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Contabilidade

no Agronegócio
Material Teórico
Processos Contábeis no Agronegócio

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. João Luiz de Souza Lima

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Processos Contábeis no Agronegócio

• Introdução;
• Conceitos Básicos da Contabilidade do Agronegócio;
• Associações na Exploração da Atividade Rural;
• Contratos da Atividade Rural;
• Operacionalização na Contabilidade do Agronegócio;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Identificar alguns conceitos apresentados pelo novo Código Civil Brasileiro impor-
tantes para a Contabilidade no Agronegócio;
• Apresentar e compreender do desenvolvimento das associações como parcerias e
arrendamentos para a exploração da atividade rural;
• Detalhar diferenças entre as culturas temporárias e culturas permanentes, bem
como suas especificidades;
• Desenvolver lançamentos das contas referentes às culturas temporárias e permanentes.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Processos Contábeis no Agronegócio

Introdução
Nesta Unidade, discorremos sobre a operacionalização da Contabilidade do
Agronegócio. Para isso, é fundamental o conhecimento dos novos conceitos de
empresa, de empresário, sociedade, sociedade simples e de sociedade limitada
para contextualizá-los no agronegócio brasileiro. Conheceremos também os tipos
de associações que podem ser realizadas pelos empresários rurais.

Por fim, serão descritas as especificidades da Contabilidade do Agronegócio


quanto aos tipos de cultura temporária e permanente, estimulando ainda a com-
preensão de como realizar seus lançamentos.

Conceitos Básicos da Contabilidade


do Agronegócio
Para o início dos estudos relacionados às práticas contábeis, é importante a
apresentação, sob o ponto de vista legal e contábil, dos conceitos de empresário,
sociedade, sociedade empresária, sociedade simples e de sociedade limitada.

Empresário
O artigo 966 do Código Civil considera empresário “quem exerce profissional-
mente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens
ou de serviços” (BRASIL, 2018a). O artigo, portanto, considera empresário todo
aquele que atua na condição de firma individual (agricultor ou autônomo). Assim
sendo, o empresário não é apenas aquele que produz ou faz circular mercadorias,
mas também aquele que produz ou faz circular serviços.

Refletindo sobre esse conceito, Marion (2007) destaca que a lei pautada pelo
Código Civil assegura tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empre-
sário rural quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes, ou seja, o empresário
rural, desde que não seja uma sociedade, não precisa declarar suas contabilizações,
somente declarar seu imposto de renda. Portanto, nesse caso, não seriam necessá-
rias a contabilização e a escrituração, como descrito na legislação tributária.

Sociedade
Para Crepaldi (2006), constitui sociedade duas ou mais pessoas que se reunirem
em torno de um objetivo comum e, juntas, organizarem uma empresa a fim de
explorarem uma atividade qualquer e partilharem seus resultados.

Com relação ao registro da empresa em uma constituição societária, há a Lei


n.º 8.934/94, que disciplina o registro das atividades econômicas em geral e de-

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termina que essas atividades devem, sempre, ser registradas nas juntas comerciais.
O Código Civil alterou esse sistema em 2002, apenas os atos constitutivos das
sociedades limitadas e anônimas devem ser registrados nas juntas comerciais.

Ainda de acordo com a legislação, os empresários rurais não têm a obrigatoriedade


do registro de sua atividade. Assim, a lei do registro da empresa é facultativa para o
empresário em sua atividade rural. No agronegócio, existem as atividades de grande
escala e a atividade agropecuária familiar, praticada em pequenas propriedades. Sabe-
-se que ambas podem ter objetos similares, como, por exemplo, o cultivo do café.
Portanto, convém ao empresário rural, quer de pequena ou grande escala, registrar sua
atividade, uma vez que as negociações formais na cadeia produtiva exigirão o registro
da empresa para fins contratuais ou de aporte de financiamento agrícola.

Com relação às sociedades, elas se dividem em:


• Sociedade de Pessoas (sociedades contratuais) – Comandita simples, nome
coletivo e limitada;
• Sociedade de Capital (sociedades institucionais) – Anônima e comandita
por ações.

As sociedades podem ainda ter outras subdivisões, conforme segue:

Sociedade Simples
O artigo 981, parágrafo único da Lei n.º 10.406/2002 do Código Civil, propõe
a seguinte definição:
“celebram contratos de sociedade as pessoas que reciprocamente se obri-
gam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade eco-
nômica e a partilha, entre si, dos resultados”.

A prestação de serviços constitui o principal objetivo da sociedade simples, pois


relaciona-se a ela, mesmo não existindo vínculo com colaboradores, profissionais
que exercem atividades intelectuais, de natureza científica literária ou artística. Po-
demos citar como exemplo de uma sociedade simples dois médicos veterinários
que se unem para a prestação de serviços técnicos.

Sociedade Empresária
Crepaldi (2009, p. 103) define, com base no Código Civil, artigo 982, que:
“a sociedade empresária objetiva ao exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro, inclusive a sociedade por ações, indepen-
dentemente de seu objeto, devendo inscrever-se na junta comercial do
respectivo estado”.

Pode-se concluir, então, que a sociedade empresária se caracteriza pela atuação


profissional em atividades econômicas organizadas para a produção ou circula-
ção de bens ou de serviços. Retomando o exemplo anterior, os médicos veteriná-
rios, além de prestarem serviços técnicos, abrem um laboratório para que se pos-
sam oferecer serviços como exames clínicos e laboratoriais; ou seja, a sociedade

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empresarial exerce atividade econômica visando à produção e à circulação de bens


e serviços, de forma organizada e profissional.

Cabe ressaltar que não são atividades empresariais:


• Fundações (de fins religiosos, morais, culturais e assistenciais);
• Associações;
• Cooperativas;
• Profissionais liberais, salvo se constituir elemento da empresa;
• Profissional intelectual.

Sociedade Limitada
As sociedades limitadas são aquelas cujo capital social é representado por quo-
tas. A responsabilidade dos sócios está no investimento, portanto, limita-se ao
montante do capital social investido.

Para Crepaldi (2006), tanto a sociedade simples quanto a sociedade empresária


são padrões, diferenciando-se quanto à especificidade: sociedade em nome cole-
tivo, sociedade em conta de participação, sociedade em comandita simples por
ações e sociedade anônima.
Assim, podemos concluir que sociedade na atividade rural não poderá ser na
forma de simples, mas, sim, como sociedade empresária, por ser composta de
duas ou mais pessoas. Entretanto, se não houver sociedade na atividade rural e o
produtor não se inscrever na junta comercial, ele será caracterizado como autôno-
mo, ou seja, empresário (MARION, 2007).
Na sociedade limitada, o sócio responde apenas até o limite do capital social,
responsabilizando-se apenas ao que falta integralizá-lo.

Sociedade Anônima
De acordo com o artigo 1º da Lei n.º 6.404/76, a companhia ou sociedade
anônima terá o capital dividido em ações, com a responsabilidade dos sócios ou
acionistas limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.
São duas as espécies de sociedade anônima: companhia fechada e companhia aberta.

Companhia Fechada
A companhia fechada não possui seus valores mobiliários admitidos para a ne-
gociação no mercado de capitais, não se submetem ao prévio registro e fiscalização
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Companhia Aberta
Já a companhia aberta possui seus valores mobiliários ofertados e negociados
publicamente no mercado de capitais, mas antes deve ter um registro prévio na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a qual também fiscalizará.

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Tais espécies são amparadas pela lei citada anteriormente, no artigo 4º, que re-
vela que a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua
emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários.

O § 3º Lei n.º 6.404/76 declara que somente a CVM poderá classificar as


companhias abertas em categorias, segundo as espécies e classes dos valores mo-
biliários por ela emitidos negociados no mercado, e especificará as normas sobre
companhias abertas aplicáveis a cada categoria.

Associações na Exploração
da Atividade Rural
Segundo Crepaldi (2006), é inexpressível o número de parcerias agrícolas no
Brasil em relação aos seis milhões de propriedades rurais existentes. No entanto,
observamos que a parceria não tem sido utilizada pelos proprietários e pelos pro-
dutores rurais como um recurso prático ao desenvolvimento dessa atividade devido
à falta de conhecimento que eles apresentam sobre a implantação e sobre suas
práticas participativas.

A seguir, as principais formas de associação nas explorações agropecuárias.

Parceria – Arrendamento Rural


O agronegócio que se estende a todos os elos de determinada cadeia produti-
va, em si potencializado com as ferramentas de gestão e seu processo decisório
somado às inovações tecnológicas, encontra-se hoje no Brasil sob um ambiente de
competitividade, sobretudo ao tratar-se de produtos relacionados a commodities
agrícolas, como o açúcar ou as carnes.

É nesse ambiente de competitividade que surgem as criatividades peculiares do


setor, como as parcerias rurais, que, apesar de serem alternativas viáveis para vá-
rios negócios, são pouco exploradas e de forma ineficiente.

Muitos produtores são avessos às parcerias e, os poucos que as constituem em


seu negócio, as realizam sem muita formalidade. Um empresário rural, em seu
plantio de cana-de-açúcar, por exemplo, ao realizar determinada parceria com um
fornecedor, não estabelece nenhum contrato que formalize tal negociação. Certa-
mente isso compromete a viabilidade e a eficiência gerencial, já que, nessa ocasião,
é imprescindível a elaboração de bom contrato.

Adotar parcerias como instrumento de desenvolvimento da atividade é requisi-


to para uma gestão de agronegócio, ainda que seja pouco utilizado no país. Um
exemplo tipicamente comum de se estabelecer parcerias é por meio do arrenda-
mento rural.

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Marion (2007, p. 9) diz que a parceria ocorre quando:


[...] o proprietário da terra contribui no negócio com o capital fundiário e
o capital do exercício, associando-se a terceiros em forma de parcerias,
que pode ser à meia (metade da produção fica para o produtor), a terça
parte (2/3 fica para o proprietário e 1/3 para o parceiro) e de várias
outras formas.

Ainda, segundo Marion (2007), “a parceria prevê um contrato agrário em que


uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso espe-
cífico do imóvel rural.” Além disso, esse tipo de associação assemelha-se à socieda-
de de capital e à indústria em que há duas espécies de sócios:
• Sócio capitalista – Neste caso, o sócio entra com o capital e, na maioria das
vezes, com a gerência do negócio. Podemos também identificá-lo como parcei-
ro outorgante, ou seja, pessoa que cede em parceria, podendo ser dono ou não;
• Sócio de trabalho – Nesse caso, o sócio de trabalho participa propriamente
executando o trabalho, ou seja, é a pessoa que recebe a propriedade ou os
bens para explorar as atividades rurais em parceria. Para fins de contrato, essa
pessoa é chamada de parceiro-outorgado.

Já com relação ao arrendamento rural, Crepaldi (2006, p. 32) considera que:


“o arrendamento rural compreende o contrato em que uma pessoa se obriga a
pagar aluguel a outra pelo uso do imóvel rural, por tempo determinado ou não,
ou seja, quando o proprietário da terra aluga seu capital fundiário mediante certa
retribuição ou aluguel”.

Ainda de acordo com Crepaldi (2009), o arrendamento rural é o contrato agrá-


rio pelo qual uma pessoa se obriga a outra, por tempo determinado ou não, ao uso
e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo ou não outros bens,
benfeitorias e facilidades, com o objetivo de se exercer nele atividade de exploração
agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativista ou mista, mediante certa retribuição
ou aluguel, observados os limites percentuais da lei.

O arrendador é o proprietário do bem, enquanto que o arrendatário é o agente


tomador, tendo que remunerar pela produção ou valor estabelecido em contrato.
Esse também pode ser o subarrendatário, que é aquele a quem o arrendatário
transfere seus direitos e suas obrigações, no todo ou em parte, e, claro, com a
permissão do arrendador.

Há obrigações tanto para o arrendador quanto para o arrendatário, conforme


Crepaldi (2009, p. 15) nos apresenta e listaremos a seguir:

Obrigações do Arrendador
• Entregar ao arrendatário o imóvel rural objeto do contrato na data estabelecida
ou segundo os usos e costumes da região;
• Garantir ao arrendatário o uso e gozo do imóvel arrendado durante todo o
prazo do contrato;

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• Fazer no imóvel, durante a vigência do contrato, as obras e os reparos necessários;
• Pagar as taxas, impostos, foro e toda e qualquer contribuição que incida ou
venha incidir sobre o imóvel rural arrendado – se não houver sido convencio-
nado de outra forma.

Obrigações do Arrendatário
• Pagar pontualmente o preço do arrendamento nos prazos e locais ajustados;
• Usar o imóvel rural conforme o convencionado ou presumido e tratá-lo com o mes-
mo cuidado que teria se fosse seu, não podendo mudar sua destinação contratual;
• Levar ao conhecimento do arrendador, imediatamente, qualquer ameaça ou
ato de turbação ou esbulho que, contra sua posse, vier a sofrer, e, ainda, de
qualquer fato do qual resulte a necessidade de execução de obras de reparos
indispensáveis à garantia do imóvel rural;
• Fazer no imóvel, durante a vigência do contrato, as benfeitorias úteis e neces-
sárias, salvo convenção em contrário;
• Não utilizar o imóvel objeto de contrato de arrendamento para culturas ilegais
de plantas psicotrópicas;
• Devolver o imóvel ao término do contrato tal como recebeu, com seus aces-
sórios, salvo as deteriorações naturais ao uso regular. O arrendatário será
responsável por qualquer prejuízo resultante do uso predatório, culposo ou
doloso, quer em relação à área cultivada, quer em relação às benfeitorias,
equipamentos, máquinas, instrumentos de trabalho e quaisquer outros bens
cedidos pelo arrendador.

Contratos da Atividade Rural


Conhecer o contrato que se estabelece entre as partes é relevante para o cum-
primento dos princípios contábeis, tais como:
• Princípio da Entidade – Nesse princípio, uma das normas é que o patrimô-
nio da entidade não deve ser confundido com o patrimônio do proprietário
ou dos sócios;
• Princípio da Competência – Corresponde a reconhecer receitas e despesas no
momento em que ocorrem, independentemente do pagamento ou recebimento.
Esse momento ou período representa o fato gerador na apuração dos tributos.

Enfim, os contratos norteiam o negócio estabelecido e devem ser regidos pelos


princípios contábeis no momento de se registrar os eventos. Ou seja, os contratos
são vitais para a Contabilidade, quer sejam de arrendamento, sociais, de represen-
tação comercial ou outros.

Outro aspecto relevante com relação ao arrendamento é que, em alguns casos,


ele se equipara à locação. Quando o arrendatário for casado em comunhão de

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bens, deve registrar o contrato em cartório para dar publicidade da transferência da


posse, caso queira ter direito ao financiamento rural. As formalizações dão caráter
jurídico ao arrendamento, trazendo segurança por meio do contrato.

Assim, em qualquer negócio, agrícola ou não, é necessário ter visão dos pontos
fracos que o cercam. As peculiaridades agrícolas podem ser entendidas como tais
pontos e, portanto, os profissionais envolvidos devem estar sempre atentos a elas
juntamente com os dados contábeis oferecidos pela Contabilidade Rural.

Comodato
Marion (2007) define comodato como uma parceria em que o proprietário cede
para outrem o uso de seu capital fundiário por tempo e condições preestabeleci-
dos. Nesse caso, o proprietário cede ao comodatário seu capital sem pagamentos
ou retribuições pelo empréstimo.

Essa modalidade de contrato é típica no segmento rural entre proprietários e


trabalhadores. Não é regida pela legislação agrícola, mas pelo Código Civil, com-
preendido como um contrato agrário atípico.

Condomínio
Condomínio refere-se à propriedade comum e caracteriza-se pela relação esta-
belecida entre os proprietários condôminos em que são compartilhados os custos,
os riscos e os resultados referentes à proporção de seu condomínio.

A Lei n.º 4.591, de 16 de dezembro de 1964, presente no Código Civil, dispõe


sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias, sobre a qual se
destacam os seguintes artigos e parágrafos:

Caso seja um contrato verbal, para provar arrendamento são necessárias provas
como: testemunhas, compra de sementes, pagamento do ITR (Imposto sobre a Pro-
priedade Territorial Rural) ou qualquer documento que comprove a posse do imóvel.

Perceba que não só contabilmente a formalização de contratos para o arren-


dador é relevante quanto aos registros das movimentações de entrada e saída que
possibilitem melhor gerenciamento patrimonial, como também, do ponto de vista
de financiamento e jurídico, essa se torna imprescindível, do contrário, fica difícil
ter uma gestão eficiente.

Distrato
O distrato do contrato de parceria pode ser realizado quando uma das partes
resolve encerrar o contrato de parceria.

O distrato assegura uma maior conformidade e segurança entre as partes sobre


a ocorrência de futuros problemas. Além disso, seu uso é indispensável no caso do
término ou do início de um arrendamento.

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Processo de Arrendamento
Na elaboração do contrato, é importante destacar os agentes que participarão
do processo de arrendamento:
• Arrendador: proprietário do imóvel rural;
• Arrendatário: pessoa, ou grupo de pessoas, que recebe ou toma por aluguel
o imóvel rural ou parte dele;
• Subarrendatário: pessoa a quem o arrendatário transfere seus direitos e obri-
gações, ou partes deles, com permissão do arrendador.

Operacionalização na
Contabilidade do Agronegócio
Para a realização da Contabilidade do Agronegócio, devem ser consideradas
atividades rurais: a agricultura, a pecuária, a extração, a exploração da apicultura,
as explorações zootécnicas, bem como as transformações dos produtos agrícolas e
dos produtos pecuários realizados pelo empresário rural.

Além disso, para a contabilização rural, deve-se considerar dois métodos: um


que atenda às especificidades das culturas temporárias e outro que considere as
culturas permanentes.

Culturas Temporárias
Na agricultura, chamamos de culturas temporárias ou anuais aquelas que du-
ram apenas um ciclo contábil, ou seja, são arrancadas do solo após ou durante a
colheita, para que seja realizado o novo plantio.

Como exemplo de Cultura Temporária podem ser citados a soja, o milho, o


arroz, o feijão, entre outros, em cuja colheita as culturas são arrancadas do solo e,
posteriormente, há um novo plantio (CREPALDI, 2006).

Para Marion (2007, p. 15), os produtos devem ser contabilizados no:


[...] ativo circulante, como se fossem um “Estoque em Andamento” numa
indústria. Dessa forma, todos os custos serão acumulados numa subconta
com o título específico da cultura em formação (arroz, ou trigo, ou alho,
ou cebola, [...] da conta “Culturas Temporárias”. Os custos que compõem
esta rubrica são: sementes, fertilizantes, mudas, demarcações, mão-de-
-obra, encargos, energia elétrica, encargos sociais, combustível, seguro,
serviços profissionais, inseticidas, depreciação de tratores e outros imobi-
lizados na cultura em apreço.

Crepaldi (2006) acrescenta que os custos provenientes dessas culturas serão


contabilizados no Ativo Circulante com o título de Cultura Temporária, como

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vimos. Entretanto, ao final da colheita, o saldo da conta Cultura Temporária será


transferido para a conta Produtos Agrícolas.

A seguir, na Tabela 1, como as culturas temporárias são lançadas:

Tabela 1 – Contabilização das Culturas Temporárias


ATIVO PASSIVO

Culturas Temporárias

Fonte: Elaborado pelo Autor

Na conta Cultura Temporária, são acrescidos os custos acumulados até a colhei-


ta, os quais podem decorrer da compra de sementes, defensivos, adubos, com a
remuneração de mão de obra, entre outros.

Em contrapartida, essa conta será lançada no Ativo Não Circulante, no subgru-


po de contas Imobilizado, na conta de Depreciação Acumulada.

A seguir, na Tabela 2, como a depreciação nas culturas temporárias são lançadas:

Tabela 2 – Depreciação das Culturas Temporárias


ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Cultura Temporária
ATIVO NÃO CIRCULANTE
IMOBILIZADO
Depreciação Acumulada
Fonte: Elaborado pelo Autor

Após o término da colheita, o saldo da conta Cultura Temporária será transpor-


tado para a conta Produtos Agrícolas, na qual serão acrescidos os custos posterio-
res à colheita, bem como os custos necessários à sua manutenção.

A seguir, na Tabela 3, como a produção agrícola nas culturas temporárias


são lançadas:

Tabela 3 – Produção Agrícola nas Culturas Temporárias


ATIVO
ATIVO CIRCULANTE
Produtos Agrícolas
ATIVO NÃO CIRCULANTE
IMOBILIZADO
Depreciação Acumulada
Fonte: Elaborado pelo Autor

Quando os produtos são vendidos, o valor correspondente ao volume vendido é


transferido da conta Produtos Agrícolas para a conta Custos de Produtos Vendidos,
conforme ilustrado na Tabela 4, a seguir.

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Tabela 4 – DRE nas Culturas Temporárias
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXSRCÍCIO (DRE)
RECEITA
(-) Custo do Produto Vendido
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais (vendas, despesas administrativas, despesas financeiras)
(=) Lucro Operacional
Fonte: Elaborado pelo Autor

A Tabela 5, a seguir, descreve os lançamentos mencionados anteriormente.

Tabela 5 – Apuração do Resultado nas Culturas Temporárias


LANÇAMENTOS CONTÁBEIS
Da Formação Até a Colheita:
D = Cultura Temporária (Ativo Circulante)
C = Caixa (Duplicatas ou Contas a Pagar)
Cultura Temporária (formada e início da colheita):
D = Cultura em Andamento
C = Cultura Temporária
Durante a Colheita:
D = Colheita em Andamento
C = Caixa, Duplicatas ou Contas a Pagar
No Encerramento da Colheita:
D = Produtos Agrícolas (Ativo Circulante)
C = Colheita em Andamento (Ativo Circulante)
Nas Vendas:
D = Disponível, Contas a Receber
C = Vendas de Produtos Agrícolas
Na Apuração do Resultado:
D = Custos dos Produtos Vendidos
C = Produtos Agrícolas (Ativo Circulante)
Cálculo do Resultado:
D = Receita Bruta
C = Venda de Produtos Agrícolas
(-) Custo do Produto Vendido
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais (vendas, administrativas, financeiras etc.)
(=) Lucro Operacional
Fonte: Elaborado pelo Autor

Culturas Permanentes
Marion (2007) define culturas permanentes como aquelas que não precisam
ser arrancadas com a colheita, pois permanecem no solo por vários períodos con-
tábeis e têm, assim, várias safras. São culturas de longo prazo com uma duração
mínima de quatro anos. Como exemplo, podemos citar o café, a cana, os citros e
outras culturas.

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UNIDADE Processos Contábeis no Agronegócio

Nesse caso, os custos de formação são contabilizados no Ativo Não Circulante,


em uma subconta nomeada Cultura Permanente em Formação, especificando o
nome da cultura, dentro da conta Investimentos.
Acompanhe na Tabela 6, a seguir, como é configurada a conta Cultura Perma-
nente e a sua contrapartida no balanço.

Tabela 6 – Contabilização das Culturas Permanentes


ATIVO PASSIVO
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE

Cultura Permanente em Formação Contas a Pagar

Fonte: Elaborado pelo Autor

Vale ressaltar que, se os custos forem pagos à vista, configura-se um lançamento


de crédito no Caixa ou na conta corrente, no Banco.
Após a formação da cultura, que pode demorar vários anos, o valor acumulado da
conta Cultura Permanente em Formação e é transferido para a conta Cultura Per-
manente Formada no Ativo Não Circulante. Na época da primeira floração prestes
à primeira colheita e, daí por diante, os custos não mais serão contabilizados como
Ativo Não Circulante, e sim como Estoques em Formação, no Ativo Circulante.
Assim, o balanço fica configurado da seguinte forma, conforme ilustrado na
Tabela 7, a seguir.

Tabela 7 – Contabilização do Estoque em Formação nas Culturas Permanentes


ATIVO PASSIVO
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE

Estoque em Formação Contas a Pagar

Fonte: Elaborado pelo Autor

De acordo com o que foi apresentado nesta unidade, a colheita é caracterizada


no balanço como Estoque em Formação, que será vendido. Por essa razão, ela se
insere no Ativo Circulante.

Em função do considerável ciclo que se espera da floração até a colheita, foi cria-
da a conta Colheita em Andamento com a identificação do produto a ser colhido.
Ela será composta de todos os custos necessários para a realização da colheita, adi-
cionando-se também os custos com depreciação ou exaustão da lavoura formada.

Acompanhe na Tabela 8, a seguir, pelo balanço, a representação gráfica


dessa conta.

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Tabela 8 – Contabilização da Colheita em Andamento nas Culturas Permanentes
ATIVO PASSIVO
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE

Colheita em Andamento Contas a Pagar

Fonte: Elaborado pelo Autor

Ao encerrar a colheita, o saldo acumulado da conta Colheita em Andamento


é transferido para a conta Produtos Agrícolas, no Ativo Circulante, em Estoques.
Juntamente aos valores dos produtos serão contabilizados os custos de beneficia-
mento, acondicionamento, silagem, entre outros (MARION, 2007).

A Tabela 9, a seguir, apresenta a configuração dessa conta no balanço.

Tabela 9 – Contabilização da Colheita em Andamento nas Culturas Permanentes


ATIVO PASSIVO
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE
Contas a Pagar
Fornecedores
Cultura Permanente em Formação
Duplicatas a Pagar
Financiamentos
Fonte: Elaborado pelo Autor

O próximo passo é a venda do produto. Nesse caso, a contabilização se dará da


seguinte forma:
• Será dada baixa no valor que configura na conta Produtos Agrícolas;
• O valor será transferido para a conta Custo do Produto Vendido.

Essa classificação permite a apuração do resultado entre a receita e os custos do


produto vendido e, dessa maneira, permite também obter o lucro bruto.

Acompanhe na Tabela 10, a seguir, a representação gráfica da DRE:

Tabela 10 – DRE nas Culturas Permanentes


DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXSRCÍCIO (DRE)
RECEITA
(-) Custo do Produto Vendido
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais (vendas, despesas administrativas, despesas financeiras)
(=) Lucro Operacional
Fonte: Elaborado pelo Autor

A Tabela 11, a seguir, descreve os lançamentos mencionados anteriormente.

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UNIDADE Processos Contábeis no Agronegócio

Tabela 11 – Apuração do Resultado nas Culturas Permanentes


LANÇAMENTOS CONTÁBEIS
Formação da Cultura:
D = Cultura Permanente em Formação (Ativo Não Circulante)
C = Contas a Pagar e Disponível
Término da Formação:
D = Cultura Permanente Formada
C = Cultura Permanente em Formação
Tempo de Floração (antes da Colheita):
D = Colheita em Andamento (Ativo Circulante)
C = Disponível, Contas a Pagar e Depreciação Acumulada
Encerramento da Colheita:
D = Produtos Agrícolas
C = Colheita em Andamento
Nas Vendas:
D = Disponível e Contas a Receber
C = Vendas de Produtos Agrícolas
Na Apuração do Resultado:
D = Custos dos Produtos Vendidos
C = Produtos Agrícolas
Cálculo do Resultado:
D = Receita Bruta
C = Venda de Produtos Agrícolas
(-) Custo do Produto Vendido
(=) Lucro Bruto
(-) Despesas Operacionais (vendas, administrativas, financeiras etc.)
(=) Lucro Operacional
Fonte: Elaborado pelo Autor

Alguns aspectos que devem ser considerados na contabilização da Cultura Per-


manente são:
• A Cultura Permanente deve ser corrigida monetariamente no início de sua for-
mação, enquanto que a depreciação ou a exaustão ocorrerá a partir da primeira
colheita, de acordo com a Legislação do Imposto de Renda (CREPALDI, 2006);
• Como se sabe, as culturas estão sujeitas a incidentes naturais, também conhe-
cidos como perdas extraordinárias. Podemos considerar perdas as geadas, as
chuvas de granizo, o incêndio, as secas, entre outras. O valor dessas perdas
deverá ser transferido diretamente da conta do Ativo Permanente para o Re-
sultado do Exercício na subconta Outras Despesas;
• Os gastos provenientes da formação da lavoura, do aumento de sua produtivi-
dade e da sua vida útil, inclusive as depreciações e as exaustões, serão lançadas
na conta Custos Indiretos e deverão ser rateados e apropriados à “Cultura
permanente em formação” (MARION, 2007);
• Podem ser consideradas despesas financeiras os custeios adquiridos em insti-
tuições financeiras para cobrir uma safra e para serem utilizados como capital

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de giro durante a entressafra. Nesse caso, duas posições podem ser conside-
radas: alguns contadores contabilizam as despesas proporcionalmente no ano
em que se toma o empréstimo; outros preferem contabilizá-la no ano seguinte,
a fim de possibilitar o confronto entre a despesa e a receita, cabendo o critério
ser facultativo aos procedimentos usados por cada contador.

Assim sendo, esses são fatores muito importantes que devem ser considerados
na Contabilização do Agronegócio.

Considerações Finais
Neste texto foi possível estudar os novos conceitos definidos pelo Código Civil e
os tipos de associações realizadas pelos empresários rurais. Foi vista a operacionali-
zação da Contabilidade no Agronegócio no que diz respeito às culturas temporárias
ou permanentes, ambas pertencentes ao elo da cadeia produtiva do agronegócio,
assim como a realização dos lançamentos pertinentes a elas.

Na próxima unidade, estudaremos alguns conceitos sobre o Plano de Contas


e sua aplicação no agronegócio, além de entender como ele deve ser formulado,
levando em consideração as necessidades de cada empresa.

Até lá!

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UNIDADE Processos Contábeis no Agronegócio

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
SEBRAE
Site Institucional do SEBRAE
https://goo.gl/TWjhgT

Leitura
Lei n.º 10.406 de 10 de janeiro de 2002
Lei que institui o novo Código Civil Brasileiro:
https://goo.gl/81GpC
Contábilidade Rural
Site da Profissão Contábil que institui as diretrizes da Contabilidade no Agronegócio:
https://goo.gl/pYiGu5
Lei nº 5.764, de 16 de Dezembro de 1971
Lei do Cooperativismo
https://goo.gl/QqOadQ

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Referências
CREPALDI, S. A. Contabilidade Rural: uma abordagem decisorial. São Paulo:
Atlas, 2006.

________. Contabilidade Rural. São Paulo: Atlas, 2009.

IUDÍCIBUS, Sérgio (Coord.). Contabilidade Introdutória. São Paulo: Atlas, 2012.

MARION, J. C.; SEGATTI, S. Contabilidade da Pecuária. São Paulo: Atlas, 2010.

MARION, J. C. Contabilidade Rural: Contabilidade Agrícola, Contabilidade da


Pecuária, Imposto de Renda – Pessoa Jurídica. São Paulo: Atlas, 2007.

Sites Pesquisados
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n.º 10.406, de 10 jan. 20.
Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 ago. 2018a.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (TEM). A Economia Solidária. Dis-


ponível em:< http://portal.mte.gov.br/ecosolidaria/os-empreendimentosecono-
micos-solidarios.htm >. Acesso em: 6 dez. 2017.

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