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FACULDADE DE RONDÔNIA – FARO

CURSO DE DIREITO

Disciplina: Direito Empresarial

PROFESSOR: Bernardo Augusto Galindo Coutinho


ALUNOS:
Fernando Danner
Francisco Johnny de Souza Ribeiro
Márcio Secco
Raimundo Tadeu Brito da Silva

Unidades 29:
Recuperação Judicial; Viabilidade da empresa;
Meios de recuperação da empresa; Processo da recuperação judicial.
29.1:
Microempresa e empresa de pequeno porte.
29.2:
Convolação em falência.
A recuperação judicial de empresas.
PRINCÍPIO DA VIABILIDADE DA EMPRESA

A Lei de Recuperação de Empresas trata de fixar uma dicotomia fundamental, entre as


empresas inviáveis e viáveis, sendo, por decorrência lógica, o processo de recuperação
recomendado unicamente para estas, ao passo que a falência se mostra mais adequada para aquelas.

O artigo (art. 47 da Lei 11.101 de 2005) vem atrelado ao Princípio da Preservação da


Empresa. Hoje tem-se uma grande preocupação com a preservação das empresas no brasil.

ASSIM NOS MOSTRA A LEI 11.101/2005 (Lei de recuperação da empresa) NO SEU


CAPÍTULO III. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Art. 47, A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

A viabilidade como pressuposto da recuperação judicial.

A viabilidade da empresa a ser recuperada não é questão meramente técnica, que possa ser
resolvida apenas pelos economistas e administradores de empresas. Quer dizer, o exame da
viabilidade deve compatibilizar necessariamente dois aspetos da questão: não pode ignorar nem as
condições econômicas a partir das quais é possível programar-se o reerguimento do negócio, nem a
relevância que a empresa tem para a economia local, regional ou nacional.

Para merecer a recuperação judicial, o empresário individual ou a sociedade empresária


devem reunir dois atributos:

Ter potencial econômico para reerguer-se e importância social. Não basta que os
especialistas se ponham de acordo quanto à consistência e factibilidade do plano de reorganização
sobre o ponto de vista técnico. É necessário que seja importante para economia local, regional ou
nacional que aquela empresa se organize e volte a funcionar com regularidade; em outros termos,
que valha a pena para a sociedade brasileira arcar com os ônus associados a qualquer medida de
recuperação de empresa não derivada de solução de mercado.

O princípio da viabilidade econômico-financeira se trata de preceito basilar para


empresas que almejam beneficiar-se da recuperação judicial, sendo pressuposto indispensável ao
deferimento da recuperação, sem o qual a empresa não logrará êxito em demonstrar a sua
condição de cumprir as disposições contidas em seu plano de recuperação judicial, bem como com
os preceitos do art. 47 da LRE, ou seja, não conseguirá manter os postos de trabalho, cumprir sua
função social e estimular a atividade econômica como um todo.
Importante ressaltar que a análise da viabilidade da empresa não deve se ater a aspectos
puramente econômicos, mas sim considerar outros vetores de igual importância para aferição da
real possibilidade de reerguimento, como por exemplo o tempo de existência da empresa no
mercado, sendo certo que quando da análise o tratamento para novas e antigas empresas deve ser
diverso, de sorte que, via de regra, se entende que empresas muito jovens somente podem ter acesso
à recuperação de empresas, caso haja significativo potencial econômico ou impacto social. Da
mesma forma, há de se levar em conta o porte da empresa, no sentido de dosar o grau de
exigência das medidas de recuperação, levando em conta a dimensão e a amplitude das atividades
de cada recuperanda em potencial

A viabilidade econômica da empresa em crise deve ser analisada pelos credores (agentes de
mercado) no momento de se votar o plano apresentado pela devedora. É competência dos credores e
do mercado em geral fazer esse tipo de análise. Não cabe ao magistrado fazer uma análise de
viabilidade econômica uma vez que tal questão diz respeito ao mérito do plano de recuperação
judicial, estando abrangido pela soberania da assembleia geral de credores.
Entretanto, na verdade, a perícia prévia não tem o objetivo de analisar a viabilidade
econômica da empresa por duas razoes: primeiro, porque viabilidade econômica é questão afeta aos
credores; segundo, porque seria impossível a aferição da viabilidade econômica da empresa em
momento tão inicial do processo, considerando que uma empresa aparentemente inviável do ponto
de vista econômico poderia se viabilizar pelo plano aprovado pelos credores.

A perícia prévia (constatação preliminar) visa analisar, dentre outras coisas, outro tipo de
viabilidade, que consiste na capacidade que a empresa possui de gerar os benefícios que a lei busca
preservar. Portanto, a viabilidade para fins de se deferir o processamento da recuperação judicial
consiste na capacidade que a empresa possui de produzir, circular riquezas, gerar em pregos e
recolher tributos.

Nesse sentido, se durante a perícia prévia se constata que a empresa requerente encontra-se
fechada, sem atividade, sem produção, sem empregados e sem recolher tributos e que não tem
condições de gerar esses benefícios econômicos e sociais porque não possui clientes ou pedidos,
pergunta-se: qual seria a razão para se deferir o processamento da recuperação judicial, jogando-se
nas costas dos credores todo o peso do processo recuperacional. Todavia se desde logo se observa
que a empresa não gera qualquer dos benefícios sociais e econômicos que a lei busca preservar e
que, portanto, não haverá qualquer contrapartida de interesse social.

Conforme já visto, a recuperação judicial de empresas somente se justifica em função da


preservação dos benefícios econômicos e sociais que decorrem da manutenção das atividades
empresariais saudáveis. Todos os ônus que devem ser suportados por devedores e credores devem
encontrar contrapartida na produção de benefícios econômicos e sociais.

Nesse sentido, não faz qualquer sentido que se inicie um processo de recuperação
judicial (deferimento de seu processamento) se já é possível constatar desde logo que a empresa
não tem condições de gerar os benefícios que a lei busca preservar.

É esse o sentido de viabilidade que deve ser analisado pelo juiz no momento de deferir (ou
não) o processamento da recuperação judicial. A viabilidade econômica é questão que deve ser
analisada pelos credores no momento de votar o plano apresentado pela devedora.

Assim, diz-se que a recuperação judicial de empresas, busca corrigir disfunções do


sistema econômico, não substituindo, contudo, a iniciativa privada.
A recuperação judicial não pode significar, como visto, a substituição da iniciativa privada
pelo juiz na busca de soluções para a crise da empresa. Se a sobrevivência de determinada
organização empresarial em estado crítico não desperta o interesse de nenhum agente econômico
privado (empreendedores ou investidores), então, em princípio, as suas perspectivas de
rentabilidade não são atraentes quando comparadas com as das demais alternativas de investimento.
Ora, se assim for, ninguém vai perder dinheiro investindo naquele negócio. Contudo, pode
ocorrer de a solução de mercado não se viabilizar por alguma disfunção do sistema
econômico, como no exemplo do valor idiossincrático. Nesse caso, e com o objetivo de garantir o
regular funcionamento das estruturas do livre mercado, pode e deve o juiz atuar. Note-se, a
solução da crise não é dele, nem sequer deve ser aprovada por ele; o papel do estado-juiz deve ser
apenas o de afastar os obstáculos ao regular funcionamento do mercado.

Em suma, para além do aspecto econômico, deverá ser avaliado o impacto do encerramento
da atividade na comunidade onde a empresa exerce sua influência e a sua relevância face aos
concorrentes. Em outros termos, é necessário que a reorganização da empresa seja importante
para a economia, seja em âmbito local ou regional, para que se justifique suportar os ônus
associados a qualquer medida de recuperação.

Art. 50 – Lei 11.101/2005 – Meios de recuperação da empresa


A lei 11. 101/2005, no seu art. 50, contempla uma lista exemplificativa dos meios de
recuperação da atividade econômica – O art. 50 é bem extenso, na medida em que apresenta 18
incisos, 5º § (cinco parágrafos), sendo que o 4º § (quarto parágrafo) apresenta ainda 2 incisos.
O Prof. Fábio Ulhoa Coelho, em seu Curso de Direito Comercial (Vol. 3), ensina que na Lei
11.101/2005 estão contidos instrumentos financeiros, administrativos e jurídicos que normalmente
são empregados na superação de crises em empresas.
O Prof. Ulhoa Coelho salienta ainda que os administradores da sociedade empresária
interessada em pleitear o benefício em juízo devem analisar, assessorados por advogado e/ou
demais profissionais (contador, administrador etc.), se entre os meios indicados há um ou mais que
possam mostrar-se eficazes na recuperação da atividade econômica.
No entanto, o doutrinador ressalta que, normalmente, é exigida, nos planos de recuperação
de empresas, a combinação de dois ou mais meios, isso porque há uma complexidade considerável
nos processos de recuperações empresariais.
Apresento os aspectos mais importantes de cada um deles:
I) Dilação (ampliação) do prazo ou revisão das condições de pagamentos: o aumento do prazo
de vencimento ou também o abatimento no valor de suas dívidas permite a sociedade empresária
devedora a oportunidade de sua reestruturação.
Isso porque terá, por algum tempo, mais recursos em caixa — o que, consequentemente, lhe
dará mais capacidade de investimentos ou, também, de redução dos gastos com empréstimos
bancários.
O Prof. Fábio Ulhoa Coelho escreve que, entre as hipóteses de revisão das condições de
pagamento como meio de recuperação, está a substituição de garantias. Ou seja, a substituição de
garantias é um meio importante de recuperação de empresas com dificuldades econômico-
financeira, podendo ser vista, portanto, como uma modalidade específica de renegociação do
crédito.
Na hipótese de um credor concordar em abrir mão de sua garantia, ou aceitar substituí-la por
outra, a sociedade devedora passa a contar com bens em seu patrimônio liberados de ônus, de modo
que esses bens poderiam ser oferecidos como garantia em novas operações de financiamento.
Por fim, esses bens, desonerados, podem ser objeto de alienação em melhores condições de
mercado.
II) Operações societárias: As operações societárias — cisão, incorporação, fusão, transformação
da sociedade empresária —, somadas à constituição de subsidiária integral e venda de cotas ou
ações (ativos da sociedade empresarial devedora), se configuram como instrumentos jurídicos que,
por si sós, não garantem a recuperação da empresa em crise.
Para que essas operações sejam possíveis, faz-se necessário sua contextualização num
plano econômico capaz de mostrar claramente como sua efetivação apresentará as condições para a
retomada de sua atividade fim.
Na hipótese de o devedor pleitear o benefício da recuperação judicial, mencionando apenas
genericamente por meio de uma operação societária qualquer (por exemplo, “incorporação da
sociedade devedora por outra economicamente/tecnologicamente mais bem posicionada”), isso não
garante nem é suficiente para demonstrar a viabilidade do plano de recuperação.
Por isso, a lei exige que o devedor descreva e esclareça os aspectos mais importante da
operação.
Supondo que no momento do agravamento da crise econômico-financeira, que ensejou o
pedido de recuperação, o devedor não tenha condições de apresentar a parte envolvida ou o eventual
incorporador ou adquirente, mesmo assim ele deve apresentar o plano demonstrando que a operação
proposta é realista, isto no contexto econômico em que se insere a empresa em crise.
No caso de venda de cotas ou de ações da sociedade empresária (seus ativos), os lucros
obtidos nesses negócios dizem respeito tão somente aos membros titulares dessas participações
societárias, isto é, seus sócios ou acionistas.
III) Alteração do controle societário: pode ser total ou parcial; total: venda do poder de controle;
parcial: admissão de novo sócio no bloco controlador.
O objetivo é que a alteração do controle societário seja acompanhada de medidas de
revitalização da empresa, por exemplo, aumento do capital e mudanças na administração – sem
essas medidas, é improvável que ocorra a superação da crise.
IV) Reestruturação da administração/substituição total ou parcial dos administradores ou
modificação dos seus órgãos administrativos: a substituição de alguns ou de todos os
administradores (diretores) é medida geralmente necessária em qualquer recuperação de empresa,
exceto quando a crise da sociedade empresária é resultado de crises macroeconômicas – nesse caso,
não se visualiza responsabilidade direta dos diretores.
A substituição de parte ou de todos os diretores é uma medida útil nos casos em que a crise
econômico-financeira da empresa for motivada pela falta de condições ou de competência para os
administradores realizarem cortes de pessoal e de despesas, modernizarem o estabelecimento
empresarial ou otimizarem os recursos disponíveis.
O Prof. Ulhoa Coelho ressalta que é muito difícil à sociedade devedora assumir em juízo
que sua recuperação depende da substituição dos administradores.
É por isso mesmo que essa medida interessa exclusivamente aos planos alternativos de
recuperação, isto é, àqueles submetidos à Assembleia Geral pelos credores ou pelo administrador
judicial.
Além da substituição dos administradores, destaca-se como alternativa a possibilidade de
reorganização da atividade econômica pela modificação dos órgãos societários – dentre os
elementos disponíveis, temos a criação de comitês especializados nos Conselhos de Administração
ou de conselhos consultivos.
V) Concessão de direitos societários extrapatrimoniais aos credores/direito de eleição e poder
de veto: a lei concede aos credores de direitos societários extrapatrimoniais a possibilidade de
eleger administrador em separado ou a possibilidade de veto a determinadas matérias de interesse
da sociedade empresária.
Qual é o objetivo dessas conceções permitidas pela lei? Por exemplo, a admissão de um grau
mínimo de ingerência dos credores na administração da sociedade empresária em recuperação,
garantindo, assim, a realização dos objetivos descritos no plano de reorganização da sociedade
empresária.
Exemplo: se no plano de recuperação aprovado estava previsto o enxugamento da estrutura
administrativa da empresa em crise, a eleição de um diretor indicado pelos credores e o direito de
estes vetarem negócios e operações que possam aumentar o nível de endividamento são medidas
necessárias ao controle da implementação daquela meta.
VI) Reestruturação do capital: no contexto de empresas em crise econômica, financeira ou
patrimonial, o problema se resolve mediante a injeção de dinheiro novo, isto é, pelo ingresso de
recursos.
A reestruturação do capital, isto é, o ingresso de dinheiro novo provindo do capital social,
faz com que:
a) seja possível ampliar a competitividade da sociedade devedora, de modo que a crise
econômica possa ser superada gradativamente;
d) o ingresso de dinheiro novo no caixa da empresa permite desafogar o fluxo de pagamento
dos juros bancários, de modo que a crise financeira possa ser sanada;
c) o ingresso de dinheiro novo pode ajudar no pagamento dos passivos mais significativos
da sociedade empresária, afastando, portanto, o risco de perda patrimonial.
O problema principal diz respeito ao aparecimento, durante o processo judicial, de um
ou mais interessados dispostos a subscrever e integralizar o aumento do capital da devedora
que já se encontra em estado pré-falimentar. Normalmente, a reestruturação do capital da
sociedade devedora no decurso do processo judicial de recuperação destina-se a afastar
eventuais particularidades que possam dificultar as soluções de mercado.
VII) Transferência ou arrendamento do estabelecimento: se traduz na mudança da titularidade
ou da direção do estabelecimento empresarial da sociedade empresária em crise.
Na mudança de titularidade, temos a venda do estabelecimento para quem está em
condições de nele explorar a mesma atividade econômica de modo mais competente.
Na mudança da direção, temos que a propriedade do estabelecimento continua da
sociedade devedora; no entanto, a direção da atividade econômica passa a ser responsabilidade do
arrendador, pessoa ou sociedade que apresenta melhores condições de promover sua recuperação.
É importante salientar que a lei permite que a sociedade dos empregados seja o arrendador
da sociedade empresária em crise.
Por que disso? Porque os empregados são não só os maiores interessados na preservação de
seus postos de trabalho como os mais familiarizados com a realidade da empresa.
Porém, frisa-se que essa alternativa legal só é possível se dentre os líderes dos empregados
ficar provado que alguns deles apresentam espírito empreendedor, em todo caso, as condições
necessárias para promover a viabilização da empresa.
VIII) Renegociação das obrigações ou do passivo trabalhistas/redução salarial, compensação
de horário e redução da jornada de trabalho: é uma medida adotada quando se verifica que as
obrigações trabalhistas se constituem em entrave para a recuperação das contas da empresa em crise
financeira.
Assim, por meio de contrato coletivo de trabalho, é permitido, inclusive, a redução salarial e
mudanças na jornada de trabalho dos empregados.
Saliento que essa medida não depende só da aceitação dos órgãos da recuperação judicial,
durante a tramitação do processo, mas exige a expressa concordância dos empregados atingidos e
do sindicato que os representa.
Por fim, a lei também proíbe que a devedora faça negociações isoladas com seus
empregados, sob pena de, como expresso do direito do trabalho, estar realizando negócios
absolutamente ineficazes e, como consequência, inaptos a viabilizar a reorganização pretendida.
IX) Dação em pagamento ou novação. (i) Dação em pagamento é um acordo entre credor e
devedor, onde o credor (ou credores) aceita(m) receber bem diverso do contratado para
solução/pagamento da obrigação ativa da qual são titulares; na novação, que pode ser subjetiva ou
objetiva, há uma substituição das obrigações existentes por outras, novas.
Nesse caso, também, dação e novação são instrumentos jurídicos que, sozinhos, não levam à
recuperação judicial; por isso, devem ser contextualizados no plano econômico apresentado no
momento do pedido de recuperação judicial da atividade econômica.
X) Constituição de sociedade de credores: essa medida diz respeito ao fato de que, se os credores
entenderem que é possível recuperar a empresa, bem como se tiverem interesse em assumir todas as
consequências que dessa medida podem surgir, poderão constituir uma sociedade que continue a
explorar a empresa em crise.
O elemento decisivo é: ao se tornarem parte da sociedade, eles substituem seus direitos de
credores pelos de sócios, ou seja, em vez de possuírem o direito ao crédito, passam a ter a
expectativa de lucros na hipótese de sucesso na nova reorganização empresarial.
A capitalização de crédito (ingresso de credor ou credores na sociedade devedora como
sócios) se torna um dos elementos fundamentais para o sucesso na reorganização da empresa.
O credor, ao concordar em substituir o crédito titulado pela participação societária, permite
que haja uma redução do passivo da sociedade, possibilitando, como consequência, o aumento
seu capital social.
Porém, na hipótese de falência e de fracasso no plano de recuperação da empresa, o sócio
retorna à sua condição de credor.
XI) Venda parcial do ativo/dos bens: a venda de bens do patrimônio da sociedade devedora pode
se constituir num importante instrumento de obtenção dos recursos essenciais para o processo de
recuperação judicial.
No entanto, é importante que se verifique a importância do bem que se quer alienar, isto é,
se sua alienação não ameaça a continuidade da atividade empresarial.
Nesse sentido, em se tratando de um bem de produção essencial à atividade econômica
explorada, sua alienação poderá provocar um efeito inverso, ou seja, apressar e aprofundar a crise.
Por exemplo: na hipótese de imóvel no qual se encontra instalado o estabelecimento
empresarial, sua venda pode ser feita mediante cláusula de locação que garanta, por alguns anos, a
permanência da sociedade devedora no local mediante o pagamento de aluguel.
XII) Equalização de encargos financeiros: trata-se de uma medida de renegociação do passivo da
sociedade que explora a empresa em situação crítica.
Os bancos e as empresas de fomento mercantil estabelecem uma padronização dos encargos
financeiros de seus créditos, de modo a ajustá-los ao menor (ou em idênticas condições) dos
praticados no mercado.
Em suma, trata-se de uma medida que impõe aos credores uma redução no seu direito
creditório, pelo argumento de que juros menores não resultarão, para eles, em prejuízo.
O Prof. Fábio Ulhoa Coelho salienta que a equalização dos encargos financeiros se converte
numa medida justa por ser capaz de proporcionar a obtenção de recursos pela sociedade devedora
sem comprometer a lucratividade das atividades exploradas pelos credores.
XIII) Usufruto da empresa: é a transferência da direção da atividade econômica da empresa em
crise para pessoas mais hábeis e preparadas.
O “novo” dirigente do negócio se constitui no usufrutuário (que tem a posse ou usufrui de
algo/estabelecimento) do estabelecimento empresarial, sendo que os resultados da exploração da
atividade econômica são revertidos em seu benefício próprio (do usufrutuário, no caso).
É importante salientar que a sociedade devedora continua sendo a proprietária legítima do
estabelecimento durante o período de usufruto da mesma.
Essa medida adquire sentido não somente quando o usufrutuário assume a obrigação não só
de investir na ampliação e modernização do estabelecimento, mas também de mantê-lo ativo e
frutífero/produtivo até o período de finalização do usufruto.
XIV) Administração compartilhada: trata-se da divisão de responsabilidades entre a sociedade
devedora e seus credores, ou parte deles, nas decisões administrativas de interesse da empresa em
crise.
A administração compartilhada, normalmente, se dá pela indicação, por parte dos credores,
de um ou mais representantes nos órgãos de administração da sociedade devedora.
Além deste, outros instrumentos podem ser adotados: por exemplo, consultas recíprocas
(credor e devedor) ou a obrigação contratual de obter a prévia anuência do credor na tomada de
determinadas decisões ou na realização de determinados negócios.
XV) Emissão de valores mobiliários: em se tratando de sociedade por ações, esta pode emitir
debêntures ou outros valores mobiliários destinados a captação de recursos em mercados de
capitais.
A debênture é um valor mobiliário emitido por sociedades por ações, como título de
propriedade ou de crédito, que assegura a seus detentores o direito de crédito contra a companhia
emissora.
XVI) Adjudicação de bens: é a constituição de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) que
tem por objeto a adjudicação dos créditos, bens e ativos da sociedade empresária devedora.
Isto é, trata-se de uma transferência de capitais ou bens do seu dono para o credor, que, por
sua vez, assume o direito de domínio e posse sobre qualquer bem alienado.
A eficácia dessa medida depende da manutenção no estabelecimento da devedora dos bens
essenciais à reorganização da atividade empresarial explorada.
XVII – Conversão da dívida em capital social: a lei prevê que os credores, cujos créditos
constituam 2/3 do total do passivo da sociedade empresária em crise, possam propor a conversão
dos seus créditos em capital social.
XVIII- Venda integral da devedora: a lei prevê a possibilidade de venda integral da empresa
devedora no âmbito do processo de recuperação judicial, sem, contudo, transferência de dívida ou
sucessão das obrigações para o adquirente.
Além disso, cabe ressaltar que, na hipótese de venda integral da empresa devedora, devem
ser garantidas aos credores não submetidos ou não aderentes as condições no mínimo equivalentes
aquelas que teriam em caso de falência.
Para concluir: O Prof. Fábio Ulhoa Coeho ensina que os meios de recuperação de empresa
em dificuldade podem ser agrupados em quatro grupos: I) meios de reorganização de
administração (substituição dos administradores, usufruto de empresa, administração
compartilhada, etc.); II) meios de reestruturação do capital (operações societárias, constituição de
sociedades de credores, etc.); III) redução do passivo ou postergação de sua exigibilidade
(novação, capitalização de créditos etc.); IV) venda de bens (transferência do estabelecimento e
realização parcial do ativo).
Além disso, os Professores Mamede e Sanches ensinam que o dispositivo [recuperação
judicial] é uma aplicação positivada do princípio da função social da empresa e do princípio da
preservação da empresa, que reconhece que a possibilidade de ocorrência de situações de crise
econômico-financeiras é própria – é inerente – à empresa, ou seja, é inerente ao desenvolvimento de
empreendimentos negociais e, mesmo, da organização estruturada dos meios (bens) e processos de
produção para intervenção e atuação no mercado, visando à produção de vantagens econômicas
apropriáveis, a partir da produção e circulação de bens e/ou pela prestação de serviços.
Além disso, como nosso professor Bernardo ensinou em nossas aulas, é importante levar em
conta os fins legais atribuídos à recuperação judicial da empresa: a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.
Quando uma empresa pode entrar com recuperação judicial?
Não existe um parâmetro objetivo para definir em qual momento da crise de insolvência
uma empresa deve entrar com pedido de recuperação judicial. Depende da habilidade do gestor
perceber a chegada de um cenário de desequilíbrio, com perda de liquidez e fluxo de caixa negativo.
Cabe a ele, mais cedo ou mais tarde, pedir recuperação judicial ou simplesmente entrar em falência.
Especialistas apontam que há chance de superar uma recuperação judicial quanto mais cedo
se entra com o processo. Ou seja, em uma fase já de “pré-insolvência”. Porém, fatores externos
também exercem grande influência para que uma empresa sobreviva: cenário macroeconômico
favorável e acesso fácil a crédito.
Embora à primeira vista algo traumático, a recuperação judicial tem um forte componente de
autocomposição. É uma solução com forte caráter negocial entre as partes, o que facilita o sucesso
do processo. Assim, ganham todos os envolvidos e a sociedade. Por isso, é importante conhecer
todas as fases do processo de recuperação judicial.

Fases do processo
A recuperação judicial faz parte do Direito Empresarial. A Lei 11.101/05 divide o
processo em três etapas: postulatória, deliberativa e executória.
A etapa postulatória representa a fase em que se entra com o pedido de recuperação
judicial. Este pedido é feito por meio de uma petição inicial. No artigo 51 da Lei, estão
elencados os documentos que devem ser anexados à petição.
Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída
com:
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial
do devedor e das razões da crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos
exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o
pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação
societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive
aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do
endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor
atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos
respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis
de cada transação pendente;
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as
respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a
que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a
discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público
de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de
nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e
dos administradores do devedor;
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor
e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer
modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas
de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca
do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;

Toda essa documentação é avaliada pelo magistrado responsável pelo caso, que
decide se defere ou não o pedido de recuperação judicial. Essa decisão encerra a fase
postulatória, e em caso positivo, encaminha o processo para a deliberativa.
A etapa deliberativa é quando ocorre a discussão e aprovação do plano de
reestruturação. À empresa é dado um prazo de 60 dias para a elaboração desse plano, que
será votado pelos credores em assembleia. A aprovação depende de maioria dos votos, e não
cabe acordo extrajudicial para que ocorra de outra maneira.
Aprovado o plano, o magistrado concede à empresa a recuperação judicial. Começa
então a fase executória do processo, em que cabe ao requerente cumprir com todas as
obrigações previstas no plano. Ao Judiciário, bem como aos credores, cabe a fiscalização do
cumprimento.
O descumprimento do plano acarreta a conversão da recuperação em falência. Já o
cumprimento das obrigações, em seu devido prazo, resulta em sentença que decreta o
encerramento das fases do processo de recuperação judicial.

Microempresa (ME) E Empresa de Pequeno Porte (EPP)


Pode-se dizer que há a recuperação judicial com plano ordinário de recuperação e a
recuperação judicial com plano especial, do qual podem optar as empresas abrangidas pelo regime
jurídico das microempresas e empresas de pequeno porte . A microempresa ou empresa de pequeno
porte que optar pelo plano especial, o que será feito de forma expressa na petição inicial, deverá se
submeter aos regramentos específicos previstos entre os arts. 70 e 72 da lei 11.101/05. Claro é, no
entanto, que naquilo em que for omisso, será aplicável o mesmo procedimento adotado
ordinariamente nas demais recuperações judiciais.
Feita essa observação, impende destacar que poderão requerer a recuperação judicial tanto no plano
especial quanto no ordinário as empresas que atendam aos requisitos do art. 48, elencados abaixo:
Estar exercendo atividade regularmente há pelo menos 2 anos;
Não ser falido e, se foi, ter responsabilidades declaradas extintas por sentença transitada em
julgado;
Não ter obtido concessão de recuperação judicial, pelo plano ordinário ou especial, há menos de 5
anos;
Não ter sido condenado ou ter como administrador ou sócio controlador pessoa condenada por
quaisquer dos crimes previsto nessa lei.

Atendidos esses requisitos, a empresa optante pelo plano especial elaborará a petição inicial
conforme o disposto no art. 51 e incisos da lei;

Sendo instruída com o relato sobre a situação patrimonial e as razões da crise econômica (I);
Demonstrações contábeis (II);
Relação de credores e empregados (III, IV);
Certidões e documentos constitutivos da empresa (V, VIII);
Relação dos bens particulares dos sócios e administradores da empresa (VI);
Comprovantes de contas bancárias e outros investimentos (VII) e;
Relação de ações judiciais em que figure como parte (IX).

Estando a documentação adequada o juiz deferirá o processamento da recuperação e, nos


moldes do art. 52, no mesmo ato nomeará administrador-judicial (I); determinará dispensa da
apresentação de certidões negativas para que a empresa exerça suas atividades, exceto quando
contratar com o Poder Público (II); determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas
mensais enquanto perdurar a recuperação judicial (IV); ordenará a intimação do Ministério Público
e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que
o devedor tiver estabelecimento (V).
Especificamente acerca das demonstrações contábeis, a sistemática normativa autoriza aos
pequenos empreendedores a possuírem contabilidade simplificada1, o que é contemplado de forma
expressa no § 2º do art. 51, estando a documentação adequada o juiz deferirá o processamento da
recuperação e, nos moldes do art. 52, no mesmo ato nomeará administrador-judicial. Pois bem,
deferida a recuperação, o plano especial deverá ser apresentado no prazo de 60 dias contados da
publicação da decisão pelo deferimento obedecendo as regulamentações específicas para execução
do plano. Após isso, como regra, a recuperação judicial com base em plano especial não terá
procedimento diferente daquela baseada em plano ordinário.
Concluindo, temos que, na hipótese de o devedor não apresentar o plano de recuperação
judicial no prazo citado, o juiz decretará a falência do devedor mesmo durante o processo de
recuperação judicial.

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