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SÃO PAULO
1.2021
2
RESUMO
ABSTRACT
From the application of theoretical concepts and instruments proposed by the Logical-Semantic
Constructivism, a legal-philosophical theory developed by Paulo de Barros Carvalho and
Lourival Vilanova, to Sanctioning Tax Law, this article will analyze four decisions of the
Administrative Council of Tax Appeals (CARF), in which rural partnership contracts were
disregarded and reclassified as lease rural contracts. The purpose of this analysis will be to
identify, by investigating the sanctioning rules applied and the legal facts used as a precedent
in the judgments, which criteria were used to configure the existence of deceit in the conduct
of taxpayers. Finally, in light of the matrix rules of tax incidence of ex-officio and qualified
fines, a criticism will be made of the decisions of the Board.
INTRODUÇÃO
No último tópico, serão analisados quatro acórdãos do CARF nos quais contratos
de parceria foram desconsiderados e reclassificados como contratos de parceria rural. O
objetivo da análise será de identificar os quais critérios foram utilizados para configurar a
existência de dolo na conduta dos contribuintes.
A começar pelos atributos dos contratos agrários em geral, além de serem previstos
e regidos pelos diplomas legal e infralegal acima citados – e também, é de se recordar, pelos
enunciados constitucionais relativos à propriedade2 e à Política Agrícola e Fundiária3 –, o que
possibilita classificá-los como contratos nominados ou típicos4, caracterizam-se também pela
finalidade em comum: regulamentar a posse ou uso temporário da terra, entre proprietário,
1
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018. p.
124.
2
Art. 5º, incisos XXII e XXIII, da Constituição Federal.
3
Arts. 184 a 191 da Lei Maior.
4
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais.
32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 112.
5
quem detenha a posse ou tenha a livre administração de um imóvel rural, e aquele que nela
exerça atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista5.
Delimitar essa diferença é crucial para posterior análise dos critérios utilizados pelo
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) para desconsideração do contrato de
parceria e reclassificá-los como arrendamento rural, a fim de verificar se tais critérios
encontram respaldo na legislação pertinente ao assunto.
Art. 3º. Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a
ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou
partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o
objetivo de nêle ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-
industrial, extrativa ou mista, mediante, certa retribuição ou aluguel, observados os
limites percentuais da Lei.
5
Art. 1º O arrendamento e a parceria são contratos agrários que a lei reconhece, para o fim de posse ou uso
temporário da terra, entre o proprietário, quem detenha a posse ou tenha a livre administração de um imóvel rural,
e aquêle que nela exerça qualquer atividade agrícola, pecuária, agro-industrial, extrativa ou mista (art. 92 da Lei
nº 4.504 de 30 de novembro de 1964 - Estatuto da Terra - e art. 13 da Lei nº 4.947 de 6 de abril de 1966).
6
RIZZARDO, Arnaldo. Direito do Agronegócio. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 375 de 705. Posição
11076 de 20004.
6
(...)
Art. 4º Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à
outra, por tempo determinado ou não, o uso especifico de imóvel rural, de parte ou
partes do mesmo, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o
objetivo de nêle ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-
industrial, extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria,
invernagem, engorda ou extração de matérias primas de origem animal, mediante
partilha de riscos do caso fortuito e da fôrça maior do empreendimento rural, e
dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem,
observados os limites percentuais da lei. (grifos nossos)
7
LEITE, Rafael. Aspectos tributários dos contratos agrícolas de arrendamento e parceria. In: MUZZI, Adriano
Andrade... [et al.]. A tributação no Agronegócio. Organizado por Luiz Henrique Nery Massara, Marcelo Hugo de
Oliveira Campos, Paulo Honório de Castro Júnior. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2020. p. 276.
8
Nada impede, todavia, que num imóvel arrendado o arrendatária desenvolva atividade agropecuária.
9
Os limites percentuais estão previstos nas alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, “e”, “f” e “g” do inciso VI do art. 96 do Lei
nº 4.504/66.
10
“[...] o contrato aleatório seria quele em que a prestação de uma ou de ambas as partes dependeria de um risco
futuro e incerto, não se podendo antecipar o seu montante” (DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil
Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 101).
7
Sobre essa questão, nos parece que existe uma definição específica para o vocábulo
“risco” no contexto dos contratos agrários, de observância obrigatória desde 2007. Nesse ano,
11
Art. 18. O preço do arrendamento só pode ser ajustado em quantia fixa de dinheiro, mas o seu pagamento pode
ser ajustado que se faça em dinheiro ou em quantidade de frutos cujo preço corrente no mercado local, nunca
inferior ao preço mínimo oficial, equivalha ao do aluguel, à época da liquidação.
12
LEITE, Rafael. Aspectos tributários dos contratos agrícolas de arrendamento e parceria. In: MUZZI, Adriano
Andrade... [et al.]. A tributação no Agronegócio. Organizado por Luiz Henrique Nery Massara, Marcelo Hugo de
Oliveira Campos, Paulo Honório de Castro Júnior. Belo Horizonte: Casa do Direito, 2020. p. 274.
13
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais e
Extracontratuais. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 102.
8
foi promulgada a Lei Federal nº 11.443/2007, que promoveu diversas modificações no Estatuto
da Terra. Dentre elas, uma foi justamente a introdução de uma definição legal de “risco”, a ser
utilizada pelo exegeta na interpretação dos demais enunciados do Estatuto. Ela está prevista nos
incisos I, II e III do §1º do art. 96 da Lei nº 4.505/64.
Em outros termos, sempre que o legislador opta por traçar uma definição legal, esta
passa ser de observância impositiva no contexto da qual foi inserida. É o direito criando suas
próprias realidade. As definições legais não são menos normas jurídicas que outros enunciados
prescritivos já talhados na forma prescritiva. São normas e, como tais, devem ser obedecidas,
seja pelos observadores, seja pelos participantes do direito positivo, isto é, aqueles que
credenciados a aplicá-lo mediante expedição e introdução de norma individual e concreta na
órbita jurídica. Nesse sentido, oportunas as lições de Lucas Galvão de Britto:
Dito isso, à citada definição de “risco”. Os referidos incisos I, II e III do §1º do art.
96 da Lei nº 4.505/64, acrescidos pela Lei nº 11.443/2007, prescrevem o seguinte:
§ 1o Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder
à outra, por tempo determinado ou não, o uso específico de imóvel rural, de
parte ou partes dele, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e/ou
facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração
agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega
animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-primas
14
BRITTO, Lucas Galvão de. Sobre o uso de definições e classificações na construção do conhecimento e na
prescrição de condutas. In: Lógica e direito / Alaôr Caffé Alves ... [et. al.]; organização Lucas Galvão de Britto;
coordenação Paulo de Barros Carvalho. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2016. p. 350. Grifamos.
9
Pois bem. Dentre as três situações classificadas pelo legislador como risco, merece
especial enfoque aquela do inciso III. Isso porque esse trecho legal, quando interpretado
cumulativamente com os enunciados dos §§2º16 e 3º17 do art. 96 do Estatuto – também
acrescidos pela Lei nº 11.443/2007 –, autoriza que, sem restar descaracterizada a parceria, a
15
Critérios hierarquia e cronológico de resolução de antinomias. BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento
Jurídico. 2ª ed. São Paulo: EDIPRO, 2014. p. 94/95.
16
§ 2o As partes contratantes poderão estabelecer a prefixação, em quantidade ou volume, do montante da
participação do proprietário, desde que, ao final do contrato, seja realizado o ajustamento do percentual pertencente
ao proprietário, de acordo com a produção. (Incluído pela Lei nº 11.443, de 2007).
17
§ 3o Eventual adiantamento do montante prefixado não descaracteriza o contrato de parceria.
(Incluído pela Lei nº 11.443, de 2007).
10
Nos parece que assiste razão ao Autor. De fato, em se tratando de parceria rural
cujos frutos produzidos pelo parceiro-outorgado estejam sujeitos a variação de preço, a exemplo
das commodities (Boi Gordo; Açúcar Cristal; Soja; Milho; dentre outros19), a prefixação da
quantidade a ser paga – em produtos, não em dinheiro – e até mesmo adiantamento do valor
estimado referente a essa quantia de frutos não desnaturam o contrato de parceria, bastando que
haja o ajuste respectivo ao término do vínculo contratual20.
Em conclusão, tem-se que desde 2007, data na qual a Lei nº 11.443/2007 passou a
vigorar, “a mera viabilidade de preço dos produtos – algo tão comum no mercado do
18 LOUBET, Leonardo Furtado. Tributação federal no Agronegócio. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2017. p. 178.
Destacamos.
19
Para citar algumas das commodities agrícolas comercializadas na B3.
20
Compartilha desse entendimento Rafael Leite (LEITE, Rafael. Aspectos tributários dos contratos agrícolas de
arrendamento e parceria. In: MUZZI, Adriano Andrade... [et al.]. A tributação no Agronegócio. Organizado por
Luiz Henrique Nery Massara, Marcelo Hugo de Oliveira Campos, Paulo Honório de Castro Júnior. Belo
Horizonte: Casa do Direito, 2020. p. 277).
11
agronegócio – passou a ser condição suficiente para que se esteja diante de um verdadeiro
contrato de parceria rural, sem que contra isso possam se insurgir as autoridades
fiscais.”21Gostando ou não, foi essa a opção dos representantes do Povo, que não pode ser
desobedecida pela Administração Pública.
21
LOUBET, Leonardo Furtado. Tributação federal no Agronegócio. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2017. p. 178.
Destacamos.
22
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método 6º ed. São Paulo: Noeses, 2015, p.
204.
23
CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito: o constructivismo lógico-semântico. 4.
ed. rev. São Paulo: Noeses, 2014. p. 344.
12
processo interpretativo (suporte físico); S2 - plano das proposições isoladas, construídas a partir
da atribuição de significação aos enunciados; S3 - plano das normas jurídicas em sentido estrito,
cabendo ao sujeito, para compreender o sentido deôntico completo da norma, estruturar as
proposições na forma hipotético condicional e; S4 - plano da sistematização das norma, que
leva em conta as relações estabelecidas entre as normas, e podem ser classificadas como (i)
dispositivas e derivada, punitivas e não punitivas, a depender do vínculo de coordenação que
se instaura entre elas e (ii) sobrenível ou subnível, tendo em conta os vínculos de subordinação.
24
CARVALHO, Aurora Tomazzini. Direito Penal Tributário. São Paulo: Quartier Latin., 2009. p. 73.
13
Ao considerar o direito como linguagem, não há como conceber que a norma possa
tocar efetivamente a realidade, mas apenas a tangência, alcançando a sua finalidade de
regulamentar as relações intersubjetivas ao convencer o destinatário da mensagem legislativa
de, livremente, adotar a conduta prescrita.
Por meio da edição da norma individual e concreta é que o sistema atinge o maior
grau de concretude e de proximidade com a realidade: no antecedente, constitui o fato jurídico,
referindo-se a evento passo, e, no consequente, impõe a relação jurídica entre sujeitos
determinados de observar certa conduta, permita, proibida ou obrigatória. O efetivo
cumprimento do dever imposto pelo consequente normativo, contudo, sempre dependerá do ato
de vontade livremente manifestado pelos sujeitos.
Neste contexto é que cabe considerar a estrutura da "norma jurídica completa", que
compreende a norma primária, de natureza material, e a norma secundária, de caráter
processual.
Tais fatos podem ser tanto não-normados (normas precedentes) como fatos já
normados (normas deriviadas), e, neste último, há a descrição de uma conduta já prescrita no
consequente de outra norma jurídica, impondo-a, implicacionalmente, outra consequência
jurídica, de natureza punitiva ou não punitiva.
25
CARVALHO, Aurora Tomazini. Direito Penal Tributário. São Paulo: Quartier Latin., 2009. p. 73.
26
PAULINO, Maria Ângela Lopes. As Sanções no Direito Tributário. São Paulo: Noeses, 2015. p. 163.
15
Feitas essas considerações, da leitura do art. 136 do CTN, tem-se que, salvo lei em
contrário, a intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão do dano
são fatores irrelevantes para a atribuição de responsabilidade por infração.
"O art. 136 não afirma a responsabilidade sem culpa (stricto sensu).
Interpretado o preceito em harmonia com o art. 108, IV, a equidade já conduz
o aplicador da lei no sentido de afastar a sanção em situações nas quais, dadas
as circunstâncias materiais ou pessoais, ela não se justifique. Mesmo no que
respeita à obrigação de pagar tributo (em que, obviamente, não cabe a
discussão em tela, sobre "elemento subjetivo"), o Código se mostra sensível a
situações em que o erro ou ignorância escusáveis sobre matéria de fato
possam ter o efeito de viabilizar remissão (art. 172, II e IV).
27
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 472.
16
Robson Maia Lins, por sua vez, ressalta a possibilidade de a responsabilidade nas
relações jurídicas sancionatórias serem de ordem objetiva ou subjetiva, a depender dos critérios
que o legislador empregar para compor o antecedente da norma jurídica.
Já para João Carlos de Lima Junior, a responsabilidade por infrações será subjetiva,
no entanto, haverá a presunção de culpa cabendo ao sujeito passivo demonstrar que não incorreu
na conduta infracional:
Neste cenário, nos parece mais acertada a corrente doutrinária que admite tratar-se
a hipótese do art. 136 do CTN de responsabilidade subjetiva com culpa presumida - presunção
esta relativa, que admite a produção de prova em contrário pelo contribuinte ou responsável. É
a opção que pondera, simultaneamente, a capacidade da verificação pela Administração Pública
e a impossibilidade de se punir objetivamente aquele que não tenha concorrido para a prática
da infração ou ao menos admitido a sua ocorrência.
Em que pese essa seja a regra, o próprio CTN prevê a possibilidade de a lei dispor
diversamente, afastando a presunção de culpa do contribuinte para impor à Autoridade
Fazendária o dever de demonstrar o dolo específico, como é o caso da multa qualificada.
28
LINS, Robson Maia. Curso de Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Noeses, 2019. p. 548/549.
29
LIMA JUNIOR, José Carlos de. Interpretação e aplicação das multas de ofício, de ofício qualificada, de ofício
agravada e isolada. São Paulo: Noeses, 2018. p. 126.
17
"O adjetivo "de ofício", claramente, faz alusão apenas ao meio pelo qual esse
crédito é constituído, que é o lançamento de ofício. Significa dizer: a multa de
ofício se distingue da chamada multa "de mora" porque o dever de pagá-la é
constituída pela Administração Pública por meio de um lançamento de
ofício"30
30
LINS, Robson Maia. Curso de Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Noeses, 2019. p. 550.
18
Neste cenário, ressalta que a legislação tributária representa diversos valores, como
a ordem pública, o convívio social, a federação, a segurança jurídica, entre outros que somente
são realizáveis com a capacidade de custeio do Estado. Assim, o dolo axiológico autorizador
da multa qualificada refere-se ao agir em menosprezo a tais valores, cabendo ao aplicador
ponderar se "o comportamento apenado encerra desvalor ou se foi realizado como consequência
de toda a desordem jurisprudencial, doutrinária e legislativa inerentes à matéria tributária"32.
31
LIMA JUNIOR, José Carlos de. Interpretação e aplicação das multas de ofício, de ofício qualificada, de ofício
agravada e isolada. São Paulo: Noeses, 2018. p. 181..
32
LIMA JUNIOR, José Carlos de. Interpretação e aplicação das multas de ofício, de ofício qualificada, de ofício
agravada e isolada. São Paulo: Noeses, 2018. p. 181.
19
Em que pese tenha sido voto vencido quanto a multa qualificada, o Conselheiro
Relator Thiago Duca Amoni tece relevantes considerações sobre a responsabilidade solidária
da pessoa jurídica, independente da verificação do benefício da tributação diferenciada em
decorrência do contrato de parceria rural e sua classificação como contrato de arrendamento
20
rural, bem como, acerca da responsabilidade fazendária quando da comprovação do dolo para
fins de qualificação da multa de ofício.
Tal como nos acórdãos acima analisados, o instrumento contratual celebrado entre
as partes e suas respectivas cláusulas foi peça fundamental na montagem do fato jurídico em
sentido estrito contida na decisão, o qual implicou na desconsideração do contrato de parceria
e na manutenção do lançamento como omitido decorrente de contratos de arrendamento rural,
na forma de aluguel:
[...] No caso concreto não tenho como presumir que a conduta foi eivada de
vício, mas tão somente de omitir do fisco com conhecimento de fato relevante.
Foi invocada, ainda, a Súmula 14 do CARF. Por fim, a decisão excluiu a exigência
da multa isolada do carnê-leão, aplicada concomitantemente com a multa de ofício e;
desqualificou a multa de ofício, reduzindo-a ao percentual inicial de 75%.
22
No que toca à parte não conhecida do recurso, tratava-se da multa isolada aplicada
em razão do não recolhimento mensal, por meio do carnê-leão, do Imposto de Renda – IRPF.
Tal como na decisão acima analisada, a desconsideração do contrato de parceria, convertendo-
o em contrato de arrendamento, implicou em hipótese de descumprimento de obrigação
acessória vinculada a esta modalidade contratual pelo contribuinte. Todavia, como essa parte
do auto não foi atacada na Impugnação, o recurso, nessa parte, não foi conhecido.
[...]
[...]
O pagamento foi estipulado em quantia fixa de produto por área cultivada, não
havendo qualquer previsão de pagamento de variação em função da melhor
ou pior produção.
Por fim, é de se ressaltar que, nessa autuação, a DRJ competente não aplicou multa
qualificada.
CONCLUSÃO
Isto porque, de acordo com a lei em comento, a prefixação da quantidade a ser paga
– em produtos, e não em dinheiro – e até mesmo o adiantamento do valor estimado referente a
essa quantia de frutos, não teriam o condão de desnaturar, por si só, o contrato de parceria rural.
24
Exige-se, no entanto, que tal previsão esteja atrelada ao ajuste respectivo ao término do vínculo
contratual, bem como, à condição de que o parceiro-outorgante estará sujeito a variabilidade do
preço das commodities agrícolas, estando exatamente aí, o fator “risco”.
Como considerado ao longo do trabalho, o art. 136 do CTN prevê como regra a
responsabilidade subjetiva com presunção de culpa por parte do sujeito passivo, a quem
compete comprovar que não concorreu para a prática da infração. Nos casos ora analisados, no
entanto, as alegações trazidas pelos contribuintes foram refutadas para prevalecer o
entendimento de que bastaria a pré-fixação de valores para afastar o compartilhamento de riscos
próprio do contrato de parceria rural, presumindo-se, com isto, a culpa do sujeito passivo pelo
não pagamento do tributo, atraindo a aplicação da sanção pecuniária.
Tal postura não se mostra a mais acertada. Como bem destacado pelo Conselheiro
Thiago Duca Amoni em voto vencido proferido no acórdão 2002-001.764, a simples celebração
de negócio jurídico cuja tributação, por determinação legal, é mais favorecida, não é suficiente
para constituir a intenção dolosa de fraude ou sonegação.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 2ª ed. São Paulo: EDIPRO, 2014.
CARVALHO, Aurora Tomazini. Direito Penal Tributário. São Paulo: Quartier Latin., 2009.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: linguagem e método. 6. ed. São Paulo:
Noeses, 2015.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria das Obrigações Contratuais
e Extracontratuais. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
LIMA JUNIOR, José Carlos de. Interpretação e aplicação das multas de ofício, de ofício
qualificada, de ofício agravada e isolada. São Paulo: Noeses, 2018.
LINS, Robson Maia. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 1. Ed – São Paulo: Noeses, 2019.
LOUBET, Leonardo Furtado. Tributação federal no Agronegócio. 1ª ed. São Paulo: Noeses,
2017.
Lógica e direito / Alaôr Caffé Alves ... [et. al.]; organização Lucas Galvão de Britto;
coordenação Paulo de Barros Carvalho. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2016.
MUZZI, Adriano Andrade... [et al.]. A tributação no Agronegócio. Organizado por Luiz
Henrique Nery Massara, Marcelo Hugo de Oliveira Campos, Paulo Honório de Castro Júnior.
Belo Horizonte: Casa do Direito, 2020.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito do Agronegócio. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. p. 375 de
705. Posição 11076 de 20004.