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Artigo

publicado
na edição 86
JAN/FEV 2022

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Os cenários fiscais
nas operações de
logística
Demonstração de diversos cenários fiscais
para utilizar nas operações logísticas em
situações distintas

Este artigo tem por objetivo demonstrar vários cenários


fiscais nos quais as empresas podem desenvolver operações
logísticas, por meio da terceirização de atividades em operador
logístico ou por meios próprios, e como a utilização de
alternativas tributárias pode contribuir no desenvolvimento de
novos projetos logísticos.
Objetiva-se também demonstrar que um estudo prévio se faz
necessário para a escolha da melhor alternativa fiscal em
cada projeto de armazenagem, transporte e demais operações
logísticas, para avaliar o impacto tributário em cada caso.

Milton Hashimoto de Moraes Francisco de Assis de Souza


É sócio fundador da Log Tributos desde Advogado com sólida experiência em
2005 com larga experiência na gestão fiscal reestruturação de rotinas fiscais práticas
e tributária de grandes empresas industriais (ERP, WMS, SPED Fiscal etc.). Atua na área
e prestadoras de serviços. Experiência há mais de 30 anos, tendo trabalhado em
profissional como auditor fiscal externo, grandes empresas e escritórios de advocacia
gerente de auditoria fiscal e de impostos da tributária. Palestrante na área logística e
Itautec Philco e gerente do departamento autor do livro “Logística Tributária e Fiscal:
Legal e Tributário da DHL. Atualmente, Aspectos Fiscais e Tributários no Cotidiano
é diretor da Log Tributos, consultoria das Operações Logísticas”. É sócio na Log
tributária especializada em Logística, Tributos desde 2011, com especialização
Transporte e Armazenagem. em tributos indiretos (ICMS, ICMS-ST, IPI,
Autor de diversos artigos sobre as atividades ISS etc.).
fiscais na logística e do livro “Logística francisco@logtributos.com
Tributária e Fiscal: Aspectos Fiscais e
Tributários no Cotidiano das Operações
Logísticas”.
milton@logtributos.com

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É crescente o nível de empresas que procuram na terceirização logísti- importância nos cenários que con-
ca uma solução para seus problemas, seja para fins de redução de custos, templam as operações realizadas no
vantagens competitivas, diluição de riscos, novas tecnologias, otimização cotidiano logístico.  
na distribuição de mercadorias, manter estoque próximo aos seus clientes Ainda sobre o ICMS, há variação
ou outros possíveis motivos para a terceirização. Com a crescente demanda de alíquotas sobre os fluxos opera-
pela terceirização logística, é crescente também o surgimento de empresas cionais (7%, 12%, 18% etc.), geran-
provedoras de serviços logísticos no Brasil. do impacto direto no custo logístico
Há vários fatores relacionados à definição de uma estratégia de contra- e suscitando a necessidade de se co-
tação de prestadores de serviços logísticos. Porém, muitas decisões estão gitar uma análise prévia acerca das
pautadas nos aspectos fiscais e tributários, que muitas vezes são oferecidos alternativas, dos “cenários fiscais”
pelo próprio operador logístico. Para realizar uma operação de transporte, que podem ser utilizados nos pro-
recebimento, armazenagem ou distribuição ou mesmo para a implantação jetos logísticos. Portanto, podemos
de centrais de distribuição e armazéns, deve-se fazer um estudo prévio do dizer que, se de um lado tivemos
fluxo fiscal, avaliando o impacto da carga tributária em todo o processo nos últimos anos uma notória evo-
e análise dos possíveis riscos fiscais, bem como a existência de incentivos lução nos serviços oferecidos pelas
fiscais nos estados e municípios que a empresa pretende realizar suas ope- empresas logísticas, do lado fiscal e
rações, sob risco de elevadas perdas financeiras. tributário não se não se pode afir-
Porém, não há uma legislação fiscal específica para a atividade logística, mar o mesmo, já que ainda rema-
principalmente em relação ao ICMS, e sim regramentos individualizados nesce uma legislação arcaica que
para as atividades que compreendem o conjunto de serviços oferecidos pe- não acompanhou as necessidades
las empresas do seguimento como transporte, armazenagem, gestão logísti- das empresas do seguimento, mes-
ca etc. Muitas vezes, é necessário recorrer a regimes especiais para realizar mo com a chamada “era digital”.
determinada operação logística. Por essa razão, o ICMS inciden-
Com relação aos tributos que incidem diretamente nos preços dos servi- te nas operações de movimentação
ços logísticos e na movimentação de mercadorias, o ICMS ganha relevada de mercadoria e na prestação de

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Os Cenários Fiscais nas Operações de Logística

serviço de transporte interestadual logístico tem uma quantidade maior de alter­nativas para oferecer a seus
e intermunicipal tem significativo clientes, que a seguir comentamos.
impacto na formação de preços e
influência estratégica na definição
ARMAZÉM GERAL
do local de implantação de centrais
O armazém geral consiste em alternativa fiscal muito usada pelos opera-
de distribuição, armazéns e filiais
dores logísticos para armazenagem e distribuição de mercadorias dos clien-
– seja por causa das diferentes alí-
tes. Geralmente, na sua escolha, são analisados os seguintes critérios:
quotas definidas em cada estado
• Necessidade de se terceirizar toda a atividade de armazenagem e distri-
ou pelas operações interestaduais
buição;
praticadas ou ainda por algum in-
• Falta de espaço físico em determinado pico de vendas ou produção;
centivo fiscal concedido por algum
• Início imediato das operações;
estado, em especial após a recente
• Avançamento do estoque para outras praças;
convalidação dos benefícios fiscais
• Etc.
pelo CONFAZ (Conselho Nacional
As empresas depositantes das mercadorias podem utilizar o armazém
de Política Fazendária).
geral localizado no mesmo estado ou em outro. Neste último caso, deve ser
Por conta disso, as empresas lo-
observado o aspecto fiscal relacionados à forma de emissão de notas fiscais
gísticas precisam dispor de alternati-
e tributação do ICMS.
vas para melhorar o atendimento aos
Importante observar que, embora o ICMS seja recolhido pelo armazém
clientes, buscando a alternativa fiscal
geral, a empresa depositante, proprietária da mercadoria, deve reembolsar
mais adequada para a armazenagem,
o imposto ao operador logístico. Devido sua relevância, este assunto deve
distribuição de mercadorias de ter-
ser levado ao conhecimento do cliente na fase de negociação e constar em
ceiros e transporte, sem deixar de
cláusula contratual.
recolher os impostos devidos e sem
As obrigações fiscais e as licenças devem ser muito bem controladas
incorrer em riscos fiscais que podem
para não expor o armazém geral e os depositantes – geralmente, os clien-
resultar em pesadas autuações.
tes – a riscos fiscais desnecessários. A fiscalização estadual poderá multar
No presente artigo, abordaremos
armazéns gerais que não estão habilitados pela Junta Comercial, exigindo o
algumas alternativas fiscais utiliza-
ICMS na movimentação das mercadorias entre o depositante e o armazém.
das na armazenagem e distribuição
Ter o CNPJ e a inscrição estadual com o CNAE (Classificação Nacional de
de mercadorias, além da tradicional
Atividades Econômicas) de armazém geral não é suficiente para operar como
atividade de armazém geral e trans-
tal. É necessário obter a Matrícula da Junta Comercial. Veja as figuras 1 e 2.
porte, que tem amparo na legislação.
Dentro deste contexto, a ativi-
dade tributária pode contri­ buir OPERADOR LOGÍSTICO: NOVO FLUXO INTRODUZIDO PELA
também com o desenvolvimento PORTARIA CAT Nº 31 (ESTADO DE SÃO PAULO)
de serviços estratégicos ou comple­ Trata-se de novo fluxo fiscal criado pelo estado de São Paulo para o seg-
mentares. Pode-se disponibilizar às mento logístico, aplicável à atividade de armazenagem distinta de arma-
empresas envolvidas, por meio da zém geral, podendo ser executada conjuntamente, ou não, com o serviço
legislação, serviços alternativos que de transporte.
possam contribuir com a necessi- Esse novo fluxo consiste numa espécie de regime especial para um deter-
dade logística de cada caso, como minado seguimento da logística, e não propriamente regramento exclusivo
sistema just in time, mercadoria para as atividades praticadas por operadores logísticos – uma vez que exis-
simplesmente em trânsito, abertura tem outras normas que também versam sobre o tema.
de central de distribuição em re- De acordo com a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, a Por-
giões incentivadas, trans­portadoras taria CAT nº 31 visa “estimular o comércio eletrônico e as atividades de
(mesmo sem veículo pró­prio), fi- operadoras logísticas e fulfillment”, conforme síntese abaixo:
liais de clientes dentro do depósito • Prevê condições mais favoráveis para empresas que efetuam suas vendas
do operador logístico, entre outros. via internet, ao mesmo tempo em que fortalece e garante segurança jurí-
Com esses serviços, o operador dica para o fomento das atividades das empresas que atuam em conjunto

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Ressaltamos, no entanto, que
FLUXO FISCAL DO ARMAZÉM GERAL
esse novo cenário disciplinado pela
Dentro do Estado
Portaria CAT nº 19 difere-se das
Operações em que o Armazém Geral e o remetente da mercadoria operações praticadas com o arma-
estão localizados no mesmo Estado
zém geral tradicional, que dispõe
4. NF.Retorno Simbólico 2. Nota Fiscal de venda com do benefício fiscal da não incidên-
sem ICMS / IPI. ICMS e IPI
Remetente da Mercadoria cia do ICMS nas operações pratica-
(Depositante de SP)
Mencionar na nota fiscal: das dentro do Estado de São Paulo,
“ A mercadoria sairá do
Armazém Geral “. e fluxos específicos, dentre outros,
1. NF.Remessa p/ Depósito sem ICMS / IPI
conforme a Tabela 1, comparativo
para os dois casos.
3. Transporte da mercadoria com a Nota Destinatário das O fluxo fiscal, seguindo a porta-
Armazém Fiscal de venda, emitida pelo cliente. Mercadorias
Geral ria CAT 31/19 também tem algu-
mas particularidades. Veja detalhes
Figura 1 – Fluxo fiscal do armazém dentro do estado nas figuras 3 e 4.
As principais características para
FLUXO FISCAL DO ARMAZÉM GERAL o fluxo fiscal (portaria CAT 31/19)
Fora do Estado e remessa para armazenagem com
Operações em que o Armazém Geral e o remetente da mercadoria estão
saídas direto para o destinatário fi-
localizados em Estados diferentes. nal (Figura 3) são:
• Este fluxo fiscal deve ser pratica-
4. NF Retorno Simbólico 2. Nota Fiscal de Venda do somente entre o depositante
sem ICMS . Remetente da Mercadoria sem ICMS e com IPI
(cliente de outro Estado)
de São Paulo e operador logístico
Mencionar na NF: também de São Paulo;
“ A mercadoria sairá do
Armazém Geral “. • Depositantes de outros estados
1. NF Remessa p/ Armazém Geral com ICMS
que querem utilizar este cenário
fiscal devem abrir filial dentro do
3. NF Remessa por conta e
Armazém Ordem com ICMS
Destinatário das depósito do operador logístico
Mercadorias
Geral para poder realizar esta opera-
ção;
Figura 2 – Fluxo fiscal do armazém fora do estado • Haverá o destaque do ICMS na
movimentação de mercadorias;
nesta modalidade de negócio; • O operador logístico de São Pau-
• Possibilidade de empresas de qualquer porte e de todo o país poderem lo deve ter autorização da Secre-
contar com a expertise das empresas logísticas instaladas no território taria da Fazenda deste estado;
paulista para promover suas vendas, em qualquer lugar do território na- • Este fluxo é utilizado quando a
cional, junto aos seus clientes (consumidores finais); mercadoria é destinada a esta-
• Simplificação de obrigações acessórias relacionadas à emissão e escritu- belecimento de terceiro, saindo
ração dos documentos fiscais para as empresas envolvidas, tanto as ven- do operador logístico com a nota
dedoras, quanto as de logística. fiscal de venda (Danfe) emitida
• Permite a estocagem e o controle dos estoques de mercadorias de diver- pelo depositante.
sos fornecedores em um único local pela empresa logística, mediante O fluxo fiscal (portaria CAT
tratamento tributário simplificado; 31/19) com remessa para arma-
• Na esfera gerencial traz novas medidas que reduzirão prazos e custos zenagem e retorno ao depositan-
diretamente relacionados com a expedição das mercadorias, garantin- te (figura 4) é utilizado quando a
do mais agilidade e segurança para quem vende e para quem entrega, e mercadoria retorna fisicamente ao
principalmente, mais opções para quem quer comprar; estabelecimento do depositante. O
• Etc. depositante deve emitir Nota Fiscal

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Os Cenários Fiscais nas Operações de Logística

OPERADOR LOGÍSTICO – P. CAT 31/19 OPERADOR LOGÍSTICO – ARMAZÉM GERAL


1 - Pode ser empresa de transporte, mas precisa criar filial 1 - Pode ser empresa com as demais atividades da área
específica para a atividade de armazenamento. logística.
2 - As remessas para armazenagem são tributadas pelo 2 - Tem o benefício da não incidência do ICMS (as remes-
ICMS (não tem o benefício da não incidência do imposto). sas e os retornos dentro do Estado ocorrem sem desta-
3 - O depositante precisa ser estabelecimento inscrito em que de ICMS).
SP. 3 - O depositante pode ser de qualquer estado do Brasil.
4 - Não pode prestar serviços para clientes como bancos, 4- Pode operar com clientes não contribuintes1 como
agências de publicidade, associações etc. bancos, agências de publicidade, produtor rural, associa-
5 - O depositante deve emitir a NF de remessa e a NF de ções etc.
retorno de armazenagem (NF de entrada). 5 - A NF de retorno é emitida pelo armazém geral.
6 - Cliente deve providenciar controle de estoque das 6 - O controle dos estoques se dá exclusivamente pelo
mercadorias movimentadas, mas de forma simplificada WMS do armazém geral.
7 – Não precisa emitir NF-e nem fazer escrituração fiscal 7 - Armazém geral emite NF-e e é obrigado à geração e
(dispensado do SPED Fiscal). entrega do SPED Fiscal.
8 – Pode receber mercadoria remetida por fornecedor 8 – Pode receber mercadoria remetida por fornecedor do
do depositante, mas apenas de SP (de outro Estado não depositante de qualquer localidade; não há restrições.
pode). 9 – Para o armazém geral há previsão de procedimentos a
9 – O novo fluxo não contempla nenhum procedimento serem adotados em operações sujeitas ao IPI.
para operações sujeitas ao IPI.

Tabela 1 – Comparação entre a Portaria CAT 31/19 e o armazém geral

de Remessa para Armazenagem, com destaque do ICMS. No retorno da licos e perda de sinergia de área, cau-
mercadoria, o próprio depositante emitirá a nota fiscal de Retorno de Ar- sada pelo aumento ou diminuição
mazenagem, com o destaque do ICMS. de estoques, motivada pela sazona-
lidade de determinados produtos ou
demanda de mercado.
FILIAL Porém, por causa da falta de
Uma alternativa fiscal que também vêm crescendo no mercado logístico, legislação específica que permita
por necessidades comerciais, logísticas e fiscais, é manter a filial do cliente manter estoques de mercadorias de
dentro do depósito do armazém geral. Esta necessidade vem se caracteri- empresas diversas em área comum,
zando por vários aspectos: o operador logístico tem que recor-
• Empresas que terceirizam todas as atividades, mantendo somente escri- rer à autorização junto ao estado,
tório administrativo; por meio de solicitação de Regime
• Empresas com sede em outro estado que necessitam manter estoque no Especial ou Consulta Formal junto
estado onde se concentra o maior faturamento para distribuição mais à Secretaria da Fazenda, demons-
rápida de mercadorias; trando que pode oferecer soluções
• Empresas que por razões de incompatibilidade com o sistema da empre- de controle fiscal e de estoque para
sa de armazém geral abrem filiais para continuar a utilizar o seu sistema; o Fisco ter visibilidade em caso de
• Empresas que não querem operar com armazém geral, por gerar mais fiscalização.
controle, devido a maior quantidade de notas fiscais emitidas. Alguns estados estão mais flexí-
No entanto, em que pese a crescente demanda pela abertura de filiais veis quanto a esta questão e outros
dentro do armazém geral do operador logístico, são raros os estados que não, motivo pelo qual recomenda-
permitem manter filiais de diversas empresas no mesmo local de armaze- -se analisar a legislação do estado
nagem, sem que se tenha a separação física dos estoques de mercadorias de antes da abertura de filial de cliente
diversas empresas, através de alambrados, parede de alvenaria etc. dentro do depósito do armazém ge-
Ocorrendo a separação física, haverá perda de sinergia operacional, atra- ral. Veja a Figura 5.
palhando a circulação do trânsito de pessoas, empilhadeiras e carros hidráu- É essencial o operador logístico

A permissão de operar com não contribuinte do ICMS consta de Resposta à


1

Consulta da Consultoria Tributária da SEFAZ/SP.

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Remessa para armazenagem com saídas direto para o Esta modalidade é utilizada pela
destinatário final necessidade de terceirização da ati-
4. Depositante emite NF. vidade do cliente, seja por questões
de Retorno Simbólico com Remetente da Mercadoria 2. Nota Fiscal de venda com
ICMS (NF Entrada) (Depositante de SP) ICMS estratégicas, econômicas, tecnológi-
cas etc.
Mencionar na nota fiscal:
“A mercadoria sairá do Aspecto fiscal relevante nesta
Armazém Geral”
1. NF.Remessa p/ armazenagem com ICMS
modalidade é que o ISS (Imposto
Sobre Serviço) de qualquer natu-
Operador
3. Transporte da mercadoria com a Nota Fiscal Destinatário das reza é devido ao município onde é
de venda, emitida pelo depositante Mercadorias
Logístico em qualquer prestado o serviço, mesmo que o
em SP OBS: No caso de depositante do SIMPLES, o estado
ICMS será pago conforme o sistema da Lei do operador logístico esteja localiza-
Simples, e não via destaque do impostos nas
Notas Fiscais para o operador logístico. do em outro município ou estado,
e há retenção do INSS de 11% sobre
Figura 3 – Fluxo fiscal (Portaria CAT 31/19): Remessa para armazenagem
com saídas direto para o destinatário final o valor dos serviços prestados, pela
cessão de mão-de-obra.
ter amparo fiscal para não ter a separação física dos estoques de mercado-
rias entre as diversas filiais de clientes. Caso contrário, poderá sofrer pena-
lidades fiscais. GESTÃO INTEGRADA DO
ESTOQUE: JUST IN TIME
O Just in Time é um sistema com
OPERAÇÕES LOGÍSTICAS IN HOUSE
objetivo de produzir a quantidade
Esta denominação é para os serviços logísticos realizados dentro das
exata de um produto, de acordo
dependências da empresa contratante. Geralmente, nesta alternativa, os
com a demanda, de forma rápida e
serviços realizados pelo operador logístico são recebimento, conferência e
expedição de mercadorias, abastecimento da linha de produção e responsa- sem a necessidade da formação de
bilidade pelo controle do estoque do cliente. estoques. Isso faz com que o produ-
to chegue a seu destino no tempo
Remessa para armazenagem e retorno ao depositante certo – por isso o nome de Just in
Time.
Remetente da Mercadoria Estabelecimentos industriais es-
(Depositante de SP)
2. Retorno Físico De-
tão desenvolvendo parcerias com
positante emite NF. de operadores logísticos com o obje-
entrada, com destaque 1. NF. Remessa p/Depósito
de ICMS, que servirá para com ICMS tivo de promover a gestão integra-
fazer o retorno físico de
Operador Logístico até o da do estoque de matéria-prima e
seu estabelecimento. Operador abastecimento da linha de produ-
Logístico de SP
ção no sistema Just In Time. Esta
atividade pode ser realizada atra-
Figura 4 – Fluxo fiscal (Portaria CAT 31/19): Remessa para armazenagem e
retorno ao depositante vés de diversas alternativas fiscais,
como:
Filial do cliente nas dependências do Armazém Geral • Abertura de armazém geral den-
Fábrica
tro das dependências do estabe-
Fornecedor
2. Transfere (cliente) lecimento fabril;
mercadoria
1. Venda da com ICMS e IPI • Utilização de armazém geral fora
mercadoria das dependências do estabeleci-
com ICMS e IPI
mento fabril;
3. Venda com ICMS e IPI • Consignação industrial;
Filial Destinatário das
Mercadorias • Abertura de filiais de fornecedo-
res nas proximidades do estabe-
Figura 5 – Fluxo para filial do cliente nas dependências do armazém geral lecimento industrial.

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Os Cenários Fiscais nas Operações de Logística

RESULTADOS Benefícios para a indústria Benefícios para os fornecedores


Os resultados esperados com a • Redução dos custos de estoque • Redução dos custos de transpor-
utilização do sistema Just in Time • Evitara compra de insumos em tes (dependendo dos termos das
são os descritos na Tabela 2. quantidade superior do utilizado entregas)
• Melhoria do fluxo de caixa • Aumento da agilidade do supply
CENTRAL DE DISTRIBUIÇÃO EM • Redução dos custos fixos/dedicados chain
• Melhoria da visibilidade para o • Aumento do desempenho de entre-
REGIÕES INCENTIVADAS
fornecedor e cliente ga do serviço ao cliente
Por questões de necessidade lo- • Aumento da eficácia do supply
gística – ou atraídas por incentivos chain
fiscais concedidos por determina- • Foco na produção
• Aumento do desempenho de entre-
dos estados –, muitas empresas ma- ga e do serviço ao cliente
nifestam a intenção de deslocar seu
fluxo de distribuição para uma cen- Tabela 2 – Resultados esperados com a utilização do sistema Just in Time
tral de distribuição em outra área
geográfica. Desta forma, podemos tado conceder, unilateralmente, algum incentivo fiscal do qual resulte re-
dizer que na escolha do local de dução ou eliminação, direta ou indireta, do ônus do ICMS, sem respaldo
de convênio, o ato administrativo que o concedeu poderá ser considerado
insta­lação de centrais de distribui-
nulo pelo estado de destino das mercadorias, e o crédito fiscal atribuído ao
ção, os aspectos tributários podem
estabelecimento adquirente estará limitado ao valor efetivamente recolhido
ser fatores determinantes, sendo
ao estado de origem e não o valor do ICMS destacado na nota fiscal.
analisadas todas as oportunidades
Esse aspecto era muito evidente na chamada “guerra fiscal” entre os esta-
e riscos que a legislação de cada es-
dos, impedindo o crédito integral do ICMS no recebimento de mercadorias
tado e município oferece.
provenientes de estados que concederam incentivo fiscal de forma unilateral,
Benefícios fiscais, alíquotas,
ou seja, sem convênio. No entanto, houve significativo avanço neste assunto,
isenções ou reduções de impos­
ocorrendo a remissão dos créditos tributários, uma espécie de anistia, por
tos, enfim... uma análise completa
meio da Lei Complementar nº 160/17 e Convênio ICMS nº 190/17, para os
do impacto tributário e da melhor
estados que cumprirem as exigências impostas pelos mencionados atos legais.
alter­
nativa fiscal é essencial para
Isso representa uma possibilidade maior de se utilizar centrais de distri-
determinar o local de instalação de
buição em estados com incentivos fiscais.
uma central de distribuição.
As centrais de distribuição
podem ser abertas em diversas PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
modalidades, tais como empresa • Operador Logístico mantém base em regiões incentivadas, visando a ar-
prestadora de serviços logísticos, mazenagem e distribuição de mercadorias de clientes;
armazém geral, comércio ataca- • Utilizado para clientes que querem manter estoque nas proximidades
dista, sede da empresa depositante dos compradores de suas mercadorias;
ou ainda constituição de uma nova • O cliente pode abrir filial dentro da central de distribuição (filial do ope-
rador logístico);
empresa. Com o objetivo de atrair
• Um grande atrativo são os incentivos fiscais concedidos pelos estados;
empresas, muitos estados têm con-
• Avaliar implantação, tendo em vista que alguns estados impõem restri-
cedidos incentivos fiscais e finan-
ções ao crédito do ICMS de mercadorias oriundas de estados que conce-
ceiros para as atividades industriais,
dem unilateralmente o incentivo fiscal.
comerciais, importação e para o
operador logístico. MERCADORIA EM TRÂNSITO
Observamos, no entanto, que o Permite à empresa de logística manter mercadorias de clientes em seu
incentivo fiscal para ter validade estabelecimento por determinado período (normalmente até 30 dias), para
entre os estados do país deve ter a fins de consolidação, desconsolidação, unitização etc.
concordância de todos, por meio A mercadoria somente transitará na empresa, sem caracterizar armaze-
de convênio. nagem, ou seja, é semelhante ao cross-docking tradicional. Porém, a diferen-
Na hipótese de determinado es- ça é o tempo de permanência da mercadoria sem caracterizar armazenagem

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e não há necessidade de a transpor- 1. Nota Fiscal de Venda com
ICMS e com IPI.
tadora do operador logístico fazer Remetente
da Mercadoria Mencionar na
nenhuma etapa do transporte da 2. Transporte
NF “Mercadoria
de Mercadorias
mercadoria. com a NF de em Trânsito
Venda emitida pela empres
O fluxo fiscal (veja a Figura 6) pelo Remetente X (operador
logístico)
funciona da seguinte forma: o re-
metente da mercadoria emite a nota Operador 3. Transporte de Mercadorias
Destinatário das
fiscal de venda informando no cam- Logístico Mercadorias
po “dados adicionais” da nota fiscal
Figura 6 – Fluxo fiscal para mercadoria em trânsito
“Mercadoria em trânsito pela em-
presa (citar razão social, endereço,
CNPJ e IE) autorizado por Regime mitindo ao operador logístico prestar serviço de transporte rodoviário de
Especial processo nº.......”. A mer- cargas sem ter veículo próprio, utilizando transportadoras de terceiros ou
cadoria transitará pelo operador ainda agregados, assim como o “redespacho”.
logístico para fins de prestação de
serviços de organização, compacta-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ção, roteirização, consolidação, des-
Ao se fazer um estudo prévio de todo o projeto, envolvendo análise de
consolidação, unitização, expedição
todos os fluxos fiscais, impostos incidentes na operação, formas de tributa-
e entrega de mercadorias.
ção, benefícios fiscais, possíveis riscos fiscais etc., os aspectos fiscais e tri-
No entanto, é necessário obter
butários podem se tornar um fator decisivo na tomada de decisão para a
autorização, por meio de regime es-
implantação de um projeto logístico.
pecial junto à Secretaria da Fazendo
Sem estudo prévio do impacto da carga tributária em toda a cadeia ope-
do Estado para realizar essa opera-
racional, corre-se o risco de recolher impostos indevidamente ou correr
ção. Confira a Figura 6.
riscos fiscais desnecessários, o que pode resultar em elevadas multas para a
TRANSPORTE DE CARGAS empresa e com reflexos também para o cliente.
A exploração do serviço de Destacamos que o ICMS exigido nas operações de movimentação de
transporte é outra atividade muito mercadoria e serviço de transporte interestadual e intermunicipal tem sig-
utilizada no meio logístico, sendo nificativo impacto na formação de preços e influência estratégica na defini-
o transporte rodoviário de cargas ção do local de implantação de centrais de distribuição, armazéns e filiais
a modalidade mais utilizada pelos – seja por causa das diferentes alíquotas definidas em cada estado ou pelas
operadores. operações interestaduais praticadas ou ainda por algum incentivo fiscal
Também na atividade de trans- concedido por algum estado.
porte o impacto tributário pode ser Há variação de alíquotas do ICMS na saída de mercadorias, dependendo
extremamente significativo, pois há do estado de origem e destino. A diferença entre uma alíquota de 18% de
diferença de tributação entre os En- ICMS e outra de 12% ou 7% pode ser maior que qualquer custo logístico. Isso
dá margem à necessidade de avaliar as alternativas fiscais para os projetos
tes da Federação. A alíquota pode
logísticos.
oscilar de 0% (caso de estados que
Finalmente, podemos dizer que o projeto logístico tem que estar em sin-
concedem isenção do imposto nas
cronia com a análise tributária, pois implantar um projeto logístico sem
prestações ocorridas em seus terri-
estudo prévio do impacto da carga tributária em todo o processo poderá
tórios, como ocorre em Minas Ge-
significar impactos negativos no lucro da empresa. Por outro lado, esse
rais, Paraná e Rio Grande do Sul) a
estudo pode trazer grandes econo­mias, aumentar a competitividade junto
20% (alíquota adotada pelo estado
aos clientes e evitar ou minimizar riscos fiscais.
do Rio de Janeiro nas prestações
intermunicipais iniciadas no terri-
tório fluminense). REFERÊNCIAS
• Este artigo foi escrito com base legal no regulamento do ICMS e demais legislações
Sob o aspecto fiscal, destacamos inerentes ao imposto e com base em experiência de participação em projetos logísticos.
a utilização da subcontratação, per-

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