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RECUPERAÇÃO

JUDICIAL DE DIREITO
FALIMENTAR:
RECUPERAÇÕES
JUDICIAL E
EXTRAJUDICIAL

Eduardo Zaffari
Recuperação judicial
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir recuperação judicial e os requisitos para sua concessão.


„„ Reconhecer as espécies de recuperação judicial.
„„ Identificar o procedimento da recuperação judicial.

Introdução
O direito comercial, e seu sucedâneo direito empresarial, evoluiu na
compreensão de que o insucesso empresarial é inerente à atividade e
nem sempre o empresário em crise econômico-financeira chega a esse
ponto em razão de fraude. Fatores externos podem ocasionar a necessi-
dade de adoção de medidas para recuperar o negócio, salvaguardando
credores, empregados e economia. Nesse contexto, a recuperação judicial
apresenta-se como uma alternativa que atenderá à função social da
empresa e ao princípio da preservação da mesma.
Neste capítulo, você estudará os requisitos necessários para a con-
cessão do benefício da recuperação judicial, suas espécies e regime
especial. Verá também, o procedimento da recuperação judicial, desde
o seu requerimento até o seu encerramento.

1 Recuperação judicial e os requisitos


para a sua concessão
A atividade empresarial, outrora denominada apenas como atividade comer-
cial, não surge de forma ocasional, mas em decorrência da especialização e
organização de fatores de produção para o fornecimento de bens e serviços.
Essa organização, ao longo do tempo, ocasionou o surgimento da atividade
comercial (hoje denominada empresarial, por ser mais abrangente) e do ente
reconhecido como empresa.
2 Recuperação judicial

Na lição de Rubens Requião “[...] estes organismos econômicos, que se


concretizam da organização dos fatores de produção e que se propõem à
satisfação das necessidades alheias, e, mais precisamente, das exigências do
mercado geral, tomam a terminologia econômica de empresa” (REQUIÃO,
2015, p. 40). O jurista paranaense demonstrava, em sua obra, que o conceito
de empresa advém do conceito econômico, consistindo em vão esforço a pro-
dução de um conceito unicamente jurídico, dada a importância dos reflexos
econômicos na formação dessa entidade. Nesse sentido, Pedro Lenza afirma
que “[…] a empresa como fato juridicamente relevante, imprescindível para
o sistema de produção capitalista e hábil a fornecer os produtos e serviços de
que todos necessitamos […]” (LENZA, 2019, p. 190).
É exatamente dessa importância que surge a chamada função social da
empresa, que hoje é reconhecida pela doutrina como o princípio norteador das
relações empresariais. Segundo Lenza, esse princípio determina a limitação
do interesse privado pelo interesse público para que sejam evitados o abuso
econômico ou a inércia do poder público. Entretanto ressalta o doutrinador
(LENZA, 2019, p. 74):

A função social da empresa não protege somente a pessoa jurídica contra


atos ruinosos de seus sócios (impondo-se como poder-dever uma condução
dos objetivos sociais compatível com o interesse da coletividade), senão
também impondo ao poder público a preservação da atividade empresarial,
tão necessária ao desenvolvimento econômico. A função social da empresa
busca assegurar ainda a utilização dos bens de produção segundo sua função
social, de modo que deverá haver, sob pena de violação a esse princípio,
responsabilidade social na atividade empresarial.

Nesse sentido, Fran Martins, na atualização de sua obra, destaca que a Lei
nº. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, também chamada de Lei de Recuperação
Judicial e Falências, pois regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a
falência do empresário e da sociedade empresária, remodela a antiga Lei
de Falências (Decreto-Lei nº. 7.661, de 1 de junho 1945) para valorizar a
conservação dos ativos. Em outras palavras, a atual Lei nº. 11.101/2005 surge
a partir da concepção de preservar o negócio, com o menor impacto possível
para aqueles que se relacionam com a empresa, sejam trabalhadores, demais
empresários e entes administrativos (MARTINS, 2017).
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A preservação da empresa atende muito mais do que a interesses privados do


empresário, mas também a interesses econômicos da comunidade e do Estado:

[…] a recuperação visa a promover (1) a preservação da empresa, (2) sua


função social e (3) o estímulo à atividade econômica (atendendo ao cânone
constitucional inscrito no artigo 3º, II e III, que definem como objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil garantir o desenvolvimento
nacional e erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais). (MAMEDE, 2019, p. 147).

A preservação da empresa e sua recuperação vêm expressamente previstas em lei,


conforme consta no art. 47 da Lei nº. 11.101/2005, em que consta o seguinte:

A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da si-


tuação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica. (BRASIL, 2005,
documento on-line).

A Lei nº. 11.101/2005 instituiu a chamada recuperação judicial, que


visa a atender o princípio de preservação da empresa e sua função social.
Os doutrinadores costumam conceituar a recuperação judicial a partir de
suas finalidades, conforme se constata em Pedro Lenza, para quem (LENZA,
2019, p. 1315):

A recuperação judicial busca, então: a) um objetivo: viabilizar a superação


da situação de crise econômico-financeira do devedor; b) três estratégias de
atuação: permitir a manutenção da fonte produtora, permitir a manutenção
do emprego dos trabalhadores e permitir a proteção dos interesses dos cre-
dores; c) três consequências: a preservação da empresa, sua função social e
o estímulo à atividade econômica.
4 Recuperação judicial

Para Fran Martins a recuperação judicial e a extrajudicial “[…] visam ao


exaurimento dos meios instrumentais para se evitar a falência da empresa em
crise, mantendo os empregos, a arrecadação, fornecedores e, acima de tudo,
o nome com o respectivo conceito no mercado” (MARTINS, 2017, p. 315).
Mamede conceitua: “[...] a recuperação judicial é instituto, medida e procedi-
mento que se defere apenas em favor de empresas, ou seja, que somente pode
ser requerida por empresários ou sociedades empresárias” (MAMEDE, 2019,
p. 148). Dessa forma, conceituamos a recuperação judicial como o benefício
legal disponibilizado ao empresário ou sociedade empresária para a superação
de sua crise econômico-financeira e cumprimento de sua função social.
O requerimento de recuperação judicial apresenta requisitos a serem satis-
feitos para que possa ser deferido o benefício. Esses requisitos estão descritos
no art. 48 da Lei nº. 11.101/2005 e consiste no exercício da atividade empresarial
há mais de 2 (dois) anos; não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas,
por sentença transitada em julgado, as suas responsabilidades; não ter, há
menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; não ter,
há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com
base em plano especial (de microempresas e empresas de pequeno porte);
não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei nº. 11.101/2005.

A pessoa jurídica que exerça a atividade rural poderá comprovar o exercício de sua
atividade através da Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica
(DIPJ), a qual é entregue à Receita Federal, desde que as informações tenham sido
tempestivamente prestadas.

Discordando de Gladston Mamede, Pedro Lenza considera apenas um


requisito, qual seja, o exercício da atividade empresarial. Tal atividade se
divide em um aspecto formal (o registro no órgão competente há pelo menos
dois anos) e um aspecto material (de atividade real e efetiva da atividade
empresarial pelo prazo mínimo de dois anos) (LENZA, 2019). Entretanto,
não se pode ignorar que a própria Lei de Recuperação prescreve que, para
além do exercício (material ou formal) da atividade empresária, ela deverá
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demonstrar que atende “[…] aos seguintes requisitos, cumulativamente”, nos


termos do art. 48 da lei.
A exigência de comprovação de um período mínimo para o gozo do benefí-
cio legal se justifica porque se presume que, nesse tempo, a empresa conquistou
uma importância empresarial que se lhe permita o esforço na sua recuperação.
Ademais, já tendo gozado desse benefício em outra oportunidade, não tendo
sanado suas responsabilidades em processo falimentar ou tendo perpetrado
crime falimentar, o empresário ou sociedade empresária não se mostra viável
de ter o auxílio e envolvimento de seus credores em sua recuperação. Em outras
palavras, o empresário ou sociedade empresária não se demonstrou habilitado
a merecer o benefício e esforço de um procedimento de recuperação.

2 Espécies de recuperação judicial


A Lei nº. 11.101/2005 representa não apenas o procedimento a ser adotado para
aquelas empresas que não mais têm condições de permanecer no mercado, por
meio do instituto da falência, mas também a condição de possibilidade de recu-
peração daquelas sociedades ou empresários que atravessam um momento de
desorganização ou revés econômico-financeiro. Por essa razão, a lei apresenta
diversas oportunidades de recuperação do empresário ou sociedade empresária.
Destacam-se três espécies de recuperação: a recuperação extrajudicial, descrita
entre os arts. 161 e 167 da Lei nº. 11.101/2005; a recuperação judicial, prevista
a partir do art. 47 da mesma lei; e um procedimento de recuperação judicial
especial, previsto entre os arts. 70 a 72 da lei. Assim, há três espécies de pos-
sibilidade de recuperação do empresário, uma extrajudicial e duas judiciais.
A tramitação, a complexidade e os altos custos que podem estar envolvidos
no procedimento de recuperação judicial, seja pela questão documental, seja
pelos valores de honorários, perícias, taxas, entre outros, levou o legislador a
criar um procedimento destinado às microempresas e empresas de pequeno
porte, as quais compõem a grande maioria das empresas do país. O legislador
criou um microssistema dentro da Lei de Recuperação, entre os arts. 70 a
72 da Lei nº. 11.101/2005, objetivando ser mais célere, barato e simplificado
para o pequeno e microempresário. A simplificação do procedimento tem,
como contrapartida, que apenas gozará do benefício um número restrito de
empresários. Considerando que se trata de recuperação judicial, veremos aqui
apenas as peculiaridades dessa recuperação simplificada, pois as regras gerais
da recuperação são tratadas no tópico seguinte.
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As microempresas e empresas de pequeno porte gozam de uma série de benefícios,


inclusive fiscais, pois é a própria Constituição Federal de 1988 que determina a especial
atenção a essas empresas, como consta no art. 179, em que

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às


microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em
lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simpli-
ficação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e
creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei. (BRASIL,
1988, documento on-line).

O procedimento da recuperação judicial especial se destina exclusiva-


mente aos devedores empresários que se enquadrem como microempresas
(ME) ou empresas de pequeno porte (EPP), assim consideradas pela Lei
Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. O art. 3º, da Lei Complemen-
tar nº. 123, de 14 dezembro de 2006, prescreve em seus dois incisos que será
microempresa aquela que “I - aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)” e empresa
de pequeno porte aquela que “II - [...] aufira, em cada ano-calendário, receita
bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou
inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais)”. (BRASIL,
2006, documento on-line). O critério de valores deve ser medido pela receita
bruta decorrente da venda de bens e produtos, excluídas as vendas canceladas
e descontos incondicionais concedidos.

A LC nº. 123/2006 impõe outras condicionantes objetivas para o enquadramento,


as quais não serão abordadas neste momento. O empresário deverá comprovar a sua
qualidade de empresário há, no mínimo, dois anos (tanto no aspecto material quanto
formal), assim como deverá comprovar o seu enquadramento como ME ou EPP.
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Outro ponto importante é que Lei Complementar nº. 147, de 7 de agosto


de 2014, incluiu todos os credores do recuperando nesse regime, ainda que
não vencidos, à exceção dos créditos expressamente previstos no inciso I
do art. 71 da Lei nº. 11.101/2005, como os fiscais e de repasses de recursos
oficiais. Antes da alteração legislativa, apenas estavam submetidos ao regime
especial os credores comuns já vencidos, significando a inclusão de todos
os credores representativo benefício ao microempresário e empresário de
pequeno porte.
O empresário que se enquadre nessa condição irá requerer a recuperação
judicial conforme o regime comum, apresentando a petição inicial com
os requisitos da recuperação judicial comum, comprovando o seu enqua-
dramento especial como ME ou EPP, e deverá requerer expressamente a
adoção do regime de recuperação judicial especial. Caso não o faça, sua
concordância se estenderá com o processamento na forma da recuperação
judicial comum. Se a petição inicial apresentar todos os requisitos gerais e
específicos, como a comprovação do enquadramento e requerimento pelo
regime especial, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial.
A decisão de deferimento será publicada com a lista dos credores apresentada
pelo recuperando, abrindo-se o prazo de 60 dias para o devedor apresentar
o plano de recuperação judicial especial.
Conforme previsto no art. 71, II, da Lei de Recuperação, o plano preverá
o pagamento parcelado dos débitos em até 36 (trinta e seis) parcelas men-
sais, iguais e sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa sistema
especial de liquidação e de custódia (Selic). O plano ainda poderá conter
a proposta de abatimento do valor das dívidas, e o pagamento da primeira
parcela pode ser proposto com uma carência de 180 dias. Caso o recuperando
necessite contratar empregados ou aumentar despesas durante o período
de recuperação, deverá prever essa possibilidade no plano e contar com
a autorização judicial após ouvidos o administrador judicial e Comitê de
Credores. Até a LC nº. 147/2014, o parcelamento deveria ser acrescido
com juros de 12% ao ano, consistindo em alteração pela taxa Selic uma
fundamental alteração e benefício.
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A Lei nº. 11.101/2005 prescreve que os credores se dividirão em classes na assembleia


de credores, conforme art. 41, sendo estes:

I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes


de acidente de trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com
privilégio geral ou subordinados;
IV – titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa
de pequeno porte. (BRASIL, 2005, documento on-line).

Apresentado o plano e recuperação especial pelo recuperando, o juízo


publicará um edital de aviso aos credores sobre a existência do plano, com
prazo de 30 dias para que eles aprovem o plano ou apresentem oposições.
Se nenhum dos credores apresentar oposição, o plano estará tacitamente
aprovado, com a continuidade da recuperação judicial e pagamento dos valores
devidos na forma prevista no plano de recuperação especial. Caso algum dos
credores que representem mais da metade de qualquer uma das classes de
créditos abrangidos pela Lei de Recuperação apresentem objeção ao plano,
o juiz decretará automaticamente a falência do devedor.
Nesse aspecto, a Lei de Recuperação é mais severa com o microempreen-
dedor e empresário de pequeno porte do que no regime comum de recuperação
judicial. Entretanto, como afirma Marlon Tomazette “[...] o melhor seria afastar
esta decretação automática da falência, fazendo uma interpretação teleológica,
para considerar que o plano só será rejeitado se for rejeitado pela maioria das
classes abrangidas (objeção de mais da metade dos créditos), aplicando-se
neste caso a mesma divisão de classes do artigo 41” (TOMAZETTE, 2017,
p. 347). Eventuais objeções deverão ser fundamentadas, demonstrando a
inviabilidade do plano de recuperação especial, sob pena de indeferimento da
objeção e aprovação do plano mesmo com a objeção. Alguns doutrinadores
sustentam que, apresentada a objeção devidamente fundamentada, poderá o
juiz oportunizar ao devedor e alteração do plano ou, até mesmo, audiência
para a superação do conflito, embora a legislação não preveja essas hipóteses
(TOMAZETTE, 2017).
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3 Procedimento da recuperação judicial


O procedimento da recuperação judicial se inicia com a apresentação da petição
inicial pelo empresário ou sociedade empresária, atendendo aos pressupostos
do art. 48 da Lei nº. 11.101/2005, e instruída com os documentos do art. 51
da mesma, quais sejam:

I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e


das razões da crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e
as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita
observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obriga-
ção de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza,
a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem,
o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis
de cada transação pendente;
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções,
salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente
mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas,
o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos adminis-
tradores do devedor;
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas even-
tuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de
investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições
financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio
ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que
este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa
dos respectivos valores demandados. (BRASIL, 2005, documento on-line).
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A redação da petição inicial e sua instrumentalização deve ser detalhada, pois, estando
com os documentos necessários, o juiz deferirá o processamento da recuperação
judicial, nos termos do art. 52, da Lei nº. 11.101/2005, que prescreve que “estando em
termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento
da recuperação judicial”. Entretanto a petição deverá ainda convencer da crise da
empresa e da viabilidade de recuperação da empresa.

Se a petição inicial estiver devidamente instrumentalizada conforme


prescreve a lei, o juízo deferirá o processamento da recuperação judicial.
Conforme afirma Pedro Lenza, o empresário tem direito à recuperação ju-
dicial, consistindo em verdadeiro direito subjetivo ao processamento da
recuperação judicial (LENZA, 2019). Inclusive, pela dicção do art. 52 da Lei
nº. 11.101/2005, é dever do juiz deferir o processamento da recuperação pelo
empresário, exarando a sentença, que se trata de um ato complexo.
Entre as principais providências que o juiz determinará, será necessária
a nomeação de um administrador judicial da recuperação (art. 21 da Lei
nº. 11.101/2005). Além disso, o juiz:

„„ determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para


que o requerente exerça as suas atividades (para a contratação com o
poder público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios ainda serão necessárias as certidões);
„„ ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor;
„„ determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas men-
sais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição
dos administradores da recuperanda;
„„ ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta
às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em
que o devedor tiver estabelecimento.
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A sentença que defere o processamento da recuperação judicial deve ser


publicada imediatamente em órgão oficial por meio de edital, contendo o
resumo do pedido do recuperando e a decisão que deferiu o processamento,
com a relação nominal dos credores, valores atualizados e classificação de
cada crédito. Deve constar no edital, também, a advertência aos credores para
a habilitação de seus créditos ou objeção ao plano do recuperando.

Observe-se que a sentença defere o processamento da recuperação judicial não está


concedendo a recuperação, pois dependerá da anuência dos credores do devedor.

A sentença que defere o processamento da recuperação abre o prazo de


60 dias para a recuperanda apresentar o chamado plano de recuperação
judicial, sob pena de ser decretada a falência da devedora. Além disso, da
publicação da sentença de processamento, os credores poderão convocar uma
assembleia geral para a constituição do Comitê de Credores ou para a imediata
deliberação sobre a quebra da empresa recuperanda, nos termos do art. 73, I,
da Lei nº. 11.101/2005.
O plano de recuperação judicial deve ser suficiente para recuperar a em-
presa recuperanda e convencer os credores a aprovar o plano proposto, o que
significa que deve atender aos interesses desses credores de alguma forma.
Se o plano não tiver aceitação pelos credores, eles não votarão favoravelmente,
e a sociedade empresária terá a sua quebra decretada.
A recuperanda poderá apresentar qualquer espécie de plano para se re-
cuperar, mas a Lei nº. 11.101/2005 apresenta dezesseis hipóteses no art. 50.
O plano apresentado será publicizado em edital com prazo de 30 dias, para a
concordância pelos credores. Se eles não objetarem o plano, o juízo poderá
decidir concedendo a recuperação judicial. Nesta hipótese, o empresário
passará a cumprir o plano de recuperação judicial proposto.
12 Recuperação judicial

O crédito tributário não está sujeito ao plano de recuperação judicial. Entretanto,


conforme enunciado do Conselho da Justiça Federal, é direito do contribuinte o
parcelamento do crédito tributário, conforme consta no Enunciado 55: “O parcelamento
do crédito tributário na recuperação judicial é um direito do contribuinte, e não uma
faculdade da Fazenda Pública, e, enquanto não for editada lei específica, não é cabível
a aplicação do disposto no art. 57 da Lei n. 11.101/2005 e no art. 191-A do CTN”. (BRASIL,
[200-?], documento on-line).

Entretanto, existindo a objeção pelos credores quanto ao plano de recupe-


ração judicial apresentado, o juiz não poderá decidir quanto ao acolhimento
do plano e à continuidade da recuperação judicial nos termos propostos.
O juízo deverá convocar assembleia geral de credores, que deliberará sobre a
aprovação, alteração ou rejeição do plano proposto. Os credores poderão rejeitar
o plano de recuperação em assembleia, hipótese em que o juiz convolará a
recuperação judicial em falência. Mas a assembleia de credores poderá, ainda,
aprovar o plano que fora proposto inicialmente à vista das argumentações
dos participantes e seus votos, que também poderão propor alternativas de
recuperação que, uma vez aprovadas na assembleia, levarão à aprovação da
recuperação judicial pelos credores.

As alterações propostas apenas serão possíveis se não trouxerem prejuízos aos credores
ausentes e se contarem com a concordância do devedor.

A assembleia, que será presidida pelo administrador judicial, não poderá


ser suspensa ou adiada por qualquer decisão judicial liminar, conforme pres-
creve expressamente o art. 40 da Lei de Recuperação. Essa impossibilidade
se justifica porque as ações judiciais, em face do recuperando, deverão ser
suspensas pelo prazo de 180 dias, e qualquer adiamento da assembleia traria
prejuízo ao devedor e demais credores.
Recuperação judicial 13

Aprovado o plano de recuperação, o recuperando deve cumprir o plano


de recuperação até o seu encerramento, que se dará conforme uma das três
hipóteses, quais sejam:

1. o devedor cumpre todas as obrigações assumidas no plano de recupe-


ração aprovado no prazo de dois anos desde a sua aprovação (mesmo
que ainda restem obrigações posteriores, que serão pagas nas condições
pactuadas);
2. o recuperando deixa de cumprir as obrigações pactuadas no plano e
vencidas dentro desses dois primeiros anos, quando o juiz convolará a
recuperação em falência;
3. o devedor deixa de cumprir as obrigações do plano após o transcurso
do prazo dos dois primeiros anos, quando poderá o credor executar o
seu crédito ou pedir a falência do recuperando (que não mais poderá
pedir nova recuperação).

Se o recuperando cumprir todas as obrigações previstas para os dois primei-


ros anos a partir do deferimento da recuperação judicial, mesmo que o plano
de recuperação tenha previsão para além desse prazo, o juiz dará sentença de
encerramento da recuperação judicial, tendo-a por cumprida.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,


DF, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 16 jul. 2020.
BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado 55. Brasília, DF, [200-?]. Disponível em:
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/128. Acesso em: 16 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial
e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF, 2005. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso
em: 16 jul. 2020.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212
e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14
14 Recuperação judicial

de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga


as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília,
DF, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm.
Acesso em: 16 jul. 2020.
LENZA, P. (org.). Direito Empresarial esquematizado. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
MAMEDE, G. Falência e recuperação de empresas. São Paulo: Atlas, 2019.
MARTINS, F. Curso de Direito Comercial. 40. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
TOMAZETTE, M. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas.
8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. v. 3.

Leituras recomendadas
COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Falimentar. São Paulo: Saraiva, 1995. 2 v.
TEIXEIRA, T. Direito Empresarial sistematizado: doutrina, jurisprudência e prática. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2019.

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