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ADMINISTRAÇÃO DE CRÉDITOS E
SOLUÇÃO DE CRISES NA EMPRESA:
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO

Sumário

1. Disposições Gerais Atinentes à


Recuperação e à Falência de Empresas

2. Recuperação Judicial de Empresas

3. Recuperação Extrajudicial e Recuperação Especial

4. Falência de Empresas

Sumário clicável
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Neste Percurso de Aprendizagem, serão apresen-
tados os elementos inerentes às empresas que se
encontram em crise econômico-financeira, com ên-
fase no gerenciamento de suas dívidas e patrimô-
nio, como se dará o eventual prosseguimento na
atividade empresarial ou a sua retirada do mercado
e como podem ser utilizados os institutos da Recu- Olá
peração e da Falência, a partir de quatro temáticas
específicas:
i. Disposições gerais atinentes à Recuperação e
à Falência de empresas em crise econômico-
-financeira, com exposição dos elementos que
formam a crise, quais os seus impactos na ati-
vidade empresarial e como o empresário pode
gerenciá-la;
ii. o instituto da Recuperação Judicial de empresas
em crise econômico-financeira;
iii. os institutos da Recuperação Extrajudicial e da
Recuperação Especial e quando podem ser apli-
cadas; e
iv. o instituto da Falência de empresas em crise
econômico-financeira, com sua remoção do
mercado.
Todas as temáticas estão integradas, ainda que
apresentadas de forma independente, a fim de de-
monstrar como as empresas podem gerenciar sua
crise econômico-financeira.

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1.

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DISPOSIÇÕES GERAIS ATINENTES À
RECUPERAÇÃO E À FALÊNCIA DE EMPRESAS

O exercício da atividade empresarial envolve uma série de riscos, que podem


tanto promover lucratividade na exploração de alguma atividade econômica
quanto gerar despesas, custos e dívidas que, se não forem devidamente
administrados, podem levar o empresário a uma situação de insolvência, ou
seja, quando o seu passivo é maior do que o seu ativo.

A crise empresarial, portanto, é decorrente de uma situação de insolvência, e que pode


assumir três feições distintas: econômica, financeira ou patrimonial. A atividade empre-
sarial envolve uma série de circunstâncias para a sua manutenção, dentre as quais o pa-
gamento das dívidas e demais compromissos e obrigações. Quando o empresário honra
suas dívidas no vencimento, encontra-se em situação de “normalidade econômica” (RE-
QUIÃO, 2012).
Por outro lado, quando deixa de honrar com suas obrigações, pode inserir-se em situa-
ções de protesto (cobrança extrajudicial de uma dívida) ou até mesmo uma ação de co-
brança (cobrança por execução judicial). A regra, portanto, é que o empresário se mante-
nha regular, mas, ainda que não o faça, precisa apresentar um patrimônio ativo maior do
que o passivo, a fim de evitar ingressar em uma crise econômico-financeira.
Entretanto, quando as dívidas tomam proporções atípicas e superam o total de bens pre-
sentes ou a receber, uma execução individual, por exemplo, pode promover uma série de
efeitos na atividade empresarial.

EXEMPLO: Um empresário tem uma dívida de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)


com um credor. O credor aciona o empresário judicialmente, para ter paga a
dívida que se encontra em mora (não foi paga no vencimento). Nesse caso,
se o empresário tem valores a receber de um outro fornecedor, que lhe é seu
devedor, a título de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a execução judicial ga-
rante a satisfação do crédito, e não a sua relativa importância para a atividade.

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Ao pagar a dívida de R$ 30.000,00, do crédito que tinha a receber de R$ 50.000,00, o em-

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presário terá apenas o saldo para reverter em sua atividade – inclusive para pagar outros
compromissos vincendos – a vencer – ou vencidos. Se continuar recebendo ações ou
cobranças, pode promover uma crise econômico-financeira que não poderá ser admi-
nistrada, e levá-lo à falência (insolvência empresarial). Assim, a falência, que instaura
um concurso de credores, existe justamente para que se evite esse tipo de prejuízo, bem
como para que se promova uma situação de igualdade entre os credores que têm crédi-
tos a receber, organizados nos termos da lei correspondente. A Lei de nº. 11.101/2005
é o diploma normativo que regulamenta as empresas em crise econômico-financeira, e
oferece, para uma primeira classificação, três distintos institutos: a Recuperação Judicial
de empresas, a Recuperação Extrajudicial de empresas e a falência de empresas.
A insolvência pode ser conceituada como a condição de quem não pode saldar suas
dívidas, ou seja, em que seu patrimônio passivo – dívidas, despesas, custos, obrigações
– supera a de seu patrimônio ativo – bens, créditos, valores a receber, vendas. Assim, o
empresário deve em proporção maior do que pode pagar, vez que tem compromissos
superiores aos seus rendimentos ou ao seu patrimônio. Mas qual instituto poderá se
utilizar o empresário? E qual o momento ideal de utilizá-los? Fazem-se necessários?
Quando uma empresa apresenta viabilidade de cumprir com seus compromissos, bem
como prosseguir na atividade exercida, utilizar-se-á da Recuperação Judicial ou da Re-
cuperação Extrajudicial, que substituíram o extinto instituto das concordatas. Por outro
lado, se a empresa não possui viabilidade econômica, deve ingressar no instituto jurídico
da falência.
Se uma empresa em crise econômico-financeira apresenta efeitos econômicos mais vul-
tosos, que atingem uma quantidade maior de credores, há que se perquirir se o empresá-
rio não foi à bancarrota, momento em que se sujeitará à decretação da falência.

Assim, a falência é um instituto que garante:


a. igualdade entre os credores (princípio da par conditio creditorum);
b. exclusão do mercado de empresários com insucesso; e
c. um mecanismo de controle da economia.

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Não se pode confundir a falência com o instituto da insolvência civil e com a
recuperação. A falência é um instituto que se aplica ao empresário e à socie-
dade empresária. Para os devedores civis, instaura-se um concurso de credo-
res, regido pelo Direito Civil, denominado de insolvência civil ou simplesmente
insolvência. A vantagem da cobrança do rito empresarial sobre o concurso de
credores, do âmbito civil, é que existe a possibilidade de a empresa se recu-
perar, bem como ocorrerá a extinção das obrigações do falido, mesmo que as
dívidas não sejam totalmente quitadas (COELHO, 2020).
Por outro lado, não se pode confundir a Falência com a Recuperação. A Lei
de nº. 11.101/2005, em seu art. 1º, dispõe que disciplinará “a recuperação ju-
dicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade
empresária, doravante referidos simplesmente como devedor” (BRASIL, 2005).
Diversos aspectos são comuns à falência e à Recuperação Judicial. Entretan-
to, o a falência se aplica nos casos em que a crise do empresário é tão profun-
da que não restam alternativas que não a extinção do negócio. Por sua vez, a
Recuperação Judicial é capaz de propiciar a continuidade da empresa. Ainda
assim, uma diferença fundamental se impõe na condução dos negócios, já que
a própria Lei de nº. 11.101/2005, em seu art. 64, afirma que, durante o proce-
dimento de Recuperação Judicial, o devedor ou seus administradores serão
mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê,
se houver, e do administrador judicial. Por sua vez, em seu art. 103, dispõe
que, na falência, desde a sua decretação ou do sequestro, o devedor perde o
direito de administrar os seus bens ou deles dispor. Portanto, na Recuperação
Judicial, mantém-se o devedor no comando das atividades. Contudo, na decre-
tação da falência, o que se tem é a indisposição dos bens por parte do falido.

A Lei de nº. 11.101/2005 é aplicável, em teoria, a todos os empresários e às sociedades


empresárias. Entretanto, a própria lei promove uma série de exclusões. Para tanto, são
excluídas, em absoluto, as sociedades simples, vez que não são empresárias; as empre-
sas públicas e as sociedades de economia mista, também denominadas de empresas
estatais e que, mesmo exercendo atividade econômica, foram excluídas expressamente
e apresentam legislação própria; as cooperativas de crédito; os consórcios; as entidades
de previdência privada e outras entidades legalmente equiparadas.
Existem, ainda, algumas empresas ou sociedades empresárias que foram relativamente
excluídas. No caso, as instituições financeiras, as sociedades operadoras de planos de
saúde, as sociedades seguradoras e de capitalização estão relativamente excluídas, vez
que, embora tenham previsão de processo de liquidação na forma extrajudicial, há a pos-
sibilidade de processo de falência nas leis especiais que as regem.

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Citem-se, como exemplo, as instituições financeiras. Em regra, não podem
usufruir do processo de falência previsto na Lei de nº. 11.101/2005 para as
suas situações de crise econômico-financeira, mas o Banco Central poderá
solicitar a sua falência em algumas situações específicas.

A legislação de liquidação não trata dos crimes que podem ocorrer em decorrência de
uma crise, como as diversas situações de fraude; já a Lei de nº. 11.101/2005 apresenta
uma seção específica para os crimes falimentares. Portanto, o Banco Central poderá so-
licitar a falência de uma instituição financeira para participar do processo de persecução
penal existente entre os artigos 168 e seguintes da Lei de nº. 11.101/05. Assim, as obri-
gações a título gratuito e as despesas que os credores fizerem para tomar parte na Re-
cuperação Judicial ou na falência não são exigíveis do devedor, salvo as custas judiciais
decorrentes de litígio com este.

Um dos aspectos mais relevantes da Lei de nº. 11.101/2005, em


seu art. 6º, é que a decretação da falência ou o deferimento do pro-
cessamento da Recuperação Judicial suspende o curso da prescri-
ção e de todas as ações e execuções perante o devedor, inclusive
aquelas decorrentes de credores particulares do sócio solidário.

A prescrição dessas ações voltará a fluir do trânsito em julgado da sentença de encerra-


mento da falência ou da Recuperação Judicial, mas as ações que demandem quantias
ilíquidas – aquelas que não apresentam um valor certo e determinado, como as de natu-
reza trabalhista e as execuções de natureza fiscal – não são atingidas.
A prescrição funciona como um lapso temporal que, uma vez atingido, impede o aciona-
mento judicial da ação respectiva. Portanto, ao ser decretada a falência ou o deferimento
da Recuperação Judicial, o prazo prescricional será suspenso, bem como todas as ações
e execuções em face do devedor. Em vista disso, o prazo prescricional não é interrompi-
do. Apenas será suspenso e retornará do momento em que foi suspenso. Em se tratando
de créditos que não são de competência da justiça do trabalho decidir, sejam eles de na-
tureza salarial ou não, poderão ser pleiteados diante o administrador judicial.
Conforme o art. 6º, §1º, da Lei de nº. 11.101/2005, terá prosseguimento no juízo no qual
estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. A liquidez consiste na pos-
sibilidade de o crédito ter valor certo e definido. Uma vez ilíquido, necessitará ser definido
judicialmente, por intermédio de um procedimento denominado liquidação.

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Nos termos do art. 6º, §2.º da Lei de nº. 11.101/2005, é permitido pleitear,
perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de cré-
ditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista,
inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º da Lei, serão processadas
perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será
inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença.

Por sua vez, as execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da
Recuperação Judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código
Tributário Nacional e da legislação ordinária específica, conforme o art. 6º, §7º, da Lei de
nº. 11.101/2005.

Os procedimentos de Recuperação e de Falência são realizados pelos denomi-


nados órgãos falimentares. O primeiro e principal órgão para a realização dos
procedimentos é o Administrador Judicial. Trata-se do responsável pela con-
dução do processo de Recuperação Judicial e de Falência, e que não poderá
ser substituído sem autorização do magistrado.

Não se confunde o Administrador Judicial com o administrador societário, que é aquele


quem exerce as funções de gerenciamento e gestão nas sociedades, nos termos do art.
1.060 do Código Civil de 2002, vez que o Administrador Judicial não pode ser considera-
do sucessor tributário, relativamente a débitos fiscais ou responsável por atos públicos
realizados sob o fundamento da despersonalização da pessoa jurídica (BRASIL, 2002).
Para o exercício da função, podem ser escolhidas pessoas físicas – alguém idôneo, prefe-
rencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contabilista, confor-
me o art. 21 da Lei de nº. 11.101/2005 – ou pessoa jurídica – com obrigatória indicação
do profissional responsável pela condução do processo, que não poderá ser substituído
sem autorização do magistrado, nos termos do parágrafo único do art. 21 da Lei de nº.
11.101/2005 (BRASIL, 2005). A função de Administrador Judicial é indelegável e, uma vez
nomeado, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, assinará o termo de compromisso de
bem e fielmente desempenhar o cargo, nos termos do art. 33 da Lei de nº. 11.101/2005
(BRASIL, 2005).
Em seguida à nomeação e à assinatura do termo de compromisso, providenciará a arre-
cadação dos livros, documentos e bens do empresário, a fim de proceder ao inventário da
massa. O magistrado, portanto, fixará o valor de sua remuneração, de acordo com:

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a. a capacidade de pagamento do devedor;

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b. o grau de complexidade de pagamento do devedor;
c. o grau de complexidade do trabalho; e
d. os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes,
sem exceder 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à Recu-
peração Judicial ou do valor de venda dos bens na Falência, conforme disposição
do art. 24 da Lei de nº. 11.101/2005.
Reitere-se, ainda, que quem deve pagar a verba honorária do administrador é o próprio
devedor, o empresário, nos termos do art. 25 da Lei de nº. 11.101/2005.
O segundo órgão atuante no processo de Recuperação e de Falência é a Assembleia Ge-
ral de Credores. Compõe-se dos titulares de créditos derivados da relação de trabalho ou
decorrentes de acidentes de trabalho, dos titulares de crédito com garantia real, titulares
de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral e subordinados,
conforme o art. 41 da Lei de nº. 11.101/2005. Por sua vez, não irão compor a Assembleia
os créditos pertencentes à Fazenda Pública, os de titulares de créditos fiscais, bem como
os credores por multas contratuais e penas pecuniárias decorrentes de infração às leis
penais ou administrativas, a que se refere o art. 83, inciso VII, da Lei de nº. 11.101/2005. A
Assembleia, portanto, consiste em um órgão colegiado, que delibera sobre decisões que
influenciam diretamente o resultado da falência, como a aprovação de outra modalidade
para alienação do ativo, além daquelas previstas no art. 142 da Lei de nº. 11.101/2005.
Realizam Assembleias Gerais Ordinárias, convocadas para deliberação de matérias que
se inserem na regularidade do desenvolvimento de certa atividade mister.

Cite-se, como exemplo, a publicação de edital, na falência, para que os credo-


res possam habilitar ou opor divergências a respeito de seus créditos, confor-
me o art. 99, inciso III, que ordena ao falido que apresente, no prazo máximo de
5 (cinco) dias, relação nominal dos credores, indicando endereço, importância,
natureza e classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar
nos autos, sob pena de desobediência, bem como os §§1º, 2º e 3º do mesmo
dispositivo, criados pela Lei de nº. 14.112/2020, que condicionam ao magis-
trado que ordene a publicação de edital eletrônico com a íntegra da decisão
que decreta a falência e a relação de credores apresentada pelo falido.

Em seguida, que se realize a intimação eletrônica das pessoas jurídicas de direito públi-
co integrantes da administração pública indireta (Autarquias e Fundações Públicas de
Direito Público) vinculada aos entes federativos respectivos. No caso, se federal, à Pro-
curadoria-Geral Federal e à Procuradoria-Geral do Banco Central do Brasil; se estadual ou

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distrital, à respectiva Procuradoria-Geral, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de

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representação judicial específico das entidades interessadas; e se municipal, à respectiva
Procuradoria-Geral ou, se inexistir, ao gabinete do Prefeito, à qual competirá dar ciência
a eventual órgão de representação judicial específico das entidades interessadas. Após
decretada a quebra ou convolada a Recuperação Judicial em falência, o administrador
deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contado do termo de nomeação, apresentar,
para apreciação do juiz, plano detalhado de realização dos ativos, inclusive com a estima-
tiva de tempo não superior a 180 (cento e oitenta) dias, a partir da juntada de cada auto
de arrecadação, na forma do inciso III do caput do art. 22 da Lei de nº. 11.101/2005.

As Assembleias Gerais serão convocadas pelo magistrado por edi-


tal, publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas
localidades da sede e filiais do falido, com antecedência mínima de
15 (quinze) dias, devendo a cópia do aviso de convocação ser afixa-
do de forma ostensiva na sede e nas filiais do devedor, nos termos
do art. 36 da Lei de nº. 11.101/2005.

Também poderá o magistrado convocar a Assembleia Geral para a constituição de Co-


mitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em
funcionamento na Recuperação Judicial quando da decretação da falência, obedecendo
ao art. 99, inciso XII, da Lei de nº. 11.101/2005.
Podem requerer ao magistrado a convocação de Assembleia Geral todos os credores que
representem, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) do valor total dos créditos de uma
determinada classe, art. 36, § 2º, da Lei de nº. 11.101/2005.
Por sua vez, podem ser realizadas Assembleias Gerais Extraordinárias, convocadas por-
que alguma matéria, questão ou circunstância especial exige conhecimento, deliberação
e aprovação. Geralmente ocorrem em situações de interesse dos credores ou questões
de interesse da massa.
Finalmente, há o Comitê de Credores, legitimado, na Falência e na Recuperação Judicial,
a requerer ao magistrado a convocação da Assembleia Geral de credores. O Quórum po-
derá ser exigido para instalação ou para votação de determinada matéria, em Assembleia
Geral, art. 37, § 2º, LFR. Instalar-se-á:

a. em 1ª convocação, com a presença de credores titulares de mais da meta-


de dos créditos de cada classe, computados pelo valor;
b. em 2ª convocação, com qualquer número.

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A aferição é coletiva na respectiva classe, seja a classe dos trabalhistas, dos quirogra-

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fários ou mesmo dos credores com garantia real. Terão direito a voto, nas Assembleias
Gerais, as pessoas arroladas no Quadro Geral de Credores e, na sua falta, na relação de
credores apresentada pelo administrador, na fase administrativa de verificação de crédi-
tos, art. 7º, §§ 1º e 2º, LFR e, na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor.

O voto do credor, na Assembleia, será proporcional ao valor de seu


crédito, ressalvado nas deliberações sobre o Plano de Recuperação
Judicial, e o caso dos credores trabalhistas, que votarão o plano
que afete seus créditos por intermédio de um voto democrático, em
que cada trabalhador terá direito a um voto, independentemente do
valor de seu crédito.

O credor poderá ser representado na Assembleia Geral por mandatário ou representante


legal, desde que entregue ao Administrador Judicial, até 24 horas antes da data prevista
no aviso de convocação, documento hábil que comprove seus poderes ou a indicação
das folhas dos autos do processo em que se encontre o documento.
O art. 37, §5º, da Lei de nº. 11.101/2005, estabelece que os Sindicatos de Trabalhadores
poderão representar seus associados, na Assembleia Geral de Credores, desde que a na-
tureza dos créditos seja trabalhista ou acidentária, vale dizer crédito derivado de contrato
individual de trabalho ou de acidente de trabalho.
A Assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: a) titulares de
créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; b)
titulares de créditos com garantia real; c) titulares de créditos quirografários, com privilé-
gio especial, com privilégio geral ou subordinado; e d) titulares de créditos enquadrados
como microempresa ou empresa de pequeno porte.

Finalmente, o Comitê Geral de Credores consiste em uma comissão fiscali-


zadora que integra os órgãos da Falência e da Recuperação Judicial, não ne-
cessário ou obrigatório, e será constituído por deliberação de qualquer das
classes de credores na Assembleia Geral, e será composto de: a) 1 (um) re-
presentante indicado pela classe de credores trabalhistas (com 2 suplentes);
1 (um) indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou pri-
vilégios especiais (com 2 suplentes) e 1 (um) indicado pela classe de credores
quirografários e com privilégios gerais (com 2 suplentes).

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2.

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE EMPRESAS

Quando uma empresa está em crise econômico-financeira e apresenta viabili-


dade de pagar suas dívidas, cumprir seus compromissos e obrigações e retor-
nar à atividade exercida, pode ser concedida a sua Recuperação Judicial, que
consiste em um concurso de credores que permitirá o retorno do empresário
ao mercado, após regular procedimento de pagamento de seus credores e de-
monstração de viabilidade econômica da empresa.

O art. 47 da Lei de nº. 11.101/2005 indica que a finalidade da Recuperação Judicial é via-
bilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permi-
tir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica.
Nesse sentido, com ênfase na reorganização da empresa e na preservação de sua ativi-
dade com a devida reestruturação de seu passivo, a Recuperação confere ao empresário
devedor o benefício de apresentar um plano de pagamentos, após verificação com seus
credores. Portanto, a Recuperação Judicial é um instituto que permite ao devedor empre-
sário ou sociedade empresária devedora a possibilidade de negociar diretamente com
todos os seus credores ou apenas parte deles.
O titular da empresa apresentará propostas de acordo com possibilidades reais, amplian-
do o universo de medidas eficazes e suficientes à satisfação dos créditos negociados, e
a Recuperação Judicial poderá ser requerida:
a. pelo próprio empresário em crise econômico-financeira;
b. pela própria sociedade empresária em crise econômico-financeira;
c. pelo cônjuge sobrevivente;
d. pelos herdeiros;
e. pelo inventariante (representante e administrador do monte-mor partilhável, que
corresponde ao patrimônio deixado pelo falecido); e
f. pelo sócio remanescente.

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Para alcançar a Recuperação Judicial, o empresário ou a sociedade empresária devem

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atingir alguns requisitos, já que superar a crise que afeta o desenvolvimento de sua ativi-
dade econômica exige algumas posturas relevantes. Os requisitos para a concessão da
Recuperação Judicial estão elencados no art. 48 da Lei de nº. 11.101/2005, e defende
que poderá requerer Recuperação Judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos , e que atenda aos seguintes re-
quisitos, cumulativamente:
a. não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial;
c. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
d. não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pes-
soa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Há, ainda, disposição expressa de que a Recuperação Judicial também poderá ser requeri-
da pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente,
no art. 48, §1º, da Lei de nº. 11.101/2005, bem como de que, em se tratando de exercício
de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo estabelecido no
caput deste artigo por meio da Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa
Jurídica – DIPJ, que tenham sido entregues tempestivamente, nos termos do art. 48, §2º,
da Lei de nº. 11.101/2005.

Todos os créditos existentes na data do pedido estarão sujeitos aos efeitos da


Recuperação Judicial, ainda que não vencidos, exceto aqueles previstos nos
§§ 3.º e 4.º, art. 49, Lei nº 11.101/05. São eles:
a. os créditos tributários e previdenciários;
b. os créditos posteriores ao pedido de Recuperação Judicial;
c. os créditos de proprietário fiduciário;
d. os créditos de arrendamento mercantil (leasing);
e. vendedor ou promitente vendedor de imóvel, cujos respectivos contratos
contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive in-
corporações imobiliárias;
f. proprietário em contrato de venda com reserva de domínio;
g. titulares de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio).

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O credor de ação que demandar quantia ilíquida (que não apresenta valores certos e

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definidos), bem como o credor de ação de natureza trabalhista, poderá requerer, no juízo
em que tramita a demanda, a reserva da importância que estimar devida e, uma vez re-
conhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. Ainda que diversos
créditos vinculados à União, Estados-membros, Municípios e INSS não estejam sujeitos
ao benefício legal, é permitido o parcelamento das dívidas tributárias, nos termos dos
artigos 6º, § 7º, da Lei de nº. 11.101/2005, combinado com o art. 155-A, § 3º, do Código
Tributário Nacional, e as disposições da Lei Complementar de nº. 118/2005.
Os créditos constituídos posteriormente à impetração do requerimento da Recuperação
Judicial também estão excluídos dos efeitos desta e, portanto, não serão renegociados
no plano de Recuperação Judicial.

Essa medida é essencial, vez que se os credores já soubessem com


antecedência que seus créditos posteriores prontamente sofreriam
qualquer tipo de alteração ou novação (substituição de uma dívida
anterior por uma nova dívida, em termos diferenciados da original),
certamente se recusariam a concedê-los e, sem crédito, torna-se
praticamente impossível a superação da crise econômica.

Para incentivar ainda mais a concessão de crédito, bem como impulsionar a manutenção
do fornecimento, propiciando a preservação dos meios produtivos, é que a Lei de nº.
11.101/2005, em seu artigo 67, não apenas exclui os créditos posteriores ao ajuizamento
do pedido de Recuperação Judicial, mas considera esses créditos posteriores, decor-
rentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a Recuperação Judicial, inclusi-
ve aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de
mútuo, como créditos extraconcursais, em caso de decretação da falência, e, como tais,
serão pagos, com precedência, sobre todos os demais créditos mencionados no art. 83,
acerca do concurso de credores.
Para assegurar condições favoráveis à manutenção do fornecimento à empresa em crise,
os créditos quirografários sujeitos (anteriores ao pedido) à Recuperação Judicial perten-
centes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-los regularmente,
após o pedido do benefício, terão privilégio geral de recebimento, em caso de decretação
da falência, no limite do valor do fornecimento do período da Recuperação. Se for decre-
tada a falência do devedor, haverá prestígio para os créditos de mútuo e fornecimento
decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a Recuperação judicial.

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Esses credores receberão seus créditos antes mesmo dos credo-
res trabalhistas, e os créditos derivados de obrigações contraídas
antes do pedido de Recuperação Judicial concorrerão com os de
privilégio geral.

A competência para a propositura das ações de Recuperação Judicial e de Falência,


bem como para a homologação da Recuperação Extrajudicial, é do juízo do principal esta-
belecimento do devedor, que deve ser entendido como aquele em que se encontra centra-
lizado o maior volume de negócios da empresa, mesmo que se tenha estabelecido de ou-
tra forma, consensual ou contratualmente, conforme o art. 3º da Lei de nº. 11.101/2005.
O magistrado, ao constatar que a petição inicial está devidamente instruída, deferirá o
processamento da Recuperação Judicial. A petição conterá: a exposição das causas con-
cretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;
as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levan-
tadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da
legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a. balanço patrimonial;
b. demonstração de resultados acumulados;
c. demonstração do resultado desde o último exercício social;
d. relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção.
A relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou
de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor
atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos
e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; a relação integral dos
empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras
parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discrimi-
nação dos valores pendentes de pagamento; certidão de regularidade do devedor no
Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos
atuais administradores; a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos
administradores do devedor; os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e
de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos
de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições finan-
ceiras; certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede
do devedor e naquelas onde possui filial; a relação, subscrita pelo devedor, de todas as
ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com
a estimativa dos respectivos valores demandados.

16
Fora esses requisitos, o pedido de Recuperação Judicial deverá estar acompanhado de

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alguns documentos, que, uma vez ausentes, podem promover o indeferimento do pedido.
São eles:
a. a exposição de causas;
b. as demonstrações contábeis (podendo ser simplificadas, na hipótese de o devedor
ser microempresa ou empresa de pequeno porte);
c. o relatório da situação econômica; a relação dos credores;
d. a relação dos empregados;
e. a certidão de regularidade da Junta Comercial; o contrato social ou estatuto atuali-
zado e atas de nomeação dos atuais administradores;
f. a relação dos bens particulares dos sócios controladores e administradores;
g. os extratos bancários do devedor; certidões de protesto;
h. a relação das ações judiciais em andamento.
A petição inicial de Recuperação tem por objetivo demonstrar requisitos e juntar certos
documentos para que haja o despacho de processamento da recuperação de empresas,
que vale como início ao procedimento de verificação da viabilidade da preservação da
empresa e do seu plano de recuperação, com a eventual aprovação, alteração ou rejeição
e consequente falência.
No despacho de processamento, o magistrado deverá:
a. nomear o administrador judicial;
b. determinar a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor
exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para rece-
bimento de benefícios, ou incentivos fiscais, ou creditícios (lembrando que, em to-
dos os atos, contratos e documentos firmados, o devedor deverá acrescentar, após
o nome empresarial, a expressão “em recuperação judicial”;
c. suspender todas as ações ou execuções contra o devedor, ressalvadas as ações que
demandarem quantia ilíquida; as ações de natureza trabalhista; execuções fiscais,
caso não realizado o parcelamento na forma da legislação específica a ser editada
na forma do art. 155- A, §§ 3º e 4º, do Código Tributário Nacional; execuções cujo
objeto sejam créditos que não se submetem à Recuperação Judicial, já examinados
no item, tais como proprietário fiduciário, arrendador mercantil etc., que prossegui-
rão no juízo de origem;
d. ordenar ao devedor a apresentação mensal de contas demonstrativas;
e. intimar o Ministério Público e comunicar por cartas às Fazendas Públicas Federais
e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.

17
Após a análise do preenchimento dos requisitos mencionados, o magistrado deverá pro-

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ferir o despacho que defere a Recuperação e, se for o caso, além de deferir o processa-
mento da recuperação, nomear o administrador judicial, ordenando, também, a suspen-
são temporária de todas as ações e execuções pelo prazo improrrogável de 180 (cento e
oitenta) dias. Ao mesmo tempo, irá determinar ao devedor que apresente as contas de-
monstrativas mensais enquanto perdurar a Recuperação Judicial e ordenará a intimação
do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos
os estados e municípios em que o devedor tiver estabelecimento. Deferido o processa-
mento da Recuperação, o empresário ou a sociedade empresária não poderá mais desis-
tir dela, salvo se obtiver aprovação de sua desistência na Assembleia Geral de Credores.

O empresário ou a sociedade empresária deverá apresentar o plano de re-


cuperação no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da
decisão que deferir o processamento de Recuperação Judicial, sob pena de
convolação em falência.

O plano apresentará, de forma discriminada e pormenorizada: os meios de Recuperação


a serem empregados para superar a crise; demonstração de sua viabilidade econômica;
laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por
profissional legalmente habilitado ou empresa especializada; não ter sido condenado ou
não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos
crimes previstos na Lei de nº. 11.101/2005.

O art. 50 da Lei de nº. 11.101/2005 elenca os meios de Recuperação, em rol


exemplificativo, podendo o empresário, por meio de outras possibilidades, re-
cuperar sua empresa. São eles:
a. concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obriga-
ções vencidas ou vincendas;
b. cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de
subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos
dos sócios, nos termos da legislação vigente;
c. alteração do controle societário;
d. substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modifica-
ção de seus órgãos administrativos;
e. concessão aos credores de direito de eleição em separado de administra-
dores e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar;

18
Voltar ao sumário
f. aumento de capital social;
g. trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade
constituída pelos próprios empregados;
h. redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva;
i. dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem cons-
tituição de garantia própria ou de terceiros;
j. constituição de sociedade de credores;
k. venda parcial dos bens;
l. equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natu-
reza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de Recupe-
ração Judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem
prejuízo do disposto em legislação específica;
m. usufruto da empresa;
n. administração compartilhada;
o. emissão de valores mobiliários; e
p. constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em paga-
mento dos créditos, os ativos do devedor.

O legislador estabeleceu, ainda, algumas restrições em decorrência dos créditos de natu-


reza trabalhista no artigo 54 da Lei de nº. 11.101/2005. No caso, o plano de Recuperação
Judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos de-
rivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até
a data do pedido de Recuperação Judicial. O magistrado ordenará a publicação de edital
contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o
prazo para a manifestação de eventuais objeções.
Cumpridas as exigências da Lei de nº. 11.101/2005, o magistrado concederá a Recupe-
ração Judicial do devedor, se o plano não tiver sofrido objeção de credor ou tenha sido
aprovado pela Assembleia-geral de credores. Nessas situações, o magistrado realizará
uma aprovação simples.

19
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Apresentando-se objeção por parte de algum credor, o magistrado deverá
convocar a assembleia geral de credores, para que esta delibere sobre o pla-
no de recuperação, aprovando-o, rejeitando-o ou modificando-o. Entretanto, a
realização da assembleia não poderá exceder 150 (cento e cinquenta) dias
contados do deferimento do processamento da Recuperação Judicial.

O magistrado poderá conceder a Recuperação Judicial com base em plano que não obte-
ve aprovação na Assembleia geral de credores, desde que, na mesma assembleia, tenha
o plano obtido, de forma cumulativa: a) o voto favorável de credores que representem
mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia, independente-
mente de classes; b) aprovação em cada uma das classes de credores. Aprovado o plano,
para que o empresário ou a sociedade empresária possa executá-lo, é necessária, ainda,
a apresentação de certidões negativas de débitos tributários. Se tais certidões não forem
apresentadas, o juiz indeferirá desde logo o pedido de Recuperação.
O magistrado poderá conceder a Recuperação Judicial com base em aprovação forçada
do plano que não obteve aprovação na assembleia geral de credores, desde que haja:
a) o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembleia, independentemente de classes; b) a aprovação de duas
das classes de credores pelo quórum qualificado já estudado ou, caso haja somente duas
classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos uma delas; e c) na classe
que houver rejeitado o plano, tiver obtido o voto favorável de mais de 1/3 dos credores.
Se o plano de recuperação de empresa não ter sido aprovado, o magistrado decretará a
falência do empresário.

Cumpridas as obrigações vencidas no prazo da Recuperação Judi-


cial, o juiz decretará por sentença o encerramento da Recuperação
Judicial por sentença, da qual cabe recurso de agravo, enquanto a
sentença que encerra a recuperação enfrenta o recurso de apelação.

20
3.

Voltar ao sumário
RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL
E RECUPERAÇÃO ESPECIAL

O devedor empresário ou a sociedade empresária que preencher os requisitos


previstos na Lei de nº. 11.101/2005 poderá solicitar o exercício da prerrogativa
de não necessitar recorrer ao Poder Judiciário para negociar um plano de recu-
peração com seus credores, vez que se utilizará da denominada Recuperação
Extrajudicial.

O procedimento de Recuperação Extrajudicial consiste na formação de um plano que,


posteriormente, será homologado pelo Poder Judiciário, e apresenta algumas peculiari-
dades que o diferenciam da Recuperação Judicial.

A Recuperação Extrajudicial não exclui a possibilidade de negocia-


ção do devedor empresário ou sociedade empresária com seus
credores, sem nenhuma intervenção do Poder Judiciário, conforme
disposição expressa do artigo 167 da Lei de nº. 11.101/2005 (BRA-
SIL, 2005).

Portanto, o devedor que preencher os requisitos previstos no artigo 161 da Lei de nº.
11.101/2005 poderá propor e negociar com os credores um plano de Recuperação Ex-
trajudicial. Os requisitos são os mesmos estabelecidos no artigo 48 para a Recuperação
Judicial. Sendo assim, poderá requerer Recuperação Extrajudicial o devedor que, no mo-
mento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos, e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
a. não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
b. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial;
c. não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de Recuperação Judicial
com base no plano especial referente a pequenos empresários;
d. não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pes-
soa condenada por qualquer dos crimes previstos na Lei de nº. 11.101/2005.

21
Esses são os requisitos classificados como subjetivos, vez que decorrentes dos aspec-

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tos inerentes à pessoa do empresário ou da sociedade empresária (COELHO, 2020).
Por sua vez, existem requisitos objetivos, quais sejam: não se prever pagamento anteci-
pado de nenhuma dívida (artigo 161, §2º); dar aos credores sujeitos ao plano tratamento
igualitário (art. 161, §2º); abranger somente créditos constituídos até a data do pedido
de homologação do plano de Recuperação Extrajudicial (artigo 163, §1º); necessário con-
sentimento de credor garantido para que haja a alienação, supressão ou substituição de
garantia real (artigo 163, §4º); e não conceder afastamento de variação cambial sem que
haja a anuência do respectivo credor (art. 163, §5º) (BRASIL, 2005).
De qualquer forma, o Plano de Recuperação Extrajudicial não se aplica para os créditos
de natureza fiscal, bem como aos de natureza trabalhista ou acidentários decorrentes de
relação de trabalho. Há, ainda, vedação para os créditos decorrentes da posição de pro-
prietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou
promitente vendedor de imóvel que tenha contrato com cláusula de irrevogabilidade (não
pode ser revogado) ou irretratabilidade (não permite retratações de qualquer espécie), in-
clusive em incorporações imobiliárias ou de proprietário em contrato de venda com reser-
va de domínio, que consistem nos créditos de natureza real – decorrente de uma relação
entre um indivíduo e um bem. Essas relações apresentam algumas restrições próprias
da legislação pertinente aos denominados Direitos Reais e, portanto, não se inserem na
regra geral da Recuperação Extrajudicial (COELHO, 2021).
Da mesma forma, foi vedada a concessão de Recuperação Extrajudicial para os credores
de adiantamento de contrato de câmbio, em decorrência de sua natureza. O Adiantamen-
to sobre Contrato de Câmbio (ACC) é um instituto que permite a antecipação financeira
parcial ou total para empresas que venderam produtos ao exterior com entrega futura.
Portanto, o ACC atua como uma espécie de financiamento, em que uma instituição finan-
ceira adianta capital ao exportador antes do seu produto embarcar para o destinatário
final. É por intermédio do ACC que um exportador consegue acessar de forma imediata
parte do pagamento sobre o que foi exportado. Assim, com esse adiantamento, o empre-
sário não precisa esperar um longo período para receber pela venda, desafogando seu
caixa e fornecendo condições para o negócio continuar operando (MAMEDE, 2021).

O adiantamento é todo feito em moeda nacional, relativo ao valor da venda feita


em moeda estrangeira. Portanto, a conversão é feita pela taxa de câmbio corren-
te do dia da contratação do ACC. Assim, o adiantamento também permite que o
exportador receba o seu pagamento em uma taxa de câmbio fixa, que o protege
de possíveis variações cambiais até a entrega do produto. Como é um contrato
de natureza fluida e com antecipação de valores, sua utilização na Recuperação
Extrajudicial seria muito insegura e incerta, e prejudicaria o plano.

22
Outra diferença da Recuperação Extrajudicial para a Recuperação Judicial é que o pedido

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de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de di-
reitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência
pelos credores não sujeitos ao plano de Recuperação Extrajudicial.
A homologação do plano de Recuperação Extrajudicial pode se dar de forma facultati-
va ou obrigatória. A homologação facultativa está prevista no artigo 162 da Lei de nº.
11.101/2005, e permite que o devedor possa requerê-la em juízo, juntando sua justifi-
cativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos
credores que a ele aderiram (BRASIL, 2005).

Nesses termos, todos os credores alcançáveis pela Recuperação


Extrajudicial aderiram ao plano, mas a homologação não é condi-
ção para obrigá-los, vez que já aceitaram o plano. A petição em juízo
para homologar pode se dar para revestir o ato de solenidade e se-
gurança, proibindo-se, em regra, a desistência por parte do credor.

Após a distribuição do pedido de homologação da Recuperação Judicial, os credores não


poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signa-
tários. Portanto, o devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial se
tiver pendente pedido de Recuperação Judicial ou se tiver obtido Recuperação, em qual-
quer de suas modalidades, há menos de 2 (dois) anos.
O devedor poderá, também, requerer a homologação de plano de Recuperação Extrajudi-
cial de forma obrigatória, que condiciona a todos os credores por ele abrangidos, desde
que assinado por credores que representem mais de 3/5 (três quintos) de todos os crédi-
tos de cada espécie por ele abrangidos.
Nessa situação, por sua vez, conseguiu o devedor apenas uma parte da adesão que ne-
cessita por parte dos credores que podem ser submetidos ao processo de Recuperação
Extrajudicial. Portanto, quando ocorrer a homologação, os credores restantes e que não
concordarem com a Recuperação passam a ficar obrigados.

23
Voltar ao sumário
Para a homologação do plano, além dos documentos previstos no caput do
artigo 162 da Lei de nº. 11.101/2005, deverá o devedor juntar:
a. exposição da situação patrimonial do devedor;
b. as demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as le-
vantadas, especialmente para instruir o pedido, na forma do inciso II do
caput do art. 51 desta Lei; e
c. os documentos que comprovem os poderes dos subscritores para novar
ou transigir, relação nominal completa dos credores, com a indicação do
endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimen-
tos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente
(BRASIL, 2005).

Recebido o pedido de homologação do plano de Recuperação Extrajudicial, o magistrado


ordenará a publicação de edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacio-
nal ou das localidades da sede e das filiais do devedor, convocando todos os credores
do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano.
Mas não é por qualquer motivo que pode o credor impugnar o plano. Deve ser por um
dos motivos previstos no parágrafo terceiro do artigo 163 da Lei de nº. 11.101/2005. São
eles: a) não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163 da Lei; b)
a prática de qualquer dos atos previstos no inciso III do art. 94 ou do art. 130 desta Lei,
ou descumprimento de requisito previsto na Lei; c) o descumprimento de qualquer outra
exigência legal (BRASIL, 2005).

Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação


do edital, para impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito.
No prazo do edital, deverá o devedor comprovar o envio de carta a
todos os credores sujeitos ao plano, domiciliados ou sediados no
Brasil, informando a distribuição do pedido, as condições do plano
e o prazo para impugnação (MAMEDE, 2021).

Os credores terão um prazo de 30 dias, contado da publicação do edital, para impugnar


o plano, juntando a prova de seu crédito. Apresentada impugnação, será aberto prazo de
5 (cinco) dias para que o devedor sobre ela se manifeste. Cabe ao juiz decidir sobre a
procedência ou não do pedido de Recuperação Extrajudicial.

24
Na hipótese de não homologação do plano, o devedor poderá, cumpridas as formalida-

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des, apresentar novo pedido de homologação de plano de Recuperação Extrajudicial, nos
termos do artigo 163, §8º, da Lei de nº. 11.101/2005. Nessa situação, é válida se o vício
for formal (BRASIL, 2005).
O plano de Recuperação Extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial, con-
forme o artigo 165 da Lei de nº. 11.101/2005. Ainda assim, é lícito, contudo, que o plano
estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que exclusivamente
em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários
(BRASIL, 2005).
Da sentença que defere ou denega o pedido de Recuperação Extrajudicial, cabe o recurso
de apelação sem efeito suspensivo, conforme o artigo 164, §7º, da Lei de nº. 11.101/2005.
Há, ainda, a possibilidade de se realizar uma Recuperação Especial, para aqueles que se
encaixem como pequenos empresários.

Para os efeitos da Lei Complementar de nº. 123/2006, consideram-se microem-


presas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade
simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o empresário a
que se refere o art. 966 do Código Civil de 2002, devidamente registrados no
Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, a
cargo das Juntas Comerciais (BRASIL, 2006).

A Lei Complementar de nº. 123/2006 determina que será considerada microempresa


aquela que atingir, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais).
Nos termos do artigo 70 da Lei Complementar de nº. 123/2006, as pessoas de que trata
o art. 1º – pequenos empresários – e que se incluam nos conceitos de microempresa
ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação vigente, sujeitam-se às suas
normas.
Considera, ainda, empresa de pequeno porte o empresário ou a pessoa jurídica que aufira,
em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 3.600.000,01 (três milhões, seiscen-
tos mil e um reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil
reais).
A partir de 1º de janeiro de 2018, os valores de receita bruta passaram a ser superiores a
R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (qua-
tro milhões e oitocentos mil reais), conforme alteração trazida pela Lei Complementar de
nº. 155/2016 (BRASIL, 2006).

25
Assim, as microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei,

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poderão apresentar plano especial de Recuperação Judicial, desde que afirmem sua in-
tenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o artigo 51 da Lei Complementar de nº.
123/2006. Portanto, os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus crédi-
tos habilitados na Recuperação Judicial.

O pedido de Recuperação Especial é uma faculdade, e pode ser exercitada


apenas por microempresários e por empresários de pequeno porte. Cabe, por-
tanto, aos devedores empresários ou sociedades empresárias, enquanto en-
quadrados como microempresas ou empresas de pequeno porte, optar pelo
plano especial, mencionando essa opção em sua petição inicial de Recupera-
ção Judicial (RAMOS, 2020).

O plano especial de Recuperação Judicial será apresentado no prazo previsto no art. 53


da Lei de nº. 11.101/2005, e se limitará às seguintes condições: a) abrangerá todos os
créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorren-
tes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do artigo 49;
b) preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas,
acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia –
SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas; c) preverá o
pagamento da 1º (primeira) parcela no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, con-
tado da distribuição do pedido de Recuperação Judicial; d) estabelecerá a necessidade
de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de Credores, para
o devedor aumentar despesas ou contratar empregados (BRASIL, 2005).

Deve-se ressaltar que antes da apresentação desse plano caberá


aos devedores empresários requerer o deferimento do processa-
mento do seu pedido, e esse deferimento somente ocorrerá se o
magistrado constatar o preenchimento dos requisitos constantes
do art. 48 da Lei de nº. 11.101/2005 (BRASIL, 2005).

Feito o requerimento regularmente, bem como preenchidos os requisitos legais, o magis-


trado deferirá o processamento do pedido de Recuperação Judicial, abrindo-se o prazo de
60 (sessenta das) dias para a apresentação do plano especial.

26
De acordo com a redação original do inciso I do art. 71, apenas os créditos quirografários

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podiam ser abrangidos pelo plano especial, com as mesmas exceções do plano normal
dos demais devedores. Assim, os créditos trabalhistas, fiscais, com garantia real, com
privilégio especial ou geral, entre outros, não se submetiam aos efeitos do plano especial
de recuperação dos microempresários e dos empresários de pequeno porte. Entretanto,
essa regra foi modificada e, assim, o plano especial passou a abranger todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, excetuados os decorrentes de
repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49. Dessa
forma, para alguns autores, não há diferença entre o plano especial e o plano normal de
recuperação no tocante aos créditos abrangidos (RAMOS, 2020).

O pedido de Recuperação Judicial com base em plano especial não acarreta


a suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos
não abrangidos pelo plano.

Portanto, todas as ações e execuções relativas a créditos não abrangidos pelo plano
terão prosseguimento regular em suas respectivas varas, não sofrendo qualquer parali-
sação. De qualquer forma, os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus
créditos habilitados na Recuperação Judicial.
Os créditos submetidos aos efeitos do plano especial serão parcelados em até 36 pres-
tações mensais, iguais e sucessivas, sobre as quais incidirão juros equivalentes à SELIC.
O plano especial pode, ainda, propor um abatimento das dívidas a ele submetidas. Ante-
riormente, a Lei de nº. 11.101/2005 previa juros 12% (dez por cento) ao ano, e não havia
menção expressa à possibilidade de abatimento das dívidas, mas essa disposição foi
modificada (BRASIL, 2005).

O pagamento da primeira prestação ocorrerá no prazo máximo de 180 (cento


e oitenta) dias, contados da data de distribuição do pedido de Recuperação
Judicial. Assim, o devedor não terá muito tempo para iniciar os pagamentos,
uma vez que o requerimento provavelmente foi distribuído há no mínimo 60
(sessenta) dias, que é o prazo concedido pela lei para que ele apresente seu
plano após deferido o processamento de seu pedido pelo magistrado (RA-
MOS, 2020).

Caberá ao magistrado, ouvidos o administrador judicial e o comitê de credores, autori-


zar qualquer aumento de despesas ou contratação de empregados por parte do devedor
(MAMEDE, 2021).

27
A grande diferença entre o plano especial e o plano normal de Recuperação Judicial,

Voltar ao sumário
portanto, é que no primeiro a própria lei já estabelece como será o plano: parcelamento
em até 36 (trinta e seis) vezes, juros equivalentes à SELIC e carência de até 180 (cento
e oitenta dias), enquanto no segundo o devedor é livre para estabelecer suas condições.
Além de todas as especificidades do plano especial, há uma outra peculiaridade: a apro-
vação do plano especial apresentado, de forma diversa do que ocorre no processo de
Recuperação normal dos demais devedores, não é competência da assembleia-geral dos
credores, mas do próprio magistrado.
Entretanto, não se pode afirmar que o magistrado é livre para decidir se concede ou não
a Recuperação Judicial com base em plano especial, vez que, dependendo da quantidade
de credores que apresentem objeções ao plano, a sua rejeição será inevitável, com a con-
sequente decretação da falência do micro ou pequeno devedor (RAMOS, 2020).

Conforme disposição do artigo 72 da Lei de nº. 11.101/2005, em seu pará-


grafo único: “o juiz também julgará improcedente o pedido de Recuperação
Judicial e decretará a falência do devedor se houver objeções, nos termos do
art. 55, de credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes
de créditos previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, todos desta
Lei” (BRASIL, 2005).

4. FALÊNCIA DE EMPRESAS

O empresário ou a sociedade empresária explora uma atividade econômica


por intermédio de um estabelecimento empresarial, que apresentará um pa-
trimônio afetado para o exercício da atividade. Sendo assim, o patrimônio é
considerado como uma garantia aos credores, vez que o empresário ou a so-
ciedade empresária se encontre em uma crise econômico-financeira.

Entretanto, quando o patrimônio não for suficiente para saldar as dívidas contraídas, já
que o passivo será maior que o ativo, poderá ingressar o devedor empresário ou socieda-
de empresária no instituto da falência. Portanto, os credores com créditos vencidos ou
vincendos – prestes a vencer – apresentarão maiores possibilidades de evitar a inadim-

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plência do devedor, vez que os demais credores estarão impedidos de cobrá-los antes do

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vencimento. Portanto, para evitar situações de injustiça entre os credores, já que alguns
receberiam e outros poderiam ficar no prejuízo, instaura-se um processo de concurso
de credores por intermédio da falência, que tem por objetivo assegurar a igualdade de
oportunidades aos credores de um empresário ou sociedade empresária insolvente e
insuscetível de Recuperação Judicial.

A igualdade de condição aos credores é representada por um princípio jurídico


denominado par conditio creditorum.

Por esse princípio, todos os credores, de forma igualitária, concorrerão à distribuição pro-
porcional do ativo do devedor empresário ou da sociedade empresária, decorrente da
alienação judicial dos bens verificados e arrecadados. Excetuam-se, por outro lado, al-
gumas preferências impostas por lei. É um processo de execução coletiva ou concursal,
pelo qual o devedor empresário é afastado de suas atividades para preservar e otimizar
a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis,
da empresa (VIDO, 2021).
Conforme disposição do artigo 77 da Lei de nº. 11.101/2005, a decretação da falência
determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e soli-
dariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os
créditos em moeda estrangeira para a moeda no Brasil, pelo câmbio do dia da decisão ju-
dicial, para todos os efeitos da Lei. Ao mesmo tempo, ressalta-se que é por intermédio da
falência que se dá o encerramento da atividade econômica desenvolvida pela empresa
em crise econômico-financeira, de forma a minimizar os prejuízos de seus empregados e
credores (BRASIL, 2005).
Ainda assim, nem todas as situações de crise econômico-financeira ensejam a ins-
tauração de um processo falimentar. Conforme disposição do artigo 94 da Lei de nº.
11.101/2005, será decretada a falência do devedor em situações que se promovam atos
de falência.

A situação de insolvência empresarial, decorrente da crise econômico-finan-


ceira, pode ser presumida em situações de impontualidade injustificada. Nes-
se caso, todo devedor empresário ou sociedade empresária que, sem relevante
razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida, materializada em
título ou títulos executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a
40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência, pode se sujeitar
ao processo falimentar (MAMEDE, 2021).

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O não pagamento deve estar correlacionado a uma ou mais obrigações líquidas, ou seja,

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certas quanto à existência e determinação de seus objetos, aqui entendidas como aque-
las representadas pelos títulos executivos judiciais ou extrajudiciais (previstos expressa-
mente no artigo 784 do Código de Processo Civil).

Torna-se indispensável que a impontualidade seja injustificada, já que não


haverá um justo motivo ou relevante razão de direito para a alegada inadim-
plência. Entretanto, a impontualidade deve ser provada por meio do protesto
do título, que servirá para constituir o devedor em mora (que não cumpriu o
vencimento da dívida).

Ressalte-se, ainda, que todo título estará sujeito a protesto, inclusive a sentença judicial,
que é um título executivo judicial (RAMOS, 2020).

A segunda hipótese de instauração do processo falimentar é o da execução


frustrada. Da mesma forma, será decretada a falência quando o devedor exe-
cutado por qualquer quantia líquida não paga, não deposita e não nomeia
bens suficientes para solver os débitos dentro do prazo legal. Nessa situação,
presume-se que é insolvente o devedor, pois não tem condições e patrimônio
suficientes para saldar a obrigação exigida, frustrando, por conseguinte, a exe-
cução singular movida contra ele (MAMEDE, 2021).

Por outro lado, ainda que não reunisse condições patrimoniais suficientes para sanar
as dívidas, poderia se utilizar de um desses bens e nomeá-lo à penhora – procedimento
judicial de constrição de bens do devedor para o pagamento de dívida em sede de um pro-
cesso de Execução. Entretanto, se não indica bens à penhora e outros elementos indicam
que esteja em crise econômico-financeira, colocará os credores em risco e, assim, poderá
submeter-se a um processo falimentar. Deve-se ressaltar que, nessa situação, não há a
necessidade de o crédito ser superior a 40 (quarenta) salários-mínimos, pois o legislador
permite o pedido de falência por qualquer quantia líquida (VIDO, 2021).
Finalmente, será decretada a falência daquele que praticar qualquer dos atos indicadores
de crise econômico-financeira, como proceder à liquidação precipitada de seus ativos ou
quando lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos.

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É o que ocorre, por exemplo, quando um empresário começa a se desfazer de
seus bens de forma precipitada, na tentativa de evitar o pagamento de dívidas
ou se reorganizar financeiramente e prejudica os credores de dívidas já forma-
lizadas, ou ainda quando o empresário, de forma repentina, promove a venda
de seus bens por qualquer preço, ou desvia os recursos obtidos, reduzindo sua
capacidade patrimonial e, consequentemente, diminuindo a garantia de rece-
bimento dos credores.

Ao mesmo tempo, também se insere nessa situação os empresários que se utilizam de


meios ruinosos ou fraudulentos, como a utilização de intermediários para realização de
compras e vendas em condições ilícitas. Os meios ruinosos podem ser conceituados
como a prática de negócios arriscados ou de azar, bem como empréstimos a juros ele-
vadíssimos e extorsivos. Os meios fraudulentos consistem nos artifícios e expedientes
utilizados pelo devedor para conseguir dinheiro ou matéria-prima. Um exemplo comum
na prática é a emissão de duplicatas ou cheques falsos no mercado.
Insere-se em atos falimentares, da mesma forma, o empresário que realiza ou, por atos
inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores,
negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor
ou não. É o que ocorre, por exemplo, quando há uma transferência aparente de bens ou
do patrimônio para terceiros, os denominados “laranjas”, furtando-se da garantia aos cre-
dores.
Outro ato falimentar relevante é a transferência do estabelecimento empresarial a tercei-
ro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens sufi-
cientes para solver seu passivo. Essa medida prejudica os demais credores, e é vedada
nas práticas empresariais, bem como a simulação da transferência de seu principal es-
tabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar
credor. Nestes casos, a transferência será considerada simulada, pois, além de não aten-
der a nenhum motivo de gestão empresarial e, portanto, estar desprovida de justificativa
plausível, a mudança tem o propósito de fraudar, configurando ato de falência (RAMOS,
2020).
Por outro lado, também inserir-se-á como ato falimentar aquele do devedor empresário
ou da sociedade empresária que concede ou reforça garantia a credor por dívida contraí-
da anteriormente, sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar
seu passivo. Nessa situação, a lei tem por objetivo coibir que o devedor, quando da rene-
gociação de sua dívida com um determinado credor, dê como garantia bens que cons-
tituem a garantia dos demais credores, privilégio que afronta o princípio do par conditio
creditorum, como uma segunda hipoteca sobre um bem imóvel.

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Há, ainda, situações em que o devedor empresário ou a sociedade empresária ausenta-se

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sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores,
abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede
ou de seu principal estabelecimento. Ademais, não basta deixar representante para a
condução dos negócios, é indispensável que o abasteça com recursos suficientes para
pagamento dos credores, ou quando deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação
assumida no plano de Recuperação Judicial.

O empresário que obtém o benefício da Recuperação Judicial deverá cumprir à


risca o plano, e o descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano,
dentro do prazo de 2 (dois) anos contados da concessão, promoverá a convo-
lação – conversão – da Recuperação Judicial em falência. Por sua vez, o des-
cumprimento ocorrido após o referido prazo será considerado ato de falência,
e somente não acarretará decretação da falência se fizer parte do plano de
Recuperação Judicial.

A falência pode ser requerida, conforme o artigo 97 da Lei de nº. 11.101/2005, pelo pró-
prio devedor, na forma do disposto nos artigos 105 a 107 da Lei; pelo cônjuge sobreviven-
te, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; pelo cotista ou o acionista do devedor
na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade ou, ainda, por qualquer credor.
A petição inicial para o requerimento de falência deve atender aos requisitos genéricos
previstos no Código de Processo Civil e aos requisitos específicos previstos na Lei de nº.
11.101/2005. Portanto, para a falência ser requerida com base na impontualidade de pa-
gamento, o pedido deve ser instruído com título executivo cujo valor ultrapasse 40 (qua-
renta) salários-mínimos e com o devido instrumento de protesto. Por sua vez, em caso
de falência requerida com base em execução frustrada, o pedido deve ser instruído com
a certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução. E, portanto, para pedidos
de falência baseados na prática de atos falimentares, o requerente deverá descrever os
fatos que caracterizam o ato, juntando as provas que possui e especificando as que pre-
tende produzir. O requerente poderá desistir do pedido de falência antes da citação do
devedor (RAMOS, 2020).
Ressalte-se que, conforme a Súmula de nº. 248 do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título
hábil para instruir pedido de falência. Do mesmo modo, conforme a Súmula de nº. 361,
a notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa devedora, exige a
identificação da pessoa que a recebeu.

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O pedido de falência segue um procedimento distinto, a depender do seu autor. Quando o

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pedido for realizado pelo próprio devedor, segue-se o procedimento da autofalência. O pe-
dido de autofalência, como somente será admitido para o devedor em crise econômico-
-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua Recuperação Judicial,
deverá conter as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial,
acompanhadas dos seguintes documentos:
a. demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais
e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com
estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigato-
riamente de balanço patrimonial; demonstração de resultados acumulados;
demonstração do resultado desde o último exercício social e relatório do fluxo
de caixa;
b. relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e
classificação dos respectivos créditos;
c. relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa
de valor e documentos comprobatórios de propriedade;
d. prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se
não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de
seus bens pessoais; e) os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe
forem exigidos por lei; e
e. a relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respec-
tivos endereços, suas funções e participação societária.

Na sentença que declara a falência, já pode ser fixado o termo legal, que cor-
responde ao lapso temporal anterior à decretação da quebra que tem impor-
tância para a ineficácia de determinados atos do falido perante a massa.

O termo, ademais, não poderá retroagir por mais de 90 (noventa) dias do primeiro protes-
to por falta de pagamento; na falta de protesto, não poderá retroagir mais de 90 (noventa)
dias da petição inicial ou convolação da Recuperação Judicial em falência (MAMEDE,
2021).
A fase falimentar tem início com a sentença que decreta a falência e, de forma simultâ-
nea, operam-se diversos efeitos. Inicialmente, o falido torna-se inabilitado para a ativi-
dade empresarial e, como se não bastasse, outros deveres o acompanharão, mas não é
apenas sobre o falido que recai a falência. Em seguida, submete-se a efeitos específicos
para os bens, contratos e, inclusive, os créditos dos respectivos credores.

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São efeitos sobre os bens:

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a. suspensão do exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação,
os quais deverão ser entregues ao administrador judicial, além da suspensão do exer-
cício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações pelos
sócios da sociedade falida;
b. os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo
administrador judicial, se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da
massa falida ou forem necessárias a manutenção e a preservação de seus ativos,
mediante autorização do Comitê;
c. o contrato unilateral poderá ser cumprido pelo administrador judicial, se esse fato
reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou forem necessárias a ma-
nutenção e a preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela
qual está obrigada;
d. o mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização de negócios,
cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar
contas de sua gestão;
e. as contas-correntes do devedor consideram-se encerradas no momento da decreta-
ção da falência, cabendo ao mandatário prestar contas de sua gestão;
f. contra a massa falida, não são exigíveis juros vencidos após a decretação da falência,
previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos
credores subordinados (RAMOS, 2020).
Desde a decretação da falência ou do sequestro dos bens – análise, avaliação e bloqueio
– o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor. O falido pode-
rá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessárias
para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos
em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e inter-
pondo os recursos cabíveis (MAMEDE, 2021).
Sobre o devedor, a falência promove uma série de feitos sobre suas obrigações e sujeita-
rá todos os credores, que somente poderão exercer seus direitos sobre os bens do falido
e do sócio ilimitadamente responsável na forma que a mencionada lei prescrever. Em
situação de riscos para a etapa de arrecadação ou com o objetivo de preservar os bens
da massa falida ou, ainda, dos interesses dos credores, é possível aplicar-se a lacração
do estabelecimento empresarial. Portanto, a decretação da falência sujeita todos os cre-
dores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio
ilimitadamente responsável na forma que a lei prescrever (MAMEDE, 2021).
Finalmente, a decretação da falência suspende o exercício do direito de retenção sobre
os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial,

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bem como o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas

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ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida. Os contratos não se resolvem pela
falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial, se o cumprimento reduzir
ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou forem necessárias a manutenção e a
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê de Credores.
Ainda assim, nas relações contratuais, o vendedor não pode obstar a entrega das coisas
expedidas ao devedor e, ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da fa-
lência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte,
entregues ou remetidos pelo vendedor; se o devedor vendeu coisas compostas e o admi-
nistrador judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr
à disposição da massa falida as coisas já recebidas, pedindo perdas e danos; não tendo
o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou contratara a presta-
ções, e resolvendo o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao
valor pago será habilitado na classe própria; o administrador judicial, ouvido o Comitê,
restituirá a coisa móvel comprada pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se
resolver não continuar a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do con-
trato, dos valores pagos; coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou mer-
cado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e pagamento do pre-
ço, prestar-se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação
em bolsa ou mercado; promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação
respectiva; falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do loca-
tário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato; caso haja
acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito do sistema financeiro
nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não falida poderá considerar o contra-
to vencido antecipadamente, hipótese em que será liquidado na forma estabelecida em
regulamento, admitindo-se a compensação de eventual crédito que venha a ser apurado
em favor do falido com créditos detidos pelo contratante; os patrimônios de afetação,
constituídos para cumprimento de destinação específica, obedecerão ao disposto na le-
gislação respectiva, permanecendo seus bens, direitos e obrigações separados dos do
falido até o advento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião
em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá
na classe própria o crédito que contra ela remanescer.

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RESUMO DO PERCURSO DE APRENDIZAGEM

Neste percurso de aprendizagem, abordamos os devedores empresários e as sociedades


empresárias em crise econômico-financeira, e como podem atuar para viabilizarem a ma-
nutenção da atividade empresarial ou, se for necessário, a remoção de sua empresa da
atividade, com o eventual pagamento de todas as dívidas ou, em caso de impossibilidade,
com a quitação do maior número possível de pagamentos.
Inicialmente, verificamos como são regulamentados os aspectos gerais atinentes à Re-
cuperação Judicial e à Falência de empresas em crise econômico-financeira, expondo
situações em que os processos são possíveis, quais aqueles que não se enquadram nos
dispositivos previstos na Lei de nº. 11.101/2005 e quais os órgãos inerentes à sua reali-
zação, entre órgãos obrigatórios e facultativos.
Em seguida, analisamos o procedimento de Recuperação Judicial, que formará um plano
de pagamento dos credores, acompanhado de algumas situações limitadoras à ativida-
de empresarial, até que seja concluído. Sendo assim, permite-se às empresas em crise
econômico-financeira que possam retomar a exploração da atividade econômica, sem
prejudicar os seus credores.
Por sua vez, analisamos os requisitos essenciais para que alguns devedores empresários
ou sociedades empresárias possam usufruir dos planos de Recuperação Extrajudicial e
Recuperação Especial, apresentadas, ainda, suas peculiaridades em comparação com o
procedimento regular de Recuperação Judicial.
Finalmente, estudamos o regime jurídico da Falência e quais os seus objetivos, carac-
terísticas essenciais e quais as situações que ensejam sua aplicação, com ênfase no
pagamento dos credores, estabelecidos em um concurso de credores com condições
idênticas, salvo as exceções previstas na Lei de nº. 11.101/2005 e quais os efeitos da Fa-
lência na atividade do empresário, até que possa encerrar a exploração de sua atividade
econômica.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm. Acesso em: 5 out. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.
BRASIL. Lei nº. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a ex-
trajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União,
09 fev. 2005.
BRASIL. Lei Complementar nº 123, 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional
da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nº 8.212 e
8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprova-
da pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro
de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nº 9.317,
de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Diário Oficial da União, 15
de dez. 2006.
COELHO, Fábio Ulhôa. Novo manual de direito empresarial. 32. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2021.
MAMEDE, Gladston. Manual de direito empresarial. São Paulo: Atlas, 2021.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. São Paulo: Saraiva, 2021,
vol. 1.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial: volume único. Rio de Janeiro: Méto-
do, 2020.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
VIDO, Elisabete. Curso de direito empresarial. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA (UNIFOR)

Presidência
Lenise Queiroz Rocha

Vice-Presidência
Manoela Queiroz Bacelar

Reitoria
Fátima Maria Fernandes Veras

Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e Pós-Graduação AUTOR


Maria Clara Cavalcante Bugarim VICENTE DE PAULO AUGUSTO DE OLIVEIRA
Vice-Reitoria de Pesquisa
José Milton de Sousa Filho Pós-Doutor em Direito Constitucional pela Universidade de
Vice-Reitoria de Extensão
Fortaleza (UNIFOR/CE). Doutor em Direito Constitucional
Randal Martins Pompeu Público e Teoria Política, pela Universidade de Fortaleza
(UNIFOR/CE). Mestre, com bolsa PROSUP/CAPES, em Di-
Vice-Reitoria de Administração reito Constitucional das Relações Privadas, pela Universi-
José Maria Gondim Felismino Júnior
dade de Fortaleza (UNIFOR/CE). Coordenador e Professor
Diretoria de Comunicação e Marketing do curso de graduação em Direito do Centro Universitário
Ana Leopoldina M. Quezado V. Vale Fanor Wyden (UniFanor Wyden), em Fortaleza. Coordena-
Diretoria de Planejamento
dor do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direito Adminis-
Marcelo Nogueira Magalhães trativo e Tributário (GEPDAT).

Diretoria de Tecnologia
José Eurico de Vasconcelos Filho

Diretoria do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão


Danielle Batista Coimbra

Diretoria do Centro de Ciências da Saúde


Lia Maria Brasil de Souza Barroso

Diretoria do Centro de Ciências Jurídicas


Katherinne de Macêdo Maciel Mihaliuc

Diretoria do Centro de Ciências Tecnológicas


Jackson Sávio de Vasconcelos Silva

RESPONSABILIDADE TÉCNICA

COORDENAÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Coordenação Geral de EAD Revisão Gramatical


Douglas Royer José Ferreira Silva Bastos
Coordenação de Ensino e Recursos EAD Identidade Visual / Arte
Andrea Chagas Alves de Almeida Franscisco Cristiano Lopes
Supervisão de Planejamento Educacional Editoração / Diagramação
Ana Flávia Beviláqua Melo Rafael Oliveira de Souza
Supervisão de Recursos EAD Produção de Áudio e Vídeo
Francisco Weslley Lima José Moreira de Sousa
Pedro Henrique de Moura Mendes
Supervisão de Operações e Atendimento Ana Bárbara Lima Pontes
Mírian Cristina de Lima Gabriel Laureno Jucá
Analista Educacional Programação / Implementação
Lara Meneses Saldanha Nepomuceno Márcio Gurgel Pinto Dias
Projeto Instrucional Douglas Kauan Felix Farias
Maria Mirislene Vasconcelos Victor Torres de Melo Oliveira

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