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DIREITO INTERNO

Prof. Ricardo Macau

31/01/2020

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Aula 01 | Normas jurídicas

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de
segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 1 Normas jurídicas.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Código Civil; Edital do CACD; e Questões anteriores sobre o
tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: SUNDFELD, Carlos Ari, Fundamentos de


Direito Público, Ed. Malheiros.
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Breve introdução

Professor muito ligado à banca; preocupação com feitura de cadernos, com a possibilidade de
responder à prova do CACD com base no caderno.

Em Direito, há muita controvérsia; o caderno traz o que a banca cobra, ele filtra o que é mais
importante.

Aulas iniciais: Quatro primeiras aulas → normas jurídicas e personalidade jurídica.

Informações de contato. Instagram: @ricardo.macau | Facebook: Ricardo Victalino de Oliveira


Tel: (11) 982579753

Normas jurídicas

As normas jurídicas prescrevem deveres de condutas criados pelo Estado. Estado aqui no sentido de
legislador. A norma jurídica corresponde ao que o Estado espera que o indivíduo faça e o Estado detém
o monopólio da criação da norma jurídica.

Além das normas jurídicas, existem outras normas, a saber: normas religiosas e normas morais.
Normas jurídicas são diferentes de normas religiosas e normas religiosas são diferentes de normas
morais.
NJ → deveres de conduta prescritos pelo Estado, cujo cumprimento é obrigatório.
NR → deveres de conduta estabelecidos por ordens religiosas
NM → deveres de conduta estabelecidos pela sociedade. Logo, o que a sociedade reprova é
considerado imoral.

Conclusão → Uma norma jurídica pode ser criada pelo Estado e não obter a aceitação de ordens
religiosas e da maior parte da sociedade.

Exemplo: uma lei que autoriza o aborto. Essa norma jurídica será obrigatória, embora não obtenha
identidade com valores religiosos e valores morais de parcela significativa da sociedade.

Para ser mais preciso, pode-se afirmar que uma norma jurídica será obrigatória mesmo quando for
considerada imoral, isto é, não lograr ampla aceitação social.

Conceitos afins da Teoria Geral do Direito

A doutrina (sempre que se falar “a doutrina”, fala-se nos estudiosos, nos autores de livros) apresenta
três conceitos afins (possuem relação de proximidade, mas são diferentes entre si) na TGD, quais
sejam: norma jurídica, lei e direito.

Lei → É elemento textual da norma jurídica. Por meio da interpretação da lei, é possível extrair e
conhecer a norma jurídica (o dever de conduta).

Direito → É o conjunto formado pelas leis e normas jurídicas. Também pode ser denominado de
ordenamento jurídico.

Diferença entre lei e norma jurídica

A lei é, portanto, o veículo ou instrumento para que os indivíduos conheçam a norma jurídica (o dever
ser ou o comportamento a ser seguido). Lei é o texto escrito, publicado da norma.

Exemplo: Art. 121, Código Penal (não cai Direito Penal na prova; é só um exemplo geral):
Homicídio. Matar alguém.
Pena. Reclusão de 06 a 20 anos.

Por meio da interpretação desta lei, é possível extrair a norma jurídica (o dever de conduta): NÃO
MATE! O Estado está dizendo que, se você matar alguém, você sofrerá a pena prevista. Direito não é
lei; é lei mais interpretação.
Exemplo: Art. 5º, “caput”, CF/88
Prevê que os direitos fundamentais (direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade) são assegurados aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no Brasil.

Então um estrangeiro em trânsito pelo pais não possuiria esse direito? Se se interpretar o dispositivo
legal literalmente, não. Mas é evidente que esse não é o caso. Por meio da interpretação do art. 5º,
“caput”, CF/88, conclui-se que a norma constitucional (o dever ser) assegura direitos fundamentais a
qualquer indivíduo, inclusive aos estrangeiros não residentes ou em trânsito no Brasil. Quem tem
direito à vida é o indivíduo, não importa se ele mora ou não no Brasil. Destarte, a partir da soma entre
o texto legal e a norma jurídica, tem-se o conjunto chamado de ordenamento jurídico.

Conceitos de lei

A lei é um termo jurídico que pode ter dois conceitos:

a) conceito ou sentido “LATO” ou AMPLO → lei em conceito “lato” significa qualquer espécie
normativa criada pelo Estado e que consta no rol do art. 59 da CF/88:

Seção VIII
DO PROCESSO LEGISLATIVO
Subseção I
Disposição Geral

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e


consolidação das leis.

b) conceito ou sentido “ESTRITO” ou LEI FORMAL: Trata-se da obrigatoriedade de empregar


apenas as espécies normativas que têm forma de lei, ou seja, lei ordinária e lei complementar.

Princípio da legalidade e princípio da reserva legal

O princípio da legalidade tem duas formas de se materializar, quais sejam:

a) LEGALIDADE PRIVADA → o particular pode fazer tudo, exceto o que a lei proibir.
b) LEGALIDADE PÚBLICA (ou administrativa) → o Estado apenas pode fazer o que a lei autoriza.
O princípio da legalidade privada e o princípio da legalidade pública empregam o termo lei em sentido
LATO ou AMPLO, o que permite o emprego de qualquer espécie normativa, para proibir o particular
de atuar ou para autorizar o Estado a agir.

Princípio da reserva legal [já caiu na 1ª fase do CACD]

O princípio da reserva legal, por sua vez, refere-se à exigência de empregar LEI FORMAL para disciplinar
determinado evento. Lei formal se refere, obrigatoriamente, à lei ordinária e à lei complementar.

Conclusão → O princípio da reserva legal possui um âmbito de abrangência mais restrito do que o
princípio da legalidade, uma vez que este admite o emprego de qualquer espécie normativa prevista
no rol do art. 59, CF/88.

Teoria Pura do Direito – Hans Kelsen [não leia este livro]

Para Hans Kelsen1, a norma jurídica é um instrumento sancionador punitivo, criado pelo Estado com
o objetivo de aplicar sanções punitivas a seus transgressores. Em outras palavras, quando alguém
transgride uma norma jurídica, o Estado está pronto para lhe aplicar sanções. A obrigatoriedade da
norma jurídica, para Kelsen, possuía como fundamento o temor às sanções punitivas. Em outras
palavras, as pessoas, com medo da norma jurídica, cumpriam-na.

Hans Kelsen também apresentou outra grande contribuição para Direito Contemporâneo: a chamada
Teoria Pura do Direito. De modo resumido, a teoria tinha como pressuposto o fato de o Direito ser
uma ciência pura, ou seja, que não se comunicava com as demais ciências sociais, a exemplo de
teologia, sociologia, pedagogia, filosofia, economia e por aí vai. O Direito devia ser estudado de modo
isolado.

Segundo a teoria de Kelsen, era o próprio Direito que assegurava validade e existência para todas as
normas jurídicas do ordenamento, isto é, uma norma jurídica (dever de conduta prescrito pelo Estado)
não seria considerada válida e existente porque era adequada às normas religiosas ou morais, mas sim
porque era compatível com outras normas jurídicas de hierarquia superior. Então, o que dava validade
e existência para a norma jurídica era outra norma jurídica.

A teoria de Kelsen entendia que o ordenamento jurídico era um conjunto escalonado de normas
jurídicas de estrutura piramidal, em cujo topo se encontrava a denominada “LEI FUNDAMENTAL”.
Nessa estrutura escalonada de normas jurídicas, as normas superiores validam as inferiores e todas as
normas jurídicas obrigatoriamente devem ser compatíveis com a “Lei Fundamental”.

1Hans Kelsen (1881-1973): jurista austríaco, filósofo do direito e filósofo político, autor da Constituição Austríaca de 1920 e
criador da Teoria Pura do Direito, entre outras coisas.
“LEI FUNDAMENTAL”

• LEIS
• DECRETOS
• PORTARIAS

A Lei Fundamental dá validade para as leis. As leis validam os decretos. As portarias são validadas pelo
decreto. E por aí vai. Uma norma jurídica valida a outra, sempre a superior validando a inferior, em
relação hierárquica.

Observação: o conceito que Hans Kelsen idealizou como sendo a “Lei Fundamental” corresponde hoje
à Constituição Federal. Nenhuma lei ou ato normativo será válido se for incompatível com a
Constituição.

Validade e existência do Direito Interno

Existem duas teorias que explicam a validade e a existência do Direito Interno, ou seja, explicam as
razões que justificam a inclusão de uma norma jurídica no ordenamento jurídico (existência) e os
efeitos concretos produzidos pela norma jurídica, inclusive sua obrigatoriedade (validade).

1) POSITIVISMO ou DIREITO POSIVITO

Para a concepção positivista do Direito Interno, a validade e a existência de uma norma jurídica
dependem apenas de sua adequação em relação à Constituição. Em outras palavras, uma lei é
obrigatória porque ela decorre da Constituição, e ponto final. A Constituição foi criada por um órgão
constituinte e reflete os valores jurídicos de maior importância para o ordenamento jurídico.

A concepção positivista ganhou bastante destaque após o século XVIII, em especial porque ocorreram
as revoluções liberais na Europa e o povo passou a participar dos órgãos responsáveis por elaborar as
Constituições. Sob essa perspectiva, é possível afirmar, em última análise, que a Constituição reflete a
vontade do povo e que as leis criadas em conformidade com a Constituição seriam obrigatórias (válidas
e existentes, porque também refletem a vontade do povo).

Observação: O Brasil é adepto da concepção do DIREITO POSITIVO ou da concepção POSITIVISTA.

2) DIREITO NATURAL ou JUSNATURALISMO


A concepção jusnaturalista do Direito Interno defendia que as normas internas apenas tinham
validade e existência se fossem compatíveis com o chamado Direito Natural.

Direito Natural → Conjunto de direitos inatos à pessoa humana que não poderia ser negado pelo
Estado. Exemplos: direito à vida, à liberdade, à honra, à propriedade etc. A concepção jusnaturalista
do direito teve papel relevante até o século XVIII. Embora nunca tenha sido aplicada de modo
conclusivo na prática, em virtude da dificuldade de definir o conteúdo dos Direitos Naturais inatos ao
homem, essa concepção tem inegável valor histórico. Surgiu nas universidades europeias como uma
tentativa legítima de estabelecer limites à criação de normas jurídicas por reis absolutistas. Trata-se
muito mais de um movimento acadêmico, que vigorou até o surgimento do positivismo, do que de
uma experiência concreta.

PERGUNTA → As normas de Direito Natural limitam o legislador?

Resposta: Depende da concepção adotada. Para o positivismo, o direito natural não existe, e, portanto,
não limita o legislador. Para os jusnaturalistas, o direito natural confere validade e existência às normas
jurídicas internas, ao serem respeitadas.

Observação: Reparar que a resposta não se refere ao Brasil. Muitas pessoas, à época em que essa
questão caiu na prova discursiva de Direito Interno do CACD, responderam com base no Brasil, sendo
que isso não estava na questão.

Por fim, cumpre dizer que as quatro primeiras aulas são introdutórias. O ideal é acompanhá-las apenas
pelo material do caderno. Seu conteúdo não costuma cair muito nem em prova objetiva nem em prova
discursiva — mas é importante tê-lo em mente para formar a base para os temas posteriores, os quais,
aí sim, caem nas provas.
DIREITO INTERNACIONAL 07/02/20

Prof. Ricardo Macau

Aula 02 | Normas jurídicas

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de
segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 1 Normas jurídicas.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Código Civil; Edital do CACD; e Questões anteriores sobre o
tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: SUNDFELD, Carlos Ari, Fundamentos de


Direito Público, Ed. Malheiros.

Teoria Geral das Normas Jurídicas

Em Direito, na prova do CACD, menos é mais. Mas aquilo sobre o que se deve saber, no entanto, deve
realmente ser compreendido. Outra informação importante: artigo de lei, neste caderno, é artigo a
ser decorado.

Teoria do Ordenamento Jurídico | Norberto Bobbio

A teoria do ordenamento jurídico desenvolvida por Norberto Bobbio pode ser considerada um
complemento à Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen. Com efeito, Bobbio reconhece o monopólio do
Estado na criação de normas jurídicas. Também admite a necessidade de observância da Lei
Fundamental (Constituição Federal) para que as normas jurídicas cri adas pelo legislador sejam válidas
e existentes.

A teoria idealizada por Norberto Bobbio tem como foco central o estudo do ordenamento jurídico, ou
seja, o conjunto de normas jurídicas e de leis criadas pelo Estado. Em outras palavras, estudar o
ordenamento jurídico é conhecer as principais interações e fenômenos jurídicos que decorrem da
interação entre as normas jurídicas e as leis produzidas pelo Estado.

A teoria do ordenamento jurídico possui dois pressupostos a serem compreendidos:

1. O ordenamento jurídico é harmônico. Na prática, isso significa que as antinomias (conflitos


entre leis) são meramente aparentes, haja vista que o próprio ordenamento jurídi co possui
critérios que solucionam essas antinomias.
2. O ordenamento jurídico é completo. Na prática, a completude do ordenamento jurídico
significa que, caso não exista lei criada pelo Estado para disciplinar uma situação concreta, o
juiz terá instrumentos jurídicos para encontrar uma solução para o caso concreto. Desse modo,
diante de lacunas (ausências de leis), o juiz deverá empregar os chamados meios de
colmatação ou meios de integração do ordenamento jurídico. Colmatar e integrar, aqui,
significam fechar buracos.

Antinomias
As antinomias são caracterizadas a partir da verificação, em casos concretos, de situações em que haja
conflitos entre leis ou normas jurídicas. Ideia de antítese, contrariedade, as normas são contrárias, são
antagônicas. Em virtude do fato de o ordenamento jurídico ser considerado harmônico, existem, no
próprio ordenamento jurídico, critérios pré-determinados para solucionar essas antinomias. São três
critérios de solução de antinomias, os quais devem ser empregados na seguinte ordem:

1. Critério hierárquico  lei de hierarquia superior revoga lei de hierarquia inferior.


2. Critério da especialidade  lei especial prevalece em relação à lei geral. Pegadinha: lei especial
não revoga (não retira do ordenamento jurídico) lei geral. O que ocorre é a aplicação da lei
especial em detrimento da aplicação da lei geral, todavia, ambas coexistem no ordenamento
jurídico. No caso do critério hierárquico, a lei de hierarquia inferior deixa de existir no
ordenamento jurídico, após ser revogada pela lei de hierarquia inferior.
3. Critério cronológico  lei posterior revoga lei anterior.

Atenção  A justificativa que é empregada para defender o emprego dos critérios de solução de
antinomias respeitando-se a seguinte ordem de emprego — critério hierárquico; critério da
especialidade; critério cronológico — pode ser resumida nos seguintes pontos:

i. Em primeiro lugar, cabe empregar o critério hierárquico, porque a lógica que orienta o
ordenamento jurídico é o fato de o ordenamento ser um conjunto de normas escalonadas, no
qual as normas superiores validam as normas inferiores.
ii. Em segundo lugar, deve-se buscar o emprego do critério da especialidade, por força do
princípio da preservação do ordenamento jurídico, uma vez que a lei especial coexiste com a
lei geral.
iii. Por último, emprega-se o critério cronológico, pois este critério irá manter no ordenamento
jurídico apenas a lei mais recente (revoga-se a lei anterior).

Lacunas
As lacunas significam situações em que se identificam ausências de leis. Por ser completo o
ordenamento jurídico, o juiz do caso concreto é obrigado a solucionar o caso concreto que lhe foi
submetido, mesmo que não exista lei específica para aquele caso concreto.

Uma vez constatada a lacuna, o juiz deverá empregar os denominados meios de colmatação ou meio
de integração do ordenamento jurídico. Os meios de integração ou colmatação estão previstos no art.
4º da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Reitera-se: artigo no caderno é artigo
decorado — tem que ser decorado. Com efeito, o art. 4º da LINBD estabelece quais são os três meios
de integração do ordenamento jurídico, os quais devem ser empregados na ordem de precedência
disposta no texto legal:
1. Analogia  deve-se buscar uma lei que trate de situação assemelhada àquela objeto do caso
concreto em que se verificou a lacuna;
2. Costumes  os costumes são definidos como atos reiterados no tempo e no espaço que
retratam valores importantes para determinada sociedade;
3. Princípios gerais do direito  são os valores que informam a criação de normas jurídicas que
irão integrar o ordenamento jurídico. Assim, no futuro, quando uma lei for criada para
disciplinar a situação em que se verificou a lacuna, essa lei terá de refletir os princípios gerais
do direito. Esse dado permite ao juiz empregar, desde já, tais princípios para solucionar lacunas
em casos concretos. Exemplos: respeito à dignidade humana, proibição de enriquecimento
ilícito, respeito à boa-fé das relações jurídicas etc.; tudo é feito no direito para tentar
materializar esses princípios, que são muito abstratos.

Art. 4 o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios
gerais de direito. LINDB

Observação  O enquadramento jurídico do costume é diferente para o Direito Interno e para o


Direito Internacional.

i. Direito Interno – O costume não cria norma jurídica, ou seja, não é fonte do Direito. Para o
Direito Interno, o costume é considerado apenas um meio de integração ou um meio de
colmatação do ordenamento jurídico. Isso significa que o costume deverá empregado apenas
diante de lacunas (ausências de leis).
ii. Direito Internacional – O costume cria norma jurídica, isto é, é fonte reconhecida de Direito
Internacional.

Vigência de lei e “vacatio legis” – art. 1º, LINDB


O conceito de vigência de lei é definido como sendo a aptidão para aplicar uma lei produzida em casos
concretos. Existem situações em que o processo legislativo de criação da lei já foi concluído, porém, a
lei criada não possui vigência, ou seja, não está apta a ser aplicada no caso concreto. Trata-se do
período chamado de “vacatio legis” (vacância da lei).

O art. 1º da LINDB trata do início da vigência da lei e do prazo de “vacatio legis” nos seguintes termos:
 Regra Geral  A própria lei irá definir o início da sua vigência, o que significa que a lei poderá
ter vigência imediata ou um período de “vacatio legis” que estará especificado em seu próprio
texto.
 Exceção  Se a lei for omissa quanto ao início de sua vigência, deve -se observar o período de
“vacatio legis” de 45 dias contados de sua publicação na imprensa oficial.

Atenção  O art. 1º, parágrafo 1º, da LINDB, estabelece que a lei brasileira apenas poderá ser aplicada
nos Estados estrangeiros após três meses depois de oficialmente publicada.

Art. 1 o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de
oficialmente publicada.
§ 1 o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses
depois de oficialmente publicada. LINDB
AULA 03
14/02/20

Aula 03 | Personalidade jurídica

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e
de segunda (prova discursiva) fases.
Pontos do edital abordados: 2 Personalidade jurídica.
Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Código Civil; Edital do CACD; e Questões anteriores
sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).
Pontos do edital abordados: Capítulo correspondente do livro: GONÇALVES, Carlos Roberto,
Sinopses Jurídicas, Direito Civil – Parte Geral, Ed. Saraiva.

Terminando ponto da aula anterior: revogação, o que é, quais as modalidades, como interpretar
termos relacionados a esse instituto jurídico?

Revogação de lei
A revogação é o instituto jurídico que decorre da aplicação dos critérios da hierarquia e da
cronologia para solucionar antinomias. Em termos técnicos, a revogação ocasiona a retirada da
lei ou ato normativo do ordenamento jurídico, isto é, uma lei revogada é uma lei que perdeu
sua vigência, ela não tem mais aptidão para ser aplicada no caso concreto. Lembrando que não
há revogação no caso do critério da especialidade, como se viu na aula anterior.

A doutrina aponta dois critérios principais para classificar as revogações:

1. Quanto à extensão → com base nesse critério, a revogação pode ser classificada em:

a) AB-ROGAÇÃO – O prefixo ab, em latim, significa “tudo”. Ab-rogação então é a


revogação total.

b) DERROGAÇÃO – Revogação parcial.

2. Quanto à forma → Com base nesse critério, existem dois tipos de revogação:

a) REVOGAÇÃO EXPRESSA – Ocorre na hipótese de o texto da nova lei indicar


expressamente a revogação de leis ou parte de leis anteriores.

b) REVOGAÇÃO TÁCITA – É verificada na hipótese de uma lei hierarquicamente


superior ou uma lei recente veicular disposição que contraria, respectivamente, lei
inferior ou lei anterior. Caberá ao órgão julgador reconhecer a ocorrência da
revogação tácita, ou seja, quem reconhece a revogação tácita é o órgão julgador.
Efeitos temporais da revogação
A revogação produz efeitos “EX NUNC” ou NÃO RETROATIVOS. Isso significa que os efeitos
concretos produzidos pela lei revogada até o momento da revogação serão preservados, ou seja,
não serão desconstituídos.

CUIDADO → Não se pode confundir dois termos técnicos relacionados aos efeitos temporais da
aplicação de uma lei: efeitos “ex tunc” são diferentes de efeitos “ex nunc”.

• Efeitos “ex tunc” – são efeitos retroativos, ou seja, efeitos que são desconstituídos no
tempo. Um ato com efeitos ex tunc apaga qualquer efeito anterior no tempo (ex tunc é
a testa: bate na testa e vai pra trás). Uma lei inconstitucional, quando tem sua
inconstitucionalidade reconhecida, produz efeitos ex tunc, ou seja, apaga qualquer
efeito anterior no tempo.

• Efeitos “ex nunc” – efeitos não retroativos, isto é, efeitos que são preservados no tempo
(ex nunc é a nuca: bate na nuca e vai pra frente). Um ato com efeitos ex nunc preserva
os efeitos concretos anteriormente produzidos.

Personalidade Jurídica

VIP É muito importante ler os artigos abaixo, tê-los sempre em mente. O marco jurídico, a
fundamentação para a prova do CACD está nos artigos abaixo do Código Civil. O grosso da prova
é a Constituição Federal; cai muito pouco do Código Civil.

▪ Arts. 1º ao 4º, Código Civil


▪ Arts. 40 ao 52, Código Civil

O conceito de personalidade jurídica é definido pela doutrina como sendo a aptidão para
adquirir direitos e obrigações na ordem jurídica. O Direito Civil reconhece a existência de dois
tipos diferentes de personalidades jurídicas ou dois tipos de sujeitos de direitos:

1) PESSOAS NATURAIS → também denominados de pessoas físicas, são os indivíduos que


nascem com vida (arts. 1º ao 4º, CC)

2) PESSOAS JURÍDICAS → trata-se de criações jurídicas decorrentes da habilitação de um


patrimônio especificado (ex. empresa) ou de um centro de poder destacado (ex.
autarquia), para adquirir, em nome próprio, direitos e obrigações.

Pessoa Natural
Obs.: Em direitos humanos, fala-se de indivíduos; no Direito Civil, de pessoa natural; e no Direito
Tributário, de pessoa física. São todos iguais, só muda a nomenclatura.
PARTE GERAL
LIVRO I
DAS PESSOAS
TÍTULO I
DAS PESSOAS NATURAIS
CAPÍTULO I
Da Personalidade e da Capacidade

Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.


Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro.

O art. 1º e 2º do Código Civil são responsáveis por definir os conceitos elementares sobre a
pessoa natural. O primeiro conceito a ser analisado é a CAPACIDADE DE DIREITO ou
CAPACIDADE JURÍDICA, que está prevista no art. 1º, CC. Nos termos do art. 1º, CC, a capacidade
de direito pertence a todas as pessoas, independentemente de qualquer circunstância ou
requisito, e significa a aptidão para adquirir direitos e deveres na ordem jurídica. Quem for
considerado pessoa, então, tem capacidade de direito. Mas a partir de que momento alguém é
considerado pessoa para o Código Civil?

O art. 2º do Código Civil indica o momento em que se inicia a personalidade jurídica da pessoa
natural. O Código Civil brasileiro adota a teoria NATALISTA acerca da personalidade jurídica da
pessoa natural. Isso significa que apenas é considerado sujeito de direito — isto é, apto a adquirir
direitos e deveres — o indivíduo que nascer com vida. Alguns outros países adotam a teoria
CONCEPCIONISTA da personalidade jurídica da pessoal natural, que considera o feto como já
sendo sujeito de direito.

CUIDADO → O direito brasileiro não adota a teoria concepcionista sobre o início da


personalidade jurídica da pessoa natural. Logo, o nascituro (feto) não é considerado sujeito de
direito.

O critério adotado para definir se houve nascimento com vida é a certificação de que ocorreu,
após o nascimento, atividade cardiorrespiratória extrauterina. VIP Isso já foi questão de prova.

OBSERVAÇÃO → Embora o nascituro não seja considerado sujeito de direito, a parte final do
art. 2º do Código Civil prevê que a lei põe a salvo os direitos do nascituro. Na prática, um
representante poderá requerer judicialmente a proteção dos direitos do nascituro, os quais
apenas serão efetivamente adquiridos se ocorrer o nascimento com vida, uma vez que o
nascituro é mera expectativa de direito.

Capacidade Civil
Art. 3º e art. 4º, Código Civil

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
(Vigência)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
A capacidade civil é a capacidade para o EXERCÍCIO ou a ADMINISTRAÇÃO dos direitos
adquiridos pela pessoa natural. O critério adotado pelo legislador brasileiro para definir a
capacidade civil ou a capacidade de exercício é o DISCERNIMENTO. Isso significa que nem todo
sujeito de direito ou pessoa natural, que é apta a adquirir direitos, terá capacidade civil para os
exercitar. Todo mundo tem capacidade jurídica, capacidade de direito, mas nem todo mundo
possui capacidade civil.

Aqueles que não têm o discernimento necessário para exercitar os direitos que adquiriram
podem ser considerados:

1) ABSOLUTAMENTE INCAPAZ → art. 3º do Código Civil; ou


2) RELATIVAMENTE INCAPAZ → art. 4º do Código Civil.

Absolutamente incapazes – art. 3º, CC


Os absolutamente incapazes são pessoas desprovidas de discernimento. Não têm capacidade
para exercitar os direitos que adquiriram e são REPRESENTADOS por alguém que atua em seus
nomes. O art. 3º do CC prevê como sendo absolutamente incapaz apenas um único sujeito de
direito: o menor de 16 anos de idade; se ele praticar qualquer ato jurídico, o ato será nulo.

Relativamente incapazes – art. 4º, CC


Os relativamente incapazes são sujeitos de direito que apresentam DISCERNIMENTO REDUZIDO
e, por isso, precisam ser ASSISTIDOS (isto é, acompanhados ou orientados) durante os atos
relacionados ao exercício dos seus direitos. O art. 4º, CC, prevê os seguinte sujeitos de direito
como sendo relativamente incapazes:

▪ entre 16 e 18 anos idade;


▪ toxicômanos e ébrios habituais;
▪ pessoas que, por causas permanentes ou transitórias, não puderem exprimir sua
vontade;
▪ pródigos (pessoas que gastam demais)

Para qualquer um desses casos, é necessária uma ordem judicial atestando a incapacidade
relativa.

PEGADINHA → O índio, nos termos do art. 4, parágrafo único, do Código Civil, terá sua
capacidade civil disciplinada por legislação especial. Logo, não é considerado pelo Código Civil
nem relativamente nem absolutamente incapaz.
AULA 04 21/02/20

Aula 04 | Personalidade jurídica

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e
de segunda (prova discursiva) fases.
Pontos do edital abordados: 2 Personalidade jurídica.
Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Código Civil; Edital do CACD; e Questões anteriores
sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).
Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: GONÇALVES, Carlos Roberto,
Sinopses Jurídicas, Direito Civil – Parte Geral, Ed. Saraiva.

Última aula de Teoria Geral do Direito antes de entrar de fato em Direito Constitucional.

Revisão da aula passada

Diferença entre CAPACIDADE DE DIREITO e CAPACIDADE CIVIL


Não se pode confundir esses dois conceitos do Direito Civil brasileiro.

▪ CAPACIDADE DE DIREITO
1) Prevista no art. 1º do Código Civil;
2) Trata-se da aptidão para adquirir direitos e deveres/obrigações na ordem jurídica.
A capacidade de direito é assegurada a qualquer pessoa que tenha nascido com
vida, isto é, que goze de personalidade jurídica no Direito Civil;
3) A capacidade de direito também pode ser chamada de capacidade jurídica de gozo.

▪ CAPACIDADE CIVIL
1) Prevista nos arts. 3º e 4º, Código Civil;
2) Trata-se da aptidão para exercer os direitos adquiridos na ordem jurídica;
3) A capacidade civil não é reconhecida, em sua plenitude, a todas as pessoas naturais
ou sujeitos de direito. O critério adotado pelo Código Civil para atribuir capacidade
civil é o DISCERNIMENTO. Por isso, o art. 3º do CC prevê os ABSOLUTAMENTE
INCAPAZES e o art. 4º do CC prevê os RELATIVAMENTE INCAPAZES.
4) A capacidade civil também pode ser chamada de capacidade de exercício ou
capacidade de fato.

▪ CONCLUSÕES
1) Os absolutamente e os relativamente incapazes são dotados de capacidade de direito.
Esses sujeitos não possuem capacidade civil plena
2) A partir da interpretação do art. 3º e do art. 4. do Código Civil, é possível extrair a
conclusão de que pessoas portadoras de deficiência mental são consideradas agentes
plenamente capazes pelo Código Civil. Isso significa que não se pode, aprioristicamente,
adotar a deficiência mental como causa de incapacidade civil. No caso concreto — não
na prova —, se uma pessoa possuir alguma doença mental e essa doença mental
ocasionar comprometimento, de modo permanente ou transitório, na hora de exprimir
a vontade, aí ela vai ser considerada relativamente incapaz. Mas não é porque tem a
doença mental que a pessoa é relativamente incapaz — é porque ela não consegue
exprimir a própria vontade.

Pessoa Jurídica – art. 40 a 52 do Código Civil


As pessoas jurídicas são criações do Direito que apresentam aptidão para adquirir, em nome
próprio, direitos e obrigações/deveres e que se materializam em um patrimônio que é
destacado para desempenhar uma finalidade lucrativa ou altruísta ou, ainda, as pessoas jurídicas
podem ser materializadas em um centro de poderes e atribuições que desempenha finalidades
definidas em lei.

Essa definição doutrinária é facilmente identificável com a redação do art. 40 do Código Civil,
cujo teor prevê que as pessoas jurídicas podem ser de DIREITO PÚBLICO, interno ou externo
(CENTRO DE PODERES E ATRIBUIÇÕES, e de DIREITO PRIVADO (PATRIMÔNIO DESTACADO).

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO – arts. 41 e 42, Código Civil


As pessoas jurídicas de Direito Público podem ser de duas espécies:

1) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO (art. 41, CC) → As pessoas jurídicas
de Direito Público Interno ou Nacional têm aptidão para adquirir direitos e deveres no
âmbito das relações jurídicas do direito brasileiro. O art. 41 do Código Civil prevê um rol
exemplificativo das pessoas jurídicas de Direito Público Interno:

TÍTULO II
DAS PESSOAS JURÍDICAS
CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada pela Lei nº 11.107, de 2005)
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de
direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.

Ante o exposto, resta claro/fica evidenciado que as pessoas jurídicas de Direito Público
Interno têm sua personalidade jurídica atribuída pela lei instituidora — é a lei que dá a
personalidade; ao criar a lei, já se criou a pessoa jurídica de direito público interno1.
Desse modo, o legislador poderá prever, mediante edição de lei, novas modalidades de
pessoas jurídicas de direito público interno, além daquelas previstas no rol
exemplificativo ou enumerativo do art. 41 do Código Civil. Saber duas coisas
importantes a respeito de pessoas jurídicas de direito público interno: são criadas por lei
e, depois, podem surgir novos tipos delas.

2) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO (art. 42, CC) → As pessoas jurídicas
de direito público externo ou internacional têm aptidão para adquirir direitos e deveres
no âmbito das relações jurídicas internacionais. Nos termos do art. 42 do Código Civil,
são admitidas como sendo pessoas jurídicas de direito público externo a) os Estados
estrangeiros e b) os demais sujeitos reconhecidos pelo direito internacional público,
como se pode ver na letra de lei abaixo:

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
pelo direito internacional público.

A redação do art. 42 do Código Civil dialoga com a disciplina do Direito Internacional


Público, na medida em que o legislador brasileiro admite como sendo sujeito de direito
público externo aqueles reconhecidos pelo direito internacional. É preciso que se tenha
os dois artigos em mente, para que se possa interpretar o seguinte artigo da CF/88.

Interpretação do art. 21, I, CF/88

Art. 21. Compete à União:


I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
CF/88

A literalidade do art. 21, I, CF/88, prevê que compete à União (pessoa jurídica de direito público
interno) manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais.
Ao desempenhar essa atribuição, a União não atua em nome próprio; quem tem
responsabilidade externa é a República Federativa do Brasil. A União atua representando o
Brasil. Com base na diferença entre pessoas jurídicas de direito público interno e pessoas
jurídicas de direito público externo, é possível compreender e interpretar o art. 21, I, CF/88. E
como fazer isso?

A União (Governo Federal), ao manter relações com Estados estrangeiros e participar de


organizações internacionais, atua na condição de REPRESENTANTE — representante é um
conceito técnico de direito — do verdadeiro sujeito de direito internacional: a REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL.

1O que estiver em itálico, a partir de agora, será referente a comentários do professor em sala que não são anotados
por ele em seu quadro de aula. Por isso, o texto adotará um registro mais informal nesses momentos, típico da fala,
que será destacado em itálico, para que isso se evidencie e contraste com o que de fato ele anota no quadro.
Tudo que ela fizer vincula todos os governos: federal, estadual e municipal. Sua atuação é no
interesse do Brasil. Por isso que se fala que a política externa não é um interesse de governo,
mas um interesse de Estado. Então, quando a União atua no plano internacional representando
a República Federativa do Brasil, na verdade ela não está lá. Quem está lá é o Brasil. A União
não é parte de organizações internacionais, o que ela faz é enviar diplomatas para OIs, e são
esses diplomatas, graças às prerrogativas jurídicas do cargo, que representam o Brasil.

Este tema cai na prova: a diferença entre União — pessoa jurídica de direito público interno — e
República Federativa do Brasil — pessoa jurídica de direito público externo. CUIDADO!

Conclui-se, portanto, que a União não tem personalidade jurídica externa, mas atuará no plano
internacional na condição de representante do Estado soberano brasileiro (República Federativa
do Brasil), que é o sujeito de Direito Internacional Público. Então quem tem a personalidade é a
República.

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO – art. 44 e 45 do Código Civil


A prova não vai cobrar muito quem são as pessoas jurídicas de direito privado (art. 44, CC). Mas
é importante saber como se cria as pessoas jurídicas de direito privado — e a resposta está no
art. 45, CC. Quero que vocês saibam o seguinte: para uma pessoa jurídica de direito privado ser
criada, não precisa de lei, precisa apenas de registro em órgão competente.

As pessoas jurídicas de Direito Privado têm aptidão para adquirir direitos e obrigações no âmbito
das relações jurídicas de Direito Privado (ex. contratos). O art. 44, CC, prevê exemplos de
pessoas jurídicas de Direito Privado. É importante considerar, ainda, o disposto no art. 45 do
Código Civil, cuja redação trata do início da existência legal das pessoas jurídicas de Direito
Privado: essas pessoas jurídicas adquirem personalidade com a inscrição do ato constitutivo no
registro competente.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no
respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-
se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

Uma vez criada a pessoa jurídica de Direito Privado2, o patrimônio da pessoa jurídica, EM REGRA,
não se confunde com o patrimônio dos sócios. O art. 50 do Código Civil prevê, entretanto, uma
EXCEÇÃO: a chamada DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.

Caberá aplicar a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, mediante ordem judicial,


na hipótese de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade — você
cria uma empresa não para explorar atividade econômica, mas para esconder seu patrimônio —
ou pela confusão patrimonial — não tem diferença entre o que é empresa e o que é sócio, é tudo

2Tanto faz escrever Direito Privado em caixa alta ou baixa (direito privado). O que importa é que se mantenha um
padrão de uso na escrita.
uma confusão. Se decretada a desconsideração da personalidade jurídica, os bens particulares
dos administradores ou sócios responderão pelas obrigações contraídas pela pessoa jurídica.

Então a regra geral é a seguinte: se você fez um contrato com uma empresa e a empresa
quebrou, você não vai poder buscar o patrimônio dos sócios, porque era com a empresa que você
tinha relações jurídicas. MAS, se verificados indícios de fraude, confusão patrimonial, abuso da
personalidade, você vai pedir para o juiz desconsiderar e aí o juiz vai desconsiderar a
personalidade jurídica da empresa e você vai buscar o patrimônio dos sócios. Mas isso não é a
regra — é a exceção. Isso já caiu em prova do CACD.

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

Fim da parte geral. Próxima aula: Direito Constitucional.


DIREITO INTERNO
Prof. Ricardo Macau 06/03/20

AULA 05

Aula 05: Constituição: conceito, classificações

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e
de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: conceito, classificações

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente; ALEXANDRINO,


Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, Ed. Forense e Método.

Novo assunto: Direito Constitucional

CONSTITUCIONALISMO

O constitucionalismo se refere ao estudo do Direito Constitucional enquanto ramo autônomo


do Direito. É importante entender a evolução histórica do constitucionalismo. A doutrina
apresenta um conceito de constitucionalismo que foi sedimentado no final do século XVIII, a
partir do advento da Constituição dos EUA, de 1787. Direito Constitucional não surgiu no século
XVIII, mas a ideia que temos dele hoje se deve muito a esse contexto histórico.

Assim, desde o final do século XVIII, o Direito Constitucional é entendido como sendo um ramo
do Direito fundado, em geral, em um texto escrito – a Constituição (há exceções, que serão
vistas logo mais) – e que tem dois propósitos principais:

a) ORGANIZAR O PODER DO ESTADO


Exemplos de temas de organização do Estado:

à princípio da separação dos poderes;


à forma federativa de Estado;
à processo legislativo;
à forma republicana de governo;
à sistema presidencialista de governo;
à regime democrático de governo.

Na verdade, esse é o índice do curso, os temas que serão conhecidos.


b) LIMITAR O PODER ESTATAL
Exemplos:
à direitos e garantias fundamentais

Falar de direitos e garantias fundamentais é falar de uma forma de limitar o poder do


Estado.

Evolução histórica do constitucionalismo


A doutrina majoritária do Direito Constitucional apresenta três etapas bem delimitadas para
compreender a evolução do constitucionalismo na história.

- 1ª ETAPA – CONSTITUCIONALISMO ANTIGO OU CLÁSSICO


Os autores apontam que o primeiro registro do denominado constitucionalismo antigo
ou clássico ocorreu com o POVO HEBREU (isso já caiu em prova elaborada pelo CESPE),
que se organizou em torno de um líder. O ápice dessa etapa do constitucionalismo foi a
Idade Média, com o surgimento do ABSOLUTISMO.

No constitucionalismo antigo ou clássico, o Direito Constitucional atendia a uma única


finalidade: ORGANIZAR O ESTADO. Não havia preocupação com o indivíduo; o Estado
era muito organizado justamente para atender aos desígnios do rei, por meio de muito
autoritarismo e muita repressão.

- 2ª ETAPA – CONSTITUCIONALISMO MODERNO OU CONTEMPORÂNEO


O chamado constitucionalismo moderno ou contemporâneo tem como marco inicial,
segundo a doutrina majoritária, a promulgação da Constituição dos EUA, em 1787.
Desde então, o Direito Constitucional passou a ser compreendido como sendo uma área
que, mais do que baseada em texto escrito e que organizava o Estado, também devia
limitar o poder estatal, evitar arbitrariedades, evitar o abuso do poder. Desde o final do
século XVIII, com o advento da Constituição dos EUA, o Direito Constitucional passou a
ser entendido, em sua essência, como sendo uma área do Direito Público, fundada, via
de regra, em um documento escrito e que deve atender a duas finalidades principais:
(a) ORGANIZAR O ESTADO e (b) LIMITAR O PODER ESTATAL. A grande contribuição que
o Direito Constitucional norte-americano trouxe para o Ocidente foi mostrar que o
Direito Constitucional poderia resguardar a liberdade de cada pessoa; daí a noção de
liberdade.

Desse modo, a inclusão de limites na Constituição à atuação do Estado evidencia que o


Direito Constitucional é um instrumento valioso para coibir arbitrariedades e abusos de
poder.

- 3ª ETAPA – NEOCONSTITUCIONALISMO
O neoconstitucionalismo surgiu nos países europeus, após 1945, como uma resposta do
Direito Constitucional contemporâneo ao holocausto nazista. Sobretudo porque a
Alemanha empregou sua Constituição vigente à época para fundamentar o holocausto.
A essência do neoconstitucionalismo é promover a interpretação das Constituições
Nacionais à luz de valores universais, ou seja, de valores consagrados pela comunidade
internacional.
Exemplos de valores universais promovidos pelo neoconstitucionalismo:

à proteção integral da pessoa humana (não importa a nacionalidade);


à promoção da DEMOCRACIA (governo do povo – “demos” é povo; e “cracia” é
governo);
à promoção da paz;
à respeito aos postulados da ética

O neoconstitucionalismo prestigia a atividade de interpretação da norma constitucional


(hermenêutica), na medida em que propõe a necessidade de interpretação da
Constituição à luz dos valores universais (muitos desses valores já estão consagrados em
normas internacionais). Muitos autores dizem que o neoconstitucionalismo é uma
técnica de grande importância para amoldar a Constituição Nacional às necessidades
dos novos tempos.

ESTRUTURA DA CF/88

A Constituição Federal de 1988 (CF/88) está dividida em três partes bem delimitadas:

- 1ª PARTE à PREÂMBULO
- 2ª PARTE à CORPO DE TEXTO ou PARTE PERMANENTE
- 3ª PARTE à ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (ADCT)

PREÂMBULO
O preâmbulo é a parte inicial da CF/88 e é caracterizado pelos seguintes aspectos:

Preâmbulo

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado
Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o
bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,
coma solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
CF/88

a) NÃO TRAZ NORMAS JURÍDICAS. Logo, não é obrigatório. E, se não é obrigatório,


também não é considerado subordinante.

b) TRAZ OS VALORES QUE INFLUENCIARAM A CRIAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS


PELA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1988. Desse modo, o preâmbulo serve
como instrumento que auxilia a interpretação das normas constitucionais. É ferramenta
de hermenêutica constitucional.

c) NÃO PODE SER EMPREGADO COMO PARÂMETRO OU PARADIGMA PARA A


REALIZAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS E DEMAIS ATOS
NORMATIVOS. Isso se deve ao fato de que o preâmbulo não tem normas jurídicas, ele
tem apenas valores. Por isso, não se poder usar o preâmbulo para declarar uma lei
inconstitucional.

OBSERVAÇÃO à O STF entendeu que as Constituições Estaduais não precisam


reproduzir em seu preâmbulo menção a Deus – a exemplo da menção que consta no
preâmbulo da CF/88. Lembrar do caso que envolveu o preâmbulo da Constituição
Estadual do Estado do Acre.

CORPO DE TEXTO OU PARTE PERMANENTE


O denominado corpo de texto ou parte permanente compreende o conjunto de artigos da CF/88
(arts. 1º ao 250), que foram criados com o propósito de serem aplicados enquanto vigorar a
CF/88. O corpo de texto ou parte permanente da CF/88 possui as seguintes características:

a) TRAZ NORMAS JURÍDICAS. Logo, é obrigatório e subordinante; ou seja, precisa ser


cumprido.

b) É ADOTADO COMO PARÂMETRO OU PARADIGMA PARA A REALIZAÇÃO DO CONTROLE


DE CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS E DEMAIS ATOS NORMATIVOS. Desse modo, será
declarado inconstitucional (NULO) eventual lei ou ato normativo incompatível com as
normas do corpo de texto ou parte permanente.

VIP à O STF entende que NÃO EXISTE HIERARQUIA entre as normas constitucionais
que integram o corpo de texto ou a parte permanente da CF/88. Isso significa que todos
os 250 artigos do corpo de texto ou parte permanente da CF/88 possuem a mesma
dignidade constitucional e precisam ser empregados conjuntamente/de modo
harmônico. Trata-se da aplicação do chamado PRINCÍPIO DA UNIDADE DA
CONSTITUIÇÃO. Não posso falar que direito à vida é mais importante do que direito à
integridade; tudo é norma constitucional; se está na CF/88, tem a mesma importância.

ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (ADCT)


O ADCT é a parte final da CF/88. Sua finalidade é permitir a transição do sistema constitucional
que vigorava antes (Constituição de 1967/69) para o atual sistema constitucional (CF/88). O
ADCT traz normas constitucionais de eficácia EXAURÍVEL, ou seja, que serão aplicadas por um
período de tempo determinado, justamente para permitir a transição entre os sistemas
constitucionais. O ADCT tem as seguintes características:

a) TRAZ NORMAS JURÍDICAS. Logo, é obrigatório e subordinante.


b) SERVE COMO PARÂMETRO OU PARADIGMA PARA A REALIZAÇÃO DO CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DE LEIS E DEMAIS ATOS NORMATIVOS.

PEGADINHA à Não há diferença hierárquica entre as normas constitucionais


permanentes do corpo de texto e as normas constitucionais de eficácia exaurível do
ADCT. A diferença é que as normas do ADCT têm um prazo a ser aplicado; só isso. O que
não tem caráter normativo, o que não cria norma jurídica é o preâmbulo.
DIREITO INTERNO
Prof. Ricardo Macau 13/03/20

AULA 06

Aula 06 | Constituição: conceito, classificações

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e
de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: conceito, classificações

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente; ALEXANDRINO,


Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado, Ed. Forense e Método.

Hoje: Aula destinada ao estudo da classificação da CF/88

Há várias classificações em livros. A prova do CESPE e a do IADES, felizmente, se prendem a


apenas 7 critérios. A aula de hoje trata de um tema muito importante, que cai praticamente
todo ano no CACD. É um tema da Teoria Geral do Direito Constitucional, que é muito importante
para comprovar se o candidato estudou o básico do edital e que permite à banca formular
muitas pegadinhas em questões de provas.

CLASSIFICAÇÃO da CF/88
A doutrina majoritária adota 07 critérios principais para classificar a CF/88.

1) QUANTO À ALTERABILIDADE, ESTABILIDADE ou MUTABILIDADE (VIP é o critério


que mais cai em prova)

A CF/88 é classificada como sendo uma Constituição RÍGIDA. Entende-se por


Constituição rígida aquela que exige um processo solene e dificultoso de alteração.
Trata-se de um procedimento mais trabalhoso do que o exigido para a criação de
uma lei. No Brasil, o processo solene e dificultoso de alteração da Constituição é a
EMENDA CONSTITUCIONAL. Uma lei não consegue alterar a CF/88; apenas uma
emenda constitucional. EC = REGRA 2235.

EC = REGRA 2235. 2 turnos de votação nas 2 casas do Congresso Nacional mediante


o quórum de aprovação de 3/5 dos membros respectivos. É um quórum alto, são
60% dos membros.
VIP Falar de EC é pensar no telefone da Ágata Fogosa: é lembrar que é um número
de telefone que termina com 2235.

Com base neste critério, a doutrina identifica ainda outros dois tipos de
Constituição:

a) Constituição Flexível à trata-se da Constituição alterável mediante a edição de


lei.

b) Constituição Semirrígida ou Semiflexível à é a Constituição cuja uma de suas


partes é alterável mediante lei e a outra exige a edição de EC.

Observação à A Constituição do Império de 1824 foi uma Constituição


Semirrígida ou Semiflexível quanto à estabilidade ou alterabilidade.

*NOTA à Parcela minoritária da doutrina brasileira defende o entendimento de que a


CF/88 seria uma Constituição SUPERRÍGIDA quanto à alterabilidade, pelo fato de possuir
cláusulas pétreas. Para esses autores, as cláusulas pétreas são partes da Constituição
que não podem ser alteradas.

Ocorre, entretanto, que o STF, ao interpretar a Constituição, entendeu que o art. 60,
parágrafo 4º, da CF/88, estabelece que emendas constitucionais não podem ABOLIR
cláusulas pétreas. É possível, portanto, que essas cláusulas sofram emendas
constitucionais, desde que se lhes preserve o NÚCLEO ESSENCIAL ou INTANGÍVEL. As
emendas constitucionais, na prática, poderão ampliar ou aperfeiçoar as cláusulas
pétreas.

2) QUANTO À ORIGEM

Com base neste critério, a CF/88 é considerada uma Constituição PROMULGADA.


Entende-se por Constituição promulgada aquela que é ORIGINADA a partir da VONTADE
POPULAR, ou seja, o povo participa direta ou indiretamente da sua criação.

A CF/88 foi criada pela Assembleia Nacional Constituinte, que funcionou entre os anos
de 1987-1988 e representou o povo brasileiro.

Com base no critério ORIGEM, a doutrina identifica outros dois tipos de Constituição
(não precisa se preocupar com saber onde é que tem esse tipo de Constituição):

a) Constituição Outorgada à É a constituição criada sem a participação popular. O


povo não participa da origem das normas constitucionais. Geralmente, a
Constituição outorgada é adotada por regimes autoritários, haja vista que essa
Constituição é entregue pronta ao povo. Quem está no poder, quem está em
condições de elaborar essa constituição e a entregar ao povo, faz isso de maneira
arbitrária, até mesmo contra a vontade do povo – o povo tem que aceitar ela, e
pronto.

b) Constituição Cesarista à É aquela Constituição que possui uma REDUZIDA ou


DIMINUTA participação popular. O povo recebe um texto constitucional já
elaborado e realiza plebiscito (consulta prévia) ou referendo (consulta retardada)
sobre a adoção ou não desse texto. O povo, aqui, não discute o teor da norma, ele
fala apenas sim ou não no contexto como um todo – esse tipo de Constituição é
apenas um simulacro de participação popular. Chama-se cesarista, porque quem a
inventou foram os czares da Rússia.

Exemplo de pegadinha da banca: ela pode perguntar assim: a Constituição brasileira é


promulgada? Sim, ela é. Quanto à alterabilidade? Não. Ela é promulgada, sim, mas
quanto à origem; quanto à alterabilidade, ela é rígida. A banca mistura os critérios. É
preciso lembrar, portanto, do critério e do tipo a que ele corresponde.

3) QUANTO À FORMA

Com base neste critério, a CF/88 é classificada como sendo uma CONSTITUIÇÃO
ESCRITA, haja vista que as normas constitucionais estão
consagradas/plasmadas/consolidadas/consignadas em um texto escrito.

Quanto à forma, a doutrina aponta ainda um outro tipo de Constituição: trata-se da


Constituição Não-Escrita, Costumeira ou Consuetudinária. Nesse caso, a maior
parte das normas decorre do costume interno (ato reiterado no tempo e no espaço,
tido como obrigatório).

Exemplo: Constituição da Inglaterra.

Pegadinha à nada impede que nesse tipo de Constituição existam algumas poucas
regras escritas. A Constituição costumeira, não-escrita ou consuetudinária pode ter
algumas poucas normas escritas.

4) QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO

Esse critério é bem técnico. Com base no critério modo de elaboração, a CF/88 é
classificada como sendo uma CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA. Entende-se por
Constituição dogmática aquela que é elaborada de modo consciente por um ÓRGÃO
CONSTITUINTE, que adota normas constitucionais a partir de DOGMAS DA CIÊNCIA
POLÍTICA (ex. direitos fundamentais e princípio da separação dos poderes impedem
a ascensão de regimes autoritários).
Quanto ao modo de elaboração, há ainda um outro tipo de Constituição: trata-se da
CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA, que é aquela elaborada a partir da sedimentação das
tradições políticas de um povo, ao longo do tempo. É a Constituição “deixa a vida
me levar, vida leva eu”, como diz a música do Zeca Pagodinho.

Observação à A doutrina indica que a Constituição dogmática (modo de


elaboração) deverá ter forma escrita, pois será preciso informar ao povo quais
foram os dogmas adotados pelo órgão constituinte. Por outro lado, a Constituição
histórica (modo de elaboração) terá forma costumeira ou não-escrita, porque o
costume constitucional depende da história de um povo e de um Estado para surgir.
Há exceções, sim, mas não caem na prova.

5) QUANTO À EXTENSÃO

Com base neste critério, a CF/88 é classificada como sendo uma CONSTITUIÇÃO
ANALÍTICA, pois apresenta grande dimensão textual.

Com base no critério extensão, há ainda um outro tipo de Constituição: é a


CONSTITUIÇÃO SINTÉTICA, que é aquela que apresenta pequena dimensão textual.
Isso nunca vai ser cobrado – nem na prova discursiva; é uma discussão de doutrina
acadêmica.

6) QUANTO AO CONTEÚDO

Com base no critério conteúdo, a CF/88 é classificada como sendo uma


CONSTITUIÇÃO FORMAL. Entende-se por Constituição formal aquela Constituição
que traz em seu conteúdo dois tipos de normas constitucionais:

a) Normas materialmente constitucionais ou normas constitucionais materiais


à São as normas que tratam de temas típicos do Direito Constitucional:

I. organização do Estado (ex. art. 2º, CF/88);


II. limitação do poder estatal (ex. art. 5º, CF/88)

b) Normas formalmente constitucionais ou normas constitucionais formais à


São normas que não tratam de temas típicos do Direito Constitucional. Essas
normas poderiam estar previstas na legislação infraconstitucional, porém o
constituinte as incluiu no texto constitucional para lhes atribuir máxima
hierarquia normativa (ex. art. 242, CF/88).

Com base no critério conteúdo, a doutrina aponta um outro tipo de


Constituição: trata-se da CONSTITUIÇÃO MATERIAL, que é a Constituição cujo
conteúdo prevê somente normas materialmente constitucionais ou normas
constitucionais materiais.

7) Fica para a próxima aula. Antes de começar ela, no entanto, será feita uma revisão
desses 6 critérios.
AULA 07 20/03/20

Aula 07 | Constituição: primado da Constituição

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de segunda
(prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: [3] Constituição: primado da Constituição.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e Questões anteriores
sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo,


Direito Constitucional Descomplicado, Ed. Forense e Método.

REVISÃO da última aula

CLASSIFICAÇAO DA CF/88
A doutrina majoritária adota 7 critérios classificatórios principais para a CF/88:

1) ALTERABILIDADE, ESTABILIDADE ou MUTABILIDADE ➔ Rígida;


2) ORIGEM ➔ Promulgada;
3) FORMA ➔ Escrita;
4) MODO DE ELABORAÇÃO ➔ Dogmática;
5) EXTENSÃO ➔ Analítica;
6) CONTEÚDO ➔ Formal.

CONTEÚDO NOVO

7) Quanto à FINALIDADE ➔ Com base neste critério, a CF/88 é classificada como sendo
uma CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE. Entende-se por Constituição DIRIGENTE aquela que
prevê NORMAS PROGRAMÁTICAS, ou seja, normas que trazem direitos sociais
(exemplo: saúde, educação, moradia, previdência social etc.). As normas programáticas,
ao prever direitos sociais, estabelecem METAS GOVERNAMENTAIS para a concretização
desses direitos.

A doutrina entende que existe ainda um outro tipo de Constituição quanto à finalidade.
Trata-se da CONSTITUIÇÃO GARANTIA, que é definida como sendo a Constituição que
não prevê direitos sociais. Essa constituição tem a finalidade de apenas estabelecer
DIREITOS INDIVIDUAIS (ex.: liberdade de locomoção, liberdade religiosa, liberdade de
associação, propriedade privada etc.). Percebe-se, portanto, que, em termos práticos, é
muito mais fácil cumprir uma Constituição desse tipo, haja vista que ela estabelece
apenas deveres de ABSTENÇÃO ao Estado. Um exemplo típico dessa Constituição é a
dos EUA.
PODER CONSTITUINTE
O poder constituinte é o poder que tem duas finalidades:

1) CRIAR A CONSTITUIÇÃO (poder constituinte originário)


2) APERFEIÇOAR A CONSTITUIÇÃO (poder constituinte derivado)

HISTÓRICO DA TEORIA DO PODER CONSTITUINTE


A teoria do poder constituinte surgiu na França, no século XVIII, no período que antecedeu a
Revolução Francesa. A teoria foi idealizada pelo abade EMANNUEL DE SIEYÈS, que publicou o
livro denominado Que é o Terceiro Estado?. Conforme a teoria de Sieyès, é possível extrair as
seguintes conclusões relevantes:

a) o povo/nação é o titular inalienável do poder constituinte, ou seja, do poder de criar e


de aperfeiçoar a Constituição. Essa teoria deu munição para que o povo fizesse a
Revolução Francesa, acabasse com o absolutismo e instaurasse a república;

b) o poder constituinte (o povo/nação) pode exercer, a qualquer momento, o chamado


DIREITO DE REVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL; isso nada mais é do que criar uma nova
Constituição.

c) não se pode confundir o poder constituinte (o povo/nação) com os PODERES


CONSTITUÍDOS (Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário).

PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO ou DE 1º GRAU


O poder constituinte originário ou de 1º grau é o poder que cria a Constituição. A doutrina do
Direito Constitucional apresenta as seguintes características que definem o poder constituinte
originário:

(1) PODER DE NATUREZA POLÍTICA ou NÃO JURÍDICA


A criação de uma nova Constituição é resultado da confluência de uma série de fatores
de natureza política, social, econômica e cultural.

(2) PODER INICIAL


Ao criar uma nova Constituição, o poder constituinte originário inaugura uma nova
ordem jurídica. Em termos jurídicos, o Estado brasileiro de 1988 não é o mesmo de 1967,
1946, 1937, 1934 etc. (esses são anos de Constituição do Brasil).

(3) PODER JURIDICAMENTE ILIMITADO


Ao criar uma nova Constituição, o poder constituinte originário não tem nenhum limite
jurídico a ser observado. Ex.: a CF/88 previu a pena de morte em tempo de guerra (art.
5º, XLVII, CF/88), o que evidencia que o direito à vida não foi um limite jurídico à atuação
do poder constituinte originário.

Pegadinhas
a) O art. 5º, XXXVI, CF/88, prevê que a lei deverá respeitar o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada. Essa limitação não se aplica à nova constituição.
Logo, uma nova Constituição pode desconsiderar o direito adquirido, ato jurídico
perfeito e a coisa julgada, haja vista que o poder constituinte originário é
juridicamente ilimitado.

b) O poder constituinte originário não tem limites jurídicos. Todavia, a doutrina


reconhece que o poder constituinte originário tem que observar os chamados
LIMITES METAJURÍDICOS, isto é, limites de natureza social, histórica, econômica e
cultural.

(4) PODER AUTÔNOMO


Não há uma fórmula procedimental pré-estabelecida para criar uma nova Constituição.
Caberá ao poder constituinte originário (povo/nação) decidir como a elaborar.

Três exemplos ajudam a fixar o que é o poder autônomo: (i) no contexto da CF/88, para
que ela surgisse, o povo aceitou, à época, transformar o Congresso Nacional em
Assembleia Constituinte, apesar do fato de que os deputados e senadores em exercício
já estavam no fim de seus mandatos; ou seja, a autonomia do povo permitiu que isso
acontecesse, porque o povo poderia ter optado por outra solução; poderia, por exemplo,
ter pedido votações para Assembleia Constituinte; (ii) o segundo exemplo diz respeito à
questão de a Emenda Constitucional Número 1, de 1969, ser ou não ser uma
Constituição. Segundo alguns estudiosos de Direito Constitucional, ela alterou mais de
70% da Constituição de 1967 — ou seja, ela alterou muito essa Constituição —, e é por
isso que se fala que em 1969 surgiu uma nova Constituição — é por isso, inclusive, que
ela é informalmente conhecida como Constituição de 1969; (iii) o terceiro exemplo de
caráter autônomo não tem a ver com o Brasil, mas com a Islândia, e vem do fato de a
Constituição da Islândia ter sido feita a partir do Facebook: o povo resolveu usar o
Facebook, criou uma fanpage, e aí foi criada uma Constituição por meio de likes no
Facebook; criou-se um grupo de estudiosos, que fez um estudo do assunto e que
elaborava propostas de artigos para a Constituição, propostas que eram liberadas na
fanpage e recebiam likes e sugestões, até serem aperfeiçoadas e transformadas na
Constituição de fato.

(5) PODER INCONDICIONADO


O fato de o poder constituinte originário ser um poder incondicionado significa que não
há um momento específico para criar uma nova Constituição. O direito de revolução
constitucional pode ser exercido a qualquer tempo pelo povo/nação.

(6) PODER PERMANENTE


O poder constituinte originário tem como titular o povo/nação. Isso significa que o
poder constituinte originário (povo/nação) não desaparece com a criação de uma nova
Constituição.
Em verdade, após criar uma nova Constituição, o poder constituinte originário entra em
estado de latência, até o momento em que sentir a necessidade — os EUA, por exemplo,
sempre tiveram a mesma Constituição — de criar uma nova Constituição.

Observação ➔ Em 1988, com a promulgação da CF/88 houve a DISSOLUÇÃO da


Assembleia Nacional Constituinte, isto é, o órgão que representava o povo brasileiro (o
poder constituinte originário).

PODER CONSTITUINTE DERIVADO ou DE 2º GRAU


O poder constituinte derivado, também chamado de poder de 2º grau, é o poder responsável
por aperfeiçoar o sistema constitucional. Existem três espécies/tipos de poder constituinte
derivado, ou seja, três modos/formas de aperfeiçoar a CF/88:

a) PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR → Cria emendas constitucionais (art.


60, CF/88). Então, reformar a Constituição é criar emendas.

Subseção II
Da Emenda à Constituição

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros.

§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão
legislativa.
CF/88

b) PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE → Cria as Constituições Estaduais (art.


11 do ADCT)

Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da
Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.

Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois
turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.

ADCT (ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS)

c) PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR → Criou, em 1993, as chamadas EMENDAS


DE REVISÃO (art. 3º do ADCT)

Art. 3º A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do
Congresso Nacional, em sessão unicameral.

ADCT (ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS)


AULA 08 20/03/20

Aula 08 | Constituição: controle de constitucionali dade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de segunda (prova
discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e Questões anteriores sobre o
tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo, Direito
Constitucional Descomplicado, Ed. Forense e Método.

REVISÃO da última aula

PODER CONSTITUINTE DERIVADO ou DE 2º GRAU

O poder constituinte derivado é o poder que aperfeiçoa a Constituição e que, portanto, atua em
um segundo momento, isto é, após a criação da Constituição. A doutrina apresenta três tipos de
poder constituinte derivado:

1) PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR → Cria emendas constitucionais (art.


60, CF/88).

Então, reformar a Constituição é criar emendas. As ECs são criadas conforme a REGRA
2235 — 02 turnos de votação, nas 02 casas do Congresso Nacional, com quórum de
aprovação de 3/5 dos respectivos membros. As ECs, criadas pelo poder constituinte
derivado reformador, representam um mecanismo de ALTERAÇÃO FORMAL da
Constituição, porque obedecem a regras específicas de criação.

IMPORTANTE: A atuação do poder constituinte derivado reformador justifica a rigidez


constitucional da CF/88, ou seja, o fato de a CF/88 ser uma Constituição rígida.

2) PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE → Cria as Constituições Estaduais (art.


11 do ADCT).

Trata-se, portanto, de uma forma de manifestação do poder constituinte derivado que


tem íntima relação com a forma federativa de Estado.

PEGADINHA
Em que pese existir divergências doutrinárias, em provas de concurso, deve-se adotar a
orientação de que o poder constituinte derivado decorrente NÃO atuou na elaboração
das Leis Orgânicas Municipais. A fundamentação desse posicionamento é o art. 11,
parágrafo único, do ADCT, cujo teor, ao tratar da atuação da Câmara Municipal na
elaboração da Lei Orgânica do Município, não previu que a Câmara Municipal atuaria
com poderes constituintes. O art. 11, “caput”, do ADCT, expressamente atribuiu
poderes constituintes à Assembleia Legislativa Estadual para a elaboração da
Constituição Estadual. Ou seja, para a Assembleia Legislativa Estadual, foi atribuído
poder constituinte; para a Câmara Municipal, não.
OBS.: A Lei Orgânica Municipal foi criada pelo poder constituído, qual seja, o Poder
Legislativo do Município.

3) PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR → Criou, em 1993, as chamadas EMENDAS


DE REVISÃO (art. 3º do ADCT).

O poder constituinte derivado revisor atuou em 1993 e já se exauriu. As emendas de


revisão não observaram a REGRA 2235. Nos termos previstos no art. 3 do ADCT,
seguiram um procedimento mais simples de votação: trata-se da REGRA 1112. As
emendas de revisão foram votadas em turno único ou sessão unicameral (1), no
Congresso Nacional (1), sendo aprovadas por maioria absoluta (isto é, por mais da
metade dos membros do Congresso (1/2)).

PEGADINHA
Embora a CF/88 seja uma Constituição rígida quanto à alterabilidade, as emendas de
revisão (REGRA 1112) provam que nem todos os atos que alteraram a redação da CF/88
seguiram a REGRA 2235. Em 1993, foi realizada a revisão constitucional e as emendas
de revisão foram aprovadas por procedimento mais simples de votação: turno único ou
sessão unicameral, no Congresso Nacional, por maioria absoluta.

CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO ou DE 2º GRAU


A doutrina do Direito Constitucional apresenta 05 características específicas do poder
constituinte derivado ou de 2º grau.

DICA
As características próprias do poder constituinte derivado correspondem ao OPOSTO das 05
primeiras características do poder constituinte originário. Então ao aprender de modo detalhado
as características do poder constituinte originário, a gente já reconhece as características do
poder constituinte derivado, porque estas são o oposto daquelas.

O poder constituinte derivado tem as seguintes características:

1- Poder de natureza jurídica Sua forma de atuação e seu momento de manifestação


estão determinados na CF/88.

2- Poder não-inicial Sua função é aperfeiçoar a ordem jurídica que foi


inaugurada pelo poder constituinte originário.

3- Poder juridicamente LIMITADO A CF/88 estabelece os limites jurídicos à atuação


do poder constituinte derivado. Exemplos:

(i) emendas constitucionais não podem


abolir cláusulas pétreas;
(ii) o STF reconhece que as Constituições
Estaduais devem obedecer o princípio
da simetria em relação à Constituição
Federal.
4- Poder não-autônomo A CF/88 determina os procedimentos formais que
devem ser observados para a atuação do poder
constituinte derivado.

5- Poder condicionado A CF/88 definiu em quais momentos o poder


constituinte derivado poderá atuar.

OBS.: A titularidade do poder constituinte derivado também pertence ao povo/nação. Logo,


esse poder é um poder permanente, assim como o poder constituinte originário. Cabe registrar
que o povo/nação pode ser representado por órgãos diferentes no exercício do poder
constituinte derivado:

(i) poder constituinte derivado reformador A representação cabe às duas casas do


Congresso Nacional, que votam a
emenda constitucional separadamente;

(ii) poder constituinte derivado decorrente a representação cabe às Assembleias


Legislativas Estaduais, que criaram as
respectivas Constituições dos Estados;

(iii) poder constituinte derivado revisor: a representação cabe ao Congresso


Nacional, que criou, em 1993, em sessão
unicameral, as emendas de revisão.

LIMITES AO PODER DE EMENDA CONSTITUCIONAL – ART. 60, CF/88

Subseção II
Da Emenda à Constituição

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros.

§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;

II - o voto direto, secreto, universal e periódico;

III - a separação dos Poderes;

IV - os direitos e garantias individuais.

§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa
[sessão legislativa é o ano parlamentar: vai de 2 de fevereiro até 22 de dezembro].
CF/88
O art. 60 da CF/88 prevê os limites jurídicos à atuação do poder constituinte derivado
reformador, isto é, o poder constituinte responsável pela criação de emendas
constitucionais. Ao interpretar o artigo supracitado, a doutrina identificou três tipos de
limites jurídicos impostos ao poder de emenda constitucional — também chamado de poder
de reforma constitucional:

(1) LIMITES CIRCUNSTANCIAIS – art. 60, § 1, CF/88


O art. 60, §1, CF/88, proíbe alterar a CF/88 em três circunstâncias:

− decretação de estado de defesa;


− decretação de estado de sítio;
− decretação de intervenção federal.

CUIDADO A CF/88 não prevê a decretação do estado de guerra como sendo um limite
circunstancial ao poder de emenda constitucional.

PEGADINHA Não se pode denominar os limites circunstanciais ao poder de emenda da


CF/88 de limites temporais. Isso porque a CF/88 não prevê limites temporais ao poder
de emenda. A Constituição do Império de 1824 previu limites temporais ao poder de
emenda, ao estabelecer que, apenas após quatro anos de sua vigência, seria possível
realizar emendas constitucionais.

(2) LIMITES FORMAIS ou PROCEDIMENTAIS – art. 60


Os limites formais ou procedimentais ao poder de emenda constitucional se dividem em
três subespécies e estão relacionados às regras do processo legislativo para criação de
emendas constitucionais:

a) legitimados à propositura de emendas constitucionais – art. 60, I, II, e III, CF/88

As propostas de emendas constitucionais podem ser apresentadas apenas por três


legitimados VIP – decorar!:

− Presidente da República;
− 1/3 da Câmara dos Deputados OU 1/3 do Senado Federal;
− mais da metade das Assembleias Legislativas Estaduais, cada qual com
maioria relativa.

b) procedimento de aprovação de emendas constitucionais – art. 60, §2, CF/88

Trata-se da famosa REGRA 2235 para aprovação de emendas constitucionais, isto é,


a necessidade de votação em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional,
com o quórum de aprovação de três quintos dos respectivos membros.

c) VIP impossibilidade de reapresentar na mesma sessão legislativa proposta de


emenda constitucional rejeitada ou prejudicada – art. 60, §5, CF/88
Caso a proposta de emenda constitucional não seja aprovada, o tema rejeitado ou
prejudicado apenas poderá ser reapresentado na próxima sessão legislativa, ou
seja, após o dia 02 de fevereiro do ano subsequente.

Pegadinha
Não se pode confundir dois conceitos técnicos do Direito Constitucional: legislatura
e sessão legislativa.

(i) legislatura ➔ prevista no art. 44, parágrafo único, CF/88, corresponde ao


período de quatro anos no Poder Legislativo;

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.

Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.


CF/88

(ii) sessão legislativa ➔ prevista no art. 57, “caput”, CF/88, corresponde ao


“ano parlamentar”, que se inicia em 02 de fevereiro e termina em 22 de
dezembro, com recessos entre os dias 17 de julho e 01 de agosto.

Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de


julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006)
CF/88

ATENÇÃO Proposta de emenda constitucional rejeitada ou prejudicada não pode ser


reapresentada na mesma sessão legislativa (“ano parlamentar”) mas pode ser
reapresentada na mesma legislatura (período de quatro anos no Poder Legislativo).

(3) LIMITES MATERIAIS – cláusulas pétreas


Os limites materiais ao poder de emenda constitucional correspondem às chamadas
cláusulas pétreas, isto é, matérias que não podem ser abolidas por meio de emendas
constitucionais. VIP A jurisprudência do STF já firmou o entendimento de que as
cláusulas pétreas podem ser alteradas por emenda constitucional desde que se respeite
seu núcleo essencial ou intangível. Logo, as cláusulas pétreas não são limites absolutos
ao poder de emenda da CF/88. VIP Desse modo, conclui-se que emenda constitucional
pode alterar cláusula pétrea se for para ampliar a proteção jurídica da matéria
petrificada na CF/88.

A doutrina e a jurisprudência do STF entendem que existem dois tipos de cláusula


pétreas, a saber:

a) cláusulas pétreas explícitas ➔ estão previstas no rol do art. 60, §4, CF/88;
b) cláusulas pétreas implícitas ➔ foram reconhecidas como matérias petrificadas na
CF/88 (limites materiais ao poder emenda constitucional) pela jurisprudência do
STF.
AULA 09 03/04/20

Aula 09 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva) e de segunda (prova
discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e Questões anteriores sobre o
tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo, Direito
Constitucional Descomplicado, Ed. Forense e Método.

REVISÃO da última aula

LIMITES DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR – ART. 60, CF/88

a. Limites circunstanciais;
b. Limites formais ou procedimentais;
c. Limites materiais

HOJE

Revisão é a chave da aprovação. Quanto mais você rever, mais próximo você está de ser
aprovado.

(3) LIMITES MATERIAIS – cláusulas pétreas


Os limites materiais ao poder de emenda constitucional correspondem às chamadas
cláusulas pétreas, isto é, matérias que não podem ser abolidas por meio de emendas
constitucionais. VIP A jurisprudência do STF já firmou o entendimento de que as
cláusulas pétreas podem ser alteradas por emenda constitucional desde que se respeite
seu núcleo essencial ou intangível. Logo, as cláusulas pétreas não são limites absolutos
ao poder de emenda da CF/88. VIP Desse modo, conclui-se que emenda constitucional
pode alterar cláusula pétrea se for para ampliar a proteção jurídica da matéria
petrificada na CF/88.

A doutrina e a jurisprudência do STF entendem que existem dois tipos de cláusula


pétreas, a saber:

a) CLÁUSULAS PÉTREAS EXPLÍCITAS ➔ estão previstas/petrificadas no rol do art. 60,


§4, CF/88. O texto constitucional prevê expressamente como sendo cláusulas
pétreas explícitas as seguintes matérias:

- forma federativa de Estado;


OBS Por ser a Federação uma das cláusula pétrea da CF/88, enquanto a
Constituição vigorar não será possível que emenda constitucional substitua
a forma federativa de Estado por outra forma de Estado existente no
constitucionalismo (ex. Estado regional, como no caso da Espanha, ou
Estado unitário, como no de Portugal), haja vista que essa eventual emenda
constitucional estaria abolindo da CF/88 a Federação. Enquanto vigorar a
CF/88, vai ter Federação; só a criação de uma nova Constituição pode alterar
isso.

- princípio da separação dos poderes;

ATENÇÃO O núcleo essencial ou intangível desse princípio é o mecanismo


de freios e contrapesos (checks and balances). Desse modo, nenhuma
emenda constitucional poderá ser criada se tender a abolir ou enfraquecer
o controle recíproco entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

- voto direito, secreto, universal e periódico;

PEGADINHA O voto obrigatório, previsto no art. 14, §1, CF/88, NÃO é


considerado cláusula pétrea pela CF/88. Isso significa que eventual emenda
constitucional pode abolir o voto obrigatório e estabelecer como regra geral
a facultatividade do voto no Brasil.

- direitos e garantias individuais.

IMPORTANTE Embora a literalidade do texto constitucional traga menção


no art. 60, §4, CF/88, de que apenas os direitos e garantias individuais
(direitos fundamentais de 1ª geração) seriam cláusulas pétreas, o
entendimento que prevalece na doutrina constitucionalista é de que todos
os direitos fundamentais devem ser considerados cláusulas pétreas, pois os
direitos fundamentais são regidos pelo princípio da indivisibilidade. Logo,
emenda constitucional não poderá abolir, além dos direitos e garantias
individuais, os direitos sociais (direitos fundamentais de 2ª geração) e os
direitos difusos (direitos fundamentais de 3ª geração).

Como isso pode cair em prova? Já vi questão que fala assim: a Constituição
prevê expressamente que todos os direitos fundamentais são cláusulas
pétreas? Ora, todos, não. Expressamente são os direitos individuais. Trata-
se então de uma questão quer cobrar literalidade, isto é, o que está previsto
expressamente na CF/88. Mas uma questão também pode perguntar assim:
os direitos fundamentais são cláusula pétrea? Sim, eles são, e o que os faz
serem cláusulas pétreas é o tipo de interpretação que se faz da CF/88 —
uma interpretação extensiva, segundo entendimento doutrinário, com base
no princípio da indivisibilidade, que amplia para todos os direitos
fundamentais o que está expressamente previsto na CF/88 apenas para os
direitos individuais.

b) CLÁUSULAS PÉTREAS IMPLÍCITAS ➔ trata-se de cláusula pétrea que, embora não


prevista no rol do art. 60, §4, CF/88, foi reconhecida como sendo limite material ao
poder de emenda constitucional pela jurisprudência do STF. É falar de cláusula
pétrea que ganhou esse status em virtude do reconhecimento da jurisprudência do
Supremo.

A jurisprudência do SFT reconheceu, até o momento, como sendo cláusula pétrea


implícita o princípio da rigidez constitucional, ou seja, a exigência de um
procedimento solene e dificultoso para alterar o texto constitucional. Na prática, o
fato de a rigidez constitucional ser considerada uma cláusula pétrea implícita
impede a criação de qualquer emenda constitucional que tenha o objetivo de
simplificar as regras previstas no art. 60 da CF/88 acerca da criação de emendas
constitucionais.

OBS Isto já foi cobrado em concursos, mas nunca no CACD. O princípio da rigidez
constitucional, considerado pela jurisprudência do STF cláusula pétrea implícita da
CF/88, impede a adoção, no Brasil, da teoria portuguesa chamada de dupla revisão.
Essa teoria permitiu que o Direito Constitucional português reduzisse o rol de
cláusulas pétreas da Constituição lusitana, por meio de um processo dividido em
duas etapas: (i) uma emenda constitucional alterou o rol de cláusulas pétreas,
retirando-lhe determinados temas; (ii) outra emenda constitucional foi
posteriormente criada para abolir a matéria despetrificada da ordem constitucional
portuguesa. Essa teoria tem por finalidade simplificar o procedimento de criação de
emendas constitucionais. Ela foi criada e aplicada num contexto de necessidade de
afrouxamento das exigências constitucionais de manutenção e criação de direitos
sociais, contexto em que o Estado português se encontrava falido para levar isso
adiante.

DIFERENÇA ENTRE REFORMA CONSTITUCIONAL E MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

Não se pode confundir os institutos da reforma constitucional e da mutação constitucional.


Ambos são processos de alteração da Constituição, mas têm diferenças sensíveis entre si:

- REFORMA CONSTITUCIONAL → A reforma constitucional é considerada um PROCESSO


FORMAL de alteração da Constituição, uma vez que é realizada por meio da edição de
emenda constitucional (REGRA 2235). Logo, na reforma constitucional, o que se altera
é o texto da Constituição.

- MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL → A mutação constitucional é considerada um


PROCESSO INFORMAL de alteração da Constituição.
Por meio da mutação constitucional, altera-se o significado da norma constitucional,
mantendo-se intacta a redação original do texto da CF/88. Logo, a mutação
constitucional ocorre mediante interpretação da Constituição. Cabe, portanto, ao Poder
Judiciário reconhecer o significado da norma constitucional, conferindo-lhe o sentido e
significado adequados. A mutação constitucional é realizada pelo chamado poder
constituinte difuso (povo/nação), que provoca o poder judiciário para que seja
reconhecida a mutação constitucional.

Exemplos de mutação constitucional reconhecidos pelo STF:

(i) art. 5, “caput”, CF/88 → VIP Já caiu em prova objetiva do CACD. A literalidade
do texto constitucional prevê que os direitos e garantias individuais são
assegurados aos brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Por mutação
constitucional, com fundamento no princípio da universalidade dos direitos
fundamentais, o STF reconheceu que os direitos e garantias individuais são
assegurados a qualquer indivíduo, independentemente da nacionalidade
(brasileiro ou estrangeiro) e do país de residência (se a residência é no Brasil ou
no exterior). Desse modo, conclui-se que estrangeiro não residente no Brasil
também é titular de direitos e garantias fundamentais.

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

CF/88

(ii) art. 5, XI, CF/88 → a literalidade do art. 5, XI, CF/88 prevê que a “casa” é asilo
inviolável do indivíduo. Ocorre, entretanto, que, ao interpretar esse artigo, o
STF reconheceu a mutação constitucional desse dispositivo. Ou seja, não se
pode mais interpretar esse artigo na sua literalidade. Para o STF, o art. 5, XI,
CF/88, não protege a construção “casa” em que o indivíduo habita. Essa norma
constitucional protege, em verdade, a intimidade do indivíduo. Desse modo,
qualquer local fechado (que tenha barreira física para ingresso) em que o
indivíduo possa ter intimidade estará igualmente alcançado pelo art. 5, XI,
CF/88.

Exemplos: quarto de hotel, escritório de advocacia, consultório médico,


gabinete do Presidente da República, trailer etc.

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
CF/88
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

A realização do controle de constitucionalidade exige a observância de dois pressupostos


lógicos no ordenamento jurídico:

1- PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO


De acordo com o princípio da supremacia da Constituição, a validade e a existência das
leis e dos demais atos normativos do ordenamento jurídico dependem da
compatibilidade em relação à Constituição. Desse modo, conclui-se que eventual lei ou
ato normativo inconstitucional será considerado NULO, porque não terá validade nem
existência jurídicas.

IMPORTANTE A jurisprudência do STF firmou o entendimento de que não é possível


realizar a declaração de inconstitucionalidade de normas constitucionais originárias.
Ou seja, as normas criadas pela Assembleia Nacional Constituinte em 1988. O principal
argumento adotado pelo STF é que o poder constituinte originário é juridicamente
limitado e, portanto, pode criar normas jurídicas sem nenhum critério de limitação pré-
estabelecido.

PEGADINHA As normas constitucionais derivadas (emendas constitucionais,


Constituições Estaduais e emendas de revisão) sofrem controle de constitucionalidade.
Como exemplo, pode-se citar que será considerada inconstitucional eventual emenda à
CF/88 cujo conteúdo seja tendente a abolir cláusula pétrea.

2- PRINCÍPIO DA RIGIDEZ CONSTITUCIONAL


Entende-se por Constituição rígida aquela que exige um procedimento solene e
dificultoso para ser alterada. No Brasil, tal procedimento é a emenda constitucional
(REGRA 2235). Dessa forma, eventual lei que tenha conteúdo contrário ao conteúdo
previsto na Constituição não irá alterar o texto constitucional. Ao contrário, será
considerada nula ou inconstitucional (não terá validade jurídica nem existência jurídica).

PEGADINHA Isso sempre cai em prova. Na Constituição flexível, não é possível realizar
o controle de constitucionalidade de leis, uma vez que lei recente altera o texto da
Constituição. Basta lembrar que a rigidez constitucional é pressuposto para a realização
do controle de constitucionalidade de leis, o que significa que somente haverá controle
de constitucionalidade de leis, se no ordenamento jurídico existir Constituição rígida ou
semirrígida.
AULA 10 10/04/20

Aula 10 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

REVISÃO do fim última aula

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DOIS PRESSUPOSTOS PARA A REALIZAÇÃO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

1. Princípio da supremacia da Constituição: eventual lei ou ato normativo inconstitucional


será considerado nulo, pois não terá validade nem existência jurídica.

Obs.: normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais.

2. Princípio da rigidez da Constituição: a Constituição rígida exige um procedimento


solene e dificultoso para ser alterada. No Brasil, esse procedimento é a emenda
constitucional. Lei que contraria a Constituição será considerada nula.

Pegadinha: a Constituição flexível — aquela que é alterada por lei — não admite a
realização do controle de constitucionalidade.

HOJE

EFEITOS TEMPORAIS DE SENTENÇA DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

As sentenças do controle de constitucionalidade são sentenças que têm natureza declaratória,


isto é,
não criam ou constituem a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo. Essas sentenças
apenas declaram, atestam, certificam a inconstitucionalidade que já se encontra impregnada
em lei ou ato normativo controlado.
A natureza declaratória da sentença do controle de inconstitucionalidade permite compreender
os efeitos temporais produzidos por essas sentenças:
REGRA GERAL

As sentenças do controle de constitucionalidade produzem efeitos “EX TUNC” ou


RETROATIVOS. Na prática, a sentença que declara uma lei inconstitucional e produz efeitos “ex
tunc” (retroativos) apagará todos os efeitos concretos produzidos durante o período em que
essa lei inconstitucional foi aplicada.

Exemplo
Um contribuinte pagou determinado imposto criado por uma lei durante três anos. Esse
contribuinte ajuizou uma ação e obteve declaração de inconstitucionalidade dessa lei, tendo a
sentença produzido efeitos “ex tunc” ou retroativos. Na prática, o contribuinte passa a ter
direito de receber de volta o dinheiro que pagou indevidamente a título do referido imposto
(repetição de indébito).

Então, quando se falar em efeitos de inconstitucionalidade e não se mencionar nenhuma,


nenhuma eventual exceção a eles, você tem que lembrar que a regra geral diz que a sentença
produz efeitos “ex tunc” ou retroativos, porque ela atesta que a lei é nula, que ela não é válida,
que é como se ela nunca tivesse existido. É uma questão processual.

EXCEÇÃO

O artigo 27 da Lei n. 9.868/99 (não precisa saber essa lei inteira, basta saber esse artigo) prevê
a chamada modulação temporal de efeitos da sentença do controle de constitucionalidade,
que é uma técnica decisória excepcional do controle de constitucionalidade que pode ser
empregada com a finalidade de resguardar dois valores: segurança jurídica ou excepcional
interesse social.

A modulação temporal de efeitos da sentença do controle de constitucionalidade permite


atribuir dois efeitos excepcionais à decisão que declara uma lei inconstitucional, saber:

a) EFEITOS “EX NUNC” ou NÃO RETROATIVOS

A sentença que declara a lei inconstitucional apenas produz efeitos após seu trânsito
em julgado. Na prática, todos os efeitos concretos da lei declarada inconstitucional até
o momento em que transitou em julgado a sentença declaratória de
inconstitucionalidade serão preservados.

Exemplo
Um contribuinte pagou determinado imposto por três anos e houve a declaração de
inconstitucionalidade de lei que criou o imposto, sendo que a sentença declaratória de
inconstitucionalidade produzirá efeitos “ex nunc” ou não retroativos. Na prática, o
contribuinte não terá direito de receber de volta o valor pago a título do referido
imposto até o momento do trânsito em julgado da referida sentença.
b) EFEITOS “PRÓ-FUTURO” ou PROSPECTIVOS

A sentença que declara a inconstitucionalidade da lei fixa uma data futura para deixar
de aplicar a lei inconstitucional.

Exemplo
Um contribuinte pagou durante dois anos determinado imposto criado por uma lei. Essa
lei foi declarada inconstitucional por sentença que teve seus efeitos modulados para
que produzisse efeitos “pró-futuro”. A sentença referida determinou que a lei
inconstitucional seria aplicada por mais dois anos. Na prática, o contribuinte terá de
pagar por mais dois anos esse imposto criado pela lei declarada inconstitucional. O que
justifica a aplicação dessa lei nula são razões de segurança jurídica ou excepcional
interesse social.

Se a questão falar que uma lei foi declarada inconstitucional e não falar nada de efeitos,
aí é regra geral: efeitos “ex tunc”. Mas nem sempre a sentença de declaração de
inconstitucionalidade vai ter efeitos “ex tunc”. Ela pode ter efeitos “ex nunc” ou ainda
“pró-futuro”, ou seja, ela pode ter seus efeitos modulados, apesar de isso ser exceção.
Então não podemos afirmar que sempre a sentença declaratória de
inconstitucionalidade produzirá efeitos “ex tunc” — esse é o grande erro. Essa é apenas
a regra geral, mas não é sempre.

IMPORTANTE A modulação temporal de efeitos da sentença do controle de constitucionalidade


é uma técnica decisória excepcional e, por isso, é aplicada de modo parcimonioso pelo poder
judiciário. Em questões de prova, a modulação temporal de efeitos deve ser lembrada para
certificar que nem sempre a sentença que declara uma lei inconstitucional produzirá efeitos “ex
tunc” ou retroativos. Poderá, se houver necessidade de resguardar a segurança jurídica ou
excepcional interesse social, produzir efeitos “ex nunc” (não retroativos) ou “pró-futuro”
(prospectivos).

OBSERVAÇÃO O artigo 27 da Lei 9.868/99 prevê que a modulação temporal de efeitos da


sentença do controle de constitucionalidade exige decisão de 2/3 dos ministros do STF (isto é,
8 dos 11 ministros do STF).

CUIDADO A modulação temporal de efeitos da sentença do controle de constitucionalidade não


é uma atribuição exclusiva do STF. O próprio STF, ao interpretar o art. 27 da Lei 9.868/99 firmou
o entendimento de que o juiz singular de primeiro grau pode, ao julgar um caso concreto,
declarar uma lei inconstitucional e modular os efeitos de sua sentença. Neste caso, a modulação
temporal de efeitos ocorre por decisão monocrática do juiz de primeira instância. Nem sempre
ela é produzida pelo STF e ela prevê quórum de 2/3 apenas quando é feita pelo STF.
RECEPÇÃO E NÃO-RECEPÇÃO CONSTITUCIONAL

A recepção e a não-recepção constitucional são institutos jurídicos empregados diante da


ocorrência de uma revolução constitucional, ou seja, a adoção de uma nova Constituição. A
recepção e a não-recepção constitucional permitem manter ou não no ordenamento jurídico o
chamado direito pré-constitucional, isto é, o conjunto de leis e atos normativos que existiam
antes do advento da nova Constituição.
A recepção constitucional mantém no ordenamento jurídico as leis e os atos normativos pré-
constitucionais que sejam compatíveis com o CONTEÚDO ou MATÉRIA da nova Constituição.
Eventuais divergências formais entre o direito pré-constitucional e a nova Constituição são
irrelevantes para a recepção constitucional.

Exemplo
O Código Tributário Nacional (CPN) foi criado em 1966, durante a vigência da Constituição de
1946, sob a forma de lei ordinária, e trazia normas gerais sobre Direito Tributário. Ocorre,
entretanto, que a CF/88 passou a exigir lei complementar para disciplinar as normas gerais de
Direito Tributário. Tendo em vista que o conteúdo ou matéria do CTN era compatível com o
conteúdo ou matéria da CF/88, o CTN foi recepcionado com status de lei complementar.
Averiguada a compatibilidade mencionada, alterou-se, portanto, apenas seu status de lei, que
passou de lei ordinária para lei complementar.

A não-recepção constitucional é verificada na hipótese de o direito pré-constitucional (leis e


atos normativos anteriores à CF/88) apresentar o CONTEÚDO ou MATÉRIA incompatível com a
CF/88. Para efeitos de não-recepção constitucional, eventuais divergências formais entre leis e
atos normativos anteriores à nova Constituição e a Constituição superveniente são irrelevantes.
O que interessa somente é que o conteúdo do direito pré-constitucional seja inadequado em
relação ao conteúdo da CF/88.

PEGADINHA A não-recepção constitucional não é uma espécie de inconstitucionalidade


superveniente. Trata-se de uma mera REVOGAÇÃO TÁCITA do direito pré-constitucional em
virtude de incompatibilidade material com o conteúdo da Constituição superveniente. Por isso,
existem questões de prova que denominam a não-recepção constitucional de revogação, ao
firmarem que, com o advento da CF/88, as leis anteriores que tinham conteúdo incompatível
com a nova Constituição foram REVOGADAS. Para se falar em inconstitucionalidade, o objeto
tem que ser uma lei criada APÓS a nova Constituição, e não antes.

CONCLUSÃO: Para que uma lei ou ato normativo seja declarado inconstitucional, é necessário
que a lei ou ato normativo tenha sido criado após o advento da Constituição adotada como
parâmetro para a realização do controle de constitucionalidade. Na prática, o controle de
constitucionalidade, com base na CF/88, alcança somente leis e atos normativos produzidos
após o dia 05 de outubro de 1988, data de promulgação da CF/88.
TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE

A doutrina do Direito Constitucional adota dois critérios principais para classificar as


inconstitucionalidades, a saber:

1. QUANTO AO VÍCIO

Com base neste critério, existem dois tipos de inconstitucionalidade:

a) Inconstitucionalidade material ou nomoestática


Haverá a configuração de inconstitucionalidade material na hipótese de a lei ou ato
normativo violar ou contrariar matéria ou conteúdo previsto na CF/88.

Exemplos

i) emenda constitucional tendente a abolir cláusulas pétreas, como o


princípio da separação dos poderes (viola o art. 60, §4, CF/88, que prevê
esse princípio como cláusula pétrea da CF/88);

ii) lei que institua a pena de morte no Brasil em tempo de paz (viola o art. 5,
XLVII, CF/88, que admite a pena de morte apenas em tempo de guerra).

b) Inconstitucionalidade formal ou nomodinâmica

É configurada na hipótese de lei ou ato normativo ser criado sem observar as regras
do processo legislativo previstas na CF/88 (ex. legitimados à propositura, etapas de
votação, quórum de aprovação etc.)

Exemplos

i) emenda constitucional votada em turno único, nas duas Casas do Congresso


Nacional, com o quórum de aprovação de 3/5 dos respectivos membros
(viola a regra 2235 prevista no art. 60, §2, CF/88);

ii) lei complementar aprovada por maioria simples ou relativa (viola o art. 69
da CF/88, que exige o quórum de maioria absoluta para aprovação de lei
complementar).
AULA 11 17/04/20

Aula 11 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vic ente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

REVISÃO do fim última aula

Tipos ou espécies de incons titucionalidade


A doutrina adota dois critérios principais para classificar as inconstitucionalidade:

1- Quanto ao vício
a) Inconstitucionalidade material ou nomoestática
b) Inconstitucionalidade formal ou nomodinâmica

HOJE

2- Quanto ao momento de configuração


Com base neste critério, existem dois tipos de inconstitucionalidade:

a) Inconstitucionalidade por ação


É configurada diante da criação de uma lei ou ato normativo pelo legislador que
ofende a Constituição na forma e/ou no conteúdo.

Exemplo
Podem ser empregados os mesmos exemplos já citados para ilustrar a
inconstitucionalidade material e a inconstitucionalidade formal.

b) Inconstitucionalidade por omissão


É configurada diante da inércia do legislador para criar uma lei regulamentadora
exigida pela própria CF/88. A lei regulamentadora é uma lei prevista pela própria
CF/88 que deve ser criada pelo legislador infraconstitucional com a finalidade de
explicar, detalhar ou especificar o conteúdo genérico previsto no texto
constitucional. A lei regulamentadora é uma obrigação. O legislador
infraconstitucional é obrigado a criar a lei regulamentadora, sob pena de violar a
ordem determinada pelo poder constituinte originário.

Exemplo
A inércia do legislador para criar a lei específica prevista no art. 37, VII, CF/88, para
estabelecer os limites (regulamentar) do direito de greve dos servidores públicos
civis.

Observação Diante da configuração da inconstitucionalidade por omissão (ausência


de lei regulamentadora exigida pela própria CF/88) cabe ajuizar duas ações
judiciais, a saber:

(i) Mandado de injunção (art. 5º, LXXI, CF/881)


Cabe ajuizar mandado de injunção em casos concretos (controle difuso).
“Mandado” é uma ordem judicial; “injunção” é juntar o que falta; jungir.
Logo, mandado de injunção é uma ordem judicial para juntar o que falta na
CF/88.

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e
à cidadania;
art. 5º, CF/88 decorar

Voltaremos a falar disso dentro do tema de remédios constitucionais, no


próximo módulo. E vamos voltar a falar de ADO (abaixo) quando falarmos
de controle abstrato. Por ora, o mais importante é decorarmos os dois
artigos que aqui se encontram. Por ora, também, devemos juntar dois
raciocínios: falou-se de omissão inconstitucional, então cabem duas ações:
mandado de injunção e ado — isso já é o suficiente para o CACD, não
precisamos nos aprofundar no tema.

(ii) Ação direta de inconstitucionalidade por omissão – ADO (art. 103, §2,
CF/88)
Cabe ajuizar ADO no âmbito do chamado controle abstrato (controle
concentrado realizado pelo STF — isso vai ser explicado melhor em outro
momento; aqui, para fins de CACD, não cabe entrar em discussão de teorias,
discussões essas que se encontram em muitos livros de Direito
Constitucional).

§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada
ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em trinta dias.
art. 103, CF/88 decorar

Subespécies de inconstitucionalidade formal

Diante da alta incidência em provas de concurso de questões que abordam a


inconstitucionalidade formal ou nomodinâmica, a doutrina classifica esse tipo de
inconstitucionalidade quanto ao vício em três subespécies.

1 Vale lembrar que artigo no caderno é artigo decorado!


Duas razões justificam a alta incidência de questões sobre inconstitucionalidade formal:

(i) as questões sobre inconstitucionalidade formal raramente dão margem a


interpretações divergentes, o que aumenta a segurança de provas objetivas;

(ii) as questões sobre inconstitucionalidade formal acabam abordando outro tema do


edital, qual seja, o processo legislativo.

As três subespécies de inconstitucionalidade formal são:

a) Inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa

É a subespécie que mais cai em concurso, é a mais importante. O art. 61, §1 da CF/88
(VIP esse artigo é muito importante, TEM que ser decorado!) prevê um rol taxativo de
temas de projeto de lei que apenas poderão ser propostos pelo Presidente da República.
Dentre os temas que constam no artigo, destacam-se os seguintes:

− projetos de lei que criam cargos e empregos públicos na Administração Pública


Direita e em autarquias;
− projetos de lei que versem sobre remuneração, regime jurídico (ex. licença,
férias) e aposentadoria de servidores públicos;
− projetos de lei que criam ou realizam a extinção de Ministérios ou órgãos
públicos.

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados,
do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores,
ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.

§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;

II - disponham sobre:

a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;

b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos
Territórios;

c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do
Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;

e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e
transferência para a reserva. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

CF/88

Caso um parlamentar (deputado federal ou senador) apresente projeto de lei sobre


tema de iniciativa privativa, exclusiva ou reservada do Presidente da República, haverá
a configuração de vício formal de iniciativa (art. 61, §1, CF/88). Eventual sanção
presidencial (concordância ou aquiescência) em relação ao projeto de lei NÃO
CONVALIDA o vício formal de iniciativa existente.

Desse modo, se o Presidente da República gostou do projeto de lei em questão e


concordou com seu teor, ele deverá reapresentá-lo, para que seja novamente
deliberado e votado no Congresso Nacional, a fim de que não se configure o vício de
inconstitucionalidade formal de iniciativa.

Pegadinha Ao interpretar o art. 61, §1, II, “b”, CF/88, o STF adotou a literalidade do
texto constitucional e firmou o entendimento de que apenas projetos de lei de direito
tributário DOS TERRITÓRIOS são de iniciativa privativa ou reservada do Presidente da
República. Logo, as leis tributárias, em geral, não são de iniciativa legislativa privativa do
Presidente da República (trata-se de iniciativa legislativa concorrente, ou seja, os
projetos de lei de direito tributário podem ser propostos por qualquer um dos
legitimados previstos no art. 61, “caput”, da CF/88.

b) Inconstitucionalidade formal objetiva

É configurada na hipótese de não observância das regras previstas na CF/88 sobre as


etapas de votação, o quórum de aprovação, o prazo para a propositura das leis e demais
espécies normativas. Em outras palavras, a inconstitucionalidade formal objetiva se
refere às regras do processo legislativo relacionadas ao quórum de aprovação, etapas
de votação, prazo para propositura.

Exemplos
(i) eventual emenda constitucional aprovada em turno único de votação nas duas
casas do Congresso Nacional, com quórum de 3/5 dos respectivos membros
(viola a regra 2235 prevista no art. 60, §2, CF/88);

Pegadinha Não haverá inconstitucionalidade formal objetiva na hipótese de


eventual emenda constitucional ser disputada em dois turnos, nas duas casas
do Congresso Nacional, com quórum de aprovação de 3/4 dos respectivos
membros. Isso porque 3/5 dos membros (60%) é o quórum mínimo de
aprovação 3/4 dos membros equivale a 75%, isto é, mais do que o quórum
mínimo de aprovação exigido.

(ii) lei complementar aprovada com quórum de maioria simples ou relativa (mais
da metade dos presentes na votação) – viola o art. 69 da CF/88 que exige
quórum de maioria absoluta para aprovação de lei complementar (mais da
metade dos membros da casa legislativa).

c) Inconstitucionalidade formal orgânica

É configurada na hipótese de o órgão legislativo que criou a lei ou ato normativo não
possuir competência para legislar sobre o tema.

Exemplo
Haverá inconstitucionalidade orgânica na hipótese de um Município criar leis sobre o
tema nacionalidade (nacionalidade é um tema de competência legislativa privativa da
União, nos termos previstos no art. 22, XIII, CF/88).
Conclusão: haverá inconstitucionalidade formal orgânica na hipótese de inobservância
das regras da CF/88 sobre competência legislativa dos entes federados.

Terminamos a teoria geral de controle de constitucionalidade. Vamos falar agora sobre os


sistemas de controle de constitucionalidade. Vamos analisar como esse controle acontece na
prática.

Sistema de controle preventivo de constitucionalidade

O controle preventivo de constitucionalidade é definido a partir do seu objeto, isto é, daquilo


que é controlado. O objeto é o projeto de lei ou a proposta de emenda constitucional. Conclui-
se, assim, que o controle preventivo de constitucionalidade ocorre durante as etapas do
processo legislativo que antecedem a promulgação da lei e da emenda constitucional.

A finalidade do controle preventivo de constitucionalidade é permitir a identificação de


inconstitucionalidades durante o processo legislativo e, desse modo, abortar a criação da lei ou
da emenda constitucional.

O controle preventivo de constitucionalidade é realizado pelos três Poderes do Estado:

1. Poder Executivo
O Poder Executivo atua no controle preventivo de constitucionalidade por meio do veto
do Presidente da República no projeto de lei. A partir da interpretação do art. 66, §1,
CF/88, é possível extrair duas conclusões sobre o veto presidencial:

Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que,
aquiescendo, o sancionará.

§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse


público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de
quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
CF/88

(i) O art. 66, §1, CF/88, prevê que o projeto de lei pode ser vetado com base em
dois fundamentos: inconstitucionalidade (veto jurídico) ou falta de interesse
público (veto político). Apenas o veto jurídico configura controle preventivo de
constitucionalidade.

(ii) O art. 66, §1, CF/88, é expressivo ao prever que o veto presidencial alcança
apenas projetos de lei. Isso significa que a proposta de emenda constitucional
não sofre sanção e veto do Presidente da República. Logo, essa proposta se
submete ao controle preventivo de constitucionalidade realizado apenas pelos
Poderes Legislativo e Judiciário.

2. Poder Legislativo
O Poder Legislativo atua com destaque no controle preventivo de constitucionalidade
por meio de dois instrumentos:

(a) Atuação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)


A Comissão de Constituição de Justiça é um órgão técnico do Poder Legislativo que
emite pareceres sobre a constitucionalidade de projetos de lei e de propostas de
emendas constitucionais. Se a referida Comissão emitir um parecer acerca da
inconstitucionalidade do ato normativo em formação e esse parecer for acatado,
haverá o arquivamento do projeto de lei ou da proposta de emenda constitucional.
Esse parecer não é obrigatório; por isso, se chama parecer, e não sentença.

(b) Votação em Plenário


Na votação do projeto de lei ou da proposta de emenda constitucional, se o Plenário
da Casa Legislativa identificar alguma inconstitucionalidade, irá rejeitar o ato
normativo em formação.

3. Poder Judiciário
O Poder Judiciário realiza o controle preventivo jurisdicional por meio do ajuizamento
de uma única ação judicial, que lhe pode ser apresentada por um único legitimado.
Trata-se da impetração de MANDADO DE SEGURANÇA por PARLAMENTAR que
participa do processo legislativo (parlamentar da Casa Legislativa em que se encontra o
projeto de lei ou a proposta de emenda constitucional). Ou seja, se o projeto de lei ou a
proposta de emenda constitucional se encontrar na Câmara dos Deputados, será um
deputado federal que poderá ajuizar a ação; se se encontrar no Senado, será um
senador. O pedido formulado pelo parlamentar é uma ordem judicial que determina o
arquivamento do processo legislativo em virtude de inconstitucionalidade.
AULA 12 24/04/20

Aula 12 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constituc ionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1 988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

Sistema de controle preventivo de constitucionalidade

O poder judiciário atua no controle preventivo de constitucionalidade por meio de mandado de


segurança impetrado por parlamentar que participa do processo legislativo.

A finalidade do referido mandado de segurança é determinar o arquivamento do ato normativo


em formação que viola a Constituição.

IMPORTANTE A jurisprudência do STF entende que a amplitude do mandado de segurança no


controle preventivo de constitucionalidade varia conforme o objeto controlado: (se é projeto
de lei ou proposta de emenda constitucional).

a) PROJETO DE LEI

Para o STF, o mandado de segurança do controle preventivo jurisdicional de


constitucionalidade apenas poderá questionar VÍCIOS FORMAIS DE
INCONSTITUCIONALIDADE. O referido mandado de segurança não poderá questionar
vícios materiais do projeto de lei, isto é, o conteúdo do projeto de lei.

Quanto ao projeto de lei então, só se pode questionar a sua forma, e não seu conteúdo.
Isso ocorre porque seu conteúdo pode ser corrigido mediante deliberação na devida casa
do Parlamento ou por meio do poder de veto do Presidente da República.

b) PROSPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL

Para o STF, o mandado de segurança do controle preventivo jurisdicional de


constitucionalidade poderá questionar VÍCIOS FORMAIS E VÍCIOS MATERIAIS DE
INCONSTITUCIONALIDADE.

A fundamentação adotada pelo STF para permitir o controle de constitucionalidade


tanto de vício formal quanto de vício material da proposta de emenda constitucional foi
o art. 60, §4, CF/88, cuja literalidade prevê que não será objeto de deliberação proposta
de emenda constitucional tendente a abolir cláusulas pétreas da Constituição.
Na prática, o texto constitucional proíbe até mesmo a deliberação de proposta de
emenda constitucional com vício material de inconstitucionalidade (violação de cláusula
pétrea). Ou seja, determina que a proposta de emenda constitucional materialmente
inconstitucional deverá ser obrigatoriamente arquivada.

Segundo o STF, se houver proposta de emenda constitucional tendente a abolir cláusula


pétrea, ela não pode sequer ser deliberada, sequer ser discutida. Ela tem que ser
arquivada. Uma emenda constitucional pode tudo em seu conteúdo, menos abolir
cláusula pétrea.

Controle repressivo de constitucionalidade

O controle repressivo de constitucionalidade tem como objeto a lei ou ato normativo já


promulgado. Logo, essa modalidade de controle de constitucionalidade ocorre após o término
do processo legislativo, isto é, quando já ocorreu a promulgação.

ATENÇÃO O controle repressivo de constitucionalidade alcança as leis e atos normativos


previstos no rol do art. 59 da CF/88 (ex. medida provisória, emenda constitucional, lei delegada,
decreto legislativo etc.). Também alcança tratados internacionais de qualquer natureza
incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro. Todavia, o controle repressivo de
constitucionalidade não alcança as normas constitucionais originárias, isto é, as normas criadas
pela Assembleia Nacional Constituinte de 1988.

O controle repressivo de constitucionalidade é realizado pelos três Poderes do Estado:

1. Poder Executivo

O controle repressivo de constitucionalidade é realizado pelo Poder Executivo por meio


da chamada autotutela. A chamada autotutela ocorre mediante uma ordem expedida
pelo Chefe do Poder Executivo com o fito de vincular os órgãos subalternos da
Administração para que deixem de cumprir uma lei ou ato normativo flagrantemente
inconstitucional.

Caso o Chefe do Poder Executivo cometa algum equívoco no exercício da autotutela,


determinando que os órgãos da Administração da Pública deixem de aplicar uma lei que
ele considera inconstitucional, mas que, na verdade, não ofende a Constituição, poderá
incorrer em crime de responsabilidade e, em última análise, sofrer o processo de
“impeachment”.

2. Poder Legislativo

O Poder Legislativo atua no controle repressivo de constitucionalidade por meio da


aplicação da súmula n. 347 Do STF, cujo teor prevê que os Tribunais de Contas (órgãos
do Poder Legislativo) podem, no exercício de suas atribuições, apreciar a
constitucionalidade de leis e atos normativos.

Súmula 347
O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.

Súmulas STF (http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2149 )


Em termos práticos, os Tribunais de Contas realizam o controle repressivo de
constitucionalidade a partir da apreciação de despesas públicas (ex. contratação de
servidores, concessão de aumentos a servidores públicos, contratação de empresas que
prestam serviços ao Poder Público etc.). Ao apreciarem lei ou ato normativo usados para
justificar uma despesa pública, os Tribunais de Contas podem entender que a despesa
feita pela Administração Pública é imprópria, porque se baseou em lei ou ato normativo
inconstitucional.

CUIDADO Os Tribunais de Contas não são órgãos do Poder Judiciário. Por isso, não têm
competência para julgar ações judiciais típicas do controle de constitucionalidade, a
exemplo da Ação Direta de Inconstitucionalidade (AD) e da Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADC).

3. Poder Judiciário

O Poder Judiciário atua com destaque no controle repressivo de constitucionalidade.


Tamanha é sua importância nisso que existem dois sistemas de controle repressivo
jurisdicional, isto é, há duas formas de atuação do Poder Judiciário no controle
repressivo de constitucionalidade, quais sejam:

VIP obs.: na prova do CACD é muito importante não confundir um com o outro.

a) Sistema de controle concreto ou difuso de constitucionalidade

Há seis termos empregados pela doutrina para se referir ao controle de


constitucionalidade repressivo realizado pelo Poder Judiciário na modalidade
concreta ou difusa. Para entender o funcionamento desse controle de
constitucionalidade, é importante aprender o significado de cada um desses termos.
Quando você aprende isso, você ganha segurança e independência na matéria, aí a
banca não te engana mais.

1. Controle norte-americano ou estadunidense – o controle concreto ou difuso de


constitucionalidade surgiu nos EUA, em 1803, com o julgamento do caso
Madison vs. Marbury, realizado pela Suprema Corte norte-americana.

A Constituição dos EUA de 1787 não previa expressamente o controle concreto


ou difuso de constitucionalidade. Essa modalidade de controle de
constitucionalidade foi uma criação da Suprema Corte dos EUA, em 1803, e
partiu, em grande medida, da interpretação da Constituição norte-americana
feita pelo juiz John Marshall.
2. Controle concreto ou subjetivo – o controle difuso ou norte-americano de
constitucionalidade também recebe o nome de controle concreto porque, para
que se possa realizá-lo, exige-se que as partes de um caso concreto (autor e
réu) provoquem o Poder Judiciário, levando um litígio concreto para ser
julgado. O Judiciário então só atua se for provocado pelas partes de um caso
concreto.

A sentença do controle concreto ou difuso de constitucionalidade determinará


a não-aplicação da lei declarada inconstitucional apenas naquele caso
concreto levado pelas partes envolvidas à apreciação do Poder Judiciário. Ergo,
conclui-se que a sentença que declara a inconstitucionalidade na via concreta
ou difusa não retira a lei inconstitucional do ordenamento jurídico.

Por essa razão, o controle concreto de constitucionalidade também é chamado


de CONTROLE SUBJETIVO, haja vista que a sentença declaratória de
inconstitucionalidade da lei apenas impede que a lei inconstitucional seja
aplicada em relação aos sujeitos processuais do caso concreto levado ao Poder
Judiciário (autor e réu). Somente aqueles que entraram com a ação, somente
aqueles que provocaram o Poder Judiciário vão ser beneficiados pela sentença.

Então esse controle é chamado de concreto, porque alcança apenas os casos


concretos levados ao Poder Judiciário, e de subjetivo, porque diz respeito apenas
aos sujeitos processuais desses casos concretos.

3. Controle difuso – tendo em vista que todos os órgãos do Poder Judiciário, em


qualquer grau de jurisdição, têm competência para julgar casos concretos,
entende-se que o controle concreto de constitucionalidade também é chamado
de controle difuso porque a competência para sua realização se encontra
difundida ou difusa por todos os órgãos do Poder Judiciário.

Desse modo, o termo CONTROLE DIFUSO de constitucionalidade significa que


todos os órgãos do Poder Judiciário, em diferentes graus de jurisdição (1ª
instância, 2ª instância ou instâncias superiores), têm competência para declarar
a inconstitucionalidade de leis e atos normativos ao julgarem casos concretos
que lhes são submetidos. Trata-se, portanto, de uma modalidade de controle
repressivo que não se concentra apenas no STF.

É concreto, porque tem que ter caso concreto; é difuso, porque a competência
é difundida.

4. Controle com efeitos “inter partes” – a sentença do controle concreto ou difuso


de constitucionalidade alcança apenas as partes do caso concreto levado à
apreciação do Poder Judiciário (autor e réu). Verifica-se, portanto, que essa
sentença, ao declarar uma lei inconstitucional, não implica a retirada dessa lei
do ordenamento jurídico. A lei declarada inconstitucional na via concreta ou
difusa somente não terá incidência no caso concreto levado pelas partes
determinadas ao julgamento do Poder Judiciário.

5. Controle incidental, indireto ou prejudicial – no controle concreto ou difuso de


constitucionalidade, a questão principal levada à apreciação do Poder Judiciário
não é a matéria constitucional. A questão principal que faz as partes procurarem
o Poder Judiciário é a necessidade de resolver um litígio concreto que as envolve
(uma disputa de interesses jurídicos).
A matéria constitucional aparece como questão incidental, indireta, prejudicial
— ou seja, questão secundária — apreciada pelo Poder Judiciário. Em verdade,
a matéria constitucional é o fundamento do pedido formulado pelas partes ao
juiz do caso concreto (causa de pedir).

Exemplo
Um contribuinte não quer pagar determinado imposto porque entende que a
lei que instituiu o imposto é inconstitucional. Ao ajuizar uma ação contra o Fisco,
a questão principal (ou seja, o pedido formulado) levada ao Poder Judiciário é
obter uma ordem judicial para não mais pagar o imposto e, eventualmente,
receber de volta o valor pago indevidamente. A inconstitucionalidade da lei que
criou o imposto aparece como fundamento do pedido formulado (isto é, a causa
de pedir). É, portanto, uma questão incidental, indireta ou prejudicial apreciada
pelo Poder Judiciário.

6. Controle por via de defesa ou via de exceção – no controle concreto ou difuso


de constitucionalidade, não há ações judiciais típicas para provocar o Poder
Judiciário (ex. ADI, ADC, ADPF, ADO e IF). As partes do caso concreto poderão
ajuizar qualquer ação judicial (ex. reclamação trabalhista, “habeas corpus”,
ação de investigação de paternidade, ação de divórcio etc.) ou interpor
qualquer recurso perante os diferentes órgãos do Poder Judiciário, desde que
seja o instrumento processual adequado para defender o direito das partes
envolvidas no litígio do caso concreto.

Em outras palavras, o controle concreto ou difuso de constitucionalidade é


chamado de controle por via de defesa ou via de exceção, porque, antes de
ajuizar a ação, ou de interpor o recurso, as partes do caso concreto deverão
definir qual é o direito que será defendido no litígio. Somente após essa
definição, é que caberá escolher o instrumento processual adequado para
provocar o Poder Judiciário.

b) Sistema de controle abstrato ou concentrado de constitucionalidade


AULA 13 01/05/20

Aula 13 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1 988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

Recomendação: revisões periódicas. Controle de constitucionalidade é um sistema. Para facilitar


o aprendizado, deve ser aprendido como tal. Por ser um sistema longo, o melhor jeito de
aprendê-lo é por meio de revisões periódicas. Você aprende mesmo quando você não aguenta
mais ver a matéria.

REVISÃO (última aula)

a) Sistema de controle concreto ou difuso de constitucionalidade

Existem seis termos empregados pela doutrina para se referir ao controle de


constitucionalidade repressivo jurisdicional concreto ou difuso:

i) controle norte-americano ou estadunidense;


ii) controle concreto ou subjetivo;
iii) controle difuso;
iv) controle com efeitos “inter partes”;
v) controle incidental, indireto ou prejudicial;
vi) controle por via de defesa ou via de exceção

O que vamos aprender agora, apesar de ter pouca chance de cair na prova do CACD,
faz parte da proposta pedagógica elaborada pelo professor para ensinar controle de
constitucionalidade e nos ajudará, segundo ele, a consolidar o que estamos
aprendendo.

AULA 13

Teoria da Abstrativização do Controle Difuso de Constitucionalidade

A chamada teoria da abstrativização do controle difuso de constitucionalidade é


usada pela doutrina constitucionalista para registrar uma tendência observada no
Direito Constitucional brasileiro de ampliar os efeitos subjetivos da sentença que
declara a inconstitucionalidade na via concreta ou difusa.

▪ Regra geral – Sentença do controle concreto ou difuso de


constitucionalidade produz efeitos “inter partes”, ou seja, alcança o autor
e o réu do caso concreto.

▪ Exceção – A chamada abstrativização do controle difuso permite identificar


hipóteses específicas em que as sentenças do controle concreto ou difuso
de constitucionalidade produzirão efeitos gerais, isto é, efeitos válidos
contra todos (erga omnes) e que vinculam os demais órgãos do Poder
Judiciário e a Administração Pública direta e indireta nas esferas federal,
estadual e municipal.

No ordenamento jurídico brasileiro, é possível identificar duas hipóteses em que o


controle concreto ou difuso de constitucionalidade produzirá efeitos subjetivos
ampliados, isto é, as sentenças do Poder Judiciário não irão alcançar apenas as
partes do caso concreto (autor e réu), a saber:

1) Abstrativização do controle difuso de constitucionalidade realizado pelo STF;


2) Criação de súmulas vinculantes pelo STF.

Conclui-se, portanto, que as hipóteses de atuação do STF no âmbito do controle


concreto ou difuso de constitucionalidade produzem decisões ou sentenças cujos
efeitos extrapolam as partes do caso concreto julgado. Em outras palavras, pode-
se afirmar que, com exceção do STF, os demais órgãos do Poder Judiciário
continuam produzindo sentenças declaratórias de inconstitucionalidade com
efeitos “inter partes”.

▪ Abstrativização das sentenças do controle difuso de constitucionalidade


realizado pelo STF

A jurisprudência do STF tem adotado o posicionamento, desde 2017, de que


as sentenças proferidas pelo próprio STF no exercício do controle concreto
ou difuso de constitucionalidade não produzem efeitos “inter partes”. As
sentenças do STF que envolvem a declaração de inconstitucionalidade a
partir do julgamento de um caso concreto produzem efeitos “erga omnes”,
ou seja, efeitos gerais que alcançam todos, inclusive, aqueles que não
figuram como partes do caso concreto julgado pelo STF.

Para justificar a abstrativização (não dar efeito “inter partes” no caso


concreto) do controle difuso de constitucionalidade, o STF adotou dois
fundamentos jurídicos principais:
(i) para o STF, os casos concretos que são julgados pelo órgão máximo
do Poder Judiciário brasileiro — o próprio STF — possuem
repercussão geral, isto é, direta ou indiretamente alcançam
interesses jurídicos que extrapolam os interesses jurídicos das
partes do caso concreto (autor e réu). Justamente por isso, as
sentenças do STF proferidas no exercício do controle concreto ou
difuso produzem efeitos gerais ou efeitos erga omnes;

(ii) o STF reconheceu a mutação constitucional do art. 52, X, CF/88


(mutação constitucional: muda-se o sentido de interpretação da
norma sem que se mexa no texto dela). A literalidade desse artigo
prevê que, ao julgar um caso concreto e declarar a
inconstitucionalidade de uma lei, o STF poderia provocar o Senado
Federal para que esta Casa Legislativa expedisse uma resolução
sustando a execução da lei declarada inconstitucional pelo STF.

Ocorre que, no passado, a prática da interação entre o STF e o


Senado Federal para efeitos de aplicação do art. 52,X, CF/88 revelou
que o Senado Federal raramente atendia a solicitação do STF para
sustar a execução da lei declarada inconstitucional pelo próprio STF
(o Senado Federal atua de modo discricionário nesta matéria, ou
seja, apenas quando entende que existe conveniência e
oportunidade para sustar a execução da lei declarada
inconstitucional pelo STF).

Em virtude da mutação constitucional reconhecida pelo STF, a nova


interpretação que se faz do art. 52, X, CF/88 determina que a
própria sentença do STF que declara uma lei ou um ato normativo
inconstitucional no controle concreto ou difuso de
constitucionalidade, por si só, é suficiente para sustar a execução
da lei nula ou inconstitucional no ordenamento jurídico brasileiro.
O novo entendimento do STF, portanto, atesta que a resolução do
Senado Federal poderá ou não ser criada por esta Casa Legislativa
com o propósito único de conferir publicidade à sentença do STF
que já sustou ou suspendeu a execução da lei inconstitucional no
ordenamento jurídico brasileiro.

▪ Súmulas vinculantes – art. 103-A, CF/88

As súmulas vinculantes foram criadas no Direito Constitucional brasileiro


por meio da EC 45/2004 (a famosa Reforma do Poder Judiciário). Apenas o
STF pode criar súmulas vinculantes após julgar reiterados casos concretos
que envolvem matéria constitucional. Esse dado de que a criação de
súmulas vinculantes pelo STF exige reiterados casos concretos julgados pelo
STF envolvendo matéria constitucional atrela as súmulas vinculantes ao
exercício do controle de constitucionalidade concreto ou difuso pelo
Supremo Tribunal Federal.

Observação Qualquer Tribunal brasileiro tem competência para criar


súmulas. Estas podem versar sobre qualquer tema jurídico relevante e que
apresente a jurisprudência sedimentada do Tribunal que as criou. As
súmulas não são de observância obrigatória, pois apenas informam a
orientação jurisprudencial de um determinado Tribunal. Não podemos
então confundir súmulas com súmulas vinculantes. As súmulas de um
determinado Tribunal podem, inclusive, ser descumpridas pelos juízes que
integram o Tribunal que as criou. Descumprir súmula, porém, é feio.

No tocante às súmulas vinculantes, o art. 103-A da CF/88 prevê as seguintes


regras importantes sobre sua criação e abrangência: VIP

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de
dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que,
a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004) (Vide Lei nº 11.417, de 2006).

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão
idêntica. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de
súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente
a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem
a aplicação da súmula, conforme o caso. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

a) apenas o STF possui competência para criar súmulas vinculantes após


reiteradas decisões sobre matéria constitucional;

b) a criação, revisão e o cancelamento de súmulas vinculantes podem ser


realizados pelo STF, de ofício (espontaneamente) ou mediante
provocação;

c) a criação, revisão ou cancelamento de súmulas vinculantes exigem


decisão de 2/3 dos Ministros do STF (isto é, 8 dos 11 Ministros do STF);

d) VIP o conteúdo das súmulas vinculantes é obrigatório para


determinados segmentos do Estado, a saber:
(i) para os DEMAIS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO (exclui-se o
STF, que pode rever ou cancelar as súmulas vinculantes que
criou);

(ii) para a ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA, NAS ESFERAS


FEDERAL, ESTADUL E MUNICIPAL (exclui-se o legislador, que
pode criar leis e atos normativos contrários às súmulas
vinculantes do STF).

OBSERVAÇÃO Eventual lei ou ato normativo que contrariar


súmula vinculante será submetido ao controle de
constitucionalidade, do qual pode resultar a declaração de
constitucionalidade da nova lei (hipótese em que a súmula
vinculante será revista ou cancelada pelo STF) ou a declaração
de inconstitucionalidade da nova lei (hipótese em que a súmula
vinculante será mantida com sua redação integral).

e) o artigo 103-A, §3, CF/88 prevê que caberá ajuizar RECLAMAÇÃO


diretamente no STF para questionar ato administrativo ou decisão
judicial incompatível com o teor de súmulas vinculantes. Caso a
reclamação seja julgada procedente, o STF irá anular o ato
administrativo e cassar a decisão judicial, determinando que a
autoridade refaça o ato, desta vez, observando a súmula vinculante.

Cláusula de reserva de plenário – art. 97, CF/88 e súmula vinculante n 10 do


STF

A chamada cláusula de reserva de plenário diz respeito a uma regra decisória


sobre o modo de proceder à declaração de inconstitucionalidade de leis e atos
normativos que deve ser observada pelos Tribunais brasileiros (Tribunais de
segunda instância e Tribunais superiores).

Em termos práticos, a cláusula de reserva de plenário apenas deverá ser aplicada


se a declaração de inconstitucionalidade de lei for realizada por um Tribunal
(órgão colegiado). Não há emprego dessa cláusula nas declarações de
inconstitucionalidade realizadas por juízes singulares de primeira instância.

Nos termos do art. 97 da CF/88, NOS TRIBUNAIS (órgãos colegiados), a


declaração de inconstitucionalidade exige decisão por maioria absoluta do
órgão de cúpula do Tribunal, ou seja, decisão de maioria absoluta do Plenário
ou do Órgão Especial do Tribunal.

Colocada de outra forma, a denominada cláusula de reserva de plenário significa


que, nos Tribunais, a declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo representa matéria de alta relevância e, por isso, constitui uma
competência reservada à decisão de maioria absoluta do órgão de cúpula do
Tribunal: plenário ou órgão especial.

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial
poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. (Vide Lei nº
13.105, de 2015) (Vigência)
CF/88

IMPORTANTE A súmula vinculante n. 10 do STF prevê que haverá violação à


cláusula de reserva de plenário (art. 97, CF/88) na decisão de um órgão
fracionário de um Tribunal (turma ou câmara) que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, afasta sua
incidência no todo ou em parte.

Súmula Vinculante 10
Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte.
AULA 14 08/05/20

Aula 14 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo corresp ondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

Sistema de controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade

Para entender o funcionamento do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade é


preciso definir o significado dos seis termos empregados pela doutrina para se referir a essa
modalidade de controle repressivo jurisdicional.

1. Controle europeu, austríaco ou kelseniano – o controle concentrado ou abstrato de


constitucionalidade foi idealizado por Hans Kelsen e adotado pela primeira vez com
Constituição da Áustria de 1920.

O controle concentrado ou abstrato acabou rapidamente sendo adotado pela maior


parte dos Estados europeus, no contexto histórico do fim da Primeira Guerra Mundial,
porque se mostrou uma modalidade de controle repressivo jurisdicional adequada às
vertentes do Estado social-democrático que era adotado no continente europeu para
vencer os desafios econômicos e políticos desse período da história.

O valor jurídico principal promovido pelo Estado social-democrático era promover a


igualdade entre os indivíduos. E essa característica foi determinante para Hans Kelsen
elaborar o sistema concentrado ou abstrato de constitucionalidade, pois, nesta
modalidade de controle repressivo jurisdicional, se a lei for declarada inconstitucional,
ninguém irá cumpri-la, já que a sentença produzida impede que qualquer pessoa
aplique a lei inconstitucional. Em outras palavras, o controle concentrado ou abstrato
promove a igualdade no tratamento das pessoas no que diz respeito à declaração de
inconstitucionalidade.

2. Controle abstrato, em tese ou objetivo – o controle concentrado ou europeu também


recebe o nome de controle abstrato de constitucionalidade, porque, nesta modalidade
de controle repressivo jurisdicional, não há casos concretos que envolvem autor e réu.
Existem legitimados (que são autoridades públicas e entidades representativas) que
provocam o Poder Judiciário para que a lei ou ato normativo seja apreciado em tese,
abstratamente, de modo teórico.
Na prática, a sentença do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade
decide se a lei ou ato normativo impugnado:

(i) permanecerá no ordenamento jurídico: se houver a declaração de


constitucionalidade da lei ou ato normativo, consequentemente, a lei ou ato
normativo apreciado em tese ou em abstrato será mantido no ordenamento
jurídico e deverá ser observado por todos;

(ii) será retirado do ordenamento jurídico: se houver a declaração de


inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, o que, por consequência,
resultará na sua retirada do ordenamento jurídico e na impossibilidade de
qualquer pessoa aplicar a lei ou ato normativo inconstitucional.

O controle abstrato ou concentrado também recebe o nome de controle


objetivo de constitucionalidade, porque o legitimado, ao provocar o Poder
Judiciário para que analise a constitucionalidade da lei ou ato normativo
questionado, preocupa-se objetivamente em assegurar a VIP higidez ou a
limpeza do ordenamento jurídico, ou seja, em retirar do ordenamento jurídico
eventuais leis e atos normativos inconstitucionais.

3. Controle concentrado – o controle abstrato de constitucionalidade também é


denominado de controle concentrado porque apenas poucos órgãos do Poder
Judiciário concentram a competência altamente especializada de realizar a análise em
tese ou em abstrato da lei ou ato normativo impugnado.

Vale lembrar que a competência para declarar a inconstitucionalidade em tese ou em


abstrato e, por conseguinte, retirar a lei inconstitucional do ordenamento jurídico não
pode exercida por qualquer órgão do Poder Judiciário, em qualquer grau de jurisdição.
No Brasil, apenas dois órgãos do Poder Judiciário têm competência para realizar o
controle abstrato de constitucionalidade, a saber:

a) STF – O Supremo Tribunal Federal realiza o controle abstrato de constitucionalidade


se o paradigma adotado for a Constituição Federal (art. 102, I, “a”, CF/88);

b) TJ estadual – realiza o controle abstrato de constitucionalidade se o paradigma


adotado for a Constituição do Estado (art. 125, §2, CF/88).

4. Controle com efeitos “erga omnes” e vinculantes – a sentença do controle concentrado


ou abstrato de constitucionalidade produz, nos termos previstos no art. 102, §2, CF/88,
efeitos contra todos (“erga omnes”) e vinculantes em relação à Administração Direta
e Indireta nas esferas federal, estadual e municipal e aos demais órgãos do Poder
Judiciário.

Observação Da mesma forma que ocorre com as súmulas vinculantes, as sentenças do


controle concentrado ou abstrato não alcançam todos os órgãos do Estado. Vale
lembrar que os efeitos vinculantes dessas sentenças alcançam:
(i) os DEMAIS órgãos do Poder Judiciário (exclui-se o STF, que poderá declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo anteriormente declarado
constitucional no controle abstrato ou condensado);

(ii) a Administração Pública Direta e Indireta nas esferas federal, estadual e


municipal (exclui-se o LEGISLADOR, que poderá criar uma nova lei ou ato
normativo com conteúdo idêntico ao de outra lei anteriormente declarada
inconstitucional na via abstrata ou concentrada).

Além disso, é interessante registrar que Hans Kelsen defendia que a sentença
do controle abstrato ou concentrado que declara uma lei ou ato normativo
inconstitucional equivaleria a uma “lei negativa”, na medida em que teria como
efeito prático retirar do ordenamento jurídico leis e atos normativos
inconstitucionais. Em virtude de a sentença do controle abstrato ter a natureza
de uma “lei negativa”, Kelsen convenceu o Poder Executivo e o Poder Legislativo
da viabilidade desta modalidade ao lhes conceder a prerrogativa de decidir
quais seriam os juízes que integrariam o Tribunal Constitucional habilitado a
realizar o controle concentrado ou abstrato. Com efeito, o art. 101 da CF/88
prevê que os Ministros do STF são nomeados pelo Presidente da República e
precisam da aprovação de maioria absoluta do Senado Federal.

5. Controle principal ou direto – o controle concentrado ou abstrato de


constitucionalidade também recebe o nome de controle direto ou principal porque, ao
realizar esta modalidade de controle repressivo jurisdicional, a única questão apreciada
diz respeito à compatibilidade da lei ou ato normativo impugnado em face da
Constituição. Em termos práticos, no exercício do controle de constitucionalidade
concentrado ou abstrato, o legitimado, ao ajuizar a ação perante o Poder Judiciário,
apenas faz um único pedido: que a lei ou ato normativo questionado seja declarado
constitucional ou inconstitucional.

6. Controle por via de ação – o controle concentrado ou abstrato também recebe o nome
de controle por via de ação porque existem cinco ações judiciais típicas que devem ser
ajuizadas perante o STF para que seja possível realizar esta modalidade de controle
repressivo jurisdicional.

As cinco ações típicas do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade são


as seguintes:

(i) ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) [OBS.: não se usa mais, desde 2006,
o termo ADIN; usar esse termo hoje é erro que deve ser evitado];
(ii) ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade);
(iii) ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental);
(iv) ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão);
(v) IF (Ação Interventiva ou Representação Interventiva).

DICA Na prova, se a questão mencionar uma dessas cinco ações judiciais típicas do
controle de constitucionalidade, a questão estará abordando o sistema de controle
concentrado ou abstrato.
Legitimados do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade – art. 36, III
e art. 103, CF/88

Os legitimados do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade são


autoridades públicas ou entidades representativas que ajuízam as ações típicas do
controle concentrado ou abstrato (ADI, ADC, ADPF, ADO e IF) com a finalidade de
preservar o interesse jurídico da coletividade ou da sociedade no tocante à higidez do
ordenamento jurídico.

Tendo em vista que os legitimados do controle abstrato ou concentrado defendem o


interesse da coletividade ou da sociedade, a jurisprudência do STF firmou o
entendimento de que, após o ajuizamento, os legitimados NÃO poderão desistir da
ação do controle concentrado ou abstrato ajuizada. Logo, conclui-se que as ações do
controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade são AÇÕES JUDICIAIS
INDISPONÍVEIS, isto é, não admitem desistência, pois defendem o interesse da
coletividade ou da sociedade.

Das cinco ações típicas do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade,


quatro delas têm os mesmos legitimados e uma delas tem legitimado diferente.

A ação do controle concentrado ou abstrato que tem legitimado diferente é a IF (Ação


Interventiva ou Representação Interventiva), a única que não começa com a letra “a”.
O art. 36, III, CF/88 prevê que existe apenas um único legitimado para propor a ação
interventiva ou representação interventiva no STF: trata-se do Procurador-Geral da
República (PGR).

Os legitimados à propositura das outras quatro ações do controle concentrado ou


abstrato de constitucionalidade (ADI, ADC, ADPF e ADO) são os mesmos e estão
previstos no rol do art. 103 da CF/88.

IMPORTANTE Ao interpretar o art. 103 da CF/88, a jurisprudência do STF dividiu os


legitimados em duas categorias:

a) legitimados universais – segundo a jurisprudência do STF, os legitimados universais


não precisam provar a chamada pertinência temática para ajuizar ADI, ADC, ADPF
e ADO. São eles:

− Presidente da República;
− Mesa da Câmara dos Deputados;
− Mesa do Senado Federal;
− Procurador-Geral da República (PGR);
− Conselho Federal da OAB;
− Partido Político com representação no Congresso Federal (que tenha
deputado federal ou senador eleito e em exercício).

OBSERVAÇÃO O partido político precisa de representação no Congresso


Nacional para ajuizar a ADI, ADC, ADPF e ADO, e não para que essas
referidas ações sejam julgadas. Desse modo, se, após o ajuizamento de uma
dessas ações típicas do controle concentrado ou abstrato, o partido político
perder a representação no Congresso Nacional, o julgamento da ação
prossegue normalmente.

b) legitimados especiais – segundo a jurisprudência do STF, os legitimados especiais


devem, obrigatoriamente, PROVAR PERTINÊNCIA TEMÁTICA para ajuizar a ADI,
ADC, ADPF e ADO. Entende-se por pertinência temática uma relação de aderência
entre a área de atuação do legitimado especial e o tema jurídico discutido na ação
típica do controle concentrado ou abstrato.

São considerados legitimados especiais:

− Governador de Estado e DF;


− Mesa da Assembleia Estadual e da Câmara Distrital;
− Confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional.
AULA 15 15/05/20

Aula 15 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prova discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade .

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo correspondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

OBSERVAÇÃO Os legitimados especiais precisam provar um requisito de admissibilidade para


ajuizar ADI, ADC, ADPF e ADO no STF: trata-se da pertinência temática. Caso não consigam
provar pertinência temática, o STF não recebe as referidas ações do controle de
constitucionalidade concentrado ou abstrato ajuizadas pelos legitimados especiais (Governador
de Estado e DF; Mesa da Assembleia Estadual e da Câmara Distrital; e Confederação sindical e
entidade de classe de âmbito nacional).

PEGADINHA Embora o governador de Estado seja um legitimado especial do controle abstrato


ou concentrado de constitucionalidade, poderá ajuizar ADI no STF questionando lei de outro
Estado ou do DF, desde que prove pertinência temática (ex.: guerra fiscal do ICMS).

Objetos das ações típicas do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade


realizado pelo STF

Identificar os objetos das ações típicas do controle concentrado ou abstrato de


constitucionalidade permite saber em quais hipóteses cada uma dessas ações poderá ser
ajuizada perante o STF.

1. ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade – art. 102, I, “a”, primeira parte, CF/88)

DICA Estudar essas ações de acordo com a ordem em que elas aparecem aqui no
caderno. Elas são as que mais são cobradas e aparecem, aqui, em ordem decrescente de
importância.

O STF julga ADI para declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo ESTADUAL
e FEDERAL.

IMPORTANTE Lei ou ato normativo municipal NÃO sofre ADI no STF. Todavia, lei ou ato
normativo municipal poderá sofrer ADI (também chamada de representação de
inconstitucionalidade) no Tribunal de Justiça do Estado (TJ estadual), que adotará como
parâmetro ou paradigma de julgamento a respectiva Constituição Estadual (art. 125,
§2, CF/88).

PEGADINHA ➔ Lei ou ato normativo distrital pode sofrer ADI em dois Tribunais
diferentes, a depender do tema legislado pelo DF. O art. 32, §1, CF/88 prevê que o DF
tem competências legislativas próprias de Estados e de Municípios. Desse modo, uma
lei distrital poderá sofrer ADI nos seguintes Tribunais:

a) lei distrital que versa sobre tema de competência do Estado (ex. ICMS, IPVA) –
sofrerá ADI no STF, que adotará como paradigma a Constituição Federal;

b) lei distrital que versa sobre tema de competência do Município (ex. IPTU, ISS) –
sofrerá ADI no TJDF, que adotará como paradigma a Lei Orgânica do DF (DF não tem
Constituição).

Logo, não se pode afirmar que a lei distrital sempre sofrerá ADI no STF, haja vista que
eventual lei criada pelo DF sobre tema de competência dos municípios terá a ADI julgada
no TJDF (sendo que, neste caso, o TJDJ irá ter como parâmetro de julgamento a Lei
Orgânica do DF).

2. ADC (Ação Declaratória de Constitucionalidade – art. 102, I, “a”, parte final da CF/88)

O art. 102, I, “a”, parte final da CF/88 prevê que o STF tem competência para julgar ADC
e declarar a constitucionalidade apenas de lei ou ato normativo FEDERAL.

ATENÇÃO O STF não julga ADC para declarar a constitucionalidade de lei ou ato
normativo estadual e municipal.

A ADC foi introduzida na ordem constitucional brasileira pela EC 03/93. O que justificou
a criação dessa ação típica do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade
foi a necessidade de colocar fim a divergências que surgiam no âmbito do controle
concreto ou difuso de constitucionalidade sobre a aplicação de leis e atos normativos
federais. Desse modo, conclui-se que a ADC, ao declarar determinada lei ou ato
normativo federal constitucional, impede que os demais órgãos do Poder Judiciário
deixem de aplicar essa lei federal. Na prática, a sentença de procedência da ADC
proferida pelo STF garante a aplicação uniforme da lei federal declarada constitucional
em todo território nacional.

A ADC foi uma necessidade decorrente dos primeiros cinco anos da CF/88, quando se
percebeu que, em alguns casos, a lei federal não era aplicada de forma uniforme no
território nacional, porque, ao fazer controle concreto ou difuso, alguns tribunais
estaduais diziam que aquela lei era inconstitucional. A ADC apareceu justamente para
isto: garantir a aplicação uniforme da lei no território brasileiro.
OBSERVAÇÃO O art. 14, III, Lei 9868/99 prevê um requisito de admissibilidade para o
ajuizamento de ADC perante o STF: trata-se da exigência de comprovar a existência de
controvérsia judicial relevante sobre a aplicação de lei ou ato normativo federal
objeto da ADC. A prova da divergência sobre a constitucionalidade de lei ou ato
normativo federal é realizada por meio da apresentação de julgados de Tribunais
diferentes, na medida em que um Tribunal considera a lei federal questionada
inconstitucional e outro Tribunal a considera constitucional.

3. ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – art. 1 da Lei 9882/99)

A ADPF foi criada com o objetivo de ser a ação subsidiária do controle concentrado ou
abstrato de constitucionalidade. De acordo com o princípio da subsidiariedade que rege
a ADPF, o STF apenas poderá julgar ADPF se não for possível empregar nenhuma outra
ação típica do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade (ADI, ADC,
ADO e IF).

Apesar de ela ser a última a ser julgada, ela veio, aqui no caderno, no meio (item 3) das
outras ações, porque ela é a terceira que mais cai na prova do CACD.

O ajuizamento de ADPF no STF exige a observância de dois requisitos de admissibilidade


pelo legitimado do art. 103 da CF/88:

(i) Princípio da subsidiariedade – art. 4, §1, da Lei 9882/99 (a Lei da ADPF)

Apenas será possível ajuizar ADPF no STF se não existir outra ação típica do
controle concentrado ou abstrato que possa ser empregada para questionar,
em tese, determinada lei ou ato normativo.

(ii) Prova de violação de preceito fundamental da CF/88 – art. 3, III, da Lei 9882/99

Os preceitos fundamentais da CF/88 são considerados conceitos jurídicos


indeterminados, o que significa, na prática, que caberá apenas à jurisprudência
do STF decidir quais são os conceitos jurídicos indeterminados da CF/88, na
medida em que admite ADPFs ajuizadas.

Considerando-se a jurisprudência do STF, em especial no tocante à aplicação do


princípio da subsidiariedade, o STF admite o ajuizamento de ADPF nas seguintes
hipóteses, desde que provada a lesão a preceito fundamental da CF/88:

a) para declarar a inconstitucionalidade de LEI OU ATO NORMATIVO


MUNICIPAL;

b) para reconhecer a não recepção constitucional de DIREITO PRÉ-


CONSTITUCIONAL (isto é, para decidir se lei ou ato normativo anterior à
CF/88 é incompatível com o conteúdo da CF/88);
obs.: “a” e “b” são as que mais caem em provas; quanto aos itens abaixo,
“c” e “d”, é pouco provável que caiam em provas

c) para declarar a inconstitucionalidade de lei já revogada (nesta hipótese, a


ADPF serve para controlar os efeitos concretos produzidos durante a
vigência da lei revogada);

d) para declarar a inconstitucionalidade de lei temporária já expirada (nesta


hipótese, a ADPF serve para controlar os efeitos concretos produzidos antes
da expiração da vigência temporária).

4. ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – art. 103, §2, CF/88)

Caberá o ajuizamento de ADO no STF para declarar a inconstitucionalidade por omissão,


ou seja, declarar a inércia do legislador infraconstitucional em regulamentar a CF/88.
Na prática, haverá inconstitucionalidade por omissão se o legislador não criar uma lei
que o próprio texto constitucional exija que seja criada. Desse modo, o art. 103, §2,
CF/88 prevê que a inconstitucionalidade por omissão será declarada quando faltar
“medida para tornar efetiva norma constitucional”, ou seja, quando faltar a edição de
lei regulamentadora pelo legislador.

A sentença da ADO que declara a inconstitucionalidade omissiva, nos termos do art.


130, §2, CF/88 poderá:

(i) apenas dar ciência ao Poder competente, na hipótese de ausência de lei (essa
sentença não poderá criar a lei regulamentadora faltante, nem poderá fixar um
prazo para o Poder legislativo criar essa lei regulamentadora, sob pena de
violação do princípio da separação dos poderes);

(ii) poderá fixar o prazo de 30 dias para a Administração Pública editar ato
administrativo, na hipótese de ausência apenas de ato administrativo (a
sentença, nesse caso, terá concluído que já existe lei regulamentadora, mas que
ainda não é aplicada em virtude da inércia da Administração Pública).

5. IF (Ação Direita de Inconstitucionalidade Interventiva ou Ação Interventiva ou


Representação Interventiva – art. 36, III, CF/88)

O art. 36, III, CF/88 prevê que apenas o PGR (Procurador-Geral da República) tem
legitimidade para ajuizar a ação interventiva ou representação interventiva perante o
STF. Caso o STF julgue procedente a representação interventiva, determinará que o
Presidente da República realize a intervenção federal nos Estados ou no DF. PGR pede,
STF julga procedente e quem inicia a intervenção federal é o Presidente.

Existem duas hipóteses de ajuizamento de ação interventiva (IF) no STF:


a) negativa de execução de lei federal por Estado ou DF;
b) violação de princípio constitucional sensível previsto no art. 34, VII, CF/88 por
Estado ou DF.

Pedido: decorar o rol previsto no art. 34, VII, CF/88 — é fundamental!

CAPÍTULO VI
DA INTERVENÇÃO

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

(...)

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;

b) direitos da pessoa humana;

c) autonomia municipal;

d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de


transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
AULA 16 22/05/20

Aula 16 | Constituição: controle de constitucionalidade

Objetivo da aula: Preparar o candidato ao CACD para as provas de primeira (prova objetiva)
e de segunda (prov a discursiva) fases.

Pontos do edital abordados: 3 Constituição: controle de constitucionalidade.

Leituras Obrigatórias: Caderno de aula; Constituição Federal de 1988; Edital do CACD e


Questões anteriores sobre o tema da aula (bancas do CESPE/CEBRASPE e IADES).

Leituras Complementares: Capítulo corresp ondente do livro: PAULO, Vicente;


ALEXANDRINO, Marcelo, Direito Constitucional Descomplicado , Ed. Forense e Método.

Intervenção Federal e Intervenção Estadual – art. 34 a art.36, CF/88

A intervenção federal e a intervenção estadual são medidas excepcionais previstas na CF/88 e


que devem ser empregadas com muita parcimônia e extremo critério. Isso porque a intervenção
federal é considerada um dos estados de exceção da ordem constitucional, e apenas situações
críticas que possam colocar em risco a integridade e a manutenção do pacto federativo é que
devem ser remediadas com intervenção.

Intervenção estadual não é o tema central aqui.

A excepcionalidade no emprego da intervenção federal é justificada por dois fundamentos


jurídicos:

(i) o art. 60, §1, CF/88 prevê que a intervenção federal é um dos limites
circunstanciais ao poder de emenda constitucional: não se admite a criação de
emendas constitucionais durante a vigência de intervenção federal, estado de
defesa e estado de sítio;

(ii) o art. 90, I; e o art. 91, §1, I, CF/88 exigem que o Presidente da República consulte
o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional para que possa decretar
a intervenção federal: a CF/88 prevê dois órgãos superiores de consulta do
Presidente da República: o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional.
Esses órgãos apenas são consultados diante de situações que tenham gravidade e
possam comprometer as instituições nacionais e a aplicação da própria CF/88. A
decretação da intervenção federal exige consulta tanto ao Conselho da República
quanto ao Conselho de Defesa Nacional.

IMPORTANTE A consulta ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa


Nacional é obrigatória para as hipóteses previstas na CF/88; dentre elas, encontra-
se a decretação de intervenção federal. Essa consulta reveste-se da forma de
opinião consultiva, o que significa que as recomendações expedidas por ambos os
Conselhos superiores da Presidência da República não vinculam o Chefe do Poder
Executivo. Em resumo, na intervenção federal, o Presidente da República é
obrigado a consultar o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional,
mas não é obrigado a acatar as opiniões emitidas por esses dois órgãos (a consulta
é obrigatória, porém não é vinculante).

Amplitude da intervenção federal e da intervenção estadual

A partir da interpretação do disposto nos arts. 34 e 35 da CF/88 pode-se concluir que a União
está autorizada a realizar intervenção federal em três tipos de entes federados:

(i) Estados;
(ii) DF;
(iii) Municípios localizados em territórios.

O Estado, por sua vez, poderá realizar intervenção estadual apenas em um (1) tipo de ente
federado:

(i) Municípios que integram o próprio Estado.

ATENÇÃO A União não intervirá em municípios, pois os Municípios sofrerão intervenção


estadual. Em caráter excepcional, o art. 35, “caput”, da CF/88 admite a intervenção federal em
Municípios localizados em território, apenas.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal,
exceto quando:

Tipos de intervenção federal

Ao interpretar a CF/88, a doutrina identificou dois tipos de intervenção federal, a saber:

1. Ação Interventiva, Ação Direta Interventiva ou Representação Interventiva (IF)

Trata-se da chamada intervenção jurídica, que exige ação judicial proposta pelo PGR
perante o STF e sentença de procedência do STF, determinando que o Presidente da
República realize a intervenção federal. O PGR ajuíza; o STF julga procedente; o
Presidente realiza a intervenção federal.

2. Intervenção Espontânea ou Intervenção Autônoma

Nesta espécie de intervenção federal predominam aspectos políticos; por isso, a


intervenção federal autônoma ou espontânea também é chamada de intervenção
política. Ocorre por meio de decisão do Presidente da República que decreta e inicia a
intervenção federal, devendo submeter o decreto interventivo à apreciação do
Congresso Nacional.

CONCLUSÃO ➔ O Presidente da República, por força do princípio da separação dos


poderes, será controlado nas duas espécies de intervenção federal. No caso de ação
interventiva ou representação interventiva (intervenção jurídica), o Presidente da
República apenas deverá decretar ou expedir o decreto que instala a intervenção
federal após a sentença do STF. Ao passo que na hipótese de intervenção autônoma
ou intervenção espontânea (intervenção política), o decreto presidencial que inaugura
a intervenção federal será objeto de apreciação do Congresso Nacional, que poderá
sustá-lo ou confirmá-lo total ou parcialmente.

Logo, evidencia-se que o Congresso Nacional não atua na apreciação do decreto


presidencial de intervenção federal no caso de intervenção decorrente de ação
interventiva ou representação interventiva ajuizada pelo PGR perante o STF.

IMPORTANTE O art. 36, §1, CF/88 prevê que o decreto presidencial da intervenção
federal deverá especificar os seguintes aspectos:

− a amplitude da intervenção federal, isto é, quais áreas e Poderes do Estado, DF


ou Municípios localizados em territórios serão atingidos;
− a duração da intervenção federal;
− as condições da execução da intervenção federal (ex. se haverá ou não o
emprego das forças do Exército, da Marinha e da Aeronáutica);
− se for o caso, nomeará interventor (logo, conclui-se que nem toda intervenção
federal terá, obrigatoriamente, um interventor nomeado).

Ação Interventiva ou Representação Interventiva (IF) – art. 36, III, CF/88

A ação interventiva ou representação interventiva surgiu no Direito Constitucional brasileiro


com o advento da Constituição Federal de 1934. O fator histórico que justificou sua adoção, no
constitucionalismo brasileiro, aponta para a necessidade de criar uma modalidade de
intervenção federal em que o Presidente da República não teria grandes desgastes com os
Governadores de Estado, uma vez que a decretação da intervenção federal, no caso de ação
interventiva ou representação interventiva (IF), obedece uma ordem judicial estabelecida por
uma sentença proferida pelo STF.

Vale registrar que, ao longo da República Velha, ocorreram várias intervenções federais
autônomas ou espontâneas que desgastaram o Presidente da República da época frente aos
Governadores de Estado.

A decretação de intervenção federal mediante ação interventiva ou representação interventiva


deverá obedecer a três etapas:
1- O PGR ajuíza a ação interventiva ou representação interventiva perante o STF;
2- O STF julga a ação interventiva procedente e determina que o Presidente da República
realize a intervenção federal;
3- O Presidente da República expede o decreto interventivo e inicia a intervenção
federal.

O art. 36, III, CF/88 prevê duas hipóteses que autorizam o ajuizamento de ação interventiva ou
representação interventiva pelo PGR perante o STF:

(i) negativa de vigência de lei federal por Estado ou DF;


(ii) violação de princípio constitucional sensível previsto no rol do art. 34, VII, CF/88
por Estado ou DF.

IMPORTANTE O art. 34, VII, CF/88 prevê o rol taxativo ou exaustivo dos princípios denominados
de princípios constitucionais sensíveis pela doutrina, que, quando violados, permitem ao PGR
ajuizar ação interventiva no STF. Esse rol de princípios constitucionais sensíveis precisa ser
decorado para a prova:

− forma republicana, sistema representativo e regime democrático;


− direitos da pessoa humana;
− autonomia municipal;
− prestação de contas pela Administração Direta e Administração Indireta;
− aplicação do mínimo de receitas públicas exigido pela CF/88 na manutenção e no
desenvolvimento dos serviços de saúde e de ensino.

CAPÍTULO VI
DA INTERVENÇÃO

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

(...)

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;


b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências,
na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)

Intervenção Federal Espontânea ou Autônoma

A intervenção federal espontânea ou autônoma existe no Direito Constitucional brasileiro desde


o advento na Constituição de 1891, que adotou a forma federativa de Estado. A intervenção
espontânea ou autônoma, lastreada em causas de natureza política, teve grande emprego ao
longo do período da República Velha.
Um exemplo de intervenção federal espontânea ou autônoma foi a intervenção decretada por
Michel Temer no Rio de Janeiro, em 2018.

A realização da intervenção federal espontânea ou autônoma deve observar três etapas:

1. O Presidente da República decide realizar intervenção federal e expede o decreto


interventivo; (o Presidente acorda virado no Jiraya e do nada decide fazer uma
intervenção)

2. O decreto presidencial interventivo deverá ser submetido à apreciação do Congresso


Nacional no prazo de 24 horas;

3. O Congresso Nacional poderá manter ou sustar total ou parcialmente a intervenção


federal em curso (em curso, porque a intervenção tem início assim que o presidente
expede o decreto interventivo).

No tocante às causas que permitem o Presidente da República decretar a intervenção federal


espontânea ou autônoma, vale empregar um juízo de exclusão: com exceção das duas
hipóteses de ação interventiva do PGR no STF (negativa de execução de lei federal e violação
de princípio constitucional sensível), as demais hipóteses de intervenção previstas no art. 34
da CF/88 referem-se às hipóteses de intervenção espontânea ou autônoma.

CAPÍTULO VI
DA INTERVENÇÃO

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

I - manter a integridade nacional;

II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;

III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; (hipótese utilizada por Temer para justificar a intervenção no
RJ)

IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;

V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:

a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;

b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;

VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;

VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:

(...)

Intervenção federal mediante solicitação e intervenção federal mediante requisição – art. 36,
I, II, CF/88
A doutrina aponta duas hipóteses excepcionalíssimas (quase nunca caem em provas de
concurso) de intervenção federal, a saber:

a) Intervenção Federal mediante SOLICITAÇÃO – art. 36, I, primeira parte, CF/88

É denominada de intervenção federal mediante solicitação a hipótese de haver conflito


entre os Poderes do Estado ou do DF e figurarem como Poderes coactos ou violados o
Executivo e o Legislativo estadual ou distrital. Caberá aos chefes dos Poderes Executivos
e Legislativo coactos solicitar ao Presidente da República a intervenção federal para
colocar fim ao conflito entre os Poderes na unidade da Federação. O Presidente da
República não é obrigado a atender essa solicitação.

b) Intervenção Federal mediante REQUISIÇÃO – (i) art. 36, I, parte final; e (ii) art. 36, II,
CF/88

Denomina-se de intervenção federal mediante requisição duas hipóteses específicas de


intervenção federal. São elas:

(i) se houver coação em relação ao Poder Judiciário do Estado ou DF, a intervenção


federal dependerá de requisição do STF apresentada ao Presidente da
República;

(ii) no caso de descumprimento de ordem ou decisão judicial no Estado ou DF, a


intervenção federal dependerá de requisição do STF, STJ ou TSE apresentada
ao Presidente da República.

No caso de intervenção federal mediante requisição, o Presidente da República é


OBRIGADO A ACATAR A REQUISIÇÃO APRESENTADA PELO STF, STJ ou TSE.

Cuidado com as palavras solicitação e requisição: solicitar é pedir educadamente;


requisitar é uma ordem.

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