Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONTRATUAIS E
EXTRACONTRATUAIS
UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
OL48r
CDD 342.81085
Amanda Muniz Oliveira
APRESENTAÇÃO.....................................................................07
CAPÍTULO 1
Teoria das Obrigações Contratuais...................................09
CAPÍTULO 2
Modalidades Contratuais.....................................................43
CAPÍTULO 3
Teoria das Obrigações Extracontratuais:
Obrigações por Declaração
Unilateral de Vontade.........................................................115
APRESENTAÇÃO
A presente obra dedica-se a um dos mais importantes temas do direito civil:
as relações obrigacionais contratuais e extracontratuais no mundo contemporâneo.
Tradicionalmente concebidas em contextos individualistas, nos quais o sujeito
de direito é um indivíduo metafísico e a igualdade meramente formal impera, tais
relações adquiriram novas nuances e, portanto, precisam ser analisadas a partir de
um outro viés.
O terceiro e último capítulo aborda outros tipos de obrigação, originadas não pela
vontade individual (como no caso dos contratos), mas por força de dispositivos legais.
São as declarações unilaterais de vontade, taxativamente expressas em lei, gerando
consequências jurídicas que escapam ao poder decisório do sujeito. Apresentamos,
neste capítulo, as principais espécies de obrigações extracontratuais unilaterais,
procurando evidenciar suas diferenças e particularidades em relação aos contratos
já estudados.
Esta obra pretende, assim, facilitar o estudo das obrigações contratuais
e extracontratuais, temas de grande relevância no direito civil e no mundo
contemporâneo, a partir de um viés simples, objetivo e direto. O leitor encontrará
atividades de estudo, dicas de leituras complementares e algumas notícias atuais
relacionadas aos assuntos estudados, tudo isso visando uma interação didática e
acessível.
10
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
ContextualiZação
Neste capítulo, passaremos ao estudo de um elemento central do Direito
Civil: o contrato. Compreendido como um acordo de vontades que irá criar
normas vinculantes entre seus celebrantes, a figura do contrato é tão antiga que
suas origens históricas são imprecisas. É possível encontrar sua presença em
textos cuneiformes mesopotâmicos e em documentos históricos do Egito antigo;
no medievo (século XV) circulou-se a lenda do Dr. Johann Georg Faust, que teria
celebrado um contrato com o próprio diabo, incutindo no imaginário social a ideia
de que os contratos são armadilhas sem escapatória.
Conceitos e ReQuisitos de
Validade do Contrato
Juristas de diversas épocas têm se dedicado a conceituar o termo contrato.
Conforme Farias e Rosenvald (2012), é possível encontrar múltiplos significados
do vocábulo na história de Roma; o que mais se aproxima da ideia moderna de
contrato refere-se a um acordo de vontades a respeito de um assunto. Todavia,
para gerar obrigações, esse contrato deveria possuir existência física, material, ou
seja, um mero acordo verbal mostrava-se insuficiente. Talvez por isso ainda hoje
diversas pessoas ignorem a existência do contrato verbal, não se dando conta
de que a simples compra de uma fruta na quitanda mais próxima constitui um
contrato de compra e venda.
11
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
12
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
• Plano da Existência.
• Plano da Validade.
• Plano da Eficácia.
a) O plano da existência
O plano da
O plano da existência refere-se aos elementos imprescindíveis para existência refere-
se aos elementos
a própria existência do contrato; ausente qualquer um deles, o contrato imprescindíveis para
sequer existe juridicamente. Tais elementos são: sujeitos, as partes a própria existência
do contrato; ausente
que celebrarão o contrato; vontade, ou seja, o desejo destes sujeitos qualquer um deles,
contratantes; forma, o meio pelo qual o contrato será materializado (de o contrato sequer
forma verbal, escrita, eletrônica, etc.); e objeto, o bem ou a obrigação existe juridicamente.
abordada no contrato.
b) O plano da validade
Por fim, o objeto deve ser lícito e possível e, se não determinado ao tempo
do contrato, deve ser determinável, pelo menos, até a data escolhida para o
cumprimento do acordo. É o caso de contratos de colheita; pode-se acordar que
no mês de julho serão vendidas 15 sacas de café, mas a espécie de café só será
determinada nesse mês, pois depende da safra.
13
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
c) O plano da eficácia
14
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Este sujeito deve ser capaz; a vontade deve ser livre e sem defeitos, a forma
livre ou não proibida por lei e o objeto precisa ser lícito, possível, determinado ou
determinável.
Atividades de Estudos:
PrincÍpios Fundamentais
do Direito Contratual
Conforme o jusfilósofo Guerra Filho (2002, p. 92), os princípios
Desta forma, é correto afirmar que cada ramo do direito deve ser aplicado e
interpretado de acordo com parâmetros basilares, os princípios, que lhes darão
certo direcionamento para a prática jurídica.
15
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
16
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Para Gagliano e Pamplona Filho (2014), a ordem pública nada mais é que
um conjunto de princípios jurídicos, políticos e econômicos a serem observados
pelo direito contratual. Neste sentido, segundo Sílvio Rodrigues (2002, p. 16), a
“ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesses
A ordem pública
jurídicos e morais que incumbe à sociedade preservar. Por conseguinte, constitui um limite
os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção principiológico aos
entre os particulares”. possíveis abusos
que possam ser
originados a partir
Em síntese, a ordem pública constitui um limite principiológico aos da constituição de
um contrato.
possíveis abusos que possam ser originados a partir da constituição de
um contrato.
c) Princípio do Consensualismo
17
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Caso você saia da banca com a revista sem efetuar o pagamento, ou caso
o jornaleiro se recuse a entregar o objeto comprado, estaremos diante da fase de
execução contratual, uma vez que o negócio já foi fechado, mas não devidamente
cumprido.
Suponha que você realize uma compra grandiosa na Polishop mais próxima,
mas se torne inadimplente. A loja, cansada de lhe procurar para cobrar o que
é devido, decide procurar o seu melhor amigo para que ele pague todos os
cinco conjuntos de panelas antiaderentes que você adquiriu. Essa situação é
juridicamente possível?
18
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
19
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
20
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
a) Negociações preliminares
21
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
b) Proposta de contratar
22
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Assim, dispõe o Código Civil que a proposta perde seu prazo de validade
quando:
Art. 428. [...] I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não
foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a
pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido
tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao
conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
23
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
c) Aceitação
Caso a proposta seja feita entre ausentes, caso haja algum imprevisto que
faça com que a aceitação chegue tarde ao conhecimento do proponente, este
deve comunicar ao aceitante imediatamente sob pena de responder por perdas e
danos. Gagliano e Pamplona Filho (2014, s.p.) apontam o seguinte exemplo:
24
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
25
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
26
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Em regra, nosso ordenamento jurídico não exige uma forma específica a ser
adotada (art. 107 do CC-02), motivo pelo qual o contrato verbal é perfeitamente
válido e eficaz, desde que celebrado mediante os requisitos já estudados. Tais
contratos são classificados como não solenes, já que dispensam formalidades
legais. Porém, em alguns casos, a lei estipula determinadas formalidades a
serem seguidas. Estes são os contratos solenes, como exemplo, os contratos
constitutivos translativos de direitos reais sobre imóveis acima do valor consignado
em lei, uma vez que o código exige a forma pública para a validade do ato.
27
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Algumas espécies contratuais são designadas por lei, outras não, o que não
influencia na sua validade e eficácia. Desta forma, tem-se por nominados os
contratos especificamente tratados no Código Civil, como a compra e venda, e
inominados aqueles que não o são.
28
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
vendendo o imóvel e está atuando como representante legal da Yasmim, que está
comprando este mesmo imóvel – seu nome aparecerá duas vezes no contrato,
nos dois polos, mas com uma grande diferença: em um deles você age em nome
próprio, no outro, em nome alheio. A este fenômeno, chamamos autocontrato.
EFeitos do Contrato
Em geral, é possível elencar quatro efeitos gerais oriundos dos Em geral, é possível
elencar quatro efeitos
contratos. O primeiro deles é a obrigatoriedade; uma vez firmado o gerais oriundos
pacto, ele se torna lei absoluta entre as partes, devendo ser cumprido dos contratos. O
conforme o combinado, se nele não há qualquer invalidade. O segundo primeiro deles é a
obrigatoriedade; O
refere-se à irretratabilidade; isto significa que o contrato previamente segundo refere-se à
estabelecido só poderá ser desfeito por outro contrato, chamado irretratabilidade; O
terceiro efeito é o da
de distrato (art. 472 CC). O terceiro efeito é o da intangibilidade; o intangibilidade; Por
contrato não poderá ser alterado por vontade única de uma das partes, fim, não custa lembrar
dependendo de um consenso mútuo para que haja a efetivação de que o contrato
possui um efeito
qualquer mudança. Por fim, não custa lembrar que o contrato possui pessoal, pois vincula
um efeito pessoal, pois vincula apenas as partes contratantes, não apenas as partes
contratantes.
podendo, em regra, atingir terceiro desinteressado.
a) Vícios redibitórios
29
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Por essa razão, é preciso que o adquirente tenha algum tipo de garantia
contra o vendedor, caso o bem venha eivado por algum tipo de defeito. Assim,
a garantia contratual está diretamente relacionada ao princípio da boa-fé, uma
vez que cabe ao vendedor informar ao comprador todos os detalhes relativos
ao negócio a ser firmado. É importante destacar que, mesmo que o vendedor
desconheça o vício no bem a ser vendido, ainda será responsável por reparar o
dano ao comprador.
30
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Vejamos o que diz o Código Civil, em seu artigo 442: “Em vez de rejeitar a
coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no
preço”. Assim, é possível inferir que, caso o dilema não seja resolvido de forma
amigável, por meio de rescisão ou abatimento no preço, o adquirente terá duas
opções na esfera judicial: redibir o negócio ou obter judicialmente o abatimento
no preço por meio de ação estimatória. São o que chamamos de ações edilícias.
Ações Edilícias
No entanto, o adquirente deve estar atento aos prazos para propositura das
ações edilícias. Se estivermos falando de bens móveis, o prazo será de 30 dias,
para bens imóveis, o prazo será de um ano, sempre contados a partir da efetiva
entrega do bem. É importante, sobretudo, compreender o que diz a segunda parte
do art. 445 do Código Civil: “O adquirente decai do direito de obter a redibição ou
abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se
for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da
alienação, reduzido à metade.”
31
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O prazo será de seis meses e não de um ano, pois Ana Paula já residia
no imóvel quando fez a compra, ou seja, já estava na posse do bem objeto do
contrato.
32
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
b) Eviccção
33
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
34
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
que Beatriz compre a biblioteca completa de seu primo Igor, pelo seu amor à
leitura e à erudição. Satisfeita com a compra, Beatriz é surpreendida por Douglas
que afirma que, dos 890 livros constantes no acervo, 300 são seus, e não de Igor.
Neste caso, conforme artigo 455 do Código Civil, Beatriz poderá optar entre a
extinção do contrato com Igor ou a restituição do preço pelo prejuízo sofrido.
Por fim, é preciso ressaltar que o Código Civil em seu artigo 448 permite
expressamente que as partes diminuam, aumentem ou excluam completamente
a hipótese de evicção. Essas convenções, entretanto, devem estar expressas no
contrato, não podendo nunca serem implícitas. Desta forma, segundo Gagliano e
Pamplona Filho (2014, s.p.):
c) Extinção contratual
Cumprimento do pacto
Natural
Verificação de fator eficacial
Extinção
Causa anterior ao contrato: invalidade, cláusula
resolutória, direito de
arrependimento, redibição.
Posterior
35
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Primeira hipótese Os contratos existem para serem cumpridos, certo? Neste sentido,
de extinção natural
seja o cumprimento nada mais lógico que a primeira hipótese de extinção natural seja o
integral do contrato. cumprimento integral do contrato. As partes cumpriram as obrigações
As partes cumpriram acordadas, usufruíram dos bônus ofertados e o contrato chegou ao fim
as obrigações
acordadas, de seu ciclo sem maiores problemas.
usufruíram dos
bônus ofertados e o
contrato chegou ao A segunda causa de extinção natural refere-se ao plano da
fim de seu ciclo sem eficácia, já estudado neste capítulo. Como faláramos, em regra, os
maiores problemas. contratos são celebrados de forma que o acordado seja efetivado
imediatamente. A critério das partes, porém, é possível suspender a
É possível que eficácia do acordo para um momento futuro.
as partes tenham
estabelecido um
termo, um evento Assim, é possível que as partes tenham estabelecido um termo,
futuro e certo para
só então o contrato um evento futuro e certo para só então o contrato se efetivar. Por
se efetivar. exemplo, Fabíola encomenda um belo vestido no ateliê de Núbia, que
só ficará pronto em 30 dias. Desta forma, ambas se comprometem a
realizar as devidas prestações 30 dias após a encomenda, ou seja, no dia 09
de abril. Até lá, o contrato existe e é válido, mas é ineficaz em razão do termo
estabelecido, apenas no dia 09 de abril o vestido será entregue, o valor será
recebido e, assim, o contrato terá fim.
36
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
37
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
38
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Desta forma, imagine que Sofia realiza a compra de uma geladeira usada
com Raíssa. Fica pactuado que a geladeira deverá ser entregue no dia 02 de
março, ao passo que Raíssa deverá depositar o dinheiro no dia 03 de março. No
dia 04, Sofia reclama em juízo que não recebeu a prestação combinada, exigindo,
portanto, a resolução do contrato. Em sua defesa, porém, Raíssa afirma que
não realizou o pagamento porque não recebeu a geladeira, utilizando, assim, a
exceção de contrato não cumprido como forma de defesa processual.
Neste caso, o inadimplente não é responsável por perdas e danos, a não ser
que no contrato haja previsão expressa de que ele arcará com os danos em situação
39
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
de caso fortuito ou força maior ou, ainda, se estiver em mora para com o adquirente
(arts. 393 e 399, CC). A extinção do contrato será imediata, com efeito retroativo, ou
seja, a parte inadimplente deve devolver eventual prestação que já tenha recebido
sem, entretanto, estar obrigado a pagar indenização por perdas e danos.
A matéria é tratada no Código Civil de 2002, nos artigos 478, 479 e 480.
Conforme o referido diploma legal, a extinção contratual com base na onerosidade
excessiva só pode se efetivar na ocorrência dos seguintes elementos:
acontecimento extraordinário, imprevisível e excessivamente oneroso para uma
das partes que acarretará em extrema vantagem para a outra.
Atividades de Estudo:
40
Capítulo 1 TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
a) à manifestação de vontade.
b) ao dolo do vendedor.
c) à coisa.
d) à capacidade das partes.
e) ao preço contratado.
Algumas Considerações
Neste capítulo procuramos tecer algumas considerações gerais a respeito
do direito contratual, como: o conceito técnico de contrato, seus requisitos de
validade, seus princípios, as etapas de formação contratual, a classificação geral
dos contratos, seus efeitos e suas formas de extinção.
41
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
ReFerÊncias
BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
CCivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 fev. 2018.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2002.
42
C APÍTULO 2
Modalidades Contratuais
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:
44
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
ContextualiZação
No capítulo anterior foi estudada a teoria geral das obrigações contratuais
e analisados os elementos genéricos e aplicáveis para todas as espécies de
contrato, como: princípios, requisitos de validade, formas de extinção, dentre
outros. Neste capítulo, passaremos ao estudo dos contratos em espécie,
realçando suas características próprias, suas semelhanças e diferenças.
O Código Civil brasileiro, em seu Título VI, trata das várias espécies de
contratos. Nesta parte estão disciplinados os contratos de compra e venda,
doação, locação, empréstimo, depósito, apenas para mencionar alguns.
Como abordado no capítulo anterior, são os contratos nominais ou típicos, que
possuem regras legais próprias, já tratados na letra da lei. Isto não significa,
porém, que sejam as únicas espécies contratuais existentes, sendo, na verdade,
um rol exemplificativo e não taxativo: é permitido às partes que se criem novos
tipos contratuais (contratos inominados ou atípicos), desde que respeitadas as
condições gerais já estudadas.
45
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
46
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
47
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Assim, imaginemos que Paulo possui uma coleção de revistas raras, que
irá vender a Guilherme. As revistas estão localizadas em Porto Alegre-RS, sendo
que, legalmente, a tradição deveria ocorrer nesta cidade. Mas Guilherme mora em
Campina Grande-PB, não podendo se locomover até o sul do país para obter as
revistas. Sua amiga Nina está de férias em Porto Alegre e se prontifica a levá-las
até ao Nordeste.
48
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Essas situações estão elencadas no artigo 494: “Se a coisa for expedida para
lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez
entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se afastar o
vendedor”.
O artigo 496 e seu parágrafo único do Código Civil trata da venda entre
ascendente e descendente:
Assim, a venda entre pais e filhos, avôs e netos etc. é passível de anulação
caso seja feita sem autorização do cônjuge e dos demais descendentes. Observa-
se que o dispositivo mencionado recai apenas sobre as situações de compra e
venda, não sendo aplicável às doações e outros tipos contratuais.
49
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Por fim, há que se falar da venda entre cônjuges e companheiros. O art. 499
do Código Civil assim determina: “É lícita a compra e venda entre cônjuges, com
relação a bens excluídos da comunhão”. Isso porque, no caso de bens que já
integrem o patrimônio do casal (como nos casos da comunhão universal, ou as
coisas adquiridas após o casamento na comunhão parcial de bens), o contrato
seria inútil.
50
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Sua forma pode ser via escritura pública ou particular, sendo obrigatoriamente
pública nos casos do art. 108 do Código Civil (alienação de direitos reais
imobiliários que superam 30 salários mínimos).
51
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
g) Cláusulas especiais
52
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Atividade de Estudos:
1) É certo afirmar:
Troca ou Permuta
A troca, também chamada de permuta, é aquele contrato no qual A troca, também
chamada de
as partes acordam em dar uma coisa por outra, excluindo da relação permuta, é aquele
o dinheiro, tendo neste elemento sua principal diferença para com contrato no qual
o contrato de compra e venda. Ela pode envolver coisas distintas de as partes acordam
em dar uma coisa
quantidades diversas e, ainda, coisas futuras. por outra, excluindo
da relação o
dinheiro, tendo
Trata-se de um contrato bilateral, oneroso e comutativo, bastante neste elemento sua
similar à compra e venda. De fato, o artigo 533 do Código Civil principal diferença
estabelece que ao contrato de permuta se aplicam todas as disposições para com o contrato
de compra e venda.
a respeito da compra e venda, com duas exceções: 1) Salvo disposição
53
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Contrato EstimatÓrio
O contrato O contrato estimatório é aquele no qual um indivíduo (consignante)
estimatório é aquele entrega bens móveis a outro (consignatário) para que os venda, dentro
no qual um indivíduo
(consignante) de um determinado prazo. Caso o consignatário obtenha sucesso em
entrega bens sua venda, retirará desta uma margem de lucro. É o caso das galerias
móveis a outro de arte que se comprometem a expor e vender obras de determinados
(consignatário)
para que os venda, artistas, auferindo uma porcentagem de lucro.
dentro de um
determinado prazo.
Caso o consignatário Sua natureza jurídica assemelha-se a uma espécie de mandato
obtenha sucesso em para vender com obrigação alternativa, já que a venda em si não é
sua venda, retirará obrigatória. O consignatário pode obter o bem para si, pagando o valor
desta uma margem
de lucro. devido, ou devolvê-lo ao consignante.
Doação
O contrato de
doação é aquele no O contrato de doação é aquele no qual um indivíduo, por vontade
qual um indivíduo, própria, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra
por vontade própria, pessoa (art. 538, CC). Trata-se de um contrato, em regra, gratuito,
transfere do seu
patrimônio bens ou unilateral e solene.
vantagens para o de
outra pessoa (art.
538, CC). Sua gratuidade está diretamente relacionada à liberalidade do
doador, que não exige qualquer contraprestação do beneficiário para
que o contrato se firme. É o que chamamos de doação pura. Caso o doador
estabeleça qualquer tipo de encargo, porém, a doação perde sua característica
de gratuidade e se torna onerosa. Quanto à unilateralidade, o contrato de doação
54
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
cria obrigação para somente uma das partes. Porém, caso torne-se oneroso, será
também bilateral.
55
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Por fim, importa especificar que o mandatário para doar coisa do mandante
deve ter poderes especiais, constantes da procuração com o nome do donatário.
Desta mesma forma, os administradores em geral não podem doar coisas sob
sua administração. Tal é o caso dos representantes legais dos incapazes.
Como em todo negócio jurídico, o objeto de doação poderá ser todo bem
livre para o comércio: lícito, possível, determinado ou determinável. Além disso, o
doador deve doar coisa própria, devendo possuir o poder de disposição da coisa.
Por fim, cumpre mencionar que a doação de bens futuros é válida, ou seja,
uma pessoa pode doar, por exemplo, os filhotes de sua cadela que ainda estão
por nascer.
b) Aceitação
Para que o contrato Para que o contrato de doação se efetive, é necessário que o
de doação se efetive, donatário aceite o bem a ser entregue pelo doador. Assim, é possível
é necessário que o
donatário aceite o mencionar quatro formas de aceitação: expressa, tácita, presumida e
bem a ser entregue ficta.
pelo doador.
56
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Por fim, trataremos da aceitação ficta, que ocorre nas hipóteses de doação
pura a um sujeito incapaz. Trata-se de uma ficção jurídica, elencada no artigo
543 do Código Civil, segundo o qual os absolutamente incapazes podem aceitar
doações gratuitas independentemente de seus representantes legais. Todavia,
caso o representante entenda que a doação é prejudicial ao incapaz, ele pode
recusá-la.
Existem diversos tipos de doação a serem realizados. A mais comum É possível que para
a realização da
é a doação pura, efetuada como simples ato de liberalidade em que nada doação, o doador
é exigido do donatário; ele recebe o bem doado sem qualquer condição estabeleça algum
tipo de encargo.
ou encargo. Assim, temos a
doação modal ou
Em contrapartida, é possível que para a realização da doação, o com encargo, que
sujeita o donatário à
doador estabeleça algum tipo de encargo. Assim, temos a doação modal realização de certa
ou com encargo, que sujeita o donatário à realização de certa tarefa, um tarefa, um dever
jurídico.
dever jurídico. Em geral, o doador estipula prazo para a realização do
57
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
encargo; caso o prazo não seja observado, será necessário constituí-lo em mora,
antes de exigir o cumprimento. Neste caso, o doador fixará um prazo razoável para
que o donatário cumpra o encargo. Se ainda assim o encargo estabelecido não for
cumprido, o doador PODE exigi-lo, sob pena de revogar a doação.
Por fim, há que se falar ainda na doação com cláusula de reversão. O artigo
547 do Código Civil permite que o doador estipule o retorno, ao seu patrimônio, dos
bens doados, se sobreviver ao donatário. Desta forma, se José doa um imóvel a
Túlio com cláusula de reversão, caso Túlio morra, o imóvel retorna a José.
d) Revogação da doação
Existem casos nos quais a legislação permite que doação seja revogada.
Nesta hipótese, o Código Civil reputa ingrato o donatário que atente contra
a vida do doador ou cometa crime de homicídio doloso contra ele; o donatário
que ofenda fisicamente o doador; aquele donatário que injurie, calunie ou difame
o doador; e, finalmente, o donatário que negue alimentos ao doador, desde que
tivesse o dever e as condições materiais de ministrá-los, e desde que fosse solicitado
a fazê-lo, pois não é obrigado a adivinhar que o doador necessita de alimentos.
Se, nestes casos arrolados acima, o ofendido for irmão, cônjuge, ascendente ou
descendente do doador, a doação também poderá ser revogada.
58
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
poderão pleitear a revogação, a não ser que o doador tenha perdoado o donatário
antes de morrer. É evidente que se o doador morrer, depois de intentar a ação, seus
herdeiros poderão continuá-la.
Locação
Neste tópico trataremos da locação geral de bens, uma vez que
A locação é um
a locação de imóveis é matéria específica da Lei n. 8.245/91 (Lei do contrato no qual
Inquilinato). um indivíduo
empresta um bem
a outro, mediante
Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 215), “locação de coisas é pagamento; uma
o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o característica
importante é a de
uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante que o bem deve
remuneração”. Desta forma, infere-se que a locação é um contrato no retornar ao seu
dono após o fim do
qual um indivíduo empresta um bem a outro, mediante pagamento; uma contrato.
característica importante é a de que o bem deve retornar ao seu dono
após o fim do contrato.
59
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O objeto pode ser um bem móvel ou imóvel. No primeiro caso, o bem deve
ser infungível; bens móveis fungíveis só poderão ser locados por prazo certo e
para fins de ornamentação. Além disso, os bens móveis consumíveis também não
podem ser objeto de locação.
O bem poderá ser locado por inteiro ou por partes. No caso de um prédio
comercial, por exemplo, é possível alugar um andar inteiro ou apenas uma sala.
Se não houver especificação no instrumento, a locação abrange tanto o objeto
principal quanto os bens acessórios da coisa (art. 566, I, CC).
60
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
O locatário deve ser estranho ao bem, já que o locador não pode ser locatário
de si mesmo, exceto quando o uso da coisa, por força de contrato ou de lei,
pertencer a terceiro.
Quanto ao prazo, as partes são livres para determiná-lo, sendo que, conforme
o art. 571 do Código Civil, o locador não pode reaver a coisa antes do término
estipulado e nem o locatário devolvê-la antes do combinado, sob pena de perdas,
danos e eventuais multas.
a) Obrigações do locador
Assim, o locador deve entregar o bem com os acessórios e pertenças, a não ser
que estejam expressamente excluídos. As pertenças são bens móveis “afetados por
forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, como os tratores destinados
a uma melhor exploração de propriedade agrícola e os objetos de decoração de
uma residência, por exemplo” (GONÇAVES, 2014, p. 219). Se não houver qualquer
reclamação por parte do locatário, presume-se que o bem foi recebido nos termos
acordados. A não entrega por parte do locador gera inadimplência, podendo o
locatário exigir a resolução do contrato mais perdas e danos.
Além disso, o locador deve zelar para que o bem seja mantido em condições
de uso, exceto convenção em contrário. Os pequenos estragos, porém, que
independem do tempo ou do uso, são de responsabilidade do locatário.
Por fim, nos termos do inciso II do art. 566, o locador não pode praticar qualquer
ato que perturbe o uso e gozo do bem, devendo também proteger o locatário de
embaraços e turbações de terceiros (art. 568, CC). O locador também está sujeito
às consequências dos vícios redibitórios, por força do art. 568 do Código Civil.
61
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
b) Obrigações do Locatário
Por fim, cabe ao locatário restituir a coisa no estado em que a recebeu, salvo
as deteriorações naturais. É possível que ele exija relação por escrito do estado
do imóvel, quando realizada a entrega, de forma a se resguardar. Caso o locatário
tenha danificado a coisa, deverá indenizar o locador.
c) Disposições complementares
Conforme o art. 571 do Código Civil, o “locador [pode] reaver a coisa alugada
antes do vencimento do prazo”, desde que pague ao locatário as “perdas e danos
resultantes”. É possível, ainda, que a coisa seja devolvida ao locador desde que o
locatário pague a multa acordada no contrato. Essa norma pode ser alterada pela
vontade das partes, e não se aplica à locação de prédios urbanos, os quais têm
regulamentação própria.
62
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
EmprÉstimo No empréstimo,
uma das partes
No empréstimo, uma das partes entrega um bem a outra, com entrega um bem a
objetivo de reavê-lo ao fim do contrato. Transmite-se temporariamente a outra, com objetivo
de reavê-lo ao fim
posse da coisa, não lhe sendo cedida a propriedade. do contrato.
a) Comodato
63
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
b) Mútuo
O mútuo, por sua vez, é definido pelo art. 586 do Código Civil como o
“empréstimo de coisas fungíveis”, no qual o mutuário deve “restituir ao mutuante
o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”. Além
disso, o mutuário se torna proprietário do objeto, sendo responsável por todos os
riscos decorrentes desde a tradição (art. 587, CC).
64
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
65
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O mutuário, por sua vez, tem apenas uma obrigação: “restituir, no prazo
convencionado, a mesma quantidade e qualidade de coisas recebidas e, na sua
falta, pagar o seu valor, tendo em vista o tempo e o lugar em que, segundo a
estipulação, se devia fazer a restituição, quando o contrato não tiver dinheiro por
objeto” (GONÇALVES, 2014, p. 248).
O contrato de
depósito é aquele DepÓsito
no qual uma das
partes transfere a
outra a guarda de O contrato de depósito é aquele no qual uma das partes transfere
um bem móvel, a outra a guarda de um bem móvel, para conservação, que será
para conservação, devolvido posteriormente. O depositário não poderá utilizar este bem,
que será devolvido
posteriormente. exceto se expressamente autorizado.
66
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
a) Tipos de depósito
O depósito judicial, por sua vez, deriva de uma sentença, como nas ações de
consignação em pagamento ou de sequestro.
67
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Caso a coisa produza frutos, estes deverão ser entregues junto ao bem
principal, assim como eventuais benfeitorias. A restituição deve ser feita no lugar
em que o bem foi guardado, às custas do depositante (art. 631, CC). Se o bem
depositado for de interesse de terceiro, este deve autorizar a restituição (art. 632,
CC). Caso haja mais de um depositante e a coisa seja divisível, o depositário
deverá restituir a cada um a parte que lhe cabe, exceto se forem solidários (art.
639, CC):
Além disso, o depositário não pode se negar a restituir a coisa, exceto nos
seguintes casos: a) Direito de retenção; b) Embargo judicial do objeto depositado;
c) Execução pendente sob a coisa depositada; e d) Motivo justo sobre a ilicitude
do objeto (art. 633 e 634, CC). É possível, ainda, que o depositário faça depósito
judicial quando tiver motivo justo para devolver a coisa e o depositante não queira
recebê-la (art. 635, CC).
Sobre o direito de retenção, o artigo 644 do Código Civil estabelece que será
legítimo quando: a) O depositante não tiver pagado remuneração previamente
acordada; b) O depositante não pagar o valor das despesas que o depositário
tenha realizado em função da coisa; e c) O depositário não tenha recebido
indenização devida oriunda de eventual prejuízo do depósito.
68
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Atividade de Estudos:
a) é sempre gratuito.
b) se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado,
nesse mesmo estado se manterá.
c) o depositário responde pelos casos de força maior.
d) se voluntário, provar-se-á por qualquer forma.
O mandato é
Mandato um contrato no
qual uma das
partes confere
Nos termos do art. 653 do Código Civil, o mandato é um contrato a outra poderes
no qual uma das partes confere a outra poderes para praticar atos para praticar atos
jurídicos em seu
jurídicos em seu nome; baseia-se, portanto, na ideia de representação. nome;
Grande parte dos atos jurídicos pode ser efetuada por meio de representante
escolhido, ainda que não tenham cunho patrimonial, como bem lembra Gonçalves
(2014, p. 286):
69
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Por outro lado, o artigo 666 do Código Civil permite que os menores de 18
e maiores de 16, relativamente incapazes, atuem como mandatários. Caso o
contrato seja mal executado, porém, o risco é integralmente do mandante.
b) A procuração
Apesar de ser Apesar de ser contrato não solene e, portanto, não exigir forma
contrato não solene
e, portanto, não para que seja válido, o mandato escrito é o mais comum, tendo como
exigir forma para instrumento a procuração.
que seja válido, o
mandato escrito é o
mais comum, tendo De acordo com o artigo 654, §1º, “O instrumento particular
como instrumento a deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do
procuração.
70
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
O artigo 657, por sua vez, orienta que a procuração seja feita da mesma
forma exigida para o ato a ser praticado. Assim, exemplifica Gonçalves (2014, p.
291): “Se o ato objetivado exigir instrumento público, como a compra e venda de
imóvel de valor superior à taxa legal, por exemplo, a procuração outorgada para a
sua prática deve observar, necessariamente, a forma pública”.
c) Espécies de mandato
71
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Em relação à forma, o mandato poderá ser verbal nos casos em que a lei
não exija forma escrita, notadamente “nos negócios jurídicos cujo valor não
ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que
foram celebrados” (art. 227, CC). O escrito pode ser outorgado por instrumento
particular ou público (art. 654, CC).
72
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
e) Extinção do mandato
73
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Comissão
O contrato de comissão, nas palavras de Gonçalves (2014, p. 312), é um
negócio jurídico pelo qual
a) Remuneração do comissário
74
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
b) Deveres do comissário
Quanto aos deveres em relação ao comitente, tem-se que: 1) Uma vez aceito
o encargo, obriga-se o comissário na forma e segundo as ordens e instruções
recebidas; 2) Obriga-se o comissário em relação às pessoas com as quais ele
contrata, sem que estas tenham ação contra o comitente, e nem este contra elas,
a menos que o comissário ceda seus direitos a qualquer uma das partes (art. 694,
CC); 3) Deve proceder com diligência de forma e evitar prejuízo e auferir lucro para
o comitente (art. 696, CC); 4) Não pode conceder prazo para pagamento, se tiver
ordens em contrário. Na omissão de disposição sobre o assunto, a presunção é que
houve autorização (art. 699, CC); 5) Nas vendas de mercadorias a prazo, vencidos
os pagamentos, o comissário é obrigado a realizar a cobrança (art. 700, CC); 6)
Cabe-lhe cuidar da conservação dos direitos e da guarda das coisas do comitente;
7) Deve pagar os juros se incidir em mora na entrega dos fundos ou valores devidos
ao comitente, como a este também incumbe a satisfazer os juros das quantias em
dinheiro que o comissário, a seu benefício, houver adiantado (art. 706, CC); e 8)
Deve avisar o comitente dos danos sofridos pelas mercadorias sob sua guarda.
75
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
76
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
AgÊncia e Distribuição
O artigo 710 do Código Civil assim preceitua:
77
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Além disso, o artigo 710, Parágrafo único, dispõe que “o proponente pode
conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos”.
Neste caso, estaremos diante de um contrato de representação comercial autônoma,
disciplinado pela Lei 4.886/1965. Aqui, diferentemente do contrato de agência
regulamentado pelo Código Civil, as partes são necessariamente empresárias.
c) Remuneração do agente
78
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Segundo o art. 712 do Código Civil, o “agente, no desempenho que lhe foi
cometido, deve agir com toda diligência, atendo-se às instruções recebidas do
proponente”. Assim, embora goze de autonomia e de independência hierárquica, o
agente precisa atuar conforme as especificações recebidas, com zelo e dedicação.
79
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Corretagem
Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 327):
80
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Atividade de Estudos:
Transporte
Contrato de
transporte, uma das
No contrato de transporte, uma das partes se obriga a levar a partes se obriga a
outra até um destino previamente combinado, mediante pagamento. levar a outra até um
destino previamente
Disciplinado no artigo 730 e seguintes do Código Civil, trata-se de combinado,
negócio bilateral, oneroso, por adesão e não solene. mediante
pagamento.
81
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Nesta espécie, Nesta espécie, uma das partes se obriga a levar bens de outra
uma das partes a um determinado destino, visando pagamento. Estes bens devem
se obriga a levar
bens de outra a ser corpóreos e materiais, com alguma expressão econômica. Além
um determinado disso, devem estar devidamente individualizados no intuito de evitar
destino, visando desentendimentos (art. 743, CC, 2002).
pagamento.
Quanto aos direitos e deveres das partes, Gagliano e Pamplona Filho (2014,
s.p) apresentam o seguinte resumo esquemático:
82
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
83
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
c) Transporte gratuito
84
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Seguro
O contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes, a seguradora, O elemento principal
se obriga com a outra, o segurado, mediante o pagamento de um prêmio, deste tipo de
contrato é o risco,
a indenizá-la do prejuízo econômico resultante de riscos futuros, possíveis, que é transferido
incertos, lícitos e independentes da vontade das partes. para outra pessoa.
85
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
b) O risco
Ao contrário do que possa parecer, nem sempre o risco precisa ter caráter
danoso. Como afirma Gonçalves (2014, p. 351), “mesmo ser um acontecimento
feliz, como a sobrevivência, no seguro de vida, a educação futura de um filho, o
casamento do segurado etc.”
c) Seguro de dano
86
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
d) Seguro de pessoa
87
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Vale ressaltar que o segurado que omita informações que possam influenciar
na taxa do prêmio perderá o direito à garantia. Se a omissão for oriunda de má-
fé, o segurador pode resolver o contrato ou cobrar a diferença do prêmio, ainda
que o sinistro já tenha se concretizado. Além disso, o segurado perderá o direito à
garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.
88
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Constituição de Renda
Conforme o artigo 803 do Código Civil, o contrato de constituição O contrato de
constituição de
de renda é aquele segundo o qual uma pessoa, denominada rendeira, renda é aquele
censuária ou devedora, obriga-se ao pagamento de determinada segundo o qual uma
renda periódica a outra, que será chamada de instituidora, censuísta, pessoa, denominada
rendeira, censuária
censuente ou credora, durante um lapso temporal ou vitaliciamente. ou devedora, obriga-
se ao pagamento de
determinada renda
Este contrato pode ser estabelecido de maneira gratuita ou periódica a outra,
onerosa. Neste último caso, imagine que uma pessoa transfira um bem que será chamada
seu a outra para que esta última se obrigue ao pagamento de uma de instituidora,
censuísta,
importância mensal ao primeiro ou a um terceiro. Note que nesse caso censuente ou
também houve a constituição de renda, porém, essa manifestou de credora, durante um
lapso temporal ou
maneira onerosa, já que é fácil perceber que ambas as partes estão vitaliciamente.
sofrendo sacrifícios patrimoniais.
89
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Jogo e Aposta
Apesar de jogo e aposta estarem disciplinados de forma integrada no Código
Civil (arts. 814 ao 817), existem diferenças entre as duas espécies contratuais.
No jogo, duas ou mais pessoas se dedicam a uma mesma atividade, buscando
90
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
91
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
pela diferença entre o preço ajustado e a cotação que eles tiverem no vencimento
do ajuste”. Assim, embora todos estes negócios tenham a sorte como núcleo
central, as regras do jogo e da aposta não recaem sobre títulos de bolsa,
mercadorias e valores.
Fiança
A fiança é uma A fiança é uma espécie de garantia destinada a suprir eventual
espécie de insuficiência de patrimônio do devedor. Neste tipo de contrato, um
garantia destinada terceiro se compromete a pagar os débitos em aberto caso o devedor
a suprir eventual
insuficiência de original assim não o faça. Assim, é possível afirmar que se trata de
patrimônio do um contrato acessório e subsidiário, pois é firmado para garantir o
devedor.
pagamento de um outro contrato principal.
92
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
b) Efeitos da fiança
93
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Transação
Nas palavras de Gonçalves (2014, p. 397), a transação “constitui negócio
jurídico bilateral, pelo qual as partes previnem ou terminam relações jurídicas
controvertidas, por meio de concessões mútuas”. Trata-se, assim, de um negócio
jurídico que tem por objeto prevenir ou extinguir litígios, a partir de concessões
recíprocas.
94
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
95
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Em regra, seus efeitos são suportados apenas pelas partes (art. 844, CC),
admitindo a lei três exceções: 1) A transação feita por credor e devedor principal
desobriga o fiador; 2) No caso de um credor solidário transacionar com um
devedor, a dívida está extinta para todos os outros credores; 3) No caso de um
devedor solidário transacionar com um credor, a dívida também se extingue
para os demais devedores (art. 844, §1º, 2º e 3º CC). Outra hipótese possível
ocorre quando o bem transacionado sofre evicção. A obrigação transacionada
permanece, cabendo ao evicto direito de indenização (art. 845, CC).
Compromisso
O compromisso é um contrato pelo qual as partes acordam em submeter
um litígio que os envolve a uma solução, que envolva uma ou mais obrigações
(art. 851, CC). É o instrumento hábil que dará início à arbitragem como forma
de resolução de conflitos patrimoniais. Nele, as partes se comprometem a levar
suas querelas a um terceiro desinteressado, conhecido como árbitro. Trata-se de
negócio personalíssimo, bilateral e oneroso, podendo ser unilateral e gratuito no
caso de uma das partes reconhecer as alegações integrais da outra.
96
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Contrato de Sociedade
O contrato de
O contrato de sociedade refere-se ao ato constitutivo das sociedades sociedade refere-se
ao ato constitutivo
empresárias e simples, voltadas à prática de atividade econômica. O das sociedades
primeiro tipo tem como objetivo a execução de atividade tipicamente empresárias e
simples, voltadas à
empresarial; por sua vez, a segunda exerce atividade econômica que não prática de atividade
se enquadra como atividade empresarial sujeita ao registro. econômica.
Nem toda pessoa jurídica, entretanto, terá por ato constitutivo o contrato
de sociedade. As pessoas jurídicas institucionais ou estatutárias, como as
associações, fundações, as sociedades por ações e as sociedades cooperativas
têm por ato constitutivo um estatuto social. O contrato de sociedade será o ato
constitutivo das sociedades contratuais, como a sociedade simples comum,
sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedade
limitada (simples ou empresárias). Segundo Negrão (2011, p. 319):
Desta forma, o artigo 981 do Código Civil determina que “celebram contrato
de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou
serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.
97
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Contrato de FidÚcia
O contrato de fidúcia é um contrato de garantia, pelo qual um
O contrato de fidúcia
é um contrato de contratante transmite ao outro a propriedade ou a titularidade de
garantia, pelo qual um bem ou direito, obrigando-se a quem recebe o bem, a restituí-lo
um contratante
transmite ao outro ou transferi-lo a terceiro, tão logo alcançado o objetivo conforme o
a propriedade ou pactuado.
a titularidade de
um bem ou direito,
obrigando-se a Neste tipo de contrato, um indivíduo é dono da coisa que estará,
quem recebe o no entanto, sob a posse de outrem, até que haja pagamento total
bem, a restituí-
lo ou transferi-lo do valor acordado. Imaginemos, hipoteticamente, que José compre
a terceiro, tão um carro de Alexandre, contudo, mediante contrato de fidúcia com
logo alcançado o Andressa; é como se Andressa tivesse comprado o veículo diretamente
objetivo conforme o
pactuado. de Alexandre, mas quem usará o bem será José, que deverá efetuar o
pagamento a Andressa.
98
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
José terá a posse do veículo, mas não sua propriedade, que será de
Andressa até pagamento total da dívida. Com o pagamento, a propriedade passa
a ser de José. Não havendo pagamento, Andressa pode realizar a venda judicial
ou extrajudicial do bem, aplicando o valor para a satisfação do crédito e das
despesas de cobrança. Ela, porém, não poderá ficar com o automóvel, sendo nula
a cláusula neste sentido, já que o vínculo que se estabelece visa a realização do
seu valor econômico para satisfação do crédito, e não a apropriação do bem.
Venosa (2013) elenca dois tipos principais de fidúcia: fidúcia de bens móveis
e fidúcia de bens imóveis. Vejamos cada um deles.
Trata-se de negócio que exige forma escrita, pública ou particular (art. 1.362,
CC; art. 66, §1º, Lei 4.728/65), devendo conter o valor total ou estimado da
dívida, local e data do pagamento, taxa de juros, comissões, descrição do bem e,
eventualmente, cláusula penal e correção monetária.
99
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
A alienação fiduciária de bens imóveis foi instituída pela Lei 9.514/97, com o
intuito de facilitar o financiamento imobiliário. Como afirma Venosa (2013, p. 418):
100
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Incorporação Imobiliária
O contrato de incorporação imobiliária é regido pela Lei 4.591/64, que em
seu art. 28 o conceitua como: “a atividade exercida com o intuito de promover e
realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de
edificações compostas de unidades autônomas”. Segundo Venosa (2013, p. 514):
101
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
a) Etapas do contrato
102
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
c) Inadimplência
A Lei 4.591/64, em seu art. 1º, VI, estabelece que o inadimplemento contratual
do adquirente só poderá gerar rescisão após três meses de atraso, assegurado
ao devedor o direito de purgar sua mora em até 90 dias. Ele só poderá ter posse
da unidade após quitação das dívidas, sendo conferido ao incorporador, ao
construtor e ao condomínio, o direito de retenção (art. 52).
103
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Edição
O contrato de edição refere-se a uma forma de utilização de obra artística
ou científica, conforme estabelecido no art. 29 da Lei 9.610/98. Segundo Venosa
(2013, p. 657):
104
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
b) Extinção
O contrato será extinto quando: esgotada a edição, não sendo prevista nova
tiragem; se até dois anos após a celebração do contrato a obra não for editada
(art. 62); por morte ou incapacidade superveniente do autor (art. 55, I); apreensão
ou proibição da obra pela administração; falência do editor.
105
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
106
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
b) Extinção do contrato
107
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Parceria Rural
O contrato de O contrato de parceria rural está disciplinado no Decreto n.
parceria rural 59.566/66, e refere-se ao negócio no qual um indivíduo cede o uso
está disciplinado
no Decreto n. específico de imóvel rural a outrem, para exercício de atividade rural,
59.566/66, e refere- com partilha de riscos e lucros em proporções legais. Nas palavras de
se ao negócio no Venosa (2013, p. 640):
qual um indivíduo
cede o uso
específico de imóvel Na parceria, é cedido o uso da coisa, sem que necessariamente
rural a outrem, seja transferida a posse do imóvel ao parceiro-outorgado. Com
para exercício de a partilha dos frutos e levadas em consideração as perdas,
atividade rural, as partes contratantes receberão a fruição decorrente desse
com partilha de contrato. O malogro da colheita ou da produção afeta ambos
riscos e lucros em os contratantes. A parceria é contrato que sublima o espírito
proporções legais. associativo; as partes unem-se perante o mesmo desiderato.
108
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Quanto aos prazos, o art. 13 estabelece que o contrato deve durar no mínimo
três anos para qualquer espécie de parceria, isto em razão das diversas variantes
presentes na exploração rural.
Como contrato não solene e informal, pode ser firmado por escrito ou
verbalmente, sendo de qualquer forma protegido pelas diretrizes gerais da lei que
o regulamenta. Pode, inclusive, ser comprovado por prova testemunhal (art. 14,
Decreto n. 59.566/66).
109
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
110
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Contrato de CapitaliZação
O Contrato de capitalização é regulamentado pelo Decreto-lei 261/67 e pelo
Decreto-lei 73/66, sendo definido por Fiuza, Sá e Neves (2003, p. 673) como o
negócio
Em outras palavras, o aderente (ou prestamista) deve pagar por O aderente (ou
prestamista)
certo tempo (mensalmente, por exemplo) uma quantia à empresa deve pagar por
capitalizadora, concorrendo a um sorteio, se não for sorteado até o fim certo tempo
(mensalmente,
do contrato, receberá de volta as parcelas pagas com juros e correção por exemplo) uma
monetária. quantia à empresa
capitalizadora,
concorrendo a um
Apesar de ser contrato diferenciado do contrato de seguro, é sorteio, se não
possível que os dois tipos contratuais se unam em uma figura híbrida na for sorteado até
o fim do contrato,
qual o segurado contribui por tempo determinado, caso venha a falecer receberá de volta as
dentro do termo firmado, o beneficiário recebe a indenização; caso não parcelas pagas com
morra, o próprio segurado recebe as prestações pagas. juros e correção
monetária.
111
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Contratos Bancários
Os contratos bancários são de difícil conceituação, tendo Covello (1999)
proposto a existência de dois elementos para caracterizá-los, um de ordem
subjetiva e outro de ordem objetiva. Neste sentido, para o autor, os contratos
bancários podem ser compreendidos como aqueles realizados por um banco,
cujo objetivo seja a intermediação de crédito.
112
Capítulo 2 MODALIDADES CONTRATUAIS
Algumas Considerações
O objetivo central deste capítulo foi apresentar as espécies contratuais mais
comuns no Direito brasileiro, recorrendo, para isso, tanto ao Código Civil quanto à
legislação específica.
113
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
ReFerÊncias
BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
CCivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 fev. 2018.
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2009.
FIUZA, César; SÁ, NEVES. Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey,
2003.
114
C APÍTULO 3
Teoria das Obrigações
Extracontratuais: Obrigações por
Declaração Unilateral de Vontade
116
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
ContextualiZação
Neste capítulo, estudaremos outro tipo de obrigação civil, também oriunda
da vontade individual, mas independente da existência de um credor: que são
os atos unilaterais de vontade, institutos que se diferenciam sobremaneira dos
contratos, assunto estudado nos capítulos anteriores.
Conceitos IntrodutÓrios
As obrigações civis, hodiernamente conceituadas como o vínculo jurídico
entre credor e devedor a respeito de uma prestação, têm como fonte a lei.
É a legislação que irá determinar os efeitos dos contratos, impor o dever de
indenizar quando alguém comete ato ilícito e, ainda, obrigar o declarante a pagar
recompensa prometida, como veremos adiante neste capítulo.
117
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Promessa de Recompensa
A promessa de recompensa pode ser conceituada como ato
A promessa de
recompensa pode obrigacional de um sujeito que promete recompensa a quem preencher
ser conceituada certo requisito ou desempenhar algum tipo de atividade. Trata-se,
como ato assim, de um negócio jurídico unilateral que gera obrigações a quem
obrigacional de um
sujeito que promete manifestar a vontade de recompensar, independentemente se outra
recompensa a parte irá ou não cumprir os requisitos para auferir o prometido. Neste
quem preencher sentido, o artigo 854 do Código Civil (BRASIL, 2002) assim determina:
certo requisito ou
desempenhar algum “aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar,
tipo de atividade. ou gratificar, a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo
serviço, contrai obrigação de cumprir o prometido”.
Imaginemos, pois, que Alice perdeu seu querido gato Cheshire. Seu pai, com
pena da garota, distribuiu cartazes por toda a vizinhança e se comprometeu a
pagar R$ 500,00 (quinhentos reais) a quem quer que traga o gato de volta. Eis a
promessa de recompensa.
118
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
Para que essa promessa seja obrigatória, entretanto, são necessários três
requisitos: 1) Publicidade da promessa; 2) Especificação da condição ou do
serviço a serem realizados; 3) Indicação da recompensa.
Por fim, cumpre mencionar qual será a recompensa entregue ao sujeito que
cumprir os requisitos da promessa. É possível, assim, que a recompensa seja a
entrega de um bem (por exemplo, dinheiro), ou a realização de alguma atividade por
parte do promitente (por exemplo, pagamento de cursinho pré-vestibular). Caso a
recompensa não esteja indicada na promessa, será necessário que um juiz a arbitre.
Caso o objeto da promessa tenha sido executado por mais de uma pessoa,
a recompensa será de quem o realizou primeiro (art. 857, CC); se a execução
foi simultânea, cada um receberá quinhão igual; se o bem for indivisível, haverá
sorteio (art. 858, CC).
119
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Atividade de Estudos:
120
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
121
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Se a gestão for ruim, o dono pode não ratificar os atos realizados e tornar o gestor
pessoalmente responsável por eles; se for iniciada contra a vontade presumida
do dono, o gestor será responsabilizado até mesmo pelos casos fortuitos (art.
862, CC); d) Realização de atos unicamente patrimoniais passíveis de serem
executados pelo gestor, ou seja, que não exijam mandato expresso (doação,
repúdio de herança etc.); e) Necessidade ou utilidade da intervenção. Sobre este
último ponto, Gonçalves (2014, p. 421) exemplifica:
O gestor tem como dever, ainda, b) Agir com diligência e ressarcir o dono por
eventuais prejuízos (art. 866, CC); c) Não realizar operações de risco, ainda que o
dono as fizesse regularmente.
122
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
art. 870, CC); c) Reembolsar o gestor que pagar alimentos devidos por ele (dono)
(art. 871 e 872, CC). Gonçalves (2014, p. 423) elenca mais um dever, oriundo do
art. 875, CC: “se os negócios de outrem forem conexos com os do gestor, de tal
modo que se não possam gerir separadamente, o gestor será considerado sócio
daquele na respectiva gerência; mas o beneficiado com a gestão só é obrigado na
razão das vantagens que lograr”.
Atividade de Estudos:
123
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Pagamento IndeVido e
EnriQuecimento Sem Causa
O pagamento indevido e o enriquecimento sem causa têm uma
O enriquecimento íntima relação, já que este último é um gênero do qual o primeiro é
sem causa,
também chamado espécie. Em outras palavras, o pagamento indevido é um tipo de
de enriquecimento enriquecimento sem causa, especificamente disciplinado pelo Código
ilícito, refere-se a
um ganho monetário Civil, conforme veremos.
injusto. O indivíduo
não tem direito ao O enriquecimento sem causa, também chamado de enriquecimento
lucro que é obtido,
gerando desarmonia ilícito, refere-se a um ganho monetário injusto. O indivíduo não tem
no sistema jurídico. direito ao lucro que é obtido, gerando desarmonia no sistema jurídico.
Neste sentido, o artigo 884 do Código Civil assim determina:
Por fim, cumpre mencionar o último requisito, qual seja d) Ausência de causa
jurídica. Se não há contrato firmado entre as partes nem obrigação legal que
justifique o fato, há enriquecimento sem causa. É o caso do pagamento indevido.
124
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
125
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Por fim, não há que se falar em repetição de indébito nos casos em que o
valor pago se destina a fins ilícitos ou imorais. Se alguém contrata um matador
de aluguel para que assassine alguém e o matador embolsa o dinheiro, mas
não cumpre o combinado, o contratante nada poderá fazer, mesmo que haja um
enriquecimento sem causa por parte do matador (art. 883, CC).
Atividade de Estudos:
126
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
TÍtulos de CrÉdito
Embora a disciplina dos títulos de crédito esteja situada em título distinto
daquele relativo aos atos unilaterais no Código Civil, os títulos também fazem
parte do estudo dos atos unilaterais. Como afirma Gonçalves (2014, p. 435),
tal fato é “uma questão de ordem prática, baseada na consideração de que o
grande número daquelas normas demandaria sua disciplina em título próprio”.
Além disso, os títulos de crédito são regulados por diversas legislações esparsas,
abrangendo, ainda, matéria de direito empresarial. Trata-se, assim, de um assunto
rico e minucioso, motivo pelo qual, aqui, trataremos de uma introdução geral a
respeito do tema.
127
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
128
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
a) Títulos à ordem
129
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O sacado poderá, ainda, emitir aceite parcial de dois tipos: aceite limitativo,
dizendo que assume a obrigação até determinado valor; ou aceite modificativo,
alterando a data de vencimento ou lugar de pagamento. Em ambos os casos há o
vencimento antecipado do título, já que houve recusa de certas circunstâncias, de
forma que o tomador (no caso do nosso exemplo, Rodolpho) poderá executá-lo
integralmente contra o sacador (Amanda). Se isso acontecer, Amanda terá direito
de regresso em relação à parte assumida por Andressa (sacado) (art. 26, Lei
Uniforme).
130
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
131
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
O aval é uma
declaração unilateral Os títulos de crédito podem ter seus pagamentos garantidos por
própria do direito aval (art. 897, CC), que podem ser feitos de maneira parcial nas letras de
cambiário, em
que um terceiro câmbio, notas promissórias, duplicatas e cheques (art. 30 Lei Uniforme).
(ou um figurante O aval é uma declaração unilateral própria do direito cambiário, em que
do título) garante um terceiro (ou um figurante do título) garante o pagamento do título,
o pagamento do
título, gerando gerando responsabilidade solidária entre ele e o devedor. Caso haja
responsabilidade indicação do avalizado, temos aval em preto; caso contrário, temos o
solidária entre ele e
o devedor. aval em branco, relativo ao devedor final (art. 899, CC).
132
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
Se ainda assim o título não for pago, o credor poderá buscar a satisfação
de seu direito por meio judicial, através da execução de títulos extrajudiciais (art.
784 do Novo Código de Processo Civil). A execução é considerada uma espécie
de ação cambial, ou seja, trata-se de um procedimento no qual a defesa do
devedor é extremamente restrita; não se discute nessas ações a existência ou
não da dívida, já comprovada pela mera existência do título. O intuito é atingir o
patrimônio do devedor para que o crédito seja satisfeito.
Para que produza efeitos cambiais, a nota promissória precisa atender aos
seguintes requisitos, elencados nos arts. 75 e 76 da Lei Uniforme:
133
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
134
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
135
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Há que se falar ainda do chamado cheque pré-datado, tipo que não encontra
respaldo legal, originando-se do costume das relações comerciais. Conforme
Gonçalves (2014, p. 453), “Nas vendas a prazo é comum o pagamento ser
realizado mediante a entrega ao vendedor de vários cheques, tantos quantos forem
as parcelas, emitidos com data futura”. Como o cheque é ordem de pagamento à
vista, se for apresentado ao banco antes da data combinada, a instituição deverá
fazer o pagamento, o que pode acarretar diversos prejuízos para o emitente. Por
isso, a súmula 370 do STJ diz expressamente que “caracteriza dano moral a
apresentação antecipada de cheque pré-datado”.
136
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
EMENTA
DECISÃO MONOCRÁTICA
137
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
138
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
É o relatório.
O inconformismo não merece prosperar.
Com efeito.
139
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
[...]
140
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
[...]
141
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
142
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
DUPLICATA VIRTUAL:
Previsão legal
143
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Como funciona
144
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS: OBRIGAÇÕES
Capítulo 3
POR DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE
b) Títulos nominativos
O artigo 921 do Código Civil afirma que os títulos nominativos são aqueles
emitidos “em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente”. Sua
transferência ocorre por termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário
e pelo adquirente (art. 922, CC) ou por endosso, desde que contenha o nome do
endossatário (art. 923, CC). Também poderá ser transformado em título à ordem
ou ao portador, por solicitação do proprietário (art. 924, CC).
Algumas Considerações
Conforme mencionado, as obrigações civis encontram fundamento na lei,
disciplinando os contratos, os atos ilícitos e, ainda, os atos unilaterais de vontade.
Compreendidos como atos jurídicos oriundos da manifestação individual de
vontade, os atos unilaterais independem da figura prévia de um credor.
145
Relações Obrigacionais Contratuais e Extracontratuais
Disciplinados nos artigos 854 a 909, do Código Civil, o direito brasileiro conta
com cinco atos unilaterais de vontade: 1) Promessa de recompensa; 2) Gestão de
negócios; 3) Pagamento indevido; 4) Enriquecimento sem causa; 5) Títulos de crédito.
ReFerÊncias
BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
CCivil_03/Leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 fev. 2018.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. São Paulo: Saraiva, 2011.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2002.
146