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Capa: Danilo Oliveira

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Sindicato Nacional dos Editores de
Livros, RJ.

N788a

Notariano Júnior, Antonio

Agravo contra as decisões de


primeiro grau : de acordo com as
recentes reformas processuais e com o
CPC/2015 / Antonio Notariano Júnior,
Gilberto Gomes Bruschi. 2. ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-309-6601-0

1. Processo civil. 2. Recurso


extraordinário - Brasil. I. Bruschi,
Gilberto Gomes. II. Título.

CDU:
15-23617 347.91/.95
(81)
Dedico o presente livro aos meus avós
(Lausso Notariano, Iracema
Leonardelli Notariano, João Zucon e
Nilde Pinto Zucon – in memoriam), que,
em virtude dos meus filhos, tenho cada
vez mais presente a importância deles
na minha vida.
Antonio Notariano Jr.

À minha querida esposa Daniella, aos


meus filhos Gabriel e Isabella e àqueles
que me fizeram ser o que sou hoje,
meus pais, Gilberto e Ana Teresa.
Gilberto Gomes Bruschi
Nota da Editora: o Acordo Ortográfico foi aplicado
integralmente nesta obra.
PREFÁCIO DA
SEGUNDA EDIÇÃO
Os ilustres juristas Antonio
Notariano Jr. e Gilberto Gomes
Bruschi, autores da obra Agravo contra
as Decisões de Primeiro Grau,
pediram-nos a feitura de prefácio para a
segunda edição da obra. É com
satisfação que atendemos ao honroso e
gratificante convite.
A obra por eles escrita teve
aceitação da comunidade jurídica,
marcando o seu espaço na literatura do
direito processual civil, e,
particularmente, no campo da teoria dos
agravos.
É obra ampla em que avaliam as
mudanças sofridas pelo agravo, em
nosso direito.
É, ademais, trabalho crítico,
porquanto, na análise a que procederam,
procuraram também avaliar os defeitos
que acompanharam as modificações
sofridas, já desde 1990.
Os agravos de instrumento
assumiram importância muito grande no
direito brasileiro, menos por causa
deles próprios, senão em razão da
institucionalização da tutela antecipada.
Esta generalizou-se em sua utilização e
contra a decisão que antecipe ou que não
antecipe a tutela, cabe agravo de
instrumento.
Se a idealização de um modelo em
relação à recorribilidade das
interlocutórias constitui sempre um
problema no direito brasileiro, com a
circunstância de que, atualmente, grande
parte dos recursos interponíveis de
primeiro para o segundo grau carregam
consigo os delicados aspectos de que se
reveste a tutela antecipada, esse
problema resultou profundamente
hipertrofiado.
Grande prova da dimensão das
controvérsias a respeito do melhor
sistema de recorribilidade das
interlocutórias é a diversidade de
alterações legislativas que
acompanhamos nos últimos anos. Para
ilustrar, podemos citar a Lei
11.187/2005, que estabeleceu o Agravo
Retido como regra, solução que decorre
da necessidade de diminuição da carga
dos Tribunais, a qual foi deveras
aumentada com a proliferação da
antecipação de tutela.
Os autores souberam tratar das
mudanças de forma acurada,
discorrendo com propriedade sobre os
pontos importantes. Além da já citada
Lei 11.187/2005, foram bem destacados,
entre outros pontos, o novo regime
trazido com a Lei 11.232/2005 – a qual
trata do cumprimento de sentença –, as
hipóteses em que se deve utilizar o
Agravo de Instrumento (e não o Agravo
Retido).
Depois de profunda análise nas
regras do agravo no regime dado pelo
CPC/1973 e posteriores reformas, os
autores observam como ficou o agravo
de instrumento no CPC/2015, com todas
as regras a ele inerentes.
Talvez a maior alteração entre o
atual e o CPC/2015 seja a extinção da
figura do Agravo Retido, deixando as
matérias não impugnáveis por meio de
Agravo de Instrumento para serem
discutidas em grau de Apelação.
Outro ponto relevante da obra é a
questão do direito intertemporal
relacionado ao Agravo, resolvendo as
questões que certamente ocorrerão com
a entrada em vigor da novel legislação
processual brasileira em 2016.
A obra é rica não apenas nos
aspectos teóricos, mas também serve
como um importante guia para a prática
do Processo Civil. A leitura é
fortemente recomendada para
advogados, magistrados, membros do
Ministério Público, estudantes, enfim,
para toda a comunidade jurídica.
Os autores estão de parabéns pelo
livro, que, merecidamente, chega à
segunda edição, fato que demonstra a
qualidade do trabalho e prenuncia a
longa vida que certamente terá a obra.

Arruda Alvim
Advogado. Livre-docente pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professor
Titular (Mestrado e Doutorado) da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
PREFÁCIO DA
PRIMEIRA EDIÇÃO
O presente estudo sobre o recurso
de agravo, de acordo com a feição
estabelecida pela recente Lei
11.187/2005, é atualíssimo, visto que
pretende não só abordar a “teoria geral”
do agravo cabível contra decisões
proferidas em primeiro grau de
jurisdição, mas também precisar os
requisitos de admissibilidade, os efeitos
e o processamento deste recurso à luz
das alterações oriundas da Lei referida.
A recorribilidade das
interlocutórias é, de fato, problema
tormentoso e, como vários outros temas
do direito processual civil brasileiro,
sujeita-se às intensas variações
legislativas, que, por sua vez, são
influenciadas pelo desejo, predominante
nos dias atuais, de viabilizar um
processo mais célere. Parece, de fato,
ser possível dizer que segurança e
certeza sobre a correção da decisão não
têm sido a tônica que norteia as
reformas que vêm ocorrendo há mais de
uma década. A generalização do instituto
da antecipação dos efeitos da tutela (art.
273) e a ampliação dos poderes de
execução do juiz (p. ex., art. 461 e
parágrafos) são exemplos de que, nestes
tempos mais recentes, espera-se que a
solução jurídica seja dada pelo juiz, no
limiar de uma ação judicial, por meio de
uma interlocutória. O litigante não mais
pode aguardar o “amadurecimento” pelo
juiz da solução que viria com a
sentença, depois de um exame mais
aprofundado da lide.
Há um outro fator, também, que
merece ser recordado, a fim de explicar
a situação atual desta problemática. Até
o início da década de 1990, o recurso de
agravo de instrumento não era
interposto, diretamente, no Tribunal, e,
além disso, era destituído de efeito
suspensivo. Para impedir que as
interlocutórias produzissem efeitos, as
partes lançavam mão do mandado de
segurança.
O mesmo movimento reformista
que alterou os arts. 273 e 461 alterou,
também, o recurso de agravo de
instrumento, que passou a ser interposto
no Tribunal e, além disso, a poder ter
efeito suspensivo.
Evidentemente, o número de
agravos de instrumento tramitando nos
Tribunais, a partir de então, ampliou-se
consideravelmente. Isso se deu não só
em razão da facilidade com que, por
meio deste recurso, se poderia obter
efeito suspensivo, mas também em razão
da ampliação dos poderes executivos
dos juízes, bem como da ampliação das
hipóteses em que se tornou possível a
realização de tais medidas com base em
decisões fundadas em cognição sumária.
Curiosamente, para muitos, a
obtenção desta decisão liminar tornou-
se o ápice da atividade jurisdicional. A
sentença, que viria a ser proferida
posteriormente, ficou relegada a
segundo plano.
Parece que estamos, neste instante,
em uma segunda “fase” da evolução das
reformas: pouco a pouco, começa a
permear a comunidade jurídica o
sentimento de que muitos dos objetivos
anteriormente pretendidos não foram
alcançados. Não se pode, porém, deixar
transformar essa frustração em cinismo,
para estudar e cobrir de glórias as
modificações ocorridas, sem, contudo,
atentar para os efeitos deletérios que
muitas delas acabam por gerar, se não
tiverem reflexo em um aparato judicial
eficiente. A tutela jurisdicional não se
realiza, apenas, na letra da lei
processual; mais que isso, a tutela
jurisdicional revela-se quando se
consegue obter a paz jurídica.
As reformas da Lei 11.187/2005
integram um esforço já desta segunda
“fase”: a primeira onda de reformas fez
que o número de decisões
interlocutórias – e agravos de
instrumento – se ampliasse
significativamente. Cuida-se, agora, de
reduzir a quantidade desses recursos e
vedar expressamente o uso de agravos
“internos” contra algumas decisões
monocráticas proferidas no âmbito dos
Tribunais. Certamente, a leitura da
norma não revela que o legislador agiu
com o desiderato de aprimorar a
qualidade da tutela jurisdicional.
O trabalho dos processualistas
Gilberto Gomes Bruschi e Antonio
Notariano Jr. não cai nesta armadilha
fácil, e tem o mérito de observar que,
muitas vezes, as reformas podem
conduzir a resultado indesejado, até
prejudicial à qualidade da tutela
jurisdicional, se preocupadas apenas
com a quantidade de trabalho da
máquina judiciária.
Estão de parabéns os autores e a
Editora pela realização de um trabalho
que auxiliará, em muito, o labor
daqueles que, cotidianamente, lidam
com o recurso de agravo.
Janeiro de 2006
José Miguel Garcia Medina
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
Parte 1
O agravo contra as decisões de
primeiro grau no CPC/1973

1. AGRAVO CONTRA AS
DECISÕES DE PRIMEIRO GRAU

2. O AGRAVO DE INSTRUMENTO
2.1. Procedimento
2.1.1. Interposição
2.1.1.1. Peças para a
formação do
instrumento
2.1.1.1.1. O
agravo
de
instrum
e as
peças
faculta
mas
essenc
2.1.1.2. O processo
judicial
eletrônico e a
necessidade de
formação do
instrumento
2.1.1.3. Preparo
2.2. Processamento nos tribunais
2.2.1. Distribuição do agravo
e providências do
relator
2.2.2. Resposta do agravado
2.2.3. Juízo de retratação
2.2.4. Julgamento do agravo

3. AGRAVO RETIDO COMO REGRA


NO CPC/1973
3.1. Interposição
3.2. Processamento e juízo de
retratação
3.3. As decisões proferidas em
audiência de instrução e
julgamento e o agravo retido
oral
3.3.1. Momento adequado
para a interposição,
resposta do agravado e
juízo de retratação
3.3.2. Algumas questões
polêmicas sobre o
agravo retido oral

4. O EFEITO SUSPENSIVO E A
TUTELA ANTECIPADA
RECURSAL
4.1. O efeito suspensivo e o agravo
de instrumento
4.2. O efeito ativo ou tutela
antecipada recursal

5. A REVISÃO DA DECISÃO
MONOCRÁTICA DO RELATOR
DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
COM BASE NOS INCISOS II E III
DO ART. 527 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL
5.1. O pedido de reconsideração.
5.2. A irrecorribilidade da decisão
do relator (incisos II e III do
art. 527)
5.3. Do cabimento do mandado de
segurança contra o ato judicial
5.3.1. A interpretação de
acordo com as Leis
1.533/51 e 12.016/09

6. CASOS EM QUE O AGRAVO


RETIDO SERIA INÓCUO
6.1. As decisões proferidas em
processo de execução
6.2. As decisões proferidas em
liquidação e cumprimento da
sentença
6.2.1. As decisões na
impugnação ao
cumprimento da
sentença
6.2.1.1. Atribuição ou
não do efeito
suspensivo
requerido pelo
executado.
6.2.1.2. Decisões
proferidas na
impugnação ao
cumprimento da
sentença e o §
3º do art. 475-
M
Parte 2
O agravo contra as decisões de
primeiro grau no CPC/2015
1. O REGIME DO AGRAVO NO
CPC/2015
1.1. O agravo de instrumento no
CPC/2015
1.1.1 Regularidade formal
1.1.2 Peças
1.1.3. Juízo de retratação
1.1.4. Providências no
tribunal
1.1.5. Prazo para o julgamento
1.2. A forma de impugnação das
decisões que não ensejam
agravo de instrumento no
CPC/2015 – críticas e
perspectivas
1.3. Taxatividade ou não do rol do
art. 1.015 do CPC/2015
1.3.1. Não taxatividade do rol
1.3.2. Taxatividade do rol
1.4. A nova sistemática do recurso
de agravo e a legislação
extravagante

2. O DIREITO INTERTEMPORAL E
O AGRAVO NO CPC/2015

BIBLIOGRAFIA

Anexos
Anexo 1 – Quadro comparativo do
Agravo no CPC/1973 com os
projetos do Novo CPC
Anexo 2 – Quadro comparativo do
Agravo no CPC/1973 com o
CPC/2015
Anexo 3 – O agravo de instrumento e o
agravo interno no CPC/2015
INTRODUÇÃO

Com o advento da Lei 11.187, de


19 de outubro de 2005, muitas questões
tormentosas passaram a ser visualizadas
pelos estudantes, advogados e
magistrados, gerando, portanto, diversas
dúvidas em todos os operadores do
direito.
As leis reformistas que vieram
posteriormente à chamada Lei do
Agravo também tiveram o condão de
alterar o regime do recurso contra as
decisões interlocutórias, como, por
exemplo, na liquidação de sentença, no
cumprimento e na impugnação ao
cumprimento da sentença, que foram
objeto da Lei 11.232, de 22 de
dezembro de 2005.
Na elaboração do presente
trabalho, procuraremos abordar, do
modo mais claro possível, o agravo
contra as decisões interlocutórias
proferidas em primeiro grau de
jurisdição, visando facilitar
sobremaneira a aplicação prática dessa
forma recursal.
A obra traz aos estudiosos do
direito processual civil todas as nuanças
do novo regime do agravo, não se
limitando apenas ao que foi modificado
pela Lei 11.187, de 2005.
Num primeiro momento
explicaremos passo a passo como deve
proceder o advogado, bem como o
magistrado, em cada uma das espécies
de agravo contra as decisões de
primeiro grau, ou seja, o agravo retido,
que passou a ser a regra geral, e o
agravo de instrumento, que se tornou
exceção após a entrada em vigor da Lei
11.187/2005, sendo permitida sua
interposição apenas em casos
específicos, que são abordados também
em capítulo próprio.
Em abordagem apartada da forma
de interposição do agravo retido escrito,
trataremos de todas as questões afetas
ao procedimento do agravo retido oral.
Com a mesma importância dos
demais itens por nós enfrentados, um
tema que trará muita discussão é o das
decisões que não estão expressamente
previstas como hipóteses de agravo na
forma instrumentada e cuja interposição
sob a forma retida é totalmente inócua,
obstando o andamento do processo, para
que ao final seja proferida a sentença.
Explicaremos também, de forma
direta e aprofundada, os efeitos em que
o agravo de instrumento pode ser
recebido, isto é, o efeito devolutivo,
inerente a todo e qualquer recurso, bem
como os efeitos suspensivo e ativo
(tutela antecipada do mérito do recurso),
que em determinadas hipóteses podem
ser concedidos, desde que requeridos
pelo recorrente.
Trataremos também do parágrafo
único do art. 527 do Código de
Processo Civil, que prevê como
irrecorrível a decisão proferida pelo
desembargador relator do agravo de
instrumento que: (i) o converte em
retido, por entender não ser a forma
instrumentada a adequada; ou (ii) defere
ou indefere o pedido de concessão dos
efeitos suspensivo ou ativo. Nessas
situações, apresentaremos conclusão
sobre a possibilidade de utilização de
uma forma autônoma de impugnação.
Após nos debruçarmos sobre todos
os pontos relevantes acerca do agravo
contra as decisões de primeiro grau
relacionadas ao Código de Processo
Civil de 1973 (com suas diversas
reformas processuais), passaremos a
abordar o novo Código de Processo
Civil.
Primeiramente nos preocuparemos
com a nova regra imposta para o Agravo
de Instrumento, suas novas hipóteses de
cabimento, forma de interposição e
regras específicas. Num segundo
momento, analisaremos, de forma
crítica, como ficará a impugnação das
decisões não sujeitas ao agravo na
modalidade instrumentada, visto que o
agravo retido será extinto.
Como não poderia deixar de ser, ao
final da obra, expressaremos nosso
ponto de vista sobre as questões de
direito intertemporal relativas ao agravo
contra as decisões de primeiro grau,
levando-se em conta as regras impostas
pelo novo Código de Processo Civil.
Parte 1
O AGRAVO CONTRA
AS DECISÕES DE
PRIMEIRO GRAU NO
CPC/1973
AGRAVO CONTRA
AS DECISÕES DE
PRIMEIRO GRAU
Decisão interlocutória é o
pronunciamento de caráter decisório,
que não tem por conteúdo a matéria dos
arts. 267 e 269 do CPC, portanto, não se
trata de sentença.
Essa decisão pode ter os mais
variados conteúdos, como, por exemplo,
a concessão ou não de liminar, o
acolhimento de alegação de vícios, o
deferimento ou indeferimento de
determinada prova etc.
As decisões interlocutórias
diferentemente do que ocorre com as
sentenças terminativas, apreciam
questões incidentes e não são capazes de
encerrar o procedimento em primeiro
grau de jurisdição, como já se disse.
Proferida a decisão interlocutória o
processo prosseguirá até que seja
decidido, com ou sem resolução de
mérito, mas ocorrerá preclusão com
relação a tais questões incidentes,
devendo em relação a eles ser interposto
recurso de agravo (retido ou por
instrumento), em razão da relevância
dos atos da espécie, sobretudo daqueles
que causam ou possam causar às partes
determinado gravame, não corrigível
depois, nem pela sentença definitiva,
nem por via recursal.
A palavra “atos”, constante do art.
1621, caput, do CPC, é genérica demais
e deveria ser substituída por
“pronunciamentos”, já que os atos
judiciais vão além das três categorias
constantes do art. 162 do CPC, pois se
trata de uma categoria mais ampla,
abrangendo também, por exemplo, a
inquirição de testemunha, a inspeção
judicial (arts. 440 a 443), o depoimento
pessoal (arts. 344 e 413) e o
interrogatório informal das partes (art.
342).
O que diferencia a decisão
interlocutória da sentença é o conteúdo
específico desta, isto é, sentença é
aquele pronunciamento do juiz que tiver
por conteúdo as matérias elencadas nos
arts. 267 ou 269 do CPC, e tem como
efeito principal o encerramento da fase
de conhecimento do processo em
primeiro grau de jurisdição.
A definição de que a sentença é o
ato judicial que põe fim ao processo era
defeituosa e, por isso foi alterada pela
Lei 11.232/05. Portanto, agora, não é o
fato de colocar fim ao processo que
caracteriza o pronunciamento como
sentença, mas sim seu conteúdo. Dessa
forma, em se tratando de um
pronunciamento de natureza decisória
que não tenha por conteúdo uma das
matérias próprias da sentença,
estaremos diante de uma decisão
interlocutória.
Com a Lei 11.232/05 surgiu um
problema que antes não existia, ou seja,
de que existem sentenças que não
ensejam o recurso de apelação, já que é
possível que sejam proferidas decisões
no curso do processo com conteúdo de
sentença, mas que desafiam o agravo de
instrumento, como por exemplo a
decisão que exclui um litisconsorte por
ilegitimidade passiva.2
Com a legislação em vigor, além
das decisões interlocutórias também
algumas sentenças são agraváveis.
Para conceituar decisão
interlocutória, basta que se exclua o
conceito de sentença de uma decisão
proferida e isso significa dizer que,
decisão interlocutória nada mais é do
que um pronunciamento do juiz que
resolve uma questão incidente que é
capaz ou não de obstar o bom andamento
do processo até que seja proferida a
sentença.
Podem ser proferidas decisões
interlocutórias em primeiro grau (em
qualquer tipo de processo, seja ele de
conhecimento, execução ou cautelar), em
segundo grau e até mesmo nos tribunais
superiores, sendo que se poderá
recorrer de tal decisão, utilizando a
parte interessada uma das espécies de
agravo previstas em lei.
Entretanto, existem determinadas
hipóteses em que o pronunciamento,
apesar de não decidir a lide em
definitivo, tem natureza jurídica de
sentença, mas, por motivos
procedimentais e em razão do momento
processual, acaba por desafiar o recurso
de agravo.
De acordo com o disposto no caput
do art. 522 do CPC, contra as decisões
interlocutórias proferidas em primeiro
grau de jurisdição caberá o recurso de
agravo.
Somente não terá cabimento o
agravo caso haja expressa vedação em
regra especial, como ocorre, por
exemplo, na hipótese de o apelante ter
deixado de recolher as custas de
preparo da apelação em razão de
alegação de justo impedimento, cujo
acolhimento pelo juiz relevará a pena de
deserção, fixando, por conseguinte,
prazo para que o recurso seja preparado
e, por expressa determinação legal, tal
decisão é irrecorrível (art. 519,
parágrafo único, do CPC).
Dessa forma, todas as decisões
proferidas pelo juiz no curso do
processo (conhecimento, execução e
cautelar), em qualquer tipo de
procedimento, resolvendo questões
incidentes sem, contudo, encerrar o
procedimento em primeiro grau de
jurisdição, são passíveis de serem
atacadas por meio do agravo.
No que tange aos agravos em
primeiro grau de jurisdição,3 a lei
estabelece dois regimes: instrumento ou
retenção.4
Antes da entrada em vigor da Lei
11.187/2005, a opção pelo regime cabia
exclusivamente ao agravante, com
exceção das hipóteses previstas no
revogado § 4º do art. 523 do CPC, em
que o regime da retenção se impunha
contra as decisões proferidas no curso
da audiência de instrução e julgamento e
posteriores à sentença, com exceção dos
casos de dano de difícil e de incerta
reparação, de inadmissão da apelação e
àqueles relativos aos efeitos de seu
recebimento.
Com o advento da aludida lei, que
deu nova redação ao art. 522 do CPC, a
realidade mudou. A escolha do regime
não fica ao alvedrio da parte, mas
decorre de expressa disposição legal.
De acordo com a redação dada
pela mencionada lei, a regra é a
interposição do agravo sob o regime da
retenção, restando a possibilidade de
utilização da modalidade instrumentada
quando houver decisão suscetível de
causar à parte lesão grave e de difícil
reparação, nos casos de inadmissão da
apelação, bem como naqueles relativos
aos efeitos de seu recebimento.
Destarte, naquelas hipóteses em
que, sob a égide da redação antiga,
ocorria a limitação do poder de escolha
da parte, o agravo de instrumento se
impõe, restando para todas as demais
situações o regime da retenção por
expressa determinação legal.
Analisaremos nos itens seguintes
cada uma das modalidades de agravo
com mais vagar e, posteriormente, as
hipóteses em que o agravo retido seria
inócuo,5 apesar da disposição do caput
do art. 522 do CPC.
__________
1 Tanto que o CPC/2015 substituiu a
expressão, conforme art. 203.
2 Para estudar o conceito de sentença dado
pela Lei 11.232/2005 e analisar as
questões oriundas da recorribilidade das
sentenças parciais, ver: Gilberto Gomes
Bruschi. Apelação civil – teoria geral,
procedimento e saneamento de vícios
pelo tribunal. São Paulo: Saraiva, 2012,
parte 1, capítulo 1, p. 21 a 46.
3 Além dos agravos contra as decisões de
primeiro grau, temos no CPC vigente,
outras modalidades de agravo. São eles: (a)
agravo contra a decisão do relator que nega
seguimento de recurso manifestamente
inadmissível, improcedente, prejudicado ou
em contrariedade com súmula ou
jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou
de Tribunal Superior (art. 557, § 1.º, do
CPC); (b) agravo contra decisão do relator
que dá provimento ao recurso se a decisão
estiver em manifesta contrariedade com
súmula ou com jurisprudência dominante
do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal
Superior (art. 557, § 1.º, do CPC); (c)
agravo contra decisão que indefere o
processamento dos embargos infringentes
pelo relator do acórdão embargado (art.
532 do CPC); (d) agravo de instrumento
interposto contra a decisão denegatória de
seguimento de recurso especial e/ou
recurso extraordinário – agravo nos
próprios autos (art. 544 do CPC); (e)
agravo interposto contra decisão do relator
que, no STF e no STJ, não admite o agravo
contra decisão denegatória de recurso
especial ou extraordinário; (f) agravo
contra decisão do relator que, ao julgar o
agravo nos próprios autos, dá provimento,
aos recursos extraordinário e especial, isto
se o acórdão recorrido estiver em
desacordo com a súmula ou jurisprudência
dominante do tribunal (art. 545 do CPC);
(g) agravo contra decisão do relator do
conflito de competência que o decide de
plano com base em jurisprudência
dominante do tribunal sobre a questão
suscitada (art. 120, parágrafo único, do
CPC).
4 As questões atinentes a cada um dos
regimes serão estudadas em Itens próprios.
5 V. Capítulo 6.
O AGRAVO DE
INSTRUMENTO
O agravo na modalidade
instrumentada, como o próprio nome já
diz, é aquele que dá ensejo à formação
de um instrumento que deve conter
todos os elementos necessários para que
seja possível ao tribunal ad quem, onde
o recurso é diretamente interposto,
verificar: (i) a presença dos
pressupostos intrínsecos e extrínsecos
de admissibilidade do recurso;1 e (ii) se
houve error in procedendo ou error in
judicando por parte do juiz a quo ao
proferir a decisão atacada.
O prazo para a interposição do
agravo de instrumento é de 10 (dez)
dias, contados da intimação da decisão
interlocutória. Não é demais lembrar
que, em se tratando de Fazenda Pública
e Ministério Público, o prazo é
computado em dobro (CPC, art. 188),2
assim como se houver litisconsortes com
procuradores diferentes no mesmo polo
da relação processual prejudicado pela
decisão interlocutória proferida, caso
em que incidirá a regra disposta no art.
191 do CPC, que contempla o prazo em
dobro para a interposição do recurso.3
Nos próximos itens analisaremos
todo o procedimento do agravo de
instrumento, bem como seus eventuais
desdobramentos.

2.1. PROCEDIMENTO
2.1.1. Interposição
A teor do disposto no art. 524,
caput, do CPC, o agravo de instrumento
deverá ser interposto em petição escrita
diretamente no tribunal competente,
sendo certo que a petição observará os
seguintes requisitos: (i) exposição do
fato e do direito; (ii) as razões do
pedido de reforma da decisão; e (iii) o
nome e o endereço completo dos
advogados constantes do processo.
Primeiramente se faz necessário
saber a consequência da falta de
cumprimento dos requisitos acima.
A falta de atendimento aos
requisitos do art. 524 do CPC enseja o
não conhecimento do recurso.4
É certo que a regularidade formal
encerra um dos pressupostos extrínsecos
de admissibilidade do recurso, sem o
qual não seria possível conhecê-lo.
Nada obstante, não podemos
conduzir a interpretação do dispositivo
às últimas consequências. Logicamente
que se a petição de agravo vier
desprovida de qualquer fundamento, sem
que o agravante demonstre, com amparo
na lei, as razões de seu inconformismo e
o equívoco cometido pelo juiz a quo,
deixando, ainda, de formular o pedido
de nova decisão, não restará outro
caminho senão o não conhecimento do
recurso. Diferente, em nosso sentir, é o
fato de a fundamentação exposta, bem
como o pedido formulado pelo
agravante, serem deficientes ou
incompletos, casos em que não há que se
falar em ausência de regularidade
formal.
No que diz respeito à indicação do
nome e do endereço completo dos
advogados constantes do processo
(CPC, art. 524, III), sua finalidade é
propiciar futuras intimações, seja por
via postal seja por meio do Diário
Oficial. Dessa forma, não se mostra
concebível deixar de conhecer do
recurso de agravo de instrumento
interposto caso não constem tais dados
da petição, mas seja possível colher tais
informações das peças que formam o
instrumento.5
Quanto à interposição propriamente
dita, como bem aponta Nelson Luiz
Pinto,6 “tratando-se de agravo de
instrumento contra decisão de primeiro
grau, sua interposição, dentro do prazo
acima [10 dias], será por petição escrita
dirigida e protocolada diretamente no
tribunal competente para o seu
conhecimento e julgamento (art. 524,
caput, do CPC), podendo também ser a
petição, dentro desse mesmo prazo,
postada no correio registrada com aviso
de recebimento ou, ainda, interposta de
outra forma prevista na lei local, como,
por exemplo, por telex ou fax e até
mesmo por e-mail, via Internet, se o
tribunal se encontrar aparelhado
(disposição do art. 525, § 2.º, do CPC)”.
Importante ressaltar que, para a
aferição da tempestividade do agravo
interposto pelo correio, o que se
considera é a efetiva data da postagem
e não a data do recebimento do recurso
na secretaria do tribunal.7
Nesse sentido é a lição de Barbosa
Moreira:8

“a tempestividade do agravo será


aferida à vista do recibo do
protocolo, do comprovante da
remessa postal ou do documento
indicado na norma de organização
judiciária. Se remetida a petição
pelo correio, a data que importa é, à
evidência, a do registro, não a do
recebimento no tribunal: a remessa
pode ser feita no último dia do
prazo e, ainda que o seja antes,
talvez não haja tempo suficiente
para a chegada dentro do decêndio,
ou ocorra demora anormal, causada
pelo mau funcionamento do
serviço, que de modo algum se
concebe que prejudique a parte”.

Pensar de forma diferente poderia


causar à parte enormes prejuízos, pois
transferiria para ela o ônus de fazer o
recurso chegar dentro do prazo na
secretaria do tribunal, sendo certo que
para se desincumbir dele sua vontade
em nada concorreria, pois, uma vez
postado o recurso, não haverá mais nada
que o agravante possa fazer. E mais,
imprimir tal interpretação faria,
inclusive, que tal meio de interposição,
que foi criado com o objetivo de
otimizar o procedimento, caísse em
desuso, ao passo que ainda que o
agravante não utilizasse o prazo em sua
totalidade (10 dias) correr-se-ia o risco
de o recurso ser intempestivo.
Precisamos analisar ainda a
questão da interposição do agravo em
tribunal diverso.
Segundo dispõe o § 2.º do art. 113
do CPC, na hipótese de ser reconhecida
a incompetência absoluta, os atos
decisórios serão nulos, devendo os
autos ser remetidos ao juízo competente.
Desta feita, caso o agravante se
equivoque, interpondo o recurso em
tribunal que não seja o competente para
o julgamento, seu recurso não poderá ser
desprezado, sendo, consequentemente, o
agravo encaminhado ao tribunal
competente.
Devidamente interposto o agravo
de instrumento, terá o agravante o prazo
de 3 (três) dias para comunicar tal fato
ao juízo a quo, fazendo-o por meio de
petição a ele dirigida e acompanhada de
cópia da petição recursal e relação das
peças juntadas.
Como bem esclarece Humberto
Theodoro Júnior,9 “essa diligência não
tem o objetivo de intimar a parte
contrária, porque sua cientificação será
promovida diretamente pelo tribunal
(art. 527, V). Sua função é apenas de
documentação e, também, serve como
meio de provocar o magistrado acerca
do juízo de retratação, que pode ocorrer
mesmo antes das informações a serem
prestadas ao relator (527, IV), tornando
o agravo prejudicado (art. 529)”.
A falta de observação desse
particular pelo agravante poderá
ocasionar o não conhecimento do
recurso, desde que o agravado, por
ocasião da contraminuta, argua e
comprove tal descumprimento (CPC, art.
526, parágrafo único).
Há que se ressaltar que o prazo
para arguição e comprovação do
descumprimento do parágrafo único do
art. 526 do CPC é preclusivo.10
Quanto à forma de comprovação do
não cumprimento pelo agravado, a mera
arguição desprovida de qualquer prova
não é capaz de ensejar a consequência
prevista pelo legislador, pois, como a
própria lei estabelece, tal fato deverá
ser provado. Dessa forma, deverá o
agravado juntar certidão extraída do
processo dando conta da não
comunicação.
Com total acerto, Fabiano
Carvalho11 entende que seria mais
conveniente que tal ônus – comunicação
da interposição – fosse carreado ao
agravante, pois:

“(i) a prova do fato constitutivo


(interposição do recurso) é mais
simples, visto que o agravante
dispõe de cópia da petição que
comunicou o juiz da causa acerca da
interposição do agravo de
instrumento; (ii) a prova do
desatendimento do art. 526, caput,
será feita por meio de documento.
No entanto, o agravado, a priori,
não detém qualquer documento que
certifique o descumprimento da
exigência. Ao contrário, o agravado,
possivelmente, não terá sequer
conhecimento da interposição do
agravo de instrumento; e (iii)
transferido esse ônus ao agravado,
terá ele ônus em obter certidão no
cartório, a qual terá a informação de
que o agravante não comunicou a
interposição do agravo perante o
tribunal, sobrecarregando, ainda
mais, os serventuários da justiça”.

2.1.1.1. Peças para a


formação do
instrumento
Em razão de o agravo pela
modalidade instrumentada ser
processado fora dos autos do processo
de onde emanou a decisão interlocutória
agravada, há a necessidade de se formar
o instrumento, ou seja, um conjunto com
todos os documentos necessários para
que o órgão ad quem possa realizar com
segurança o juízo de admissibilidade e
de mérito do recurso.
Em razão disso, os incisos I e II do
art. 525 do CPC estabelecem quais as
peças que deverão instruir a petição de
agravo, de modo a possibilitar a perfeita
cognição do tribunal.
O inciso I do aludido artigo faz
menção às seguintes peças obrigatórias:
(i) cópia da decisão agravada; (ii) cópia
da certidão da respectiva intimação; e
(iii) cópia das procurações outorgadas
aos advogados do agravante e do
agravado. Já o inciso II permite que o
agravante, facultativamente, instrua a
petição de agravo com as peças que
entender úteis.
Inicialmente se faz necessário
saber qual a razão de ser das peças
obrigatórias.
Conforme tivemos a oportunidade
de mencionar, o agravo, como qualquer
outro recurso, deve preencher os
requisitos de admissibilidade
intrínsecos e extrínsecos.
O relator do tribunal ad quem, em
razão de agravo sob a modalidade
instrumentada se processar fora dos
autos, somente poderá verificar o
cumprimento dos referidos requisitos se
tiver elementos para tanto; daí a
necessidade de formar o instrumento
com as peças indicadas pela lei.
A função da juntada de cópia da
decisão agravada se liga diretamente à
verificação do cabimento do recurso e
do interesse recursal. Como se sabe, de
acordo com o disposto no art. 504 do
CPC, os despachos são irrecorríveis,
tendo em vista a sua impossibilidade de
causar prejuízo às partes, eis que neles
não é emitido um juízo de valor; de
outra parte, as sentenças desafiam
recurso de apelação. É também a partir
da cópia da decisão agravada que se
verifica a existência de error in
procedendo e de error in judicando.
A cópia da certidão de intimação
da decisão agravada serve para aferir a
tempestividade do recurso, haja vista
que o início da contagem de prazo para
a interposição do recurso é o primeiro
dia útil subsequente ao da intimação da
decisão agravada.12
A juntada da cópia da procuração
tem como finalidade a verificação da
capacidade postulatória do agravante e
do agravado e, ainda, facilitar a ulterior
intimação do advogado do agravado
para a apresentação de resposta, tendo
em vista a indicação de seu endereço no
documento.
No que diz respeito às peças que
devem instruir o agravo, resta, ainda,
uma questão a ser enfrentada, qual seja a
necessidade ou não de as cópias serem
autenticadas.
Os dispositivos legais que regulam
o procedimento do agravo (CPC, arts.
522 a 529) não fazem qualquer menção à
necessidade de autenticação das cópias,
de tal sorte que não cabe a exigência.13
2.1.1.1.1. O agravo de
instrumento e
as peças
facultativas,
mas
essenciais
Um tema que merece ser examinado
é a possibilidade ou não de aplicação
do § 4º do art. 515, em sede de agravo
incompleto em relação ao traslado das
peças necessárias para o deslinde da
controvérsia, embora tidas pela lei
como facultativas (art. 525, II) para a
formação do instrumento.
Duas são as soluções existentes na
doutrina e na jurisprudência:
(i) o entendimento de que o
recurso deve ser conhecido,
por ser possível viabilizar ao
agravante a correção do vício,
devendo ser intimado para
complementar o traslado,
suprindo o vício; ou
(ii) a inadmissibilidade do agravo
de instrumento por defeito de
formação, nos termos do art.
557 do CPC, mercê da
ausência do traslado das
peças obrigatórias e das
necessárias ao perfeito
conhecimento do órgão ad
quem.
A. A interpretação do inciso II do
art. 525 do CPC
Devemos concordar que a redação
dada ao art. 525, II, do CPC
(“facultativamente, com outras peças
que o agravante entender úteis”), pode
realmente induzir em erro, como, aliás,
assevera Araken de Assis14:

“Facultativamente, aduz o art. 525,


II, o agravante anexará à petição de
agravo outras peças que entender
úteis. O advérbio é enganoso. Há
peças que, a despeito de não se
revelarem obrigatórias, mostram-se
essenciais à compreensão da
controvérsia equacionada no
provimento impugnado. Em
consequência, grava o recorrente o
ônus de aquilatar o requisito da
utilidade. (...) O relator negará
seguimento ao agravo de
instrumento desprovido das peças
facultativas, mas imprescindíveis
para o seu julgamento, a teor do art.
557, caput, ou o órgão fracionário
dele não conhecerá
oportunamente”.
Tal afirmação poderia gerar uma
indagação: Como penalizar o
recorrente com o não conhecimento do
agravo por formação deficiente do
instrumento, uma vez que pela
literalidade da lei somente as peças
previstas no art. 525, I, do CPC são
obrigatórias e as demais facultativas?
Para responder tal pergunta convém
elaborarmos dois exemplos.
Imaginemos um agravo de
instrumento interposto contra uma
decisão interlocutória que indeferiu o
pedido de antecipação dos efeitos da
tutela formulado pelo autor em razão de
não se verificar presente a prova
inequívoca dos fatos ou o perigo de
dano.
Indeferido o pedido pelo juiz, o
autor deverá formar o instrumento com
as peças obrigatórias e, para que o
relator tenha condições de analisar o
erro ou o acerto da decisão, as cópias
da documentação que fundamentou o
pedido de antecipação de tutela.
Em outro exemplo ocorre no caso
de um agravo de instrumento interposto
contra decisão interlocutória que
indefere pedido de denunciação da lide
com base no art. 70, III, do CPC
(obrigação de indenizar em ação de
regresso decorrente de lei ou do
contrato). Na hipótese, o relator não terá
a exata compreensão da controvérsia e,
consequentemente, condições de
analisar a correção da decisão
agravada, se o instrumento não for
formado com a cópia do contrato do
qual exsurge a obrigação de indenizar
em ação de regresso (além das peças
obrigatórias).

B. Posicionamento entendendo
pela inadmissibilidade do agravo por
defeito de formação
Um dos coautores da presente obra
teve a oportunidade de defender,
anteriormente, que o agravo não pode
ser conhecido em decorrência da falta
de traslado das peças necessárias à
perfeita compreensão da causa de pedir
do recurso, por não haver possibilidade
de intimação ao agravante para
viabilizar a complementação do
instrumento.15
Expliquemos o posicionamento
anterior.
Em virtude de o agravo pela
modalidade instrumentada ser
processado fora dos autos do processo
de onde emanou a decisão interlocutória
agravada, há a necessidade de se formar
o instrumento com toda a documentação
para que o órgão ad quem possa
realizar, com segurança, os juízos de
admissibilidade e de mérito do recurso.
O inciso I do art. 525 faz menção
às seguintes peças obrigatórias: cópia
da decisão agravada; cópia da certidão
da respectiva intimação; e cópia das
procurações outorgadas aos advogados
do agravante e do agravado.
Cumpre, nesse passo,
estabelecermos, de forma sucinta, qual a
razão por que se entende primordial a
juntada das peças obrigatórias.
O relator do tribunal ad quem
poderá verificar o cumprimento dos
requisitos de admissibilidade do agravo
somente se tiver elementos para tanto -
daí a necessidade de formar o
instrumento com as peças indicadas pela
lei.
A cópia da decisão agravada serve
para que se faça a verificação do
cabimento do recurso e do interesse
recursal, bem como da regularidade
formal - para saber se o recurso atacou
ou não a decisão recorrida.
A cópia da certidão de intimação
da decisão agravada serve para aferir a
tempestividade do recurso, pois o início
da contagem de prazo para a
interposição do recurso se dá no
primeiro dia útil subsequente ao da
intimação da decisão agravada.
A juntada da cópia da procuração
tem como finalidade a verificação da
capacidade postulatória do agravante e
do agravado e, ainda, para viabilizar a
intimação do advogado do agravado
para a apresentação de resposta.
Além das peças obrigatórias, o
inciso II do art. 525 torna possível a
juntada, por parte do agravante, de
outras peças que entender úteis e
necessárias, com a finalidade de
possibilitar ao julgador a plenitude do
conhecimento das questões que são
objeto do agravo.16
Por essa razão entendíamos que a
regular formação do instrumento era
ônus do agravante, para possibilitar ao
julgador conhecer o completo e exato
conteúdo da matéria decidida em
primeiro grau, não admitindo que haja
conversão do julgamento em diligência17
ou, ainda, emenda ao recurso
interposto.18 E assim sendo, o agravo
não poderia ser conhecido em virtude de
sua irregularidade formal se ocorrer
formação deficiente do instrumento pela
falta de peças obrigatórias e/ou peças
necessárias ao deslinde da
controvérsia.19-20
Entendia, predominantemente, o
Superior Tribunal de Justiça pelo não
conhecimento do agravo de instrumento,
pela falta de qualquer outra peça
necessária para que os julgadores
tenham a compreensão dos fatos, por
irregularidade formal, não se admitindo,
portanto, a incidência do art. 515, § 4º,
do CPC.21-22
C. Posicionamento entendendo
pela possibilidade de conversão do
julgamento em diligência para
viabilizar a juntada das peças
necessárias
Para aqueles que entendem que o
art. 525, II, do CPC apenas faculta ao
agravante instruir o recurso com outras
peças extraídas dos autos do processo
que considerar necessárias para a
convicção dos desembargadores, além
daquelas elencadas como obrigatórias,
não podendo ensejar o não recebimento
do recurso na hipótese de não serem
trasladadas, é perfeitamente possível a
conversão do julgamento em diligência
para que o agravante seja intimado para
providenciar a juntada das peças
necessárias que o tribunal entendeu
primordiais para a solução da matéria
objeto do julgamento do recurso.
Esta, aliás, a posição de Cândido
Rangel Dinamarco:

“Faltando alguma das peças


essenciais, o recurso estará mal
interposto e dele não conhecerá o
tribunal (falta o requisito da
regularidade formal, que é
pressuposto de admissibilidade de
qualquer recurso). Mas ao agravante
faculta-se incluir cópias de
quaisquer peças dos autos do
processo – o que ele fará,
naturalmente, mediante sua própria
avaliação da conveniência de trazer
cada uma delas com vista ao
sucesso do recurso. A falta de
alguma peça do processo, ainda que
não essencial, poderá até dificultar
o provimento do agravo, mas
dificilmente lhe obstará à
23
admissibilidade”.

Sidnei Amendoeira Junior,24


compartilha do entendimento de que tal
vício é perfeitamente sanável e
preleciona:
“As partes, então, além das peças
obrigatórias, juntam aos autos as
demais cópias que entenderem
úteis, as chamadas peças
facultativas, deixando de juntar
outras que considerem menos
importantes ou até irrelevantes.
Ocorre que, por vezes, os relatores
negam, liminarmente, seguimento
aos recursos de agravo interpostos
entendendo que o agravante deixou
de juntar peças que, apesar de não
obrigatórias, seriam essenciais ao
deslinde do feito, chamadas,
portanto, de peças ‘necessárias’.
Para tanto, não é incomum usar
como parâmetro o julgamento do
recurso especial relatado pelo
Ministro Gilson Dipp, de 2-12-
1999, em que se lê ser possível
negar seguimento a recurso em
razão da falta de peça que dificulte a
exta compreensão do litígio. Esse
entendimento, porém, obriga as
partes não só a adivinhar o que o
juiz relator irá entender como peça
necessária, mas também, para evitar
prejuízo, obriga as partes a tirar
cópia ‘capa a capa’ do processo para
a admissão desse recurso, o que
certamente não se coaduna com o
espírito da lei processual.
Aliás, mesmo que faltem peças
essenciais ao deslinde do recurso,
não constando do rol de peças
obrigatórias, deveriam os relatores,
em nosso sentir, ao entenderem a
necessidade da juntada de tais
peças, intimar o agravante para que
o faça em um prazo razoável, antes
de pura e simplesmente negar
liminarmente o seguimento do
recurso”.

Leonardo José Carneiro da Cunha25


é mais radical e defende a possibilidade
de sanação do defeito de formação do
instrumento até mesmo quando a peça
faltante for uma daquelas arroladas no
inciso I do art. 525 do CPC, ou seja, das
peças obrigatórias e, assim, fundamenta
sua opinião:
“Tal entendimento não deve mais
persistir diante do § 4º do art. 515
do CPC, que se aplica ao agravo de
instrumento. Ausente uma peça
obrigatória do agravo de
instrumento, deve o relator, em vez
de já lhe negar seguimento,
determinar a intimação do agravante
para que providencie o
complemento do traslado, fazendo
juntar aos autos do agravo a cópia
que faltava. Cumprida a diligência,
prossegue-se no julgamento do
agravo. Não cumprida, deve, então,
ser-lhe negado seguimento.
À evidência, a falta, no instrumento
do agravo, de alguma peça
obrigatória ou de qualquer outra
reputada essencial ou necessária à
compreensão da controvérsia não
deve gerar a imediata
inadmissibilidade do recurso,
devendo, bem ao revés, ser
convertido o julgamento em
diligência, com a determinação de
intimação do agravante para que
supra a falha, complementando o
recurso para trasladar a cópia
ausente”.26

D. O novo posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça
No âmbito do Superior Tribunal de
Justiça, houve alteração no
posicionamento, até então pacífico, que
entendia pela inadmissão do agravo por
ausência das peças essenciais.
No julgamento do Recurso
Especial repetitivo nº 1.102.467/RJ, em
maio de 2012, assim entendeu a Corte
Especial: “consolida-se a tese de que:
no agravo do artigo 522 do CPC,
entendendo o Julgador ausente peças
necessárias para a compreensão da
controvérsia, deverá ser indicado quais
são elas, para que o recorrente
complemente o instrumento”.27
O precedente é de suma
importância, já que foi capaz de retificar
o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, devendo ser destacado alguns
trechos do voto do relator, Ministro
Massami Uyeda:

“Uma interpretação lógico-


sistemática do Código de Processo
Civil e à luz dos princípios
formadores do Direito Processual,
em especial ao da instrumentalidade
das formas, revela que, na formação
do agravo de instrumento do artigo
522 do CPC, entendendo o Julgador
ausente peça necessária para a
compreensão da controvérsia,
dever-se-á indicá-las e intimar o
recorrente para junta-las aos autos.
O princípio constitucional da
inafastabilidade do controle
jurisdicional, além de garantir o
acesso à Justiça, implica também
no direito de obter do Poder
Judiciário a tutela jurisdicional
adequada.
Destarte, tendo o e. Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro
afetado os autos como
representativo da controvérsia (§ 1º
do art. 543-C do CPC), submete-se
à apreciação deste Colegiado a
consolidação, pelo procedimento
dos recursos repetitivos, da
seguinte tese: no agravo do artigo
522 do CPC, entendendo o Julgador
ausente peças necessárias para a
compreensão da controvérsia,
deverá ser indicado quais são elas,
para que o recorrente complemente
o instrumento.
Aplicando-se esse enunciado ao
caso concreto, verifica-se que o
acórdão recorrido diverge do
entendimento agora adotado por
esta Corte.
Assim, para fins do artigo 543-C do
CPC, consolida-se a tese de que, no
agravo do artigo 522 do CPC,
entendendo o Julgador ausente
peças necessárias para a
compreensão da controvérsia,
deverá ser indicado quais são elas,
para que o recorrente complemente
o instrumento. E, no caso concreto,
dá-se provimento ao recurso
especial, para afastar a multa
aplicada nos embargos de
declaração e determinar que o
Tribunal de origem indique quais
peças seriam necessárias para a
compreensão da controvérsia,
abrindo-se prazo para o recorrente
juntá-las aos autos”.

Na eventualidade do órgão ad
quem entender primordial a presença de
outras peças não carreadas ao agravo
deve determinar a conversão do
julgamento em diligência para que seja
providenciada a respectiva juntada, ou
ainda, aplicar o disposto no art. 515, §
4º, do CPC, determinando a intimação
do agravante para que possa
complementar o instrumento,28 mas “de
maneira alguma se justifica a pura e
simples negação de conhecimento ao
recurso”.29
Anteriormente defendíamos a
inadmissão ou o não conhecimento do
agravo de instrumento em razão da
ausência das peças essenciais, tal e qual
entendia de forma pacífica a Corte
Superior.
Contudo, em virtude da alteração
do posicionamento do Superior Tribunal
de Justiça, alteramos nosso
entendimento para aceitar a aplicação
do § 4º do art. 515 do CPC, fazendo
valer a instrumentalidade do processo.30

2.1.1.2. O processo judicial


eletrônico e a
necessidade de
formação do
instrumento
Conforme verificamos nos itens
precedentes, há a necessidade de
formação do instrumento de agravo, com
peças obrigatórias, essenciais e
facultativas.
Tais peças, como vimos, guardam
relação com o juízo de mérito e de
admissibilidade do agravo.
Pois bem. Uma questão que assume
importante relevo nesse momento de
virtualização dos processos, onde se deu
início a uma verdadeira cruzada pelo
extermínio dos autos de papel, é a
necessidade de instrução da petição de
agravo com cópias das peças
necessárias, ou seja, o chamado
instrumento.
Naqueles processos que se
iniciaram sob a égide do processo
judicial eletrônico, ou seja, trata-se de
processo digital, os autos do processo
estão armazenados no próprio servidor
do Tribunal.
O que se pretende afirmar é que
não há justificativa plausível para exigir
do Agravante que instrua o agravo
interposto com cópias das peças que já
se encontram armazenadas na própria
base dados do Tribunal.
Tal procedimento, sem qualquer
sombra de dúvidas, transgride o
princípio da economia processual em
todos os seus ângulos, seja porque torna
necessária a prática de ato processual
despiciendo, desperdiçando-se tempo e
dinheiro, seja porque acaba por ocupar
espaço virtual do Tribunal maior do que
o necessário, que, certamente, deve ter
um custo ao erário.
Sendo mantida a regra prevista no
art. 525 do CPC, a base de dados do
próprio servidor do Tribunal já conterá
as peças necessárias à formação do
agravo, bastando, portanto, fixar
parâmetros para transferi-las para o
instrumento formado eletronicamente.
Tratando-se de processo judicial
eletrônico as partes deveriam ser
dispensadas de formar qualquer
instrumento, desde já, eis que esse já se
encontra, e por completo, na própria
base de dados do Tribunal, até porque
tal previsão já se acha estabelecida no
Novo Código de Processo Civil, no art.
1.017, § 5º.
Para tanto, basta que os tribunais
pátrios baixem provimentos ou
resoluções estabelecendo tal
procedimento,31 como, aliás, fizeram
com outra regra prevista no CPC, o
porte de retorno dos autos, como se verá
no item a seguir.

2.1.1.3. Preparo
O preparo consiste, em linhas
gerais, no adiantamento pelo recorrente
das custas relacionadas aos serviços
forenses que serão prestados por
ocasião do processamento do recurso.
Trata-se de pressuposto de
admissibilidade extrínseco do recurso,
sem o que há a aplicação da pena de
deserção ao recorrente.
No direito brasileiro, a regra é a do
preparo imediato,32-33 ou seja, a
comprovação do recolhimento deve ser
feita no ato de interposição do recurso
(CPC, art. 511). É possível relevar a
pena de deserção, possibilitando,
consequentemente, que o recolhimento
seja feito a posteriori quando o juiz
acolher o justo impedimento alegado
pela parte (CPC, art. 519).
No que tange ao agravo de
instrumento, a Lei Federal deixou a
critério do legislador estadual a
instituição de preparo e porte de
retorno. Uma coisa é certa: havendo
previsão na legislação estadual acerca
da necessidade de recolhimento de
preparo e porte de retorno no agravo de
instrumento, a sua comprovação deverá
ocorrer no ato da interposição do
recurso (CPC, art. 525, § 1.º).
No Estado de São Paulo, a Lei
11.608, de 29 de dezembro de 2003,
estabelece no § 5.º do art. 4.º a
necessidade de recolhimento de custas
no agravo de instrumento no valor
equivalente a 10 (dez) UFESPs. E mais,
há a necessidade também de
recolhimento do porte de retorno, salvo
quando se tratar de processo totalmente
eletrônico.34-35
É de se registrar também que, na
eventualidade de o valor recolhido pelo
agravante ser considerado insuficiente, a
pena de deserção somente poderá ser
aplicada se ele deixar de recolher o
valor complementar no prazo de 5
(cinco) dias contados da intimação (art.
511, § 2.º, do CPC).
Por fim, estão dispensados do
recolhimento do preparo:36 o Ministério
Público, a União, os Estados, os
Municípios e as respectivas autarquias,
assim como aqueles que gozam de
isenção legal (v.g. pessoas beneficiárias
da assistência judiciária gratuita – art.
3.º da Lei 1.060/1950).

2.2. PROCESSAMENTO
NOS TRIBUNAIS
2.2.1. Distribuição do
agravo e providências
do relator
De acordo com o caput do art. 527
do CPC, o agravo de instrumento, ao ser
recebido pelo tribunal, será distribuído
incontinenti ao relator.
A mens legis é evitar que haja o
represamento de recursos. Destarte, uma
vez protocolado o recurso ou recebido
este na secretaria por via postal, a
distribuição a um relator ocorrerá como
ato imediato.37 Desta feita, distribuído o
agravo de instrumento, será
encaminhado ao relator no prazo de 48
(quarenta e oito) horas (CPC, art. 549).
Com tal providência busca-se a
agilização do procedimento do agravo,
que a teor da nova sistemática se impõe,
pois com a nova redação do art. 522 o
agravo na modalidade instrumentada
somente terá cabimento nas hipóteses de
decisão suscetível de causar à parte
lesão grave e de difícil reparação, sem
falar dos casos de inadmissão da
apelação, bem como naquelas relativas
aos efeitos de seu recebimento.
De outra parte, independentemente
de o art. 527 fazer menção à
necessidade de distribuição
incontinenti, tal regra se impõe a todo e
qualquer recurso, diante da inclusão do
inciso XV ao art. 93 da Constituição
Federal pela Emenda Constitucional 45,
que estabelece que “a distribuição de
processos será imediata, em todos os
graus de jurisdição”.
Passemos então às providências do
relator.
Recebendo o relator o agravo de
instrumento interposto, poderá ele
assumir as seguintes posturas:

a) negar-lhe seguimento,
liminarmente, nos casos do
art. 557 (CPC, art. 527, I);

A teor do art. 557 do CPC, o


relator poderá negar seguimento ao
recurso manifestamente inadmissível,
improcedente, prejudicado, ou em
confronto com súmula ou com
jurisprudência dominante do respectivo
tribunal, do Supremo Tribunal Federal,
ou de Tribunal Superior.
O agravo será inadmissível, por
exemplo, quando houver formação
deficiente do instrumento, quando tiver
sido interposto fora do prazo legal ou
contra despacho ordinatório (CPC, art.
504), ou seja, sempre que não estiverem
presentes os pressupostos de
admissibilidade do recurso.
Já o agravo manifestamente
improcedente é aquele interposto com a
formulação de pretensões contrárias ao
texto legal ou a interpretações
consagradas na jurisprudência, ou
contrárias às provas produzidas nos
autos.38
Por outro lado, estará prejudicado
o agravo toda vez que houver perda
superveniente de seu objeto, como por
exemplo, a retratação do juiz a quo.
Enfim, se a decisão objeto do
agravo interposto estiver “em confronto
com súmula ou com jurisprudência
dominante39 do respectivo tribunal, do
Supremo Tribunal Federal, ou de
Tribunal Superior”, o relator poderá
inadmitir o recurso ou julgá-lo
improcedente.
Segundo Cândido Rangel
Dinamarco,40 há casos em que a negativa
do recurso se dará por
inadmissibilidade, em razão do
confronto, v.g., “agravo interposto além
dos dez dias subsequentes à decisão
proferida pelo juiz de primeiro grau,
havendo a parte pedido reconsideração
e o juiz, negado. É pacífica a
jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que pedidos de
reconsideração não reabrem nem
dilatam prazos para recorrer”. Será,
porém, caso de negativa por
improvimento se a pretensão recursal
estiver em desacordo com a súmula ou
jurisprudência, v.g., “agravo sustentando
que os contratos de abertura de crédito
em conta-corrente sejam títulos
executivos, quando a jurisprudência
sumulada do Superior Tribunal de
Justiça é em sentido contrário (Súmula
233 do STJ)”.
De qualquer sorte, utilizando-se o
relator do disposto no art. 557, caput,
poderá o agravante interpor, no prazo de
5 (cinco) dias, o agravo previsto no §
1.º do mesmo artigo ao órgão
competente para o julgamento.
Interposto o referido agravo, o relator
poderá se retratar; caso isso não ocorra,
o recurso será levado à mesa.
Importante frisar que, sendo o
agravo manifestamente infundado ou
inadmissível, o tribunal aplicará ao
agravante uma multa entre 1% e 10% do
valor corrigido da causa, restando,
ainda, condicionada a interposição de
qualquer outro recurso ao depósito da
multa (CPC, art. 557, § 2.º).
Não é demais lembrar que, a teor
do disposto no art. 1.º-A da Lei 9.494,
de 10.09.1997, as pessoas jurídicas de
direito público federais, estaduais,
distritais e municipais estão dispensadas
de depósito prévio para interposição de
recurso. Com isso, a disposição contida
no § 2.º, parte final, do art. 557 não se
aplica a tais pessoas.

b) dar provimento
monocraticamente, nos
termos do art. 557, § 1.º-A.

O art. 557, § 1.º-A do CPC prevê:

“Se a decisão recorrida estiver em


manifesto confronto com a súmula
ou com a jurisprudência dominante
do Supremo Tribunal Federal, ou de
Tribunal Superior, o relator poderá
dar provimento ao recurso”.

Ao invés de enviar o recurso para


o órgão colegiado para colocá-lo em
mesa para julgamento, o relator pode
julgar desde logo o recurso. Como bem
asseveram NELSON NERY JUNIOR E
ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, “a
norma se aplica ao relator, de qualquer
tribunal e recurso”.41
Com relação ao agravo de
instrumento devemos esclarecer uma
regra específica que deve ser observada
para que a norma seja aplicada.42
Levando-se em conta que o
contraditório no agravo de instrumento
somente ocorrerá no Tribunal,43 após a
análise da admissibilidade por parte do
relator, não há que se falar em aplicação
do julgamento de mérito monocrático a
favor do agravante, sem antes abrir
prazo para a resposta do agravado.44
Este, aliás, é o posicionamento
pacificado no Superior Tribunal de
Justiça,45-46 que “já assentou o
entendimento de que é obrigatória a
intimação do agravado para apresentar
contrarrazões no caso de provimento do
Agravo de Instrumento (artigos 527, V, e
557, §1º-A, do Código de Processo
Civil)”.47-48

c) converter o agravo de
instrumento em agravo
retido, salvo quando se
tratar de decisão suscetível
de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação,
bem como nos casos de
inadmissão da apelação e nos
relativos aos efeitos em que
a apelação é recebida,
mandando remeter os autos
ao juiz da causa (CPC, art.
527, II);

d) atribuir, se for o caso, efeito


suspensivo ao recurso (art.
558), ou deferir, em
antecipação de tutela, total
ou parcialmente, a pretensão
recursal, comunicando ao
juiz sua decisão (CPC, art.
527, III);

e) requisitar, se entender
conveniente, informações ao
juiz da causa, que as
prestará no prazo de 10
(dez) dias (CPC, art. 527,
IV);

Conforme disposto, o relator


poderá requisitar informações para o
juiz a quo acerca do processo. Sobre tal
ponto, faz-se necessário explorar alguns
aspectos.
Primeiramente é preciso saber a
razão de ser de tal providência. A
finalidade de tais informações é
possibilitar que o relator possa exercer,
dentro dos limites impostos pelo
agravante, com plenitude o seu mister.
Em outras palavras, é perfeitamente
possível que, mesmo havendo a correta
formação do instrumento, o relator
precise esclarecer determinadas
situações que não lhe restaram claras,
até mesmo por tal razão que a requisição
de informações pelo relator encerra uma
faculdade e não uma obrigatoriedade.
De outra parte, o fato de a lei
deixar transparecer que o relator poderá
solicitar informações antes de colher a
resposta do agravado não encerra uma
ordem procedimental rígida, fazendo,
dessa forma, que o relator fique
impedido de solicitá-las após
efetivamente o agravado apresentar sua
resposta, e até mesmo de aplicar o
disposto nos incisos I, II e III do art. 527
do CPC.
Como se disse, a finalidade de tal
informação é munir o relator de
informação, dando-lhe todos os
esclarecimentos que entender
necessários para o desempenho de suas
atribuições: aplicação do art. 557,
atribuição de efeito suspensivo ou
antecipação da tutela recursal,
conversão do agravo de instrumento em
retido e possibilitar o próprio
julgamento.
Corrobora o pensamento supra a
lição de Barbosa Moreira, que assim
nos ensina:

“É concebível que o relator só


venha a perceber que necessita de
esclarecimentos depois da resposta
do agravado. Não há proibi-lo de
fazer nessa oportunidade a
requisição (ou de aditar a
porventura já feita): em princípio,
nenhum juiz há de ficar privado dos
meios de melhor esclarecer-se,
para melhor julgar. Entretanto, por
motivos óbvios, trata-se de
iniciativa que se deve reservar para
casos excepcionais. Incumbe ao
relator examinar com toda a
atenção, logo de início, as peças
que compõem o instrumento, para
formar seu juízo, tão rapidamente
quanto possível, a respeito da
necessidade ou desnecessidade da
requisição”.49

Ademais, por ocasião da


requisição de informações, dá-se
conhecimento ao juiz a quo acerca do
recurso interposto, possibilitando,
consequentemente, o exercício do juízo
de retratação, na hipótese, logicamente,
de o agravante não ter dado
cumprimento ao disposto no art. 526 do
CPC.

e) mandar intimar o agravado,


na mesma oportunidade, por
ofício dirigido ao seu
advogado, sob registro e com
aviso de recebimento, para
que responda no prazo de 10
(dez) dias (art. 525, § 2.º),
facultando-lhe juntar a
documentação que entender
conveniente, sendo que, nas
comarcas sede de tribunal e
naquelas em que o
expediente forense for
divulgado no diário oficial, a
intimação far-se-á mediante
publicação no órgão oficial;
f) mandar ouvir o Ministério
Público, se for o caso, para
que se pronuncie no prazo de
10 (dez) dias.

Antes de mais nada, cabe ressaltar


que a nova lei alterou a redação do
inciso VI do art. 527. De acordo com a
redação antiga, a determinação da oitiva
do Ministério Público ocorria após
serem ultimadas as providências
dispostas nos incisos I a V; com isso, em
razão das alterações ocorridas em
alguns dos incisos anteriores (II e V),
houve a necessidade de readequação da
redação.
Como bem apontaram Luiz
Rodrigues Wambier, Teresa Arruda
Alvim Wambier e José Miguel Garcia
Medina, comentando a última onda
reformista, a redação do referido inciso
não é unívoca, podendo gerar dúvidas.
Segundo eles, a redação dá a impressão
de que “se trataria de um outro ato,
bipartido: o relator mandará OUVIR o
Ministério Público, PARA QUE se
manifeste no prazo de 10 dias. Pode ter
o intérprete a impressão de que o
Ministério Público deve, em primeiro
lugar, manifestar-se quanto a ser o caso
de ser ouvido ou e, num segundo
momento, em 10 dias, exarar sua
manifestação”.50
Destarte, perdeu o legislador a
oportunidade de corrigir tal equívoco de
redação, de modo a deixar o dispositivo
imune de dúvidas.
De qualquer sorte, somente haverá
justificativa para a oitivado Ministério
Público naquelas causas em que sua
intervenção seja de rigor.

2.2.2. Resposta do agravado


Nos termos do inciso V do art. 527
do CPC, o agravado será intimado para
responder ao agravo interposto no prazo
de 10 (dez) dias, por meio de intimação
publicada no Diário Oficial nas
comarcas que forem sede do tribunal e
também naquelas em que os atos
processuais se tornem públicos pelo
mesmo meio; caso contrário, far-se-á a
intimação do advogado do agravado por
meio de ofício registrado e com aviso
de recepção.
No que se refere ao prazo para
resposta, seu dies a quo é o da juntada
aos autos do comprovante de recepção
(CPC, art. 241, I); já se a intimação
ocorrer por meio da imprensa oficial, o
prazo tem início no primeiro dia útil
subsequente ao de sua efetivação (CPC,
art. 184).
Ainda no que diz respeito ao prazo
para a resposta do agravo, devem ser
observadas todas as considerações
feitas por ocasião da interposição do
agravo. Devendo-se somente repisar
que, existindo litisconsórcio, caso a
intimação de um seja realizada por meio
da imprensa oficial e a do outro ocorra
por meio de ofício, o prazo terá início a
partir da juntada do comprovante da
intimação do último litisconsorte (CPC,
art. 241, III).
Quanto à interposição propriamente
dita, o inciso V do art. 527 remete
expressamente ao § 2.º do art. 525, de
tal forma que devem ser observadas as
mesmas regras dispostas para o
agravante na interposição (v.g.:
interposição por fax, correio, meio
eletrônico; forma de aferição do prazo
etc.).
A redação dada pela Lei
11.187/2005 trouxe substancial
alteração no que diz respeito às peças
com que o agravado pode instruir o
agravo. Na redação antiga, o agravado
poderia “juntar cópias das peças que
entender convenientes”. De acordo com
a nova redação, o agravado poderá
“juntar a documentação que entender
conveniente” (grifo nosso).
Na sistemática antiga não havia
expressa autorização para a juntada de
todos e quaisquer documentos por
ocasião da resposta; agora há, como
demonstraremos a seguir.
Segundo narrado na exposição de
motivos pelo relator, o então Deputado
José Eduardo Martins Cardozo, “a
modificação sugerida para o inciso V é
pertinente e materializa o princípio da
ampla defesa ao permitir que o
agravado, em sua defesa, não só junte
cópias das peças processuais
convenientes, mas toda e qualquer
documentação importante para a
efetivação do contraditório”.
De todo modo, a alteração
contempla situação que já ocorria na
prática, mas que ainda poderá gerar
alguns contratempos, caso não sejam
observadas algumas regras.
Primeiramente, não se deve aceitar
que se possa juntar sem qualquer
critério todo e qualquer documento,
como pretende fazer crer na exposição
de motivos.
Em nosso sentir, somente deve ser
admitida a juntada de documento novo
por ocasião da resposta do agravado,
quando se destinarem a fazer prova de
fatos deduzidos depois dos articulados
ou contrapô-los aos que foram
produzidos nos autos (CPC, art. 397), ou
quando forem documentos novos na
acepção utilizada na ação rescisória, ou
seja, “que a existência do documento
fosse ignorada pelo autor [agravado] ou
seu uso fosse impossível no processo
anterior [nos autos do processo onde foi
proferida a interlocutória atacada]”.51
De qualquer sorte, se houver a
juntada de documentos novos deve ser
dada à parte contrária ciência no prazo
de 5 (cinco) dias (CPC, art. 398),52
podendo, ainda, ser arguida sua
falsidade no prazo de 10 (dez) dias
(CPC, art. 390), sendo certo que em tal
situação o incidente se instaurará
perante o relator (CPC, art. 393,
primeira parte); tal incidente será
autuado em apenso aos autos do agravo,
com sua suspensão (CPC, art. 393,
segunda parte).
Diante do supra exposto, admitir
que se possa, sem qualquer critério,
juntar toda e qualquer documentação
pode ensejar a violação do dever de
lealdade e probidade processual, que
deve ser veementemente repelida,
bastando imaginar a situação em que em
determinada ação fosse indeferido
pedido de antecipação dos efeitos da
tutela, havendo agravo por parte do
autor: o agravado, por ocasião da
resposta, poderia juntar um número sem-
fim de documentos com uma única
finalidade, qual seja atravancar o
deslinde do recurso.

2.2.3. Juízo de retratação


De acordo com o art. 529 do CPC,
se o juiz comunicar o tribunal que
reformou inteiramente a decisão
(rectius, se retratou), o relator
considerará prejudicado o agravo.
O juiz, ao tomar conhecimento da
interposição do agravo de instrumento,
seja em razão do cumprimento do art.
526 do CPC, seja por ocasião da
requisição de informações por parte do
relator (CPC, art. 527, IV), poderá
exercer o juízo de retratação.
Segundo o magistério de Barbosa
Moreira, em razão de o texto legal não
especificar o momento para o exercício
do juízo de retratação, deve ser aplicado
por analogia o § 2.º do art. 523 do CPC.
Assim, tomando conhecimento do
agravo, o juiz “ouvirá o agravado
(eventualmente, o ministério público) e
decidirá nos 10 dias subsequentes à
conclusão dos autos”.53
Tal procedimento somente deve ser
adotado se, eventualmente, o juiz, ciente
da argumentação exposta pelo agravante,
tender a modificar a decisão, porém com
algumas observações.
Não nos parece a melhor
interpretação, sob a alegação de
respeito ao princípio do contraditório,
determinar que o agravado seja ouvido
em todas as circunstâncias.
Caso a cientificação do agravo seja
feita em razão do cumprimento do art.
526 do CPC, verificando o juiz eventual
desacerto da decisão, deve ele intimar a
parte contrária para que apresente cópia
da resposta apresentada ao tribunal
para, a partir de tais argumentações,
retratar-se ou não, mas não permitir que
ela sustente novamente, ou até mesmo
pela primeira vez, as razões do acerto
da decisão.
Admitir que o agravado possa
sustentar suas razões de manutenção da
decisão atacada pela primeira vez nos
parece configurar afronta ao princípio
da isonomia, pois, perante o tribunal, o
agravado deixou de sustentar o acerto da
decisão. Porém, por vislumbrar o juiz a
possibilidade de retratação, dará a ele
uma nova oportunidade, sendo certo que
o resultado prático da retratação será
exatamente o mesmo do desprovimento
do recurso que ele deixou de responder.
Por tal razão, se nos afigura mais
correto que o juiz, vislumbrando uma
possível retratação, oportunize ao
agravado a juntada da resposta
apresentada para o tribunal, e nada mais.
De qualquer sorte, ocorrendo a
retratação do juiz, a nova decisão, até
por questão de lógica, será irrevogável,
não dando espaço a uma terceira
decisão por parte do juiz que havia
proferido a decisão agravada e acabou
por retratar-se.54
Como se sabe, o pronunciamento
judicial por meio da qual o juiz se
retrata encerra uma decisão
interlocutória, em regra.55
Na sistemática anterior à vigência
da Lei 9.139/1995, o art. 527 dispunha,
em seu § 6.º,56 sobre a possibilidade de,
em caso de retratação, a parte contrária,
então prejudicada por tal medida,
requerer a análise de sua resposta como
se fossem efetivamente as razões do
agravo.
No atual estágio dos estudos sobre
o direito processual civil, com clara
intenção de tornar o processo mais
célere e objetivo, aproximando-o cada
vez mais do direito material, sem,
contudo, se distanciar dos postulados
mínimos de segurança jurídica, seria o
caso, de lege ferenda, de se incluir uma
disposição parecida à revogada,
propiciando ao agravado, em caso de
retratação, a possibilidade de se
manifestar em certo prazo, externando
seu desejo de ver a nova decisão
reformada com base na contraminuta,
agora substituída pelas razões do
agravo, comprovando no mesmo ato o
recolhimento do preparo e porte de
retorno, se for exigido, bem como
complementar o instrumento com as
peças que entender conveniente, haja
vista que as obrigatórias já foram
juntadas.

2.2.4. Julgamento do
agravo
Com relação ao julgamento do
agravo, o art. 528 do CPC prevê
expressamente que o relator, em prazo
não superior a 30 (trinta) dias, contados
da intimação do agravo, tendo ou não
sido apresentada resposta (contraminuta
de agravo), solicite a designação de data
para o seu julgamento.
Tal disposição não condiz com a
realidade, pois, além de ser
humanamente impossível agendar a
pauta de julgamento do agravo em
apenas 30 (trinta) dias, os prazos para a
resposta e manifestação do membro do
Ministério Público, para os casos em
que este necessita participar, ambos de
10 (dez) dias, tornam totalmente
inviável tal previsão.
Deve ser colacionada, nesse passo,
a opinião de Barbosa Moreira57 sobre
tal ideia inócua de celeridade:

“Não parece feliz a disposição. O


agravado tem 10 dias para
responder, prazo que sofre
duplicação na hipótese de
pluralidade de agravados com
diferentes procuradores (art. 191,
fine); se remetida a resposta pelo
correio, um ou mais dias passarão
até o recebimento no tribunal (a
fortiori, até a conclusão ao relator);
sendo necessária a audiência do
Ministério Público, há que
aguardar-lhe o pronunciamento,
para o qual se lhe concedem 10
dias. Depois de tudo isso, o relator
ainda necessitará de algum tempo
para estudar a matéria. Salta aos
olhos que, com frequência, se
tornará impossível levar a
julgamento o agravo dentro dos 30
dias. O prazo para o pedido de dia
só deveria começar a correr da
conclusão dos autos ao relator, uma
vez cumpridas todas as diligências
cabíveis. Por outro lado, não
precisaria ser tão longo:
normalmente, não são muito
complexas as questões suscitadas
em agravo, e 10 dias em regra
bastariam. É pena que a Lei nº
11.187 não haja aproveitado a
oportunidade para corrigir o
defeito: mexeu, aqui e ali, em
pontos que não precisavam de
conserto, e deixou de consertar
este, que o reclamava”.

Interessante notar que o


cumprimento do prazo disposto no art.
550 do CPC (que se refere à
necessidade de que os recursos
interpostos em causas sumárias sejam
julgados em até 40 dias, contados de sua
entrada no tribunal), pelas mesmas
razões expostas acima, também não será
possível, nada obstante a lei processual
nas duas oportunidades ter trabalhado de
forma imperativa.
O julgamento do agravo será feito
por três magistrados (CPC, art. 555),
sendo certo que, se for o caso, poderá
qualquer juiz que participou do
julgamento pretender que se faça a
uniformização de jurisprudência (CPC,
art. 476).
O julgamento do agravo de
instrumento sempre precederá ao da
apelação interposta no mesmo processo,
e por certo que se, eventualmente, os
dois recursos tiverem seu julgamento
designado para a mesma sessão, da
mesma forma o agravo terá preferência
(CPC, art. 559).
Não é demais lembrar que não se
admite a sustentação oral das razões do
recurso de agravo de instrumento (CPC,
art. 554).
__________
1 Os pressupostos intrínsecos dizem
respeito à existência do direito de recorrer
e são eles: cabimento, legitimação para
recorrer, interesse recursal e inexistência
de fato impeditivo ou modificativo do
direito de recorrer. Já os pressupostos
extrínsecos atinentes ao modo de exercer o
direito de recorrer são: tempestividade,
regularidade formal e preparo.
2 De acordo com o art. 10 da Lei 9.469, de
10.07.1997, o benefício do prazo em
dobro previsto no art. 188 do CPC também
se aplica às autarquias e fundações
públicas. De outra parte, tal benefício não
se aplica às empresas públicas: REsp.
429.087, STJ, 2ª T, rel. Min. Peçanha
Martins, j. 19.09.2004, v. u., DJU
25.10.2004, p. 274: “Processual civil.
Empresa pública. Prazo para recorrer. Art.
188 do CPC. Inaplicabilidade.
Jurisprudência iterativa. – A jurisprudência
desta Corte já pacificou o entendimento
quanto à impossibilidade de concessão de
prazo em dobro à empresa pública para
recorrer. – Inaplicável à espécie a regra
constante do artigo 188 do CPC. – Recurso
conhecido e provido”.
3 TJRS, Ag. 70021586532, 17ª Câm. Cível,
rel. Des. Ergio Roque Menine, j.
21.11.2007, DJ 27.11.2007: “AGRAVO
INTERNO. LOCAÇÃO. DESPEJO. Agravo
regimental. Conhecimento como agravo de
instrumento. Art. 557 do CPC.
Inconformidade contra a decisão
monocrática que não conheceu do agravo
de instrumento, por extemporâneo. Art.
191 do CPC. Demandados com
procuradores diferentes. Prazo dobrado
para recorrer. Tempestividade recursal.
Alteração da monocrática e consequente
conhecimento do agravo de instrumento.
Decisão de 1° grau agravada que indeferiu
pedido de compensação de aluguéis com
benfeitorias e de realização de prova oral.
Nos termos da Lei nº 11.187/2005, que
restringiu sensivelmente as hipóteses de
cabimento do recurso de agravo na forma
de instrumento, estas cingem-se agora aos
casos em que a decisão agravada for
suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, bem como aqueles que
versarem sobre os efeitos em que a
apelação é recebida, ou, finalmente, quando
esta for inadmitida. Não correspondendo,
no caso concreto, o decisum recorrido a
qualquer das previsões do novo regramento
legal, de modo a justificar o conhecimento
do instrumento manejado, prevalece a regra
geral atinente à forma retida do agravo.
Conheceram do recurso como agravo
interno, deram-lhe provimento para
conhecer do agravo de instrumento e, com
fulcro no art. 527, inc. II, do CPC,
converteram-no em agravo retido.
Unânime”.
4 José Horácio Cintra Gonçalves Pereira. In:
Antonio Carlos Marcato (Coord.). Código
de Processo Civil interpretado. 3ª ed.,
São Paulo: Atlas, 2008, p. 1.781.
5 RSTJ 110/327: “Dispensa-se a indicação
dos nomes e endereços dos advogados,
quando da interposição do agravo de
instrumento, se nas cópias das procurações
juntadas se pode claramente verificar tais
registros. Em se tratando de comarca na
qual a intimação se faz pela imprensa,
dispensável até mesmo o requisito do
endereço do advogado”.
6 Manual dos recursos cíveis. 3ª ed. 3ª tir.
São Paulo: Malheiros, 2004, p. 146 –
destaques no original.
7 STJ, REsp. 636.272, 1ª T., rel. Min. Luiz
Fux, j. 02.12.2004: “Processual civil.
Agravo de instrumento. Art. 525 do CPC.
Interposição mediante postagem no
correio. Tempestividade. 1. Interposto o
agravo de instrumento do art. 525 do CPC
mediante postagem no correio, a
tempestividade do mencionado recurso é
aferida pela data do registro da postagem, e
não pela data do recebimento no tribunal.
(...) 3. Precedente da Corte: REsp.
172.330/SP, 3.ª T., rel. Min. Antônio de
Pádua Ribeiro, DJ 13.08.2001. 4. Recurso
especial provido”.
8 Comentários ao Código de Processo
Civil. 17ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2013, v. V, n. 275, p. 506 e 507. É
interessante a construção feita pelo citado
autor, na qual se refere aos benefícios da
gratuidade e às despesas de postagem.
Segundo ele “o litigante que goza do
benefício da gratuidade indiscutivelmente
deve ser dispensado das despesas de
postagem, se optar por essa forma de
remessa – opção que não se lhe pode
recusar, sob pena de inferiorizá-lo em
relação aos que dispõem de meios.
Eventuais dificuldades burocráticas terão
de ceder à superior necessidade de
assegurar o exercício da franquia
constitucional (Carta da República, art. 5,
n. LXXIV, verbis ‘assistência integral e
gratuita’)”.
9 Curso de direito processual civil. 54ª
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, v. I, n.
553, p. 659.
10 REsp. 595.649/SC, STJ, 5.ª T., rel. Min.
Felix Fischer, j. 18.03.2004: “Processual
Civil. Recurso Especial. Agravo de
Instrumento. Artigo 526, parágrafo único,
CPC. Lei 10.352. Faculdade. Agravado.
Exercício. Prazo para resposta. Conclusão.
A faculdade concedida à parte no art. 526,
parágrafo único, do Código de Processo
Civil, deve ser exercida quando do
oferecimento da contraminuta ao agravo de
instrumento, sob pena de preclusão.
Recurso não conhecido”. No mesmo
sentido: REsp. 859.573/PR, STJ, 1ª T., rel.
Min. Luiz Fux, j. 16.10.2007, de onde
destacamos o seguinte trecho da ementa:
“Consectariamente, para que o Relator
adote as providências do parágrafo único
do art. 526 do CPC, qual seja, não
conhecer do recurso, resta imprescindível
que o agravado manifeste-se acerca do
descumprimento do comando disposto em
seu caput, porquanto a matéria não é
cognoscível de ofício. Precedentes do STJ:
RESP 773.070/SP, DJ de 29.05.2006;
RESP 794.666/SP, DJ de 27.03.2006;
RESP 577.655/RJ, DJ de 22.11.2004 e
RESP 328.018/RJ, DJ 29.11.2004”.
11 Os agravos e a reforma do Código de
Processo Civil. In: Hélio Rubens B.
Ribeiro Costa, José Horácio H. Resende
Ribeiro e Pedro da Silva Dinamarco
(Coord.). A nova etapa da reforma do
Código de Processo Civil. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 285 e 286.
12 O Superior Tribunal de Justiça
recentemente entendeu por mitigar esse
requisito, se por outro modo puder ser
aferida a tempestividade: REsp.
1.409.357/SC, 2ª seção, rel. Min. Sidnei
Beneti, j. 14.05.2014, DJe 22.05.2014:
“Direito processual civil. Agravo de
instrumento do art. 525, do CPC. Ausência
da certidão de intimação da decisão
agravada. Aferição da tempestividade por
outros meios. Possibilidade. Princípio da
instrumentalidade das formas. Recurso
especial repetitivo. Art. 543-C do código
de processo civil. Provimento do recurso
especial representativo de controvérsia.
Tese consolidada. 1.- Para os efeitos do art.
543-C do Código de Processo Civil, foi
fixada a seguinte tese: “A ausência da cópia
da certidão de intimação da decisão
agravada não é óbice ao conhecimento do
Agravo de Instrumento quando, por outros
meios inequívocos, for possível aferir a
tempestividade do recurso, em atendimento
ao princípio da instrumentalidade das
formas”. 2.- No caso concreto, por meio da
cópia da publicação efetivada no próprio
Diário da Justiça Eletrônico n. 1468 (e-STJ
fls. 22), é possível aferir-se o teor da
decisão agravada e a da data de sua
disponibilização – “sexta-feira,
31/8/2012”. Assim, conforme dispõe o
artigo 4º, § 3º, da Lei 11.419/2006, que
regra o processo eletrônico, a publicação
deve ser considerada no primeiro dia útil
seguinte que, no caso, seria segunda-feira,
dia 3/9/2012, o que demonstra a
tempestividade do agravo de instrumento
protocolado em 13/9/2012, como se vê do
carimbo de e-STJ fls. 2. 3.- Recurso
Especial provido: a) consolidando-se a tese
supra, no regime do art. 543-C do Código
de Processo Civil e da Resolução 08/2008
do Superior Tribunal de Justiça; b) no caso
concreto, dá-se provimento ao Recurso
Especial para determinar o retorno dos
autos à instância de origem para apreciação
do Agravo de Instrumento”. No mesmo
sentido está a Súmula 3 do TJPE: “É
dispensável a certidão de intimação da
decisão recorrida, quando evidente a
tempestividade do agravo de instrumento”.
13 No Estado de São Paulo, o art. 796, § 2º,
do Regimento Interno do Tribunal de
Justiça dispensa expressamente a
autenticação.
14 Manual dos recursos. 6ª ed. São Paulo:
RT, 2014, n. 51.1.2, p. 554 e 555.
15 Apelação civil – teoria geral ..., cit., p.
278 a 283.
16 Cf. Nelson Nery Junior. Teoria geral dos
recursos. 6ª ed. São Paulo: RT, 2004, p.
390.
17 TJMG, AgIn 1.0231.08.125019-4/002, 12ª
Câm. Cível, rel. Des. Saldanha da Fonseca,
j. 04.03.2009: “Agravo interno – Agravo de
instrumento – Decisão monocrática – Não
conhecimento do recurso – Ausência de
peça essencial. – O contrato de
arrendamento mercantil é peça essencial à
análise do pedido liminar de reintegração
de posse. A ausência de peça essencial à
compreensão da matéria impõe o não
conhecimento do agravo de instrumento,
ante a impossibilidade de conversão do
julgamento em diligência”.
18 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier. Os
agravos no CPC brasileiro. 4ª ed. São
Paulo: RT, 2006, n. 4.3.1, p. 280 e 281.
19 Theotonio Negrão e José Roberto Ferreira
Gouvêa. Código de Processo Civil e
legislação processual em vigor. 41ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2009, nota 6 ao art.
525, p. 725 e 726: “A Corte Especial do
STJ decidiu que, além das cópias
obrigatórias referidas no inc. I do art. 525,
‘a ausência da peça essencial ou relevante
para a compreensão da controvérsia
afeta a compreensão do agravo, impondo
seu não conhecimento’ (STJ – Corte
Especial, ED no REsp. 449.486, rel. Min.
Menezes Direito, j. 2.06.04, rejeitaram os
embs., cinco votos vencidos, DJU 6.09.04,
p. 155). ‘Na sistemática atual, cumpre à
parte o dever de apresentar as peças
obrigatórias e facultativas – de natureza
necessária, essencial ou útil –, quando da
formação do agravo para o seu perfeito
entendimento, sob pena de não
conhecimento do recurso’ (RSTJ 157/138;
no mesmo sentido: RT 736/304, 837/241,
JTJ 182/211). Ainda relativamente às
referidas peças, a que se refere o art. 525-
II do CPC, ‘não é possível que o relator
converta o julgamento em diligência para
facultar à parte a complementação do
instrumento, pois cabe a ela o dever de
fazê-lo no momento da interposição do
recurso’ (STJ – Corte Especial, ED no
REsp 509.394, rel. Min. Eliana Calmon, j.
18.8.04, negaram provimento, três votos
vencidos, DJU 4.4.05, p. 157)”. (grifos no
original)
20 Cf. Nelson Luiz Pinto. Manual..., cit., p.
147. No mesmo sentido: Araken de Assis,
Manual..., cit. n. 51.1.2., p. 551: “Atribuiu-
se ao agravante, no art. 525, o ônus de
formar o instrumento de modo a permitir a
exata compreensão da controvérsia e o
respectivo julgamento no tribunal. Traçam-
se rígidas diretrizes para atingir esse
escopo. Desapareceu a possibilidade de
converter o agravo em diligência,
apresentando-se insuficientemente
instruído, constante da redação originária
do art. 557, caput, segunda parte,
explicável no regime que incumbia o
escrivão da extração, da conferência e do
concerto (sic) do traslado e desconhecia os
meios contemporâneos de reprodução das
peças. Na disciplina em vigor, existem tão
só dois termos de alternativa: ou o agravo
se encontra cabalmente instruído e é
admissível; ou, ao invés, falta alguma peça
nos traslados e o recurso é inadmissível.
Não é dado ao agravante, outrossim,
corrigir eventual omissão após a
interposição do agravo de instrumento. Em
tal hipótese, ocorre preclusão consumativa;
ao relator, percebendo a deficiência, cabe
tirar a conclusão necessária: julgará
inadmissível o recurso (art. 557, caput)”.
21 Por decisão da Corte Especial: EREsp
449.486/PR, rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito, DJ 06.09.2004: “a
ausência de peça essencial ou relevante
para a compreensão da controvérsia afeta a
compreensão do agravo, impondo o seu não
conhecimento”; AgRg nos EREsp
114.678/SP, rel. Min. Fernando Gonçalves,
DJ 04.04.2005: “não cabendo a conversão
do processo em diligência, seja nas
instâncias ordinárias seja nesta Corte”. No
mesmo sentido, também da Corte Especial:
EREsp 471.930/SP, rel. Min. Francisco
Falcão, DJ 16.04.2007; AgRg nos EREsp
665.155/RJ, rel. Min. João Otávio de
Noronha, DJ 01.08.2006; EREsp
504.914/SC, rel. Min. Gilson Dipp, DJ
17.12.2004; EREsp 509.394/RS, rel. Min.
ElianaCalmon, DJ 04.04.2005.
22 Por decisão colegiada unânime: AgRg no
Ag. 1.031.834/RJ, 5ª T., rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, j. 21.08.2008, DJe
15.09.2008; REsp. 1.052.134/SP, 4ª T., rel.
Min. Fernando Gonçalves, j. 5.08.2008,
DJe 18.08.2008. Por decisão monocrática:
Ag. 1.153.060/RS, 3ª T., rel. Min. Sidnei
Beneti, j. 20.08.2009, DJe 28.08.2009; Ag.
1.100.349/PR, 4ª T., rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 13.05.2009, DJe 26.05.2009.
23 A reforma do Código de Processo Civil.
3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1996, n. 134-
G, p. 189.
24 Manual de direito processual civil. São
Paulo: Saraiva, 2012, v. 2, p. 115.
25 Leonardo José Carneiro da Cunha. Sanação
de defeitos processuais no âmbito recursal
(o § 4º do art. 515 do CPC). In: José
Miguel Garcia Medina, Luana Pedrosa de
Figueiredo Cruz, Luís Otávio Sequeira de
Cerqueira e Luiz Manoel Gomes Junior
(Coords.). Os poderes do juiz e o
controle das decisões judiciais –
estudos em homenagem à Professora
Teresa Arruda Alvim Wambier. São
Paulo: RT, 2008, p. 768.
26 Em sentido contrário: TJRS, Ag.
70019271493, 10ª Câm. Cível, rel. Des.
Paulo Roberto Lessa Franz, decisão
monocrática, j. 12.04.2007, de onde
destacamos: “Por fim, tratando-se de
agravo de instrumento, ressalto que não se
mostra possível aplicar o disposto no art.
13 e no art. 515, §4º, ambos do Código de
Processo Civil, não havendo como intimar
a parte para regularizar sua representação
processual”.
27 STJ, REsp. 1.102.467/RJ, Corte Especial,
rel. Min. Massami Uyeda, j. 02.05.2012,
DJe 29.08.2012, v.u..
28 Cassio Scarpinella Bueno. Curso
sistematizado de direito processual
civil. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, v. 5,
n. 3.2.2, p. 175, de onde destacamos: “À
falta de exigência legal para a sua juntada,
contudo – e o art. 525, II, está longe de
exigi-la –, melhor interpretação é aquela
que impõe ao órgão julgador do agravo de
instrumento, monocrático ou colegiado,
que permita ao agravante, antes do
julgamento, a juntada posterior das ‘peças
essenciais’, para que se aproveite,
otimizando-o, o ato processual recursal tal
qual praticado” (...) “Trata-se de diretriz
interpretativa que se afina ao § 4º do 515 e
que, por isto mesmo, não pode ser
desconsiderada quando do enfrentamento
da questão”.
29 Barbosa Moreira. Comentários..., n. 275,
p. 506. José Miguel Garcia Medina.
Código de Processo Civil Comentado.
São Paulo: RT, 2011, nota VII ao art. 525,
p. 575.
30 Assim como prevê o CPC/2015: “Art.
1.017. § 3º Na falta da cópia de qualquer
peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de
instrumento, deve o relator aplicar o
disposto no art. 932, parágrafo único”. – O
art. 932, parágrafo único, por sua vez prevê:
“Antes de considerar inadmissível o
recurso, o relator concederá o prazo de 5
(cinco) dias ao recorrente para que seja
sanado vício ou complementada a
documentação exigível”.
31 Como prevê a Resolução 17, de 26 de
março de 2010, do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região:
“Art. 43. Os agravos de instrumento em
relação a processos eletrônicos serão
interpostos pela parte agravante no sistema
de primeiro grau, por intermédio do link
apropriado, que os enviará
automaticamente ao Tribunal, onde serão
processados em autos apartados, com nova
numeração.
§ 1º. A parte agravante juntará apenas as
razões de agravo, devendo indicar
precisamente a decisão agravada,
preferentemente por referência ao evento
que a gerou, ficando dispensada a juntada
de quaisquer peças existentes no processo
principal.
§ 2º. A parte agravante deverá demonstrar
nas razões de agravo a tempestividade do
recurso mediante a indicação do evento que
gerou sua intimação.
§ 3º. O sistema deverá lançar
automaticamente um registro nos autos
originários para suprir o disposto no artigo
526 do Código de Processo Civil.
§ 4º. Excepcionalmente, no caso de o
agravante não ser parte do processo na
origem, o agravo deverá ser interposto
diretamente no sistema do Tribunal,
fazendo referência ao número do processo
de primeiro grau”.
32 Cf. Nelson Nery Junior, Teoria..., cit., p.
425.
33 Existe exceção prevista no art. 42, § 2.º, da
Lei 9.099/1995, que permite que o
recolhimento do preparo se dê até 48
(quarenta e oito) horas após a interposição
do recurso.
34 Em 21 de fevereiro de 2013, o Tribunal
de Justiça de São Paulo editou os
provimentos do Conselho Superior da
Magistratura estadual n. 2041/2013 e
2090/2013 (DJE 21/03/13 p. 2 e DJE
29/07/13 p.1), estabelecendo que não há
mais necessidade do pagamento do
porte de retorno se tanto o processo em
primeiro grau quanto o agravo de
instrumento forem digitais.
35 STJ, AgRg no Ag em REsp. 350.600/MG,
2ª T., rel. Min. Castro Meira, j. 17.09.2013,
DJe 2.10.2013: “PROCESSUAL CIVIL.
GUIA DO PORTE DE REMESSA E
RETORNO. ISENÇÃO. EXCLUSIVA PARA
PROCESSOS ELETRÔNICOS. PREPARO
NÃO COMPROVADO. RECURSO
DESERTO. INCIDÊNCIA DO
ENUNCIADO N. 187/STJ. 1. Nos termos
da Súmula 187/STJ, ‘é deserto o recurso
interposto para o Superior Tribunal de
Justiça quando o recorrente não recolhe, na
origem, a importância das despesas de
remessa e retorno dos autos’. 2. A isenção
do pagamento do porte de remessa e
retorno dos autos, prevista em norma
interna do STJ, aplica-se a processos que já
se encontrem digitalizados no momento da
interposição do recurso especial. 3. Agravo
regimental não provido”.
36 Embora a redação da lei não diga
expressamente, há julgado do STF
entendendo que a dispensa também se
estende ao porte de remessa e retorno:
“Recurso extraordinário: preparo: isenção
do art. 511 CPrCiv: validade, cuidando-se
de recurso da competência de órgão da
Justiça da União: compreensão no âmbito
da isenção das despesas de porte de
remessa e retorno dos autos” (STF – Pleno,
Ag 351.360-5/PA, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, j. 25.04.2002, deram
provimento, v.u., DJU 07.06.2002, p. 82).
37 Cf. Humberto Theodoro Júnior. Curso...,
cit., n. 553, p. 660.
38 Cf. Cândido Rangel Dinamarco. A reforma
da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002,
p. 186.
39 Para Dinamarco, “é indeterminado o
conceito de jurisprudência dominante e,
para aplicá-lo adequadamente, os relatores
e os tribunais devem ter consciência de que
inexiste critério quantitativo que seja
suficiente para sua especificação. Nem há
qualquer critério objetivo que se possa
aplicar sempre. Aproximadamente, tem-se
como jurisprudência dominante em dado
tribunal uma linha de julgamentos
significativamente majoritária em seus
órgãos fracionários, ainda que não pacífica;
a existência de decisões contraditórias, ou
de votos vencidos, não retira a essas linhas
vitoriosas a condição de jurisprudência
dominante, embora deva ser levada em
conta para a verificação sobre a realidade
de prevalência da jurisprudência em sentido
contrário” (A reforma..., cit., p. 187).
40 A reforma..., cit., p. 188.
41 Código de Processo Civil comentado e
legislação extravagante. 9ª ed. São Paulo:
RT, 2006, nota 11 ao art. 557, p. 816, onde
ainda prelecionam: “Esse poder é faculdade
conferida ao relator, que pode, entretanto,
deixar de dar provimento ao recurso,
colocando-o em mesa para julgamento pelo
órgão colegiado. A norma autoriza o
relator, enquanto juiz preparador do
recurso, a julgá-lo inclusive pelo mérito,
em decisão singular, monocrática, sujeita a
agravo interno para o órgão colegiado
(CPC 557 § 1º)”.
42 Significa dizer que não deve ser aplicada a
norma do art. 557, § 1º-A, do CPC,
inaudita altera parte.
43 Nos demais recursos, o contraditório
ocorre antes da análise do relator, não
havendo, portanto, violação ao princípio
constitucional do contraditório e da ampla
defesa caso seja proferido o julgamento de
forma monocrática com decisão de
provimento do recurso.
44 Cf. Sérgio Shimura, Anselmo Prieto
Alvarez e Nelson Finotti Silva. Curso de
direito processual civil. 3ª ed., São
Paulo: Método, 2013, p. 334; Pedro
Miranda de Oliveira. Agravo interno e
agravo regimental. São Paulo: RT, 2009,
n. 2.7.1, p. 87 a 90; e José Carlos Barbosa
Moreira. Comentários..., cit., n. 280, p.
513.
45 STJ, REsp. 1.148.296/SP, Corte Especial,
rel. Min. Luiz Fux, j. 01.09.2010, DJe
28.09.2010: “A dispensa do referido ato
processual ocorre tão somente quando o
relator nega seguimento ao agravo (art.
527, I), uma vez que essa decisão beneficia
o agravado, razão pela qual conclui-se que a
intimação para a apresentação de
contrarrazões é condição de validade da
decisão que causa prejuízo ao recorrente”.
46 STJ, EREsp 1.038.844/PR, Primeira
Seção, rel. Min. Teori Albino Zavascki, j.
8.10.2008, DJe 20.10.2008:
“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. DECISÃO DO
RELATOR. ART. 557, § 1º-A, DO CPC.
AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA PARTE
AGRAVADA PARA RESPOSTA.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO. 1. A intimação do
recorrido para apresentar contrarrazões é o
procedimento natural de preservação do
princípio do contraditório, previsto em
qualquer recurso, inclusive no de agravo de
instrumento (CPC, art. 527, V). Justifica-
se a sua dispensa quando o relator nega
seguimento ao agravo (art. 527, I), já que a
decisão vem em benefício do agravado.
Todavia, a intimação para a resposta é
condição de validade da decisão
monocrática que vem em prejuízo do
agravado, ou seja, quando o relator acolhe o
recurso, dando-lhe provimento (art. 557, §
1º-A). Nem a urgência justifica a sua falta:
para situações urgentes há meios
específicos e mais apropriados, de ‘atribuir
efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou
deferir, em antecipação da tutela, total ou
parcialmente, a pretensão recursal’ (CPC,
art. 525, III). 2. Embargos de divergência a
que se nega provimento”.
47 STJ, AgRg no Ag 1.190.187/SP, 3ª T., rel.
Min. SidneiBeneti, j. 19.06.2012, DJe
28.06.2012.
48 STJ, REsp 1.038.844/PR, 2ª T., rel. Min.
Eliana Calmon, j. 13.05.2008, DJ,
26.05.2008. “Recurso Especial. Acórdão
em agravo de instrumento. Provimento
liminar. Ausência de intimação da parte
agravada para contra-arrazoar o recurso.
Obrigatoriedade. Art. 527, V, do CPC.
Princípio do contraditório. Nulidade do
acórdão. 1. Recurso especial contra
acórdão que não reconheceu a nulidade da
decisão monocrática pela ausência de
intimação do agravado para oferecer
resposta ao agravo de instrumento
interposto. 2. ‘Nos termos do art. 527,
inciso V, do Código de Processo Civil,
com a redação atribuída pela Lei n.
10.352/2001, a intimação do agravado para
responder ao recurso é indispensável,
sendo que, a ausência do ato nulifica o
julgamento, em razão da quebra dos
princípios do contraditório e do devido
processo legal. Precedentes do STJ. 3.
Recurso especial que se dá provimento
para anular o acórdão recorrido
determinando o cumprimento do princípio
do contraditório e proferido novo
julgamento”.
49 Comentários..., cit., n. 278, p. 512.
50 Breves comentários à nova sistemática
processual civil. 3ª ed. São Paulo: RT,
2005, p. 307.
51 Cf. João Batista Lopes. A prova no direito
processual civil. 2ª ed. São Paulo: RT,
2002, p. 91.
52 Cf. Barbosa Moreira, Comentários... cit.,
n. 279, p. 513.
53 Comentários..., cit., n. 281, p. 514.
54 Cf. Barbosa Moreira. Comentários..., cit.,
n. 281, p. 515.
55 Falamos que encerra uma decisão
interlocutória em regra, pois em algumas
situações a retratação pode dar ensejo à
prolação de sentença, v.g., retratação com
reconhecimento de prescrição, decadência,
ocorrência de coisa julgada etc.
56 § 6.º “Não se conformando o agravado com
a nova decisão [retratação], poderá
requerer, dentro de cinco (5) dias, a
remessa do instrumento ao tribunal,
consignando em cartório, a importância do
preparo feito pela parte contrária, para ser
levantado por esta, se o tribunal negar
provimento ao recurso”.
57 Comentários..., cit., n. 280, p. 513 e 514.
AGRAVO RETIDO
COMO REGRA NO
CPC/1973
Com o advento da Lei
11.187/2005, a opção pelo regime do
agravo, que antes era do agravante,
salvo naquelas hipóteses em que o
regime decorria da lei,1 não mais existe.
De acordo com a nova disciplina,
não há mais possibilidade de escolha do
regime pelo agravante, ou seja, a regra
que se impõe é o regime retido.
Destarte, foi revogado o § 4.º do
art. 523 do CPC, reproduzindo-se a
ideia de sua parte final no caput do art.
522, autorizando, assim, naqueles casos
a interposição do agravo pela
modalidade instrumentada.
Como forma de estabelecer uma
ordem lógica nesta exposição, optamos
por dividir o estudo do agravo retido em
partes. Dessa forma, nos itens
subsequentes, abordaremos o agravo
retido interposto de forma escrita e,
posteriormente, o agravo retido oral.
No item final, trataremos da forma
de impugnação das decisões que não
ensejam o agravo de instrumento no
Novo Código de Processo Civil, que
acabou por extinguir a figura do agravo
retido.

3.1. Interposição
Diferentemente do que ocorre com
o agravo de instrumento, no agravo
retido não há necessidade de formação
do instrumento, eis que tal modalidade
de agravo não é interposta diretamente
no tribunal, mas sim perante o próprio
juiz da causa.
O objetivo e, consequentemente, o
efeito imediato do agravo, sob tal
modalidade, está exatamente em evitar
que sobre as matérias versadas nas
decisões interlocutórias atacadas incida
a preclusão.2
Como sabemos, o processo é
permeado de preclusões, como forma de
propiciar que ele chegue ao seu
desiderato final – a composição da lide
– sem repetições inoportunas e
observando uma sequência lógica de
atos.
Daí, com exceção daquelas
matérias sobre as quais não incide o
fenômeno da preclusão (v.g. matérias de
ordem pública), se faz necessário, para
evitar que ela ocorra, que ao ser
proferida determinada interlocutória
pelo juiz, seja interposto, pela parte
prejudicada, o recurso de agravo, sob
pena de não mais se poder discutir a
matéria versada na decisão.
Ocorre que a matéria versada na
decisão interlocutória, em determinadas
circunstâncias, não precisa ser de plano
submetida à apreciação do tribunal,
podendo, portanto, a parte que se
entender prejudicada aguardar a efetiva
prolação da sentença, ocasião em que
sopesará a conveniência e a
oportunidade de reanalisar a decisão
impugnada.
De tal sorte, o agravo retido deverá
ser interposto pela parte prejudicada
pela decisão interlocutória por petição
escrita dirigida ao juiz que proferiu a
decisão, no prazo de 10 (dez) dias,
contendo os seguintes requisitos: (i)
exposição do fato e do direito e (ii) as
razões do pedido de reforma da decisão.
Por expressa determinação legal, o
agravo na modalidade retida não
necessita ser preparado (CPC, art. 522,
parágrafo único).

3.2. Processamento e juízo


de retratação
Devidamente interposto o agravo
retido, o juiz intimará a parte contrária
para que apresente sua resposta no prazo
de 10 (dez) dias, após o que poderá
exercer o juízo de retratação.
Antes de mais nada, é preciso
saber qual o limite final para que o juiz
possa exercer a retratação.
Aderimos à posição defendida por
Teresa Arruda Alvim Wambier,3 para
quem:

“o juiz, de fato, em nosso entender,


pode ser atingido pela preclusão
seja lógica, seja consumativa. É
intuitivo que a possibilidade de o
juiz se retratar não pode ficar em
aberto indefinidamente. Assim, a
solução que, em nosso sentir, deve
ser dada a esse impasse é a de que o
juiz não mais poderá retratar-se se
tiver praticado atos no processo,
quaisquer que sejam eles: não
necessariamente incompatíveis
com a vontade de se retratar, mas
quaisquer que sejam estes atos,
pois, em nosso entender, praticar
atos em si mesmo é incompatível
com a vontade de se retratar, no que
tange a agravo retido interposto
anteriormente. Trata-se de uma
consequência decorrente da
exigência de que os processos
caminhem para a frente (processo =
movimento para frente) e de que às
partes seja garantida alguma
segurança e previsibilidade”.

De outra parte, o agravo retido


somente será analisado se o agravante
formular requerimento preliminar em tal
sentido na apelação, ou na resposta ao
recurso de apelação (CPC, art. 523,
caput e § 1.º).
Na hipótese de o agravante não
requerer expressamente que o tribunal
conheça do agravo, tal recurso não será
conhecido. Com isso, a reiteração por
ocasião da apelação ou das
contrarrazões, por parte do agravante,
encerra um requisito de admissibilidade
do agravo retido.4
Ainda no que diz respeito à
reiteração, esclarecemos que o agravo
retido deve ser reiterado no momento
oportuno – apelação ou contrarrazões de
apelação contra a sentença proferida no
processo de conhecimento – não pode
ser reiterado por ocasião do agravo de
instrumento contra a sentença proferida
na fase posterior, ou seja, a da
liquidação de sentença.
A mesma situação se aplica na ação
de exigir contas (CPC, arts. 914 a 919),
naquelas hipóteses em que há o
desdobramento em duas fases:
reconhecimento da obrigação de prestar
contas e prestação efetiva de contas.
Eventuais decisões interlocutórias
proferidas na primeira fase, que foram
objeto de agravo retido, para que sejam
analisadas pelo tribunal, deverão ser
objeto de reiteração na apelação ou
contrarrazões apresentadas em face da
sentença na primeira fase. Caso esta
ocorra somente por ocasião do recurso
interposto na segunda fase, não haverá
como conceber que tal agravo seja
conhecido.
Embora a lei exija a reiteração do
agravo retido, há situações em que tal
exigência legal não pode ser atendida.
Exatamente pela falta do veículo de
reiteração, basta pensar naquelas
decisões interlocutórias proferidas após
a sentença que não se encaixem nas
hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento.
De toda sorte, o agravo retido
somente será analisado quanto ao seu
juízo de admissibilidade e de mérito se
a apelação for conhecida,5 da mesma
forma que ocorre com o recurso
adesivo, ou seja, a análise de sua
admissibilidade está condicionada ao
conhecimento do recurso principal –
apelação.
Destarte, não conhecida a
apelação, não será apreciado o agravo
retido. Porém, sendo ela conhecida, o
tribunal passará à análise da
admissibilidade e do mérito do agravo
retido, para depois, dependendo do
resultado do julgamento do agravo
retido, analisar o mérito da apelação,
pois este pode ser prejudicial àquela.

3.3. As decisões proferidas


em audiência de
instrução e julgamento
e o agravo retido oral6
A teor do disposto no § 3.º do art.
523 do CPC, as decisões interlocutórias
proferidas em audiência de instrução e
julgamento desafiarão agravo retido a
ser interposto na forma oral.
Sob a égide da redação anterior à
Lei 11.187/2005, a interposição do
agravo retido na forma oral ficava a
critério do agravante, ou seja, tratando-
se de decisão interlocutória proferida
em audiência: (i) o regime do agravo –
de instrumento ou retido – ficava ao
alvitre da parte, salvo nas hipóteses do
revogado § 4.º; e (ii) sendo o agravo
retido, a interposição de forma escrita
ou oral era também critério exclusivo da
parte.
Interessante notar que, ao contrário
da redação anterior, a alteração
legislativa tornou o agravo retido, a ser
interposto oralmente, não uma
faculdade, mas um dever da parte. Nada
obstante, reduziu seu espectro de
abrangência.
Melhor dizendo, a redação anterior
trabalhava com a modalidade – agravo
retido oral – sob a forma facultativa, em
decisões proferidas em qualquer
audiência (v.g. audiência de conciliação
do rito sumário [art. 277], audiência de
conciliação [art. 125, IV], audiência
preliminar [art. 331], audiência das
partes no processo de execução [art.
599, I], audiência de justificação no
processo cautelar [arts. 804, 815, 824,
841, 848] prévia audiência dos
representantes judiciais das pessoas de
direito público nas ações possessórias
[art. 928, parágrafo único], audiência de
justificação prévia na ação de nunciação
de obra nova [art. 937] etc.). Agora a
novel redação em vez de trabalhar com
o gênero audiência, se utilizou de uma
espécie, qual seja a audiência de
instrução e julgamento, tornando a
interposição sob a forma oral
obrigatória.
De outra parte, além da
modificação da redação do § 3º do art.
523 do CPC, exprimindo que o agravo
retido oral é obrigatório nas audiências
de instrução e julgamento, sem fazer
qualquer menção às outras espécies de
audiência, a nova redação faz surgir uma
indagação: as decisões interlocutórias
proferidas em qualquer outra audiência
que não seja de instrução e julgamento
não poderão ser objeto de agravo retido
oral?
Uma leitura mais rápida, sem
qualquer preocupação com as formas de
interpretação que devem nortear as leis
reformistas, poderia fazer crer que tal
forma de interposição, ou seja, a oral,
limitar-se-ia somente a tais hipóteses,
não sendo possível em qualquer outra
situação.
Contudo, é preciso lembrar as
palavras de Sidnei Agostinho Beneti7
acerca da interpretação das leis de
simplificação do CPC.
Diz ele que “a interpretação das
Leis de Simplificação Processual não
pode deixar de levar em conta que essas
leis vieram para a simplificação e
agilização do procedimento, com que se
garante o acesso efetivo à Justiça, de
modo que, sempre que necessária a
interpretação de ponto aparentemente
duvidoso nessas leis, é preciso não
esquecer que vieram elas para
simplificar e agilizar, não para
complicar e procrastinar”.
É notório que a interposição de
agravo, de forma oral e na própria
audiência, faz com que haja otimização
do procedimento. Com isso, nos parece
perfeitamente possível a interposição de
agravo retido oral de decisões
interlocutórias proferidas nas outras
audiências. Porém, em tais situações,
ante o silêncio do legislador, a
interposição sob a forma oral será
facultativa.8-9
Para que seja possível analisar os
desdobramentos da regra prevista no §
3º do art. 523 do CPC faz-se necessária
uma rápida incursão pelas fases da
audiência de instrução e julgamento.
Como se sabe, a audiência de
instrução e julgamento tem as seguintes
características:

a) publicidade – como ato


processual que é, tal audiência
é pública, sendo certo que
dela pode participar pessoa
estranha ao processo, salvo se
se tratar de causa que tramite
em segredo de justiça,
hipótese em que participarão
somente as partes e seus
procuradores devidamente
habilitados;
b) comando pelo juiz – cabe ao
juiz dirigir os trabalhos direta
e pessoalmente, zelando pelo
bom andamento da audiência;
c) unicidade e continuidade – a
colheita da prova oral, como
regra, deve ser concentrada
em um único ato, com o
objetivo de que os atos fiquem
mais próximos possível uns
dos outros, bem como para
que o juiz tenha maior
possibilidade de fazer um
julgamento mais justo;
d) identidade física do juiz – é
dever do juiz que iniciou e
encerrou a audiência de
instrução e julgamento
proferir sentença, salvo as
exceções do art. 132 do CPC.

Quanto ao procedimento da
audiência, em primeiro lugar deve
ocorrer o pregão inicial (CPC, art. 450),
que nada mais é do que o anúncio de que
a audiência terá o seu início, para que as
partes se apresentem. A omissão do
pregão de per si não acarreta a nulidade
da audiência, salvo se houver prejuízo à
parte.
Em sequência, o juiz tentará
conciliar as partes, sendo certo que, se
tal conciliação ocorrer, será ela
reduzida a termo (CPC, arts. 448 e 449).
Não obtida a conciliação, segundo
dispõe o art. 451 do CPC, o juiz fixará
os pontos controvertidos sobre os quais
incidirá a prova. Muito se discutiu sobre
se a alteração do art. 331 do CPC teria
tornado o dispositivo anterior sem
aplicabilidade prática.
Porém, entendemos que podem ser
fixados os pontos controvertidos caso
não tenha sido realizada a audiência
preliminar da forma prevista no art. 331
do CPC e, ainda, caso seja necessário
rever a fixação feita anteriormente.
Ora, se depois da propositura da
ação, a ocorrência de algum fato
modificativo, extintivo ou constitutivo
do direito influir no julgamento da ação,
será considerado pelo juiz, agindo de
ofício ou a requerimento da parte no
momento de proferir a sentença (CPC,
art. 462), pois nada mais lógico do que
tal situação, em certa medida, ocasionar
uma revisão de todos os pontos
controvertidos.
Seguindo, tem início a colheita
prova oral,10 que será feita na seguinte
ordem (CPC, art. 452): (i)
esclarecimentos do perito e/ou
assistente técnico; (ii) colheita dos
depoimentos pessoais, primeiro o autor
e depois o réu; e (iii) oitiva das
testemunhas arroladas, primeiro as do
autor e depois as do réu.
Encerrada a colheita das provas
orais, dá-se início aos debates finais
(CPC, art. 454), que poderão ser
substituídos por memoriais, na hipótese
de a causa conter questões complexas de
fato e de direito. Porém, caso não ocorra
a substituição por memoriais, as partes
aduzirão suas alegações finais
oralmente, pelo prazo de 20 (vinte)
minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez),
observada a seguinte ordem: (i) autor,
(ii) réu e (iii) Ministério Público. Na
hipótese de haver litisconsórcio ou
terceiro, dividir-se-á a soma dos prazos
(normal + prorrogação = 30 minutos) em
partes iguais, salvo se houver convenção
em sentido contrário.
Apresentadas as alegações finais
em audiência e reunindo o juiz
condições para o julgamento da causa,
este proferirá sentença desde logo,
saindo as partes intimadas (CPC, art.
456, 1ª parte c/c art. 242, § 1.º); caso
não seja possível, a decisão será
proferida em 10 (dez) dias (CPC, art.
456, parte final).
Como se percebe pela rápida
menção às principais fases, a audiência
de instrução e julgamento encerra um ato
complexo, que pode originar uma série
de decisões passíveis de serem objeto
de recurso, como por exemplo:

a) deferimento ou indeferimento
de contradita;
b) deferimento ou indeferimento
de reperguntas;
c) deferimento ou indeferimento
de juntada de documentos em
audiência;
d) indeferimento da prorrogação
do prazo para as alegações
finais;
e) deferimento ou indeferimento
de eventual requerimento de
antecipação dos efeitos da
tutela;
f) revogação ou concessão dos
benefícios da assistência
judiciária gratuita;
g) fixação de pontos
controvertidos e de ônus da
prova, bem como possível
inversão;
h) dispensa ou realização de
ofício de eventuais provas
requeridas por advogado que
deixou de comparecer à
audiência injustificadamente;
i) deferimento ou indeferimento
de eventual pedido de
intervenção como assistente;
j) inversão da ordem de colheita
da prova.

Assim, passaremos à análise da


interposição do agravo retido oral em
audiência com todas as suas
peculiaridades.

3.3.1. Momento adequado


para a interposição,
resposta do agravado
e juízo de retratação
Conforme dispõe o § 3.º do art. 523
do CPC, as decisões interlocutórias
proferidas no curso da audiência de
instrução e julgamento desafiarão o
agravo retido na forma oral, que deverá
ser interposto imediatamente e constar
do respectivo termo de audiência, com
exposição sucinta das razões.
A questão que se deve analisar em
primeiro lugar diz respeito ao momento,
como seguimento temporal, em que o
agravo deverá ser interposto. Assim, o
recurso deve ser interposto tão logo a
decisão seja proferida? Ou no final da
audiência, fazendo constar os protestos
da parte prejudicada?
Como tivemos a oportunidade de
demonstrar anteriormente, a audiência
de instrução e julgamento encerra um ato
complexo, ou seja, se entendermos que a
interposição do agravo retido oral deve
se dar somente ao final, ocorrerá a
impossibilidade do exercício do juízo
de retratação por parte daquele que
proferiu a decisão impugnada, pois, de
acordo com o que sustentamos, a prática
de um ato posterior impede que o juiz
exerça o juízo de retratação.
Ademais, a própria lei deixa claro
que o agravo deverá ser interposto
imediatamente, ou seja, proferida a
decisão interlocutória pelo juiz em
audiência, a parte prejudicada poderá,
sob pena de preclusão, e em ato
subsequente, manifestar seu
inconformismo, expondo sucintamente
suas razões.11
Daí se poder afirmar que o prazo
para a interposição é o espaço de tempo
entre a decisão interlocutória que causa
gravame e o ato imediatamente posterior
a ser praticado na audiência, ou seja,
exatamente nesse interstício de tempo,
assim como ocorre no prazo para o
oferecimento da contradita da
testemunha.
De outra parte, o fato de a lei
estabelecer que o agravado exporá
sucintamente suas razões não significa
dizer que poderá aditá-las na
oportunidade da reiteração, mas apenas
e tão somente que as razões do
inconformismo serão explanadas da
maneira que a imediatidade do ato faz
merecer.
Não se pode perder de vista que a
alteração perpetrada visa, como já
tivemos a oportunidade de ressaltar, à
otimização do procedimento.
Dessa forma, deve ser sopesada a
imediatidade exigida pelo legislador
juntamente com a exposição sucinta, de
sorte a propiciar o resultado almejado:
desenvolvimento mais célere, sem
deixar as partes desguarnecidas de
meios para atacar eventuais decisões
prejudiciais, respeitando, em última
análise, o Estado Democrático de
Direito, pois de nada adiantaria pensar
em um sistema processual célere, sem,
contudo, dotar as partes de meios hábeis
para combater eventuais excessos.
De outro turno, admitir que o
agravo possa ser interposto ao final da
audiência pode gerar enormes
transtornos, cuja análise deixaremos
para fazer em conjunto com o juízo de
retratação.
No que diz respeito ao
procedimento, resta saber se a resposta
do agravado deve seguir a forma
prevista no § 2º do art. 523 do CPC, ou
seja, se poderá ele apresentar sua
resposta em 10 (dez) dias.
Em nosso sentir, diante da
imposição legal – oral e imediatamente
– que retira da parte a possibilidade de
opção pela interposição de forma oral, o
regime do art. 523, § 2.º, não se aplica à
hipótese em análise, sob pena de
violação do princípio da isonomia (CF,
art. 5.º),12 haja vista que o agravante
teria que interpor seu recurso oralmente,
expondo sucintamente suas razões, ao
passo que o agravado teria o prazo de
10 (dez) dias para apresentar sua
resposta, sem qualquer limitação quanto
à exploração das teses discutidas, sem
falar da tranquilidade de produzir um
arrazoado distante de todas as
circunstâncias que circundam uma
audiência de instrução e julgamento. E
mais, com acesso a todos os
instrumentos necessários (v.g., livros,
pesquisa jurisprudencial etc.).
Por outro lado, ainda sob a égide
do legislador anterior, afora a questão
da isonomia, a possibilidade de o
agravado apresentar sua resposta em 10
(dez) dias, pode tolher do juiz o
exercício do juízo de retratação, haja
vista que praticará ele atos subsequentes
ao impugnado. Basta imaginar a hipótese
em que uma das partes pretende, após as
alegações finais orais, juntar
documentos novos, levando a outra parte
a insurgir-se em razão de prejuízo ao
disposto no art. 398 do CPC. Se mesmo
assim o juiz admite a juntada, agravando
oralmente a outra parte e, em ato
posterior, vem a proferir sentença,
pergunta-se: poderia o juiz se retratar
após ouvida a parte contrária em 10
(dez) dias?
A resposta a tal indagação só pode
ser negativa, pois o juiz, ao publicar a
sentença de mérito, cumpre e acaba seu
ofício jurisdicional, só podendo alterá-
la: (i) para correção de inexatidões
materiais; (ii) para correção de erro de
cálculo; (iii) em razão de embargos de
declaração (omissão, contradição,
obscuridade e dúvida [Juizado Especial
Cível]).
Como se percebe, não há como
admitir que o procedimento do agravo
retido oral siga o procedimento previsto
no § 2.º do art. 523 do CPC, bem como
que sua interposição seja feita ao final
da audiência.
Em síntese, pelo que expusemos
uma vez proferida uma decisão
interlocutória em audiência de instrução
e julgamento, poderá a parte prejudicada
interpor agravo retido oral e
imediatamente no espaço de tempo que
intermedeia a decisão e o ato
subsequente, devendo as razões da
reforma serem expostas de maneira
sucinta, ouvindo a parte contrária em ato
contínuo, para que esta exponha, se
quiser, as razões de manutenção da
decisão, também de forma sucinta,
podendo o juiz em seguida exercer ou
não o juízo de retratação, dando
prosseguimento, finalmente, à
audiência.13
Por fim, não é demais lembrar que
os agravos retidos interpostos oralmente
somente serão apreciados se forem
reiterados por ocasião da apresentação
das razões ou contrarrazões de
apelação, da mesma forma que ocorre
em relação ao agravo retido escrito.

3.3.2. Algumas questões


polêmicas sobre o
agravo retido oral
Como se percebe, o agravo retido
oral está cercado de questões que
podem gerar algumas discussões tanto
no plano prático como no plano
doutrinário. Abordaremos neste item
algumas questões que nos parecem
salutares e que, certamente, suscitarão
muitas dúvidas.
Conforme restou demonstrado, o
regime da retenção e a interposição sob
a forma oral agora é uma
obrigatoriedade e não mera faculdade,
em se tratando de decisão proferida em
audiência de instrução e julgamento, sob
pena de preclusão. Daí surge a seguinte
questão: as decisões interlocutórias
proferidas em audiência de instrução e
julgamento que sejam suscetíveis de
causar à parte lesão grave e de difícil
reparação deverão ser objeto de agravo
retido oral, sob pena de preclusão?
Imaginemos uma decisão
interlocutória proferida em audiência de
instrução e julgamento em que o juiz,
antes de proferir a sentença, antecipa os
efeitos da tutela, fazendo,
consequentemente, que eventual recurso
de apelação seja recebido apenas no
efeito de devolutivo (CPC, art. 520,
VII).
Entendemos que, tratando-se de
decisão que possa causar grave lesão à
parte, o agravo deve ser interposto sob a
forma de instrumento, de acordo com o
art. 522, parte final, do CPC, sem a
necessidade de qualquer manifestação
durante a audiência.14
Pois bem. Qual o interesse da
parte em agravar na modalidade retida
contra tal decisão, sendo que tal
matéria, em razão da modalidade eleita
somente será analisada por ocasião do
recurso principal e se houver
reiteração?
Não resta dúvida de que, em se
tratando de decisões interlocutórias
proferidas em audiência de instrução e
julgamento que tenham o condão de
causar grave prejuízo à parte, podem (e
devem!) ser objeto de agravo de
instrumento.15-16
Outra questão interessante diz
respeito à possibilidade de interposição
do agravo de instrumento contra decisão
proferida em audiência de instrução e
julgamento, tendo a parte agravado na
própria audiência oral e imediatamente.
Tomemos por base o mesmo
exemplo anteriormente citado, mas com
a seguinte peculiaridade, a de que a
parte tenha, tão logo proferida a decisão
interlocutória, interposto agravo retido
oral como forma de evitar a preclusão,
sem, contudo, se aperceber, pelo menos
naquele rápido momento, de que a
decisão poderia lhe causar grave lesão.
Em nosso sentir, a questão deve ser
respondida de maneira negativa, ou seja,
a parte não pode interpor um novo
agravo, agora sob a forma de
instrumento.17
Entendemos que não há como
admitir tal modificação, pois dar-se-iam
ao agravante duas oportunidades para
recorrer contra a mesma decisão e,
evidentemente, não se estaria diante de
uma situação em que a retratabilidade
do regime se daria apenas e tão somente
com a retratação por parte do agravante
e nada mais.
As especificidades que cercam
cada uma das modalidades impedem que
tal retratabilidade ocorra, senão
vejamos:

• prazo – o agravo retido oral


deve ser interposto no espaço
de tempo que intermedeia a
decisão interlocutória
proferida em audiência e o ato
subsequente; o agravo de
instrumento deve ser interposto
no prazo de 10 (dez) dias,
contados da intimação da
decisão;
• forma de interposição – o
agravo oral é interposto
imediatamente perante o
próprio juiz que proferiu a
decisão, expondo o agravante
sucintamente suas razões, que
constarão do termo de
audiência; o agravo de
instrumento será interposto em
petição escrita contendo todos
os requisitos do art. 524 do
CPC, com as peças
obrigatórias e facultativas,
sendo dirigido diretamente
para o tribunal competente;
• procedimento – interposto o
agravo retido oral, o juiz dará
oportunidade para a parte
contrária apresentar sua
resposta, se quiser, após o que
poderá ou não exercer o juízo
de retratação; já o agravo de
instrumento segue o
procedimento previsto nos arts.
526 a 529 do CPC.

Como se percebe, não há como


admitir que haja a retratação na hipótese
aventada, pois, repita-se, não se trata de
uma situação em que haja o
aproveitamento do recurso já interposto,
alterando-se somente o regime; mas
resta evidente que se trata da
interposição de um novo recurso,
encerrando, consequentemente, uma
desistência do agravo retido oral
interposto anteriormente.
Por fim, uma última questão.
Imaginemos uma situação em que o
juiz profira uma determinada decisão
interlocutória em audiência de instrução
e julgamento, e uma das partes,
entendendo que a questão pode lhe
causar grave lesão, deixe de agravar
oralmente para, no prazo legal, interpor
agravo na modalidade instrumentada.
Entendendo o relator que a hipótese
não é de interposição de agravo de
instrumento, poderá convertê-lo em
agravo retido, nos termos do art. 527, II,
do CPC?
Parece-nos que a resposta para tal
situação deve ser negativa.
A conversão prevista no inciso II
do art. 527 do CPC toma por base o fato
de: (i) ambos os agravos (retido escrito
e de instrumento) terem o mesmo prazo
para interposição; e (ii) ambos serem
formulados por meio de petição escrita,
com observação dos requisitos do art.
524 do CPC (salvo o inciso III para o
agravo retido).
No caso do agravo retido oral,
como já dissemos alhures, o prazo é
diferente e a interposição também, ou
seja, é feita oralmente e com exposição
sucinta das razões.
Ora, se não se vislumbra a
presença do pressuposto específico do
agravo de instrumento – decisão
suscetível de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação –, isto
significa dizer que deveria ter sido
observada a sistemática do § 3.º do art.
523 do CPC, ou seja, a decisão deveria
desafiar agravo oral, que deveria ter
sido interposto imediata e oralmente.
Significa dizer que, não há como
convertê-lo.18
Pensar de forma diferente, além de
não se coadunar com as regras vigentes,
pode fazer que o § 3.º do art. 523 do
CPC torne-se letra morta, pois,
certamente, a parte prejudicada, em vez
de agravar oral e imediatamente na
audiência, deixaria para interpor o
agravo de instrumento sob o manto de
uma pretensa lesão, pois, caso não
restasse configurada, o relator
converteria o agravo de instrumento em
agravo retido, sem qualquer prejuízo ao
recorrente, pelo menos nesse
particular.19
Em nosso sentir, não se
vislumbrando presente o pressuposto
para que o agravo siga sob a forma
instrumentada, em se tratando de decisão
interlocutória proferida em audiência de
instrução e julgamento, não resta outra
saída ao relator senão decidir pela
inadmissibilidade do recurso (CPC, art.
527, I, c/c o art. 557, caput).20
__________
1 Redação do § 4.º do art. 523 dada pela Lei
10.352/2001 e revogada pela Lei
11.187/2005: “Será retido o agravo das
decisões proferidas na audiência de
instrução e julgamento e das posteriores à
sentença, salvo nos casos de dano de difícil
e de incerta reparação, nos de inadmissão
da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida”.
2 Cf. Humberto Theodoro Júnior. Curso...,
cit., n. 550, p. 652.
3 Os agravos..., cit., n. 9, p. 540 e 541.
4 STJ, AgRg no REsp. 1.200.494/SP, 4ª T.,
rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
04.10.2012, DJe 16.10.2012.
5 RSTJ 42/455.
Interessante notar que, como bem apontou
6
J. E. Carreira Alvim, “o agravo oral nada
mais é do que uma reprodução do extinto
agravo no auto do processo do antigo CPC
(art. 852, CPC-39)” (Alterações do
Código de Processo Civil – Leis n.
10.352, 10.358 e 10.444. Rio de Janeiro:
Impetus, 2004, p. 154).
7 A interpretação das leis de
simplificação do código de processo
civil. Revista do Advogado da AASP, n. 46,
ago. 1995.
8 No mesmo sentido: Sidnei Amendoeira Jr.
Manual de Direito Processual Civil. São
Paulo: Saraiva, 2012, v. 2, n. 4.2, p. 106;
Teresa Arruda Alvim Wambier. Os
agravos..., cit., n. 4.1, p. 259. Em sentido
contrário, entendendo se tratar de norma
obrigatoriamente aplicável a todas as
formas de audiência: Nelson Nery Junior e
Rosa Maria de Andrade Nery. Código de
Processo Civil..., cit., nota 19 ao art. 523,
p. 764.
9 Entendendo ser inadmissível a utilização do
agravo retido oral nas outras audiências,
ver: Humberto Theodoro Junior. Curso...,
cit., n. 550-a, p. 653: “Não é de toda
decisão tomada em audiência que a parte
pode agravar oralmente. O Código somente
prevê essa forma de interposição do agravo
retido, quando se tratar de audiência de
instrução e julgamento (art. 523, § 3º, com
a redação da Lei nº 11.187/2005), em que
as questões solucionadas incidentalmente
são, em regra, mais singelas (...). Não se
autoriza, portanto, o agravo oral em
audiência preliminar (art. 331), tendo em
conta que a atividade saneadora nela
desenvolvida compreende temas mais
complexos, cuja impugnação, via de regra,
haverá de ser feita com mais vagar e
melhor fundamentação”. No mesmo
sentido a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça: AgRg no AREsp.
354.975-SP, 2ª T., rel. Ministro Herman
Benjamin, j. 05.12.2013, DJe 06.03.2014;
REsp. 1.374.224/SP, 3ª T., rel. Min. Paulo
de Tarso Sanseverino, j. 26.09.2013, DJe
30.9.2013; REsp. 1.288.033/MA, 3ª T., rel.
Min. Sidnei Beneti, j. 16.10.2012, DJe
19.10.2012.
10 Como regra, a produção da prova oral se dá
na audiência de instrução e julgamento,
salvo nas seguintes hipóteses: (i)
antecipação da prova, em razão de medida
cautelar; (ii) oitiva de testemunha que
reside fora da comarca – por meio de carta
precatória ou rogatória; (iii) testemunha
doente ou em razão de outro motivo
relevante; (iv) oitiva das autoridades
indicadas no art. 411 do CPC.
11 Cf. Sidnei Amendoeira Jr. Manual..., cit., n.
4.2, p. 106; Arruda Alvim. Manual de
direito processual civil. 16ª ed., São
Paulo: RT, 2013, parte 2, n. 286-A, p.
1.113.
12 No mesmo sentido: Nelson Nery Junior;
Rosa Maria de Andrade Nery. Código de
Processo Civil..., cit., nota 21 ao art. 523,
p. 764.
13 Teresa Arruda Alvim Wambier. Os
agravos..., cit., n. 4.2.4, p. 269 e 270:
“Evidentemente, o regime da retratação,
tendo sido o agravo interposto oralmente
na audiência de instrução e julgamento, não
será o do art. 523, § 2º. O juiz ouvirá em
seguida, a outra parte e na própria
audiência deverá, se for o caso, retratar-
se. Não se perca, porém, de vista que o juiz
só determinará que a outra parte se
manifeste, no caso de agravo retido, se se
inclinar a retratar-se e não em qualquer
caso, necessariamente. Na dúvida, ouve a
parte contrária. Seguro de sua decisão, não
se retrata e prossegue a audiência”.
14 Dorival Renato Pavan. Comentários às
Leis nº 11.187, de 2005, 11.232, de 2005,
e 11.382, de 2006. 2ª ed. São Paulo:
Pillares, 2007, p. 185 e 186: “é possível
que mesmo uma decisão proferida em
audiência de instrução e julgamento possa
ser atacada por via do agravo de
instrumento, em que pese a redação do § 3º
do art. 523 do CPC. (...) se a decisão for
suscetível de causar à parte lesão grave ou
de difícil reparação. (...) Não há
necessidade, outrossim, de a parte
manifestar a intenção de, na audiência,
agravar a decisão. (...) a parte pode
silenciar-se na audiência e propor o agravo
diretamente no Tribunal, dentro dos 10 dias
seguintes à sua realização”.
15 Cf. Arruda Alvim. Manual..., cit., n. 286-A,
p. 1.113; Athos Gusmão Carneiro. Do
recurso de agravo e suas alterações pela
Lei nº 11.187/05. In: Adroaldo Furtado
Fabrício (Coord.) Meios de impugnação
ao julgado civil – estudos em
homenagem a José Carlos Barbosa
Moreira. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 126 e 127.
16 TJRS, AgIn. nº 70058266685, 18ª Câmara
Cível, rel. Des. Pedro Celso Dal Pra, j.
20.03.2014, DJe 24.03.2014: “Agravo de
Instrumento. Direito Privado não
especificado. Ação de indenização.
Decisão proferida em audiência de
instrução. Lei nº 11.187/2005, que deu
nova redação ao § 3º do art. 523 do CPC, as
decisões proferidas em audiência de
instrução que não digam respeito a
questões urgentes, somente podem ser
objeto de agravo retido, que deve ser
interposto imediatamente e de forma oral
pela parte interessada. Descabimento do
manejo do agravo de instrumento,
interposto depois de encerrada a audiência,
porquanto ocorrida a preclusão temporal.
Precedentes. Não conheceram do recurso.
Unânime”.
17 TJSP, Ap. 0130771-91.2008.8.26.0000, 6ª
Câm. Dir. Privado, rel. Des. Eduardo Sá
Pinto Sandeville, j. 16.05.2013.
18 Cf. Araken de Assis. Manual..., cit., n.
52.1.4, p. 574 e 575.
19 Em sentido contrário: Manual de direito
processual civil. 3ª ed. São Paulo:
Método, 2011, p. 666 a 669.
20 TJRS, AgIn. 70036392488, 9ª Câmara
Cível, rel. Des. Marilene Bonzanini
Bernardi, j. 12.05.2010.
O EFEITO
SUSPENSIVO E A
TUTELA
ANTECIPADA
RECURSAL

Todo recurso tem efeito devolutivo,


pois o seu objeto é submeter a decisão
impugnada a novo exame feito pelo
órgão jurisdicional, sendo ultrapassada
a ideia de que tal efeito só incide
quando a matéria a ser examinada pelo
Poder Judiciário seja devolvida para um
órgão superior àquele do qual emanou a
decisão. Existe a devolutividade ainda
que seja para o mesmo órgão, como
ocorre nos embargos de declaração ou
no agravo, quando é realizado o juízo de
retratação.
Como todos os recursos, inclusive
o agravo, têm efeito devolutivo, nos
ateremos, nesse passo, aos efeitos que
não são inerentes ao agravo de
instrumento.

4.1. O EFEITO
SUSPENSIVO1 E O
AGRAVO DE
INSTRUMENTO
Efeito suspensivo é a aptidão que
alguns recursos têm de impedir a pronta
eficácia do ato jurisdicional recorrido.
Via de regra, o efeito suspensivo
não é a suspensão, mas a manutenção da
suspensão. O efeito suspensivo não está
ligado ao recurso, mas ao ato recorrido.
A questão fundamental é saber se o ato
tem aptidão para produzir efeitos
imediatamente.
Barbosa Moreira nos ensina que a
interposição de recurso que tenha efeito
suspensivo não faz cessar efeitos que já
estivesse produzindo, apenas prolonga o
estado de ineficácia em que se
encontrava a decisão, pelo simples fato
de estar sujeita à impugnação por meio
do recurso.
Para ele a denominação efeito
suspensivo, apesar de tradicional, é a
rigor inexata, “porque se presta a fazer
supor que só com a interposição do
recurso passem a ficar tolhidos os
efeitos da decisão, como se até esse
momento estivessem a manifestar-se
normalmente. Na realidade, o contrário
é que se verifica: mesmo antes de
interposto o recurso, a decisão, pelo
simples fato de estar-lhe sujeita, é ato
ainda ineficaz, e a interposição apenas
prolonga semelhante ineficácia, que
cessaria se não se interpusesse o
recurso”.2
No que diz respeito ao agravo de
instrumento, somente haverá a concessão
de efeito suspensivo pelo relator desde
que não tenha havido a conversão do
recurso para a forma retida. Ocorrida a
conversão, o magistrado não mais
poderá conceder a manutenção da
suspensão da eficácia da decisão.
Tem-se assim, como regra, que o
agravo de instrumento não tem efeito
suspensivo, o que em última análise é
até compreensível, pois seria um
verdadeiro entrave se assim não fosse,
já que não haveria continuidade do
procedimento em primeiro grau se cada
decisão agravada acarretasse a
suspensão do feito.
Se imaginarmos que todas as
decisões interlocutórias sejam passíveis
de agravo e que as partes possam
agravar contra todas aquelas que as
prejudicarem, o processo simplesmente
não andaria se fosse obrigatório sempre
conceder o efeito suspensivo.
Sendo mantido o agravo tal e qual
fora interposto, ou seja, sem aplicar os
poderes de conversão conferidos pelo
art. 527, II, do CPC, o relator,
entendendo que a questão é de urgente
apreciação pelo tribunal ou que pode
acarretar dano de difícil ou incerta
reparação, poderá atribuir o efeito
suspensivo, desde que a decisão tenha
sido favorável à parte agravada e ainda
tenha por objeto obstar a prática de
algum ato.3 Isto significa dizer que, se a
decisão foi positiva ao requerente,
caberá o pedido de efeito suspensivo ao
agravo de instrumento interposto pela
parte prejudicada.4
Após essa decisão, o relator, desde
que tenha sido expressamente requerido
pela parte agravante5 e que esta
demonstre sua necessidade, poderá ou
não conceder o efeito suspensivo de
acordo com o rol exemplificativo
previsto no art. 558 do CPC, “nos casos
de prisão civil, adjudicação, remição de
bens, levantamento de dinheiro sem
caução idônea”, ou ainda, de forma
aberta, em “outros casos dos quais
possa resultar lesão grave e de difícil
reparação”.6
Resta saber quando será o caso de
lesão grave e de difícil reparação afora
os casos expressos do art. 558 do CPC.
Para que seja possível a concessão,
além dos casos enumerados na lei,
primeiramente deverá o agravante
justificar a necessidade de suspensão da
decisão até que seja revista pelo
tribunal (v.g., o deferimento de quebra
de sigilo bancário e fiscal do executado,
antes de terem se esgotado as
diligências por parte do exequente para
localização de bens passíveis de
penhora), ou seja, deverá demonstrar o
periculum in mora e o fumus boni iuris,
pois a decisão acerca do pedido de
efeito suspensivo tem natureza cautelar,
podendo, portanto, ser concedida
inaudita altera parte, ou após a oitiva
do agravado, bem como posteriormente
às informações prestadas pelo juízo de
primeiro grau.7
Sobre a cautelaridade da decisão
do art. 558 do CPC, merece destaque a
opinião de Cassio Scarpinela Bueno:
“uma função inegavelmente cautelar,
corresponde a estabelecer, até
julgamento final do recurso, a situação
de ineficácia da decisão recorrida
(efeito suspensivo)”.8

4.2. O EFEITO ATIVO OU


TUTELA
ANTECIPADA
RECURSAL
Com a entrada em vigor da Lei
10.352, de 26 de dezembro de2001,
significante alteração foi imposta ao
regime do agravo de instrumento. Além
da possibilidade de concessão de efeito
suspensivo em favor do agravante, pode
também o relator conceder, total ou
parcialmente, a antecipação da tutela
recursal, desde que a decisão recorrida
tenha indeferido pedido de concessão de
tutela de urgência pretendida.
Nesse caso, em vez de suspender a
decisão proferida até final julgamento,
irá determinar provisoriamente que a
liminar pleiteada em grau inferior seja
concedida, atuando de forma ativa,
sendo exatamente por isso que a
doutrina acabou por denominar esse
poder dado ao relator de efeito ativo.9-10
Sobre o efeito ativo, diferenciando-
o do suspensivo, assim nos ensina José
Rogério Cruz e Tucci: “Não é rara a
ocorrência de situações nas quais o ato
decisório a ser impugnado nega a
concessão de tutela de urgência
(cautelar ou antecipatória) pleiteada
pelo litigante: indeferimento de liminar
em medida cautelar, em mandado de
segurança, em ação possessória, em
revisional de aluguel etc.”. Para o autor,
seria “totalmente inoperante, nestes
casos, a atribuição de efeito suspensivo
ao agravo de instrumento”.11
Cumpre, pois, salientarmos que,
dependendo do que fora decidido em
primeiro grau, será requerido pelo
agravante este ou aquele efeito, mas
nunca os dois.
Tendo sido requerida e indeferida
uma medida liminar, como por exemplo
na antecipação de tutela para que seja
autorizada uma internação hospitalar, a
lei faculta ao autor, em razão da
urgência da situação, agravar por
instrumento diretamente ao tribunal,
pleiteando ao relator que antecipe
provisoriamente, mediante cognição
sumária, o próprio mérito recursal,12
resguardando a incolumidade do direito
material pretendido para que não haja
dano exacerbado e irreparável em
decorrência da demora na concessão da
prestação jurisdicional pretendida.13
Uma outra questão relacionada ao
efeito ativo, mas apenas derivada deste,
diz respeito à eficácia da decisão
proferida pelo tribunal que substitui a
liminar antes indeferida em primeiro
grau.
A concessão da antecipação de
tutela pelo juiz de primeiro grau ou em
grau de recurso, por ocasião do
julgamento do agravo de instrumento
interposto contra a decisão que indeferiu
a medida de urgência, somente terá
eficácia até que seja proferida a
sentença de mérito, de cognição
exauriente, que prevalecerá em relação
à decisão de cognição sumária que
acabou por conceder a tutela
antecipada.14
Convém, nesse passo, fazer uma
pequena distinção entre as duas
hipóteses que podem ocorrer após a
concessão da antecipação de tutela e as
consequências por elas geradas.
A primeira é a antecipação de
tutela concedida no curso do processo e
depois confirmada pela sentença.
Caso haja apelação por parte do
réu, será recebida apenas no efeito
devolutivo, atendendo a regra do art.
520, VII, do CPC, fazendo com que seja
possível a efetivação, ainda que
provisória, do pedido que fora
antecipado por decisão interlocutória e
posteriormente confirmado, em
definitivo, por sentença de mérito.
A segunda questão que pode surgir
é bastante polêmica.
Caso a antecipação de tutela seja
concedida inicialmente, mediante
cognição sumária, mas no momento de
julgar a lide em definitivo, o magistrado
de primeiro grau acabar por revogá-la,
tácita15 ou expressamente, modificando o
teor da decisão anterior, após um exame
aprofundado e minucioso do processo,
julgando improcedente o pedido,
beneficiando o réu em detrimento do
autor.
Interposta a apelação e recebida no
efeito suspensivo, cumpre-nos elaborar
uma indagação: o que deve prevalecer, a
sentença embora ainda não tenha
transitado em julgado, ou a
antecipação de tutela apesar de
revogada pela sentença?
Para responder a esta pergunta
devemos defender a impossibilidade de
nos atermos apenas aos efeitos em que a
apelação é recebida para o caso em tela,
ou seja, contra a sentença que julga
improcedente, o pedido antes
antecipado, cabe apelação, que em
regra, será recebida em ambos os
efeitos, mas nem por isso a antecipação
de tutela continua a ter eficácia.16
Se entendêssemos que em virtude
do recebimento da apelação com efeito
suspensivo a sentença não tivesse o
condão de cassar a tutela antecipada,
estaríamos defendendo um
posicionamento que acarretaria na
manutenção da efetivação do
“provimento antecipatório, fundado
apenas em cognição parcial do juiz,
sobrepondo-o ao provimento definitivo,
baseado em cognição exauriente”.17
Este também é o entendimento
majoritário dos nossos tribunais.18-19
Pouco antes de seu falecimento, o
saudoso Ministro Franciulli Netto,20
acompanhando o voto do relator, decidiu
que o recebimento da apelação em
ambos os efeitos não restaura a
antecipação de tutela revogada pela
sentença, proferindo seu voto da
seguinte maneira:

“O recebimento do recurso de
apelação, ainda que em ambos os
efeitos, não acarreta a restauração
da tutela antecipada revogada pela
sentença, uma vez que tão somente
suspende os seus efeitos até o
julgamento do recurso pelo
Tribunal a quo.
À medida que um dos pressupostos
para o deferimento da tutela
antecipada é a reversibilidade, nada
obsta que a sentença, ao julgar
improcedente o pedido, revogue os
efeitos anteriormente antecipados
e, ainda, o juízo receba o recurso de
apelação em ambos os efeitos”.

Sendo um dos requisitos para a


concessão da tutela antecipada a
provisoriedade, ou seja, a possibilidade
de ser revertida ou cassada a qualquer
tempo, concedida mediante exame
superficial e perfunctório da pretensão
do autor e, posteriormente, sendo
proferida sentença, mediante cognição
mais aprofundada, exauriente e
definitiva, de se concluir que a
antecipação deixa de prevalecer, sendo
substituída pela sentença,21 ainda mais
se a decisão final for incompatível com
a manutenção da antecipação de tutela,
pouco importando se a apelação foi
recebida neste ou naquele efeito.
Têm-se assim dois
pronunciamentos judiciais que se
colidem. Aparentemente, à primeira
vista poderia parecer até uma heresia
jurídica, pois um ato posterior de
magnitude maior, anula e cancela um
anterior, apesar de provisório, em
sentido contrário.
Contudo, do ponto de vista
processual a questão em verdade não é
tão simples.
Devemos alinhar alguns argumentos
em favor do que sustentamos:

(i) por óbvio que se o magistrado


se convenceu, mercê do exame
completo e exauriente que a
antecipação à luz do direito
não mais poderia prevalecer
no mundo jurídico tem,
necessariamente, que revogar
a tutela anteriormente
concedida, ainda que
tacitamente, para extirpá-la
por completo, fazendo com
que o mal não perdure;
(ii) a antecipação da tutela, por si
só, já carrega consigo o
caráter de não definitividade,
passível de reversão, até por
definição legal (art. 273, § 4.º,
do CPC)22;
(iii) o Código de Processo Civil
não estabelece que a tutela
antecipatória prevaleça sobre
a sentença; e
(iv) autor e réu devem ser tratados
com igualdade,23 portanto, do
mesmo modo que não se pode
atribuir ao autor o severo ônus
da impossibilidade de
antecipação dos efeitos da
tutela pretendida, em clara
afronta ao princípio da
efetividade, também não se
pode beneficiar o autor,
mantendo vigente a decisão
provisória, fazendo com que
permaneça produzindo seus
efeitos mesmo após ter sido
revogada e substituída por
outra de caráter definitivo,
embora sujeita a recurso de
apelação, dotado de efeito
suspensivo.
__________
1 Sobre o efeito suspensivo ver: Samantha
Lopes Alvares. O efeito suspensivo dos
recursos no processo civil brasileiro.
Tese de doutorado (inédita). São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2011, p. 232.
2 Comentários..., cit., n. 143, p. 258.
3 Cf. Araken de Assis. Manual..., cit., n.
51.3.3, p. 561 a 564.
4 Teresa Arruda Alvim Wambier, Luiz
Rodrigues Wambier e José Miguel Garcia
Medina, Breves comentários..., v. 1, cit.,
p. 301.
5 O agravante deverá requerer expressamente
o efeito suspensivo, expondo suas razões,
pois é vedado ao relator concedê-lo ex
officio.
6 Cf. Arruda Alvim, Araken de Assis e
Eduardo Arruda Alvim. Comentários ao
Código de Processo Civil. 3ª ed., São
Paulo: RT, 2014, comentário 4 ao art. 527,
p. 1.046 e 1.047.
7 Paulo Henrique do Santos Lucon. Eficácia
das decisões e execução provisória. São
Paulo: RT, 2000, p. 399 e 400: “Dirigido
diretamente ao tribunal, o agravo pode
conter pedido de efeito suspensivo ao
relator do recurso, destinado a fazer com
que a decisão interlocutória impugnada não
produza desde logo seus efeitos. As razões
recursais devem ser relevantes para
justificar o pedido, ou seja, o efeito
suspensivo somente deve ser concedido
nas hipóteses em que houver a
possibilidade concreta de a decisão
recorrida provocar lesão grave ou de difícil
reparação (CPC, art. 558). O relator deve
requisitar as informações necessárias ao
juiz a quo e pode retardar a concessão do
efeito suspensivo a fim de ter maiores
elementos acerca da realidade constante
dos autos. Em caso de urgência, poderá
conceder o aludido efeito sob reserva, para
que então possa examinar sua decisão
depois das informações do juiz a quo e da
resposta do agravado”. No mesmo sentido:
Sergio Bermudes. A reforma do Código
de Processo Civil. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 1996, p. 94.
8 Liminar em mandado de segurança: um
tema com variações. 2ª ed. São Paulo: RT,
1999, p. 266.
9 Eduardo Arruda Alvim. Antecipação de
tutela. Curitiba: Juruá, 2008, p. 257:
“Poderá o agravante pleitear antecipação de
tutela recursal. Contra decisão concessiva
da antecipação de tutela, fala-se mais
comumente em efeito suspensivo, mas
suspender os efeitos da decisão recorrida
não deixa de ser (...) antecipar, em caráter
provisório e reversível, os efeitos do
acórdão que deverá reformar a decisão
antecipatória de tutela. (...) Observemos
que o agravo contra a decisão antecipatória
de tutela perde seu objeto com a sentença”.
10 João Batista Lopes. Tutela antecipada no
processo civil brasileiro. 3ª ed., São
Paulo: RT, 2007, p. 126: “Fortes razões
doutrinárias justificam o chamado efeito
ativo do agravo de instrumento”. (...) “Trata-
se de conferir ao relator do agravo de
instrumento a possibilidade de,
monocraticamente, conceder à medida que
fora negada pelo juízo monocrático”. (...)
“Há que ser admitido o chamado efeito
ativo quando presente o risco de lesão
grave e de difícil reparação”.
11 Lineamentos na nova reforma do CPC.
São Paulo: Saraiva, 2002. p. 71.
12 Ernane Fidélis dos Santos. As reformas de
2005 do Código de Processo Civil. São
Paulo: Saraiva, 2006, p. 129 e 130: (...)
“Com a alteração legislativa, duas posições
de discricionariedade do relator, no
recebimento do recurso, podem gerar
efeitos também diferenciados: quando
concede ao agravo efeito suspensivo, a
decisão se limita ao referido recebimento,
apenas impedindo, por força reflexa, que a
decisão tenha, desde já, plena eficácia;
quando antecipa a tutela recursal, julga o
próprio mérito do recurso”.
13 Cf. Nelson Nery Junior e Rosa Maria
Andrade Nery, Código..., cit., p. 819, nota
8 ao art. 558.
14 Teresa Arruda Alvim Wambier. O destino
do agravo depois de proferida a sentença.
In: Nelson Nery Júnior e Teresa Arruda
Alvim Wambier (Coords.). Aspectos
polêmicos e atuais dos recursos cíveis.
São Paulo: RT, 2003, v. 7, p. 691: “Como o
Tribunal, ao decidir o agravo, gera uma
decisão que toma lugar da decisão
confirmada ou revogada, não tem sentido
transplantar a decisão obtida em grau de
recurso para um ‘momento’ do processo,
que ficou superado pela sentença, e que não
se configura em pressuposto lógico para
que esta pudesse ter sido prolatada. Este é
justamente o ‘momento’ em que decisões
são proferidas com base em cognição
superficial, que ficou superado. Quando da
prolação da sentença de mérito, o juiz ou
tem plena convicção no sentido de que ao
autor assiste (ou não) direito ou de que o
processo deve ser extinto sem julgamento
de mérito. A concessão de liminar
anteriormente (ou a denegação), como se
afirmou acima, não se consubstancia em
pressuposto lógico para a prolação de
qualquer tipo de sentença”.
15 José Roberto dos Santos Bedaque. Tutela
cautelar e tutela antecipada: tutelas
sumárias e de urgência. 4. ed. São Paulo:
Malheiros, 2006, p. 402: “Mesmo que
omissa a sentença sobre a revogação do
provimento concessivo da antecipação,
deve-se entender existente ordem implícita
nesse sentido”.
16 Em sentido contrário, defendendo a
manutenção da antecipação de tutela, em
decorrência do recebimento da apelação
em ambos os efeitos, ver: Joaquim Felipe
Spadoni. Breves anotações sobre a tutela
antecipada e os efeitos da apelação. In:
Nelson Nery Júnior e Teresa Arruda Alvim
Wambier (Coords.). Aspectos polêmicos e
atuais dos recursos cíveis. São Paulo: RT,
2002, v. 6, p. 327 e 328, onde conclui que:
“nenhuma alteração houve, de forma que
entendemos que a decisão antecipatória
continua a não ser imediatamente revogada
pelo advento de uma decisão de
improcedência ou de extinção do processo
sem julgamento de mérito, que esteja
submetida ao recurso de apelação com
efeito suspensivo”. No mesmo sentido:
Cassio Scarpinela Bueno. A tutela
antecipada na Lei 10.352/2001 (uma
proposta de interpretação para o art. 520,
VII, do CPC). In: Bento Herculano Duarte e
Ronnie Preuss Duarte (Coords.). Processo
civil – aspectos relevantes, estudos em
homenagem ao Prof. Ovídio A. Baptista
da Silva. São Paulo: Método, 2005, p. 61 e
segs.
17 Sérgio Sahione Fadel. Antecipação da
tutela no processo civil. 2ª ed., São
Paulo: Dialética, 2002, p. 64. No mesmo
sentido: Teresa Arruda Alvim Wambier. O
destino..., cit., p. 691: “Prolatada a
sentença, é esta que prevalece. Até porque
quando o Tribunal reformasse a decisão
concessiva ou denegatória da liminar o
faria com base num universo de dados
constantes do processo até o momento em
que a liminar foi concedida ou denegada
pelo juiz de primeiro grau, fase esta que já
terá sido ultrapassada. Não teria também,
por isso, sentido falar-se na prevalência
desta decisão do Tribunal sobre a
sentença”.
18 TJSP, Ag. 441.300-4/0-00, 2ª Câm. de Dir.
Privado, rel. Des. Morato de Andrade, v.u.,
j. 30.06.2006. De ser destacado o seguinte
trecho do voto do relator: “A doutrina
admite que o juiz, na sentença de
improcedência da ação, mesmo quando
cabível apelação no duplo efeito, revogue a
tutela antecipatória anteriormente
concedida. (...) De fato, não há como outra
interpretação dar à regra do § 4º do artigo
273 do CPC, que permite a revogação da
tutela antecipada ‘a qualquer tempo’, sendo,
ademais, ilógico pudesse a medida persistir
após a proclamação da improcedência da
demanda, ato que repele o requisito básico
do instituto, qual seja a probabilidade da
existência do direito. Estar-se-ia fazendo
prevalecer a cognição sumária do momento
da prolação da decisão interlocutória à
cognição plena da sentença”.
19 STJ, AgRg na Recl. 1.444/MA, 1ª Seção,
rel. Min. Francisco Falcão, v. u., j.
27.10.2004, DJU 29.11.2004, cuja ementa
é a seguinte: “A decisão do Superior
Tribunal de Justiça que revoga tutela
antecipada sob o fundamento de sua
inviabilidade frente à Fazenda Pública,
perde o efeito com a superveniência da
sentença de mérito”. Releva ressaltar
trecho do voto proferido pelo relator: “(...)
o efeito da decisão tida por usurpada tem
valor até a sentença superveniente, quando
os fundamentos da decisão deixam de
existir por imposição lógica. A tese do
reclamante de que a decisão no recurso
especial que suspendeu tutela antecipada,
deve prevalecer mesmo após o
proferimento de sentença de mérito,
encontra resistência na jurisprudência
pátria. Com efeito, a sentença de mérito
estabelece nova ordem processual,
suplantadas as razões da tutela com a
superveniência da sentença que encerra
uma fase do processo de conhecimento”.
20 STJ, AgRg no AgRg na MC 4638/SP, 2ª T.,
rel. Min. Peçanha Martins, DJU
12.09.2005. No mesmo sentido: STJ,
AgRg no MS 13.072/DF, 3ª seção, rel. Min.
Felix Fischer, v. u., j. 24.10.2007, DJU
14.11.2007.
21 Cf. Fredie Didier Jr. e Leonardo José
Carneiro da Cunha. Curso de direito
processual civil. 7. ed. Salvador:
JusPodivm, 2009, v. 3, p. 119.
22 No mesmo sentido: Ernane Fidélis dos
Santos. Evolução legislativa do sistema
recursal de primeiro grau no Código de
Processo Civil brasileiro. In: Adroaldo
Furtado Fabrício (Coord.) Meios de
impugnação ao julgado civil – estudos
em homenagem a José Carlos Barbosa
Moreira. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p. 218: “O que se deve distinguir com
cuidado é a revogação implícita, como
decorrência da sentença de improcedência,
ainda que haja referência en passant à
antecipação, com a revogação motivada do
§ 4.º do art. 273, cujos efeitos fluem desde
logo, em princípio, mesmo que proferida a
decisão no corpo da sentença”.
23 Teresa Arruda Alvim Wambier. Os
agravos..., cit., p. 400 e 401: “Este pedido
pode, assim, ser formulado em atenção aos
parâmetros estabelecidos no art. 273 – uma
vez que o art. 527, inc. III, nada dispôs a
respeito dos requisitos para a concessão de
tal antecipação -, pois o que se pede é, na
verdade, a antecipação dos efeitos da tutela
recursal. Assim não poderia deixar de ser,
até por causa do princípio constitucional da
isonomia. Afinal, a parte que não obtém a
providência pleiteada não pode ficar em
situação de desvantagem em relação àquela
que recorre de decisão que concedeu a
providência a seu ex-adverso. Esta poderia
obter o efeito suspensivo da decisão que
concedeu a medida à outra parte, mas a que
a pediu, não a tendo obtido, teria de esperar
até o julgamento do recurso. Esta
disparidade de tratamento não se harmoniza
com o sistema do Código e o correto é
considerar-se que a parte possa obter
providencia equivalente, ainda que com
base em outro dispositivo legal (...)”.
A REVISÃO DA
DECISÃO
MONOCRÁTICA DO
RELATOR DO
AGRAVO DE
INSTRUMENTO COM
BASE NOS INCISOS II
E III DO ART. 527 DO
CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL

O parágrafo único do art. 527 do


CPC, de acordo com a redação dada
pela a Lei 11.187/2005, estabelece que
a decisão do relator que: (i) converter o
agravo de instrumento em agravo retido
(CPC, art. 527, II) e (ii) atribuir efeito
suspensivo ao recurso ou deferir total ou
parcialmente a antecipação do mérito
recursal (CPC, art. 527, III), não é
passível de recurso, somente podendo
ser revista por ocasião do julgamento do
agravo ou, ainda, se o próprio relator a
reconsiderar.
Segundo a exposição de motivos do
Projeto de Lei que criou o parágrafo
único do art. 527, a alteração da
redação desse dispositivo, “reveste a
tramitação do agravo de racionalidade e
celeridade, ao eliminar as hipóteses de
recorribilidade de decisão liminar
proferida nos casos dos incisos II e III”.
Tal dispositivo, além de criar inúmeros
embaraços é inócuo, conforme se
demonstrará nos itens a seguir
abordados.

5.1. O PEDIDO DE
RECONSIDERAÇÃO
Com exceção da parte final do
parágrafo único do art. 527 do CPC, não
há qualquer outra previsão legal acerca
do chamado pedido de reconsideração,
ou seja, na verdade ele consiste num
expediente informal de impugnação às
decisões do juiz, sendo uma medida
imprópria, uma criação da prática
forense que não tem natureza jurídica
recursal1 e, por esse motivo, não tem
aptidão para suspender e nem
interromper prazos recursais.
O pedido de reconsideração pode
implicar reforma de uma decisão pelo
magistrado sempre que inexistir
preclusão pro judicato (ou sempre que,
para aqueles que condenam o uso da
expressão, não houver impedimento para
que o juiz volte atrás nas questões já
decididas, proferindo uma nova
decisão) ou, ainda, nos casos em que o
juiz pode alterar sua decisão sem que
haja qualquer manifestação da parte
nesse sentido. Bem por isso inexiste a
necessidade de formar o contraditório.
Outro enfoque que merece ser
recordado é o citado por Nelson Nery
Junior2 ao esclarecer que o pedido de
reconsideração guarda íntima relação
com o instituto da preclusão. Segundo o
autor, somente depois de afastada a
preclusão de determinado ato judicial é
que se pode falar em pedido de
reconsideração, lembrando ainda que,
na prática, o pedido de reconsideração
tem sido usado como expediente
alternativo quando deduzido na mesma
petição de interposição do agravo
retido. Inadmissível é tomar o pedido de
reconsideração como se agravo fosse
com a suspensão do prazo recursal. Se,
no entanto, a parte pedir reconsideração
e na mesma petição agravar, terá
garantido o conhecimento do recurso,
muito embora essa prática contrarie a
boa técnica processual.
Após estas brevíssimas
considerações acerca do pedido de
reconsideração, resta-nos tratar do
pedido de reconsideração
expressamente previsto no parágrafo
único do art. 527 do CPC.
Segundo a disposição legal, o
relator poderá reconsiderar a decisão
que: (i) converter o agravo de
instrumento em agravo retido (CPC, art.
527, II) e (ii) atribuir ou não efeito
suspensivo ao recurso ou deferir total ou
parcialmente a antecipação do mérito
recursal (CPC, art. 527, III).
Não poderá, entretanto, modificar a
decisão anteriormente proferida ao seu
mero talante. Para que isso ocorra, em
se tratando de decisão proferida com
base no art. 527, II, do CPC, deve
ocorrer pelo menos uma das seguintes
situações: a) que se tenha modificado a
situação de fato; b) que tenham sido
produzidas mais provas; c) que se tenha
alterado o grau de cognição do juiz a
respeito dos fatos.
A mera modificação de opinião
somente poderá ocasionar a
reconsideração da decisão se houver
efetivamente alguma alteração no plano
empírico, pois, do contrário, não
haveria segurança jurídica, uma vez que
poderia o relator, independentemente de
qualquer situação superveniente à
decisão proferida, voltar atrás.
Não se pode admitir, pura e
simplesmente, que o relator reconsidere
sua decisão, em razão de a parte
interessada ter, no pedido de
reconsideração, sido mais enfática,
expondo de uma maneira mais
convincente suas razões, de modo a,
nesse momento, convencer o relator.
Ora, se o relator, ao receber o
recurso de agravo de instrumento com
pedido de atribuição de efeito
suspensivo ou de efeito ativo (tutela
antecipada recursal), não se sentir
seguro ou tiver dúvida quanto à decisão
a ser tomada, necessitando de
esclarecimentos, a lei lhe dá a
possibilidade de solicitar informações
ao juiz a quo.
No que se refere à decisão do
relator que converte o regime do agravo
(CPC, art. 527, II), a reconsideração
também só poderá ocorrer se
efetivamente houver alteração no plano
fático que justifique o agravo seguir na
modalidade instrumentada.
Verificada a questão do pedido de
reconsideração, passemos, nos próximos
tópicos a tratar do cabimento ou não de
recurso contra a decisão do relator e das
consequências advindas de nosso
posicionamento.

5.2. A
IRRECORRIBILIDADE
DA DECISÃO DO
RELATOR (INCISOS
II E III DO ART. 527)
O parágrafo único do art. 527 do
Código de Processo Civil, é claro ao
estabelecer que a decisão com base nos
incisos II (conversão do agravo de
instrumento em agravo retido) e III
(concessão ou indeferimento de pedido
de efeito suspensivo ou antecipação de
tutela recursal ao agravo de instrumento)
do mesmo art. 527, é irrecorrível,
podendo ser reformada apenas por
ocasião do julgamento do agravo, “salvo
quando o relator a reconsiderar”.
Caso o agravante, formule o pedido
de reconsideração, visando à reforma da
decisão que lhe causava gravame pelo
próprio relator do agravo e a decisão
for mantida por seus próprios
fundamentos, seguindo a regra legal, não
lhe restará outra alternativa a não ser
aguardar o julgamento do recurso, que
poderá levar anos.
A Lei 11.187/2005 excluiu a
possibilidade de ser manejado o agravo
interno previsto no art. 557, § 1º, do
CPC, como ocorria antes de sua entrada
em vigor, mercê da revogação de trecho
do inciso II do art. 527 (que
mencionava, expressamente, ser cabível
contra a decisão de conversão do agravo
de instrumento em agravo retido, o
recurso de agravo (interno) para a turma
julgadora, no prazo de 5 (cinco) dias).
Diante de tal regra de se indagar
se, de fato, existem decisões
irrecorríveis ou não passíveis de
impugnação – (i) Passaram a ser
irrecorríveis as decisões liminares do
relator que convertem o agravo de
instrumento em agravo retido (art. 527,
II)? (ii) As decisões que concedem ou
denegam efeito suspensivo ou ativo
requerido pelo agravante (art. 527, III)
não admitem recurso e nem qualquer
tipo de impugnação?
A resposta, obviamente, deve ser
negativa.3
Ora, uma decisão interlocutória
proferida pelo relator do agravo de
instrumento não pode ser considerada
não impugnável, posto que, não decide o
mérito do recurso propriamente dito,
resolvendo apenas questão periférica, v.
g. a conversão em agravo retido, ou a
concessão de efeito suspensivo,
portanto, o recurso ainda será julgado,
qualquer que seja a decisão do relator,
pela turma julgadora.
Se a turma julgadora ainda
apreciará o mérito do recurso de agravo
de instrumento, porque impedir que o
mesmo órgão colegiado reveja a decisão
proferida, monocraticamente, pelo
relator?
Em razão de a lei federal
determinar a impossibilidade de recurso
contra tais decisões, inicia-se outra
discussão acerca do cabimento ou não
do agravo regimental, levando-se em
conta os regimentos internos dos
tribunais.
O Superior Tribunal de Justiça, por
sua segunda seção, por unanimidade, em
recurso relatado pelo Ministro Sidnei
Beneti,4 entendeu pelo cabimento do
agravo interno contra a decisão que
converteu o agravo de instrumento em
agravo retido quando houver expressa
previsão no regimento interno do
tribunal local, com a seguinte
fundamentação:
“No caso, contudo, como
assinalado pelo Acórdão recorrido,
existe, na lei que rege a organização
do Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, expressa previsão
de Agravo Regimental para
decisões unipessoais de Relatores,
de maneira que não se tem, no caso
desse Tribunal de Justiça, a lacuna
de previsão recursal, que tem sido a
base de admissibilidade do
Mandado de Segurança nos casos
dos precedentes lembrados.
Tem-se no Estado do Rio de
janeiro, a previsão do chamado
‘Agravinho’ de decisões unipessoais
para o órgão colegiado, para
decisões relativamente às quais não
se preveja outro recurso, como,
destaque-se, está no Acórdão
Recorrido, de que o Relator o E.
Des. Marcus Faver, com o
conhecimento regimental local
derivado do fato de haver sido do
Presidente daquele E. Tribunal de
Justiça”.5

Ousamos discordar de tal


precedente do Superior Tribunal de
Justiça, pois, de acordo com o princípio
da taxatividade somente poderá existir
recurso contra determinado ato se,
expressamente, previsto em lei federal.
Na verdade, a Constituição Federal
veda que os Estados e o Distrito Federal
legislem em matéria de processo, de
acordo com o disposto em seu art. 22, I,6
sendo, portanto, privativa da União
Federal a competência para legislar em
matéria de processo, incluindo-se a
previsão acerca do cabimento ou não de
recurso contra determinada decisão.
Em virtude de a competência em
matéria processual ser única e privativa
da União, não podem os regimentos
internos dos tribunais regulamentar
acerca de recursos expressamente
vedados ou não previstos pela lei
federal.7
As normas regimentais são apenas
relativas ao procedimento adotado pelos
tribunais, no julgamento dos agravos
contra as decisões monocráticas dos
desembargadores e ministros.8
De se destacar a opinião de Flávio
Cheim Jorge9, no sentido de ser
incabível o agravo interno e até mesmo
o agravo regimental contra a decisão
que concede o efeito suspensivo ao
agravo de instrumento:

“Esta era a espécie recursal até


então utilizada contra as decisões
monocráticas que concediam ou
negavam ‘efeito suspensivo’ ao
recurso de agravo de instrumento,
já que para aquelas que
determinavam a conversão do
instrumento em retido, havia
previsão expressa do agravo
interno.
A dúvida que surge neste momento
consiste em saber se, diante da
prescrição contida no parágrafo
único do artigo 527, ainda assim
poderá ser utilizado o agravo
regimental para as decisões
previstas nos incisos II e III do
artigo 527.
Entendemos que não.
No que diz respeito ao inciso III,
não há, como antes, omissão quanto
ao cabimento do agravo interno
capaz de justificar a interposição do
agravo regimental. O legislador foi
mais longe. Prescreveu a
impossibilidade de utilização de
recursos contra aquelas
interlocutórias, retirando assim a
competência dos tribunais para
regular o procedimento daquele.
Estabelecida pelo legislador
federal, a irrecorribilidade de
determinada decisão interlocutória
proferida, ipso facto, excluída está
a competência dos tribunais para
regulamentar o procedimento do
agravo, em decorrência da
inexistência de previsão legal do
cabimento recursal.
Portanto, por essas razões, é
impossível, após a vigência da Lei n
° 11.187/05, a interposição do
agravo regimental, contra as
decisões dos relatores que
concedem ou negam efeito
suspensivo ao agravo de
instrumento ou deferem, em
antecipação de tutela, a pretensão
recursal”.10

Não é diferente a interpretação da


questão da irrecorribilidade da decisão
acerca da concessão de efeito
suspensivo em agravo de instrumento11
ou da conversão do agravo de
instrumento em retido, em razão da
previsão legal do parágrafo único do
art. 527 do CPC, nos tribunais locais.
O TJRJ editou, em 18 de julho de
2011, a Súmula 245 que prevê
expressamente: “Incabível agravo
regimental contra as decisões de que
trata o artigo 527, incisos II e III do
Código de Processo Civil”.
Esta, aliás, é a posição do TJRS,
consoante se vê dos seguintes julgados:

“Agravo. Decisão que converteu o


agravo de instrumento em agravo
retido. Irrecorribilidade. Descabe
recurso de agravo interno sobre
decisão que converte agravo de
instrumento em retido. Inteligência
do parágrafo único do artigo 527, II,
do Código de Processo de Civil.
Recurso não conhecido”.12
“Agravo interno. Conversão do
agravo de instrumento em agravo
retido. Art. 527, parágrafo único, do
CPC. Irrecorribilidade. Da decisão
que converte em retido o agravo de
instrumento (art. 527, II, do CPC)
não cabe recurso, sendo somente
passível de retratação pelo relator
ou de reforma quando do
julgamento do recurso (art. 527,
parágrafo único, do CPC). Doutrina
e precedentes desta Corte
colacionados. Não conheceram do
recurso. Unânime”.13
“Agravo interno. Conversão de
agravo de instrumento em agravo
retido. Irrecorribilidade. A decisão
que converte agravo de instrumento
em sua espécie retida não se
amolda ao recurso previsto pelo art.
557, § 1º, do Código de Processo
Civil, e, portanto, por falta de
previsão legal, é irrecorrível.
Ademais, gize-se que o parágrafo
único do art. 527, com a redação
dada pela Lei 11.187/05, ao afirmar
que a decisão acerca da conversão
do agravo de instrumento em agravo
retido somente é passível de
reforma no momento do
julgamento do agravo, deixa
expresso o caráter de
irrecorribilidade de tal decisão.
Agravo interno não conhecido.
Unânime”.14

Tendo em vista tal interpretação, ou


seja, a impossibilidade de manejo de
recurso contra a decisão do relator,15
que reputamos ser a mais correta,
devemos encontrar outra saída para que
tais decisões não se tornem definitivas.

5.3. DO CABIMENTO DO
MANDADO DE
SEGURANÇA
CONTRA O ATO
JUDICIAL
5.3.1. A interpretação de
acordo com as Leis
1.533/51 e 12.016/09
Antes da reforma imposta pela Lei
11.187/2005, o art. 527, II, do CPC
disciplinava que a decisão do relator
que convertia o agravo de instrumento
em retido desafiava recurso de agravo
para o órgão colegiado competente no
prazo de 5 (cinco) dias. Já quanto à
decisão do relator com base no inciso II
do mesmo dispositivo legal, poderia ser
revista por meio de agravo interno ou
regimental.
Uma coisa era certa: o sistema
recursal pátrio, seja para a decisão de
conversão seja para a decisão que
negava a atribuição de efeito ativo ou
suspensivo, dispunha de um meio
eficiente para evitar a lesão ou a ameaça
de direito.
Resta-nos, agora, saber se, diante
da alteração legislativa, o sistema
propicia ao jurisdicionado meio hábil
para revisão de tal decisão. Com isso,
precisamos analisar se o remédio
previsto pela lei ordinária para reformar
as decisões do relator com base nos
incisos II e III do art. 527 é eficaz,
eficiente e operativo para o recorrente.
Segundo dispõe o parágrafo único
do art. 527 do CPC, a decisão do
relator, com base nos incisos em análise,
caso não haja reconsideração, somente
poderá ser reformada por ocasião do
julgamento do recurso.16
Em razão da impossibilidade de
utilização de qualquer recurso e diante
do disposto no art. 5º, II, da Lei
1.533/51,17 vigente à época da reforma
do agravo pela Lei 11.187/05, era
perfeitamente viável a conclusão pela
admissibilidade de manejar o mandado
de segurança contra o ato judicial que se
fundar nos incisos II e III do art. 527 do
CPC, como sucedâneo recursal.
A posição majoritária no campo
doutrinário admitia o cabimento do
mandado de segurança contra ato
praticado por autoridade judicial, como
se lê dos doutos ensinamentos de Teresa
Arruda Alvim Wambier,18 aqui
colacionados:

“A propósito, é interessante notar


que já se decidiu, antes da Lei
11.187/2005, que não cabia
mandado de segurança contra a
decisão do relator que concedesse
ou não efeito suspensivo a agravo
de instrumento, em razão da
possibilidade de se interpor
agravo interno contra essa
decisão. Assim, se coerente com
esta ordem de ideias, passará a
jurisprudência a admitir mandado se
segurança contra a decisão do
relator, nos casos em que, de
acordo a recentíssima Reforma, tal
decisão é irrecorrível.
O fato de a restrição decorrer de lei
federal e não como ocorria
anteriormente à Lei 11.187/2005,
de normas de regimentos de
tribunais, não conduz a resultado
diverso. É que, consoante
observamos no item 6.1, o art. 5º,
inc. LXIX, autoriza que se impetre
mandado de segurança contra ato de
juiz e, além disso, o art. 5º, inc. II,
da Lei 1533/51, também o autoriza,
na linha da Constituição (e não
poderia ser o contrário sob pena de
a lei ser inconstitucional).
Trata-se, portanto, de decisão que,
uma vez presentes os respectivos
requisitos podem ser corrigidas
pela via do mandado de
19
segurança”.

Vários são os julgados que, no


Superior Tribunal de Justiça,20
decidiram pelo cabimento de mandado
de segurança contra o ato judicial, desde
que relevante o fundamento e haja risco
de lesão de difícil reparação, dentre os
quais destacamos:

“Processual civil. Recurso


ordinário em mandado de
segurança. Cabimento do writ of
mandamus contra decisão que
determinou a conversão de agravo
de instrumento em retido. Art. 527,
II, e parágrafo único, do CPC. Lei n.
11.187/2005. Possibilidade,
contanto que configurado risco ou
lesão de difícil reparação. 1. A
reforma legislativa para restrição
do agravo de instrumento, iniciada
com a Lei 10.352/2001, findou
com o novel diploma legal (Lei
11.187/2005), já que tornou
irrecorrível a decisão do relator que
converte o agravo de instrumento
em retido (...)”.21

Diante de nosso posicionamento do


cabimento de mandado de segurança
contra a decisão do relator, em virtude
do disposto no art. 5º, II, da Lei
1.533/51, devemos examinar se tal
possibilidade permanece válida diante
da nova Lei do Mandado de Segurança.
O art. 5º, II, da Lei 12.016/2009,
prevê que não se concederá mandado de
segurança quando se tratar “de decisão
judicial da qual caiba recurso com
efeito suspensivo”.
Concordamos com a interpretação
dada, ao inciso II do art. 5º da nova Lei
do Mandado de Segurança, por Bruno
Garcia Redondo, Guilherme Peres de
Oliveira e Ronaldo Cramer, no sentido
de ser a redação do dispositivo de lei
tecnicamente imprópria, já que não há
como se prever “o cabimento irrestrito
de mandado de segurança para impugnar
toda e qualquer decisão judicial contra a
qual seja cabível recurso desprovido de
efeito suspensivo”.22
A regra deve ser interpretada
consoante o modelo constitucional do
processo, ou seja, apenas se admitirá o
mandado de segurança quando o sistema
processual civil não tiver previsão
recursal alguma capaz de, por si só,
evitar que se perpetre lesão grave e
irreparável ou de difícil reparação.
Como bem observa Cassio
Scarpinella Bueno,23 sempre que houver
como se obter a suspensão da eficácia
da decisão recorrida, mediante a
interposição de recurso com efeito
suspensivo ope legis ou ope iudicis,24
não há que se falar em “mandado de
segurança contra ato judicial à mingua
de interesse jurídico na impetração”.25
Portanto, de se concluir, que a nova
regra deve ser interpretada tal e qual a
anterior,26 ou seja, inexistirá interesse
processual ao mandado de segurança
quando for possível ao impetrante,
interpor recurso como meio de
“impugnação da decisão ilegal ou
abusiva que seja capaz de resguardar
seu direito, tutelando-o de forma efetiva
e tempestiva”.27
Significa dizer que, em decorrência
da expressa previsão de não cabimento
de qualquer recurso pelo art. 527,
parágrafo único, do CPC, mesmo com a
nova Lei do Mandado de Segurança,
reputamos como perfeitamente possível
a impetração do writ,28 desde que
demonstrado direito líquido e certo, ou
seja, que seja relevante a
fundamentação.29-30
Este é, aliás, o posicionamento
pacífico e atual no Superior Tribunal de
Justiça.31
__________
1 O pedido de reconsideração serve para que
a parte peça a reformulação da decisão,
porém não pode ser considerado como tal,
eis que não há: (i) procedimento, (ii) prazo,
(iii) preparo, (iv) razão e formação de
instrumento, diferentemente dos recursos,
que possuem em sua previsão legal todos
esses quesitos. Como anotou Teresa Arruda
Alvim Wambier (Os agravos..., cit., n. 8.9,
p. 530), “são, os pedidos de
reconsideração, desprovidos, pois, de
status de instrumento jurídico, pois só
podem existir quando de decisões, em
relação às quais não há preclusão para o
juiz, se tratar. Estes pomposamente
chamados ‘pedidos de reconsideração’
equivalem a um pedido oral da parte para
que o juiz ‘pense melhor’, em relação a
uma decisão que ele poderia modificar sem
que houvesse ‘pedido de reconsideração’
algum”.
2 Teoria..., cit., p. 93.
3 Em sentido contrário, na jurisprudência,
entendendo ser absolutamente inatacável a
decisão do relator com base no art. 527, III,
do CPC: TJSP, Ag.Rg. 7.088.627-4/01, 10º
Grupo de Câmaras de Dir. Privado, Rel.
Des. Francisco Giaquinto, v. u., j.
10.10.2006, DOE de 19.12.2006, assim
ementado: “Agravo regimental – Negativa
liminar de seguimento em mandado de
segurança – Art. 527, § único, CPC –
Irrecorribilidade da decisão que concede
efeito suspensivo a agravo de instrumento,
impossibilidade de utilização do
mandamus como supedâneo à nova
sistemática legal de irrecorribilidade –
Agravo regimental a que se nega
provimento” (sic).
4 STJ, RMS 26.828/RJ, 2ª seção, rel. Min.
Sidnei Beneti, j. 26.08.2009, DJe
28.10.2009: “Recurso Ordinário em
Mandado de Segurança. Mandado de
Segurança impetrado contra decisão do
Relator que converte o Agravo de
Instrumento em Agravo Retido.
Descabimento no caso de haver previsão de
recurso no Regimento Interno do Tribunal
como ocorre no Estado do Rio de Janeiro
– o chamado ‘Agravinho’. I. Havendo
previsão, no âmbito do Tribunal de origem,
de recurso interno, como, no caso, o
chamado ‘Agravinho’, para decisões
unipessoais do Relator, não cabe Mandado
de Segurança contra decisão do Relator que
transforma o Agravo de Instrumento em
Agravo Retido, incidindo no caso a Súmula
267/STF. II. Recurso Ordinário em
Mandado de Segurança improvido”.
5 Concluindo o voto do relator que: “A
orientação presente prestigia, ademais, a
autoridade dos Tribunais locais, tornando
prescindível o ‘salto’ do caso
prematuramente a este Tribunal, de
competência nacional, somente após
esgotados todos os instrumentos
processuais existentes na origem”.
6 “Compete privativamente à União legislar
sobre: I – direito civil, comercial, penal,
processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho”.
7 TJAL, EAC 2005.002563-6-AL, rel. Des.
Humberto Eustáquio Soares Martins, j.
11.01.2006: “Disposição regimental é
norma administrativa: pela vedação
constitucional, não podem os tribunais
inserir a criação de recursos em seu
regimento interno, tornando-os inócuos e
ineficazes”.
8 Art. 24 da CF: “Compete à União, aos
Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...) XI.
Procedimentos em matéria processual”.
9 A nova disciplina de cabimento do
recurso de agravo: Lei n° 11.187, de
19/10/2005. Revista do Advogado. São
Paulo: AASP, n. 85, maio de 2006, p. 145 e
146.
10 No mesmo sentido, entendendo incabível o
agravo interno ou regimental: Athos
Gusmão Carneiro. Do recurso de agravo
e suas alterações pela Lei nº 11.187/05.
In: Adroaldo Furtado Fabrício (Coord.).
Meios de impugnação ao julgado civil –
estudos em homenagem a José Carlos
Barbosa Moreira. Rio de Janeiro:
Forense, 2007, p. 127; Luiz Fux. Curso de
direito processual civil. 4ª ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2008, v. 1, p. 846; Pedro
Miranda de Oliveira. Agravo interno...,
cit., n. 3.5.1.2, p. 161 a 175.
11 De serem colacionadas as ementas de três
julgados, proferidos pelo TJSP em sentido
diametralmente oposto ao cabimento de
agravo interno ou regimental: “Recurso –
Agravo regimental – Decisão monocrática
que nega efeito suspensivo a agravo de
instrumento – Descabimento – Ausência de
previsão de sua interposição pelo CPC –
Recurso não conhecido”.(TJSP, Agravo
Regimental nº 530.228-5/0-01, 9ª Câm. de
Direito Público, rel. Des. Décio
Notarangeli, j. 29.03.2006); “Agravo
regimental. Decisão que nega efeito
suspensivo a agravo de instrumento.
Irrecorribilidade do ato. Aplicação do
disposto no artigo 527, parágrafo único, do
Código de Processo Civil, com a redação
da Lei n. 11.187/05. Agravo regimental não
conhecido”. (TJSP, Agravo Regimental n°
451.370-4/7, 3ª Câm. de Direito Privado,
Rel. Des. Donegá Morandini, j.
30.05.2006); “Recurso – Agravo
Regimental – Decisão concessiva ou
denegatória de pedido de efeito suspensivo
ao agravo de instrumento – Descabimento
– Ausência de previsão de sua interposição
no Código de Processo Civil –
Competência legislativa privativa da União
Federal, não inserida na competência
concorrente dos Estados – Artigo 22, I, da
Constituição Federal – Recurso não
conhecido”.(TJSP, Agravo Regimental n°
464.220.5/9-1, 14ª Câm. de Direito
Público, Rel. Des. Gonçalves Rostey, j.
26.04.2006). Como se não bastassem os
três acórdãos cujas ementas se acham
transcritas, assim também foi decidido em
mais de uma dezena de julgados, todos do
TJSP, tais como: JTJ 202/288; JTJ
203/229; nos Agravos Regimentais n°
406.093-4/0-01, da 3ª Câmara de Direito
Privado; 456.657-5/9-01, da 5ª Câm. de
Direito Público; no AI 212.229-4/0, da 2ª
Câmara de Direito Privado; e no MS
18.627-4, do 10° Grupo de Câmaras de
Direito Privado.
12 TJRS, Agravo 70032691131, 17ª Câm.
Cível, rel. Des. Luiz Renato Alves da Silva,
j. 21.01.2010.
13 TJRS, Agravo 70033422874, 6ª Câm.
Cível, rel. Des. Luís Augusto Coelho
Braga, j. 10.12.2009.
14 TJRS, Agravo 70029407681, 9ª Câm.
Cível, rel. Des. Odone Sanguiné, j.
13.05.2009.
15 STJ, AgRg no AREsp 416.472/PE, 1ª T.,
rel. Min. Sergio Kukina, j. 21.11.2013, DJe
29.11.2013: “(...) 2. Nos termos do
disposto no parágrafo único do art. 527 do
CPC, a decisão que converte o agravo de
instrumento em agravo retido é
irrecorrível, sendo facultado à parte apenas
formular pedido de reconsideração ao
próprio relator. 3. Agravo regimental a que
se nega provimento”. No mesmo sentido:
STJ, AgRg no Ag 937586/MG, 4ª T., rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, j. 7.04.2011,
DJe 28.04.2011.
16 Destacamos, nesse passo, nossa
observação feita na primeira edição desta
obra, sobre a incoerência do legislador em
excluir da lei a admissibilidade de recurso
contra as decisões dos incisos II e III do
art. 527 do CPC: Antonio Notariano Jr. e
Gilberto Gomes Bruschi. Agravo contra
as decisões de primeiro grau. São Paulo:
Método, 2006, p. 108: “Ora, de que adianta
para o agravante, em caso de ser negado o
efeito suspensivo ou ativo, somente poder
rever a decisão por ocasião do julgamento
do recurso se continuará suportando até lá
os efeitos maléficos da decisão que se
pretende reformar. (...) Destarte, em nosso
sentir, dispor que a decisão somente poderá
ser revista por ocasião do julgamento do
recurso de agravo é o mesmo que nada, haja
vista que a solução prevista na lei ordinária
não é eficiente, sendo perfeitamente
cabível o mandado de segurança contra ato
judicial”.
17 “Art. 5º. Não se dará mandado de segurança
quando se tratar: (...) II. de despacho ou
decisão judicial, quando haja recurso
previsto nas leis processuais ou possa ser
reformado por via de correição”.
18 Os agravos..., cit., p. 451.
19 Cf. Rodrigo da Cunha Lima Freire.
Reforma do CPC – Leis 11.187/2005,
11.232/2005, 11.276/2006, 11.277/2006 e
11.280/2006. São Paulo: RT, 2006, p. 70 a
72; Clito Fornaciari Júnior. O renascer do
mandado de segurança contra ato
jurisdicional. Revista do Advogado. São
Paulo: AASP, n. 85, maio, 2006, p. 128;
Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery. Código de Processo
Civil..., cit., p. 777, notas 42 a 45 ao art.
527 do CPC; Humberto Theodoro Júnior.
Humberto Theodoro Júnior, Curso...,
cit., n. 553-a, v. 1, p. 662; Marcus Vinícius
Rios Gonçalves. Novo Curso de Direito
Processual Civil. 10ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2014, v. 2, p. 125; Athos Gusmão
Carneiro. Do recurso..., cit., p. 128;
Marcos Destefenni. Curso de processo
civil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, v. 1,
t. II, n. 23.4.10, p. 541 e 542; Daniel
Amorim Assumpção Neves. Manual..., cit.,
p. 681; entre outros.
20 STJ, RMS 23.536/BA, 1ª T., rel. Min. Teori
Albino Zavascki, j. 18.03.2008, DJ
16.04.2008, p. 1: “Processual civil.
Mandado de segurança impetrado contra
conversão de agravo de instrumento em
agravo retido. Decisão que causa lesão
grave e de difícil reparação. Recurso
ordinário provido”.
21 STJ, RMS 28.883/PA, 1ª T., rel. Min.
Benedito Gonçalves, j. 03.09.2009, DJe
14.09.2009. No voto do relator foram
destacados os seguintes precedentes: RMS
25.934/PR, Corte Especial, rel. Min.
Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe
09.02.2009; RMS 20.436/SP, 2ª T. rel.
Min. Castro Meira, DJe 04.05.2009; RMS
21.469/MG, 5ª T., rel. Min. Laurita Vaz,
DJe 19.12.2008; e RMS 27.501/SP, 1ª T.,
rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe
03.12.2008.
22 Mandado de segurança – comentários à
Lei 12.016/2009. São Paulo: Método,
2009, p. 83, onde prelecionam: “Caso
contrário consagraria hipóteses absurdas.
Afinal, todos os recursos previstos no
sistema processual do trabalho são
desprovidos de efeito suspensivo legal (art.
899 da CLT). Do mesmo modo, o agravo de
instrumento, cabível no sistema processual
civil contra as decisões interlocutórias (art.
522), também é desprovido de efeito
suspensivo ope legis. Estaria, assim, o
dispositivo da nova Lei do Mandado de
Segurança admitindo sua impetração contra
todas as sentenças trabalhistas, e contra
todas as decisões interlocutórias civis? É
evidente que a resposta deve ser negativa”.
23 A nova Lei do Mandado de Segurança.
São Paulo: Saraiva, 2009, p. 21.
24 Na jurisprudência, decidindo com base na
nova lei: TJSP, MS 991.09.030213-4, 11ª
Câm. de Direito Privado, rel. Des. Gilberto
dos Santos, j. 12.11.2009: “O mandado de
segurança não é meio adequado para atacar
decisão judicial suscetível de recurso
próprio”; TJSP, MS 664.008-4/4-00, 3º
Grupo de Câmaras de Direito Privado, rel.
Des. Vito Guglielmi, j. 05.11.2009:
“Mandado de segurança. Ato impugnado.
Acórdãos proferidos em apelação cível e
embargos de declaração. Alegada nulidade
dos arestos por ausência de publicação do
nome completo do patrono dos
impetrantes. Inadmissibilidade. Hipótese
de decisão recorrível via recurso especial.
Observância do art. 5°, II, da Lei n.
12.016/09 e da Súmula 267 do STF. Falta
de interesse processual. Segurança
denegada”; TJSP, MS 983.164-5/5-00, 11ª
Câm. de Direito Público, rel. Des. Luis
Ganzerla, decisão monocrática, j.
03.11.2009, de onde se extrai o seguinte
trecho: “E não se altera a sequência do
julgamento, à luz da nova legislação a
respeito do mandado de segurança (Lei n.º
12.016/09, de 07.08.09), em vigor desde
10.08.09, com o disposto no art. 5.º, II, o
qual expressa não ser cabível a concessão
da segurança quando se tratar de decisão
judicial da qual caiba recurso com efeito
suspensivo. Efetivamente, na forma do art.
558, do Cód. Proc. Civil, no agravo interno,
o relator – além da retratação, art. 557, §
1.°, do Cód. Proc. Civil – tem a
possibilidade de atribuir efeito suspensivo,
vedada, destarte, a via do mandamus”.
25 A nova Lei..., cit., p. 21 e 22, onde elucida
a questão: “Inversamente, toda vez que o
sistema recursal não tiver aptidão para
evitar a consumação de lesão ou ameaça na
esfera jurídica do recorrente, toda vez que
não se aceitar uma interpretação ampla
suficiente das regras processuais para
evitar dada situação de ameaça ou de lesão
ao recorrente, o mandado de segurança
contra ato judicial tem pleno cabimento.
Cabe, a bem da verdade, para salvaguardar o
direito do recorrente e como forma de
colmatar eventual lacuna decorrente da
ineficiência do sistema recursal”.
26 No mesmo sentido: Humberto Theodoro
Júnior. O mandado de segurança segundo
a Lei n. 12.016, de 07 de agosto de 2009.
Rio de Janeiro: Forense, 2009, n. 6, p. 16:
“A exegese, embora assentada sobre o
direito revogado, mantém-se compatível
com o direito novo. Sendo assim, a atual
regra de que não cabe mandado de
segurança contra decisão judicial sujeita a
recurso dotado de efeito suspensivo (art.
5º, II) conduz à manutenção das mesmas
teses consagradas antes da Lei n. 12.016,
podendo-se afirmar que, acerca do tema, a
nova legislação, mesmo usando linguagem
diversa, nada alterou quanto ao
posicionamento jurisprudencial consagrado
ao tempo da Lei n. 1.533”.
27 Cf. Bruno Garcia Redondo, Guilherme
Peres de Oliveira e Ronaldo Cramer.
Mandado..., cit., p. 84; André Vasconcelos
Roque e Francisco Carlos Duarte.
Mandado de segurança – Comentários à
Lei 12.016/09. Curitiba: Juruá, 2011, p. 38
e 39.
28 No mesmo sentido: José Miguel Garcia
Medina e Fábio Caldas de Araújo.
Mandado de segurança individual e
coletivo. São Paulo: RT, 2009, p. 77: “O
art. 5º, II, da Lei 12.016/2009 deixa claro
que o mandado de segurança não substitui
recurso taxativamente previsto pelo
sistema (art. 496 do CPC)”. (...) “Há, ainda,
hipótese interessante, que é a do parágrafo
único do art. 527 do CPC. Não se
admitindo recurso contra tal
pronunciamento judicial, deve ser aceito,
no caso, o manejo de mandado de
segurança”.
29 Cf. Flávio Cheim Jorge. Teoria geral dos
recursos cíveis. 5ª ed. São Paulo: RT,
2011, n. 10.4.2.4, p. 252; Eduardo Arruda
Alvim. Mandado de Segurança. 3ª ed. Rio
de Janeiro: GZ, 2014, p. 357.
30 Súmula 26 do TJMG, editada em 2006:
“Deve ser indeferida a inicial de mandado
de segurança proposto contra decisão do
Relator que converte agravo de instrumento
em agravo retido, salvo em caso de dano
irreparável”.
31 AgRg nos EDcl no RMS 36.391/PR, 2ª T.,
rel. Min. Herman Benjamin, j. 22.04.2014,
DJe 22.05.2014; RMS 32.418/PR, 4ª T.,
rel. Min. Raul Araújo, j. 04.06.2013, DJe
12.08.2013; AgRg no Ag 1.307.189/SC, 3ª
T., rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
08.05.2012, DJe 14.05.2012; AgRg no
RMS 31787/CE, 1ª T., rel. Min. Hamilton
Carvalhido, j. 9.11.2010, DJe 17.12.2010;
RMS 25.949/BA, 1ª T., rel. Min. Luiz Fux,
j. 4.03.2010, DJe 23.03.2010.
CASOS EM QUE O
AGRAVO RETIDO
SERIA INÓCUO
O recurso de agravo vem sofrendo
ao longo dos anos inúmeras reformas.
Anteriormente, teve sua sistemática
modificada por força da Lei
10.352/2001, que, entre outras
modificações, alterou o procedimento
do regime do agravo de instrumento para
autorizar o relator a converter o agravo
interposto pelo regime instrumentado em
agravo retido, caso a matéria não
versasse provimento jurisdicional de
urgência ou não houvesse perigo de
lesão grave ou de incerta reparação.
O escopo da alteração foi a
diminuição do elevado número de
agravos de instrumento que tramitam nos
tribunais, e que acabam por emperrar
suas pautas de julgamento, de modo que
outros recursos ficam represados por
longos anos aguardando até seu final
deslinde.
Com a Lei 11.187/2005, buscou-se
fazer que as decisões interlocutórias que
não versem sobre provimentos de
urgência desafiem o recurso de agravo
pelo regime retido, restando ao tribunal
julgar os eventuais agravos interpostos
sob tal regime em um momento único,
qual seja por ocasião do julgamento do
recurso de apelação, desde que seja
reiterado o pedido de julgamento em
preliminar das razões ou contrarrazões
de apelação.
Nada obstante, embora tenha o
legislador reservado ao agravo de
instrumento somente aquelas situações
previstas na parte final do art. 522 do
CPC, suprimindo da parte a escolha
quanto ao regime, há situações em que,
mesmo não estando diante das hipóteses
apontadas na lei, o agravo deverá ser de
instrumento, conforme se demonstrará a
seguir.
O processo, como concatenação
lógica de atos que encerram o
procedimento por meio do qual se faz
prestar a tutela jurisdicional, é cercado
de preclusões.
A importância da existência da
preclusão no processo civil está em
possibilitar que o processo caminhe
adiante, sem que haja repetição
inoportuna de atos e até mesmo seu
retrocesso.
Com efeito, no curso do processo o
juiz profere decisões que, na hipótese de
causarem gravame à parte, desafiam o
recurso de agravo, em face do princípio
da recorribilidade das decisões
interlocutórias vigente no direito
processual civil pátrio.1
Proferida a decisão judicial sobre
determinada matéria, causando gravame
para quaisquer das partes, abre-se a
estas a possibilidade de recorrer
visando, além da reforma da decisão,
impedir que sobre elas recaia o
fenômeno da preclusão,
impossibilitando, com isso, a
rediscussão posterior da matéria.
Assim, determinadas matérias não
estão sujeitas à preclusão, podendo ser
alegadas em qualquer tempo e grau de
jurisdição (CPC, art. 267, § 3.º), sendo
elas: os pressupostos processuais, a
coisa julgada, a litispendência, a
perempção e as condições da ação.
Mesmo não havendo manifestação
das partes sobre tais questões, caso
sejam verificadas pelo juiz ou tribunal,
poderão perfeitamente ser conhecidas e,
mesmo deixando a parte de fazer a
alegação por ocasião da defesa, nada
impede que o faça posteriormente;2
contudo, responderá pelas custas do
retardamento.
Como bem assevera Nelson Nery
Junior,3 “para verificarmos se há ou não
preclusão para o juiz em determinada
hipótese, é preciso que se analise o tipo
de matéria objeto da decisão
interlocutória. Sendo a decisão
recorrível e versando sobre matéria de
direito disponível, se a parte não
interpuser o agravo a questão estará
inexoravelmente preclusa, a teor CPC
471. Se recorrível, tendo por objeto
matéria de ordem pública ou de direito
indisponível, mas dela não interpuser
agravo, não haverá incidência da
preclusão, segundo CPC 267, § 3.º, e
471, II”.
O legislador reformista, ao
transformar em regra o agravo retido,
tirando a opção do agravante, com
exceção dos casos taxativamente
autorizados, criou a falsa premissa de
que para que o agravo se processe pelo
regime instrumentado, deva apenas ser
interposto quando existir perigo de lesão
de difícil reparação.
Tal premissa é falsa, como já se
disse, pois, se a decisão atacada for
equivocada, certamente ocorrerá a
protelação da decisão final da demanda,
que, por conseguinte, criará despesas
desnecessárias e, pior de tudo, cerceará
o direito de defesa ou violará o devido
processo legal, negando-se com isso, em
última análise, o acesso à justiça.
Como é cediço, o recorrente deve
preencher os pressupostos de
admissibilidade do recurso, dentre eles
o interesse recursal.
O interesse em recorrer centra-se
no binômio necessidade + utilidade.
Com isso, vê-se na necessidade a
imprescindibilidade do uso do recurso
para obtenção da situação mais
favorável; já na utilidade, verifica-se a
possibilidade de o recurso interposto
ser apto a propiciar ao recorrente uma
situação mais vantajosa do ponto de
vista prático.4
Barbosa Moreira, com a acuidade
que lhe é peculiar, encontra o cerne da
questão do interesse em recorrer.
Segundo ele, “o problema do interesse
em recorrer tem de ser estudado
separadamente em relação a cada uma
dessas categorias [necessidade –
utilidade]. E neste contexto, mais do que
em qualquer outro, avulta a relevância
do princípio da necessidade. A ideia
que nos há de orientar na pesquisa é a de
que não se deve admitir o recurso senão
quando a interposição dele seja o único
remédio capaz de ministrar garantia
plena contra o ato judicial. Desde que
por via mais simples, sem qualquer
gravame, pudesse o recorrente obter
total proteção, deixa o recurso de ser
necessário e, por conseguinte, falta o
interesse em recorrer”.5
O agravo retido, por sua vez, tem
por finalidade afastar a preclusão da
matéria versada na decisão
interlocutória. A matéria objeto da
decisão interlocutória proferida e
versada no agravo retido não é
considerada de vital importância, capaz
de gerar à parte prejuízo que necessite
ser prontamente evitado. Mas para que
sobre ela possa eventualmente haver
discussão posterior, a parte poderá
lançar mão do agravo retido, impedindo
a ocorrência do fenômeno da preclusão
e, consequentemente, a possibilidade de
rediscuti-la posteriormente.
O agravo retido deve ser
interpretado como importante
instrumento estrategicamente incluído no
CPC com a finalidade de se evitar a
preclusão da faculdade de impugnação
de decisão interlocutória.
Resta claro, então, que o agravo
retido tem a função de não deixar
precluir o direito de impugnar a decisão
interlocutória proferida.
Em razão da falsa premissa criada
em decorrência do disposto no inciso II
do art. 527 do CPC, com a redação dada
pela Lei 10.352/2001, posteriormente
modificada pela Lei 11.187/2005, não
são raros os casos em que os agravos de
instrumento tirados em face de decisões
interlocutórias que versam matéria de
ordem pública são convertidos em
agravo retido, ante a falta de provisão
jurisdicional de urgência ou de perigo
de lesão grave e de difícil ou incerta
reparação.6
Em decorrência disso, surge a
seguinte indagação: é possível a
interposição de agravo de instrumento
em face de decisão interlocutória que
versa matéria de ordem pública, mesmo
a lei deixando claro que a regra é o
agravo retido?
A questão não é nova. Porém,
diante da nova regra, torna-se salutar
reavivar a discussão.
Nelson Nery Junior entende que a
hipótese não é de falta de interesse na
apresentação do agravo retido, mas sim
de irrelevância do recurso.7
Arruda Alvim, por sua vez,
concluiu pela falta de interesse da parte
em agravar na forma retida quando
tratar-se de matérias de ordem pública,
pois tais matérias são automaticamente
devolvidas para o tribunal por ocasião
do recurso de apelação, sendo, portanto,
dispensável a interposição de agravo
retido.8
Quando a matéria versada na
decisão interlocutória for de ordem
pública, o agravo deverá seguir o
regime instrumentado, sendo, por
consequência, vedado ao relator
convertê-lo em retido.
O fato de as matérias de ordem
pública não precluírem e de o agravo
retido ter por finalidade impedir a
preclusão da faculdade de impugnar a
decisão judicial acaba por retirar do
recorrente o interesse em recorrer
retidamente, e, da mesma forma,
impossibilita o relator de aplicar o
disposto do inciso II do art. 527 do
CPC.
Isso porque as matérias de ordem
pública são automaticamente
transferidas ao conhecimento do tribunal
por ocasião do recurso de apelação,
veículo hábil à reiteração do julgamento
do agravo de retido, o que torna
despicienda a interposição do recurso.
Daí se extrai que não há interesse
na interposição de agravo retido que
tenha por objeto matérias não sujeitas à
preclusão, em razão de não ser o agravo
retido o único meio apto a resguardar o
direito da parte contra o ato judicial
perpetrado. Ao contrário, é o meio mais
complexo, pois demandará a
necessidade do exercício ou não do
juízo de retratação por parte do juiz de
primeiro grau e da intimação do
agravado para apresentação de
contraminuta, ao passo que a mesma
matéria versada no agravo será
transferida ao conhecimento do tribunal,
em razão da interposição do recurso de
apelação, ou seja, o mesmo efeito
almejado pelo recorrente poderá ser
obtido de maneira mais simples. Com
efeito, o recurso não é necessário.
O entendimento de Flávio Cheim
Jorge9 não destoa do supramencionado.
Em seus comentários à reforma do
Código de Processo Civil, afirmou que
“pela própria ratio essendi do agravo
retido, conclui-se que faltará interesse
recursal ao agravante sempre que estiver
diante de uma decisão interlocutória não
alcançada pela preclusão, bem como
diante de uma decisão calcada na
urgência”.
Justificando seu pensamento,
Cheim afirma que “a razão para essa
assertiva reside no fato de o agravo
retido ser julgado juntamente com o
recurso de apelação interposto, como
uma preliminar deste. Desse modo,
somente justifica a interposição desse
recurso se a parte não puder aguardar o
julgamento do recurso de apelação ou
não puder insurgir-se na apelação contra
decisão interlocutória proferida”.
Mais adiante conclui: “Exatamente
por esse motivo não há interesse na
interposição do agravo retido contra a
decisão proferida na audiência
preliminar a respeito das condições da
ação e dos pressupostos processuais”.
Ademais, a parte não é obrigada a
suportar os males de um processo que
não reúne condições de obter um
provimento jurisdicional de mérito,
devendo as decisões que tenham o
condão de extingui-lo desafiar o agravo
pelo regime instrumentado, não
podendo, consequentemente, o relator
aplicar em tais casos o disposto no art.
527, II, do CPC.10

6.1. AS DECISÕES
PROFERIDAS EM
PROCESSO DE
EXECUÇÃO
De outra parte, afora as decisões
que não desafiam recurso de agravo
retido em razão do seu objeto versar
sobre matéria que não gera preclusão, as
decisões proferidas no processo de
execução também não poderão ser
objeto de agravo sob tal modalidade.11
Como se sabe, o processo de
execução é um processo de satisfação,
onde há a prática de atos materiais com
a finalidade de realizar o direito
estampado no título executivo, de tal
sorte que no curso do processo o juiz
profere diversas decisões
interlocutórias, passíveis, portanto, de
serem objeto de recurso de agravo.
Ocorre que, embora a lei, diante da
nova sistemática, determine que não se
tratando dos casos previstos no art. 522,
parte final, do CPC o agravo deverá ser
retido, no processo de execução não há
interesse recursal na interposição sob tal
regime, exatamente em razão da
satisfatividade dos atos praticados
(realização do direito), sendo certo que
a execução forçada termina normalmente
com a exaustão de seus atos e com a
satisfação de seu objeto, culminando
com uma sentença que a extingue, ante
tal ocorrência (CPC, art. 794).12
Destarte, com bem aponta Araken
de Assis, ao tratar da recorribilidade
das decisões interlocutórias proferidas
no curso do processo de execução,
“faltará à parte, ao interpor o agravo
retido, impropriamente, interesse em
recorrer da interlocutória. Quando ele [o
agravo retido] chegar à apreciação do
órgão ad quem, o ato decisório já
produziu efeitos irreversíveis”.13
Um dos coautores do presente
trabalho já teve a oportunidade de
sustentar acerca da decisão que defere
ou indefere, apreciando ou não a questão
de fundo, a exceção ou a objeção de
pré-executividade, não havendo que se
falar em agravo retido em razão da
urgência para que se veja, desde logo,
extinta a execução ou que seja feita a
adequação do processo em relação ao
previsto no título ou, ainda, em virtude
da impossibilidade de ser reiterada a
matéria objeto do agravo,14 posto que
não haverá oportunidade de reiteração,
tendo em vista que a extinção da
execução somente ocorrerá a favor do
executado, ou ainda, tendo em vista o
pagamento ou a remissão da dívida.15

6.2. AS DECISÕES
PROFERIDAS EM
LIQUIDAÇÃO E
CUMPRIMENTO DA
SENTENÇA
Assim como acontece no processo
de execução, todas as decisões
proferidas no curso da liquidação de
sentença e do cumprimento da sentença
também são agraváveis na forma
instrumentada, não havendo interesse
recursal na forma retida.
Como se sabe, a liquidação de
sentença serve para trazer o quantum
debeatur para uma sentença proferida
de forma ilíquida. É uma fase processual
distinta da anterior fase onde se apurou
o an debeatur.
Qualquer que seja a decisão
proferida na fase de liquidação (v.g.
indeferimento de quesito, fixação de
honorários periciais e etc.), caso assim
entenda a parte prejudicada, deverá
interpor agravo de instrumento, por
absoluta incompatibilidade
procedimental com o agravo retido.16
Com maior razão, apesar de tratar-
se de um pronunciamento judicial cuja
natureza jurídica é de uma sentença, não
há que se falar em apelação, já que, por
expressa previsão legal, caberá agravo
de instrumento contra a decisão que
julgar a liquidação de sentença, nos
exatos termos do art. 475-H do CPC.17
Na fase procedimental denominada
cumprimento da sentença também não há
que se falar em agravo retido.
A lei do cumprimento da sentença
veio inovar no que diz respeito à
execução de título judicial, sobretudo
quando se tratar de sentença proferida
no processo civil (sentença civil
condenatória, homologação de transação
entre as partes ou ainda de acordo
extrajudicial homologado por sentença).
Quando se tratar de uma dessas
relações jurídicas não mais haverá
necessidade de instauração de nova
relação processual, dando ensejo à fase
de cumprimento da sentença,
independentemente de novo processo de
execução como ocorria anteriormente.18
Em nome da celeridade e da
eficiência processual, os autores do
projeto que deu origem à Lei
11.232/2005 ousaram. Rompeu-se com a
tradicional dicotomia entre processo de
conhecimento e de execução, tornando-
se desnecessário o processo autônomo
de execução com a nova citação daquele
que fora condenado a cumprir
determinada obrigação.
Opera-se, assim, a efetivação
forçada da sentença condenatória, como
mencionado na exposição de motivos,
alterando-se, substancialmente, as
cargas de eficácia da sentença
condenatória, cuja executividade passa a
ser muito mais valorizada, a ponto de
ser recolocada como Título do Livro I
do CPC.
Sem solução de continuidade,
obtida a sentença condenatória e
transitada esta em julgado, de imediato,
após a intimação do devedor na pessoa
de seu advogado, inicia-se o
cumprimento da sentença, cuja previsão
legal de defesa consiste em mero
incidente de “impugnação”, que acabou
por suprimir os embargos à execução
fundada em sentença, que permanecem
válidos quando se tratar de execução
contra a Fazenda Pública, de acordo
com a nova redação dada ao art. 741 do
CPC.
Tem-se assim que, ao menos na
teoria, a simplificação foi radical, pois
eliminada a executio ex intervallo (com
todos os percalços a ela inerentes,
sobretudo a citação obrigatória e
pessoal do executado), passando a
ensejar o cumprimento da sentença, que
não deixa de ser uma execução,
ensejando uma nova pretensão, ainda
que no mesmo processo, desde que a
obrigação nela contida não tenha sido
cumprida pelo devedor.
As mesmíssimas regras do
processo de execução valem para o
cumprimento da sentença no que diz
respeito à recorribilidade das decisões
interlocutórias, já que também falta
interesse recursal no agravo retido.19
Resta-nos exemplificar algumas
situações em que pode ocorrer a
interposição de agravo de instrumento
no cumprimento da sentença:

a) Fixação do termo inicial do


prazo de 15 dias para o
cumprimento espontâneo da
obrigação de pagar previsto
no art. 475-J, caput;
b) Arbitramento de honorários
advocatícios sucumbenciais
para a fase de cumprimento da
sentença20;
c) Multa diária para as
obrigações de fazer, não fazer
e entrega de coisa;
d) Aplicabilidade das regras do
livro II (Processo de
execução) em decorrência da
subsidiariedade prevista no
art. 475-R21;
e) Fraude de execução22;
f) Penhora23;
g) Decisões proferidas na
impugnação ao cumprimento
da sentença; entre outras.
6.2.1. As decisões na
impugnação ao
cumprimento da
sentença24
Abordaremos nesse capítulo as
possibilidades de incidência de recursos
na impugnação ao cumprimento da
sentença, mas antes de tratarmos do tema
propriamente dito, convém traçarmos
breves considerações sobre a natureza
jurídica da impugnação, pois, conforme
a interpretação que se dê, as
consequências recursais serão
25
diferentes.
Há três principais correntes
doutrinárias sobre qual a natureza
jurídica da impugnação ao cumprimento
da sentença, prevista nos arts. 475-J, §
1.º, 475-L e 475-M, todos incluídos ao
CPC pela Lei 11.232, de dezembro de
2005.
A primeira corrente defende a ideia
de que a impugnação tem natureza
jurídica de ação, tal e qual ocorria com
os embargos à execução fundada em
título judicial (antigo art. 741), em
virtude de que todos os elementos
constitutivos dos embargos do devedor
estão presentes na impugnação ao
cumprimento da sentença.26
A segunda corrente, à qual nos
filiamos, propugna que a impugnação,
ocorre como mero incidente processual,
visando somente a defesa ao
cumprimento da sentença, que é uma
fase do processo de conhecimento,
posterior ao trânsito em julgado ou a
exigibilidade da decisão, por
“execução” provisória, em razão do
recebimento do recurso de apelação
apenas no efeito devolutivo.
A terceira corrente entende ser a
impugnação um misto de defesa e ação,
tendo natureza híbrida, dependendo do
objetivo colimado.27
Na verdade, entendemos ser a
impugnação ao cumprimento da sentença
a forma encontrada pelo legislador de
possibilitar a resistência, por parte do
devedor, à pretensão manifestada pelo
credor na fase executiva do processo,
sem que exista qualquer forma de
pedido formulado em seu favor, tal e
qual acontece na fase cognitiva com a
contestação, onde o réu pretende apenas
impedir que o pedido ou pedidos
formulados pelo autor sejam julgados
procedentes. Não se pode perder de
vista que o credor ao dar início à fase
executiva formula pretensão consistente
no desejo de ver iniciados os atos
materiais tendentes à satisfação de seu
direito reconhecido definitiva ou
provisoriamente. Desta forma, o
devedor, por meio do oferecimento da
impugnação ao cumprimento da
sentença, de acordo com a nova
sistemática, apenas e tão somente,
resiste à pretensão de realização
material deduzida pelo credor.
Passaremos a seguir a abordar e
comentar as novas disposições trazidas
ao CPC pela Lei 11.232/2005, mais
especificamente do art. 475-M, de onde
resultarão todas as possibilidades de
interposição de recursos, tanto por parte
do credor quanto do devedor.

6.2.1.1. Atribuição ou não do


efeito suspensivo
requerido pelo
executado.
Diferentemente do que acontecia
anteriormente com os embargos à
execução fundada em sentença (antigo
art. 741 do CPC), que sempre recebiam
o efeito suspensivo, a impugnação,
mercê do disposto na primeira parte do
caput do art. 475-M, em regra não
suspenderá o cumprimento da sentença.28
Ocorre que, na parte final do
mesmo dispositivo legal, previu-se a
possibilidade do “juiz atribuir-lhe tal
efeito desde que relevantes seus
fundamentos e o prosseguimento da
execução seja manifestamente suscetível
de causar ao executado grave dano de
difícil ou incerta reparação” e, com
isso, repetindo o conceito totalmente
vago previsto para a interposição do
agravo na forma instrumentada, teremos
sempre a possibilidade de
recorribilidade da decisão acerca do
pedido de concessão de efeito
suspensivo, pois, qualquer que seja a
decisão, deferindo ou não o pedido
formulado pelo devedor, a parte
prejudicada terá o interesse em recorrer,
sendo que o recurso em questão será
sempre o agravo de instrumento.29
De outra parte, no que diz respeito
à atribuição de efeito suspensivo a
impugnação ao cumprimento da
sentença, não se pode perder de vista
que em favor do credor existe a
segurança (rectius, estabilidade) da
coisa julgada, logicamente se já tiver
ocorrido o trânsito em julgado da
decisão em fase de cumprimento. Desta
forma, a suspensão requerida somente
poderá ser deferida em situação de
evidência, podendo ser utilizado como
norte exegético o art. 489 do CPC, com
a nova redação dada pela Lei
11.280/2006,30 que possibilita a
suspensão da decisão exequenda, em
razão do ajuizamento de ação rescisória,
em se tratando de sentença ou acórdão
definitivos, quando será exigida uma
comprovação robusta do direito
alegado, ou seja, em casos
imprescindíveis e diante da presença
dos requisitos autorizadores, com base
no inciso I do art. 273 do CPC, desde
que o devedor convença o juiz que seus
motivos são relevantes, demonstrando a
prova inequívoca da verossimilhança da
alegação.31
Assim ressalta Alexandre Freitas
Câmara:

“É de fundamental importância,
porém, ter-se clara a ideia segundo
a qual a atribuição de efeito
suspensivo à ação rescisória é
medida absolutamente excepcional.
Em regra, o provimento
rescindendo permanecerá eficaz
não obstante o ajuizamento da ação
rescisória, e produzirá
normalmente seus efeitos até que
eventual decisão de procedência do
pedido de rescisão se torne, ela
própria, eficaz”.32

Caso assim não se interprete,


correremos um grande risco de ver
instaurada a insegurança jurídica, pois
ficaremos à mercê do livre
convencimento do julgador para saber
se os fundamentos são ou não relevantes
ou se existe perigo de dano ao devedor
caso a execução prossiga, ensejando,
como dissemos alhures, qualquer que
seja a decisão, agravo de instrumento,
contrariando expressamente a intenção
do legislador da Lei 11.187/2005, que
visou diminuir sensivelmente o imenso
número de agravos nos tribunais,
tentando fazer com que os outros
recursos, principalmente a apelação,
fossem julgados com maior celeridade.

6.2.1.2. Decisões proferidas


na impugnação ao
cumprimento da
sentença e o § 3º do
art. 475-M
Dividiremos a questão em dois
aspectos: a decisão que acolhe ou não a
impugnação, e, as decisões proferidas
no curso da impugnação.
No primeiro aspecto, de acordo
com a disposição contida no § 3º do art.
475-M do CPC, a decisão que resolver
a impugnação ao cumprimento da
sentença desafiará recurso de agravo na
modalidade instrumentada, exceto se o
acolhimento da impugnação ensejar a
extinção da execução, hipótese em que o
recurso cabível será o de apelação.
Certamente a redação legal não
revela todas as situações que circundam
a questão das decisões proferidas na
impugnação.
A questão ganha relevo quando o
acolhimento da impugnação ensejar a
extinção parcial da execução (v. g.
pagamento parcial, remissão parcial,
compensação parcial etc.). Em tal
situação poderia surgir dúvida quanto à
natureza da decisão, e,
consequentemente, quanto ao recurso
interponível contra ela, ainda mais se
for levado em consideração a nova
definição de sentença proposta pelo
legislador reformista (CPC, art. 162,
§1º).33
Embora nas situações acima
transcritas o conteúdo da decisão seja
de sentença, o processo não foi extinto
como um todo, razão pela qual devemos
interpretá-la como se tratasse de decisão
interlocutória, que desafia recurso de
agravo na modalidade instrumentada por
expressa determinação legal, ou seja, o
legislador em tal situação determinou o
recurso e sua espécie, com isso, não há
necessidade se perquirir se a decisão
interlocutória proferida se encarta nas
hipóteses de exceção do art. 522, parte
final, do CPC.
Quanto ao outro aspecto, não
podemos deixar de lembrar que no curso
da impugnação ao cumprimento de
sentença, o juiz certamente proferirá
diversas decisões interlocutórias, bem
como poderá designar as audiências
preliminar para tentativa de conciliação
e de instrução e julgamento.
Nesse diapasão, torna-se
imprescindível saber se o legislador ao
se referir ao agravo na modalidade
instrumentada, o fez apenas e tão
somente para a decisão que acolhe a
impugnação sem, contudo, extinguir o
processo como um todo, e, para aquela
que a rejeita, mantendo íntegro o título
judicial exequendo, ou, se tal
determinação se aplica a toda e qualquer
decisão proferida no curso da
impugnação, inclusive naquelas
decisões interlocutórias proferidas no
curso de eventual audiência de instrução
e julgamento.
Como se sabe, com o advento da
Lei 11.187/2005, a regra geral passou a
ser a interposição do agravo na
modalidade retida, restando a via
instrumentada somente para as hipóteses
de exceção (CPC, art. 522, parte final).
Outrossim, a mesma lei tornou
obrigatória a interposição de agravo na
forma retida e oral, com interposição
imediata, das decisões interlocutórias
proferidas em audiência de instrução e
julgamento.
Em nosso sentir, todas as decisões
proferidas no curso da impugnação ao
cumprimento de sentença, até mesmo
aquelas proferidas na mencionada
audiência, desafiarão agravo na
modalidade instrumentada. Nem poderia
ser diferente, pois o agravo na
modalidade retida depende de posterior
reiteração em preliminar do recurso de
apelação (ou das contrarrazões)
interponível em face de sentença, que
nem se sabe ao certo se existirá.
Ora, dependendo da matéria
versada na impugnação nem mesmo seu
acolhimento dará ensejo à extinção do
processo (v. g. penhora incorreta e
avaliação errônea). Por outro lado,
mesmo que a impugnação verse matéria
que culmine com a extinção total da
execução (pagamento total, novação,
transação etc.), tal fato se dará apenas
com o seu acolhimento, pois do
contrário o ato do juiz encerrará decisão
interlocutória.
Destarte, submeter as decisões
interlocutórias proferidas no curso da
impugnação à regra geral da retenção
seria o mesmo que nada, pois ficaria a
parte dependendo da verificação da
natureza da decisão para ter a
possibilidade de ver os eventuais
agravos retidos interpostos no curso do
procedimento conhecidos e julgados,
isso quando pela matéria versada na
impugnação, de plano já se saiba que em
qualquer hipótese (acolhimento ou não)
a decisão será interlocutória.
__________
1 Importante realçar que na Justiça do
Trabalho tal princípio não vige.
2 Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery ressaltam que “entenda-se
por ‘qualquer grau de jurisdição’ os de
instância ordinária (primeiro e segundos
graus, até os embargos infringentes), não
se incluindo nesta locução as instâncias
extraordinárias do RE e do REsp. (RTJ
105/267)” (Código..., cit., p. 437, nota 26
ao art. 267, § 3º).
3 Teoria..., cit., p. 95. Ainda afirma que “o
limite final para a decisão dessas questões
é a preclusão máxima, denominada
impropriamente de ‘coisa julgada formal’
ou, em se tratando do juiz de primeiro grau,
a prolação da sentença de mérito, quando
cumpre e acaba seu ofício jurisdicional”.
4 Cf. José Carlos Barbosa Moreira,
Comentários..., cit., n. 166, p. 298.
5 Comentários..., cit., n. 168, p. 304.
6 Nesse sentido: “Recurso – Agravo de
instrumento – Conversão em agravo retido
– Responsabilidade civil – Acidente do
trabalho – Indenização – Direito comum –
Legitimidade passiva – Matéria que
depende de futura produção de provas –
Admissibilidade. Em ação de indenização
por sinistro do trabalho com fundamento
no direito comum, a parte que de alguma
forma, em princípio, possa ter contribuído
para o desencadeamento de evento
infortunístico deve permanecer no polo
passivo até decisão final de mérito com
respaldo em prova idônea a esclarecer
suficientemente a situação fática objeto da
lide, motivo pelo qual se impõe a
conversão do recurso em agravo retido para
futura e eventual apreciação, se for o caso,
observado o disposto no artigo 523 do
Código de Processo Civil” (2.º TAC/SP, AI
807.790-00/0, 5.ª Câm., rel. Juiz Antonio
Maria, j. 17.9.2003; v. também: “Recurso –
Agravo de instrumento – Conversão em
agravo retido pelo relator – Ajuizamento
contra saneador – Despacho que
reconheceu a impossibilidade jurídica do
pedido – Admissibilidade. Não se mostra
teratológica, nem estadeia nenhuma
ilegalidade, a decisão saneadora (do
processo de revisão de cláusula, decorrente
de contratos de alienação fiduciária) ferida
pelo agravo de instrumento, que obteve do
Relator sua conversão em retido, quando a
pretensão é de reconhecimento
apriorístico da impossibilidade jurídica do
pedido” (2.º TAC/SP, A. D. D. de Recurso
748.031-01/7, 1.ª Câm., rel. Juiz Vanderci
Álvares, j. 06.08.2002).
7 Teoria..., cit., p. 335.
8 Notas a respeito dos aspectos gerais e
fundamentais da existência dos recursos –
direito brasileiro. Revista de Processo.
São Paulo: RT, v. 48, p. 7, out./dez. 1987.
Merece transcrição o trecho do artigo onde
a questão é amplamente explorada:
“Problema particular, a propósito do ônus
de recorrer, correlacionado com o
interesse de recorrer, é o de saber se,
apesar da inocorrência de preclusão, com
na hipótese do art. 267, § 3.º, se, por isso e
nessa exata desaparece o interesse de a
parte recorrer. Ou seja, saber se, porque
não ocorre preclusão, ipso facto, não há
interesse recursal.
Não desaparece o interesse recursal,
porquanto a parte não deve ser obrigada a
sofrer um processo que tem por defeituoso
(= inválido), v.g., como nos casos de falta
de pressuposto processual positivo ou falta
de uma condição da ação, de que no seu
entender careça o autor e, a respeito do que
diferentemente tenha decidido o juiz. Há,
nessa hipótese interesse recursal e pode a
parte valer-se do recurso de agravo de
instrumento para obter uma decisão – mais
rapidamente do que lograria ter, p. ex., e
por hipótese, só quando do julgamento de
eventual apelação – a qual, desde logo,
pode extinguir o processo sem julgamento
de mérito (ainda que haja de se admitir que,
se chegasse, ou se chegarem os autos ao
tribunal, através do recurso de apelação,
pudesse vir ela a obter o mesmo resultado
(art. 267, § 3.°), no que diz com a extinção
do processo sem julgamento do mérito).
Pelas razões que comparecem para o
cabimento do agravo de instrumento, nesta
hipótese – e pela precipitação, no tempo,
de um resultado que poderia ser, de futuro,
obtido – descabe o agravo retido, dado
estarem ausentes aquelas razões e motivais.
Nesta hipótese, pois, se o agravo retido
somente pode ser julgado se houver
apelação (art. 522, parágrafo único), é
evidente que a própria apelação é (ou virá a
ser, se interposta e conhecida) meio hábil
indispensável para que se repute ‘devolvida’
essa matéria. Diz-se que é meio hábil para
que se repute ou seja devolvida a matéria,
mesmo que se a essa matéria (ou, a
qualquer outra, sediada na oficiosidade dos
poderes do juiz) não tiver aludido o
recorrente na apelação, precisamente por
se tratar de assunto encartado na esfera da
oficiosidade dos poderes do tribunal.
Deverá deste, apesar desta possível
omissão do recorrente, reexaminar a
decisão do magistrado.
Desta forma, in casu, há interesse recursal
para o agravo de instrumento e não há para
o agravo retido, o que demonstra que a
‘indiferença legal’ para o uso de um ou
outro não é total, como já se disse”.
9 Flávio Cheim Jorge, Marcelo Abelha
Rodrigues e Fredie Didier Jr. A nova
reforma processual. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 98-99.
10 Cf. Gleydson Kleber Lopes de Oliveira. A
conversão do agravo instrumento em
agravo retido na reforma do Código de
Processo Civil. Revista de Processo. São
Paulo: RT, v. 107, p. 153, jul./set. 2002.
11 No mesmo sentido: Teresa Arruda Alvim
Wambier. Os agravos..., cit., n. 7.1, p. 460:
“O regime de retenção também não pode
ser imposto aos agravos interpostos no
curso do processo de execução. Embora
este tenha que se findar, necessariamente,
com uma sentença (art. 795), esta
normalmente é proferida após a exaustão
das atividades executivas, com a satisfação
do direito objeto de execução, não sendo
comum a interposição de apelação contra
tal decisão. Ademais, os atos executivos,
pelo menos em tese, quase sempre são
hábeis a ocasionar lesão grave à parte, tal
como ocorre, por exemplo, na decisão que
indefere a alegação de nulidade da penhora
ou de preço vil”.
12 STJ, REsp 1.040.315/MG, 3ª T., rel. Min.
Massami Uyeda, j. 07.10.2008, DJe
23.10.2008: “Em se tratando de incidente
de execução, no qual se pretende o
bloqueio de numerário eventualmente
existente na conta-corrente do executado, é
certo que a ausência de desfecho de tal
questão, e, portanto, mantendo-se situação
de inexistência de bens para garantia da
execução, o processo executivo não terá
outro rumo que não a sua suspensão, de
forma a não receber, por isso, sentença e
posterior apelação, oportunidade em que o
exequente teria para reafirmar sua
pretensão contida no agravo”.
13 Doutrina e prática do processo civil
moderno. São Paulo: RT, 2001, p. 270.
14 Gilberto Gomes Bruschi.Incidente
defensivo no processo de execução –
uma visão sobre a exceção de pré-
executividade. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2002, p. 107.
15 No mesmo sentido, mesmo antes da
reforma: STJ, REsp. 756.236/SC, 1.ª T.,
rel. Min. José Delgado, j. 28.06.2005, j.
08.08.2005: “O art. 527, II, do CPC
permite que o relator receba o recurso
como agravo retido. No entanto, não é
possível a ocorrência de tal regra, in casu,
em razão do que dispõe o caput, do art.
523, da lei adjetiva civil, visto que a
decisão de 1.º grau se esgotou com a sua
prolação, surtindo os efeitos imediatos,
podendo se tornar irreversível”. Onde
acrescenta: “O agravo retido deve ser feito
referência, como preliminar, no recurso de
apelação. Não havendo mais julgamento,
por meio de sentença, a possibilitar a
interposição do recurso apelativo – por se
tratar de incidente em execução –, o agravo
retido tornar-se-á inócuo, de nada valendo”.
16 Cf. Leonardo José Carneiro da Cunha.
Recursos na liquidação de sentença. In:
Teresa Arruda Alvim Wambier e Nelson
Nery Junior (Coords.). Aspectos
polêmicos e atuais dos recursos cíveis.
São Paulo: RT, 2007, v. 11, p. 178 a 186.
17 Deve ser destacada, ainda, a opinião de Luiz
Rodrigues Wambier (Liquidação da
sentença civil individual e coletiva. 4ª
ed. São Paulo: RT, 2009, p. 148) acerca da
inaplicabilidade do art. 542, § 3º, do CPC,
ou seja, o recurso excepcional retido,
quando se tratar de acórdão proferido em
sede de agravo de instrumento contra a
decisão que julgar a liquidação de sentença:
“(...) contra o pronunciamento que julga a
liquidação de sentença cabe ação rescisória
(CPC, art. 485), porque há coisa julgada
quanto ao pedido de liquidação, e os
recursos extraordinário e especial que
venham a ser interpostos contra o acórdão
que julgar o agravo de instrumento referido
no art. 475-H não deverão ficar retidos,
não se aplicando, ao caso, o disposto no
art. 542, § 3º do CPC”.
18 SHIMURA, Sérgio Seiji. Cumprimento de
sentença. In: SHIMURA, Sérgio; NEVES,
Daniel A. Assumpção (Coord.). Execução
no processo civil – novidades e
tendências. São Paulo: Método, 2005. p.
245: “O cumprimento da sentença passa a
ser fase subsequente à decisão
condenatória, uma etapa final, de efetivação
do comando judicial. Não se há mais falar
em ‘processo’ de execução, despregado e
autônomo do de conhecimento”.
19 TJSP, AgIn. 2061930-97.2014.8.26.0000,
31ª Câm. Dir. Privado, rel. Des. Francisco
Casconi, j. 07.07.2014.
20 Cf. Alexandre Freire e Gilberto Gomes
Bruschi. Os honorários advocatícios e o
cumprimento da sentença pecuniária no
Código de Processo Civil atual e no
substitutivo do Projeto do Novo Código de
Processo Civil. In: Arruda Alvim, Eduardo
Arruda Alvim, Gilberto Gomes Bruschi,
Mara Larsen Chechi e Mônica Bonetti
Couto (Coords.). Execução civil e temas
afins – do CPC/1973 ao novo CPC –
estudos em homenagem ao Professor
Araken de Assis. São Paulo: RT, 2014, p.
19 a 28.
21 Cf. André Gustavo Salvador Kauffman.
Aplicação subsidiária do cumprimento de
sentença na execução por título
extrajudicial e vice-versa (arts. 475-R e
598 do CPC). In: Sérgio Shimura e
Gilberto Gomes Bruschi (Coords.)
Execução civil e cumprimento da
sentença. São Paulo: Método, 2009, v. 3,
p. 55 a 69.
22 STJ, REsp. 1.299.580/RJ, 3ª T., rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 20.03.2012, DJe
25.10.2012.
23 TJSC, AgIn. 2014.014132-3, 3ª Câm. Dir.
Civil, rel. Des. Fernando Carioni, j.
10.06.2014.
24 Para estudar com profundidade o tema:
Antonio Notariano Jr. Impugnação ao
cumprimento da sentença. São Paulo:
Método, 2008.
25 Ver nesse sentido: Paulo Henrique dos
Santos Lucon. Nova execução de títulos
judiciais e sua impugnação. In: Teresa
Arruda Alvim Wambier (Coord.). Aspectos
polêmicos da nova execução. São Paulo:
RT, 2006, v. 3, p. 448 a 451.
26 Arruda Alvim (A natureza jurídica da
impugnação prevista na Lei 11.232/2005 –
a impugnação do devedor instaura uma ação
incidental, proporcionando o exercício do
contraditório pelo credor; exige decisão
que ficará revestida pela autoridade de
coisa julgada. In: Teresa Arruda Alvim
Wambier (Coord.). Aspectos polêmicos
da nova execução. São Paulo: RT, 2006, v.
3, p. 50), entende que com a Lei
11.232/2005, “do que se procurou colocar
como premissas, densamente assentadas na
historicidade do direito e cristalizados em
diversos ordenamentos positivos, e,
distinguindo-se entre as atividades de
conhecimento e de execução, é certo que
por meio da impugnação, veiculando-se
praticamente as mesmas matérias que nos
embargos do devedor, e, tendendo ou
exigindo a impugnação à prolação de uma
decisão, verifica-se haver uma identidade
substancial entre os dois institutos, seja em
relação ao conteúdo, seja em relação às
finalidades. No mesmo sentido: Araken de
Assis, Cumprimento da sentença, Rio de
Janeiro: Forense, 2006, p. 314 e seguintes;
Fabrizzio Matteucci Vicente. A Natureza
Jurídica da Impugnação na Nova Execução.
In: Suzana Henriques da Costa (Coord.). A
Nova Execução Civil - Lei n.
11.232/2005. São Paulo: Quartier Latin,
2006, p. 223, 224 e 228.
27 Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de
Andrade Nery, Código... , cit., nota 9 ao art.
475-J, p. 642.
28 Nesse passo verifica-se a clara e elogiável
intenção do legislador de evitar que se
utilizado o instituto da impugnação ao
cumprimento da sentença com intuito
meramente protelatório.
29 Cassio Scarpinella Bueno, A nova etapa da
reforma do Código de Processo Civil,
São Paulo: Saraiva, 2006, v. 1, p. 119: “Em
um ou outro sentido, da decisão cabe
agravo de instrumento, dada a patente
ocorrência de urgência subjacente ao
pronunciamento de uma nova decisão (...).
Como a decisão envolverá,
necessariamente, a análise da ocorrência
ou da ausência do periculum in mora a que
faz referência o caput do art. 475-M, sua
revisão deve se dar imediatamente. Por
isso, o agravo deverá ser o de
instrumento”.
30 Sobre os requisitos de antecipação de
tutela na ação rescisória, antes mesmo da
entrada em vigor da Lei 11.280/2006 ver:
Márcia Conceição Alves Dinamarco, Ação
Rescisória, São Paulo: Atlas, 2004, p. 117
e seguintes, onde defende a ideia de ser
possível a suspensão da decisão exequenda,
mas entende que não bastam os requisitos
das cautelares para obstar o cumprimento
da sentença com base em coisa julgada
material.
31 Para a hipótese de cumprimento provisório
da sentença, onde a comprovação deverá
ser mais simples, em virtude de ainda não
ter se operado a coisa julgada, bastam que
estejam presentes os requisitos
autorizadores de uma medida cautelar –
fumus boni iuris e periculum in mora.
32 Ação rescisória. 2ª ed., São Paulo: Atlas,
2012, p. 102.
33 Nesse ponto, torna-se salutar consignar a
opinião de Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de
Andrade Nery sobre a problemática causada
pela “reformulação” do conceito de
sentença. Segundo eles: “A comunidade
jurídica brasileira discutiu durante
praticamente trinta anos (1974-2003) em
acirrada polêmica doutrinária e
jurisprudencial, a natureza jurídica desses e
de outros pronunciamentos [decisão
interlocutória e sentença] assemelhados de
juiz, para designar-lhes a adequada
recorribilidade. Depois desses trinta anos
restou assentada a doutrina de que o
processo é o conjunto de ações cumuladas
e que a extinção (julgamento) de uma delas,
com o prosseguimento da(s) outra(s), não é
sentença porque o processo (conjunto de
ações cumuladas) não se extinguiu. Neste
caso, o indeferimento liminar da
reconvenção e a exclusão de corréu do
processo por ilegitimidade passiva são
decisões interlocutórias, impugnáveis pelo
recurso de agravo. Pela interpretação
literal e isolada do CPC 162 § 1.º,
combinado com o CPC 267 e 269, esses
atos serão sentença e, portanto,
impugnáveis por apelação, recurso que tem
de subir nos autos principais e que, de
consequência, paralisaria o processo
quanto às ações não extintas (julgadas)!
Seria involução inadmissível no processo
civil brasileiro”. Código... , cit., nota 8 ao
art. 475-M, p. 653.
Parte 2
O AGRAVO CONTRA
AS DECISÕES DE
PRIMEIRO GRAU NO
CPC/2015
O REGIME DO
AGRAVO NO
CPC/2015
Depois de explanarmos acerca dos
agravos contra as decisões de primeiro
grau de acordo com a regra vigente no
Código de Processo Civil, analisaremos
nessa parte do livro a nova disciplina
que será dada ao agravo de instrumento
e a forma de impugnação das decisões
não sujeitas a agravo em meio ao
recurso de apelação.
Dividiremos em duas partes a
exposição do tema.
Primeiro trataremos do agravo de
instrumento fazendo uma explicação de
cada um dos dispositivos relativos ao
CPC/2015, para depois elucidarmos e
comentarmos como será a impugnação
das decisões interlocutórias não sujeitas
ao agravo de instrumento.

1.1. O AGRAVO DE
INSTRUMENTO NO
CPC/2015
O regime do agravo de instrumento
no CPC de 1973 passou por diversas
modificações desde a entrada em vigor
do Código em janeiro de 1974.
Antes mesmo da entrada em vigor
do Código, o capítulo de agravo de
instrumento foi alterado pela Lei 5.925,
de 1º de outubro de 1973.1
Na conhecida primeira onda
reformista, em 1995,2 o agravo de
instrumento, que antes era interposto em
primeiro grau de jurisdição (ensejando
um juízo de retratação prévio à remessa
do agravo ao tribunal), passou a ser
interposto diretamente no tribunal, sendo
que, o agravo retido passou a ter regras
próprias e hipóteses de cabimento
específicas.
Em 2001,3 houve nova reforma que
viabilizou a possibilidade de o relator
do agravo de instrumento convertê-lo em
agravo retido.
Finalmente, em 2005, o agravo
retido passou a ser regra e o agravo de
instrumento exceção, detidamente
explanado na primeira parte da presente
obra.
Agora, com o CPC/2015, passamos
a ter uma nova regra para a
recorribilidade das interlocutórias.4
A regra imposta pela Lei
11.187/2005 fez com que o agravo
retido fosse a regra geral, assim como
fosse possível a interposição de agravo
de instrumento em apenas três hipóteses
previstas expressamente no art. 522, ou
seja, nas decisões posteriores à sentença
de inadmissibilidade da apelação e em
relação aos efeitos de seu recebimento,
bem como nas situações de lesão grave
e de difícil ou incerta reparação em
decorrência da decisão interlocutória
proferida.
Além das hipóteses previstas no
art. 522, pacificou-se o entendimento de
que caberia agravo de instrumento
contra as decisões proferidas em meio
ao processo de execução, na fase de
cumprimento da sentença e, também, na
liquidação de sentença.
O agravo retido nas hipóteses que
não se vislumbrava a interposição do
agravo de instrumento, deveria ser
interposto, diretamente ao juiz de
primeiro grau, no prazo de 10 dias
(salvo nas decisões de audiência de
instrução e julgamento), sob pena de
preclusão e, ainda, caso não houvesse
retratação, tornava-se necessária a
reiteração por ocasião do recurso de
apelação, ou em contrarrazões.
O CPC/2015 não só altera as
hipóteses de cabimento para o agravo de
instrumento, como também extingue a
figura do agravo retido.
Releva apenas ressaltar nesse
passo que, contra as decisões que não
ensejam o agravo na forma
instrumentada, não ocorrerá a preclusão,
podendo a parte, sem qualquer outro ato
anterior, atacá-las na apelação ou em
contrarrazões.
O rol previsto nos incisos e
parágrafo único do art. 1.015 do
CPC/2015 pode vir a ser considerado
taxativo, o que redundará na
impossibilidade de ser utilizado em uma
hipótese não prevista expressamente em
lei.
Surge aí uma indagação: Caso a
decisão cause lesão grave e de difícil
reparação e não esteja no rol de
cabimento do agravo de instrumento, é
possível a impetração de Mandado de
Segurança?
Havendo relevância e urgência,
tornando necessária e primordial a
revisão pelo tribunal e não havendo
como se aguardar a análise do recurso
de apelação pelo tribunal (v.g. decisão
que indefere a alegação de
incompetência relativa) ou, ainda,
quando a decisão tornar impossível a
interposição da apelação (v.g. decisão
que inadmite os embargos de declaração
mercê de sua intempestividade), surgiria
ao menos numa primeira análise, o
cabimento do mandado de segurança
contra ato judicial.
Eventual extensão do rol para
outras hipóteses talvez venha com o
tempo. Tal análise caberá a doutrina e a
jurisprudência, apesar de parecer que a
intenção do legislador foi a de realmente
elaborar um rol taxativo para o
cabimento do recurso de agravo de
instrumento.
Voltaremos a tratar, no item 7.3,
sobre a indagação ora ventilada,
posicionando-nos sobre a taxatividade
ou não do rol de cabimento do agravo de
instrumento, problematizando a situação
e trazendo soluções para quaisquer dos
posicionamentos que possam vir a ser
adotados.

1.1.1 Regularidade formal


A teor do disposto no art. 1.016,
caput, do CPC/2015, o agravo de
instrumento deverá ser interposto em
petição escrita diretamente no tribunal
competente, sendo certo que a petição
observará os seguintes requisitos, além
da menção aos nomes do agravante e
agravado: (i) exposição do fato e do
direito; (ii) o pedido, bem como a
fundamentação do pedido de reforma da
decisão ou, ainda, a invalidação da
decisão recorrida; e (iii) o nome e o
endereço completo dos advogados
constantes do processo.
A falta de atendimento a tais
requisitos enseja o não conhecimento do
recurso, desde que o vício detectado não
tenha sido sanado pelo agravante no
prazo previsto no parágrafo único do
art. 932 do CPC/2015.

1.1.2 Peças
As peças para a formação do
instrumento ainda são relevantes, tendo
em vista que em muitos dos tribunais
brasileiros existem, mesmo em 2015,
agravos de instrumento físicos.
Significa dizer que, se o agravo
ainda é em papel, não há que se falar em
dispensa da formação do instrumento.
Em razão de o agravo pela
modalidade instrumentada ser
processado fora dos autos do processo
de onde emanou a decisão interlocutória
agravada, há a necessidade de se formar
o instrumento, ou seja, um conjunto com
todos os documentos necessários para
que o órgão ad quem possa realizar com
segurança o juízo de admissibilidade e
de mérito do recurso.
Com o advento do processo
eletrônico e do CPC/2015, a regra
inerente às peças do agravo de
instrumento passa a ter duas vertentes:
(i) processo em primeiro grau físico,
praticamente igual as regras do
CPC/1973; e (ii) processo em primeiro
grau com autos eletrônicos.
Mesmo que os agravos de
instrumento passem a ser todos
eletrônicos, se os processos em
primeiro grau forem físicos, deverá o
agravante providenciar as peças
obrigatórias elencadas no art. 1.017, I,
do CPC/2015.
Em virtude disso, o inciso I do art.
1.017 do CPC/2015 estabelece quais as
peças que deverão instruir a petição de
agravo, de modo a possibilitar a perfeita
cognição do tribunal.
O inciso I do aludido artigo faz
menção às seguintes peças obrigatórias:
(i) cópia da decisão agravada; (ii) cópia
da certidão da respectiva intimação ou
outro documento capaz de demonstrar a
tempestividade do recurso; e (iii) cópia
das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado –
rol idêntico ao que estava elencado no
art. 525, I, do CPC/1973.
O mesmo dispositivo faz menção a
outras peças obrigatórias que devem ser
anexadas ao instrumento para que seja
perfeitamente compreensível por parte
do tribunal, permitindo o entendimento
do ocorrido em primeiro grau para que a
decisão do agravo seja a mais correta
possível.
As peças acrescentadas ao rol
existente no CPC anterior são: (i)
petição inicial, (ii) contestação e (iii)
petição que ensejou a decisão agravada.
Se, por ventura, o agravante não
tiver juntado ao agravo nenhuma ou
alguma das peças obrigatórias, deve ser
intimado para sanar o vício,
providenciando o aperfeiçoamento do
instrumento. Se, eventualmente, não
atender a tal intimação, ocorrerá a
inadmissibilidade do recurso por
deficiência.
O rol mais completo do CPC/2015
faz com que praticamente se torne
desnecessária a juntada de qualquer
outra peça do processo, mas isso não
pode ser interpretado como infalível, já
que, a depender do caso concreto será
necessário, à exata compreensão dos
magistrados no tribunal, o traslado de
outra(s) peça(s) do processo, ato que se
encartaria no inciso III do mesmo art.
1.017 (v.g. contrato com cláusula
abusiva juntado como documento capaz
de ensejar uma tutela de urgência
indeferida pelo juiz de primeiro grau).
Na eventualidade de não existir no
processo uma das peças elencadas no
inciso I, prevê o inciso II que o
advogado, deverá declarar tal ausência,
sob sua responsabilidade, visando que o
recurso seja admitido pelo tribunal.
Para ocorrer a ausência de uma das
peças obrigatórias podemos dar como
exemplo o indeferimento de um
requerimento de tutela de urgência na
petição inicial. Em tal situação não há
procuração do réu, contestação e nem
mesmo outra petição que tenha gerado a
decisão recorrida, uma vez que há no
processo apenas a petição inicial, seus
documentos e a decisão recorrida.
O relator do tribunal ad quem, em
razão de agravo sob a modalidade
instrumentada se processar fora dos
autos, somente poderá verificar o
cumprimento dos referidos requisitos se
tiver elementos para tanto; daí a
necessidade de formar o instrumento
com as peças indicadas pela lei.
O agravo pode ser interposto
diretamente no tribunal, no protocolo
integrado nas comarcas atreladas ao
tribunal, via correio e também via fac-
símile desde que preenchidos os
requisitos da Lei 9.800/99.5
Deverá também no ato da
interposição comprovar o pagamento do
preparo e do respectivo porte de retorno
(desde que não se trate de processo
eletrônico).
Quando o processo de primeiro
grau e o agravo forem eletrônicos, a
sistemática adotada fica bastante
simplificada, eis que de acordo com o §
5º o que antes era ônus da parte, passa a
ser uma ferramenta do sistema
operacional do tribunal que viabilizará
ao desembargador a consulta do
processo em primeiro grau de
jurisdição, ou seja, não há que se falar
em anexar ao agravo as peças
trasladadas do processo.

1.1.3. Juízo de retratação


Tratando-se de processo físico,
devidamente interposto o agravo de
instrumento, terá o agravante o prazo de
3 (três) dias úteis para comunicar tal
fato ao juízo a quo, fazendo-o por meio
de petição a ele dirigida e acompanhada
de cópia da petição recursal e relação
das peças juntadas. Se, por outro lado, o
processo for eletrônico, tal providência
passa a ser facultativa, como está a
indicar o caput do art. 1.018 do
CPC/2015.
A diligência não tem o objetivo de
intimar a parte contrária, porque sua
cientificação será promovida
diretamente pelo tribunal (art. 1.019, II).
Sua função é, precipuamente, de
documentação, servindo, também, como
meio de provocar o juízo de retratação,
que, na hipótese de ser positivo, altera a
decisão agravada, tornando o agravo
prejudicado (art. 1.018, § 1º).
A falta de observação desse
particular pelo agravante ocasionará o
não conhecimento do recurso, desde que
se trate de processo físico e, o
agravado, por ocasião da resposta,
argua e comprove tal descumprimento
(art. 1.018, § 2º, segunda parte).
Há que se ressaltar que o prazo
para arguição e comprovação do
descumprimento é preclusivo.
Quanto à forma de comprovação do
não cumprimento pelo agravado, a mera
arguição desprovida de qualquer prova
não é capaz de ensejar a consequência
prevista pelo legislador, pois, como a
própria lei estabelece, tal fato deverá
ser provado, v.g. por meio de uma
certidão obtida na serventia em primeiro
grau de jurisdição.
Se o juiz comunicar o tribunal que
reformou inteiramente a decisão
(rectius, se retratou), o relator
considerará prejudicado o agravo, sendo
que, ocorrendo a retratação do juiz, a
nova decisão, até por questão de lógica,
será irrevogável, não dando espaço a
uma terceira decisão por parte do juiz
que havia proferido a decisão agravada
e acabou por retratar-se.

1.1.4. Providências no
tribunal
Se não for o caso de rejeição
liminar do agravo pelo relator, com ou
sem análise do mérito recursal,
conforme estabelece o art. 932, III e IV,6
passará a observar o procedimento para
o julgamento pelo órgão colegiado,
verificando, inicialmente, no prazo de
cinco dias, se estão presentes os
requisitos para a concessão dos efeitos
eventualmente requeridos.
Efeito suspensivo é a aptidão que
alguns recursos têm de impedir a pronta
eficácia do ato jurisdicional recorrido.
Na verdade, o efeito suspensivo
não gera a suspensão, mas a manutenção
da suspensão, não estando ligado ao
recurso, mas ao ato recorrido. A questão
fundamental é saber se o ato tem aptidão
para produzir efeitos imediatamente.
Como regra, o agravo de
instrumento não tem efeito suspensivo, o
que, em última análise, é até
compreensível, pois seria um
verdadeiro entrave se assim não fosse,
já que não haveria continuidade do
procedimento em primeiro grau se cada
decisão agravada acarretasse a
suspensão do feito.
O relator, entendendo que a questão
pode acarretar dano de difícil ou incerta
reparação, poderá atribuir o efeito
suspensivo, consoante expressa
autorização do art. 995, parágrafo único,
do CPC/2015.7
Para que seja possível a concessão,
primeiramente deverá o agravante
justificar a necessidade de suspensão da
decisão até que seja revista pelo
tribunal (v.g. o deferimento de quebra de
sigilo bancário e fiscal do executado,
antes de terem se esgotado as
diligências por parte do exequente para
localização de bens passíveis de
penhora), ou seja, deverá demonstrar o
periculum in mora e o fumus boni iuris,
pois a decisão acerca do pedido de
efeito suspensivo tem natureza cautelar,
podendo, portanto, ser concedida
inaudita altera parte, ou após a oitiva
do agravado.
A única modificação em relação ao
art. 558 do CPC/1973 é a de que não há
mais um rol exemplificativo de
concessão do efeito suspensivo, com a
nova regra o recorrente deverá, em
qualquer situação, demonstrar a
necessidade de deferimento por parte do
relator do efeito suspensivo requerido.
Ao invés de suspender a decisão
proferida até final julgamento, poderá
determinar a reforma provisória,
atuando de forma ativa, sendo
exatamente por isso que a doutrina
acabou por denominar esse poder dado
ao relator de efeito ativo ou, como está
na lei, tutela antecipada recursal.
Cumpre, pois, salientarmos que,
dependendo do que fora decidido em
primeiro grau, será requerido pelo
agravante este ou aquele efeito, ou seja,
o efeito suspensivo ou ativo, mas nunca
os dois.
Tendo sido requerida e indeferida
uma medida liminar, como, por exemplo,
na antecipação de tutela para que seja
autorizada uma internação hospitalar, a
lei faculta ao autor, em razão da
urgência da situação, nos termos do
inciso I do art. 1.015 do CPC/2015,
agravar por instrumento diretamente ao
tribunal, pleiteando ao relator que
antecipe provisoriamente, mediante
cognição sumária, o próprio mérito
recursal, resguardando a incolumidade
do direito material pretendido para que
não haja dano exacerbado e irreparável
em decorrência da demora na concessão
da prestação jurisdicional pretendida.
No agravo não há que se falar em
julgamento monocrático liminar de
provimento ao recurso, nos termos do
art. 932, V, que estabelece a
possibilidade de êxito do recorrente de
forma monocrática somente depois de
facultada a apresentação de
contrarrazões, para dar provimento ao
recurso se a decisão recorrida for
contrária a: (i) súmula do Supremo
Tribunal Federal, do Superior Tribunal
de Justiça ou do próprio tribunal; (ii)
acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior
Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos; e (iii) entendimento
firmado em incidente de resolução de
demandas repetitivas ou de assunção de
competência.
Diferentemente do que ocorre com
a conversão do agravo de instrumento
em retido ou, ainda, com a decisão
relativa aos efeitos (art. 527, III, do
CPC/1973) – parágrafo único do art.
527 – que torna inadmissível a
interposição de recurso contra tal
decisão monocrática viabilizando a
impetração de mandado de segurança
contra ato judicial, o art. 1.021, caput,8
do CPC/2015 admite o agravo interno
contra qualquer que seja a decisão
monocrática proferida pelo relator.
Nos termos do inciso II do art.
1.019 do CPC/2015, o agravado será
intimado para responder ao agravo
interposto no prazo de 15 (quinze) dias
úteis, por meio de intimação publicada
no Diário Oficial nas comarcas que
forem sede do tribunal e também
naquelas em que os atos processuais se
tornem públicos pelo mesmo meio; caso
contrário, far-se-á a intimação do
advogado do agravado por meio de
ofício registrado e com aviso de
recepção, facultando-lhe juntar a
documentação que entender necessária
ao julgamento do recurso.
Somente haverá justificativa para a
oitiva do Ministério Público naquelas
causas em que sua intervenção seja de
rigor e, nesses casos, o prazo para sua
manifestação será de 15 (quinze) dias.
1.1.5. Prazo para o
julgamento
Com relação ao julgamento do
agravo, o art. 528 do CPC/1973 prevê
expressamente que o relator, em prazo
não superior a 30 (trinta) dias, contados
da intimação do agravo, tendo ou não
sido apresentada resposta (contraminuta
de agravo), solicite a designação de data
para o seu julgamento.
Tal disposição não condiz com a
realidade, pois além de ser
humanamente impossível agendar a
pauta de julgamento do agravo em
apenas 30 (trinta) dias, os prazos para a
resposta e manifestação do membro do
Ministério Público, para os casos em
que este necessita participar, ambos de
10 (dez) dias, tornam totalmente
inviável tal previsão.
Já o CPC/2015 incide no mesmo
erro, como uma pequena alteração
imposta pela regra prevista no art. 219,
que estabelece que “na contagem de
prazo em dias, estabelecido por lei ou
pelo juiz, computar-se-ão somente os
úteis”, fixando 1 (um) mês e não mais 30
(trinta) dias (como prazo impróprio).
Mais inviável o cumprimento do
prazo para a solicitação de julgamento
do que no CPC/1973, levando em conta
que o prazo para a resposta do agravo
de instrumento será de 15 (quinze) dias
úteis, ou seja, no mínimo 19 (dezenove)
dias corridos, ainda mais se houver
necessidade de participação do
Ministério Público, que terá os mesmos
15 (quinze) dias úteis para emitir sua
manifestação.

1.2. A FORMA DE
IMPUGNAÇÃO DAS
DECISÕES QUE NÃO
ENSEJAM AGRAVO
DE INSTRUMENTO
NO CPC/2015 –
CRÍTICAS E
PERSPECTIVAS
O agravo retido no sistema do
CPC/1973 passou a ser a regra para o
enfrentamento das interlocutórias,
ficando, pois, o agravo pela via
instrumentada apenas e tão somente para
aquelas situações previstas na parte
final do art. 522 do CPC, assim como
para aquelas em que falece à parte o
interesse-adequação na utilização pela
retida (v.g. matérias de ordem pública,
decisões proferidas no processo de
execução, decisões proferidas na fase
executiva do procedimento e na
liquidação de sentença).
Como se sabe o agravo retido nada
mais é do que um recurso estratégico,
por ter efeito devolutivo diferido,
impedindo que sobre a decisão
proferida incida o fenômeno da
preclusão, porém, a devolução da
matéria apenas se dá com a sua
reiteração, em preliminar, no recurso de
apelação ou nas suas contrarrazões.
Vale destacar que, no sistema atual,
a reiteração é o ato simples de externar
a intenção de ver o recurso, já interposto
e com as razões de reforma já
apresentadas, apreciado
preliminarmente, ao julgamento da
apelação, pelo órgão colegiado.
A nova lei processual modificou o
recurso de agravo vertiginosamente.9
A modificação, num primeiro
momento, pode parecer que nada tenha
trazido de substancial, quando
comparada com a regra do agravo retido
previsto no CPC/73. Contudo, não é o
que pensamos.
Expliquemos.
O fato de as razões de reforma da
decisão interlocutória serem
apresentadas como preliminar do recuso
de apelação ou nas contrarrazões poderá
ocasionar verdadeiro tumulto
procedimental.
No sistema atual, as razões são
apresentadas no ato da interposição do
agravo retido, sendo certo que, por
óbvio, o acerto ou desacerto da decisão
interlocutória recorrida leva em
consideração o cenário processual até
aquele momento e, por conseguinte, a
possibilidade de cognição exercida pelo
julgador.10
Não haverá limitação das razões
por segmentação temporal – quer-se
dizer limitada ao momento anterior à
decisão interlocutória proferida -, ao
contrário, o recorrente poderá utilizar
todo o conjunto processual, do início ao
fim, até mesmo a fundamentação exposta
na sentença proferida.
Temos receio de que a modificação
possa tornar a atividade judicante em
segundo grau sacrificante, ante a
maçante quantidade de razões na
preliminar de apreciação das
interlocutórias, muitas vezes com a
repetição inoportuna de argumentos, que
os hábeis recursos de informática
propiciam; tudo sem falar, na injusta
posição do juiz de primeiro grau, que
proferiu a decisão recorrida, diante de
um contexto limitado de cognição e,
agora, terá contra ela, todo um processo
instruído.
Segundo pensamos, a mudança, tal
como proposta, não arejará as pautas
dos tribunais. Ao contrário, fará com
que os recursos de apelação demandem
excessivo tempo de apreciação para o
enfrentamento das matérias
preliminares.
Além das questões expostas acima,
algumas outras situações precisam ser
analisadas.
A postergação das razões de
reforma da decisão interlocutória para o
momento da interposição do recurso de
apelação ou de suas contrarrazões,
impedirá o juiz de primeiro grau de
exercitar o juízo de retratação.
Na sistemática atual, o juiz, ciente
das razões recursais, pode retratar-se;
com a modificação imposta pelo
CPC/2015, tal juízo fica prejudicado,
eis que inexistem razões expostas nos
autos para que o convencimento, até
porque nem mesmo a parte sabe se irá
ou não impugnar a decisão quando da
interposição da apelação ou, em
eventual resposta.
Por fim, a redação aprovada e
sancionada, por via transversa, admite a
sustentação oral do recuso de agravo,
hipótese que sempre teve vedação legal
(e no CPC/2015 ainda terá, basta ver a
inexistência de previsão no art. 937,
com exceção das relativas às decisões
interlocutórias “que versem sobre
tutelas provisórias de urgência ou da
evidência”, expressamente prevista no
inciso VIII).
1.3. TAXATIVIDADE OU
NÃO DO ROL DO
ART. 1.015 DO
CPC/2015
Questão que certamente trará muita
discussão na doutrina e na
jurisprudência é a taxatividade ou não
do rol de cabimento do agravo de
instrumento taxativo.
Havendo relevância e urgência,
tornando necessária e primordial a
revisão pelo tribunal e não havendo
como se aguardar a análise do recurso
de apelação pelo tribunal (v.g. decisão
que indefere a alegação de
incompetência relativa ou de
incompetência absoluta feita em
contestação) ou, ainda, quando a decisão
tornar impossível a interposição da
apelação (v.g. decisão que inadmite os
embargos de declaração mercê de sua
intempestividade), resta a indagação: É
irremediável o cabimento do mandado
de segurança contra ato judicial?
Nesse passo explicaremos os dois
posicionamentos que podem vir a ser
admitidos pela doutrina e
jurisprudência.
1.3.1. Não taxatividade do
rol
É bem provável que parte da
doutrina entenda que o rol não é
taxativo,11 ou ainda, que é taxativo, mas
que cada um de seus incisos e parágrafo
único admite extensão para outras
hipóteses correlatas.
As duas interpretações embora
parecidas são radicalmente diferentes.
A primeira defende que o rol é
apenas exemplificativo, admitindo a
interposição de agravo de instrumento
em outras situações, o que viola
frontalmente a regra legal, bem como o
próprio espírito condutor da alteração
do regime do agravo, fazendo com que
fosse previsto um rol tão extenso.
Já a segunda é mais defensável e
prevê a possibilidade de interpretação
extensiva a cada uma das hipóteses de
cabimento do agravo de instrumento.
O art. 1.015, prevê um rol de 12
incisos e um parágrafo único com mais 4
possibilidades de interposição, a saber:

Art. 1.015. Cabe agravo de


instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem
sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;
III – rejeição da alegação de
convenção de arbitragem;
IV – incidente de desconsideração
da personalidade jurídica;
V – rejeição do pedido de
gratuidade da justiça ou
acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI – exibição ou posse de
documento ou coisa;
VII – exclusão de litisconsorte;
VIII – rejeição do pedido de
limitação do litisconsórcio;
IX – admissão ou inadmissão de
intervenção de terceiros;
X – concessão, modificação ou
revogação do efeito suspensivo
aos embargos à execução;
XI – redistribuição do ônus da
prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII – Vetado.
XIII – outros casos expressamente
referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá


agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo
de execução e no processo de
inventário.
Apenas exemplificando, uma
possível solução a ser dada pela
doutrina e pela jurisprudência para a
admissão de agravo de instrumento para
toda e qualquer decisão envolvendo
matéria probatória, aparece na
interpretação extensiva da regra prevista
no parágrafo único do art. 1.015, onde
estabelece o cabimento do recurso
contra as decisões proferidas na fase de
liquidação de sentença.
Ora, dirão os defensores de tal
tese, se todas as decisões proferidas em
liquidação de sentença são relacionadas
a provas e as decisões sobre provas na
fase de conhecimento do processo não
estão no rol do art. 1.015, admitir-se-á a
interposição do agravo instrumentado,
por extensão, às decisões semelhantes
proferidas no processo de
conhecimento, antes da sentença de
primeiro grau.
Tal colocação nos parece
equivocada, eis que a opção do
legislador em permitir em um
procedimento o agravo de instrumento e,
noutro o vedar, está vinculada à
existência de sentença ao final, passível
de ensejar a interposição do recurso de
apelação e nele, portanto, serem
reavivadas, preliminarmente, as
decisões interlocutórias não sujeitas à
preclusão.12

1.3.2. Taxatividade do rol


Outro posicionamento é o de que o
rol é taxativo, mas que não restringe o
cabimento de outro meio de impugnação,
ou seja, o mandado de segurança contra
ato judicial, com o qual concordamos.13
Como muito bem assevera
Alexandre Freitas Câmara,14 além dos
pronunciamentos judiciais irrecorríveis
(descritos no capítulo 5, itens 5.2 e 5.3)
também é admissível a ação impugnativa
do mandado de segurança contra atos
judiciais recorríveis e, assim nos
ensina:

“(...) em casos nos quais se


encontrem presentes,
cumulativamente, dois
pressupostos: primeiro, que não
haja recurso eficiente contra a
decisão, isto é, que o sistema
processual não tenha previsto
recurso capaz de permitir que se
evite lesão ao direito do impetrante
que o ato judicial que se pretende
impugnar será capaz de perpetrar;
segundo, que o ato judicial
impugnado seja, como se
convencionou dizer na prática
forense, ‘teratológico’.
É que em alguns casos proferem-se
decisões judiciais manifestamente
equivocadas, aberrantes. Em
doutrina já se definiu a decisão
‘teratológica’ (rectius,
teratogênica) como ‘a decisão que
afronta inegável e seriamente o
sistema e que, paralelamente a essa
afronta teórica, é capaz de gerar no
campo dos fatos, no mundo
empírico, prejuízo de difícil ou
impossível reparabilidade’”.

Significa dizer que, ao menos em


tese, sempre que a decisão for suscetível
de causar a parte lesão grave e de difícil
reparação e não estiver no rol exaustivo
das hipóteses de cabimento do agravo
de instrumento, será cabível o mandado
de segurança contra ato judicial.
Ou seja, o mandado de segurança
torna-se um sucedâneo recursal do
agravo de instrumento.15
Admitindo-se o cabimento do
mandado de segurança em determinadas
situações, resta-nos definir que será o
prazo para sua impetração será aquele
previsto na lei específica (Lei
12.016/2009), ou seja: 120 (cento e
vinte) dias (LMS, art. 23).16
Por certo, em vista da taxatividade
do rol do art. 1.015 do CPC/2015,
voltarão à tona os conhecidos pedidos
de reconsideração em face daquelas
interlocutórias que não estão
catalogadas no elenco do referido
dispositivo legal.
Na eventualidade de realmente tal
praxe se confirmar, outras questões
reflexas de suma importância passarão a
ser objeto de detida análise pela
doutrina, e, certamente, enfrentada
verticalmente pelos nossos tribunais, eis
que:
(i) o pedido de reconsideração
não interrompe e nem
suspende o prazo decadencial
para a impetração do mandado
de segurança;
(ii) enquanto o pedido de
reconsideração não for
apreciado poderá criar
entrave à impetração, tendo
em vista a possibilidade de a
decisão poder ser revista pelo
mecanismo aviado;
(iii) depois de apreciado o pedido
de reconsideração e mantida a
decisão surgirá certamente um
problema: qual
pronunciamento jurisdicional
será considerado violador
para efeito de desafiar a
impetração do mandado de
segurança: a. Decisão
interlocutória primitiva? ou b.
Decisão interlocutora que
apreciou o pedido de
reconsideração? – Dependerá
do conteúdo da decisão
interlocutória que apreciou o
pedido de reconsideração:
ratificação pura e simples da
decisão anterior (v.g.
“Mantenho a decisão por seus
próprios fundamentos”) ou
enfrentamento e acréscimo de
fundamentação – mantendo ou
não a decisão interlocutória
originária.

Caso se entenda pela não


taxatividade do rol, estar-se-á voltando
no tempo e desprezando todas as
reformas que alteraram a sistemática do
recurso de agravo, que, paulatinamente,
tornou a modalidade instrumentada
exceção do sistema.
A nova regra do agravo de
instrumento encerra um ciclo de
reformas que preparou o sistema
recursal brasileiro para que se chegasse
ao resultado pretendido pelo legislador
do CPC/2015.

1.4. A NOVA
SISTEMÁTICA DO
RECURSO DE
AGRAVO E A
LEGISLAÇÃO
EXTRAVAGANTE
De acordo com as regras impostas
pelo novo regime do agravo surge a
polêmica interessantíssima em torno da
exaustividade do rol do art. 1.015 do
CPC/2015, com a seguinte indagação:
como ficam aquelas decisões
interlocutórias proferidas em processos
regulados por leis extravagantes?
O inciso XIII do referido artigo
estabelece que cabe agravo de
instrumento nos outros casos
expressamente referidos em lei.
Pois bem.
Há diversos processos regulados
em lei extravagante, pretérita ao
CPC/2015, em que há possibilidade de
existirem decisões interlocutórias com
alto índice de prejudicialidade; nada
obstante, não haver previsão expressa
de recurso de agravo.
Podemos citar como exemplo:

a) decisão do juiz que acolhe a


petição inicial, após os
esclarecimentos do Réu, em
ação civil pública;
b) decisão que fixa aluguel
provisório em ação
renovatória de contrato de
locação;
c) decisão que fixa aluguel
provisório em ação revisional
de aluguel;
d) decisão que converte ação de
busca e apreensão em ação
executiva.

Daí, duas conclusões podem


emergir:

(i) não cabe agravo, haja vista a


falta de expressa previsão, ou;
(ii) cabe agravo de instrumento
com base em critérios
interpretativos.
Somos favoráveis à segunda
conclusão – cabe agravo de instrumento
–, e mais, tal posição não significa
concluir, por via de consequência, que o
rol não é exaustivo.
Expliquemos.
Em relação às legislações
extravagantes pretéritas ao CPC/2015 há
que se fazer interpretação histórica e
sistemática para concluir pela
recorribilidade das interlocutórias, eis
que no momento em que foram editadas,
a regra era a da recorribilidade imediata
das decisões interlocutórias, não
havendo, pois, qualquer necessidade de
o legislador explicitar a recorribilidade
ou não pontualmente.
É certo que, com a vigência do
CPC/2015, o legislador, nas leis
extravagantes, se acautelará, prevendo
expressamente a recorribilidade das
interlocutórias, quando assim desejar.
Com isso, o que se quer dizer é
que, naqueles processos regulados por
lei extravagante pretérita ao CPC/2015,
as decisões interlocutórias com
potencialidade de causar prejuízo
devem ensejar o agravo de instrumento.
__________
1 Parte da Lei 5.925/1973 que tratava do
agravo, alterando o texto original do
CPC/1973, entrando em vigor juntamente
com Código:
“Art. 522. Ressalvado o disposto nos
artigos 504 e 513, das decisões proferidas
no processo caberá agravo de instrumento.
§ 1º Na petição, o agravante poderá
requerer que o agravo fique retido nos
autos, a fim de que dele conheça o tribunal,
preliminarmente, por ocasião do
julgamento da apelação; reputar-se-á
renunciado o agravo se a parte não pedir
expressamente, nas razões ou nas
contrarrazões da apelação, sua apreciação
pelo Tribunal. § 2º Requerendo o agravante
a imediata subida do recurso, será este
processado na conformidade dos artigos
seguintes”.
“Art. 523. O agravo de instrumento será
interposto no prazo de cinco (5) dias por
petição que conterá: I - a exposição do fato
e do direito; II - as razões do pedido de
reforma da decisão; III - a indicação das
peças do processo que devam ser
trasladadas. Parágrafo único. Serão
obrigatoriamente trasladadas a decisão
agravada, a certidão da respectiva intimação
e a procuração outorgada ao advogado do
agravante, salvo se outra instruir a petição
de agravo”.
“Art. 524. Deferida a formação do agravo,
será intimado o agravado para, no prazo de
cinco (5) dias, indicar as peças dos autos,
que serão trasladadas, e juntar documentos
novos.”
“Art. 525. Será de quinze (15) dias o prazo
para a extração, a conferência e o concerto
do traslado, prorrogável por mais dez (10)
dias, mediante solicitação do escrivão.
Parágrafo único. Se o agravado apresentar
documento novo, será aberta vista ao
agravante para dizer sobre ele no prazo de
cinco (5) dias.”
“Art. 526. Concluída a formação do
instrumento, o agravado será intimado para
responder.”
“Art. 527. O agravante preparará o recurso
no prazo de dez (10) dias, contados da
publicação da conta, subindo os autos
conclusos ao juiz para reformar ou manter
a decisão agravada. § 1º O agravante
efetuará o preparo, que inclui as custas do
juízo e do tribunal, inclusive do porte de
retorno, sob pena de deserção. § 2º
Independe de preparo o agravo retido (art.
522, § 1º). § 3º O juiz poderá ordenar a
extração e a juntada nos autos de peças não
indicadas pelas partes. § 4º Mantida a
decisão, o escrivão remeterá o recurso ao
tribunal dentro de dez (10) dias. § 5º Se o
juiz a reformar, o escrivão trasladará para
os autos principais o inteiro teor da
decisão. § 6º Não se conformando o
agravado com a nova decisão poderá
requerer, dentro de cinco (5) dias, a
remessa do instrumento ao tribunal,
consignando em cartório a importância de
preparo feito pela parte contrária, para ser
levantado por esta, se o tribunal negar
provimento ao recurso.”
“Art. 529. Se o agravo de instrumento não
for conhecido, porque interposto fora do
prazo legal, o tribunal imporá ao agravante
a condenação, em benefício do agravado,
no pagamento do décuplo do valor das
custas respectivas.”
2 Lei 9.139, de 30 de novembro de 1995:
“Art. 1º Os arts. 522, 523, 524, 525, 526,
527, 528 e 529 do Código de Processo
Civil, Livro I, Título X, Capítulo III, passam
a vigorar, sob o título “Do Agravo”, com a
seguinte redação:
Art. 522 - Das decisões interlocutórias
caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias,
retido nos autos ou por instrumento.
Parágrafo único - O agravo retido
independe de preparo.
Art. 523 - Na modalidade de agravo retido
o agravante requererá que o tribunal dele
conheça, preliminarmente, por ocasião do
julgamento da apelação. § 1º - Não se
conhecerá do agravo se a parte não
requerer expressamente, nas razões ou na
resposta da apelação, sua apreciação pelo
Tribunal. § 2º - Interposto o agravo, o juiz
poderá reformar sua decisão, após ouvida a
parte contrária, em 5 (cinco) dias. § 3º -
Das decisões interlocutórias proferidas em
audiência admitir-se-á interposição oral do
agravo retido, a constar do respectivo
termo, expostas sucintamente as razões que
justifiquem o pedido de nova decisão. § 4º
- Será sempre retido o agravo das decisões
posteriores à sentença, salvo caso de
inadmissão da apelação.
Art. 524 - O agravo de instrumento será
dirigido diretamente ao tribunal
competente, através de petição com os
seguintes requisitos: I - a exposição do fato
e do direito; II - as razões do pedido de
reforma da decisão; III - o nome e o
endereço completo dos advogados,
constantes do processo.
Art. 525 - A petição de agravo de
instrumento será instruída: I -
obrigatoriamente, com cópias da decisão
agravada, da certidão da respectiva
intimação e das procurações outorgadas
aos advogados do agravante e do agravado;
II - facultativamente, com outras peças que
o agravante entender úteis. § 1º -
Acompanhará a petição o comprovante do
pagamento das respectivas custas e do
porte de retorno, quando devidos,
conforme tabela que será publicada pelos
tribunais. § 2º - No prazo do recurso, a
petição será protocolada no tribunal, ou
postada no correio sob registro com aviso
de recebimento, ou, ainda, interposta por
outra forma prevista na lei local.
Art. 526 - O agravante, no prazo de 3 (três)
dias, requererá juntada, aos autos do
processo, de cópia da petição do agravo de
instrumento e do comprovante de sua
interposição, assim como a relação dos
documentos que instruíram o recurso.
Art. 527 - Recebido o agravo de
instrumento no tribunal, e distribuído
incontinenti, se não for caso de
indeferimento liminar (art. 557), o relator:
I - poderá requisitar informações ao juiz da
causa, que as prestará no prazo de 10 (dez)
dias; II - poderá atribuir efeito suspensivo
ao recurso (art. 558), comunicando ao juiz
tal decisão; III - intimará o agravado, na
mesma oportunidade, por ofício dirigido ao
seu advogado, sob registro e com aviso de
recebimento, para que responda no prazo
de 10 (dez) dias, facultando-lhe juntar
cópias das peças que entender
convenientes; nas comarcas sede de
tribunal, a intimação far-se-á pelo órgão
oficial; IV - ultimadas as providências dos
incisos anteriores, mandará ouvir o
Ministério Público, se for o caso, no prazo
de 10 (dez) dias. Parágrafo único - Na sua
resposta, o agravado observará o disposto
no § 2º do art. 525.
Art. 528 - Em prazo não superior a 30
(trinta) dias da intimação do agravado, o
relator pedirá dia para julgamento.
Art. 529 - Se o juiz comunicar que
reformou inteiramente a decisão, o relator
considerará prejudicado o agravo.”
3 Lei 10.352, de 26 de dezembro de 2001:
“Art. 1º Os artigos da Lei no 5.869, de 11
de janeiro de 1973, que instituiu o Código
de Processo Civil, a seguir mencionados,
passam a vigorar com as seguintes
alterações: (...) “Art. 523 (...) § 2º
Interposto o agravo, e ouvido o agravado no
prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá
reformar sua decisão. (...) § 4º Será retido
o agravo das decisões proferidas na
audiência de instrução e julgamento e das
posteriores à sentença, salvo nos casos de
dano de difícil e de incerta reparação, nos
de inadmissão da apelação e nos relativos
aos efeitos em que a apelação é
recebida.”(NR) “Art. 526 (...) Parágrafo
único. O não cumprimento do disposto
neste artigo, desde que arguido e provado
pelo agravado, importa inadmissibilidade
do agravo.”(NR) “Art. 527. Recebido o
agravo de instrumento no tribunal, e
distribuído incontinenti, o relator: I -
negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos
casos do art. 557; II – poderá converter o
agravo de instrumento em agravo retido,
salvo quando se tratar de provisão
jurisdicional de urgência ou houver perigo
de lesão grave e de difícil ou incerta
reparação, remetendo os respectivos autos
ao juízo da causa, onde serão apensados aos
principais, cabendo agravo dessa decisão ao
órgão colegiado competente; III – poderá
atribuir efeito suspensivo ao recurso (art.
558), ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal,
comunicando ao juiz sua decisão; IV –
poderá requisitar informações ao juiz da
causa, que as prestará no prazo de 10 (dez)
dias; V – mandará intimar o agravado, na
mesma oportunidade, por ofício dirigido ao
seu advogado, sob registro e com aviso de
recebimento, para que responda no prazo
de 10 (dez) dias, facultando-lhe juntar
cópias das peças que entender
convenientes; nas comarcas sede de
tribunal e naquelas cujo expediente forense
for divulgado no diário oficial, a intimação
far-se-á mediante a publicação no órgão
oficial; VI - ultimadas as providências
referidas nos incisos I a V, mandará ouvir o
Ministério Público, se for o caso, para que
se pronuncie no prazo de 10 (dez)
dias.”(NR)
4 V. anexos 1 a 3.
5 Lei 9.800, de 26 de maio de 1999. Art. 1º.
É permitida às partes a utilização de
sistema de transmissão de dados e imagens
tipo fac?símile ou outro similar, para a
prática de atos processuais que dependam
de petição escrita. Art. 2º. A utilização de
sistema de transmissão de dados e imagens
não prejudica o cumprimento dos prazos,
devendo os originais ser entregues em
juízo, necessariamente, até cinco dias da
data de seu término.
6 Art. 932. Incumbe ao relator: (...) III – não
conhecer de recurso inadmissível,
prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da
decisão recorrida; IV – negar provimento a
recurso que for contrário a: a) súmula do
Supremo Tribunal Federal, do Superior
Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal
de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos; c) entendimento firmado em
incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência.
7 Art. 995. Os recursos não impedem a
eficácia da decisão, salvo disposição legal
ou decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão
recorrida poderá ser suspensa por decisão
do relator, se da imediata produção de seus
efeitos houver risco de dano grave, de
difícil ou impossível reparação, e ficar
demonstrada a probabilidade de provimento
do recurso.
8 Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo
relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas,
quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.
9 Durante a tramitação do projeto do novo
CPC durante o processo legislativo a regra
de impugnação às decisões não suscetíveis
a agravo de instrumento pouco mudou. Na
versão aprovada pelo Senado, em 2010, a
teor do que dispõe o parágrafo único do art.
963, as interlocutórias, que,
expressamente, não desafiassem agravo
pelo regime de instrumento, poderiam ser
atacadas no recurso de apelação ou nas suas
contrarrazões. Já, na versão aprovada pela
Câmara dos Deputados, foi criado o
instrumento do protesto antipreclusivo, ou
seja, apenas as matérias sobre as quais
tivesse sido efetuado o protesto poderiam
ser atacadas por ocasião do recurso de
apelação ou das contrarrazões, a rigor das
expressas disposições contidas nos §§ 1.º e
2.º do art. 1.022. Em linhas gerais, a
modificação entre uma versão e outra
estava na criação da figura do protesto, que
acabava por limitar as matérias versadas nas
decisões interlocutórias passíveis de
devolução ao Tribunal. A versão aprovada e
sancionada pela Presidente da República
não prevê o protesto antipreclusivo.
10 No mesmo sentido, em comentário ao
agravo retido oral das audiências de
instrução e julgamento, no CPC/1973:
Araken de Assis. Manual..., cit., n. 52.1.3,
p. 574: “Ademais o correto emprego do art.
523, § 3º, confia na destreza profissional
do representante das partes. Embora
sucintas as razões apresentadas pelo
agravante, no ato da interposição,
observarão o gabarito geral, ou seja, devem
ser atuais e congruentes. Não comportam
tais razões emendas, remendos ou
aperfeiçoamentos em oportunidade
ulterior, principalmente no requerimento
expresso endereçado ao órgão ad quem
(art. 523, caput e § 1.º)”.
11 Admitindo a interposição de agravo de
instrumento em qualquer decisão proferida
no curso da produção antecipada de provas,
ver: Flávio Luiz Yarshell, In: Teresa Arruda
Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo
Talamini e Bruno Dantas (Coords.). Breves
comentários ao Novo Código de
Processo Civil. São Paulo: RT, 2015, p.
1.042: “Também foi infeliz a disposição
que pretendeu restringir o cabimento de
recurso, limitada que foi à hipótese da
decisão que indeferir totalmente a
produção antecipada da prova. (...) aqui
pareceu ignorar que o deferimento da
antecipação pode violar direitos
constitucionalmente assegurados, como
sigilo, intimidade e privacidade. Ou seja: a
lei parece ter partido da falsa premissa de
que o deferimento da prova jamais poderia
acarretar prejuízo para o demandado; o que
é clamoroso equívoco”. Ocorre, porém,
que o legislador foi claro em não admitir
recurso fora da situação prevista no art.
382, § 4º em caso de indeferimento total
da produção pleiteada. Em outro trecho, o
autor preleciona: “Além disso, no curso do
processo é possível, em tese, que haja atos
de caráter decisório – sobre competência,
composição da relação processual, de
deferimento ou indeferimento de quesitos,
de nomeação de perito incapaz ou suspeito,
apenas para ilustrar – a gerar prejuízo
imediato, pela simples razão de que, como
a sentença nada resolverá sobre o mérito,
isso tende a tornar realmente
desnecessário eventual recurso de
apelação; donde não haver como concentrar
a impugnação para o final. Nem seria
sustentável – porque irracional – que o
autor tivesse a faculdade e ônus de apelar
exclusivamente para suscitar as
irregularidades cometidas ao longo do
processo”.
12 V. Capítulo 7.2 – supra.
13 No mesmo sentido: Cassio Scarpinella
Bueno. Projetos de Novo Código de
Processo Civil Comparados e Anotados.
São Paulo: Saraiva, 2014, p. 487: “A
respeito da pergunta (...) sobre o que fazer
diante de uma decisão interlocutória não
prevista como agravável de instrumento
pelos precitados dispositivos, a resposta
parece ser uma só voz, a de que ela será
impugnável por mandado de segurança
contra ato judicial”; José Miguel Garcia
Medina. Novo Código de Processo Civil
comentado. 3ª ed. reescrita de acordo com
a Lei 13.105, de 16.03.2015, São Paulo:
RT, 2015, p. 1.398 e 1.399, verbete II ao
art. 1.015: “Cabimento restrito do agravo
de instrumento. Taxatividade. O agravo de
instrumento, à luz do CPC/2015, é cabível
somente nas hipóteses previstas em lei.
Disso resulta a taxatividade do cabimento
do agravo de instrumento. Cabe agravo de
instrumento nos casos enumerados no art.
1.015 do CPC/2015 e, também, nas demais
hipóteses previstas em lei (Cf. art. 1.015,
inc. XIII do CPC/2015). (...) Vê-se que,
embora taxativo o rol de hipóteses de
cabimento do agravo de instrumento é
bastante amplo. De algum modo, procurou
o legislador antever, com base na
experiência haurida na vigência da lei
processual revogada, os casos em que, sob
a nova lei, justificariam a recorribilidade
imediata da decisão interlocutória. A
riqueza das situações que podem surgir no
dia a dia do foro, porém, escapam da
inventividade do legislador. Nesses casos, à
falta de recurso que possa ser usado
imediatamente conta a decisão, poderá ser
o caso de se fazer uso do mandado de
segurança”.
14 Manual do Mandado de Segurança. 2ª
ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 336 e 337.
15 Cf. José Miguel Garcia Medina. Novo
Código..., cit., p. 1.399, verbete III ao art.
1.015.
16 STJ, MS 10.995/RJ, Corte Especial, rel.
Min. Humberto Martins, j. 16.09.2013,
DJe 07.10.2013: “PROCESSUAL CIVIL.
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA
ATO JUDICIAL. ART. 23 DA LEI N.
12.016/2009. CIÊNCIA PELO
INTERESSADO. DECADÊNCIA.
VERIFICADA. 1. A data de início do prazo
decadencial, para impetração, previsto no
art. 23 da Lei n. 12.016/2009 - e no
revogado art. 18 da Lei n. 1.533/1951) - é
de 120 (cento e vinte) dias, contados a
partir da ciência do ato impugnado. 2.
Cuida-se de mandado de segurança
manejado contra ato judicial, cuja ciência
do impetrante se deu em 8.4.2005 e a
impetração em 25.8.2005, logo, deve-se
considerar fluído o prazo decadencial.
Precedentes: AgRg no MS 16.109/DF, Rel.
Ministro João Otávio de Noronha, Corte
Especial, DJe 26.9.2011; MS 13.818/DF,
Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Corte
Especial, DJe 10.8.2010; e MS 6.945/DF,
Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Corte
Especial, DJ 15.12.2003, p. 172.
Segurança denegada. Mandamus extinto
sem resolução do mérito. Liminar
revogada”.
O DIREITO
INTERTEMPORAL E
O AGRAVO NO
CPC/20151

Assim como as demais normas


jurídicas, as normas processuais têm sua
eficácia temporal regulada pela Lei de
Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
Conforme dispõe o art. 6º da
LINDB, a lei, desde que em vigor
(oficialmente publicada), terá incidência
imediata, devendo ser sempre
respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
A grande peculiaridade, ligada ao
direito intertemporal e as normas
processuais, se refere ao momento de
incidência da nova norma aos processos
em curso, uma vez que no que diz
respeito aos processos findos,
acobertados pela coisa julgada material,
jamais haverá retroatividade dos efeitos
da nova lei, salvo na hipótese de ação
rescisória.
Segundo Nelson Nery Junior a nova
lei processual tem vigência imediata,
atingindo inclusive os processos em
curso, porém “os atos já praticados sob
a égide da lei antiga, bem como as
situações jurídicas já consolidadas
(facta praeterita), não poderão ser
atingidas pela nova lei, sob pena de
ferir-se o ato (processual) jurídico
perfeito e/ou o direito adquirido (CF,
art. 5.º, XXXVI)”.2
Utilizando os ensinamentos de
Nelson Nery Junior,3 devemos dividir os
atos processuais em dois tipos, ou seja,
singular e complexo.
Caso se trate de ato processual
singular, a lei nova somente poderá ser
aplicada se o ato ainda não tiver sido
praticado, mas se o pronunciamento já
tiver sido proferido a lei nova não
poderá atingi-lo.
O ato processual complexo é
aquele composto pela incidência de
mais de um ato processual singular
simultaneamente e, nesse caso, a lei
nova jamais incidirá no ato já praticado,
“somente incidindo sobre aquele que
ainda não foi realizado, se não
prejudicar o ato perfeito anterior”.4
A doutrina reconhece vários
sistemas para a aplicação da nova
norma processual nos processos em
curso, entretanto o mais adequado é o
que considera o isolamento dos atos
processuais, para o qual a lei nova não
atinge os atos processuais já praticados,
nem seus efeitos, mas se aplica aos atos
processuais a praticar.
Nesse sentido, no que tange aos
recursos e as ações impugnativas
autônomas, o princípio é o mesmo,
permanecem intactos os atos praticados,
bem como os efeitos deles decorrentes,
em face da vigência da nova lei,
principalmente em respeito à segurança
jurídica, ao direito de defesa, ao
contraditório e recorribilidade das
decisões.
Impõe-se que os operadores do
direito se atenham às sutilezas que
envolvem o direito intertemporal para
que saibam, como toda a segurança, qual
a lei a ser aplicada ao caso concreto.
Muito cuidado se deve ter na tênue
linha que separa o direito anterior do
direito atual, na medida em que a
aplicação imediata por vezes poderá
constituir-se em falsa ilusão e induzir
seu aplicador ao erro.5
Assim, não se deve perder de vista
que o novo regime somente é aplicável
se, no momento em que foi proferida a
decisão, a nova lei processual se achava
em pleno vigor, caso contrário, apesar
da aplicação imediata, deverá continuar
a incidir o regime antigo.6
Com isso, para se saber qual a lei
aplicável à espécie, basta que se atenha
à data da intimação da decisão
impugnável.7 Se naquela data a nova lei
não se achava em vigor, ela não será
aplicada, independentemente se, à época
da interposição do recurso a lei nova já
estiver em vigor. Prevalece, portanto, a
data da intimação.
Se, por outro lado, o recurso foi
interposto sob a égide da lei antiga,
portanto com as regras da lei antiga, mas
for julgado quando já estiver em vigor a
nova lei, ainda assim será aplicável a
lei anterior, isto é, as regras para o
julgamento do recurso serão as da lei
velha. A lei nova não atingirá uma
situação já consolidada.8
Esta, aliás, é a lição de Nelson
Nery Junior:

“Com muito maior razão, se já


houve a interposição de recurso e,
posteriormente, esse recurso é
abolido por lei nova, a norma não se
aplica àquele caso e o recurso tem
de ser conhecido e julgado pelo
mérito. A mesma solução se aplica
quando a lei posterior exige novo
requisito de admissibilidade de
recurso já interposto: a ele não se
aplica, sendo exigíveis os requisitos
legais da época da interposição do
recurso”.9

Carlos Maximiliano10 contempla


nessa ordem de ideias a questão do
direito adquirido processual, segundo a
qual “não se usa um novo e não se
elimina um velho”. Aduz, ainda, que a
lei nova não modifica o “termo” já
iniciado, em razão do “direito
adquirido” incide desde o momento em
que o veredictum foi prolatado, ou seja,
desde o dia em que as partes foram
intimadas da sentença, como esclarecido
alhures.
Ressalta ainda que se se tratar de
decisão proferida por árbitro, em razão
do caráter convencional de seu
processo, prevalece a norma do dia do
compromisso arbitral no que tange aos
recursos e aos prazos para interpô-los.
O Código de Processo Civil de
2015 (Lei 13.105/2015) trará no início
de sua vigência muitas dúvidas aos
jurisdicionados e aos operadores do
direito. Nossa missão nesse passo é a de
dissecar as hipóteses em que poderão
ocorrer tais questões, no que tange ao
direito intertemporal e, solucioná-las
(ou pelo menos tentar) antes mesmo que
ocorram.
Caso a decisão proferida em
primeiro grau a ser impugnada pelo
agravo tiver sua publicação antes da
entrada em vigor da nova lei, ou seja,
durante sua vacatio legis, ou ainda, se
for proferida em audiência e essa
audiência se deu ainda no regime antigo,
todas as regras a serem seguidas serão
àquelas válidas na data da intimação da
decisão, tal qual dissemos
anteriormente.11

Decisão proferida em audiência


Se a decisão for proferida em
audiência de instrução e julgamento,
antes de terminar o prazo de vacância da
lei nova, será passível de interposição
de agravo retido para impugná-la,
necessariamente em sua forma oral e
imediata (art. 523, § 3.º, do CPC/1973),
salvo quando ocorrer lesão grave de
difícil ou incerta reparação. Se ocorrer
em outra modalidade de audiência,
deverá a parte interpor agravo retido
por escrito, como explanamos
anteriormente.
Caso ocorra uma decisão em
audiência após a entrada em vigor do
CPC/2015, deverá o interessado
analisar se a situação se encaixa em uma
das situações expressamente previstas
no rol taxativo de hipóteses de
cabimento do agravo de instrumento.

Decisões interlocutórias
proferidas antes da vigência do
CPC/2015
Conforme já expôs anteriormente,
na sistemática do recurso de agravo
prevista na nova codificação, o agravo
retido foi extinto. Com isso, e no que se
refere ao direito intertemporal, há que se
esclarecer que: (i) as decisões
interlocutórias, que passaram
irrecorridas sob a égide do CPC/1973,
não poderão ser objeto de preliminar do
recurso de apelação ou de suas
contrarrazões nos termos do art. 1.009, §
1.º, do NCPC; e, (ii) os agravos retidos
interpostos no curso de procedimento
deverão ser reiterados, nos termos da
sistemática do CPC/73, ainda que o
recurso de apelação ou suas
contrarrazões venham a ser apresentados
com a vigência do CPC/2015.
Questão de suma importância diz
respeito aos agravos de instrumento
interpostos sob a égide da legislação
processual vigente (CPC/1973), onde a
decisão monocrática do relator relativa:
ao pedido de atribuição de efeito
suspensivo, ao pedido de antecipação da
tutela recursal e determinação de
conversão em agravo retido, é
irrecorrível (CPC/1973, art. 527,
parágrafo único), mas a sua análise se
de sob o palio da nova legislação
processual (CPC/2015).
As indagações que se colocam são:
(i) Poderá o relator converter em agravo
retido? (ii) A decisão do relator,
atinente ao efeito suspensivo ou
antecipação da tutela recursal,
continuará irrecorrível?
Entendemos que, o relator, ao
apreciar o recurso de agravo interposto,
deverá se pautar na legislação
processual vigente ao tempo do
julgamento e não ao tempo da
interposição do recurso, haja vista a
opção, como regra pelo nosso sistema,
da teoria do isolamento dos atos.
Com isso, o relator não poderá
converter o agravo de instrumento em
agravo retido, tendo em vista a extinção
de tal modalidade de agravo, e,
consequentemente, a inexistência de tal
postura no rol do art. 1.019 do
CPC/2015, devendo, portanto, julgá-lo
na forma instrumentada.
Já com relação à decisão relativa
ao efeito suspensivo ou à antecipação da
tutela recursal, pautando-se na mesma
premissa supra, poderá ser interposto
agravo interno em face dela, a teor do
que dispõe o art. 1.021 do CPC/2015.
__________
1 Cf. Fabio Guidi Tabosa Pessoa. A Lei
11.232/2005 e o direito intertemporal. In:
Gilberto Gomes Bruschi (Coord.).
Execução civil e cumprimento da
sentença. São Paulo: Método, 2006, v. 1,
p. 162 a 173; Ana Beatriz Ferreira Rebello
Presgrave. Direito intertemporal e o
processo civil. Dissertação de mestrado
(inédita). São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2005,
130 p.
2 Atualidades sobre o Processo Civil. 2ª
ed., São Paulo: RT, 1996, p. 20.
3 Teoria..., cit., p. 21.
4 Idem.
5 Teresa Arruda Alvim Wambier, Os
agravos..., cit., p. 620 e seguintes.
6 Horácio Wanderlei Rodrigues e Eduardo de
Avelar Lamy. Teoria Geral do Processo.
3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p.
247 a 249.
7 Na jurisprudência: STJ, REsp.
1.404.796/SP, 1ª Seção, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, j. 26.03.2014, DJe
09.04.2014, de onde destacamos o
seguinte trecho da ementa: “Ocorre que,
por mais que a lei processual seja aplicada
imediatamente aos processos pendentes,
deve-se ter conhecimento que o processo é
constituído por inúmeros atos. Tal
entendimento nos leva à chamada ‘Teoria
dos Atos Processuais Isolados’, em que
cada ato deve ser considerado
separadamente dos demais para o fim de se
determinar qual a lei que o rege, recaindo
sobre ele a preclusão consumativa, ou seja,
a lei que rege o ato processual é aquela em
vigor no momento em que ele é praticado.
Seria a aplicação do Princípio tempus regit
actum. Com base neste princípio, temos
que a lei processual atinge o processo no
estágio em que ele se encontra, onde a
incidência da lei nova não gera prejuízo
algum às partes, respeitando-se a eficácia
do ato processual já praticado. Dessa
forma, a publicação e entrada em vigor de
nova lei só atingem os atos ainda por
praticar, no caso, os processos futuros, não
sendo possível falar em retroatividade da
nova norma, visto que os atos anteriores de
processos em curso não serão atingidos”.
8 Nesse sentido: Cândido Rangel Dinamarco,
A Reforma do..., cit., p. 198, em que
preleciona: “Ter aplicação imediata não
significa ser retroativa: isso quer dizer que
não ficam atingidos pela lei nova os
agravos de instrumento já interpostos
segundo as disposições agora revogadas, ao
tempo em que vigiam. Trata-se de situações
já consumadas e não pendentes e, por isso,
os agravos principiados sob o império da
lei velha continuam sob esse império até ao
fim”.
9 Atualidades..., cit., p. 25.
10 Direito intertemporal ou teoria da
retroatividade das leis. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 1955, p. 278 e 279.
11 Cf. Teresa Arruda Alvim Wambier. Os
agravos..., cit., p. 622 e 623.
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ANEXOS
Anexo 1
Quadro comparativo do
Agravo no CPC/1973 com os
projetos do Novo CPC

Lei nº 5.869, de 11 Projeto do Novo Projeto do Novo


de janeiro de 1973 CPC – CPC – substitutivo
(Código de substitutivo aprovado na
Processo Civil em aprovado no Câmara dos
vigor) Senado Federal Deputados
Art. 1.028. Além
das hipóteses
previstas em lei,
cabe agravo de
instrumento contra
decisão
interlocutória que:
I – conceder, negar,
modificar ou
revogar a tutela
antecipada;
II – versar sobre o
mérito da causa;
III – rejeitar a
alegação de
convenção de
arbitragem;
Art. 969. Cabe
agravo de IV – decidir o
instrumento incidente de
contra as decisões desconsideração da
interlocutórias que personalidade
versarem sobre: jurídica;

I – tutelas de V – negar o pedido


urgência ou da de gratuidade da
evidência; justiça ou acolher o
pedido de sua
II – o mérito da revogação;
causa; VI – determinar a
III – rejeição da exibição ou posse
alegação de de documento ou
convenção de coisa;
Art. 522. Das
arbitragem; VII – excluir
decisões
interlocutórias IV – o incidente litisconsorte;
caberá agravo, no de resolução de VIII – indeferir o
prazo de 10 (dez) desconsideração pedido de limitação
dias, na forma da personalidade do litisconsórcio;
retida, salvo jurídica;
quando se tratar IX – admitir ou não
V – a gratuidade admitir a
de decisão
de justiça; intervenção de
suscetível de
causar à parte VI – a exibição ou terceiros;
lesão grave e de posse de X – versar sobre
difícil reparação, documento ou competência;
bem como nos coisa;
casos de XI – determinar a
VII – exclusão de abertura de
inadmissão da
litisconsorte por procedimento de
apelação e nos
ilegitimidade; avaria grossa;
relativos aos
efeitos em que a VIII – a limitação XII – indeferir a
apelação é
de litisconsórcio; petição inicial da
recebida, quando reconvenção ou a
será admitida a IX – a admissão
julgar liminarmente
sua interposição ou inadmissão de
improcedente;
por instrumento. intervenção de
terceiros; XIII – redistribuir o
Parágrafo único. ônus da prova nos
O agravo retido X – outros casos termos do art. 380,
independe de expressamente § 1º;
preparo. referidos em lei.
XIV – converter a
Parágrafo único.
ação individual em
Também caberá
ação coletiva;
agravo de
instrumento XV – alterar o valor
contra decisões da causa antes da
interlocutórias sentença;
proferidas na fase
XVI – decidir o
de liquidação de
requerimento de
sentença,
distinção na
cumprimento de
hipótese do art.
sentença, no
1.050, § 13, inciso I;
processo de
execução e no XVII – tenha sido
processo de proferida na fase de
inventário. liquidação ou de
cumprimento de
sentença e nos
processos de
execução e de
inventário;
XVIII – resolver o
requerimento
previsto no art. 990,
§ 4º;
XIX – indeferir
prova pericial;
XX – não
homologar ou
recusar aplicação a
negócio processual
celebrado pelas
partes.

Art. 523. Na
modalidade de
agravo retido o
agravante
requererá que o Art. 1.022. (...)
tribunal dele
§ 1º As questões
conheça,
resolvidas na fase
preliminarmente,
de conhecimento,
por ocasião do
se a decisão a seu
julgamento da
respeito não
apelação.
comportar agravo
§ 1º Não se de instrumento,
conhecerá do têm de ser
agravo se a parte impugnadas em
não requerer Art. 963. (...) apelação,
expressamente, eventualmente
Parágrafo único.
nas razões ou na interposta contra a
As questões
resposta da sentença, ou nas
resolvidas na fase
apelação, sua contrarrazões.
cognitiva, se a
apreciação pelo Sendo suscitadas
decisão a seu
Tribunal. em contrarrazões, o
respeito não
recorrente será
§ 2º Interposto o comportar agravo
intimado para, em
agravo, e ouvido o de instrumento,
quinze dias,
agravado no prazo não ficam
manifestar-se a
de 10 (dez) dias, o cobertas pela respeito delas.
juiz poderá preclusão e devem
§ 2º A impugnação
reformar sua ser suscitadas em
prevista no § 1º
decisão. preliminar de
pressupõe a prévia
apelação,
§ 3º Das decisões apresentação de
eventualmente
interlocutórias protesto específico
interposta contra a
proferidas na contra a decisão no
decisão final, ou
audiência de primeiro momento
nas contrarrazões.
instrução e que couber à parte
julgamento falar nos autos, sob
caberá agravo na pena de preclusão;
forma retida, as razões do
devendo ser protesto têm de ser
interposto oral e apresentadas na
imediatamente, apelação ou nas
bem como constar contrarrazões de
do respectivo apelação, nos
termo (art. 457), termos do § 1º.
nele expostas
sucintamente as
razões do
agravante.
Art. 1.029. O agravo
Art. 970. O agravo de instrumento será
Art. 524. O agravo dirigido
de instrumento
de instrumento diretamente ao
será dirigido
será dirigido tribunal
diretamente ao
diretamente ao competente, por
tribunal
tribunal meio de petição
competente, por
competente, com os seguintes
meio de petição
através de petição requisitos:
com os seguintes
com os seguintes
requisitos: I – os nomes das
requisitos:
I – a exposição do partes;
I – a exposição do
fato e do direito; II – a exposição do
fato e do direito;
II – as razões do fato e do direito;
II – as razões do
pedido de reforma III – as razões do
pedido de reforma
da decisão e o pedido de reforma
da decisão;
próprio pedido; ou de invalidação
III – o nome e o da decisão e o
III – o nome e o
endereço próprio pedido;
endereço
completo dos
completo dos IV – o nome e o
advogados,
advogados endereço completo
constantes do
constantes do dos advogados
processo. processo. constantes do
processo.

Art. 1.030. A
petição de agravo
de instrumento será
instruída:
I –
obrigatoriamente,
com cópias da
petição inicial, da
contestação, da
Art. 971. A petição petição que ensejou
de agravo de a decisão agravada,
Art. 525. A petição da própria decisão
instrumento será
de agravo de agravada, da
instruída:
instrumento será certidão da
instruída: I – respectiva
obrigatoriamente, intimação ou outro
I –
com cópias da documento oficial
obrigatoriamente,
decisão agravada, que comprove a
com cópias da
da certidão da tempestividade e
decisão agravada,
da certidão da respectiva das procurações
respectiva intimação ou outro outorgadas aos
intimação e das documento oficial advogados do
procurações que comprove a agravante e do
outorgadas aos tempestividade e agravado;
advogados do das procurações
II – com certidão
agravante e do outorgadas aos
que ateste a
agravado; advogados do
inexistência de
agravante e do
II – qualquer dos
agravado;
facultativamente, documentos
com outras peças II – referidos no inciso I
que o agravante facultativamente, deste artigo, a ser
entender úteis. com outras peças expedida pelo
que o agravante cartório no prazo de
entender úteis. vinte e quatro
horas,
independentemente
do pagamento de
qualquer despesa;
III –
facultativamente,
com outras peças
que o agravante
reputar úteis.
§ 1º Acompanhará
a petição o
comprovante do
pagamento das
respectivas custas e
do porte de retorno,
quando devidos,
conforme tabela
publicada pelos
tribunais.
§ 2º No prazo do
recurso, o agravo
será interposto por:
I – protocolo
realizado
diretamente no
tribunal
competente para
julgá-lo;
II – protocolo
realizado na própria
comarca, seção ou
subseção
judiciárias;
§ 1º Acompanhará
III – postagem, sob
a petição o
registro com aviso
comprovante do
de recebimento;
pagamento das
respectivas custas IV – transmissão
§ 1º Acompanhará e do porte de de dados tipo fac-
a petição o retorno, quando símile nos termos da
comprovante do devidos, conforme lei;
pagamento das tabela publicada
respectivas custas pelos tribunais. V – por outra forma
e do porte de prevista na lei.
§ 2º No prazo do
retorno, quando § 3º Na falta da
recurso, a petição
devidos, conforme cópia de qualquer
será protocolada
tabela que será peça ou no caso de
no tribunal,
publicada pelos algum outro vício
postada no correio
tribunais. que comprometa a
sob registro com
admissibilidade do
§ 2º No prazo do aviso de
agravo de
recurso, a petição recebimento ou
será protocolada interposta por instrumento, deve o
no tribunal, ou outra forma relator aplicar o
postada no correio prevista na lei disposto no art.
sob registro com local. 945, parágrafo único.
aviso de
§ 3º A falta de § 4º Se o recurso
recebimento, ou,
peça obrigatória for interposto por
ainda, interposta
não implicará a sistema de
por outra forma
inadmissibilidade transmissão de
prevista na lei
do recurso se o dados tipo fac-símile
local.
recorrente, ou similar, as peças
intimado, vier a devem ser juntadas
supri-la no prazo no momento de
de cinco dias. protocolo da
petição original.
§ 5º Sendo
eletrônicos os autos
do processo,
dispensam-se as
peças referidas nos
incisos I e II do
caput, facultando-se
ao agravante
anexar outros
documentos que
entender úteis para
a compreensão da
controvérsia.
§ 6º A certidão
prevista no inciso II
pode ser substituída
por declaração de
inexistência de
qualquer dos
documentos do
inciso I feita pelo
advogado do
agravante, sob sua
responsabilidade
pessoal.

Art. 1.031. O
agravante poderá
requerer a juntada,
aos autos do
processo, de cópia
da petição do
agravo de
instrumento, do
comprovante de
Art. 972. O
Art. 526. O sua interposição e
agravante poderá
agravante, no da relação dos
requerer a juntada
prazo de 3 (três) documentos que
aos autos do
dias, requererá instruíram o
processo, de cópia
juntada, aos autos recurso.
da petição do
do processo de
agravo de § 1º Se o juiz
cópia da petição
instrumento e do comunicar que
do agravo de
comprovante de reformou
instrumento e do
sua interposição, inteiramente a
comprovante de
assim como a decisão, o relator
sua interposição,
relação dos considerará
assim como a
documentos que prejudicado o
relação dos
instruíram o agravo de
documentos que
recurso, com instrumento.
instruíram o
exclusivo objetivo
recurso. § 2º Não sendo
de provocar a
eletrônicos os
Parágrafo único. retratação.
autos, o agravante
O não
Parágrafo único. tomará a
cumprimento do
disposto neste Se o juiz providência
artigo, desde que comunicar que prevista no caput, no
argüido e provado reformou prazo de três dias a
pelo agravado, inteiramente a contar da
importa decisão, o relator interposição do
inadmissibilidade considerará agravo de
do agravo. prejudicado o instrumento. O
agravo. descumprimento
dessa exigência em
tal hipótese, desde
que arguido e
provado pelo
agravado, importa
inadmissibilidade
do agravo de
instrumento.

Art. 527. Recebido


o agravo de
instrumento no
tribunal, e
distribuído
incontinenti, o
relator:
I – negar-lhe-á
seguimento,
liminarmente, nos
casos do art. 557;
II – converterá o
agravo de
instrumento em
agravo retido,
salvo quando se
tratar de decisão
suscetível de
causar à parte
lesão grave e de
difícil reparação, Art. 973. Recebido
bem como nos o agravo de
casos de instrumento no
inadmissão da tribunal e
apelação e nos distribuído
relativos aos imediatamente, se
efeitos em que a não for o caso de
apelação é julgamento
recebida, monocrático, o Art. 1.032. Recebido
mandando relator: o agravo de
remeter os autos instrumento no
I – poderá atribuir
ao juiz da causa; tribunal e
efeito suspensivo
III – poderá ao recurso ou distribuído
atribuir efeito deferir, em imediatamente, se
suspensivo ao antecipação de não for o caso de
recurso (art. 558), tutela, total ou aplicação do art.
ou deferir, em parcialmente, a 945, incisos III e IV,
antecipação de pretensão o relator, no prazo
tutela, total ou recursal, de cinco dias:
parcialmente, a comunicando ao I – poderá atribuir
pretensão juiz sua decisão; efeito suspensivo
recursal, ao recurso ou
II – mandará
comunicando ao deferir, em
intimar o
juiz sua decisão; antecipação de
agravado, na
IV – poderá mesma tutela, total ou
requisitar oportunidade, por parcialmente, a
informações ao ofício dirigido ao pretensão recursal,
juiz da causa, que seu advogado, sob comunicando ao
as prestará no registro e com juiz sua decisão;
prazo de 10 (dez) aviso de II – ordenará a
dias; recebimento, para intimação do
que responda no agravado
V – mandará
prazo de quinze pessoalmente e por
intimar o
dias, facultando- carta com aviso de
agravado, na
lhe juntar a recebimento,
mesma
documentação que quando não
oportunidade, por
entender tiverprocurador
ofício dirigido ao
conveniente, constituído, ou, pelo
seu advogado, sob
sendo que, nas Diário da Justiça ou
registro e com
comarcas sede de por carta dirigida ao
aviso de
tribunal e seu advogado, com
recebimento, para
naquelas em que o aviso
que responda no
expediente derecebimento,
prazo de 10 (dez)
forense for para que responda
dias (art. 525, §
divulgado no no prazo de quinze
2o), facultando-
diário oficial, a dias, facultando-lhe
lhe juntar a
intimação far-se-á juntar a
documentação
mediante documentação que
que entender
publicação no entender necessária
conveniente,
respectivo órgão; ao julgamento do
sendo que, nas
recurso;
comarcas sede de III – determinará
tribunal e a intimação, III – determinará a
naquelas em que preferencialmente intimação do
o expediente por meio Ministério Público,
forense for eletrônico, do preferencialmente
divulgado no Ministério Público, por meio eletrônico,
diário oficial, a quando for caso de quando for caso de
intimação far-se-á sua intervenção sua intervenção,
mediante para que se para que se
publicação no pronuncie no prazo manifeste no prazo
órgão oficial; de dez dias. de quinze dias.
VI – ultimadas as Parágrafo único. A
providências decisão liminar,
referidas nos proferida na
incisos III a V do hipótese do inciso
caput deste I, é irrecorrível.
artigo, mandará
ouvir o Ministério
Público, se for o
caso, para que se
pronuncie no
prazo de 10 (dez)
dias.
Parágrafo único.
A decisão liminar,
proferida nos
casos dos incisos
II e III do caput
deste artigo,
somente é
passível de
reforma no
momento do
julgamento do
agravo, salvo se o
próprio relator a
reconsiderar.

Art. 528. Em prazo Art. 1.033. O relator


Art. 974. Em prazo
não superior a 30 solicitará dia para
não superior a um
(trinta) dias da julgamento em
mês da intimação
intimação do prazo não superior
do agravado, o
agravado, o a um mês da
relator pedirá dia
relator pedirá dia intimação do
para julgamento.
para julgamento. agravado.

Art. 972,
Art. 1.031, § 1º. Se o
Art. 529. Se o juiz Parágrafo único.
comunicar que Se o juiz juiz comunicar que
reformou comunicar que reformou
inteiramente a reformou inteiramente a
decisão, o relator inteiramente a decisão, o relator
considerará decisão, o relator considerará
prejudicado o considerará prejudicado o
agravo. prejudicado o agravo de
agravo. instrumento.
Anexo 2
Quadro comparativo do
Agravo no CPC/1973 com o
CPC/2015

Lei nº 5.869, de 11 de janeiro


de 1973 (Código de Processo CPC/2015
Civil)

Art. 1.015. Cabe agravo de


instrumento contra as
decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;
III – rejeição da alegação de
convenção de arbitragem;
IV – incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
V – rejeição do pedido de
gratuidade da justiça ou
acolhimento do pedido de sua
revogação;
Art. 522. Das decisões
VI – exibição ou posse de
interlocutórias caberá agravo,
documento ou coisa;
no prazo de 10 (dez) dias, na
forma retida, salvo quando se VII – exclusão de
tratar de decisão suscetível litisconsorte;
de causar à parte lesão grave
e de difícil reparação, bem VIII – rejeição do pedido de
como nos casos de limitação do litisconsórcio;
inadmissão da apelação e nos IX – admissão ou inadmissão
relativos aos efeitos em que de intervenção de terceiros;
a apelação é recebida,
quando será admitida a sua X – concessão, modificação
interposição por instrumento. ou revogação do efeito
Parágrafo único. O agravo suspensivo aos embargos à
retido independe de preparo. execução;
XI – redistribuição do ônus da
prova nos termos do art. 373,
§ 1º;
XII – Vetado.
XIII – outros casos
expressamente referidos em
lei.
Parágrafo único. Também
caberá agravo de instrumento
contra decisões
interlocutórias proferidas na
fase de liquidação de
sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de
execução e no processo de
inventário.

Art. 523. Na modalidade de


agravo retido o agravante Art. 1.009. Da sentença cabe
requererá que o tribunal dele apelação.
conheça, preliminarmente, § 1º As questões resolvidas
por ocasião do julgamento da na fase de conhecimento, se
apelação. a decisão a seu respeito não
comportar agravo de
§ 1º Não se conhecerá do
instrumento, não são
agravo se a parte não
cobertas pela preclusão e
requerer expressamente, nas
devem ser suscitadas em
razões ou na resposta da
preliminar de apelação,
apelação, sua apreciação pelo
eventualmente interposta
Tribunal.
contra a decisão final, ou nas
§ 2º Interposto o agravo, e contrarrazões.
ouvido o agravado no prazo
§ 2º Se as questões referidas
de 10 (dez) dias, o juiz poderá
no § 1º forem suscitadas em
reformar sua decisão.
contrarrazões, o recorrente
§ 3º Das decisões será intimado para, em 15
interlocutórias proferidas na (quinze) dias, manifestar-se a
audiência de instrução e respeito delas.
julgamento caberá agravo na
§ 3º O disposto no caput
forma retida, devendo ser
deste artigo aplica-se mesmo
interposto oral e
quando as questões
imediatamente, bem como
mencionadas no art. 1.015
constar do respectivo termo
integrarem capítulo da
(art. 457), nele expostas
sucintamente as razões do sentença.
agravante.
Art. 1.016. O agravo de
Art. 524. O agravo de instrumento será dirigido
instrumento será dirigido diretamente ao tribunal
diretamente ao tribunal competente, por meio de
competente, através de petição com os seguintes
petição com os seguintes requisitos:
requisitos: I – os nomes das partes;
I – a exposição do fato e do II – a exposição do fato e do
direito; direito;
II – as razões do pedido de III – as razões do pedido de
reforma da decisão; reforma ou de invalidação da
III – o nome e o endereço decisão e o próprio pedido;
completo dos advogados, IV – o nome e o endereço
constantes do processo. completo dos advogados
constantes do processo.

Art. 1.017. A petição de


agravo de instrumento será
instruída:
I – obrigatoriamente, com
cópias da petição inicial, da
contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada,
da própria decisão agravada,
da certidão da respectiva
intimação ou outro
documento oficial que
comprove a tempestividade e
das procurações outorgadas
aos advogados do agravante
e do agravado;
II – com declaração de
inexistência de qualquer dos
documentos referidos no
inciso I, feita pelo advogado
do agravante, sob pena de
sua responsabilidade pessoal;
III – facultativamente, com
outras peças que o agravante
Art. 525. A petição de agravo reputar úteis.
de instrumento será instruída: § 1º Acompanhará a petição o
I – obrigatoriamente, com comprovante do pagamento
cópias da decisão agravada, das respectivas custas e do
da certidão da respectiva porte de retorno, quando
intimação e das procurações devidos, conforme tabela
outorgadas aos advogados do publicada pelos tribunais.
agravante e do agravado; § 2º No prazo do recurso, o
II – facultativamente, com agravo será interposto por:
outras peças que o agravante I – protocolo realizado
entender úteis. diretamente no tribunal
§ 1º Acompanhará a petição o competente para julgá-lo;
comprovante do pagamento II – protocolo realizado na
das respectivas custas e do própria comarca, seção ou
porte de retorno, quando subseção judiciárias;
devidos, conforme tabela que
será publicada pelos III – postagem, sob registro
tribunais. com aviso de recebimento;

§ 2º No prazo do recurso, a IV – transmissão de dados


petição será protocolada no tipo fac-símile nos termos da
tribunal, ou postada no lei;
correio sob registro com aviso V – outra forma prevista na
de recebimento, ou, ainda, lei.
interposta por outra forma
prevista na lei local. § 3º Na falta da cópia de
qualquer peça ou no caso de
algum outro vício que
comprometa a
admissibilidade do agravo de
instrumento, deve o relator
aplicar o disposto no art. 932,
parágrafo único.
§ 4º Se o recurso for
interposto por sistema de
transmissão de dados tipo fac-
símile ou similar, as peças
devem ser juntadas no
momento de protocolo da
petição original.
§ 5º Sendo eletrônicos os
autos do processo,
dispensam-se as peças
referidas nos incisos I e II do
caput, facultando-se ao
agravante anexar outros
documentos que entender
úteis para a compreensão da
controvérsia.

Art. 1.018. O agravante


poderá requerer a juntada,
aos autos do processo, de
cópia da petição do agravo de
instrumento, do comprovante
Art. 526. O agravante, no de sua interposição e da
prazo de 3 (três) dias, relação dos documentos que
requererá juntada, aos autos instruíram o recurso.
do processo de cópia da
petição do agravo de § 1º Se o juiz comunicar que
instrumento e do reformou inteiramente a
comprovante de sua decisão, o relator considerará
interposição, assim como a prejudicado o agravo de
relação dos documentos que instrumento.
instruíram o recurso.
§ 2º Não sendo eletrônicos os
Parágrafo único. O não autos, o agravante tomará a
cumprimento do disposto providência prevista no caput,
neste artigo, desde que no prazo de 3 (três) dias a
arguido e provado pelo contar da interposição do
agravado, importa agravo de instrumento.
inadmissibilidade do agravo. § 3º O descumprimento da
exigência de que trata o § 2º,
desde que arguido e provado
pelo agravado, importa
inadmissibilidade do agravo
de instrumento.
Art. 527. Recebido o agravo
de instrumento no tribunal, e
distribuído incontinenti, o
relator:
I – negar-lhe-á seguimento,
liminarmente, nos casos do
art. 557;
II – converterá o agravo de
instrumento em agravo
retido, salvo quando se tratar Art. 1.019. Recebido o agravo
de decisão suscetível de de instrumento no tribunal e
causar à parte lesão grave e distribuído imediatamente, se
de difícil reparação, bem não for o caso de aplicação do
como nos casos de art. 932, incisos III e IV, o
inadmissão da apelação e nos relator, no prazo de 5 (cinco)
relativos aos efeitos em que dias:
a apelação é recebida,
I – poderá atribuir efeito
mandando remeter os autos
suspensivo ao recurso ou
ao juiz da causa;
deferir, em antecipação de
III – poderá atribuir efeito tutela, total ou parcialmente,
suspensivo ao recurso (art. a pretensão recursal,
558), ou deferir, em comunicando ao juiz sua
antecipação de tutela, total decisão;
ou parcialmente, a pretensão
II – ordenará a intimação do
recursal, comunicando ao juiz
agravado pessoalmente, por
sua decisão;
carta com aviso de
IV – poderá requisitar recebimento, quando não
informações ao juiz da causa, tiver procurador constituído,
que as prestará no prazo de ou pelo Diário da Justiça ou
10 (dez) dias; por carta dirigida ao seu
advogado, para que responda
V – mandará intimar o
no prazo de 15 (quinze) dias,
agravado, na mesma
facultando-lhe juntar a
oportunidade, por ofício
documentação que entender
dirigido ao seu advogado, sob
necessária ao julgamento do
registro e com aviso de
recurso;
recebimento, para que
responda no prazo de 10 (dez) III – determinará a intimação
dias (art. 525, § 2º), do Ministério Público,
facultando-lhe juntar a preferencialmente por meio
documentação que entender eletrônico, quando for caso de
conveniente, sendo que, nas sua intervenção, para que se
comarcas sede de tribunal e manifeste no prazo de 15
naquelas em que o (quinze) dias.
expediente forense for
divulgado no diário oficial, a
intimação far-se-á mediante
publicação no órgão oficial;
VI – ultimadas as
providências referidas nos
incisos III a V do caput deste
artigo, mandará ouvir o
Ministério Público, se for o
caso, para que se pronuncie
no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. A decisão
Art. 1.021. Contra decisão
liminar, proferida nos casos
proferida pelo relator caberá
dos incisos II e III do caput
agravo interno para o
deste artigo, somente é
respectivo órgão colegiado,
passível de reforma no
observadas, quanto ao
momento do julgamento do processamento, as regras do
agravo, salvo se o próprio regimento interno do tribunal.
relator a reconsiderar.

Art. 528. Em prazo não


Art. 1.020. O relator solicitará
superior a 30 (trinta) dias da
dia para julgamento em prazo
intimação do agravado, o
não superior a 1 (um) mês da
relator pedirá dia para
intimação do agravado.
julgamento.

Art. 1.018, § 1º. Se o juiz


Art. 529. Se o juiz comunicar comunicar que reformou
que reformou inteiramente a inteiramente a decisão, o
decisão, o relator considerará relator considerará
prejudicado o agravo. prejudicado o agravo de
instrumento.
Anexo 3
O agravo de instrumento e o
agravo interno no CPC/2015
DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Art. 1015. Cabe agravo de instrumento


contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I – tutelas provisórias;
II – mérito do processo;
III – rejeição da alegação de convenção de
arbitragem;
IV – incidente de desconsideração da
personalidade jurídica;
V – rejeição do pedido de gratuidade da
justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI – exibição ou posse de documento ou
coisa;
VII – exclusão de litisconsorte;
VIII – rejeição do pedido de limitação do
litisconsórcio;
IX – admissão ou inadmissão de
intervenção de terceiros;
X – concessão, modificação ou revogação
do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI – redistribuição do ônus da prova nos
termos do art. 373, § 1º;
XII – vetado;
XIII – outros casos expressamente
referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo
de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou
de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.
Art. 1.016. O agravo de instrumento será
dirigido diretamente ao tribunal competente,
por meio de petição com os seguintes
requisitos:
I – os nomes das partes;
II – a exposição do fato e do direito;
III – as razões do pedido de reforma ou de
invalidação da decisão e o próprio pedido;
IV – o nome e o endereço completo dos
advogados constantes do processo.
Art. 1.017. A petição de agravo de
instrumento será instruída:
I – obrigatoriamente, com cópias da
petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão
agravada, da certidão da respectiva intimação
ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade e das procurações outorgadas
aos advogados do agravante e do agravado;
II – com declaração de inexistência de
qualquer dos documentos referidos no inciso I,
feita pelo advogado do agravante, sob pena de
sua responsabilidade pessoal;
III – facultativamente, com outras peças
que o agravante reputar úteis.
§ 1º Acompanhará a petição o
comprovante do pagamento das respectivas
custas e do porte de retorno, quando devidos,
conforme tabela publicada pelos tribunais.
§ 2º No prazo do recurso, o agravo será
interposto por:
I – protocolo realizado diretamente no
tribunal competente para julgá-lo;
II – protocolo realizado na própria
comarca, seção ou subseção judiciárias;
III – postagem, sob registro com aviso de
recebimento;
IV – transmissão de dados tipo fac-símile
nos termos da lei;
V – outra forma prevista na lei.
§ 3º Na falta da cópia de qualquer peça ou
no caso de algum outro vício que comprometa
a admissibilidade do agravo de instrumento,
deve o relator aplicar o disposto no art. 932,
parágrafo único.
§ 4º Se o recurso for interposto por
sistema de transmissão de dados tipo fac-
símile ou similar, as peças devem ser juntadas
no momento de protocolo da petição original.
§ 5º Sendo eletrônicos os autos do
processo, dispensam-se as peças referidas nos
incisos I e II do caput, facultando-se ao
agravante anexar outros documentos que
entender úteis para a compreensão da
controvérsia.
Art. 1.018. O agravante poderá requerer a
juntada, aos autos do processo, de cópia da
petição do agravo de instrumento, do
comprovante de sua interposição e da relação
dos documentos que instruíram o recurso.
§ 1º Se o juiz comunicar que reformou
inteiramente a decisão, o relator considerará
prejudicado o agravo de instrumento.
§ 2º Não sendo eletrônicos os autos, o
agravante tomará a providência prevista no
caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da
interposição do agravo de instrumento.
§ 3º O descumprimento da exigência de
que trata o § 2º, desde que arguido e provado
pelo agravado, importa inadmissibilidade do
agravo de instrumento.
Art. 1.019. Recebido o agravo de
instrumento no tribunal e distribuído
imediatamente, se não for o caso de aplicação
do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo
de 5(cinco) dias:
I – poderá atribuir efeito suspensivo ao
recurso ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal,
comunicando ao juiz sua decisão;
II – ordenará a intimação do agravado
pessoalmente, por carta com aviso de
recebimento, quando não tiver procurador
constituído, ou pelo Diário da Justiça ou por
carta dirigida ao seu advogado, para que
responda no prazo de 15 (quinze) dias,
facultando-lhe juntar a documentação que
entender necessária ao julgamento do recurso;
III – determinará a intimação do
Ministério Público, preferencialmente por
meio eletrônico, quando for caso de sua
intervenção, para que se manifeste no prazo de
15 (quinze) dias.
Art. 1.020. O relator solicitará dia para
julgamento em prazo não superior a 1(um) mês
da intimação do agravado.

DO AGRAVO INTERNO
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo
relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado, observadas, quanto ao
processamento, as regras do regimento interno
do tribunal.
§ 1º Na petição de agravo interno, o
recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que
intimará o agravado para manifestar-se sobre
recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final
do qual, não havendo retratação, o relator levá-
lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com
inclusão em pauta.
§ 3º É vedado ao relator limitar-se à
reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o agravo
interno.
§ 4º Quando o agravo interno for
declarado manifestamenteinadmissível ou
improcedente em votação unânime, o órgão
colegiado, emdecisão fundamentada, condenará
o agravante a pagar ao agravado multafixada
entre um e cinco por centodo valor atualizado
da causa.
§ 5º A interposição de qualquer outro
recurso estácondicionada ao depósito prévio
do valor da multa prevista no § 4º, àexceçãoda
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade
da justiça, quefarão o pagamento ao final.

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