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Intensivo II

Alexandre Gialluca
Direito Empresarial
Aula 6

ROTEIRO DE AULA

REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA
A) Transformação
B) Fusão
C) Incorporação
D) Cisão

A) Transformação
É a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para outro.

Exemplo: sociedade limitada que passa a ser uma sociedade anônima (Magazine Luiza), continuando com o mesmo
CNPJ.

B) Fusão
É a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os
direitos e obrigações.

Exemplo: sociedade “A” e “B” se unem, são extintas e criam a sociedade “C”, com novo CNPJ.

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C) Incorporação
É a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucederá em todos os direitos e
obrigações.

Exemplo: sociedade “A” (incorporadora) e sociedade “B” (incorporada) - na incorporação, a sociedade “A” absorve a
sociedade “B”, que é extinta; a sociedade “A” continua em atividade.

Exemplos:

D) Cisão (pode ser total ou parcial)


É a operação pela qual a sociedade transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas
para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a sociedade cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou
dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

Exemplo 01: empresa “A” aliena parcela de seu patrimônio para a empresa “B”(na cisão parcial, não há extinção).

Exemplo 02: na cisão total, a empresa “A” aliena uma parcela de seu patrimônio para as sociedades “B”, “C” e “D”,

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deixando de existir.

Obs.: Na cisão total, há extinção da sociedade cindida, o que não ocorre na cisão parcial.

Falência (Lei 11.101/05)

A lei de falências e recuperação judicial é a Lei 11.101/05.

Situação 1: O credor, para receber o seu crédito, pode ingressar com uma ação de execução em face do devedor.
Se for ajuizada a ação de execução, o credor será autor da ação. Se o feito for julgado procedente, o devedor/réu será
condenado a pagar a dívida ao autor da ação. Havendo penhora ou expropriação de bens, o valor auferido será
destinado ao pagamento deste credor/ação.

Situação 2: O credor, entretanto, ao invés de ajuizar a ação de execução, pode, ainda, ajuizar uma ação de falência. Se
isso ocorrer, o autor pedirá que o Poder Judiciário reconheça o estado de insolvência do devedor. Caso seja decretada
a falência, o devedor ficará inabilitado para desempenhar as atividades empresariais, todos os seus bens serão
arrecadados (massa falida) e, posteriormente, serão avaliados e vendidos. Com o dinheiro recebido, todos os credores
serão pagos (e não apenas o autor da ação).

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Observação: muitas vezes, quem ingressou com a ação acaba nem recebendo o valor devido, a depender da
classificação do seu crédito.
✓ A falência é também chamada de execução coletiva/concursal, pois todos os credores concorrem para receber
os créditos devidos.

1. Conceito

Ricardo Negrão: falência é um processo de execução coletiva, no qual todo patrimônio de um empresário declarado
falido (Pessoa Física ou Jurídica) é arrecadado, visando o pagamento da universalidade de credores. É um processo
judicial complexo que compreende a arrecadação dos bens, sua administração e conservação, bem como a verificação
e o acertamento dos créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os credores. Compreende também a
punição de atos criminosos praticados pelo devedor falido.

2. Incidência da lei de falência

Lei 11.101/05, art. 1º: “Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do
empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor. “

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A Lei 11.101/2005 incide sobre:
• Empresário individual;
• Sociedade empresária.

✓ Atenção: A lei de falências incide sobre todo aquele que possua natureza empresarial.

Estão excluídas do âmbito dessa lei as instituições mencionadas no art. 2º da Lei 11.101/05:
Lei 11.101/05, art. 2º: “Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência
complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.”

Obs.:
1ª) Os casos do art. 2º, I são totalmente excluídos da incidência da Lei 11.101/05.
✓ Em hipótese alguma haverá falência da empresa pública e da sociedade de economia mista.

2ª) Os casos do art. 2º, II são parcialmente excluídos da incidência da Lei 11.101/05.

Atenção: Não é possível pedir a falência de uma instituição financeira, por exemplo. Entretanto, os entes mencionados
no art. 2º, II da Lei 11.101/05 podem passar por um processo de liquidação extrajudicial e, neste caso, será nomeado
um liquidante (exemplo: quando a liquidação extrajudicial for de instituição financeira, o Banco Central nomeará o
liquidante). Somente o liquidante poderá pedir a falência de tais entes.

MP/SC – 2021 – CESPE/CEBRASPE


Acerca do processo falimentar, julgue o item subsequente:
As instituições financeiras se sujeitam às disposições da Lei de Recuperações e Falências.
( ) Certo
(X) Errado.

3) Objetivos:

Lei 11.101/2005, art. 75: “A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a:
I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis,
da empresa;

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II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na economia; e
III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à
atividade econômica.
§ 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, sem prejuízo do
contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil).
§ 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial,
por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia.”

Observações:
✓ O objetivo o art. 75, II é que haja a liquidação célere de empresas inviáveis.
✓ O professor destaca que, quando o juiz reconhece o estado de insolvência, ele afasta o devedor de suas
atividades.
✓ Ao afastar o devedor de suas atividades, há o objetivo de preservar os bens que ainda existem, de forma que
não haja extravio do patrimônio da sociedade.
✓ Os dispositivos em vermelho se referem às alterações legislativas feitas pela Lei 14.112/2020.
✓ Outro objetivo é fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do
empreendedor falido à atividade econômica (art. 75, III). O professor destaca que a lei de falências, nesse
aspecto, amadureceu e acabou reconhecendo que, muitas vezes, um empresário, em algum momento de sua
atividade, acaba sofrendo uma falência, mas isso pode ajudá-lo a aprender a administrar e a não cometer os
mesmos erros novamente. Na antiga redação da lei de falências, o falido, para voltar à atividade, tinha que
esperar um longo tempo. Atualmente, esse retorno do “falido” é bem mais rápido (Fresh start).

4. Legitimidade

4.1. Legitimidade ativa:

Lei 11.101/05, art. 97: “Podem requerer a falência do devedor:


I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; (autofalência)
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;
IV – qualquer credor.”

Podem ajuizar a ação de falência as pessoas enumeradas no art. 97 da Lei 11.101/2005. São elas:

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• O próprio devedor – Trata-se da chamada autofalência. Neste caso, o próprio credor reconhece o seu estado
de insolvência e pede falência.
Atenção: o devedor, em crise econômico-financeira, deverá requerer falência quando ele não atender aos
requisitos para pleitear a recuperação judicial, nos termos do art. 105 da Lei 11.101/2005:

Lei 11.101, art. 105: “O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear
sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de
prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:
I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para
instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório do fluxo de caixa;
II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos;
III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos
comprobatórios de propriedade;
IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os
sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais;
V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei;
VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e
participação societária.”

• O cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante (art. 97, II) – Esta hipótese ocorre
na situação específica em que há o pedido de falência do espólio do empresário individual.
O professor explica que se o empresário individual (pessoa física) estiver em crise e morrer, é possível pedir a
falência do espólio. Neste caso, somente o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o
inventariante terão legitimidade ativa para tal.

• O cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade (art. 97, III) – A lei
permite que o cotista ou acionista do devedor requeira a falência.

• Qualquer credor – Atenção à possibilidade de que qualquer credor pode ajuizar um pedido de falência.

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Observações: Neste caso, a lei faz apenas duas ressalvas, as quais constam nos parágrafos do art. 97 da lei de
falências1:
1º) O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade
de suas atividades. Assim sendo, se não houver regularidade do credor empresário, ele não poderá pedir a
falência de terceiro.
2º) O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da
indenização de que trata o art. 101 da lei de falências2.
Se o juiz verificar que o autor da ação de falência agiu com dolo, ou seja, exemplificativamente, pediu a falência
para manchar a imagem do empresário, o juiz, além de julgar a ação improcedente, poderá condenar o autor
a pagar perdas e danos em favor do réu. De forma a assegurar essa possível indenização, o credor que não
tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização citada.
Observação: o processo falimentar deve atender aos princípios da celeridade e da economia processual e, por
esse motivo, há a previsão de caução para credores sem domicílio no Brasil.

Questão de concurso:
(CESPE – JUIZ SUBSTITUTO – TJ/ DFT - 2016) Acerca de falência, assinale a opção correta.
a) Segundo a jurisprudência do STJ, os honorários advocatícios, na falência, são créditos quirografários qualquer que
seja o seu valor.
b) O encerramento da falência tem por efeito a extinção de todas as obrigações do falido não satisfeitas no processo.
c) De acordo com a legislação brasileira, a situação falimentar do empresário se revela quando as dívidas excedem a
importância de seu patrimônio.
d) Um empresário deverá comprovar a regularidade do exercício da atividade empresarial, mediante a apresentação
de certidão da junta comercial, para requerer a falência de outro empresário.
e) O MP terá legitimidade para propor ação para anular atos praticados pelo falido em fraude a credores caso, no
prazo de três anos da decretação da falência, os credores ou o administrador não a proponham.

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Lei 11.101/05, art. 97, §§1º e 2º: “§ 1º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas
que comprove a regularidade de suas atividades.
§ 2º O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização
de que trata o art. 101 desta Lei.”
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Lei 11.101/05, art. 101: “Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar
improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liquidação de sentença.
§ 1º Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falência, serão solidariamente responsáveis aqueles que se
conduziram na forma prevista no caput deste artigo.
§ 2º Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização dos responsáveis.”

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Gabarito: D

TJ/SP – Juiz Substituto – VUNESP


Acerca da disciplina constante na Lei nº 11.101/2005, assinale a alternativa correta.
(A) O credor empresário deve demonstrar a regularidade das suas atividades para pedir a falência de terceiro.
(B)Todos os créditos existentes na data do pedido sujeitam-se à recuperação judicial.
(C) Os titulares de créditos sujeitos à recuperação, mas não afetados pelo plano de recuperação judicial, têm direito
de votar na deliberação assemblear sobre a proposta.
(D) O descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação judicial ao longo do processo e a aprovação
da desistência do devedor quanto ao pedido de recuperação judicial geram efeitos jurídicos similares.
Gabarito: A

Questão: A Fazenda Pública pode pedir falência de um devedor?

ENUNCIADO 56 DA 1ª JORNADA DE DIREITO COMERCIAL - “A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de
agir para requerer a falência do devedor empresário”.

Esse Enunciado surgiu diante do reiterado posicionamento do STJ, que sempre defendeu que a Fazenda Pública possui
meios próprios para a satisfação do crédito tributário (Lei de Execução Fiscal).

Obs.: A doutrina aponta, ainda, que a Fazenda Pública possui um interesse arrecadatório, em detrimento do interesse
público de preservação da empresa.

Veja o disposto no REsp 363.206/MG:

REsp 363206 / MG - RECURSO ESPECIAL - 2001/0148271-0


“TRIBUTÁRIO E COMERCIAL – CRÉDITO TRIBUTÁRIO – FAZENDA PÚBLICA – AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE PARA
REQUERER A FALÊNCIA DE EMPRESA.
1. A controvérsia versa sobre a legitimidade de a Fazenda Pública requerer falência de empresa.
2. O art. 187 do CTN dispõe que os créditos fiscais não estão sujeitos a concurso de credores. Já os arts. 5º, 29 e 31 da
LEF, a fortiori, determinam que o crédito tributário não está abrangido no processo falimentar, razão pela qual carece
interesse por parte da Fazenda em pleitear a falência de empresa.
3. Tanto o Decreto-lei n. 7.661/45 quanto a Lei n. 11.101/2005 foram inspirados no princípio da conservação da
empresa, pois preveem respectivamente, dentro da perspectiva de sua função social, a chamada concordata e o
instituto da recuperação judicial, cujo objetivo maior é conceder benefícios às empresas que, embora não estejam

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formalmente falidas, atravessam graves dificuldades econômico-financeiras, colocando em risco o empreendimento
empresarial.
4. O princípio da conservação da empresa pressupõe que a quebra não é um fenômeno econômico que interessa
apenas aos credores, mas sim, uma manifestação jurídico-econômica na qual o Estado tem interesse preponderante.
5. Nesse caso, o interesse público não se confunde com o interesse da Fazenda, pois o Estado passa a valorizar a
importância da iniciativa empresarial para a saúde econômica de um país. Nada mais certo, na medida em que quanto
maior a iniciativa privada em determinada localidade, maior o progresso econômico, diante do aquecimento da
economia causado a partir da geração de empregos.
6. Raciocínio diverso, isto é, legitimar a Fazenda Pública a requerer falência das empresas inviabilizaria a superação da
situação de crise econômico-financeira do devedor, não permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores, tampouco dos interesses dos credores, desestimulando a atividade econômico-capitalista.
Dessarte, a Fazenda poder requerer a quebra da empresa implica incompatibilidade com a ratio essendi da Lei de
Falências, mormente o princípio da conservação da empresa, embasador da norma falimentar.
Recurso especial improvido.” (REsp 363.206/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em
04/05/2010, DJe 21/05/2010).

O professor destaca que se essa questão for alvo de concursos públicos, a resposta a ser dada é que a Fazenda Pública
não possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência. Entretanto, o professor chama a atenção do
aluno para um outro entendimento que está sendo construído. Veja a decisão abaixo:

Processo nº 1001975-61.2019.8.26.0491, julgado pela 1ª Câmara de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São
Paulo.
“A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo reformou sentença de primeiro
grau e acolheu o pedido de falência formulado pela Fazenda Nacional contra uma empresa de comércio e distribuição
de produtos alimentícios.
Consta dos autos que a empresa acumulava uma dívida de mais de R$ 20 milhões em tributos com a Fazenda Nacional.
A autora realizou várias tentativas de cobrança extrajudicial, sem sucesso, a posterior execução fiscal foi malsucedida
e não foram localizados bens suficientes para satisfação da dívida.
Para o relator do recurso, desembargador Alexandre Lazzarini, apesar do entendimento predominante de que a
Fazenda Pública não possui legitimidade ativa para requerer a falência por dispor de vias próprias para satisfazer o
débito tributário, tal interpretação não pode ser aplicada em todas as situações. O magistrado apontou que, de acordo
com a Lei de Falências, se a Fazenda Pública não logrou êxito na execução fiscal, esgotados todos os meios de cobrança
que tem a sua disposição, ela pode pedir a falência. “Não se discute, por certo, que o entendimento mais restritivo
deve prevalecer nos casos de pedido de falência embasado no art. 94, I, da Lei nº 11.101/05, ou seja, de mero título
protestado. (...) O mesmo não se pode dizer, porém, em casos de pedido de falência baseados no inciso II, do art. 94,

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da Lei nº 11.101/05, como a hipótese concreta, em que a Fazenda Pública valeu-se das vias apropriadas para satisfação
de seu crédito, mas não logrou êxito”, escreveu Lazzarini. “Além disso, nos termos do art. 97, IV, da Lei nº 11.101/05:
‘Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: (...) IV- qualquer credor.’ Verifica-se, a partir do referido dispositivo,
que a atual Lei de Falências e Recuperações Judiciais cuidou de ampliar o rol de legitimados para o pedido de falência”,
completou.
O desembargador ressaltou que o fato de a Fazenda Nacional ter pedido de falência contra empresa acolhido
judicialmente não configura violação aos princípios da impessoalidade e da preservação da empresa, pois, de acordo
com a mesma Lei de Falências, a recuperação judicial da empresa visa proteger a economia nacional da sonegação
fiscal. “Desse modo, o pedido falimentar, nesses casos, tem por objetivo, precipuamente, a repressão aos agentes
econômicos nocivos ao mercado e à livre concorrência, os quais, muitas vezes, não pagam seus débitos tributários e
concorrem deslealmente com aqueles agentes econômicos que atuam regularmente, adimplindo as obrigações
tributárias”, pontuou Lazzarini. “Entender de maneira contrária, inclusive, equivaleria a incentivar o comportamento,
muitas vezes adotado por esses agentes econômicos, de inadimplir constantemente as obrigações tributárias,
acumulando vultosas dívidas de tal natureza, aproveitando-se do menor poder de constrangimento da Fazenda Pública
em relação ao poder dos demais credores.”
Participaram do julgamento os desembargadores Eduardo Azuma Nishi, Manoel de Queiroz Pereira Calças, Cesar
Ciampolini Neto e Marcelo Fortes Barbosa Filho.”

Atenção: a decisão do TJ/SP em tela trouxe à tona, novamente, a discussão acerca da (im)possibilidade de a Fazenda
Pública requerer a falência. Nessa decisão, o TJ/SP entendeu que era possível que a Fazenda Pública pedisse a falência
quando o pedido fosse feito com base no art. 94, II da Lei 11.101/053 (execução frustrada), pois, neste caso, houve
esgotamento dos meios para a satisfação do crédito.

4.2. Legitimidade passiva

Podem sofrer a ação de falências:


a) Empresário individual; e
b) Sociedade empresária.

Em alguns casos, conforme já visto, a Lei 11.101/05 faz algumas ressalvas:

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Lei 11.101/05, art. 94, II: “Será decretada a falência do devedor que: (...)
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro
do prazo legal;”

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Lei 11.101/05, art. 2°: “Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista; (totalmente excluídos)
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência
complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. (Parcialmente excluídos)

5. Juízo competente
A ação de falência sempre será de competência da justiça estadual, não importando, neste caso, quem é o autor.

CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;”

Dentro do âmbito da justiça estadual, será competente o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou
da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

Lei 11.101/05, art. 3º: “É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação
judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que
tenha sede fora do Brasil.”

Questão: O que pode ser considerado como o principal estabelecimento do devedor?


O principal estabelecimento do devedor é o local onde haja o maior volume de negócios, ou seja, é o centro vital das
atividades.

AgInt no CC 147714 / SP - AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA - 2016/0190631-3


Relator(a) - Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140)
Órgão Julgador - S2 - SEGUNDA SEÇÃO
Data do Julgamento - 22/02/2017
Data da Publicação/Fonte - DJe 07/03/2017
“Ementa - CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AGRAVO INTERNO. PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. ART. 3º DA LEI N. 11.101/2005. 1. Nos termos do art. 3º da Lei n. 11.101/2005, o foro competente para o
processamento da recuperação judicial e a decretação de falência é aquele onde se situe o principal estabelecimento
da sociedade, assim considerado o local onde haja o maior volume de negócios, ou seja, o local mais importante da
atividade empresária sob o ponto de vista econômico. Precedentes. 2. No caso, ante as evidências apuradas pelo

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Juízo de Direito do Foro Central de São Paulo, o principal estabelecimento da recuperanda encontra-se em Cabo de
Santo Agostinho/PE, onde situados seu polo industrial e seu centro administrativo e operacional, máxime tendo em
vista o parecer apresentado pelo Ministério Público, segundo o qual o fato de que o sócio responsável por parte das
decisões da empresa atua, por vezes, na cidade de São Paulo, não se revela suficiente, diante de todos os outros
elementos, para afirmar que o "centro vital" da empresa estaria localizado na capital paulista. 3. Agravo interno não
provido.”

Questão de concurso:
TJMG 2018 - Quanto à Falência e Recuperação, segundo a Lei nº 11.101/2005, analise as afirmativas a seguir:
I - É competente para deferir a Recuperação Judicial ou decretar a Falência, o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor empresário ou sociedade empresária.
II - Aplicam-se à sociedade de economia mista, mas não à empresa pública.
III - Serão suspensas todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas em que se demandar quantia
ilíquida.
IV - Não são exigíveis do devedor as obrigações a título gratuito, as despesas que os credores fizerem para tomar parte
na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):
A) III.
B) I e II.
C) I e IV.
D) I, II e III.
Gabarito: C

Questão: Em que momento deve ser apurado o principal estabelecimento? Essa questão chegou ao STJ. Veja o
informativo abaixo:

INFORMATIVO 0680 – DE OUTUBRO DE 2020.


“CC 163.818-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Segunda Seção, por unanimidade, julgado em 23/09/2020, DJe
29/09/2020
Juízo falimentar e recuperação judicial. Competência absoluta. Principal estabelecimento do devedor. Momento da
propositura da ação.
É absoluta a competência do local em que se encontra o principal estabelecimento para processar e julgar pedido de
recuperação judicial, que deve ser aferido no momento de propositura da demanda, sendo irrelevantes para esse fim
modificações posteriores de volume negocial.
Informações do Inteiro Teor:

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O Juízo competente para processar e julgar pedido de recuperação judicial é aquele situado no local do principal
estabelecimento (art. 3º da Lei n. 11.101/2005), compreendido este como o local em que se encontra "o centro vital
das principais atividades do devedor".
Embora utilizado o critério em razão do local, a regra legal estabelece critério de competência funcional, encerrando
hipótese legal de competência absoluta, inderrogável e improrrogável, devendo ser aferido no momento da
propositura da demanda - registro ou distribuição da petição inicial.
A utilização do critério funcional tem por finalidade o incremento da eficiência da prestação jurisdicional, orientando-
se pela natureza da lide, assegurando coerência ao sistema processual e material.
Destaca-se que, no curso do processo de recuperação judicial, as modificações em relação ao principal
estabelecimento, por dependerem exclusivamente de decisões de gestão de negócios, sujeitas ao crivo do devedor,
não acarretam a alteração do juízo competente, uma vez que os negócios ocorridos no curso da demanda nem mesmo
se sujeitam à recuperação judicial.
Assim, conclusão diversa, no sentido de modificar a competência sempre que haja correspondente alteração do local
de maior volume negocial, abriria espaço para manipulações do Juízo natural e possível embaraço do andamento da
própria recuperação. Com efeito, o devedor, enquanto gestor do negócio, detém o direito potestativo de centralização
da atividade em locais distintos no curso da demanda, mas não o poder de movimentar a competência funcional já
definida. Do contrário, o resultado seria o prolongamento da duração do processo e, provavelmente, a ampliação dos
custos e do prejuízo dos credores, distorcendo a razão de ser do próprio instituto da recuperação judicial de
empresas.”

✓ Exemplo: Se o principal estabelecimento da empresa é em XXX e o pedido de falências foi ajuizado na referida
cidade, a alteração posterior do volume de negócios para outro local não modifica o juízo competente, pois,
caso contrário, haveria violação ao princípio do juiz natural.

Novidade: A Lei 14.112/2020 acrescentou, no art. 6º, §8º da Lei 11.101/05, a prevenção do juízo em casos de
homologação de recuperação extrajudicial.

Lei 11.101/05, art. 6º, § 8º: “A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para
qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor.”

Lei 11.101/05, art. 6º, § 8º: “A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial ou a homologação de
recuperação extrajudicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de falência, de recuperação judicial ou de
homologação de recuperação extrajudicial, relativo ao mesmo devedor”

Questão de concurso:

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MPE-PR - 2019 - Em tema de falência e recuperação judicial, assinale a alternativa incorreta:
a) As obrigações a título gratuito não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência.
b) Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser
propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial pelo juiz
competente, quando do recebimento da petição inicial.
c) As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão
de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.
d) A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de
recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor.
e) Apenas o devedor e credores podem requerer ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do
Comitê nomeados em desobediência aos preceitos da Lei n. 11.101/2005 (Lei de Recuperação Judicial e Falência).
Gabarito: E

6. Insolvência
Quando é ajuizado o pedido de falência, a parte pede ao Poder Judiciário que reconheça a insolvência de um devedor.
A insolvência pode ser:
• Confessada – Decorre do pedido de autofalência, prevista no art. 105 da Lei 11.101/05.
• Presumida – Decorre de três hipóteses:
o Art. 94, I, Lei 11.101/05 - impontualidade injustificada.
o Art. 94, II, Lei 11.101/05 – execução frustrada.
o Art. 94, III, Lei 11.101/05 – atos de falência.

1ª Hipótese (impontualidade injustificada):


Lei 11.101/05, art. 94, I: “Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de
falência;”

Observações sobre o art. 94, I, Lei 11.101/05:


✓ Neste caso, o devedor deixa de pagar, sem justificativa (sem relevante razão de direito), título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do pedido da
falência.
Exemplo de relevante razão de direito: dívida já paga anteriormente.

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✓ Os títulos executivos referidos no art. 94, I da Lei 11.101/05 podem ser extrajudiciais (exemplo: cheque) ou
judiciais (exemplo: sentença condenatória transitada em julgado na Justiça do Trabalho).
✓ A lei exige que o título executivo seja protestado.

Cuidado com a Súmula 248 do STJ, pois ela cita que a duplicata sem aceite pode ser objeto de ação de falência desde
que haja comprovante (de prestação dos serviços ou entrega de produtos) e protesto:

Súmula 248, STJ: “Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para
instruir pedido de falência''

Em caso de duplicata virtual, também é possível ajuizar ação de falência desde que haja comprovante (de prestação
dos serviços ou entrega de produtos) e protesto, conforme Informativo 0547 do STJ:

Informativo nº 0547 - Período: 8 de outubro de 2014 - Terceira Turma


“DIREITO EMPRESARIAL. INSTRUÇÃO DO PEDIDO DE FALÊNCIA COM DUPLICATAS VIRTUAIS.
A duplicata virtual protestada por indicação é título executivo apto a instruir pedido de falência com base na
impontualidade do devedor. Isso porque o art. 94, I, da Lei de Falências (Lei 11.101/2005) não estabelece nenhuma
restrição quanto à cartularidade do título executivo que embasa um pedido de falência.” REsp 1.354.776-MG, Min.
Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/8/2014.

A Lei 9.492/97 trata do protesto de títulos e outros documentos de dívida.


Lei 9.492, art. 14: “Protocolizado o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a intimação ao
devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se cumprida quando
comprovada a sua entrega no mesmo endereço.”

✓ Atenção: o art. 14 da Lei 9.492 ressalta que será considerada cumprida a intimação de protesto quando
comprovada a sua entrega no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento.
✓ Entretanto, o requisito do art. 14 da Lei 9.492 é muito simples perto da complexidade e importância da ação
de falências, pois esta exige um protesto especial – protesto para fins falimentares (art. 94, §3º da Lei
11.101/20054).

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Lei 11.101/2005, art. 94, §3º: “Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com
os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9º desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos
respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.”

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Súmula 361 do STJ: “A notificação do protesto, para requerimento de falência da empresa devedora, exige a
identificação da pessoa que a recebeu.”

✓ Em suma: quando há protesto para fins falimentares, são necessários:


1º) Comprovação de entrega da intimação no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento;
e
2º) Identificação da pessoa que recebeu a intimação de protesto.

Questão de concurso:
Cooperativa Agropecuária de Escada emitiu Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) em favor de
Industrial Pesqueira S/A no valor nominal de R$ 990.000,00 e data de vencimento no dia 26 de março de 2022. Antes
do vencimento, o CDCA foi negociado mediante endosso em favor do Banco Limoeiro S/A.
Verificado o não pagamento do CDCA, o endossatário requereu a falência da companhia endossante sem submeter o
título a qualquer protesto, tendo em vista a liquidez, a certeza e a exigibilidade do título de crédito.
O juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Serra Talhada, lugar do principal estabelecimento, ao apreciar a petição inicial,
decidiu, com base nas disposições da Lei nº 11.101/2005:
(A) determinar que o credor a emendasse diante da ausência do instrumento de protesto falimentar para comprovar
a impontualidade do devedor;
(B) indeferir liminarmente a petição inicial por nulidade do endosso do CDCA, visto que o primeiro endossante deve
ser sociedade cooperativa agropecuária, tal qual o emitente;
(C) determinar a citação do devedor para apresentar contestação, em razão da facultatividade do protesto cambial do
CDCA para o requerimento de falência do endossante;
(D) julgar extinto o processo com resolução de mérito pela ilegitimidade passiva do requerente em razão da ausência
de responsabilidade cambiária do endossante;
(E) julgar antecipadamente a lide, indeferindo o pedido quanto ao mérito em razão da nulidade do CDCA, pois é vedada
sua emissão por sociedades cooperativas agropecuárias.
Gabarito: A

Observações:
✓ Em relação ao valor citado no art. 94, I da Lei 11.101/05 (acima de 40 salários-mínimos na data do pedido de
falência), é admitido o litisconsórcio entre credores para que o valor mínimo seja atingido, nos termos do art.
94, §1º, Lei 11.101/055.

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Lei 11.101/05, art. 94, §1º: “Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o
pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.”

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2ª Hipótese (execução frustrada)
Lei 11.101/05, art. 94, II: “Será decretada a falência do devedor que:
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro
do prazo legal;”

✓ O art. 94, II, Lei 11.101/2005, traz a hipótese em que o devedor já está sofrendo uma execução por qualquer
quantia e ele, diante disso, não paga a dívida, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro
do prazo legal.
✓ Enquanto na impontualidade injustificada o valor devido deve ser superior a 40 salários-mínimos, nesta
hipótese, o valor da execução é indiferente.

3ª Hipótese (atos de falência)


O art. 94, III da lei de falências traz o rol de atos que estão expressamente previstos em lei e que, caso sejam praticados
pelo devedor, trarão a presunção do estado de insolvência do devedor.

Lei 11.101/05, art. 94, III: “Será decretada a falência do devedor que:
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar
pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio
simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com
bens suficientes para solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou
para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados
suficientes para saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona
estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.”

Considerações sobre o art. 94, III, Lei 11.101/05:


✓ A liquidação precipitada ocorre quando o empresário se desfaz de seus bens sem a devida reposição (art. 94,
III, “a”). Com base nessa liquidação, o credor pode ajuizar uma ação de falência.

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✓ Segundo o art. 94, III, “g”, será decretada a falência do devedor que deixar de cumprir, no prazo estabelecido,
obrigação assumida no plano de recuperação judicial. Diante disso, questiona-se: Quando ocorrerá esta
hipótese?

Lei 11.101/05, art. 61: “Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá determinar a manutenção do
devedor em recuperação judicial até que sejam cumpridas todas as obrigações previstas no plano que se vencerem
até, no máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial, independentemente do eventual período
de carência
§ 1o Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no
plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.
§ 2o Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente
contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da
recuperação judicial.
Exemplo: imagine que o plano de recuperação judicial seja de 10 anos e que o prazo de concessão (carência) seja de
1 ano). Pela redação do art. 61, o juiz acompanhará o plano de recuperação judicial independentemente do eventual
período de carência.
Se, após o período de carência, ocorreu algum descumprimento do plano judicial, o juiz vai convolar a recuperação
judicial em falência.

Entretanto, se o descumprimento do plano ocorreu depois do encerramento da recuperação judicial, o juiz põe fim ao
processo de recuperação judicial (mas o plano continua a ser cumprido). Assim sendo, neste último caso, não cabe
mais a convolação, mas sim um pedido de falência por parte do credor.

✓ A ação disposta na letra “g”, inciso III do art. 94 somente irá ocorrer quando o descumprimento da obrigação
assumida no plano de recuperação judicial for verificado depois que a ação de recuperação judicial for
encerrada. Neste caso, o descumprimento da obrigação será objeto de ação de falência.

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Atenção:
O QUE DEVE SER APURADO É A INSOLVÊNCIA JURÍDICA E NÃO A INSOLVÊNCIA ECONÔMICA !!!!
Isso significa que não é necessário verificar se o ativo é menor do que o passivo. Se o credor incorrer em uma das
hipóteses do art. 94 da Lei de falências, há uma presunção legal de que o devedor está em estado de insolvência.
Assim sendo, será decretada a falência com base na insolvência jurídica.
✓ A decretação de falência não leva em consideração a análise econômica, mas sim as hipóteses de insolvência
presumida.

Questões de concurso:
TJMG 2018 - Quanto ao pedido de falência, é correto afirmar que:
A) citado o devedor, não poderá pleitear sua recuperação judicial no prazo da contestação.
B) se baseado em obrigação líquida, pode ser intentado independentemente do valor do crédito.
C) decretada judicialmente a falência ou julgado improcedente o pedido, o recurso para ambas as situações será o de
apelação.
D) será decretada a falência do devedor que, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
Gabarito: D

DPF/DF 2019
A partir dessa situação hipotética, julgue o item que se segue.
( ) Infere-se da situação apresentada que o passivo da sociedade é maior que seu ativo, daí a correta decretação da
falência.
• Certo
• Errado
Gabarito: Errado.

7. Hipóteses do devedor

a) Depois de citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 dias.

Lei 11.101, art. 98: “Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da
contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e
honorários advocatícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de
falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.”

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O devedor poderá alegar na contestação as hipóteses do art. 96 da Lei 11.101/05, entre elas:
• Ausência ou vício de protesto;
• Prescrição;
• Demonstração da nulidade do título etc.

Lei 11.101/05, art. 96: “A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o
requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título; VI – vício em protesto
ou em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51
desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por
documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato
registrado.
§ 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após
1 (um) ano da morte do devedor.
§ 2º As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a decretação de falência se, ao final,
restarem obrigações não atingidas pelas defesas”

Prazos Processuais:
Lei 11.101, art. 189: “O disposto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), aplica-se, no que
couber, e desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei, aos procedimentos previstos nesta Lei.
§ 1º Para os fins do disposto nesta Lei:
I - todos os prazos nela previstos ou que dela decorram serão contados em dias corridos;”

✓ Obs.: Atualmente, os prazos da falência e da recuperação judicial são contados em dias corridos (e não em
dias úteis).

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b) O devedor poderá, ainda, fazer o chamado “depósito elisivo” (art. 98, §único). Neste caso, dentro do prazo da
contestação, o devedor poderá depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária,
juros e honorários advocatícios.
Atenção: O depósito elisivo impede a decretação da falência.

✓ O depósito elisivo deve ser feito dentro do prazo de contestação.


✓ O valor do depósito elisivo é o valor total da dívida + correção + juros + honorários advocatícios.
✓ Quando o juiz determina a citação do devedor, ele estabelece o percentual de honorários advocatícios.

c) O devedor pode fazer o depósito elisivo e, ainda, contestar a ação.

d) O devedor poderá pedir sua recuperação judicial.


Lei 11.101, art. 95: “Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial.”

TJ/PE – 2022 – Juiz Substituto – FGV


A sociedade Belém e Maria Comércio de Pneus Ltda. teve sua falência requerida pela sociedade Goitá Transportes e
Logística Ltda. em razão da impontualidade no pagamento de duplicatas de prestação de serviços cujo valor total é de
R$ 83.500,00, protestadas para fins falimentares.
Após a citação da devedora, e no prazo da contestação, foi apresentado ao juízo da Comarca de Catende pedido de
recuperação judicial, sem elisão do pedido de falência.
Acerca do efeito da apresentação do pedido sobre o curso do procedimento pré-falimentar, é correto afirmar que a
falência:
(A) não poderá ser decretada em razão da apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação;
(B) poderá ser decretada em razão da não efetivação de depósito elisivo no prazo da contestação;
(C) não poderá ser decretada diante da insuficiência do valor das duplicatas protestadas para ensejar o requerimento;
(D) poderá ser decretada em razão do impedimento ao pedido de recuperação judicial após o requerimento da
falência;
(E) não poderá ser decretada em razão da ausência do protesto das duplicatas para fins cambiais.
Gabarito: A

8. Sentença

A sentença, na falência, pode ser procedente ou improcedente.


A sentença procedente é chamada de “declaratória de falência”. A sentença improcedente é chamada de “denegatória
da falência.”

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Recursos cabíveis: o art. 100 da Lei 11.101/2005 estabelece que:
1º) Da decisão que decreta a falência (sentença declaratória), cabe agravo de instrumento.
✓ Obs.: Quando há a decretação de falência, o juiz não põe fim ao processo falimentar, mas dá início a uma série
de procedimentos. Assim sendo, o recurso cabível, neste caso, é o agravo de instrumento.
2º) Da decisão que julga a improcedência do pedido (sentença denegatória de falência), cabe apelação.

Lei 11.101, art. 100: “Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do
pedido cabe apelação”

Obs.: Fase pré-falimentar é aquela compreendida entre a data do pedido de falência e a data da sentença que declara
a falência.
A partir da sentença que declara a falência, há a chamada “fase falimentar”. Nessa fase, há a atuação do MP.

Questão de concurso:
MP/SC 2019
Preceitua a Lei n. 11.101/2005 (Lei da Recuperação Judicial) que o recurso cabível em face da sentença que decretar
a falência do devedor é o recurso de apelação.
( ) Certo
( ) Errado
Gabarito: errado

Questão 1: Quem pode apresentar o agravo de instrumento na sentença declaratória de falência?


Devedor, Ministério Público (fiscal da lei) e credor (retificação do termo legal da falência).

Questão 2: Quem pode apresentar a apelação na sentença denegatória de falência?


Credor, MP e devedor.
✓ Obs.: o devedor pode apresentar recurso de apelação no pedido de autofalência.

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