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Sumário
4. Falência de Empresas
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Neste Percurso de Aprendizagem, serão apresen-
tados os elementos inerentes às empresas que se
encontram em crise econômico-financeira, com ên-
fase no gerenciamento de suas dívidas e patrimô-
nio, como se dará o eventual prosseguimento na
atividade empresarial ou a sua retirada do mercado
e como podem ser utilizados os institutos da Recu- Olá
peração e da Falência, a partir de quatro temáticas
específicas:
i. Disposições gerais atinentes à Recuperação e
à Falência de empresas em crise econômico-
-financeira, com exposição dos elementos que
formam a crise, quais os seus impactos na ati-
vidade empresarial e como o empresário pode
gerenciá-la;
ii. o instituto da Recuperação Judicial de empresas
em crise econômico-financeira;
iii. os institutos da Recuperação Extrajudicial e da
Recuperação Especial e quando podem ser apli-
cadas; e
iv. o instituto da Falência de empresas em crise
econômico-financeira, com sua remoção do
mercado.
Todas as temáticas estão integradas, ainda que
apresentadas de forma independente, a fim de de-
monstrar como as empresas podem gerenciar sua
crise econômico-financeira.
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1.
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DISPOSIÇÕES GERAIS ATINENTES À
RECUPERAÇÃO E À FALÊNCIA DE EMPRESAS
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Ao pagar a dívida de R$ 30.000,00, do crédito que tinha a receber de R$ 50.000,00, o em-
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presário terá apenas o saldo para reverter em sua atividade – inclusive para pagar outros
compromissos vincendos – a vencer – ou vencidos. Se continuar recebendo ações ou
cobranças, pode promover uma crise econômico-financeira que não poderá ser admi-
nistrada, e levá-lo à falência (insolvência empresarial). Assim, a falência, que instaura
um concurso de credores, existe justamente para que se evite esse tipo de prejuízo, bem
como para que se promova uma situação de igualdade entre os credores que têm crédi-
tos a receber, organizados nos termos da lei correspondente. A Lei de nº. 11.101/2005
é o diploma normativo que regulamenta as empresas em crise econômico-financeira, e
oferece, para uma primeira classificação, três distintos institutos: a Recuperação Judicial
de empresas, a Recuperação Extrajudicial de empresas e a falência de empresas.
A insolvência pode ser conceituada como a condição de quem não pode saldar suas
dívidas, ou seja, em que seu patrimônio passivo – dívidas, despesas, custos, obrigações
– supera a de seu patrimônio ativo – bens, créditos, valores a receber, vendas. Assim, o
empresário deve em proporção maior do que pode pagar, vez que tem compromissos
superiores aos seus rendimentos ou ao seu patrimônio. Mas qual instituto poderá se
utilizar o empresário? E qual o momento ideal de utilizá-los? Fazem-se necessários?
Quando uma empresa apresenta viabilidade de cumprir com seus compromissos, bem
como prosseguir na atividade exercida, utilizar-se-á da Recuperação Judicial ou da Re-
cuperação Extrajudicial, que substituíram o extinto instituto das concordatas. Por outro
lado, se a empresa não possui viabilidade econômica, deve ingressar no instituto jurídico
da falência.
Se uma empresa em crise econômico-financeira apresenta efeitos econômicos mais vul-
tosos, que atingem uma quantidade maior de credores, há que se perquirir se o empresá-
rio não foi à bancarrota, momento em que se sujeitará à decretação da falência.
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Não se pode confundir a falência com o instituto da insolvência civil e com a
recuperação. A falência é um instituto que se aplica ao empresário e à socie-
dade empresária. Para os devedores civis, instaura-se um concurso de credo-
res, regido pelo Direito Civil, denominado de insolvência civil ou simplesmente
insolvência. A vantagem da cobrança do rito empresarial sobre o concurso de
credores, do âmbito civil, é que existe a possibilidade de a empresa se recu-
perar, bem como ocorrerá a extinção das obrigações do falido, mesmo que as
dívidas não sejam totalmente quitadas (COELHO, 2020).
Por outro lado, não se pode confundir a Falência com a Recuperação. A Lei
de nº. 11.101/2005, em seu art. 1º, dispõe que disciplinará “a recuperação ju-
dicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade
empresária, doravante referidos simplesmente como devedor” (BRASIL, 2005).
Diversos aspectos são comuns à falência e à Recuperação Judicial. Entretan-
to, o a falência se aplica nos casos em que a crise do empresário é tão profun-
da que não restam alternativas que não a extinção do negócio. Por sua vez, a
Recuperação Judicial é capaz de propiciar a continuidade da empresa. Ainda
assim, uma diferença fundamental se impõe na condução dos negócios, já que
a própria Lei de nº. 11.101/2005, em seu art. 64, afirma que, durante o proce-
dimento de Recuperação Judicial, o devedor ou seus administradores serão
mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê,
se houver, e do administrador judicial. Por sua vez, em seu art. 103, dispõe
que, na falência, desde a sua decretação ou do sequestro, o devedor perde o
direito de administrar os seus bens ou deles dispor. Portanto, na Recuperação
Judicial, mantém-se o devedor no comando das atividades. Contudo, na decre-
tação da falência, o que se tem é a indisposição dos bens por parte do falido.
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Citem-se, como exemplo, as instituições financeiras. Em regra, não podem
usufruir do processo de falência previsto na Lei de nº. 11.101/2005 para as
suas situações de crise econômico-financeira, mas o Banco Central poderá
solicitar a sua falência em algumas situações específicas.
A legislação de liquidação não trata dos crimes que podem ocorrer em decorrência de
uma crise, como as diversas situações de fraude; já a Lei de nº. 11.101/2005 apresenta
uma seção específica para os crimes falimentares. Portanto, o Banco Central poderá so-
licitar a falência de uma instituição financeira para participar do processo de persecução
penal existente entre os artigos 168 e seguintes da Lei de nº. 11.101/05. Assim, as obri-
gações a título gratuito e as despesas que os credores fizerem para tomar parte na Re-
cuperação Judicial ou na falência não são exigíveis do devedor, salvo as custas judiciais
decorrentes de litígio com este.
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Nos termos do art. 6º, §2.º da Lei de nº. 11.101/2005, é permitido pleitear,
perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de cré-
ditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista,
inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º da Lei, serão processadas
perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será
inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.
Por sua vez, as execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da
Recuperação Judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código
Tributário Nacional e da legislação ordinária específica, conforme o art. 6º, §7º, da Lei de
nº. 11.101/2005.
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a. a capacidade de pagamento do devedor;
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b. o grau de complexidade de pagamento do devedor;
c. o grau de complexidade do trabalho; e
d. os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes,
sem exceder 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à Recu-
peração Judicial ou do valor de venda dos bens na Falência, conforme disposição
do art. 24 da Lei de nº. 11.101/2005.
Reitere-se, ainda, que quem deve pagar a verba honorária do administrador é o próprio
devedor, o empresário, nos termos do art. 25 da Lei de nº. 11.101/2005.
O segundo órgão atuante no processo de Recuperação e de Falência é a Assembleia Ge-
ral de Credores. Compõe-se dos titulares de créditos derivados da relação de trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho, dos titulares de crédito com garantia real, titulares
de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral e subordinados,
conforme o art. 41 da Lei de nº. 11.101/2005. Por sua vez, não irão compor a Assembleia
os créditos pertencentes à Fazenda Pública, os de titulares de créditos fiscais, bem como
os credores por multas contratuais e penas pecuniárias decorrentes de infração às leis
penais ou administrativas, a que se refere o art. 83, inciso VII, da Lei de nº. 11.101/2005. A
Assembleia, portanto, consiste em um órgão colegiado, que delibera sobre decisões que
influenciam diretamente o resultado da falência, como a aprovação de outra modalidade
para alienação do ativo, além daquelas previstas no art. 142 da Lei de nº. 11.101/2005.
Realizam Assembleias Gerais Ordinárias, convocadas para deliberação de matérias que
se inserem na regularidade do desenvolvimento de certa atividade mister.
Em seguida, que se realize a intimação eletrônica das pessoas jurídicas de direito públi-
co integrantes da administração pública indireta (Autarquias e Fundações Públicas de
Direito Público) vinculada aos entes federativos respectivos. No caso, se federal, à Pro-
curadoria-Geral Federal e à Procuradoria-Geral do Banco Central do Brasil; se estadual ou
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distrital, à respectiva Procuradoria-Geral, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de
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representação judicial específico das entidades interessadas; e se municipal, à respectiva
Procuradoria-Geral ou, se inexistir, ao gabinete do Prefeito, à qual competirá dar ciência
a eventual órgão de representação judicial específico das entidades interessadas. Após
decretada a quebra ou convolada a Recuperação Judicial em falência, o administrador
deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contado do termo de nomeação, apresentar,
para apreciação do juiz, plano detalhado de realização dos ativos, inclusive com a estima-
tiva de tempo não superior a 180 (cento e oitenta) dias, a partir da juntada de cada auto
de arrecadação, na forma do inciso III do caput do art. 22 da Lei de nº. 11.101/2005.
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A aferição é coletiva na respectiva classe, seja a classe dos trabalhistas, dos quirogra-
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fários ou mesmo dos credores com garantia real. Terão direito a voto, nas Assembleias
Gerais, as pessoas arroladas no Quadro Geral de Credores e, na sua falta, na relação de
credores apresentada pelo administrador, na fase administrativa de verificação de crédi-
tos, art. 7º, §§ 1º e 2º, LFR e, na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor.
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2.
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RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESAS
O art. 47 da Lei de nº. 11.101/2005 indica que a finalidade da Recuperação Judicial é via-
bilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permi-
tir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica.
Nesse sentido, com ênfase na reorganização da empresa e na preservação de sua ativi-
dade com a devida reestruturação de seu passivo, a Recuperação confere ao empresário
devedor o benefício de apresentar um plano de pagamentos, após verificação com seus
credores. Portanto, a Recuperação Judicial é um instituto que permite ao devedor empre-
sário ou sociedade empresária devedora a possibilidade de negociar diretamente com
todos os seus credores ou apenas parte deles.
O titular da empresa apresentará propostas de acordo com possibilidades reais, amplian-
do o universo de medidas eficazes e suficientes à satisfação dos créditos negociados, e
a Recuperação Judicial poderá ser requerida:
a. pelo próprio empresário em crise econômico-financeira;
b. pela própria sociedade empresária em crise econômico-financeira;
c. pelo cônjuge sobrevivente;
d. pelos herdeiros;
e. pelo inventariante (representante e administrador do monte-mor partilhável, que
corresponde ao patrimônio deixado pelo falecido); e
f. pelo sócio remanescente.
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Para alcançar a Recuperação Judicial, o empresário ou a sociedade empresária devem
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atingir alguns requisitos, já que superar a crise que afeta o desenvolvimento de sua ativi-
dade econômica exige algumas posturas relevantes. Os requisitos para a concessão da
Recuperação Judicial estão elencados no art. 48 da Lei de nº. 11.101/2005, e defende
que poderá requerer Recuperação Judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos , e que atenda aos seguintes re-
quisitos, cumulativamente:
a. não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial;
c. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
d. não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pes-
soa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Há, ainda, disposição expressa de que a Recuperação Judicial também poderá ser requeri-
da pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente,
no art. 48, §1º, da Lei de nº. 11.101/2005, bem como de que, em se tratando de exercício
de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido no
caput deste artigo por meio da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa
Jurídica – DIPJ, que tenham sido entregues tempestivamente, nos termos do art. 48, §2º,
da Lei de nº. 11.101/2005.
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O credor de ação que demandar quantia ilíquida (que não apresenta valores certos e
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definidos), bem como o credor de ação de natureza trabalhista, poderá requerer, no juízo
em que tramita a demanda, a reserva da importância que estimar devida e, uma vez re-
conhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. Ainda que diversos
créditos vinculados à União, Estados-membros, Municípios e INSS não estejam sujeitos
ao benefício legal, é permitido o parcelamento das dívidas tributárias, nos termos dos
artigos 6º, § 7º, da Lei de nº. 11.101/2005, combinado com o art. 155-A, § 3º, do Código
Tributário Nacional, e as disposições da Lei Complementar de nº. 118/2005.
Os créditos constituídos posteriormente à impetração do requerimento da Recuperação
Judicial também estão excluídos dos efeitos desta e, portanto, não serão renegociados
no plano de Recuperação Judicial.
Para incentivar ainda mais a concessão de crédito, bem como impulsionar a manutenção
do fornecimento, propiciando a preservação dos meios produtivos, é que a Lei de nº.
11.101/2005, em seu artigo 67, não apenas exclui os créditos posteriores ao ajuizamento
do pedido de Recuperação Judicial, mas considera esses créditos posteriores, decor-
rentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a Recuperação Judicial, inclusi-
ve aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de
mútuo, como créditos extraconcursais, em caso de decretação da falência, e, como tais,
serão pagos, com precedência, sobre todos os demais créditos mencionados no art. 83,
acerca do concurso de credores.
Para assegurar condições favoráveis à manutenção do fornecimento à empresa em crise,
os créditos quirografários sujeitos (anteriores ao pedido) à Recuperação Judicial perten-
centes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-los regularmente,
após o pedido do benefício, terão privilégio geral de recebimento, em caso de decretação
da falência, no limite do valor do fornecimento do período da Recuperação. Se for decre-
tada a falência do devedor, haverá prestígio para os créditos de mútuo e fornecimento
decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a Recuperação judicial.
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Esses credores receberão seus créditos antes mesmo dos credo-
res trabalhistas, e os créditos derivados de obrigações contraídas
antes do pedido de Recuperação Judicial concorrerão com os de
privilégio geral.
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Fora esses requisitos, o pedido de Recuperação Judicial deverá estar acompanhado de
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alguns documentos, que, uma vez ausentes, podem promover o indeferimento do pedido.
São eles:
a. a exposição de causas;
b. as demonstrações contábeis (podendo ser simplificadas, na hipótese de o devedor
ser microempresa ou empresa de pequeno porte);
c. o relatório da situação econômica; a relação dos credores;
d. a relação dos empregados;
e. a certidão de regularidade da Junta Comercial; o contrato social ou estatuto atuali-
zado e atas de nomeação dos atuais administradores;
f. a relação dos bens particulares dos sócios controladores e administradores;
g. os extratos bancários do devedor; certidões de protesto;
h. a relação das ações judiciais em andamento.
A petição inicial de Recuperação tem por objetivo demonstrar requisitos e juntar certos
documentos para que haja o despacho de processamento da recuperação de empresas,
que vale como início ao procedimento de verificação da viabilidade da preservação da
empresa e do seu plano de recuperação, com a eventual aprovação, alteração ou rejeição
e consequente falência.
No despacho de processamento, o magistrado deverá:
a. nomear o administrador judicial;
b. determinar a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor
exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para rece-
bimento de benefícios, ou incentivos fiscais, ou creditícios (lembrando que, em to-
dos os atos, contratos e documentos firmados, o devedor deverá acrescentar, após
o nome empresarial, a expressão “em recuperação judicial”;
c. suspender todas as ações ou execuções contra o devedor, ressalvadas as ações que
demandarem quantia ilíquida; as ações de natureza trabalhista; execuções fiscais,
caso não realizado o parcelamento na forma da legislação específica a ser editada
na forma do art. 155- A, §§ 3º e 4º, do Código Tributário Nacional; execuções cujo
objeto sejam créditos que não se submetem à Recuperação Judicial, já examinados
no item, tais como proprietário fiduciário, arrendador mercantil etc., que prossegui-
rão no juízo de origem;
d. ordenar ao devedor a apresentação mensal de contas demonstrativas;
e. intimar o Ministério Público e comunicar por cartas às Fazendas Públicas Federais
e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.
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Após a análise do preenchimento dos requisitos mencionados, o magistrado deverá pro-
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ferir o despacho que defere a Recuperação e, se for o caso, além de deferir o processa-
mento da recuperação, nomear o administrador judicial, ordenando, também, a suspen-
são temporária de todas as ações e execuções pelo prazo improrrogável de 180 (cento e
oitenta) dias. Ao mesmo tempo, irá determinar ao devedor que apresente as contas de-
monstrativas mensais enquanto perdurar a Recuperação Judicial e ordenará a intimação
do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos
os estados e municípios em que o devedor tiver estabelecimento. Deferido o processa-
mento da Recuperação, o empresário ou a sociedade empresária não poderá mais desis-
tir dela, salvo se obtiver aprovação de sua desistência na Assembleia Geral de Credores.
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f. aumento de capital social;
g. trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade
constituída pelos próprios empregados;
h. redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva;
i. dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem cons-
tituição de garantia própria ou de terceiros;
j. constituição de sociedade de credores;
k. venda parcial dos bens;
l. equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natu-
reza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de Recupe-
ração Judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem
prejuízo do disposto em legislação específica;
m. usufruto da empresa;
n. administração compartilhada;
o. emissão de valores mobiliários; e
p. constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em paga-
mento dos créditos, os ativos do devedor.
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Apresentando-se objeção por parte de algum credor, o magistrado deverá
convocar a assembleia geral de credores, para que esta delibere sobre o pla-
no de recuperação, aprovando-o, rejeitando-o ou modificando-o. Entretanto, a
realização da assembleia não poderá exceder 150 (cento e cinquenta) dias
contados do deferimento do processamento da Recuperação Judicial.
O magistrado poderá conceder a Recuperação Judicial com base em plano que não obte-
ve aprovação na Assembleia geral de credores, desde que, na mesma assembleia, tenha
o plano obtido, de forma cumulativa: a) o voto favorável de credores que representem
mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia, independente-
mente de classes; b) aprovação em cada uma das classes de credores. Aprovado o plano,
para que o empresário ou a sociedade empresária possa executá-lo, é necessária, ainda,
a apresentação de certidões negativas de débitos tributários. Se tais certidões não forem
apresentadas, o juiz indeferirá desde logo o pedido de Recuperação.
O magistrado poderá conceder a Recuperação Judicial com base em aprovação forçada
do plano que não obteve aprovação na assembleia geral de credores, desde que haja:
a) o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembleia, independentemente de classes; b) a aprovação de duas
das classes de credores pelo quórum qualificado já estudado ou, caso haja somente duas
classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos uma delas; e c) na classe
que houver rejeitado o plano, tiver obtido o voto favorável de mais de 1/3 dos credores.
Se o plano de recuperação de empresa não ter sido aprovado, o magistrado decretará a
falência do empresário.
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3.
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RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
E RECUPERAÇÃO ESPECIAL
Portanto, o devedor que preencher os requisitos previstos no artigo 161 da Lei de nº.
11.101/2005 poderá propor e negociar com os credores um plano de Recuperação Ex-
trajudicial. Os requisitos são os mesmos estabelecidos no artigo 48 para a Recuperação
Judicial. Sendo assim, poderá requerer Recuperação Extrajudicial o devedor que, no mo-
mento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos, e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
a. não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial;
c. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial
com base no plano especial referente a pequenos empresários;
d. não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pes-
soa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei de nº. 11.101/2005.
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Esses são os requisitos classificados como subjetivos, vez que decorrentes dos aspec-
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tos inerentes à pessoa do empresário ou da sociedade empresária (COELHO, 2020).
Por sua vez, existem requisitos objetivos, quais sejam: não se prever pagamento anteci-
pado de nenhuma dívida (artigo 161, §2º); dar aos credores sujeitos ao plano tratamento
igualitário (art. 161, §2º); abranger somente créditos constituídos até a data do pedido
de homologação do plano de Recuperação Extrajudicial (artigo 163, §1º); necessário con-
sentimento de credor garantido para que haja a alienação, supressão ou substituição de
garantia real (artigo 163, §4º); e não conceder afastamento de variação cambial sem que
haja a anuência do respectivo credor (art. 163, §5º) (BRASIL, 2005).
De qualquer forma, o Plano de Recuperação Extrajudicial não se aplica para os créditos
de natureza fiscal, bem como aos de natureza trabalhista ou acidentários decorrentes de
relação de trabalho. Há, ainda, vedação para os créditos decorrentes da posição de pro-
prietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou
promitente vendedor de imóvel que tenha contrato com cláusula de irrevogabilidade (não
pode ser revogado) ou irretratabilidade (não permite retratações de qualquer espécie), in-
clusive em incorporações imobiliárias ou de proprietário em contrato de venda com reser-
va de domínio, que consistem nos créditos de natureza real – decorrente de uma relação
entre um indivíduo e um bem. Essas relações apresentam algumas restrições próprias
da legislação pertinente aos denominados Direitos Reais e, portanto, não se inserem na
regra geral da Recuperação Extrajudicial (COELHO, 2021).
Da mesma forma, foi vedada a concessão de Recuperação Extrajudicial para os credores
de adiantamento de contrato de câmbio, em decorrência de sua natureza. O Adiantamen-
to sobre Contrato de Câmbio (ACC) é um instituto que permite a antecipação financeira
parcial ou total para empresas que venderam produtos ao exterior com entrega futura.
Portanto, o ACC atua como uma espécie de financiamento, em que uma instituição finan-
ceira adianta capital ao exportador antes do seu produto embarcar para o destinatário
final. É por intermédio do ACC que um exportador consegue acessar de forma imediata
parte do pagamento sobre o que foi exportado. Assim, com esse adiantamento, o empre-
sário não precisa esperar um longo período para receber pela venda, desafogando seu
caixa e fornecendo condições para o negócio continuar operando (MAMEDE, 2021).
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Outra diferença da Recuperação Extrajudicial para a Recuperação Judicial é que o pedido
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de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de di-
reitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência
pelos credores não sujeitos ao plano de Recuperação Extrajudicial.
A homologação do plano de Recuperação Extrajudicial pode se dar de forma facultati-
va ou obrigatória. A homologação facultativa está prevista no artigo 162 da Lei de nº.
11.101/2005, e permite que o devedor possa requerê-la em juízo, juntando sua justifi-
cativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos
credores que a ele aderiram (BRASIL, 2005).
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Para a homologação do plano, além dos documentos previstos no caput do
artigo 162 da Lei de nº. 11.101/2005, deverá o devedor juntar:
a. exposição da situação patrimonial do devedor;
b. as demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as le-
vantadas, especialmente para instruir o pedido, na forma do inciso II do
caput do art. 51 desta Lei; e
c. os documentos que comprovem os poderes dos subscritores para novar
ou transigir, relação nominal completa dos credores, com a indicação do
endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimen-
tos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente
(BRASIL, 2005).
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Na hipótese de não homologação do plano, o devedor poderá, cumpridas as formalida-
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des, apresentar novo pedido de homologação de plano de Recuperação Extrajudicial, nos
termos do artigo 163, §8º, da Lei de nº. 11.101/2005. Nessa situação, é válida se o vício
for formal (BRASIL, 2005).
O plano de Recuperação Extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial, con-
forme o artigo 165 da Lei de nº. 11.101/2005. Ainda assim, é lícito, contudo, que o plano
estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que exclusivamente
em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários
(BRASIL, 2005).
Da sentença que defere ou denega o pedido de Recuperação Extrajudicial, cabe o recurso
de apelação sem efeito suspensivo, conforme o artigo 164, §7º, da Lei de nº. 11.101/2005.
Há, ainda, a possibilidade de se realizar uma Recuperação Especial, para aqueles que se
encaixem como pequenos empresários.
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Assim, as microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei,
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poderão apresentar plano especial de Recuperação Judicial, desde que afirmem sua in-
tenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o artigo 51 da Lei Complementar de nº.
123/2006. Portanto, os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus crédi-
tos habilitados na Recuperação Judicial.
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De acordo com a redação original do inciso I do art. 71, apenas os créditos quirografários
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podiam ser abrangidos pelo plano especial, com as mesmas exceções do plano normal
dos demais devedores. Assim, os créditos trabalhistas, fiscais, com garantia real, com
privilégio especial ou geral, entre outros, não se submetiam aos efeitos do plano especial
de recuperação dos microempresários e dos empresários de pequeno porte. Entretanto,
essa regra foi modificada e, assim, o plano especial passou a abranger todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de
repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49. Dessa
forma, para alguns autores, não há diferença entre o plano especial e o plano normal de
recuperação no tocante aos créditos abrangidos (RAMOS, 2020).
Portanto, todas as ações e execuções relativas a créditos não abrangidos pelo plano
terão prosseguimento regular em suas respectivas varas, não sofrendo qualquer parali-
sação. De qualquer forma, os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus
créditos habilitados na Recuperação Judicial.
Os créditos submetidos aos efeitos do plano especial serão parcelados em até 36 pres-
tações mensais, iguais e sucessivas, sobre as quais incidirão juros equivalentes à SELIC.
O plano especial pode, ainda, propor um abatimento das dívidas a ele submetidas. Ante-
riormente, a Lei de nº. 11.101/2005 previa juros 12% (dez por cento) ao ano, e não havia
menção expressa à possibilidade de abatimento das dívidas, mas essa disposição foi
modificada (BRASIL, 2005).
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A grande diferença entre o plano especial e o plano normal de Recuperação Judicial,
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portanto, é que no primeiro a própria lei já estabelece como será o plano: parcelamento
em até 36 (trinta e seis) vezes, juros equivalentes à SELIC e carência de até 180 (cento
e oitenta dias), enquanto no segundo o devedor é livre para estabelecer suas condições.
Além de todas as especificidades do plano especial, há uma outra peculiaridade: a apro-
vação do plano especial apresentado, de forma diversa do que ocorre no processo de
Recuperação normal dos demais devedores, não é competência da assembleia-geral dos
credores, mas do próprio magistrado.
Entretanto, não se pode afirmar que o magistrado é livre para decidir se concede ou não
a Recuperação Judicial com base em plano especial, vez que, dependendo da quantidade
de credores que apresentem objeções ao plano, a sua rejeição será inevitável, com a con-
sequente decretação da falência do micro ou pequeno devedor (RAMOS, 2020).
4. FALÊNCIA DE EMPRESAS
Entretanto, quando o patrimônio não for suficiente para saldar as dívidas contraídas, já
que o passivo será maior que o ativo, poderá ingressar o devedor empresário ou socieda-
de empresária no instituto da falência. Portanto, os credores com créditos vencidos ou
vincendos – prestes a vencer – apresentarão maiores possibilidades de evitar a inadim-
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plência do devedor, vez que os demais credores estarão impedidos de cobrá-los antes do
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vencimento. Portanto, para evitar situações de injustiça entre os credores, já que alguns
receberiam e outros poderiam ficar no prejuízo, instaura-se um processo de concurso
de credores por intermédio da falência, que tem por objetivo assegurar a igualdade de
oportunidades aos credores de um empresário ou sociedade empresária insolvente e
insuscetível de Recuperação Judicial.
Por esse princípio, todos os credores, de forma igualitária, concorrerão à distribuição pro-
porcional do ativo do devedor empresário ou da sociedade empresária, decorrente da
alienação judicial dos bens verificados e arrecadados. Excetuam-se, por outro lado, al-
gumas preferências impostas por lei. É um processo de execução coletiva ou concursal,
pelo qual o devedor empresário é afastado de suas atividades para preservar e otimizar
a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis,
da empresa (VIDO, 2021).
Conforme disposição do artigo 77 da Lei de nº. 11.101/2005, a decretação da falência
determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e soli-
dariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os
créditos em moeda estrangeira para a moeda no Brasil, pelo câmbio do dia da decisão ju-
dicial, para todos os efeitos da Lei. Ao mesmo tempo, ressalta-se que é por intermédio da
falência que se dá o encerramento da atividade econômica desenvolvida pela empresa
em crise econômico-financeira, de forma a minimizar os prejuízos de seus empregados e
credores (BRASIL, 2005).
Ainda assim, nem todas as situações de crise econômico-financeira ensejam a ins-
tauração de um processo falimentar. Conforme disposição do artigo 94 da Lei de nº.
11.101/2005, será decretada a falência do devedor em situações que se promovam atos
de falência.
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O não pagamento deve estar correlacionado a uma ou mais obrigações líquidas, ou seja,
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certas quanto à existência e determinação de seus objetos, aqui entendidas como aque-
las representadas pelos títulos executivos judiciais ou extrajudiciais (previstos expressa-
mente no artigo 784 do Código de Processo Civil).
Ressalte-se, ainda, que todo título estará sujeito a protesto, inclusive a sentença judicial,
que é um título executivo judicial (RAMOS, 2020).
Por outro lado, ainda que não reunisse condições patrimoniais suficientes para sanar
as dívidas, poderia se utilizar de um desses bens e nomeá-lo à penhora – procedimento
judicial de constrição de bens do devedor para o pagamento de dívida em sede de um pro-
cesso de Execução. Entretanto, se não indica bens à penhora e outros elementos indicam
que esteja em crise econômico-financeira, colocará os credores em risco e, assim, poderá
submeter-se a um processo falimentar. Deve-se ressaltar que, nessa situação, não há a
necessidade de o crédito ser superior a 40 (quarenta) salários-mínimos, pois o legislador
permite o pedido de falência por qualquer quantia líquida (VIDO, 2021).
Finalmente, será decretada a falência daquele que praticar qualquer dos atos indicadores
de crise econômico-financeira, como proceder à liquidação precipitada de seus ativos ou
quando lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos.
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É o que ocorre, por exemplo, quando um empresário começa a se desfazer de
seus bens de forma precipitada, na tentativa de evitar o pagamento de dívidas
ou se reorganizar financeiramente e prejudica os credores de dívidas já forma-
lizadas, ou ainda quando o empresário, de forma repentina, promove a venda
de seus bens por qualquer preço, ou desvia os recursos obtidos, reduzindo sua
capacidade patrimonial e, consequentemente, diminuindo a garantia de rece-
bimento dos credores.
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Há, ainda, situações em que o devedor empresário ou a sociedade empresária ausenta-se
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sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores,
abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede
ou de seu principal estabelecimento. Ademais, não basta deixar representante para a
condução dos negócios, é indispensável que o abasteça com recursos suficientes para
pagamento dos credores, ou quando deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação
assumida no plano de Recuperação Judicial.
A falência pode ser requerida, conforme o artigo 97 da Lei de nº. 11.101/2005, pelo pró-
prio devedor, na forma do disposto nos artigos 105 a 107 da Lei; pelo cônjuge sobreviven-
te, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; pelo cotista ou o acionista do devedor
na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade ou, ainda, por qualquer credor.
A petição inicial para o requerimento de falência deve atender aos requisitos genéricos
previstos no Código de Processo Civil e aos requisitos específicos previstos na Lei de nº.
11.101/2005. Portanto, para a falência ser requerida com base na impontualidade de pa-
gamento, o pedido deve ser instruído com título executivo cujo valor ultrapasse 40 (qua-
renta) salários-mínimos e com o devido instrumento de protesto. Por sua vez, em caso
de falência requerida com base em execução frustrada, o pedido deve ser instruído com
a certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução. E, portanto, para pedidos
de falência baseados na prática de atos falimentares, o requerente deverá descrever os
fatos que caracterizam o ato, juntando as provas que possui e especificando as que pre-
tende produzir. O requerente poderá desistir do pedido de falência antes da citação do
devedor (RAMOS, 2020).
Ressalte-se que, conforme a Súmula de nº. 248 do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título
hábil para instruir pedido de falência. Do mesmo modo, conforme a Súmula de nº. 361,
a notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa devedora, exige a
identificação da pessoa que a recebeu.
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O pedido de falência segue um procedimento distinto, a depender do seu autor. Quando o
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pedido for realizado pelo próprio devedor, segue-se o procedimento da autofalência. O pe-
dido de autofalência, como somente será admitido para o devedor em crise econômico-
-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua Recuperação Judicial,
deverá conter as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial,
acompanhadas dos seguintes documentos:
a. demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais
e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com
estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigato-
riamente de balanço patrimonial; demonstração de resultados acumulados;
demonstração do resultado desde o último exercício social e relatório do fluxo
de caixa;
b. relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos;
c. relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa
de valor e documentos comprobatórios de propriedade;
d. prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se
não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de
seus bens pessoais; e) os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe
forem exigidos por lei; e
e. a relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respec-
tivos endereços, suas funções e participação societária.
Na sentença que declara a falência, já pode ser fixado o termo legal, que cor-
responde ao lapso temporal anterior à decretação da quebra que tem impor-
tância para a ineficácia de determinados atos do falido perante a massa.
O termo, ademais, não poderá retroagir por mais de 90 (noventa) dias do primeiro protes-
to por falta de pagamento; na falta de protesto, não poderá retroagir mais de 90 (noventa)
dias da petição inicial ou convolação da Recuperação Judicial em falência (MAMEDE,
2021).
A fase falimentar tem início com a sentença que decreta a falência e, de forma simultâ-
nea, operam-se diversos efeitos. Inicialmente, o falido torna-se inabilitado para a ativi-
dade empresarial e, como se não bastasse, outros deveres o acompanharão, mas não é
apenas sobre o falido que recai a falência. Em seguida, submete-se a efeitos específicos
para os bens, contratos e, inclusive, os créditos dos respectivos credores.
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São efeitos sobre os bens:
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a. suspensão do exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação,
os quais deverão ser entregues ao administrador judicial, além da suspensão do exer-
cício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações pelos
sócios da sociedade falida;
b. os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo
administrador judicial, se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da
massa falida ou forem necessárias a manutenção e a preservação de seus ativos,
mediante autorização do Comitê;
c. o contrato unilateral poderá ser cumprido pelo administrador judicial, se esse fato
reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou forem necessárias a ma-
nutenção e a preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela
qual está obrigada;
d. o mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios,
cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar
contas de sua gestão;
e. as contas-correntes do devedor consideram-se encerradas no momento da decreta-
ção da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão;
f. contra a massa falida, não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência,
previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos
credores subordinados (RAMOS, 2020).
Desde a decretação da falência ou do sequestro dos bens – análise, avaliação e bloqueio
– o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor. O falido pode-
rá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias
para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos
em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e inter-
pondo os recursos cabíveis (MAMEDE, 2021).
Sobre o devedor, a falência promove uma série de feitos sobre suas obrigações e sujeita-
rá todos os credores, que somente poderão exercer seus direitos sobre os bens do falido
e do sócio ilimitadamente responsável na forma que a mencionada lei prescrever. Em
situação de riscos para a etapa de arrecadação ou com o objetivo de preservar os bens
da massa falida ou, ainda, dos interesses dos credores, é possível aplicar-se a lacração
do estabelecimento empresarial. Portanto, a decretação da falência sujeita todos os cre-
dores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio
ilimitadamente responsável na forma que a lei prescrever (MAMEDE, 2021).
Finalmente, a decretação da falência suspende o exercício do direito de retenção sobre
os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial,
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bem como o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas
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ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida. Os contratos não se resolvem pela
falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial, se o cumprimento reduzir
ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou forem necessárias a manutenção e a
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê de Credores.
Ainda assim, nas relações contratuais, o vendedor não pode obstar a entrega das coisas
expedidas ao devedor e, ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da fa-
lência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte,
entregues ou remetidos pelo vendedor; se o devedor vendeu coisas compostas e o admi-
nistrador judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr
à disposição da massa falida as coisas já recebidas, pedindo perdas e danos; não tendo
o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou contratara a presta-
ções, e resolvendo o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao
valor pago será habilitado na classe própria; o administrador judicial, ouvido o Comitê,
restituirá a coisa móvel comprada pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se
resolver não continuar a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do con-
trato, dos valores pagos; coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou mer-
cado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e pagamento do pre-
ço, prestar-se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação
em bolsa ou mercado; promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação
respectiva; falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do loca-
tário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato; caso haja
acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito do sistema financeiro
nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não falida poderá considerar o contra-
to vencido antecipadamente, hipótese em que será liquidado na forma estabelecida em
regulamento, admitindo-se a compensação de eventual crédito que venha a ser apurado
em favor do falido com créditos detidos pelo contratante; os patrimônios de afetação,
constituídos para cumprimento de destinação específica, obedecerão ao disposto na le-
gislação respectiva, permanecendo seus bens, direitos e obrigações separados dos do
falido até o advento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião
em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá
na classe própria o crédito que contra ela remanescer.
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RESUMO DO PERCURSO DE APRENDIZAGEM
36
REFERÊNCIAS
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BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 5 out. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.
BRASIL. Lei nº. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a ex-
trajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União,
09 fev. 2005.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nº 8.212 e
8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprova-
da pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro
de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nº 9.317,
de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Diário Oficial da União, 15
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COELHO, Fábio Ulhôa. Novo manual de direito empresarial. 32. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2021.
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2021.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. São Paulo: Saraiva, 2021,
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RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. Rio de Janeiro: Méto-
do, 2020.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
VIDO, Elisabete. Curso de direito empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.
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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA (UNIFOR)
Presidência
Lenise Queiroz Rocha
Vice-Presidência
Manoela Queiroz Bacelar
Reitoria
Fátima Maria Fernandes Veras
Diretoria de Tecnologia
José Eurico de Vasconcelos Filho
RESPONSABILIDADE TÉCNICA
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