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Artigo publicado

na edição 66

setembro e outubro de 2018


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O Impacto Tributário
nos Projetos Logísticos
Análise e estudos de caso
na definição de projetos
logísticos
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Este artigo tem o objetivo de demonstrar que, a cada
projeto logístico, faz-se necessária uma análise prévia
para a escolha da melhor alternativa fiscal para a
operação, para avaliar os riscos, os benefícios e o
impacto tributário em cada caso. O artigo demonstra,
também, que a atividade tributária pode contribuir,
apresentando soluções fiscais para viabilizar um
projeto logístico.

A questão tributária é muito im-


portante nos projetos logísticos. Os
aspectos fiscais e tributários podem
se tornar um fator decisivo na to-
mada de decisão para a implantação
de um projeto logístico, porque, ao
se fazer um estudo prévio de todo
o projeto, envolvendo a análise de
todos os fluxos fiscais, impostos
incidentes na operação, formas de
tributação, benefícios fiscais, possí-
veis riscos fiscais etc, pode-se con-
cluir que a carga tributária pode ou
não compensar a continuidade do
projeto.
Milton Hashimoto de Moraes Sem o estudo prévio do impacto
Diretor da Log Tributos, com experiência na gestão fiscal e tributária da carga tributária, em toda a cadeia
de grandes empresas industriais e prestadoras de serviços, foi auditor
fiscal externo, gerente de Auditoria Fiscal e de Procedimentos Fiscais operacional, corre-se o risco de re-
da Itautec Philco e gerente do Departamento Legal e Tributário da colher os impostos indevidamente
DHL. Atualmente, é sócio-fundador da Log Tributos, consultoria
tributária especializada em logística, transporte e armazenagem. ou correr riscos fiscais desnecessá-
milton@logtributos.com rios, podendo resultar em elevadas
multas.
Francisco de Assis de Souza Os impostos e as contribuições
Advogado, com experiência em reestruturação de rotinas fiscais que incidem diretamente nos pre-
práticas (Enterprise Resource Planning (ERP), Warehouse
Management System (WMS), Sped Fiscal etc), atua na área há mais ços dos serviços logísticos e na
de 25 anos, tendo trabalhado em grandes empresas e escritórios movimentação de mercadorias são
de advocacia tributária. Atualmente, é sócio da Log Tributos, com
especialização em tributos indiretos (Imposto sobre Operações
o Imposto sobre Operações Rela-
Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços tivas à Circulação de Mercadorias
de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação e sobre Prestações de Serviços de
(ICMS), ICMS-Substituição Tributária (ST), Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), Imposto Sobre Serviços (ISS) etc). Transporte Interestadual, Inter-
francisco@logtributos.com

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municipal e de Comunicação (ICMS), Imposto  Sobre porte municipal. No entanto, cada município determina
Serviços (ISS), Programa de Integração Social (PIS) e a sua alíquota, variando de 2% a 5%, de acordo com a
Contribuição para Financiamento da Seguridade Social citada lei, influenciando diretamente no custo final do
(Cofins). A legislação é complexa, pois há muitos de- serviço junto ao cliente.
talhes a serem observados e, para o ICMS, o mesmo Em relação ao município, na escolha do local de
assunto pode variar de Estado a Estado, com diferentes instalação de uma central de distribuição (filiais, ar-
tipos de interpretação do fisco. mazéns, depósitos etc), devem ser analisadas todas
O ICMS exigido nas operações de movimentação as oportunidades que a legislação municipal oferece,
de mercadoria e serviço de transporte interestadual e como incentivos fiscais, serviço gratuito de terrapla-
intermunicipal tem significativo impacto na formação nagem, isenção ou redução de impostos e taxas mu-
de preços e influência estratégica na definição do local nicipais, ajuda de custo na construção ou aluguel de
de implantação de centrais de distribuição, armazéns e imóvel etc.
filiais, seja por causa das diferentes alíquotas definidas Com relação ao PIS e Cofins, que incide sobre a
em cada Estado ou pelas operações interestaduais pra- totalidade das receitas auferidas pela empresa, há uma
ticadas ou, ainda, por algum incentivo fiscal concedido acentuada carga tributária, principalmente, para as em-
por algum Estado. presas enquadradas no lucro real, motivadas pela im-
Há a variação de alíquotas do ICMS na saída de mer- possibilidade de crédito de muitos insumos considera-
cadorias, dependendo do Estado de origem e destino. A dos essenciais na prestação de serviços.
diferença entre uma alíquota de 18% de ICMS e outra Finalmente, pode-se dizer que o projeto logístico
de 12% ou 7% pode ser maior que qualquer custo logís- tem de estar em sincronia com a análise tributária. Fa-
tico. Isso dá margem à imaginação para a utilização de zer a ope­ração logística sem estudo prévio do impac-
alternativas fiscais, na implantação de centrais de dis- to da carga tributária em todo o processo é perder di-
tribuição (filiais, armazéns etc). As empresas devem es- nheiro, devendo ser analisada minuciosamente a carga
tar atentas às oportunidades e riscos de cada operação, tributária em cada operação. Este estudo pode trazer
devido à complexa e extensa legislação fiscal.
Quanto ao ISS, a Lei Complementar nº 116/03 dis- As análises fiscal e tributária de um projeto lo-
ciplinou o recolhimento do imposto para vários servi- gístico precisam ser feitas em conjunto com a área
ços do segmento logístico e transporte municipal. Com técnica. Saber o melhor cenário fiscal e a respectiva
essa lei, o ISS passou a ser devido ao município, onde o tributação e seus impactos são fatores preponde-
serviço é prestado, nas operações logísticas e de trans- rantes na decisão para implantar um projeto.

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grandes econo­mias e aumentar a competitividade junto aos clientes. ção, sem a necessidade da compra
imediata desse estoque, somente
ANÁLISE DE PROJETOS LOGÍSTICOS
quando for utilizado. No projeto
A seguir, serão comentados dois projetos logísticos que participam da
em questão, trata-se de manter o
análise, nos quais a atividade tributária foi fator-chave de decisão para a
estoque zero de materiais de uso e
continuidade do projeto. No primeiro, os aspectos fiscais e tributários fo-
consumo ou ativo imobilizado den-
ram favoráveis à implantação do projeto logístico. No segundo projeto, não
tro de um CD terceirizado.
foi implantado, porque a questão tributária inviabilizou a sua implantação.
Para viabilizar essa operação, será
necessário um cenário fiscal que
PRIMEIRO PROJETO: ESTOQUE ZERO permita realizar a operação de forma
Nesse primeiro projeto, o objetivo é aplicar o conceito de estoque zero simples e objetiva, com o menor im-
de mercadorias, sendo necessária a realização de estudos sobre os diversos pacto tributário possível, sem expor
cenários fiscais que uma empresa de energia elétrica poderá utilizar, redi- os envolvidos a nenhum risco fiscal.
recionando o fluxo atual de aquisições dos seus materiais diretamente dos
fornecedores, para a “armazenagem” prévia em um centro de distribuição INFORMAÇÕES PARA A ANÁLISE
(CD) de terceiros, conforme o escopo descrito nos tópicos seguintes. DO PROJETO
As análises foram desenvolvidas
ESTRUTURA ATUAL a partir das seguintes informações
Atualmente, os materiais utilizados pela empresa de energia elétrica são fornecidas pela empresa de energia
comprados diretamente dos fornecedores, localizados em diversos Estados elétrica:
do País, de modo com que os respectivos estoques ficam disponibilizados • Fornecedores localizados nos
nas filiais da empresa de energia elétrica, também localizadas em diversos Estados de São Paulo, Minas Ge-
Estados. rais, Ceará, Paraná, Santa Catari-
na e Rio Grande do Sul;
• O CD deve ser localizado em São
NOVA ESTRUTURA PRETENDIDA
Paulo ou Minas Gerais;
Em síntese, a nova estrutura pretendida visa ao redirecionamento do flu-
• As filiais da empresa de energia
xo atual de aquisições dos seus materiais, tendo o objetivo de trabalhar com
elétrica estão localizadas nos
o conceito de “estoque zero”.
Estados do Mato Grosso, Mato
Nesse novo conceito:
Grosso do Sul, Tocantins, Paraí-
• O estoque de materiais ficaria à disposição da empresa, mas sem a neces-
ba, Sergipe, Minas Gerais, Para-
sidade da compra imediata;
ná, São Paulo e Rio de Janeiro;
• Os fornecedores deverão manter os estoques em um determinado ope-
• Os fornecedores serão os depo-
rador logístico (CD).
sitantes das mercadorias no CD
(que enviam as mercadorias para
CONCEITO DE ESTOQUE ZERO a armazenagem no CD);
Na indústria, trata-se de manter o estoque de insumos: matéria-prima, • O CD é um operador logístico
material auxiliar e de embalagem, dentro do estabelecimento industrial ou terceirizado;
nas proximidades, em estabelecimentos de terceiros, geralmente, um ope-
rador logístico, sem a necessidade da compra imediata desse estoque, mas
somente quando utilizado na linha de produção. Só haverá o pagamento
aos fornecedores quando o insumo for consumido na produção do produto.
A gestão do estoque poderá ser terceirizada, feita por um operador lo-
gístico, que intermediará a relação entre os fornecedores e a indústria e, na
operação, será o responsável pelo recebimento, conferência, armazenagem
e abastecimento da linha de produção da indústria.
No comércio ou outro segmento, trata-se de manter o estoque de mer-
cadorias ou materiais de uso e consumo ou ativo imobilizado à disposi-

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• Cabe ao fornecedor e ao CD a ser observado o aspecto fiscal relacionado à forma de emissão de notas fis-
responsabilidade pelo trâmite cais e tributação do ICMS e ICMS-Substituição Tributária (ST). O fluxo
de documentos fiscais e controle fiscal do armazém geral pode ser visto na Figura 1.1 (dentro do Estado) e
dos estoques; na Figura 1.2 (fora do Estado).
• A relação entre a empresa de
energia elétrica e o CD será a
Remetente da mercadoria
partir do momento da definição
4. NF retorno
(Depositante) 2. NF de venda com
da saída da mercadoria para os simbólico sem ICMS e IPI
distribuidores e/ou empreiteiros; ICMS/IPI
Mencionar na nota fiscal:
• Os honorários dos serviços pres- “A mercadoria sairá do
tados pelo CD serão pagos pela armazém geral”
1. NF remessa para o depósito sem ICMS/IPI
empresa de energia elétrica.
Destinatário
Armazém 3. Transporte da mercadoria com a nota das
geral fiscal de venda, emitida pelo cliente mercadorias
CENÁRIOS FISCAIS
A análise dos cenários fiscais foi
feita com base no escopo principal
Nota: O remetente é os fornecedores e o destinatário é as filiais da
do projeto, que é a concentração
empresa de energia elétrica.
dos materiais em um CD, em ope-
rador logístico de terceiro, mas sem
Figura 1.1: Fluxo fiscal de armazém geral. Operações em que o armazém geral e o
que haja a compra prévia por parte remetente da mercadoria estão localizados no mesmo Estado – saída para terceiros.
da empresa de energia elétrica.
Foram analisados os seguintes
cenários fiscais:
• Armazém geral;
• Filial do fornecedor dentro do 4. NF retorno 2. NF de venda sem
simbólico sem ICMS Remetente da mercadoria ICMS e com IPI
operador logístico; (empresa de outro Estado)
• Depósito fechado; Mencionar na NF:
• Consignação mercantil; 1. NF remessa para o “A mercadoria sairá
armazém geral com ICMS do Armazém Geral”
• Consignação industrial.
3. NF remessa por conta e
Armazém ordem com ICMS Destinatário da
a) Armazém geral geral mercadoria
O armazém geral é uma al-
ternativa fiscal muito usada nas
operações logísticas para a arma- Nota: No item 3, se a mercadoria se sujeitar à substituição tributária,
zenagem e distribuição de merca- haverá, também, o destaque do ICMS-ST.
dorias. Quando o armazém geral e
o fornecedor estiverem localizados Figura 1.2: Fluxo fiscal de armazém geral. Operações em que o armazém geral e o
remetente da mercadoria estão localizados em Estados distintos – saída para terceiros.
no mesmo Estado, na movimenta-
ção da mercadoria, não há ICMS.
Quando o armazém geral e o for- b) Filial
necedor localizarem-se em Estados Uma das alternativas fiscais que vêm crescendo no mercado logístico,
diferentes, haverá a tributação do por necessidades comerciais, logísticas e fiscais, é manter a filial de empre-
ICMS na movimentação da mer- sas depositantes dentro do depósito do operador logístico, no mesmo en-
cadoria (na remessa e na saída do dereço. Porém, é necessário que, antes da abertura da filial, deve-se obser-
armazém) e, caso a mercadoria es- var a legislação do Estado onde se pretende realizar a operação, quanto ao
teja sujeita à substituição tributária, entendimento do fisco sobre a possibilidade de manter a filial da empresa
haverá, também, o ICMS-ST. dentro do depósito de outra empresa. O fluxo fiscal da filial pode ser visto
Portanto, para cada Estado, deve na Figura 2.

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Em termos fiscais, o armazém
geral está previsto na legislação de
São Paulo e Minas Gerais, não ha-
FORNECEDOR vendo restrições para a sua utiliza-
Remetente das ção, bastando que sejam observadas
mercadorias
1. Transfere a as regras da legislação de cada Es-
mercadoria tado, seja em relação ao fluxo fiscal
com ICMS
e IPI (emissão dos documentos fiscais)
ou à tributação (ICMS e ICMS-ST).
Destinatário
FILIAL 3. Venda com ICMS e IPI
das DEFINIÇÃO DO MELHOR
mercadorias
CENÁRIO FISCAL PARA A
OPERAÇÃO E LOCAL
Nota: O remetente é o fornecedor que transfere para a sua filial, den-
tro do depósito do operador logístico, e o destinatário é as filiais da Primeira opção: armazém geral
empresa de energia elétrica. em São Paulo
A conclusão final das análises
Figura 2: Fluxo fiscal da filial nas dependências do operador logístico. para o novo projeto logístico, o qual
visa trabalhar com o conceito de
c) Depósito fechado, consignação mercantil e consignação industrial “estoque zero” na compra de mate-
Embora seja possível aplicar o conceito de estoque zero, no cenário de riais, o cenário armazém geral é o
consignação industrial, consignação mercantil e depósito fechado, especifi- que se mostra mais adequado.
camente para esse projeto logístico, não se aplicam esses três cenários. • O estoque ficará à disposição da
A consignação industrial e a consignação mercantil não se aplicam para empresa de energia elétrica, sem
a empresa de energia elétrica, porque são operações, nas quais o fornecedor que haja a necessidade da com-
envia a mercadoria para o fabricante utilizar no processo industrial ou para pra imediata. Haveria a remessa
o comerciante realizar as operações de venda. prévia para a armazenagem no
Pelo escopo do projeto, os fornecedores remeterão as mercadorias ao opera- CD, mas a compra efetiva por
dor logístico, para que armazene e envie às filiais da empresa de energia elétrica, parte da empresa de energia elé-
fugindo totalmente do conceito de consignação, seja industrial ou mercantil. trica somente ocorrerá à medida
O depósito fechado até poderia ser utilizado, mas desde que fornecedor que os distribuidores (filiais da
e o operador logístico estivessem localizados no mesmo Estado, razão pela empresa de energia elétrica) fo-
qual também não será considerado na conclusão, pois o cenário de arma- rem precisando;
zém geral é o mais adequado para o projeto. • O armazém geral está previsto
na legislação fiscal, não havendo
IMPACTO TRIBUTÁRIO: IMPACTO DO ICMS COMPARATIVAMENTE restrições para a sua utilização,
COM O CENÁRIO ATUAL bastando que sejam observadas
Feitas as devidas análises, conclui-se, no que tange às operações de ven- as regras da legislação de cada
das de materiais depositados em armazém geral, que não haverá impacto Estado, seja em relação ao fluxo
direto para a empresa de energia elétrica, uma vez que os materiais adquiri- fiscal (emissão dos documentos
dos são tratados como “ativo imobilizado e/ou de uso e consumo” e que, por fiscais) ou à tributação (ICMS e
essa razão, terá a carga tributária final equivalente à alíquota interna (17%, ICMS-ST);
por exemplo), similar ao cenário atual. • São Paulo mostra-se como me-
Contudo, para o fornecedor de outro Estado, é provável que haja um lhor opção fiscal, pois é onde está
custo adicional de ICMS, devido à operação de remessa que ele terá de fazer concentrado o maior número de
para o CD e que não há esse custo com o cenário atual, no qual as vendas fornecedores. A remessa para
ocorrem diretamente do fornecedor para a empresa de energia elétrica, sem a armazenagem ocorrerá sem
passar por algum CD. destaque de ICMS, logo, nessa

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parcela das operações, não haveria custo adicional de ICMS para o
fornecedor;
• Em São Paulo, a cobrança do ICMS-ST ocorre na saída da mercadoria
do armazém geral, diferentemente de Minas Gerais, que exige o paga-
mento na entrada do Estado, provocando custo adicional à empresa (to-
das as remessas pagariam ST e haveria um novo pagamento nas saídas
interestaduais, gerando um ciclo de pedido de ressarcimento em relação Sob a ótica fiscal,
ao valor recolhido a mais para Minas Gerais).
a utilização de
Segunda opção: armazém geral e filial – cenário misto armazém geral por
Apesar dos comentários anteriores sobre o armazém geral, há, também, fornecedores de
a opção de se utilizar um cenário misto, com a utilização do armazém geral São Paulo e filial
para os fornecedores de São Paulo e a abertura de filiais de fornecedores de
outros Estados, dentro do operador logístico, desde que o operador esteja
para fornecedores
amparado pelo regime especial ou pela consulta da Secretaria da Fazenda de outros Estados
de São Paulo. é o melhor cenário
para a operação.
COMENTÁRIO FINAL SOBRE O PROJETO LOGÍSTICO
Feita a análise sobre o fluxo fiscal da operação, com base nas entradas e
saídas do produto, tributação do ICMS e ICMS-ST, alíquotas, base de cál-
culo, benefícios fiscais e a demonstração do impacto tributário, chegou-se
à seguinte conclusão. Sob o aspecto fiscal, manter um centro de distribui-
ção no Estado de São Paulo se mostrou mais vantajoso do que no Estado
de Minas Gerais. O cenário fiscal apropriado para a operação é armazém fornecedor paga ao operador logís-
geral, podendo, também, ter um cenário misto, com a utilização da filial de tico pelas suas mercadorias arma-
fornecedores dentro do depósito do operador logístico. zenadas e, também, de projetos nos
Para a empresa de energia elétrica, não haveria o impacto tributário, em quais há uma imposição do cliente
relação ao ICMS e/ou ICMS-ST, pois a carga tributária seria a mesma em junto aos fornecedores, para man-
relação à estrutura atual. No entanto, para o fornecedor de outros Estados, ter o estoque zero as suas custas,
dependendo das condições da apuração do imposto, pode ser que haja um seja pelo pagamento ao operador
custo adicional de ICMS, devido à operação de remessa que ele terá de fazer logístico ou por algum custo adi-
para o CD e que não há com o cenário atual, no qual as vendas ocorrem cional de imposto.
diretamente para a empresa de energia elétrica. Serão mencionados, a seguir, al-
Portanto, sob a ótica fiscal, a utilização de armazém geral por fornece- guns benefícios que foram compro-
dores de São Paulo e filial para fornecedores de outros Estados é o melhor vados com a implantação do esto-
cenário para a operação. Em resumo, para os cenários de armazém geral que zero, em alguns projetos:
e filial, a empresa de energia elétrica atinge os seus objetivos, ao trabalhar • Redução de custo do estoque;
com o estoque zero em São Paulo. • Evitar a compra de insumos em
Os fornecedores de outros Estados talvez queiram uma compensação quantidade superior ao necessá-
financeira, devido à antecipação do ICMS e/ou do ICMS-ST, que poderá rio;
gerar na remessa para o armazém geral ou na transferência para a sua filial. • Melhoria do fluxo de caixa;
Cabe à empresa de energia elétrica resolver essa questão junto aos fornece- • Redução dos custos fixos;
dores, caso haja pleito nesse sentido. • Melhoria de visibilidade para o
O valor dos serviços a serem prestados pelo operador logístico, para a fornecedor e cliente;
armazenagem e gestão do estoque dos materiais dos fornecedores no centro • Aumento de eficácia da Supply
de distribuição, será pago pela empresa de energia elétrica. Chain;
Embora a empresa de energia elétrica tenha assumido o compromisso • Foco na produção ou no core bu-
de pagar o operador logístico, já participou de outros projetos, em que cada siness;

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• Aumento do desempenho de en- nhão visa ao redirecionamento do fluxo atual de armazenagem e distribui-
trega e do serviço ao cliente. ção, que hoje se dá a partir da cidade de São Luís, para o operador logístico
Benefícios para os fornecedores: localizado na Grande São Paulo, e as consequentes vendas para São Paulo
• Redução de custos de transporte e demais Estados.
para os fornecedores, dependen- Nesse novo conceito, o estoque de mercadoria ficaria à disposição da
do dos termos de entregas; empresa em outro Estado, para fins de armazenagem e distribuição, por
• Aumento de agilidade da Supply meio de um cenário fiscal que se mostre adequado à operação, levando em
Chain para os fornecedores; conta as premissas fundamentais para o projeto logístico, que, a seguir, es-
• Aumento de desempenho de en- tão relacionadas.
tregas e do serviço ao cliente. • O estoque de mercadorias do fabricante do Maranhão, na Grande São
Paulo;
• O estoque será gerenciado pelo operador logístico contratado pelo fa-
SEGUNDO PROJETO: MANTER
bricante;
O ESTOQUE DE MERCADORIAS
• Envio do produto de São Luís para o depósito do operador logístico lo-
EM SÃO PAULO DE EMPRESA DE
OUTRO ESTADO calizado na Grande São Paulo;
O objetivo desse projeto é man- • Manter o estoque do produto em São Paulo, para poder entregar com
ter o estoque de mercadoria em São maior rapidez nas vendas para os clientes de São Paulo e para os Estados
Paulo, com o objetivo de entregar das Regiões Sul e Sudeste.
mais rápido aos clientes. Esse proje- Diante das premissas mencionadas, o estudo deve levar em consideração
to foi solicitado por uma indústria o desenvolvimento de análises relacionadas à armazenagem e distribuição
sediada no Estado do Maranhão, dos produtos, com a demonstração de cenários fiscais e a apresentação dos
para o estudo da melhor alternativa fluxos fiscais de cada cenário envolvendo os fornecedores, o operador logís-
fiscal, para manter um estoque dos tico, os destinatários finais e o fabricante do Maranhão. Além disso, o estu-
seus produtos na Grande São Paulo, do apresenta o impacto tributário e a definição sobre a melhor alternativa
tendo em vista que o maior volume fiscal para a armazenagem e a distribuição dos produtos.
de vendas se concentra em São Pau- Do estudo do melhor cenário fiscal, há a necessidade de se analisar os
lo e nos Estados do Sul e Sudeste. seguintes aspectos:
Manter um estoque em São Pau- • O fabricante do Maranhão tem um benefício fiscal concedido pela le-
lo seria uma estratégia logística gislação do Estado para o seu produto, cujo benefício é um crédito pre-
para diminuir o prazo de entrega sumido, que resulta em menor recolhimento do ICMS nas vendas, por
dos produtos junto aos clientes, au- exemplo, destaca 12% na nota fiscal, mas recolhe 4% ao Estado;
mentando a competitividade logís- • Pesquisa e análise da legislação fiscal vigente envolvendo, entre outros,
tica, considerando que, hoje, todas as alíquotas, a base de cálculo, os benefícios fiscais, as situações de riscos
as entregas são feitas diretamente etc. Enfim, verificar todas as hipóteses envolvendo o produto com a le-
do Estado do Maranhão para os gislação do Estado onde se pretende manter o estoque de mercadorias;
clientes localizados em outros Es- • As vendas para os clientes localizados nos Estados de São Paulo, Paraná,
tados. Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro repre-
sentam o maior volume de vendas;
ESTRUTURA ATUAL • Verificar os cenários fiscais de armazenagem previstos na legislação fis-
Atualmente, o produto é arma- cal;
zenado em São Luís, no Maranhão, • Concluir sobre o melhor cenário fiscal para a operação.
e a venda ocorre diretamente dessa
cidade para os clientes localizados
em diversos Estados do País.
Antes de implantar um projeto logístico, devem ser verifi-
cados todos os aspectos fiscais e tributários envolvendo todos
NOVA ESTRUTURA PRETENDIDA os fluxos de entradas, armazenagem e saídas da mercadoria,
Em síntese, a nova estrutura pre- sob risco de multas elevadas.
tendida pelo fabricante do Mara-

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Com todas as informações do projeto logístico disponibilizadas, cabe, da Fazenda divulgar os benefícios
agora, fazer a análise fiscal envolvendo todas as etapas do fluxo de movi- ou incentivos concedidos por ou-
mentação do produto, desde a saída do Maranhão até a entrada para a ar- tras unidades da Federação e a for-
mazenagem em São Paulo e a respectiva venda para o cliente final, que, a ma de recolhimento.
seguir, será comentado.
Inicialmente, foi analisado o benefício fiscal concedido pelo Estado do A chamada “guerra fis-
Maranhão ao produto e constatou-se que tal benefício foi concedido sem a cal” entre os Estados faz
aprovação do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e se inse- com que a utilização de
re no contexto da chamada “guerra fiscal”, não sendo reconhecido pelo fisco incentivos fiscais seja feita
paulista o benefício fiscal do Maranhão para a indústria, porque, no Estado com cautela.
de São Paulo, há o Comunicado CAT nº 36/2004, que permite o crédito
do ICMS somente até o montante que o imposto tenha sido efetivamente
recolhido ao Estado de origem. CENÁRIOS FISCAIS
Em resumo, o Estado de São Paulo não permite o crédito integral do va- Do estudo feito, os cenários
lor do imposto constante na nota fiscal, mas permite o crédito somente do fiscais que mais se adequaram às
valor do imposto que foi recolhido no Estado do Maranhão. necessidades operacionais do fa-
Foi analisada, também, se a legislação do Estado de São Paulo tem algum bricante do Maranhão foram a uti-
benefício fiscal nas vendas para o referido produto alimentício. Constatou- lização de armazém geral de tercei-
se que, em São Paulo, há o benefício fiscal de redução da base de cálculo do ros e o de abertura de uma filial do
ICMS nas vendas dentro do Estado de São Paulo para o referido produto fabricante, com ramo de atividade
(Anexo II, do Regulamento do Imposto sobre Operações Relativas à Circula- de comércio atacadista, para man-
ção de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual ter o estoque de produtos em local
e Intermunicipal e de Comunicação de São Paulo (RICMS/SP)), de tal forma estratégico.
que a carga tributária seja reduzida de 18% para 12% nas vendas dentro do
Estado. Destaca 18% na nota fiscal, mas com a redução da base de cálculo, o a) Armazém geral
valor final do ICMS representa 12% sobre o valor da mercadoria. O armazém geral é uma alter-
Porém, esse benefício alcança somente o estabelecimento do fabricante nativa fiscal muito usada nas ope-
ou do atacadista (artigo 39, do Anexo II, do RICMS/SP), não havendo a rações logísticas para a armazena-
previsão para o armazém geral. Dessa forma, na saída do produto do arma- gem e distribuição de mercadorias.
zém geral para os clientes de São Paulo, aplica-se normalmente a alíquota Como o armazém geral e a empresa
de 18% para o cálculo do ICMS, sem qualquer redução da base de cálculo. depositante estão localizados em
Ressalta-se que as considerações anteriores estão baseadas nas normas Estados diferentes, há a tributação
paulistas, atualmente em vigor, e que, por si só, podem ser utilizadas pela do ICMS na movimentação da mer-
fiscalização paulista, não levando em conta o mérito jurídico da questão, ou cadoria (na remessa e na saída do
seja, se o tema comporta ou não eventuais discussões acerca da legalidade armazém).
de tais restrições, sem que haja a prévia manifestação do Supremo Tribunal
Federal (STF) acerca do assunto. a.1) Fluxo fiscal do armazém
Também, não estão sendo considerados os eventuais efeitos do Convê- geral
nio ICMS nº 190/17, aprovado no final de 2017, o qual versa sobre a anistia O fluxo fiscal utilizado é o da
fiscal para os benefícios fiscais concedidos sem o amparo do Confaz, uma situação em que a empresa deposi-
vez que o Estado de São Paulo ainda não se manifestou a respeito da real ex- tante está localizada em outro Esta-
tensão dos seus efeitos na legislação paulista até a data do estudo do projeto. do, conforme mostrado na Figura
Devido a isso, por ser um assunto novo e sem contar ainda com a regula- 1.2.
mentação no Estado de São Paulo, na data do estudo do projeto, entende-se
que prevalecem as regras das restrições impostas tanto pelo artigo 59, § 2º, a.2) Comentários fiscais para a
do regulamento do ICMS paulista (aprovado pelo Decreto nº 45.490/00), utilização do armazém geral
quanto pelo Comunicado CAT nº 36/2004. Conforme a explanação mencio-
O artigo 426-C do regulamento do ICMS depende, ainda, da Secretaria nada no tópico sobre a legislação

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fiscal, o armazém geral tem o direito ao crédito de ICMS somente do
ICMS efetivamente recolhido ao Estado do Maranhão e não sobre os
12% destacados na nota fiscal.
Na saída desse produto do armazém geral para o cliente final localizado
em São Paulo, não poderá ser aplicado o benefício fiscal da redução da base
A restrição ao
de cálculo do ICMS, porque o benefício alcança somente a indústria ou crédito do ICMS
o estabelecimento do comércio atacadista. Dessa forma, a carga tributária foi preponderante
corresponde a 18% do valor do produto destacado na nota fiscal.
para decidir sobre
b) Filial atacadista em São Paulo não implantar o
Uma das alternativas fiscais que vêm crescendo no mercado logístico, projeto logístico,
por necessidades comerciais, logísticas e fiscais, é manter a filial do deposi- porque isso
tante dentro do depósito do operador logístico, no mesmo endereço.
No entanto, em que pese a crescente demanda pela abertura de filiais representaria um
dentro do operador logístico, alguns Estados impõem restrições para man- custo adicional de
ter as filiais de outras empresas no mesmo endereço do operador logístico. significativo valor.
Portanto, faz-se necessário verificar a legislação do Estado onde se pretende
abrir a filial. Nesse caso específico, o operador possui regime especial para
manter as filiais de seus clientes dentro do seu depósito. A filial a ser aberta
seria com o ramo e atividade de comércio atacadista. O fluxo fiscal é o mes-
mo do mencionado na Figura 2.
ICMS, na entrada do produto na
filial atacadista, em função da cha-
b.1) Comentários fiscais para a utilização da filial
mada “guerra fiscal”, amplamente
Conforme a explanação mencionada no tópico sobre a legislação fiscal, a
discorrida no comentário sobre a
filial tem o direito ao crédito de ICMS somente do ICMS efetivamente reco-
legislação fiscal, inviabilizou o pro-
lhido ao Estado do Maranhão e não sobre os 12% destacados na nota fiscal.
jeto e houve desistência de manter
Na venda do produto para o cliente final localizado em São Paulo, a filial
o estoque de mercadorias em São
poderá utilizar o benefício fiscal de redução da base de cálculo do ICMS,
Paulo, permanecendo o mesmo em
porque a previsão do benefício é para a indústria ou o estabelecimento do
São Luís, no Maranhão.
comércio atacadista. Dessa forma, com a redução, o valor do ICMS corres-
A restrição ao crédito do ICMS
ponde a 12% do valor da nota fiscal, embora a alíquota seja 18%.
foi preponderante para decidir so-
bre não implantar o projeto logís-
Observar que o cenário de filial tem o benefício na venda tico, porque isso representaria um
e o armazém geral não tem o benefício de redução da base de custo adicional de significativo va-
cálculo concedida pelo Estado de São Paulo. lor, que elevaria o custo do preço
final do produto para o cliente ou a
COMENTÁRIO FINAL SOBRE O PROJETO LOGÍSTICO indústria do Maranhão, que teria de
Feita a análise sobre o fluxo fiscal da operação, com base nas entradas reduzir a sua margem de lucro para
e saídas do produto, na tributação do ICMS e ICMS-ST, nas alíquotas, na arcar com esse ônus.
base de cálculo, nos benefícios fiscais e na demonstração do impacto tribu-
tário, chegou-se à seguinte conclusão. A princípio, o cenário fiscal de filial
do comércio atacadista se mostrou mais vantajoso, porque há o benefício da
redução da base de cálculo nas vendas para os clientes localizados no Esta- REFERÊNCIAS
do de São Paulo, onde se concentra o maior volume das vendas, reduzindo • Este artigo foi escrito com base legal
o valor do ICMS de 18% para 12%. no regulamento do ICMS e demais
legislações inerentes ao imposto e
Apesar do benefício fiscal concedido pela legislação paulista nas ven- em experiência de participação em
das para os clientes de São Paulo, o problema na restrição ao crédito do projetos logísticos.

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