesse privado na suspensão, prevalece este
último. Como diz Freitas do Amaral, a desvantagem resultante para o particular da prática do ato
impugnado cessa temporariamente até que o órgão <<ad quem>> se pronuncie sobre o caso. Quer
dizer: pelo simples fato de alguém atacar o ato administrativo, fica paralisada a sua eficácia no intuito
de evitar que o prejuízo do particular se consume antes de o superior hierárquico (‘o órgão de
julgamento’, dizemos nós) poder reapreciar o ato em causa. Ora – conclui Freitas do Amaral – se a
função do recurso fosse apenas a de proteger os interesses gerais, não faria sentido que a sua
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do Procedimento e do Processo Tributário, 2ª edição, Rio de Janeiro, 1998, Editora Forense, pp. 343-
344).
valor principal do crédito tributário, que fica, por essa razão, fora
do escopo do Recurso Especial.
Em segundo lugar, ainda que o dito acima não fosse verdadeiro, isto é,
mesmo que parte da decisão de segunda instância não houvesse sido objeto de
recurso, isso não transformaria aquela decisão em definitiva, por impossibilidade legal.
5MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Malheiros,
2002, p. 350.
Em terceiro lugar, entender como o faz a Receita Federal é admitir que cabe
à fiscalização tributária formular juízo subjetivo sobre a abrangência do Recurso
Especial à CSRF, para apurar se parte da decisão de segunda instância não foi objeto
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6Cf. nosso Direito Processual Tributário Brasileiro (Administrativo e Judicial). São Paulo: Dialética, 7ª.
Ed., 2014, pp. 325-326.
Estamos sustentando que descabe esse juízo subjetivo para avaliar se parte
da decisão de segunda instância não foi objeto de recurso. Descabe, precisamente,
para dar segurança jurídica à Administração Tributária, que não deve ficar à mercê de
subjetividades e de interpretações. Não é razoável impor ao fiscal tributário o ônus de
interpretar um Recurso Especial que não lhe foi dirigido, para decidir se há ou não
parte da decisão que se tivesse tornado definitiva.
judicial que vier a contestar o lançamento ou mesmo em eventual execução fiscal que
teria sido aforada prematuramente.
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Caso não se entenda dessa forma, é preciso que a Receita Federal do Brasil
assuma as consequências perigosíssimas de se aceitar – contra legem – a existência
de competência da fiscalização tributária para eleger, subjetivamente, o conteúdo, o
sentido e o alcance do Recurso Especial que não lhe foi dirigido.
De nossa parte estamos convictos de que a lei não impõe esse ônus à
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7 Já se disse que as contribuições especiais são tributos de características singulares. Para Paulo
Roberto Lyrio Pimenta: “...o traço característico das contribuições especiais no direito brasileiro é que
são exações instituídas para alcançar determinados fins qualificados constitucionalmente”
(Contribuições de intervenção no domínio econômico. São Paulo: Dialética, 2002, p. 17). Ensina
Marco Aurélio Greco: ”Nesta norma atributiva de competência para instituir a exação, tipifica-se uma
validação finalística de modo que as leis instituidoras estarão em sintonia com a Constituição, e dentro
do respectivo âmbito de competência, se atenderem às respectivas finalidades identificadas a partir
das “áreas de atuação” qualificadas pelo art. 149” (Contribuições: uma figura “sui generis”. São Paulo:
Dialética, 2001, p. 135). Nas contribuições de intervenção no domínio econômico, a finalidade do tributo
será, sem dúvida, a intervenção na economia, que pode se dar de duas formas: ou pela própria
incidência, que orienta condutas por meio da extrafiscalidade, ou pela destinação do produto
arrecadado. Explica, a respeito, Marco Aurélio Greco: “No campo econômico, a “atuação” da União
pode consistir numa atuação material ou numa atuação de oneração financeira. Se a atuação for
material, a contribuição servirá para fornecer recursos para o exercício das atividades pertinentes e
para suportar as despesas respectivas; se a atuação for no sentido do equilíbrio ou equalização
financeira, a contribuição será o próprio instrumento da intervenção” (Contribuições: uma figura “sui
generis”. São Paulo: Dialética, 2001, p. 236). No caso da Cide-Combustíveis, a finalidade de
fornecimento de recursos é evidente e decorre de expressa determinação constitucional. Prescreve,
com efeito, o artigo 177, § 4.°, II, da Constituição: “§ 4º A lei que instituir contribuição de intervenção no
domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus
derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos
(...) II - os recursos arrecadados serão destinados: a) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte
de álcool combustível, gás natural e seus derivados e derivados de petróleo; b) ao financiamento de
projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; c) ao financiamento de
programas de infra-estrutura de transportes.” Veja-se que as finalidades são bastante amplas e
beneficiam toda a coletividade, como o financiamento de projetos ambientais e infraestrutura de
transportes. Todos aqueles que comercializam combustíveis promovem degradação ambiental e
dependem da infraestrutura de transportes. Daí a arrecadação dessa Cide-Combustíveis dever ser
compartilhada por todos esses comerciantes. A referibilidade entre sujeito passivo e intervenção, aqui,
decorre do próprio texto constitucional: se a intervenção visa promover projetos ambientais ou de
transporte, reparando os danos ou desgastes promovidos pelos comerciantes de combustíveis, todos
esses comerciantes devem ser sujeito passivo do tributo. Aliás, essa referibilidade não precisa ser
direta. Roque Antonio Carrazza, por exemplo, sustenta: As “contribuições de intervenção no domínio
econômico” só poderão ser exigidas de quem efetivamente vier a se beneficiar atuando num dado setor
econômico ou de quem, ao assim proceder, causar especial detrimento à coletividade (Curso de
direito constitucional tributário. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 530). No caso, o detrimento
ambiental e da infraestrutura de transportes tem causa na relação de comércio de combustíveis, daí a
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exigência da Cide-Combustíveis dever se dar em relação a todos esses comerciantes. A esse tributo
cabe, perfeitamente, o que ficou decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, em voto da Ministra Eliana
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Calmon: “As CIDEs afetam toda a sociedade e obedecem o princípio da solidariedade e da capacidade
contributiva...” (STJ, 1.° Seção, EREsp 705536, Rel. Min. Eliana Calmon, pub. 18/12/2006).
Dizer que a Cide integra a receita bruta do vendedor (do atacado) significa
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dizer que o valor pago a título dessa Cide será incluído no preço dos combustíveis
vendidos, repercutindo economicamente e atingindo, de fato, o comprador dos
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situação teratológica na qual a Consulente deve arcar com um custo tributário que
não lhe é imposto pela lei.
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8 STJ, 1.° Turma, REsp 1.281.863, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, pub. 16/04/2012.
9 Primeiras linhas de direito processual civil. 21. ed. v. 3. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 75-76.
10 Curso de direito processual civil. 51. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 557.
da exação, unicamente por conta das medidas judiciais ajuizadas pelos contribuintes
de fato em face da União, em processos nos quais a Consulente não foi parte. Em
outras palavras: a Consulente é terceiro no processo judicial e está sendo, por ele,
prejudicada de forma clara e inequívoca, violando-se frontalmente o disposto no artigo
472 do Código de Processo Civil.
Quanto a esse último ponto, o erro da sentença é evidente, uma vez que o
pedido da Consulente não foi formulado para estender a responsabilidade pelo tributo
a outrem. No pedido não consta nada nesse sentido. Em relação ao mérito, o pedido
está assim redigido:
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Como se vê, a ação judicial não requer ao juízo que defina quem dever arcar
com o tributo; apenas, requer a anulação da cobrança dirigida à Consulente.
Mas, além disso, como visto, a sentença também decidiu que “não há como
se afastar da mesma [a Consulente] a qualidade de contribuinte (art. 2 da Lei n
10.336/01), por não terem as referidas decisões o condão de alterar a sujeição passiva
do tributo”.
11Borges, José Souto Maior. O contraditório no processo judicial: uma visão dialética. 2. ed. São
Paulo: Malheiros, 2013, p. 109-111.
tributo, mas agora está sendo obrigada a suportá-lo, de forma contrária a sistemática
legal para os casos normais.
Quando isso ocorre, cabe ao Poder Judiciário a devida adaptação da lei geral
a essa situação concreta que, claramente, escapa do normal. Também é essa a lição
de Humberto Ávila:
12 Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 13. ed. São Paulo:
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3.3.1. A razoabilidade
14Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 13. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012, p. 173.
adotada: uma qualidade não leva à medida, mas é critério intrínseco a ela.”15 Em relação ao postulado
da proporcionalidade, há que existir uma relação entre meio e fim, devidamente, estruturada, ou seja,
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“o exame de proporcionalidade aplica-se sempre que houver uma medida concreta destinada a realizar
uma finalidade”. No âmago da proporcionalidade, há a adequação, importante para a tomada de
decisões, sendo que: “O Supremo Tribunal Federal tem aceito a tese de que a inconstitucionalidade só
Isso é precisamente o que ocorre no caso sob exame. Há, aqui, dois aspectos
absolutamente singulares, anormais, especiais, desconsiderados pela generalização
da lei (e também pela própria sentença): (i) o ônus econômico ser suportado por quem
não é contribuinte de fato, e (ii) o prejuízo decorrente de medida judicial em que o
prejudicado não foi parte.
pode ser declarada quando a norma é evidentemente incapaz de atingir a sua finalidade. Com isso, o
Tribunal parece inclinar-se por um controle moderado de proporcionalidade, como aqui defendido.”
Outro fator intrínseco ao postulado em questão é a necessidade, onde habita a análise de meios
alternativos ao Poder Legislativo e Poder Executivo, sendo que o Poder Judiciário tem o papel de
preservar ao máximo o processo democrático com a tentativa de sempre escolher o melhor meio para
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promover a finalidade pública. (MARINS, James. Direito Processual Tributário Brasileiro, op. cit., pp.
163-166).
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16Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 13. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012, p. 175.
Não é adequada a aplicação da norma geral para o caso concreto, pela dupla
especificidade referida: deslocamento do ônus econômico e prejuízo a terceiro em
processo judicial. Note-se, por importante, que essa dupla especificidade é jurídica: o
deslocamento do ônus econômico escapa da regra geral prevista no artigo 5. , § 7. ,
da Lei n. 10.336/2001, e o prejuízo a terceiro em processo judicial foge da regra geral
prevista no artigo 472 do Código de Processo Civil. No caso presente, a
responsabilização da Consulente por aplicação não adaptada do artigo 2. da Lei n.
10.336/2001 fere a razoabilidade.
Para resolver a questão, o Poder Judiciário não só pode como deve aplicar a
razoabilidade, como decorrência do princípio de justiça, e desobrigar a Consulente de
arcar com um ônus econômico que não é seu.
17Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 13. ed. São Paulo:
Malheiros, 2012, p. 176.
isolada quando ela se revela irrazoável, injusta e não equitativa, como é o caso
presente.
Ocorre que a decisão judicial que simplesmente se limita a aplicar regra que
indica a Consulente como contribuinte de direito independentemente dos fatos o faz
ao modo “tudo ou nada” – método que, ao contrário de promover a segurança do
ordenamento, acaba por negar a própria estabilidade hermenêutica. De fato, com o
advento da teoria de Ronald Dworkin18, no qual as regras são aplicadas ao modo “tudo
ou nada”, fecharam-se os olhos para a complexidade da realidade fática e normativa.
Fatos que não encontram molde na legislação – como liminares com caráter
de irreversibilidade que fraturaram a estrutura jurídico-econômica da Cide-
Combustíveis – demandam tratamento hermenêutico adequado.
Isto é, para a sentença ora analisada: mesmo que o contribuinte não tenha
dado causa às liminares, mesmo que estas liminares tenham tido caráter irreversível,
mesmo que o contribuinte não tenha sido parte nos processos, mesmo que as ordens
judiciais o tenham impedido de repassar o ônus do tributo como prevê a lei, mesmo
que com isso tenha sido irremediavelmente fraturada a estrutura jurídico econômica
18Observe-se, a título ilustrativo, a distinção dos princípios e das regras na visão de Ronald Dworkin:
“A diferença entre princípios jurídicos e regras jurídicas é de natureza lógica. Os dois conjuntos de
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à maneira do tudo-ou-nada. Dados os fatos que uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste
caso a resposta que ela fornece deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribui para
a decisão”. (Ronald Dworkin, “Levando...Ob.cit., p. 39).
da contribuição, ainda assim aplico a regra, porque regra é regra, regra é tudo ou
nada.
19Marins, James. Direito Processual Tributário Brasileiro, op. cit., pp. 158 e 159.
20 Ávila descreve a função da Ciência do Direito Tributário, explicando, com propriedade, as várias
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teorias da interpretação, privilegiando, mais uma vez, o caráter hermenêutico do Direito de modo a
demonstrar que: “Todas essas considerações terminam por comprovar que a ‘tese descritivista da
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Ciência do Direito’ partiu de um modelo de Ciência criado para outros mundos, mas não para o mundo
do Direito. O ideal dos empiristas, de criar um único método para todas as ciências, surgiu inicialmente
para as ciências naturais, alastrando-se mais tarde para todas as ciências, inclusive a do Direito. Ocorre
que as ciências naturais consistem em discursos que têm por objeto uma entidade física, capaz, em
tese, de ser descrita, como é o caso da Ciência Astronômica, que tem por objeto o movimento dos
planetas, descrito pelos astrônomos. Já a Ciência do Direito envolve um discurso que não tem por
objeto uma entidade física, mas uma realidade discursiva, incapaz de ser descrita como supostamente
o é uma entidade física, pela singela e boa razão de que não está pronta sem a participação do
intérprete”. (Humberto Ávila, “Função da ciência do direito tributário: do formalismo epistemológico ao
estruturalismo argumentativo”, Revista direito tributário atual, n. 29, São Paulo, Dialética-IBDT, 2013,
p. 201).
21 Para André Folloni “já não se pode mais, no século XXI, sustentar a cisão entre razão e vontade,
nem o reducionismo como método científico seguro”. (André Folloni, “Ciência do Direito Tributário no
Brasil: Crítica e perspectivas a partir de José Souto Maior Borges”, São Paulo, Saraiva, 2013, p. 420)
22 Agostinho Ramalho Marques Neto explica: “Toda concepção metafísica do Direito, de inspiração
estiver aí contido é expurgado para fora do terreno jurídico, podendo constituir, quando muito, o objeto
de outras disciplinas, como a Sociologia Jurídica, a Filosofia do Direito, etc. A estas caberia como que
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recolher aquelas sobras”. (Agostinho Ramalho Marques Neto, “Subsídios para pensar a possibilidade
de articular direito e psicanálise”, In, Agostinho Ramalho Marques Neto et al, “Direito e neoliberalismo:
elementos para uma leitura interdisciplinar”. Curitiba, EDIBEJ, 1996, p. 28-29).
da razoabilidade.
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23 STF. Tribunal Pleno. MS 26.690/DF. Rel. Ministro Eros Grau. Publ. 18.12.2008.
Como se vê, não é nenhuma novidade pedir, ao Poder Judiciário, que, por
razoabilidade, considerando o contexto diferenciado do caso concreto, ofereça
solução que afaste a aplicação de regra isolada. Isso, ao contrário, é o que se espera
do Poder Judiciário.
4.1. Quesito 1
Não.
4.2. Quesito 2
Não.
4.3. Quesito 3
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Não.
É o nosso parecer, s. m. j.
James Marins
Doutor em Direito do Estado pela PUC-SP (1998)
Pós-Doutor pela Universitat de Barcelona-ES (2004)
Professor Titular de Direito Processual Tributário da PUCPR (1995-14)
Professor Visitante da Universitat de Barcelona-ES (2003-04)
Professor de Direito Processual Civil da PUC-SP (1990-94)
Membro da Academia Brasileira de Direito Tributário - Cadeira n. 3 (2012)
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