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Prefácio
Misabel de Abreu Machado Derzi
SEGURANÇA JURÍDICA E
LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO
POR HOMOLOGAÇÃO
A HOMOLOGAÇÃO EXPRESSA
TACITAMENTE VERIFICADA
Belo Horizonte
2016
© 2016 Editora Fórum Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.
Conselho Editorial
192p.
ISBN 978-85-450-0107-2
CDD: 341.39
CDU: 336.2
Começo pelos meus pais, como não poderia deixa de fazer, por
me proporcionarem, com incontáveis renúncias (as quais, sinto, apenas
há pouco tempo realmente compreendi), o ambiente favorável à dedi-
cação aos estudos.
PREFÁCIO
Misabel de Abreu Machado Derzi........................................................................ 15
INTRODUÇÃO
Identificação do objeto desta obra........................................................................ 19
Contextualização .................................................................................................... 20
Justificação............................................................................................................... 24
Plano de trabalho.................................................................................................... 26
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO
POR HOMOLOGAÇAO........................................................................................ 29
1.1 Análise da natureza jurídica do lançamento tributário................... 29
1.1.1 Apontamentos sobre as definições constantes de dispositivos
normativos............................................................................................. 29
1.1.2 Lançamento tributário como conceito jurídico-positivo.................. 30
1.1.3 Entendimento da doutrina especializada.......................................... 32
1.1.4 A concepção adotada nesta obra......................................................... 35
1.1.4.1 O ato administrativo............................................................................. 35
1.1.4.1.1 O entendimento da doutrina................................................................ 35
1.1.4.1.2 Interpretação e aplicação jurídica........................................................ 38
1.1.4.1.3 Conceito de ato administrativo adotado............................................ 41
1.1.4.1.4 Estrutura do ato administrativo. Elementos formadores
e seus pressupostos............................................................................... 41
1.1.4.1.5 Prática em uma relação jurídica de administração........................... 50
1.1.4.2 O procedimento administrativo.......................................................... 51
1.1.4.2.1 Evolução da atuação estatal administrativa e o “ato
administrativo perdido”....................................................................... 51
1.1.4.2.2 A relação jurídica administrativa como centro do Direito
Administrativo....................................................................................... 59
1.1.4.2.3 O procedimento administrativo como centro do Direito
Administrativo ...................................................................................... 61
1.1.4.2.4 Compatibilidade entre ambos os modelos: maior adequação à
função administrativa........................................................................... 63
1.1.4.3 O lançamento tributário como ato e procedimento
administrativos...................................................................................... 64
1.1.4.4 O lançamento tributário como relação jurídica administrativa.
A relação jurídica administrativo-tributária...................................... 66
1.2 Lançamento tributário por homologação........................................... 73
1.2.1 Aspectos relevantes do lançamento tributário por homologação....... 74
1.2.1.1 As atividades praticadas pelo contribuinte....................................... 74
1.2.1.2 O lançamento tributário por homologação enquanto ato de
homologação.......................................................................................... 77
1.2.1.3 O enceramento do procedimento de lançamento por
homologação.......................................................................................... 78
1.2.1.4 Eficácia do ato de lançamento por homologação.............................. 80
1.2.1.5 Vinculação e obrigatoriedade do lançamento tributário por
homologação.......................................................................................... 83
1.2.1.5.1 Impropriedades nas definições tradicionais de vinculação e
discricionariedade dos atos administrativos..................................... 83
1.2.1.5.2 Vinculação dos atos administrativos.................................................. 86
1.2.1.5.3 Discricionariedade dos atos administrativos.................................... 88
1.2.1.5.4 O lançamento tributário por homologação é vinculado e
obrigatório.............................................................................................. 89
1.2.2 Estrutura do ato de lançamento por homologação........................... 91
1.2.3 Revisibilidade do lançamento tributário por homologação............ 93
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA.................................................................................. 99
2.1 A segurança jurídica e o seu conteúdo............................................... 99
2.2 A segurança jurídica ressignificada.................................................. 103
2.2.1 A confiança como instrumento redutor de complexidade............ 105
2.2.1.1 O sistema jurídico funciona com confiança..................................... 109
2.2.2 O advento do Estado Democrático de Direito e a atual
conjuntura Social.................................................................................. 113
2.2.2.1 O insucesso dos modelos Liberal e Social de Estado de Direito........ 113
2.2.2.2 A conjuntura social hodierna: globalização, risco e
ambivalência......................................................................................... 116
2.2.2.3 A segurança jurídica no Estado Democrático de Direito............... 118
2.3 O princípio jurídico da segurança jurídica...................................... 121
2.3.1 Princípio como espécie normativa.................................................... 122
2.3.2 Eficácia do princípio jurídico............................................................. 123
2.3.3 Fundamento do princípio da segurança jurídica no direito
brasileiro................................................................................................ 127
2.3.4 Conteúdo e eficácia do princípio da segurança jurídica................ 128
2.3.5 Normas decorrentes do princípio da segurança jurídica .............. 128
2.3.5.1 A irretroatividade................................................................................ 128
2.3.5.1.1 O princípio/regra da irretroatividade............................................... 128
2.3.5.1.2 Fundamento da irretroatividade no Direito Brasileiro.................. 129
2.3.5.1.3 Particularidade da norma nas relações de Direito Público............ 130
2.3.5.1.4 Conteúdo e eficácia da irretroatividade........................................... 131
2.3.5.2 A legalidade administrativa............................................................... 137
2.3.5.2.1 Fundamento da legalidade no Direito Brasileiro............................ 137
2.3.5.2.2 A legalidade administrativa e sua tríplice dimensão normativa.
Exame de seu conteúdo e eficácia..................................................... 138
2.3.5.2.3 A legalidade administrativa e a concreção do interesse público....... 142
2.3.5.2.4 A legalidade administrativa, o principio da boa administração
e o postulado da proporcionalidade................................................. 144
2.3.5.3 O princípio da proteção da confiança............................................... 146
2.3.5.3.1 Fundamento da proteção da confiança no Direito Brasileiro........ 147
2.3.5.3.2 Particularidade da norma nas relações de Direito Público............ 148
2.3.5.3.3 Conteúdo do principio da proteção da confiança........................... 150
2.3.5.3.4 Requisitos da aplicação do princípio da proteção da confiança:
o que é digno de proteção.................................................................. 151
2.3.5.3.5 Medidas de proteção da confiança.................................................... 154
2.3.5.3.6 Eficácia do princípio da proteção da confiança............................... 156
2.3.5.4 O princípio da boa-fé objetiva............................................................ 157
2.3.5.5 O princípio da moralidade administrativa...................................... 159
2.3.5.6 A legalidade e os princípios da proteção da confiança, da boa-fé
objetiva e da moralidade administrativa.......................................... 160
2.3.5.7 O interesse público e os princípios da proteção da confiança, da
boa-fé objetiva e da moralidade administrativa.............................. 161
CAPÍTULO 3
A HOMOLOGAÇÃO EXPRESSA TACITAMENTE VERIFICADA.............. 163
3.1 Quanto ao primeiro questionamento: o termo de encerramento é
sim ato de lançamento por homologação........................................ 163
3.1.1 A homologação expressa é ato administrativo vinculado............. 163
3.1.2 Sob o ponto de vista da estrutura do ato administrativo:
confronto entre o ato de homologação e o ato de encerramento
de procedimento fiscalizatório.......................................................... 168
3.1.3 A “relação jurídica administrativo-tributária”................................ 171
3.2 Quanto ao segundo questionamento: revisibilidade do termo de
encerramento de efeitos homologatórios......................................... 172
3.3 Em arremate: a confiança sistêmica e o lançamento tributário por
homologação........................................................................................ 173
CONCLUSÕES...................................................................................................... 177
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 187
PREFÁCIO
1
IBRAIM. Segurança Jurídica e Lançamento Tributário por Homologação: a homologação expressa
tacitamente verificada. Dissertação, 2010.
2
COÊLHO. Curso de Direito Tributário brasileiro, p. 797.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
20 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
Contextualização
Discorrer sobre o lançamento tributário não é tarefa das mais fáceis.
O exame da literatura jurídica específica revela que o tema ainda é de
intricada compreensão e sistematização, afigurando-se, para alguns, como
3
Como é, por exemplo, o “Termo de Encerramento de Ação Fiscal”, denominação costumeira-
mente atribuída pelas Administrações Tributárias para o ato administrativo que formaliza o
fim de uma fiscalização.
4
DERZI. Pós-modernismo e tributos: complexidade, descrença e corporativismo, 2004.
5
Observe-se, também já logo, que a melhor doutrina já tem acolhido a tese aqui apresentada.
Misabel Abreu Machado Derzi, em sua última atualização da clássica obra de Aliomar Baleeiro
(2013), a incorpora expressamente.
INTRODUÇÃO 21
um dos “[...] pontos que mais polêmicas têm suscitado na teoria do Direito
Tributário”.6 Já se afirmou, aliás, que o “[...] tema é sabidamente difícil...”,
pois significa, em última análise, “[...] pensar no problema de aplicação
do direito ao caso concreto, [...] cogitar da incidência jurídica e de todas
as vicissitudes que lhe são inerentes”.7
O assunto, no entanto, conquanto aturado – ou justamente por ser
dessa forma – já mereceu a atenção de inúmeros e renomados estudiosos,
tanto destas terras, a exemplo de Nogueira (1973), Carvalho (2008b) e
Borges (1999), como oriundos do velho continente, com destaque para
os italianos, espanhóis e portugueses, em meio aos quais podemos citar,
apenas ilustrativamente, Gianini (1968), Berliri (1964), Taboada (1991),
Sanches (1995) e Xavier (1997). É fato, pois, conforme adverte este último
autor, que o lançamento tributário, embora não “[...] tenha estado sempre
no cerne das principais preocupações da doutrina [...]”, passou, com
a reabilitação do direito tributário formal,8 que é por ele creditada à
Allorio (1942), a ser insistentemente estudado.9 Sustentou-se, à época,
inclusive, uma verdadeira mudança de rumo do estudo da disciplina:
para Dominguez, “[...] o direito tributário muda de eixo nestes últimos
tempos e deixa de ser primordialmente um direito do fato tributário
para passar a ser um direito do lançamento do tributo [...]”.10 É visível,
pois, na ocasião, a alteração de focos. É nesse momento, aliás, que surge
e ganha força a clássica e possivelmente interminável peleja a respeito da
eficácia do lançamento, se meramente declaratória do crédito tributário,
ou se hábil a constituí-lo.11 E, também, um pouco mais a frente, o debate
sobre a natureza jurídica dessa figura, oscilante, entre outras, a de um
simples ato administrativo, a de um procedimento administrativo, ou,
ainda, a de uma fattispecie de formação sucessiva.12
6
BORGES. Lançamento tributário, p. 13.
7
DE SANTI. Decadência e prescrição no direito tributário, p. 18.
8
Xavier (1997, p. 6) esclarece, a esse respeito, que a partir do citado ensaio “[...] correntes
de princípio restritas, mas hoje generalizadas e influentes, que põem, em causa, nos seus
próprios alicerces, os ensinamentos tradicionais da doutrina tributarista, preconizando
uma orientação que atenda mais de perto às relações e à interdependência entre
direito substancial e direito processual e entre dinâmica da obrigação tributária e a
atividade administrativa do Fisco; ou seja, preconizando uma reabilitação dos aspectos
administrativos e processuais do ordenamento tributário, subalternizados no campo pobre
do “Direito formal”.
9
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 6.
10
DOMINGUEZ apud XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo
tributário, 1997, p. 7.
11
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 6-7.
12
BORGES. Lançamento tributário, p. 86.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
22 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
13
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 86.
14
BORGES. Loc. cit.
15
MAIA. Do lançamento tributário: execução e controle, 1999.
16
MAIA. Op. cit., p. 7.
17 MAIA. Loc. cit.
18
BERLIRI. Principii di Diritto Tributario, p. 04.
19
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 9.
INTRODUÇÃO 23
20
A respeito do assunto, vide DERZI (1998; 2004).
21
SANCHES. A quantificação da obrigação tributária: deveres de cooperação, autoavaliação e
avaliação administrativa, p. 114-155.
22
É interessante observar como, não há muitos anos, o lançamento tributário era encarado de
maneira assaz distinta, como se vê do seguinte trecho, retirado da “Teoria do Lançamento
Tributário”, de Nogueira (1973, p. 30): “Basta lembrar que, se ‘abstratamente’ não pode existir
tributo sem lei que o institua e, se, ‘objetivamente’ não pode existir tributo sem a ocorrência
do fato gerador, ‘subjetivamente’ não pode ser efetivada a arrecadação ou o pagamento de
nenhum tributo sem a sua apuração, cálculo e identificação do contribuinte, que são funções
específicas do lançamento”.
23
SANCHES. A quantificação da obrigação tributária: deveres de cooperação, autoavaliação e
avaliação administrativa, p. 23-35.
24
Para fazer referência a como SANCHES (1995, p. 169) denomina o fenômeno.
25
Sobre a questão, vide XAVIER (1997, p. 17).
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
24 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
Justificação
O lançamento tributário não é categoria jurídica esgotada,
mesmo que uma análise apressada permita tal conclusão. Não se nega a
existência de inúmeros trabalhos sobre a matéria. Estudos, inclusive, que
se pretenderam teorias gerais e que, por essa condição, teriam que ser, ao
menos em tese, minimamente abrangentes. A bibliografia, no entanto, ainda
é lacunosa, principalmente em aspectos não diretamente relacionados com
a relação jurídica tributária, conforme nota Xavier.26 Não é por outra razão
que também sustenta que é “[...] tão vasta e desigual a bibliografia sobre
certos pontos do regime do lançamento e tão escassa quanto a outros [...]”,
que se deve estar atento para não se levar a efeito, quando do estudo do
tema, construção teórica desequilibrada.
Mesmo que o incremento no estudo do lançamento tributário tenha
se dado com o advento do “Direito Processual Tributário”, são temas
afeitos a essa (por assim dizer) grande área que ainda demandam maior
investigação científica. Não se está, no entanto, a afirmar que não se avançou
nessa seara. Obras inteiras sobre o tema foram publicadas há alguns anos,
como acima se destacou. Mas o assunto está longe de ter sido extenuado.
Questões como a fiscalização e o controle do lançamento tributário, ou a
sua caracterização como ato e/ou procedimento e as consequências disso,
temas estreitamente ligados ao Direito Administrativo, são exemplos
dessa nova alternativa de estudo. Borges já asseverou, inclusive, faz
apenas alguns anos, que a doutrina administrativista é campo fértil para
o progresso no estudo do lançamento, notadamente para se derrubar
velhos preconceitos teóricos, a exemplo da qualificação de tal figura
jurídica como procedimento administrativo.27 E Xavier,28 também não
há muito tempo, ao destacar a importância de se enfrentar “[...] pontos
centrais da dogmática do lançamento, como a delimitação do seu conceito,
a determinação de suas espécies, a análise do seu procedimento de
26
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 17.
27
MAIA. Do lançamento tributário: execução e controle, p. 8.
28
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 16.
INTRODUÇÃO 25
29
DERZI. Pós-modernismo e tributos: complexidade, descrença e corporativismo, p. 68.
30
DERZI. Op. cit., p. 70.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
26 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
E são por essas razões que não se acredita estar-se diante do declínio
teórico do lançamento tributário, denotativo de sua irrelevância acadêmica.
Tampouco, aliás, de sua decadência normativa, que tenderia a sua extinção.
Se o lançamento está se tornando desnecessário para a verificação concreta
de efeitos que, em momento anterior, estavam a ele vinculados (como
os de acertamento e exigência do crédito tributário previamente ao seu
recolhimento), outros ainda lhe são dependentes, como os inerentes às
atividades de controle e de fiscalização praticadas pela Administração
Pública. Se o desprestígio científico do lançamento é produto de tal
aparente inutilidade (e a ciência, não se desconhece, deve prender-se à
realidade, ser útil), ele é um desprestígio infundado, desmotivado, eis
que efeitos normativos outros ainda são dele extraídos, os quais, aliás, são
exatamente aqueles que carecem de maior análise teórica.
Insista-se, pois, que o declínio anunciado é ilusório. O que há – e
precisa haver, como já conclamaram mestres como Borges (1999) e Xavier
(1997) – é uma mudança de foco, comprometida com a atual realidade
normativa, social e institucional. O estudo do lançamento tributário, assim,
não está esgotado e tampouco em derrocada. Ao contrário, a sua análise,
além de oportuna, é necessária.
E o tema específico deste livro – examinar a natureza e os efeitos do
ato administrativo que encerra procedimentos de fiscalização tributária –
insere-se, com perfeição, nos cenários dogmático-jurídico e jurídico-positivo
acima traçados. Trata de matéria ainda não exaurida – a atuação estatal
administrativa na seara tributária – que se intenta examinar de maneira
comprometida com as exigências conjunturais de restauração da força
normativa da Constituição.
Plano de trabalho
Para responder os questionamentos propostos, realizou-se
investigação científica essencialmente focada no Direito positivo; foi-se à
regulamentação do lançamento tributário no Código Tributário Nacional
e, ainda, à Constituição da República. Na condição de categoria jurídico-
positiva, o lançamento tributário não poderia ser analisado de maneira
distinta (essa ideia ficará mais clara adiante). Como fruto de tal verificação,
obteve-se premissas que podem ser divididas em dois grandes grupos:
(i) No primeiro grupo, tem-se o regime jurídico aplicável ao
lançamento tributário por homologação a partir do Código
tributário Nacional. Como já antecipado, o exame da literatura
sobre o tema demonstra que ainda existe considerável divergência
a respeito da interpretação das regras específicas a essa figura
INTRODUÇÃO 27
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO
POR HOMOLOGAÇAO
1
DE SANTI. Lançamento tributário, p. 142.
2
BORGES. Lançamento tributário, p. 97; DE SANTI. Lançamento tributário, p. 142.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
30 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
3
BORGES. Lançamento tributário, p. 99.
4
DE SANTI. Lançamento tributário, p. 146.
5
“A definição de lançamento formulada pelo art. 142 do CTN pode ser identificada como um
conceito jurídico-positivo, no sentido de que corresponde apenas a uma construção dessa
categoria normativa pelo Direito Positivo brasileiro. É uma noção – a de lançamento – que
somente pode ser obtida a posteriori, no sentido de que apenas poderá ser apreendida após o
conhecimento de um determinado Direito Positivo. Somente será apreensível empiricamente,
isto é, a partir do conhecimento que se tenha do ordenamento jurídico brasileiro. O conceito de
lançamento no Direito Brasileiro não corresponde ao conceito que é adotado, e. g., pelos Direitos
argentino, italiano ou alemão. Só é, pois aplicável a um âmbito de validade determinado, no
espaço e no tempo, pelo ordenamento jurídico brasileiro”. (BORGES, 1999, p. 94)
6
A Constituição da República, em seu art. 146, arrola matérias de índole tributária (relativas ao
direito tributário) cujo tratamento deve-se dar exclusivamente por uma lei complementar de
normas gerais, entre as quais está o conceito de “obrigação”. O Código Tributário Nacional, a
Lei nº 5.172/66, é o principal diploma legal que traz ditas normas gerais, em meio às quais se
encontra as relativas à “obrigação tributária”. Embora não seja formalmente lei complementar,
é-lo materialmente, eis que assim recepcionada pelo atual texto constitucional (somente,
ressalte-se, no que se refere às matérias reservadas constitucionalmente às leis complementares
de normas gerais tributárias). De se salientar, finalmente, que a “lei complementar de normas
gerais” é lei complementar nacional, editada pelo Congresso Nacional na condição de
legislado nacional (art. 24 da Constituição, principalmente), tendo, por isso, preeminência
sobre quaisquer leis federais, estaduais, distritais e municipais. Acerca dessas questões,
complementares são as lições de Torres (2000, p. 152): “[...] às normas gerais aplica-se também o
primado da reserva de lei complementar, e pelas funções pertinentes “Constituição Nacional”,
impõe-se a necessária preeminência dessas leis complementares em relação às demais leis,
mesmo que complementares, quando tenham por objeto o exercício de competência para
a instituição de tributos. Por conseguinte, prevalecerá, sempre, sobre a legislação federal,
estadual distrital ou municipal, na medida em que estas legislações passam a ter que admiti-las
(as leis complementares que vinculam normas gerais) com fundamento de validade material.”
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
31
7
Observe-se que a discussão sobre a natureza jurídica do lançamento é bastante extensa, tanto
na doutrina pátria, quanto na doutrina estrangeira. A presente obra estará adstrita, no entanto,
à doutrina (nacional ou alienígena) que tenha se debruçado sobre o “lançamento tributário”
previsto na legislação brasileira, eis que em exame categoria jurídico-positiva.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
32 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
8
NOGUEIRA. Teoria do lançamento tributário, p. 33.
9
BACKER. Teoria geral do direito tributário, p. 380.
10
BACKER. Loc. cit.
11
NOGUEIRA. Loc. cit.
12
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 66.
13
O autor se escora em fundamentos bem estruturados, conforme se vê da didática passagem
transcrita a seguir:
“A referência ao ato administrativo visa esclarecer que o lançamento é um ato jurídico, que não
um procedimento ou uma pluralidade de operações lógicas. Não se incluiu, porém, a menção ao
procedimento administrativo que o antecede e prepara, posto não ser de verificação necessária, não
pertencendo assim à essência do instituto. A qualificação do ato como administrativo visa também
enquadra-lo numa categoria bem definida, impedindo a caracterização como lançamento de atos
dos particulares (como sucede no chamado “autolançamento”) e de atos de autoridades judiciais.
A identificação da norma aplicada pelo ato de lançamento como a norma tributária material,
comum a todos os atos tributários, tem o alcance de excluir do conceito os atos administrativos
que aplicam normas tributárias instrumentais e normas penais tributárias.
Por sua vez, coloca-se o acento tônico da definição na ideia de aplicação do direito, sufi-
cientemente compreensiva para abranger, na sua unidade, as diversas operações exempli-
ficativamente referidas no artigo 142 do Código Tributário Nacional, e que não passam de
momentos lógicos do processo subsuntivo.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
33
Enfim, a referência expressa à natureza do direito que visa declarar como o direito à prestação
tributária permite separá-lo de outros atos tributários, tendo por objeto a declaração de direitos
e de obrigações distintos, como os atos tributários negativos, os atos secundários e os atos de
recusa de restituição de tributos”. (XAVIER, 1997, p. 66-67).
14
COÊLHO. Liminares e depósitos no lançamento por homologação: decadência e prescrição, p. 17-18.
15
GRECO. Dinâmica da tributação: uma visão funcional, p. 207-209.
16
GRECO. Op. cit., p. 190-191, 209.
17
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 442.
18
“Caracterizar o lançamento como um procedimento, consoante a expressão do art. 142 do
Código Tributário Nacional, é atuar com grande imprecisão. Se o procedimento se substancia
numa série de atos que se conjugam objetivamente, compondo um todo unitário para
a consecução de um fim determinado, torna-se evidente que, ou escolhemos o ato final da
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
34 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
23
BORGES. Op. cit., p. 375-382.
24
Observe-se que os partidários dessa última corrente poderiam ter sido separados em outras
duas, entre aqueles que veem o lançamento como ato e procedimento e aqueles que o concebem
de igual forma, entendendo, também, pela criação de norma jurídica com a prática do ato
(enxergando, pois, o ato administrativo da forma sustentada no capítulo anterior). Não se viu
utilidade em tal, haja vista a predominância do segundo entendimento.
25
Ressalte-se, por relevante, que não se está a tratar, nesse momento, dos conceitos lógico-
jurídicos sobre os quais se fez referência acima (com citação, inclusive, de texto de Borges).
As definições das quais se trata nesta seção são aquelas referidas por Vilanova como conceitos
metodológicos, que auxiliam o cientista do Direito dizendo-lhe como deve operar para
conduzir com rendimento a investigação da realidade (VILANOVA, 1997, passim). Já os
conceitos lógico jurídicos sobre os quais discorreu Borges, em nota anterior, são, na doutrina
de Vilanova, conceitos fundamentais.
26
BANDEIRA DE MELLO. Princípios gerais de Direito Administrativo, p. 3-10.
27
A expressão é de Vilanova (1997, p. 64), adotada, além de noutros, no livro “As estruturas lógicas
e o sistema do direito positivo”.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
36 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
28
BANDEIRA DE MELLO. Princípios gerais de Direito Administrativo, p. 3-10.
29
GORDILLO. Tratado de derecho administrativo, pp. 1-16.
30
AMARAL. Ato administrativo, licitações e contratos administrativos, p. 25-26.
31
BANDEIRA MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 343.
32
CAVALCANTI. Teoria dos atos administrativos, p. 46.
33
FAGUNDES. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário, p. 26.
34
GORDILLO. Op. cit., pp. 1-11.
35
BANDEIRA MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 378-379.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
37
36
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 379-380.
37
AMARAL. Ato administrativo, licitações e contratos administrativos, p. 26.
38
DE SANTI. Lançamento tributário, p. 97.
39
Com preocupação de generalidade do conceito semelhante à de Bandeira de Mello (2008,
p. 379-380), Amaral (1996, p. 30) observa que, partindo da doutrina de Bobbio, evoluiu para
entender a norma jurídica refletida pelo ato como simplesmente concreta, e não, também,
como individual. Defende, pois, atos administrativos tanto individuais como concretos.
40
Nas palavras do autor: “[...] O vocábulo ‘ato’ extraído do âmbito do direito privado, e aplicado
ao Direito Administrativo para designar o denominado ‘ato administrativo’, trouxe consigo
estimulantes significativos que fizeram surdir do uso contínuo do termo duas acepções: uma,
‘o processo’, o ato-fato da autoridade que configurou o fato jurídico suficiente, fonte material
para a produção do ato-norma administrativo; outra, ‘o produto’ desse ‘processo’, o ato-
norma administrativo, norma individual e concreta que exsurge desse contexto existencial.
[...] Ato-fato é o ato praticado por autoridade que, realizado como fato jurídico (lato sensu),
integra o suporte fático do fato jurídico suficiente no ‘processo’ de produção do ato-norma
administrativo. [...] Ato-norma é o ‘produto’, norma jurídica individual e concreta que tem
como fonte material este fato jurídico suficiente, integrado pelo ato-fato da autoridade
competente [...]. E que ingressa no ordenamento jurídico, associando à descrição de um fato
concreto (motivação) uma relação jurídica intranormativa que veicula em um de seus termos, a
figura do Estado ou de quem lhe faça as vezes. [...] O ato-norma não se confunde com o ato-fato
que produz: o primeiro, é norma jurídica; o segundo, é fato jurídico.” (DE SANTI, 1999, p.119)
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
38 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
41
DE SANTI. Loc cit.
42
KELSEN. Teoria pura do direito, p. 390.
43
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 416.
44
FERRAZ JR. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação, p. 252.
45
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 199-200.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
39
46
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 200; 416.
47
ÁVILA. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos, p. 110.
48
ÁVILA. Op. cit., p. 32-33.
49
“[...] a constatação de que os sentidos são construídos pelo intérprete no processo de
interpretação não deve levar à conclusão de que não há significado algum antes do término
desse processo de interpretação. Afirmar que o significado depende do uso não é o mesmo que
sustentar que ele só surja com o uso específico e individual. Isso porque há traços de significados
mínimos incorporados ao uso ordinário ou técnico da linguagem. Wittgenstein refere-se aos
jogos de linguagem: há sentidos que preexistem ao processo particular de interpretação, na
medida em que resultam de estereótipos de conteúdos já existentes na comunicação linguística
geral”.
[...]
“Por conseguinte, pode-se afirmar que o intérprete não só constrói, mas reconstrói sentido,
tendo em vista a existência de significados incorporados ao uso linguístico e construídos na
comunidade do discurso.” (ÁVILA, 2007, p. 32-33).
50
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 416.
51
BORGES. Lançamento tributário, p. 105-106.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
40 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
52
BORGES. Lançamento tributário, p. 105-106.
53
BORGES. Op. cit., p. 106.
54
BANDEIRA DE MELLO. Princípios gerais de Direito Administrativo, p. 343.
55
BORGES. Op. cit., p. 107.
56
DE SANTI. Lançamento tributário, p. 79-80.
57
DE SANTI. Lançamento tributário, p. 80.
58
BORGES. Loc. cit.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
41
59
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 88-89.
60
“Aplicar a lei já não é, então, uma simples tarefa de subsunção lógica, mas uma atividade
criadora que implica uma “intenção de reconstituição explícita do sentido e da coerência
normativa e dogmático-sistemática do todo da ordem jurídica” (CASTANHEIRA NEVES).
Desta forma, “a tarefa de interpretação da lei não é uma atividade mecânica e automática, mas
dinâmica e reconstitutiva. O aplicador do direito tem uma função verdadeiramente criadora,
reconstruindo o espírito do sistema e integrando aquela concreta manifestação de vontade do
legislador no âmbito mais vasto da vontade do ordenamento jurídico” (SILVA, 2003, p. 88-89).
61
CANARIS. O pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, p. 76.
62
CANARIS. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
42 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
63
FAGUNDES. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário, p. 26 e ss.
64
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 382-405.
65
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 37.
66
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 37.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
43
67
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 42.
68
ANDRADE. O silêncio no ato e no negócio jurídico, p. 99.
69
“É certo que, no mundo natural, a intenção vem antes da manifestação. O agente, primeiro,
internamente, toma uma decisão e age de determinada forma. Mas o direito, como ciência
social, inverte esta ordem, e parte da análise dos comportamentos externos. E assim o faz
porque, como ciência social, tem como objetivo maior regular a convivência humana, o
convívio social, e por isso busca a segurança nas relações sociais, e, como tal, pode transigir
com algumas questões de lógica jurídica. Donde a necessidade de partir do dado externo, e não
interno, é relativo ao querer íntimo do agente.
Daí o direito partir da manifestação objetivada. É nesta que se buscam ou valoram os eventuais
elementos subjetivos, internos, do agente, que se mostram relevantes para o direito. Como
afirma Domingues de Andrade, o sentido do comportamento declarativo se determina de fora,
do ponto de vista daquele a quem o comportamento declarativo atinge: o declaratório em face
do declarante.” (ANDRADE, 2009, p. 100).
70
ASCENSÃO. Direito civil: teoria geral, p. 36.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
44 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
71
GORDILLO. Tratado de derecho administrativo, p. II-19.
72
GORDILLO. Loc. cit.
73
GORDILLO. Loc. cit.
74
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 73-74.
75
Advirta-se que não as definições de ato discricionário e vinculado apostas nesse parágrafo
pertencem a Bandeira de Mello, tendo sido citados apenas para externar a opinião do autor quanto
à questão da vontade psíquica do agente como elemento do ato administrativo. As definições de
vinculação e de discricionariedade adotadas por esta obra ainda serão apresentadas.
76
Nesse sentido, ainda Carvalho: “Sobre “ato”, utilizado neste texto como sinônimo de “ação”,
algumas ponderações se mostram oportunas. Vemo-lo como a significação de um movimento
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
45
compõe o ato, é irrelevante a tal mister. O que interessa, para tal, é a vontade
objetivamente declarada, isto é, aquela exteriorizada com a prática do ato. O
ato administrativo, não é demais repetir, é o conteúdo declarado (conteúdo
e forma), somente isso, pouco importando o que se objetivou externar.
É por isso também que existe ato administrativo mesmo que
aparentemente ele se mostre como outro. Como o que interessa para a
existência e para a configuração do ato é o seu conteúdo, desimportando
qual é a intenção psíquica do agente, poderá haver ato administrativo
quando a Administração Pública, embora não o pratique conscientemente,
manifeste-o, inequivocamente, pelo desempenho de outro. É dizer:
quando, com a prática de determinado ato administrativo, outro conteúdo
– outra norma jurídica – estiver inequivocamente contida no primeiro,
haverá, na verdade, o desempenho de dois atos administrativos. Bandeira
de Mello, com base na doutrina italiana, qualifica esse tipo de ato como
“ato tácito” ou “ato implícito”.77 Segundo o autor, nos casos em que a
Administração Pública “[...] não se manifesta explicitamente ante a uma
dada situação, entretanto, através de outro comportamento seu, pode-se
deduzir, inequivocamente, uma decisão implícita, decorrente de algum
ato explícito ou mesmo de um fato (facta concludentia) [...]”.78
O ato administrativo, portanto, é o seu conteúdo (a norma jurídica
que com ele se confunde). E apenas o é quando é devidamente externado;
é dizer, somente quando o seu conteúdo se considera exteriorizado é
que se tem o ato por existente. Antes disso, o que há, no máximo, é um
projeto de ato, a intenção de praticá-lo, um querer simplesmente, mas não
ele próprio. E a revelação, condição de existência do ato, dá-se pela sua
publicidade, é dizer, por sua passagem do âmbito interno do agente para
o plano dos destinatários. A publicidade, com efeito, significa o ingresso
do ato no plano da sociedade, o qual é, dados os objetivos de regulação
social do Direito, o plano que a este interessa.79
Os meios de publicidade são, basicamente: (a) a publicação, no diário
oficial, na porta de determinada repartição, etc.; e (b) a comunicação, que
é a informação direta do conteúdo do ato aos seus destinatários, não se
restringindo à mera divulgação por um meio oficial. De todo modo, em
ou de plexo deles, mas enquanto unidade de sentido que os tem por referente. O movimento é,
digamos assim, o suporte físico da significação. Gregório Robes Morchón serve-se do exemplo já
conhecido de alguém que levanta o braço. Como interpretar esse gesto que pressupõe comandos
cerebrais, mobilização de ossos, músculos e nervos, sendo, portanto, algo complexo? Será que
significa chamar um táxi ou saudar alguém que passa? Mas, pode ser, também, um aceno de
despedida. De que modo decidir? A despeito de tratar-se do mesmo fenômeno psicofísico, cada
opção representa um ato diferente, pois os sentidos são diversos.” (CARVALHO, 2008b, p. 439)
77
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 406.
78
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
79
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 46.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
46 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
80
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit. p. 46-48.
81
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 387-388.
82
ZACANER. Da Convalidação e Invalidação dos Atos Administrativos, p. 31-33.
83
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 56.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
47
84
ARAUJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 55.
85
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 389.
86
De forma didática, Carvalho Filho assim esclarece dita teoria: “[...] a teoria dos motivos
determinantes baseia-se no princípio de que o motivo do ato administrativo deve sempre
guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a manifestação de vontade. [...] se o
motivo se conceitua como a própria situação de fato que impele a vontade do administrador, a
inexistência dessa situação provoca a invalidação do ato.” (CARVALHO FILHO, 2007, p. 107).
87
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 396.
88
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 55.
89
Para ARAÚJO (2005, p. 196), a fundamentação é requisito procedimental.
90
ARAUJO. Loc. cit.
91
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 392-393.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
48 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
administrativo,92 esta deve ser tida como “norma geral”, pois, com base
no princípio democrático, a coletividade tem o direito de conhecer as
justificativas que embasaram as decisões dos administradores na gestão
da coisa pública.93 Bandeira de Mello94 acrescenta que a possibilidade
de conhecimento da fundamentação (motivação) pelo cidadão deve ser
anterior ou contemporânea à prática do ato, para que não seja mero
sucedâneo do direito de petição previsto no art. 5º, XXXIII e XXXIV, da
Constituição da República. E conclui que a obrigatoriedade de motivação
das decisões judiciais (art. 93, IX, da Constituição e art. 458, II do Código
de Processo Civil) e das decisões administrativas dos Tribunais (art. 93,
X, da Constituição) não podem se restringir ao Poder Judiciário, devendo
estender-se aos atos praticados por quaisquer dos outros Poderes.95 96
Ainda como pressuposto objetivo, os requisitos procedimentais
são outros atos jurídicos (administrativos ou produzidos por particular)
necessários à prática de determinado ato. É, por exemplo, o ato privado de
solicitação de alvará em relação à concessão do documento de licenciamento.
Assim como o motivo, os requisitos procedimentais condicionam a prática
do ato, são precedentes a ele. Mas não se confundem, pois, enquanto o
motivo é um fato jurídico, o requisito procedimental é um ato jurídico.97
A finalidade, a sua vez, pressuposto teleológico na teoria de Bandeira
de Mello,98 é o resultado jurídico a ser alcançado com a prática do ato. O
objetivo/finalidade deverá estar previsto no ordenamento jurídico, expressa
ou implicitamente, conforme se verá melhor do exame da legalidade, a ser
realizado infra. Como decorrência disso, à Administração Pública é defeso
92
Conforme noticia Araújo (2005, p. 111-118) discorrer sobre o tema.
93
ARAUJO. Op. cit., p. 111-118.
94
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
95
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
96
O autor, contudo, citando os ensinamentos Bandeira de Mello (2007, p. 392-393) ressalva que,
nos atos vinculados, como a lei prevê um único comportamento à autoridade administrativa, o
que importa é realmente ter ocorrido o motivo previsto abstratamente na lei que demandava a
atuação da Administração. Assim, o ato que não havia sido motivado será considerado válido
se demonstrado que o motivo ensejador do ato preexistia. Já o ato discricionário, ausente sua
motivação, restará viciado, devendo, ato contínuo, ser invalidado. (BANDEIRA DE MELLO,
2007, p. 392-393). Araújo (2005, p. 197), por outro lado, não aquiesce com a exceção. Em sua
doutrina, a motivação é de obrigatoriedade geral quanto aos atos administrativos, sejam eles
vinculados ou discricionários, havendo “temperamentos” na regra apenas nos casos de atos
de razões secretas, não escritos e “tácitos” (que não considera verdadeiros atos). Ressalte-
se, ainda, que ambos os autores discordam que a Lei nº 9.784/99, ao enumerar, em seu art.
50, as hipóteses em que os atos administrativos devem ser motivados, tenha restringido a
obrigatoriedade de motivação. Bandeira de Mello, (2007, p. 392-393) a reputa inconstitucional,
enquanto que Araújo, citando Maria Rivalta, não vê restrição no arrolamento.
97
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 77-78.
98
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 78.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
49
99
FAGUNDES. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário, p. 71.
100
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 400.
101
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 401.
102
MEIRELLES. Mandado de Segurança – Ação Popular – Ação Civil Pública – Mandado de Injunção, p. 130.
103
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 56.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
50 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
104
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
105
FAGUNDES. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário, p. 73.
106
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 384.
107
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 34.
108
LIMA. Princípios de direito administrativo, p. 21.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
51
109
LIMA. Op. cit., p. 20.
110
Comentários mais detalhados sobre os paradigmas constitucionais são feitos abaixo, quando
do exame da ressignificação da segurança jurídica.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
52 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
111
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), p. 321.
112
ANDRADE. Op. cit., p. 298.
113
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), p. 271.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
53
114
Comentários mais detalhados sobre os paradigmas constitucionais são feitos abaixo, quando
do exame da ressignificação da segurança jurídica.
115
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 135-144.
116
MEDAUAR. Administração pública: do ato ao processo, p. 411-412.
117
MEDAUAR. Op. cit., p. 411.
118
SOARES. Direito administrativo de participação, p. 176; PINTO E NETTO. Contratualização da
função pública, p. 66-68.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
54 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
119
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 135-144.
120
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 135-144.
121
MEDAUAR. Administração pública: do ato ao processo, p. 411-412.
122
SILVA. Loc. cit..
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
55
123
PINTO E NETTO. Contratualização da função pública, p. 65.
124
SILVA. Loc. cit.
125
PINTO E NETTO. Contratualização da função pública, p. 65.
126
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 108.
127
Sobre a questão, Pinto e Netto (2005, p. 85) é elucidativa: “A ideia de recorrer aos direitos
fundamentais mostra que se admitiu que o Direito Administrativo depende e descende da
Constituição, as normas jurídico administrativas devem ser entendidas à luz das normas
constitucionais, devem realizar os direitos fundamentais. A dimensão negativa que daí advém é
marcante e protege os particulares contra violações ilegais dos poderes públicos, já que se passa a
entender que os direitos fundamentais são direitos subjetivos e podem ser invocados diretamente
nas relações administrativas, são direitos de defesa. Estes direitos de defesa decorrem da agressão
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
56 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
por parte da Administração à esfera jurídica individual garantida pelos direitos fundamentais e
não se configuram como meros poderes processuais, têm conteúdo material”. E, ainda, acrescenta:
“A superação dogmática autoritária da impermeabilidade estatal é detectada pelo fato de se
haver regulamentado juridicamente o âmbito interno da Administração, pelo reconhecimento
dos direitos fundamentais, dos direitos subjetivos, do princípio da proporcionalidade, etc. Tudo
isso aponta para a concepção do particular como sujeito de direito e não como objeto de poder,
concepção esta que deve espraiar para a função pública”.
128
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), p. 323.
129
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), p. 324.
130
As lições de Andrade (2010, p. 352-353) sobre a “constitucionalização da função administrativa”
bem sintetizam este ponto:
“A ideia de função administrativa ganha a Constituição: a Administração passa a ser vista
como realizadora de atividades em prol da sociedade, do cidadão, perdendo importância
ou centralidade a noção de pessoa jurídica estatal como necessariamente a única detentora
do interesse público. O novo fim da função administrativa não gira mais sobre a dupla
poder-sujeição, mas sim, sobre a “função social-direito da pessoa”. O Estado vê ampliar
suas atribuições ou sua competência: passa ao campo prestacional, mudando seu papel: ao
invés de simples regulador e curador da ordem pública, atuando prevalente por meio de ato
administrativo, unilateral e imperativo, passa a atuar diretamente para fornecer prestações
ao cidadão. De simples administração em função do governo, passa para administração em
função do cidadão. Abre-se também, a Administração para a possibilidade de o cidadão
participar do seu processo de tomada de decisão, tornando-se mais democrática”.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
57
131
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 108.
132
Afirmação que ficará mais clara quando se examinar o interesse público propriamente dito, no
Capítulo seguinte.
133
Sobre a segurança jurídica, considerações detalhadas são feitas no próximo Capítulo.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
58 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
134
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 108.
135
Como Enterría e Fernandez (apud SILVA, 2003, p. 145): “[...] a teoria do ato administrativo
está suportando um peso excessivo, o de tentar expressar em uma espécie de célula básica o
microcosmo definidor, a substantividade e toda a peculiaridade do Direito Administrativo.
[...] Em nosso direito positivo (nos permitimos crer que assim ocorrerá nos demais) o ato
administrativo é mais uma instituição do Direito Administrativo, não ‘a’ instituição por
excelência, que tenta resumir todas as peculiaridades desse Direito”. Afonso (apud SILVA,
2003, p. 175): “[...] Já se ressaltou antes como o crescimento da Administração prestacional
ou, mais genericamente, social valorizou a dimensão temporal das relações jurídico-
administrativas, com superação, assim, da perspectiva tradicional puramente pontual ou do
caso concreto, enquanto baseada em decisões (visão, pois, fragmentada e estática – caso a caso
– do administrativo). Explica-se, pois, a perda de protagonismo ou de centralidade do ato
administrativo, em favor de outras formas, consideradas mais adequadas à gestão de novas
tarefas que a Administração deve realizar, inclusive, de algumas tarefas tradicionais”.
136
PINTO E NETO. Contratualização da função pública, p. 73.
137
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 144.
138
SILVA. Loc. cit.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
59
139
SILVA. Op. cit., p. 149.
140
PINTO E NETO. Contratualização da função pública, p. 80.
141
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, passim.
142
SILVA. Op. cit., p. 60.
143
SILVA. Op. cit., p. 86.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
60 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
144
PINTO E NETO. Op. cit., p. 81-82.
145
PINTO E NETO. Contratualização da função pública, p. 82.
146
SILVA. Op. cit., p. 185.
147
“O entendimento dos direitos fundamentais, como consagrando um estatuto jurídico dos
particulares, permite, portanto, explicar tanto a invocação direta dos direitos subjetivos nas
relações administrativas concretas, como a definição da posição relativa em que se devem encontrar
os indivíduos perante a Administração, decorrente dos direitos fundamentais, e que vincula
juridicamente o legislador (que certos autores designam através da expressão “relação jurídica
geral”). Não me parece, pois, que seja necessário falar de uma abstrata relação jurídica geral,
nem distinguir entre a relação geral e as relações administrativas concretas. As relações jurídicas
administrativas são as concretas ligações entre os privados e as autoridades administrativas
(ou entre as próprias autoridades administrativas), criadas por um facto qualquer (actuação da
Administração ou do particular, contrato, evento natural, etc.) juridicamente relevante, e tendo
por conteúdo, direitos e deveres previstos na Constituição e nas leis, ou decorrentes de contrato,
ou de atuação unilateral da Administração.” (SILVA, 2003, p. 185).
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
61
à Administração, que se verifica que ambos devem ser vistos como partes
equivalentes em uma relação jurídica. E a relação entre direitos subjetivos
públicos e relação jurídica administrativa é verdadeira via de mão dupla: ao
mesmo tempo em que reconhecer a existência de direitos subjetivos públicos
leva, inelutavelmente, à percepção da existência de uma relação jurídica
entre Administração e administrados, reconhecer esta relação faz com se
considere, que, em seu conteúdo, tais direitos estão encartados.
Por isso, a análise do exercício da função administrativa a partir
das relações jurídicas estabelecidas entre administrados e Adminis-
tração afigura-se muito mais adequada à compreensão da realidade
jurídico-administrativa. Focar-se, por outro lado, dito exame no ato
administrativo, compromete o sucesso de tal inteligência, pois se des-
loca, indevidamente, os cidadãos para o segundo plano.
148
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), pp. 299-300; PINTO E NETO. Contratualização da
função pública, p. 78.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
62 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
149
Silva (2003, p. 306), partindo da obra do italiano Cassese, esclarece bem a questão:
“A participação no procedimento é, portanto, de acordo com esta orientação, vista a partir da
perspectiva da organização administrativa, enquanto mecanismo institucionalizado de colaboração
dos particulares e das autoridades públicas para a produção de decisões administrativas. Daí que a
intervenção do particular no procedimento seja analisada não como meio de defesa de suas posições
subjetivas perante a Administração, mas como expediente organizativo destinado à tomada das
melhores decisões administrativas, em resultado dessa cooperação. Aquilo que se valoriza não
é tanto a oportunidade do particular se defender preventivamente da Administração, mas a
importância dos novos fatos e interesses que ele pode vir a trazer no procedimento, concebendo-
se o particular como um participante activo da realização da função administrativa. Mais do que
um instrumento de protecção acrescida do particular perante as autoridades administrativas, ‘o
procedimento é o perfil dinâmico da organização’.”
150
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), pp. 302-303.
151
PINTO E NETO. Contratualização da função pública, p. 79.
152
ANDRADE. O mandado de segurança: a busca pela verdadeira especialidade (proposta de
releitura à luz da efetividade do processo), p. 304.
153
A propósito, a opinião de Andrade:
“Em conclusão, a ênfase nos procedimentos em que a Administração exercita poder de autorida-
de deve ser para a garantia do cidadão. Ao contrário, nos procedimentos administrativos inter-
nos, reguladores da própria actuação administrativa, a tônica deve ser posta no interesse público.
Trata-se da necessidade de harmonizar princípios: equilíbrio entre os princípios da impesso-
alidade (= na Itália, imparcialidade) e da eficiência (= na Itália, bom andamento). Nos casos
em que a Administração atua internamente para perseguir o bom interesse público, a nota
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
63
prevalente fica por conta do princípio da eficiência (= bom andamento). Naqueles de exercí-
cio de poder de autoridade, a nota fica por conta da imparcialidade ou da impessoalidade.
Mas, deve-se reiterar: os dois princípios andam juntos: um não pode eliminar o outro. Devem
harmonizar-se”. (ANDRADE, 2010, p. 302-303).
154
MEDAUAR. Administração pública: do ato ao processo, p. 405-419.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
64 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
155
SILVA. Em busca do ato administrativo perdido, p. 161-162.
156
MEDAUAR. Op. cit., p. 405-419.
157
MEDAUAR. Administração pública: do ato ao processo, p. 418-419.
158
“O quanto até agora se observou redimensiona em parte o papel do ato administrativo (ou
melhor, contribui para eliminar enfatizações injustificadas), mas não deve conduzir ao oposto,
e ainda mais discutível, ao convencimento de que o próprio ato se reduziria a um conceito
meramente abstrato, a mera categoria lógica inexistente na realidade, da qual não seria
possível buscar uma disciplina constante. Mesmo no mais amplo quadro de uma atividade
funcionalizada e procedimentalizada, os atos constituem instrumento típico (não o único)
pelo qual a administração age e do qual são analisados estrutura e função, tipologia e eficácia,
requisitos de validade, etc.” (VILLALTA apud MEDAUAR, 2008, p. 419).
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
65
mas sim, porque ele não deve somente significar uma relação de poder
entre Estado tributante e contribuintes, em que aquele goza de direitos
apenas e estes possuem exclusivamente deveres. E o nosso Código
Tributário Nacional, embora tenha caracterizado o lançamento como
procedimento, distanciou-se da ideia de relação jurídica administrativa
em outros dispositivos. A regulação atinente à obrigação tributária,
ao invés de trazer em seu bojo a noção de relação jurídica tributária,
denuncia uma relação de autoridade:
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto
o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com
o crédito dela decorrente.
§2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária tem por objeto as
prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação
ou da fiscalização dos tributos.
§3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se
em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.
159
“Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo
ou de penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo
fato gerador;
II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de
disposição expressa de lei.
Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que
constituam o seu objeto.
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à
responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para
modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.”
160
A doutrina faz críticas severas quanto à inclusão da penalidade pecuniária do conceito
legal de crédito tributário. Nesse sentido, Coêlho: “No §1º do artigo, o legislador do CTN
quis dar às multas fiscais, ou seja, ao crédito delas decorrente, o mesmo regime processual
do tributo (inscrição em dívida ativa, execução forçada, garantias e privilégios típicos do
crédito tributário). Para tanto, cunhou o §1º do art. 113. Mas o fez com desastrada infelicidade,
passando a ideia de que tributo e multa se confundem, o que não é permitido pelo art. 3º
do CTN, nuclear e fundante do conceito de tributo, eis que este último, conquanto implique,
juntamente com a multa, uma prestação pecuniária compulsória, prevista em lei, em prol do
Estado, dela se diferencia, precisamente, porque não é sanção de ato ilícito. Rigorosamente,
a obrigação principal tem por objeto o pagamento do tributo, O não pagamento do tributo é
que origina uma multa à guisa de sanção. Todavia, não quitada a multa, pode esta ser exigida,
como se fora crédito tributário, juntamente com o tributo. A redação do §1º está a exigir
reforma urgente. (COÊLHO, 2009, p. 615).
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
68 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
(a pessoa política tributante, ou que lhe faça as vezes – arts. 119 e 120161);
e (b) a obrigação tributária acessória, cujo objeto são deveres de fazer ou
de não fazer realizados pelo sujeito passivo para permitir ao sujeito ativo
efetivar as atividades de arrecadação e de fiscalização tributárias (ou
seja, verificar a regularidade da atuação do sujeito passivo). A obrigação
tributária, como se vê de sua regulação legal, é relação jurídica de uma só
via: há o dever do sujeito passivo de adimpli-la e o direito do sujeito ativo
de exigir o seu cumprimento.
A regulação legal apenas reflete uma tradição de autoritarismo e
de poder, que permanece até os dias de hoje na matéria fiscal. É claro o
desequilíbrio normativo entre Fisco e contribuintes. A própria definição
técnica da tributação devida, como crédito tributário (e não débito tributário),
demonstra qual era o foco da disciplina legal. E tal descompasso entre
devedores e credores do imposto apenas se acentua com a atualidade; já se
observou e é notório que a atividade de arrecadação de tributos – histórica
e naturalmente detida pelo Poder Público – é hoje quase que unicamente
exercida pelo particular. O uso da sistemática, no entanto, gera um elevado
custo aos contribuintes, que gastam mais com assessorias contábeis e
tributárias, além de terem suas despesas majoradas com a contratação
de mais empregados e com a adoção de sistemas operacionais cada vez
mais complexos.162 É dizer, os contribuintes são excessivamente onerados
com a transferência (que parece ser definitiva) do exercício da função
administrativo-tributária para a sua responsabilidade. É certo, observa
Derzi,163 que os contribuintes e terceiros têm o dever de colaboração com
a Administração, dever este difusamente previsto na Constituição da
República.164 Mas a imposição dos ditos “deveres laterais” aos contribuintes
(a expressão é de Derzi), diante de sua reconhecida vulnerabilidade em
face do Poder Público, exige temperamentos, de modo que os seus direitos
161
“Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência
para exigir o seu cumprimento.
Art. 120. Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito público, que se
constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se nos direitos desta, cuja
legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua própria.
162
“Alguns contribuintes, sejam autônomos ou empresários, costumam ver-se na contingência
de planejar suas atividades sob o prisma financeiro, especialmente o fiscal, sob pena de não
se mostrarem em condições de oferecer competitivamente seus produtos ou serviços. Mas
a ininteligibilidade do sistema tributário geralmente obriga esses contribuintes a entregar
suas questões tributárias a terceiros – contadores, advogados, consultores – nem sempre
devidamente qualificados, aumentando sua vulnerabilidade fiscal. Além disso, pequenos
microempresários, além de vulneráveis, sofrem, frequentemente, de autêntica hipossuficiência
no trato de suas questões tributárias.” (MARINS, 2009, p. 41)
163
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 475.
164
DERZI. Loc. Cit.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
69
165
A autora, inclusive, após expor a situação atual, aponta alguns limites à imposição indiscrimi-
nada de deveres laterais aos contribuintes: “Em princípio, esse dever somente pode ser afas-
tado: [...] se ele não se baseia em lei, posta pela pessoa competente, sendo, portanto, despido
de fundamento legal; [...] se ele não é pertinente, seu cumprimento provocando desvantagens
para o atingido sem esclarecer ou demonstrar o fato jurídico essencial; [...] se ele é excessivo ou
oneroso para a parte, quando outros meios mais fáceis e baratos são igualmente eficazes; [...] se
o cumprimento da exigência administrativa importa a violação de outro direito fundamental,
em especial a proteção da intimidade; [...] e finalmente, se a exigência não é cumprível pela
parte ou terceiro, pois a informação não pode ser dada de conhecimento próprio, dependendo
de documentos originais os quais o colaborador não tem acesso (ad mpossbilia nemo tenetur).
Enfim, o que a doutrina e a jurisprudência estabelecem, nos países ocidentais em geral, é a
razoabilidade das exigências administrativas.” (DERZI, 2009, p. 466-477).
166
“Em que pese o significativo desenvolvimento conceitual do DTF nas últimas duas décadas,
especialmente com o esforço dedicado pela doutrina ao exame do ato de lançamento, há grande
dificuldade para que o Estado da arte doutrinário se transfira para a legislação. Concorre
para isso o reduzidíssimo espaço que o tema ocupa na Constituição e nas leis em sentido
estrito, mostrando-se digno de nota o fato de os parlamentos mostrarem-se desinteressados ou
receosos, senão intencionalmente omissos, na oferta de projetos de lei que possam interferir
com a ampla liberdade do atuar fazendário.” (MARINS, 2009, p. 39)
167
MARINS. Defesa e vulnerabilidade do contribuinte, p. 41.
168
MARINS. Loc. Cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
70 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
assim àquelas dos Estados mais ricos, joga por terra discurso estatal
antigo para legitimar, dentre outros, a indiscriminada transferência da
gestão tributária para os contribuintes. Com a intensa informatização, com
supercomputadores detidos pelos Fiscos e um cada vez maior número de
declarações eletrônicas, a debilidade fazendária para o desempenho da
atividade fiscalizatória fica sem sustentação lógica.
A terceira vulnerabilidade, por fim, está em dois pontos nucleares.
O primeiro deles na adoção, pelos Fiscos, de verdadeiros regulamentos
paralelos para pautar a conduta dos seus agentes. A despeito da lei, e da
própria Constituição, um cipoal de instruções, portarias, comunicados,
entre outros atos infralegais, são editados pelas Administrações para
parametrizarem o comportamento dos servidores a elas ligados. Além do
absurdo da costumeira extrapolação da lei, os agentes fiscais passam a agir
de acordo com tais atos, do que sucede “[...] que nas repartições fiscais de
nada adianta ao contribuinte invocar a lei – e menos ainda a Constituição –
porque o que vale ali, antes destas, é a instrução normativa ou a portaria”.169
E a vulnerabilidade administrativa se completa com a prerrogativa de
que detém as Fazendas Públicas de constituírem, unilateralmente, os seus
títulos executivos. É certo que o chamado “contencioso administrativo”
(fase de revisão do lançamento tributário instaurada com a impugnação
do contribuinte – art. 145 do CTN), com sua proliferação, tem possibilitado
o consentimento do devedor (contribuinte) nos títulos executivos
fazendários. Mas, como sabido, a partir do reconhecimento, pelo Superior
Tribunal de Justiça,170 de que as declarações tributárias prestadas pelos
contribuintes constituem confissão de dívida, a situação se alterou, mais
uma vez, negativamente em relação aos contribuintes.
Com essas considerações, Marins torna ainda mais claro o atual
e crescente desequilíbrio entre administrados e Administração. E seus
estudos são importantes também para demonstrar quão importante é o
reconhecimento, nesta obra defendido, de que contribuintes e Fisco se
interajam em uma relação jurídica administrativa – uma “relação jurídica
administrativo-tributária” – em que ambos são, ao mesmo tempo, sujeitos
de direitos e portadores de deveres. O CTN, entretanto, não é consistente
ao dispor sobre direitos do contribuinte e/ou deveres da Administração.
O que conduz à indagação de qual seria, precisamente, o conteúdo de tal
“relação jurídica administrativo-tributária”.
169
MARINS. Op. cit., p. 45.
170
É o que diz a Súmula nº 436, do Superior Tribunal de Justiça: “A entrega de declaração pelo
contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário, dispensada qualquer outra
providência por parte do fisco”.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
71
171
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 466.
172
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 466.
173
DERZI. Op. cit., p. 467-468.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
72 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
174
DERZI. Op. cit., p. 466.
175
DERZI. Op. cit., p. 470.
176
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 472.
177
Guimarães (2007, p. 99-100), em obra intitulada “A responsabilidade civil da Administração Fiscal:
emergente da obrigação de imposto” também entende estarem Administração e contribuintes
em uma relação jurídica em que ambos possuem direitos e deveres. Igualmente partindo
dos princípios da proteção da confiança e da boa-fé objetiva, o autor português assim se
posiciona: “Por outro lado, a Administração pode, a qualquer tempo, dentro dos prazos
legais, fiscalizar, verificar e corrigir os dados fornecidos pelo contribuinte pelo que o trabalho
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
73
cometido pela lei ao contribuinte de declarar, liquidar e entregar o imposto depende sempre
e em todos os casos, da eventual confirmação da Administração a quem pode ser exigido
um comportamento especifico de actuação face ao direito do contribuinte em concreto. A
retenção na fonte é um fenómeno de pagamento por conta do imposto devido a final do
período definido por lei. A retenção na fonte funciona no caso dos impostos periódicos
como uma conta corrente que é aferida e liquidada no final do ano (ou não) para efeitos
fiscais. “No entanto, ambas podem ser concebidas como prestação de natureza obrigacional,
sendo, em nossa opinião, mais aconselhável defender a sua natureza de dever de protecção e
garantia de aplicação da norma que impõe a prestação obrigacional. Essa concepção permite
restabelecer o equilíbrio na relação de imposto entre contribuinte e Administração, relevar
condignamente a dupla função da norma de imposto (meio e garantia) e explicar, entre outras
coisas, a existência de juros indenizatórios e compensatórios a cargo da Administração. A
concepção de um dever de aplicar a lei como um dever de protecção é rico de implicações do
ponto de vista dogmático. [...] Convém ter presente, desde já, que os direitos de protecção
na obrigação jurídica foram particularmente estudados no direito alemão. A sua violação dá
direito à responsabilidade civil. Menezes Cordeiro afirma a propósito ‘... No espaço jurídico
alemão, os juristas são levados a trabalhar com múltiplas categorias de deveres, cuja violação
poderá acarretar a responsabilidade’”.
178
A figura jurídica é duramente criticada por parte da doutrina nacional, a exemplo de Xavier
(1997, p. 85-90) e Amaro (2010, 389-396). Críticas à maneira como é regulada pelo CTN, que, ao
sentir da vertente doutrinária, teria incorrido em diversas contradições ao criar o lançamento
por homologação. Independentemente de sua procedência ou improcedência, ditas críticas
não serão aqui analisadas, pois esta obra não tem este entre os seus propósitos. Intenta-se,
conforme já se observou, buscar interpretação-aplicação jurídica de tal categoria que esteja
em conformidade com o sistema jurídico pátrio. Busca-se, portanto, compreender a legislação
posta, respeitando-lhe seus limites e tendo como mote a preservação de sua coerência interna.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
74 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
179
O que raramente ocorre, segundo Coêlho: “Estamos acordes em que a maioria dos impostos
são calculados – por força de lei – pelos próprios contribuintes e pagos sem prévio exame
da autoridade administrativa. Sabemos, igualmente, que a Administração fiscal jamais
homologa expressamente esta atividade do contribuinte, deixando em aberto o prazo
que possui para rever o pagamento, de modo que possa, durante o período, fiscalizar o
contribuinte quantas vezes quiser, concordando ou discordando do seu proceder. Quando
discorda, promove lançamentos ex officio para exigir os créditos recolhidos a menor ou
simplesmente não pagos.” (COÊLHO, 2002, p. 16).
180
A teor do art. 162 do CTN, só é considerado pagamento quando efetuado “I – em moeda
corrente, cheque ou vale postal;” e “II – nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel
selado, ou por processo mecânico.”
181
Veja-se Borges (1999, p. 396): “Consequentemente, a atividade do sujeito passivo não é um
pré-lançamento, ou autolançamento, porque adentrará o procedimento administrativo de
lançamento. Procedimento de lançamento é todo o modo pelo qual o Código Tributário
Nacional determina, até certo ponto, a formação do ato de lançamento”.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
75
182
No mesmo sentido, “Por essa via, demonstra-se que a concepção “monista” do lançamento,
que só o descreve como um ato administrativo, conduz o intérprete e o aplicador do Código
Tributário Nacional a impasse teórico intransponível. Posto o problema nesses termos, o
lançamento por homologação só o será impropriamente (impropriedade terminológica,
ressalve-se), porque não constituirá uma espécie (“modalidade”) de lançamento, tal como
definido este no art. 142, caput, mas uma categoria normativa distinta. Se o lançamento é só
havido como um específico ato administrativo, não será uma subespécie de ato administrativo
de lançamento o lançamento por homologação, porquanto nele as operações de quantificação
não seriam realizadas pela autoridade administrativa, mas pelos sujeitos passivos. Ou, mais
precisamente, o único ato administrativo adentrado no procedimento de lançamento seria a
homologação, e esta teria conteúdo diverso do estipulado no art. 142, caput, segunda parte.
Essas dificuldades, entretanto, poderão ser convenientemente contornadas pela doutrina
quando se considera que o lançamento é tanto o ato como o procedimento que antecede a
emanação desse ato. Ora, o art. 142, caput, do CTN – norma superior – determina, em certa
medida, não apenas o conteúdo do ato de lançamento, mas também o procedimento respectivo.
Se assim o é, e porque o Código Tributário Nacional, no mencionado dispositivo, conceitua o
lançamento como procedimento administrativo tendente a quantificar (“constituir”) o crédito
tributário, as operações de quantificação podem ser realizadas quer pelos sujeitos passivos, no
fieri do procedimento, quer pela autoridade administrativa, no factum do ato de lançamento.”
(BORGES, 1999, p. 377). “As dificuldades de harmonização desse dispositivo poderão ser
superadas, contudo, pela distinção entre procedimento e ato de lançamento. O que compete
privativamente à autoridade administrativa, na formulação do Código Tributário Nacional,
é constituir o crédito tributário pelo lançamento, ou seja, pelo ato de aplicação da norma
tributária material ao caso concreto – e, pois, de criação de norma individual. O procedimento
administrativo de lançamento não é, entretanto, de competência privativa da Administração.”
(BORGES, 1999, p. 396)
183
Em sentido contrário se posicionam Carvalho e De Santi, para os quais o sujeito passivo,
ao prestar declarações de tributos sujeitos ao lançamento por homologação (é quase que
regra, hodiernamente, que os tributos recolhidos sob essa sistemática sejam declarados
expressamente pelos contribuintes e responsáveis), constitui o crédito tributário, embora não
efetue o lançamento (CARVALHO, 2010, p. 501-505; DE SANTI, 1999, 219-224). E o Superior
Tribunal de Justiça, que, partindo da doutrina do próprio DE SANTI, tem entendido pela
possibilidade de constituição do crédito pelo contribuinte, conforme se vê dos recursos
especiais nº 1.187.995 e 962.379. Xavier (1997, p. 83), em resposta a essa teoria, afirma que
essa espécie de declaração “[...] constitui, porém, não a forma de um ato jurídico de aplicação
da norma tributária material, anterior ao pagamento, mas a simples realização de um dever
tributário acessório, imposto por lei para meros efeitos de fiscalização...”.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
76 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
184
BORGES. Lançamento tributário, p. 381.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
77
185
“A questão que se coloca diante da homologação, pela autoridade administrativa, da atividade
prévia exercida pelo obrigado consiste em saber como se desdobra essa atividade e que etapas,
basicamente, configuram seu desenvolvimento. Esses estágios, num modelo simplificado,
podem ser reduzidos às seguintes atividades, no sentido lato, todas praticadas pelo sujeito
passivo – e, pois antecedentes ao ato de homologação: 1º) operações de quantificação do
débito tributário; 2º) cumprimento de deveres que o Código Tributário Nacional especifica
como obrigações acessórias (escrituração fiscal, emissão de guias de recolhimento, prestação
de informações e esclarecimentos à autoridade fazendária, etc.) 3º) pagamento do tributo.”
(BORGES, 1999, p. 387)
186
Observe-se que para a grande maioria dos tributos “lançados por homologação”, a legislação
estabelece a obrigação acessória de declarar, por meio de documento específico para tal, o
tributo devido, além de outros dados, como a base de cálculo e a alíquota utilizadas para a
quantificação daquele.
187
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 431.
188
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 85-86.
189
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
190
Levando em conta outros fatores, de ordem sintática e pragmática, como visto acima.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
78 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
Borges aquiesce com a possibilidade de homologação dos atos dos particulares, em sede de
191
lançamento por homologação. Também invoca como fundamento de seu posicionamento, o fato
de serem as operações praticadas pelos particulares materialmente administrativas, pois se referem
às atividades normalmente exercidas pela Administração Pública (BORGES, 1999, p. 384-389).
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
79
192
MEDAUAR. Direito administrativo moderno, p. 156.
193
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 405.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
80 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
194
Observe-se, todavia, que não haverá a configuração do silêncio na hipótese dos “atos
implícitos”, já qualificados acima. Nessa hipótese, como explanado, haverá ato administrativo,
inequivocamente manifestado com a prática de outro.
195
BORGES. Lançamento tributário, p. 400.
196
Nesse sentido, Carvalho (2010, p. 500); Amaro (2010, p. 395), Xavier (1997, p. 89); Borges (1999,
p. 399-400); e De Santi (1999, p. 223-224).
197
Nesse sentido são os acórdãos proferidos nos Recursos Especiais nº. 1.154.592 e 1.074.191, pelo
Superior Tribunal de justiça.
198
Ao estabelecer o prazo, o §4º do art. 150 ressalva os casos de dolo, fraude ou simulação. Tal
não quer dizer que, em casos que tais, tem a Administração prazo perpétuo para homologar
ou lançar de ofício. Fazendo-se a interpretação sistemática do CTN (como sempre deve ser
o trabalho exegético), ver-se-á aplicável o art. 173 do diploma, que trata da regra geral de
decadência do direito do Fisco de lançar. Nesse sentido, também é a doutrina majoritária, de
que são exemplos Borges (1999, p. 398) e Carvalho (2010, p. 500-501).
199
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 578.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
81
200
Em síntese das impropriedades da teoria declarativista, Xavier (1997, p. 555) destaca:
“Todavia, a verdade é que o lançamento produz uma vasta gama de efeitos que as teses em
causa não curaram de enquadrar e explicar. Por ora, basta-nos, porém, ainda que de um
modo simplesmente descritivo, chamar a atenção para os seguintes pontos: o lançamento
(tanto quando praticado antes do pagamento, como quando realizado de ofício nos
tributos de lançamento por homologação) vincula o contribuinte a realizar a prestação
tributária, nos precisos termos da declaração que nele se contém; torna-se imodificável
pela Administração fiscal, decorridos certos prazos fixados na lei; torna-se igualmente
imodificáveis pelas autoridades administrativas e pelos tribunais, precludidos os meios
de defesa facultados pela ordem jurídica, produzindo mesmo que viciado, todos os seus
efeitos; confere ao Fisco a faculdade de executar coercivamente o crédito de imposto, nos
precisos termos em que o declarou. Ora, o certo é que nenhum destes efeitos se contém
necessariamente na simples ideia de eficácia declarativa”.
201
Em resumo das inconsistências da teoria constitutivista, assim é Xavier (1997, p. 507): “Enfim, a
teoria em exame falha redondamente por deixar sem explicação a grande maioria dos tributos
em que o lançamento não é um momento necessário da obrigação tributária (tributos de
lançamento por homologação) e em que esta se constitui e extingue sem que seja praticado
qualquer ato administrativo e sem que seja, portanto, possível distinguir uma relação de
“Schuld” e uma relação de “Haftung”.
202
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 472.
203
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 578.
204
XAVIER. Loc. cit.
205
BORGES. Lançamento tributário, p. 456; XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do
procedimento e do processo tributário, p. 579.
206
XAVIER. Op. cit., p. 578.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
82 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
207
“[...] na hipótese de lançamento por homologação, a situação é muito simples, pois, ocorrido
o fato imponível, surge para o contribuinte o dever de recolher uma quantia de dinheiro
ao Estado. Neste caso, o dever é facilmente constatado sem existirem dúvidas quanto a sua
existência e possibilidade de satisfação. Contudo, esta figura apresenta uma dificuldade de
análise se questionarmos qual o efeito do “lançamento” na espécie, já que a lei coloca como
manifestação necessária, diversamente do que sucede nos tributos sem oposição”. (GRECO,
2007, p. 189-190)
208
GRECO. Dinâmica da tributação: uma visão funcional, p. 190.
209
GRECO. Op. cit., p. 193.
210
GRECO. Op. cit., p. 184.
211
GRECO. Dinâmica da tributação: uma visão funcional, p. 184.
212
Consoante o escólio de GRECO (2007, p. 184), inexistem problemas na conjugação dos efeitos
preclusivos com outros: “Isto não exclui que se conjuguem efeitos preclusivos e constitutivos
ou declaratórios. Assim, um ato pode ser preclusivo em alguns aspectos e constitutivos em
outros. A importância de identificar um efeito preclusivo está em excluir da indagação jurídica
o que anteceder o ato. Esta figura tem sido estudada principalmente pelos processualistas,
porém, não significa ser privativa desses ramos do Direito.”
213
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 853.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
83
214
ARAUJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 58-64.
215
ARAUJO. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
84 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
216
GORDILLO. Tratado de derecho administrativo, p. II-18.
217
ARAUJO. Op. cit., p. 14.
218
Ao tratar da matéria, Seabra Fagundes não vê sentido em se criticar a locução “atos
discricionários”, pois a expressão “[...] é uma daquelas imagens de síntese de que fala Francis-
Paul Benoit a propósito da necessidade de, na linguagem jurídica, cunhar locuções capazes
de dispensar circunlóquios.” e, ainda, por que, “de resto, ato discricionário é expressão de
uso generalizado, aqui e alhures, entre os administrativistas e, ainda, na jurisprudência do
Supremo Tribunal...” (1979, p. 75).
219
FAGUNDES. O controle dos atos administrativos pelo poder judiciário, p. 75.
220
ARAUJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 59.
221
ARAÚJO. Op. cit., p. 59-60.
222
ARAÚJO. Op. cit., p. 60.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
85
223
ARAÚJO. Loc. cit.
224
GRAU. O direito posto e o direito pressuposto, p. 210-212.
225
Nas esclarecedoras palavras do autor:
“A discricionariedade, como vimos, consiste – na concepção da doutrina tradicional, dicção
de Celso Antônio – na “margem de liberdade que remanesça ao administrador para eleger,
segundo critérios consistentes na razoabilidade, um, dentre pelo menos dois comportamentos
cabíveis, perante cada caso concreto, a fim de cumprir o dever de adotar a solução mais
adequada à satisfação da finalidade legal, quando, por força da fluidez das expressões da lei ou
da liberdade conferida no mandamento, dela não se possa extrair objetivamente uma solução
unívoca para a solução vertente”.
[...]
A interpretação (interpretação/aplicação), consubstanciando prudência, que não conhece
o exato, porém apenas o correto, supõe a faculdade, do intérprete, de escolher uma, entre
várias interpretações possíveis, em cada caso, de modo que essa escolha seja apresentada como
adequada – sempre, em cada caso, inexiste um interpretação verdadeira (única correta).
[...]
Confrontando os enunciados [...] temos:
- i) margem de liberdade (do administrador) versus a) faculdade (do intérprete);
- ii) para eleger (segundo critérios consistentes de razoabilidade versus b) de escolha;
- iii) um versus c) de uma;
- iv) entre pelo menos dois comportamentos cabíveis (perante cada caso concreto) versus d)
entre várias interpretações possíveis, em cada caso;
- v) a fim de cumprir o dever de adotar a solução mais adequada à satisfação da finalidade legal
versus d) de modo que essa escolha seja apresentada como adequada;
- quando – versus – sempre;
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
86 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
- vi) (por força da fluidez das expressões da lei) dela não se possa extrair objetivamente uma
solução unívoca para a situação vertente versus f) inexiste, em cada caso, uma interpretação
verdadeira (única correta).
Vale dizer, com todas as letras; o que a doutrina tradicional concebe como sendo a
discricionariedade é a interpretação [...]” (GRAU, 2005, p. 210-212).
226
LINARES apud ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 64.
227
Segundo o autor, o arbítrio ordinário estaria na atuação corriqueira do intérprete, radicada
natureza mesma do direito e de sua interpretação (que pressupõe uma liberdade lícita do
intérprete). Enquanto que o arbítrio extraordinário verificar-se-ia quando o exegeta goza de
uma liberdade mais ampla de interpretação, principalmente quando em face de “formulas
elásticas”, como moralidade, utilidade pública, etc. (LINARES apud ARAÚJO, 2005, p. 64)
228
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 60.
229
BINENBOJN. O sentido da vinculação administrativa à juridicidade no direito brasileiro, p. 160.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
87
230
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 65.
231
ARAÚJO. Loc. cit.
232
ARAÚJO. Op. cit., p. 67.
233
Veja-se, nesse sentido, Araújo (2005, p. 67):
“Mas, como saber qual é o melhor comportamento? De início, deve-se afastar a ideia de que
possa existir um comportamento mais adequado de per si, ou seja, algo que por si mesmo seja
melhor. À determinação da melhor atitude tem de concorrer uma apreciação axiológica diante
de certos fatos e de normas a estes aplicáveis. E dessa valoração, na qual reside o fator volitivo,
que dado comportamento passa a ser caracterizado como melhor. Não é, portanto, um dado
intrínseco à ação administrativa, mas algo externo a ela, que lhe é atribuída pela autoridade
competente para tal e que por isso mesmo leva a efeito tal ação”. (ARAÚJO, 2005, p. 67)
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
88 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
234
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 70.
235
ARAÚJO. Op. cit., p. 68.
236
ENTERRIA apud ARAÚJO, 2005. p. 85.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
89
237
ARAÚJO. Op. cit., p. 84.
238
Araújo bem ilustra a questão, nos seguintes termos:
“
Exemplificando as duas hipóteses de discricionariedade: quando a lei manda que para
certo cargo seja nomeado alguém dentro de uma lista tríplice elaborada previamente, desta
devendo constar pessoas de “ilibada reputação e notório saber jurídico”, estamos diante de
um caso de discrição com um número determinado de opções para o agente responsável pela
nomeação; quando a lei de licitação aplicável à Administração Direta manda que se elaborem
regulamentos licitatórios internos para os entes da Administração Indireta, “obedecidos os
princípios e as normas gerais” dessa lei, aí haverá discricionariedade com um leque de número
indeterminado de escolhas. Em qualquer caso, porém, desde que respeitados os aspectos
regrados dos atos a serem praticados, no mais, qualquer escolha a ser feita estará previamente
validada pelo direito positivo.” (ARAÚJO, 2005, p. 85-86).
239
Como De Santi (1999, p. 172-173), Carvalho, (2010, p. 463) e Borges (1999, p. 183-184).
240
Sobre as críticas à vinculatividade do lançamento, veja-se, por todos, Greco (2007, p. 201-206).
Cite-se, como exemplo, o seguinte trecho: “Em primeiro lugar, cabe examinar a hipótese de
solidariedade passiva. Neste caso (art. 124 do CTN), teremos diversas pessoas que encontram-
se na condição de devedores da mesma prestação tributária. Posto que todas estejam em
idêntica condição, perante o sujeito ativo, credor da prestação, caberá a este escolher aquela
em relação a qual será exigido o cumprimento da obrigação. Deixando de lado a discussão
sobre a possibilidade de pagamento pelo sujeito passivo, antes do lançamento, fixemo-nos
na situação de existir antes do lançamento um grupo de pessoas com todos os requisitos para
delas ser exigido o crédito tributário, e após o ato de imposição só existir uma, na contingência
real de sofrer execução por força da opção feita pelo Fisco (credor)”.
241
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 431.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
90 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
na doutrina, quer dizer que ele é de prática obrigatória, o que quer dizer
que não há liberdade da autoridade em concretizá-la ou não.242
Isso não pode significar, no entanto, que o lançamento é obrigatório
no sentido de que ele sempre tem que ser praticado, para todos os fatos
geradores ocorridos no mundo fenomênico. Se assim fosse, não faria
sentido a previsão legal de hipóteses de decadência da sua prática (art.
150, §4º, e 173 do CTN). A orientação predominante, portanto, é de que
o CTN, ao afirmar o lançamento como vinculado e obrigatório, quer
significar que quando a situação fático-jurídica que enseja sua aplicação
for concretamente verificada pela autoridade administrativa (o motivo do
ato administrativo de lançamento), ele deve ser praticado.
Entende-se acertado o posicionamento da doutrina quanto ao
caráter obrigatório do lançamento. De fato, constatadas concretamente
as circunstâncias que exigem a prática do lançamento – como ocorre ao
final de um procedimento de fiscalização que conclui que não houve o
pagamento de tributos – o ato administrativo deverá ser realizado, pois
isso é ser obrigatório.
É possível, no entanto, atribuir significação própria para a
natureza vinculada do lançamento. Tendo em vista as considerações
anteriores, o art. 142, ao dizê-lo vinculado, não está a afirmar que
tem sua execução mandatória. Está, na verdade, a dizer que quando
as condições fáticas e jurídicas para a sua prática forem verificadas,
apenas ele, o lançamento, poderá ser praticado. É dizer, em tal situação,
a realização do lançamento é o único melhor comportamento a ser
adotado pela Administração Pública.
É interessante notar, quanto a isso, que sequer seria necessário
dizer expressamente que o lançamento tem sua execução vinculada. Essa
sua natureza já seria extraída da interpretação do ordenamento jurídico
quando a sua realização fosse necessária. Num caso de não recolhimento
de tributos, por exemplo, o administrador já concluiria que a única melhor
conduta para a hipótese seria o lançamento de ofício. Da mesma forma,
numa situação em que a adimplência fiscal fosse constatada após processo
fiscalizatório, o lançamento por homologação seria reconhecido como o
exclusivo melhor comportamento (no que se aprofundará adiante, por
tocar ao objeto central desta obra). Mas o legislador preferiu mencionar
explicitamente que a atividade de lançamento é vinculada, o que apenas
evidencia a sua preocupação em deixar bastante claro que, verificadas
as circunstâncias fático-jurídicas de sua aplicação, a sua incidência é a
melhor (e única) prática administrativa.
242
CARVALHO. Curso de Direito Tributário, p. 463.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
91
243
É o que pensa Carvalho (2010, p. 470), ao tratar do lançamento de ofício.
244
“Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de
fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na
forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas.
Parágrafo único. Os termos a que se refere este artigo serão lavrados, sempre que possível,
em um dos livros fiscais exibidos; quando lavrados em separado deles se entregará, à pessoa
sujeita à fiscalização, cópia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo.”
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
92 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
245
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método. p. 792.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
94 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
VIII – quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião
do lançamento anterior;
IX – quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta
funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade,
de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não
extinto o direito da Fazenda Pública.
246
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 248.
247
XAVIER. Loc. cit.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
95
248
XAVIER. Op. cit., p. 249.
249
Em sentido diverso, é Xavier: “O verdadeiro fundamento da limitação da revisão do
lançamento à hipótese de erro de fato resulta do caráter taxativo dos motivos da revisão do
lançamento enumerados no artigo 149 do Código Tributário Nacional e que, como vimos, são,
além da fraude e do vício de forma, dever apreciar-se “fato não conhecido ou não provado por
ocasião de lançamento anterior” (inciso VIII)”. (XAVIER, 1997, p. 255).
250
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 486.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
96 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
251
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 255.
252
COÊLHO. Curso de Direito Tributário, p. 708.
253
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 485.
254
CANTO. Temas de Direito Tributário, 1964.
255
Veja-se, nesse sentido, Canto: “Ao apreciar o erro como um dos motivos que justificam
o desfazimento ou a revisão do lançamento, distingue a doutrina, e já hoje, também a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as duas espécies em que o mesmo se revestir
— erro de fato e erro de direito —, para só autorizar a revisão nos casos em que a autoridade
lançadora tenha corrido no primeiro (erro material de cálculo, por exemplo), mas não quando
se trate de erro de direito. Tal entendimento está absolutamente conforme com o sistema
jurídico que nos rege, que não admite defesa, baseada em erro de direito, a ignorância da lei
não escusa a ninguém. Se assim é, os particulares, com maior soma de razões sê-lo-á para a
própria administração pública, que não poderá alegar a nulidade de ato seu por haver mal
interpretado o direito fazendo errônea aplicação sua ao fato”. (CANTO, 1964, p. 47).
256
COÊLHO. Curso de Direito Tributário, p. 708; DERZI. Op. cit., p. 485.
257
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 255.
CAPÍTULO 1
O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇAO
97
258
BORGES. Lançamento tributário, p. 397-398.
259
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 487.
260
DERZI. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
98 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
261
XAVIER. Do lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário, p. 266.
262
Xavier, que adota esse entendimento, ressalta que é também essa a orientação da doutrina
alemã: “Esta é a orientação da doutrina e da jurisprudência alemãs que, em relação ao §222, 1,
1 da Abgabenordnung anterior e do §173 (1) 1 da nova Abgabenordnung, de 16 de março de
1976, entendem que a “novidade” do fato não se determina com base em categorias puramente
fáticas (que o “fato” fosse efetivamente desconhecido para a repartição competente), mas
também pelo critério da culpa da Administração em não ter procurado informações sobre o
fato quando tinha o dever de fazê-lo, ou quando a sua ignorância não possa imputar-se ao
contribuinte, que cumpriu devidamente o seu dever de fornecer os dados legalmente exigíveis
à Administração. O princípio, que alguns fazem reportar à boa-fé, é de que a negligência da
Administração não deve redundar em prejuízo do contribuinte.” (XAVIER, 1997, p. 266)
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
1
KAUFMANN. Filosofia do direito, p. 281.
2
Kaufmann (2007, p. 278) discorre sobre a segurança jurídica (ou “paz jurídica”, como mais
frequentemente a ela se refere) como uma das vertentes do seu conceito de justiça, ao lado da
“igualdade”, que seria a justiça estritamente considerada, e da “adequação”, que exprimiria a
ideia de justiça social ou do bem comum.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
100 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
3
KAUFMANN. Op. cit., p. 282-283.
4
KAUFMANN. Filosofia do direito, p. 282-283.
5
KAUFMANN. Loc. cit.
6
KAUFMANN. Op. cit., p. 283.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
101
7
PEREZ-LUÑO. La seguridad jurídica, p. 29-30.
8
KAUFMANN. Filosofia do direito, p. 281.
9
Silva (2004, p. 16-17) faz diferenciação similar ao tratar da segurança jurídica. Distingue entre
segurança do direito e segurança jurídica, nos seguintes termos: “A segurança do direito é
a que exige a positividade do direito e é, neste contexto, que a segurança se entronca com a
Constituição, na medida em que esta constitui o fundamento de validade do direito positivo.
[...] A segurança do direito, como visto, é um valor jurídico que exige a positividade do direito,
enquanto a segurança jurídica é já uma garantia que decorre dessa positividade. Assim é que
o direito constitucional positivo, traduzido na Constituição, é que define os contornos da
segurança jurídica da cidadania”.
10
COUTO E SILVA. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro
e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do
art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99), p. 10.
11
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), p. 227.
12
PEREZ-LUÑO. La seguridad jurídica, p. 29-30.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
102 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
13
Larenz (1985), sem apresentar algum tipo de divisão no conceito de segurança jurídica, a define
de maneira bastante próxima à dita feição objetiva, como “[...] la certidumbre de que se puede
contar con reglas de derecho, com su igual aplicación, y en determinados supuestos creados o
calificados por el derecho... com los derechos adquiridos y su protección por los tribunales”.
14
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro, Tese, p.
40-46.
15
COUTO E SILVA. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro
e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do
art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99), p. 10.
16
KAUFMANN. Filosofia do direito, p. 281.
17
MAFFINI. Op. cit., p. 44.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
103
18
KAUFMANN. Filosofia do direito, p. 288.
19
RADBRUCH. Filosofia del derecho, p. 294.
20
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 294.
21
ÁVILA. Loc. cit.
22
ÁVILA. Op. cit., p. 295.
23
COUTO E SILVA (1987, p. 47), ao facear a questão, em linha de pensamento similar àquela ora
externada, também nega dita contradição, ao concluir que garantir a segurança é efetivar a
justiça: “No fundo, porém, o conflito entre justiça e segurança jurídica só existe quando tomamos
a justiça como valor absoluto, de tal maneira que o justo nunca pode transformar-se em injusto
e nem o injusto jamais perder essa natureza. A contingência humana, os condicionamentos
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
104 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
sociais, culturais, econômicos, políticos, o tempo e o espaço — tudo isso impõe adequações,
temperamentos e adaptações, na imperfeita aplicação daquela ideia abstrata à realidade em que
vivemos, sob pena de, se assim não se proceder, correr-se o risco de agir injustamente ao cuidar
de fazer justiça. Nisso, não há nada de paradoxal. A tolerada permanência do injusto ou do ilegal
pode dar causa a situações que, por arraigadas e consolidadas, seria iníquo desconstituir, só pela
lembrança ou pela invocação da injustiça ou da ilegalidade originária. Do mesmo modo como a
nossa face se modifica e se transforma com o passar dos anos, o tempo e a experiência histórica
também alteram, no quadro da condição humana, a face da justiça. Na verdade, quando se diz
que em determinadas circunstâncias a segurança jurídica deve preponderar sobre a justiça, o que
se está afirmando, a rigor, é que o princípio da segurança jurídica passou a exprimir, naquele
caso, diante das peculiaridades da situação concreta, a justiça material. Segurança jurídica não é,
aí, algo que se contraponha à justiça; é ela a própria justiça. Parece-me, pois, que as antinomias e
os conflitos entre justiça e segurança jurídica, fora do mundo platônico das ideias puras, alheias
e indiferentes ao tempo e à história, são falsas antinomias e conflitos”.
24
MARTINS-COSTA. Almiro do Couto e Silva e a ressignificação do princípio da segurança jurídica na
relação entre o estado e os cidadãos, p. 145-146.
25
Refere-se à legalidade, neste ponto, em sua concepção clássica, essencialmente formal,
denotativa de estrita conformidade com a lei (também em sentido formal). Conforme
restará exposto em capítulo específico sobre a atuação administrativa estatal, também a
legalidade revestiu-se de novo conteúdo, passando a significar, sob a alcunha de juridicidade,
conformidade com o direito.
26
MARTINS-COTSA. Loc. cit.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
105
27
DERZI. Direito tributário brasileiro, p. 115.
28
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 603.
29
LUHMANN. Confianza, p. 26.
30
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 325-338.
31
LUHMANN. Loc. cit.
32
DERZI. Op. cit. p. 325-338.
33
Os comentários que serão feitos a este respeito representam alguns dos motivos, reconhecidos
pela doutrina, para a ampliação da ideia de segurança jurídica, é dizer, que conduziram à
compreensão da segurança jurídica em conformidade com os termos acima expostos. Não
se pretendem, pois, as únicas causas dessa ressignificação. São algumas delas, que se julga
interessante citar e comentar.
34
BULLESBACH. Princípios de teoria dos sistemas, p. 341.
35
BULLESBACH, Alfred. Princípios de teoria dos sistemas. In: KAUFMANN, Arthur e
HASSEMER, Winfried (org.). Introdução à filosofia do direito e à teoria do direito contemporâneas.
2. ed. Tradução de Marcos Keel e Manuel Seca de Oliveira. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2009.
36
LUHMANN. Confianza, p. 3-4.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
106 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
37
LUHMANN. Confianza, p. 26.
38
“Por lo tanto, el problema de la confianza consiste en el hecho de que ei futuro contiene muchas
más posibilidades de las que podrían actualizarse en el presente, y del presente transferirse al
pasado. La incertidumbre que tiende a existir es simplemente una consecuencia de un hecho
muy elemental, que no todos los futuros pueden convertirse en presente y de aquí convertirse
en pasado. El futuro coloca una carga excesiva en la habilidad del hombre para representarse
las cosas para s mismo. El hombre tiene que vivir en el presente junto con este futuro, de
sobremanera complejo, eternamente. Por lo tanto debe podar el futuro de modo que se iguale
con el presente, esto es, reducir la complejidad.” (LUHMANN, 1996, p. 21)
39
LUHMANN. Loc. cit.
40
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 328.
41
LUHMANN. Op. cit., p. 21.
42
LUHMANN. Op. Cit, p. 29-37.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
107
43
Por isso dizer que, nos mundos familiares, o tempo passado prevalece sobre os tempos
presente e futuro (LUHMANN, 1996, p. 32).
44
Sobre a teoria dos sistemas de Luhmann (1996, p. 29-37), considerações serão feitas no próximo
tópico.
45
DERZI. Op. cit., p. 329.
46
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 330.
47
DERZI. Op. cit., p. 328.
48
DERZI. Op. cit., p. 338.
49
LUHMANN. Confianza, p. 121.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
108 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
50
DERZI. Op. cit., p. 331.
51
LUHMANN. Confianza, p. 121.
52
Nas palavras do autor: “Sin embargo, la base racional de la confianza en el sistema yace en la confianza
depositada en la confianza de otras personas”. (LUHMANN, 1996, p. 121).
53
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 333.
54
No mesmo rumo, é Derzi (2009, p. 336): “O sistema jurídico também absorve desconfiança,
que permanece latente (uma série de medidas é adotada sem dar o reconhecimento da
desconfiança). Sem dúvida, o jogo dos delitos das penas tem a função de estabilizar
expectativas, mas também sinalizam desconfiança sistêmica. No Direito Financeiro, as técnicas
de controle das Finanças Públicas, como legalidade orçamentária, execução do orçamento e
prestação anual de contas absorvem desconfiança, justificada pela experiência histórica do
passado. No Direito Tributário, a desconfiança manifesta-se, frequentemente implícita, em
regras de controle, por meio da imposição de uma série de deveres acessórios, informações,
registros contábeis e declarações impostas aos contribuintes; às vezes, em regras de presunção,
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
109
simplificação e pautas de valores...; mas chega a seu ponto mais elevado institutos como a
substituição tributária progressiva, em que se cria a obrigação de pagar o tributo antes mesmo
da ocorrência do fato jurídico, que lhe dará origem. Por todo o sistema perpassam regras
antissonegação ou antifraude”.
55
BULLESBACH. Princípios de teoria dos sistemas, p. 409.
56
LUHMANN. Confianza, p. 29-37.
57
LUHMANN. Loc. cit.
58
BULLESBACH. Op. cit., p. 425.
59
CANARIS. O pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, p. 12.
60
CANARIS. Op. cit., p. 12.
61
LUHMANN. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
110 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
62
LUHMANN. Loc. cit.
63
BULLESBACH. Op. cit. p. 409-442.
64
LUHMANN. Confianza, p. 29-37.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
111
65
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 316.
66
BULLESBACH. Princípios de teoria dos sistemas, p. 426.
67
“Se, pelo contrário, com a evolução civilizacional, a complexidade das condições de vida de
uma sociedade aumentar, estas condições tornam-se cada vez mais variáveis; e, então, a anterior
ordem jurídica rígida fracassará ou renunciará progressivamente à invariabilidade dos seus
princípios: a complexidade de um sistema tem de estar correlacionada com a complexidade do
seu meio ambiente.” (BULLESBACH, 2009, p. 426).
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
112 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
68
“O direito só se modifica como reação aos seus próprios impulsos. A ordem jurídica [...]
reproduz-se, ela própria, nos seus elementos, embora fazendo isso como reação a interesses do
meio ambiente. Na evolução do direito, a autorreferência conduz diretamente a um conceito
do direito pós-moderno, cuja racionalidade aparece exclusivamente como produto de uma
lógica interna de desenvolvimento normativo.” (BULLESBACH, 2009, p. 426).
69
Ainda sobre a capacidade de o sistema evoluir, são esclarecedoras as lições de Silva (2007,
p. 269), cuja desenvoltura, no assunto, é singular: “O fechamento operacional do sistema,
contudo, não significa ‘isolamento casual, autarquia ou solipsismo cognitivo’. São admitidas,
e, por vezes, consideradas convenientes e necessárias, certas comunicações com o ambiente
ou outros sistemas, relações estas intituladas aclopamento estrutural, as quais provocam
irritação (ou perturbação para MATURAMA). Cada tipo de interdependência em relação
ao ambiente é compatível com a autopoiésis e com o fechamento operacional, viabilizando
introjeções (input) relevantes ao desenvolvimento do próprio sistema. Formas altamente
seletivas de aclopamento estrutural conduzem a situações de irritação e influenciam o processo
de autoestruturação dos sistemas autopoiéticos. Os sistemas são, pois, operacionalmente
fechados, mas devem ser arejados e permeáveis a certas influências ambientais, na infindável
tentativa de suprimir sua incompletude e provisoriedade. O sistema é sempre inacabado
e inacabável, sendo inexoráveis os constantes movimentos almejando sua evolução. Neste
processo, o Direito não somente admite sua relativa permeabilidade ao ambiente, mas,
principalmente, permite em seu anterior modificações no equilíbrio e no posicionamento
dos diversos princípios que o integram, além de viabilizar tanto a redefinição de seu alcance
e de suas limitações mútuas, quanto o reconhecimento da autonomia de novos princípios”.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
113
casos em que ela será assegurada (as possibilidades, nesse caso, são
ainda mais reduzidas). Por outro lado, se a confiança não é protegida,
o risco é aumentado e a própria capacidade geradora de confiança do
sistema é comprometida. Proteger a confiança gerada, assim, além de
potencializá-la, acaba por efetivamente garanti-la.
O sistema jurídico, dessa forma, somente cumpre satisfatoriamente
o seu papel – de gerar confiança e, consequentemente, reduzir
complexidade – se se confia que ele está apto a desempenhá-lo (e, para
isso, ele precisa operar fechado e estar aberto cognitivamente) e se ele
protege a confiança por ele próprio outorgada. Daí se dizer, em arremate,
que o sistema jurídico funciona com confiança.
70
Diz-se “como era vista”, pois, tendo-se por fundamento a ideia de paradigma de Thomas
Khun, sobre a qual Carvalho Netto (2004, p. 29) fundamenta seus estudos, o paradigma,
esse grande esquema geral de pré-compreensões e visões do mundo, consubstanciado no
pano de fundo naturalizado de silêncio assentado nas práticas sociais, que torna possível a
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
114 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
75
CARVALHO NETTO. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do estado democrático de
direito, p. 35.
76
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), p. 20.
77
Segundo Bonavides (1994, p. 518), enquanto os direitos de primeira geração, liberdade
(negativa) e propriedade prevaleceram no séc. XIX, os direitos de segurança geração
dominaram o séc. XX: “Os direitos da segunda geração [...] dominam o século XX do
mesmo modo como os direitos da primeira geração dominaram o século passado. São os
direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos coletivos ou de coletividades,
introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado social, depois que
germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste século. Nasceram
abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois fazê-lo equivaleria
a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula”.
78
TORRES. Legalidade Tributária e Riscos Sociais, p. 185.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
116 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
79
MASI. A Sociedade pós-industrial, p. 83-84.
80
PROCÓPIO. Reflexões sobre a aplicação do princípio da solidariedade à figura das contribuições sociais
no contexto evolutivo do modelo de Estado Democrático de Direito, Dissertação, p. 18-19.
81
GIDDENS. Mundo em descontrole – o que a globalização está fazendo de nós, p. 14.
82
SANTOS. Pela mão de Alice – o social e o político na pós-modernidade, p. 102-103.
83
BECK. O que é globalização? Equívocos do globalismo, resposta à globalização, p. 26.
84
BAUMAN. Modernidade e ambivalência, p. 227.
85
GIDDENS. Loc. cit.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
117
86
BECK. Loc. cit.
87
FRIEDMANN. O mundo é plano: uma breve história do Século XXI, p. 17.
88
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), p. 33.
89
BECK. O que é globalização? Equívocos do globalismo, resposta à globalização, p. 25.
90
RIBEIRO. Op. cit., p. 34-35.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
118 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
91
RIBEIRO. Op. cit., p. 35.
92
BECK. Op. cit., p. 28.
93
BAUMAN. Modernidade e ambivalência, p. 227.
94
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), p. 41.
95
BECK (1998, p. 28)
96
AGAMBEM (2004, p. 19)
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
119
97
STRECK. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do direito, p. 164.
98
CARVALHO NETTO. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do estado democrático de
direito, p. 41-43.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
120 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
99
O pensamento de Martins-Costa (2005, p. 145) complementa essas ideias: “Esse apelo
frequente, essa nova forma ou sentido que reveste o termo confiança, constitui sintoma da
atual insuficiência dos princípios da segurança jurídica e da legalidade para resolver por si
mesmo — por sua tensão recíproca — os problemas hoje enfrentados pelo Estado de Direito.
E justamente esse sintoma que fora detectado por Almiro do Couto e Silva ao alertar para a
polaridade entre os princípios da legalidade e da segurança, com a prevalência ora de um, ora
de outro, para concretizar o valor essencial da justiça. A confiança é, pois, mais que o apelo
à segurança da lei; é também mais do que a boa-fé, embora a suponha. E crédito social, é a
expectativa, legítima, na ativa proteção da personalidade humana como escopo fundamental
do ordenamento. Daí alcançar Couto e Silva, em texto escrito mais recentemente, a plena
compreensão da operatividade positiva da confiança no quadro do Estado de Direito.”
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
121
100
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 328.
101
LUHMANN. Confianza, p. 21.
102
Reitere-se, neste ponto, que as considerações sobre a confiança, fundadas nas obras de
LUHMANN e DERZI, bem como os comentários sobre os paradigmas constitucionais e as
peculiaridades da sociedade moderna (que também pode ser referida por pós-moderna, como se
viu), não se pretendem exaurientes das razões pelas quais a segurança jurídica incorporou, em
seu conteúdo, a confiança. São parte das razões, que, pela relevância, entendeu-se por trabalhar.
103
Modelo adotado pela Constituição da República Federativa do Brasil, conforme seu art. 1º:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: [...].”
104
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 308-312.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
122 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
105
ÁVILA. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos, p. 180.
106
Entendem-se as normas, com arrimo no autor e na doutrina de RICCARDO GUASTINI,
como os sentidos construídos a partir da interpretação sistemática dos textos normativos
(ÁVILA, 2007, p. 30). Não há de haver, assim, necessariamente, correspondência entre
norma e dispositivo, “[...] no sentido de que sempre que houver um dispositivo haverá
uma norma, ou sempre que houver uma norma deverá haver um dispositivo que lhe sirva
de suporte.” (ÁVILA, 2007, p. 30). O dispositivo é o objeto da interpretação e a norma o
seu resultado. Ressalte-se, de qualquer forma, que a entidade jurídica “norma jurídica” é
ainda vista noutro sentido, tido por amplo, em contraposição ao ora exposto, considerado
restrito. Segundo Carvalho: “A despeito disso, porém, interessante manter o secular modo
de distinguir; empregando ‘normas jurídicas em sentido amplo’ para aludir aos conteúdos
significativos das frases do direito posto, vale dizer; aos enunciados prescritivos, mão
enquanto manifestações empíricas do ordenamento, mas como significações que seriam
construídas pelo intérprete. Ao mesmo tempo, a composição articulada dessas significações,
de tal sorte que produza mensagens com o sentido deôntico-jurídico completo, receberia o
nome de ‘normas jurídicas em sentido estrito’”. (CARVALHO, 2008b, p. 128)
107
Saliente-se, já neste momento, que as atividades de interpretação e de aplicação jurídica
não podem ser vistas como processos extremados, independentes um do outro, malgrado
já se tenha dessa forma entendido a questão, conforme noticia Borges (1999, p. 105-106). A
aplicação do Direito é atividade intimamente ligada à de interpretação. É pressuposta desta,
posto em melhores termos. Não é possível, ao aplicador, fazê-lo sem antes extrair os sentidos
possíveis da norma jurídica a ser aplicada, ou seja, a interpretar, pois são justamente estes
que darão conteúdo ao ato de aplicação. Há, por isso, segundo Borges, uma antecedência
lógica e cronológica da interpretação em relação à aplicação do Direito. De se ressaltar, no
entanto, que a recíproca não é verdadeira. A interpretação, conforme observa Bandeira de
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
123
Mello, (2007, 343) [...] pode permanecer no puro plano da exegese, como obra da doutrina,
ante a razão em que assentam os ensinamentos do intérprete sobre o sentido da lei, e a
convicção com que os desenvolve, sem cogitação de qualquer caso concreto.”
108
ÁVILA. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos, p. 130-131.
109
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 39-40.
110
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 39-40.
111
ÁVILA. Op. cit., p. 43-44.
112
Essas antinomias, para o autor, são “[...] contingentes, em vez de necessárias, porque surgem
ocasionalmente diante de cada caso; concretas, em vez de abstratas, porque surgem diante
de um problema concreto; e externas, em vez de internas, porque não surgem em razão de
conflitos internos ao ordenamento jurídico, mas decorrem de circunstâncias externas a ele”.
(AVILA, 2008a, p. 44)
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
124 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
113
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 43-44.
114
CANARIS. O pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, p. 76.
115
CANARIS. Op. cit., p. 12.
116
OTERO. Lições de introdução ao estudo do direito, p. 310.
117
Já Silva (2007, p. 267) também em análise da adequação valorativa, saca duas funções do
sistema jurídico constituído e estruturado por princípios gerais: “a) primeiramente, uma
função positiva, que vincula todos os operadores do Direito, sejam decisores ou aplicadores,
gerando-lhes a obrigatoriedade de realização da adequação valorativa e do respeito à unidade
interna da ordem jurídica, culminando na imposição de um sentido específico e coerente a
cada ato jurídico integrante do próprio Direito; e b) posteriormente, uma função negativa,
centrada na verificação de que em cada ato jurídico deve revelar-se a adequação e a integração
axiológica ou teológica na unidade interna do sistema jurídico, acarretando a eliminação das
incoerências, das contradições e das incompatibilidades eventualmente identificadas.”
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
125
118
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 47-48.
119
“Nessas hipóteses, cada subprincípio incorpora o sentido dos outros subprincípios. Daí
se dizer que o resultado interpretativo do conjunto é maior do que a soma das partes!
Pode-se paradoxalmente também dizer o oposto: como o sobreprincípio é uma ideia mais
ampla decorrente dos próprios subprincípios, ele pode ser resultado deles e se opor indi-
vidualmente a uma de suas concretizações por meio de regras. Exemplo: o sobreprincípio
da segurança jurídica é resultado da interpretação indutiva da legalidade, anterioridade e
irretroatividade, significando o dever de busca de um estado de previsibilidade, confiabili-
dade e estabilidade; mas exatamente por isso, muitas vezes será a exigência de estabilidade
que irá exigir a flexibilização das exigências de lei, como ocorre no exemplo da manuten-
ção dos efeitos concretos de benefícios fiscais concedidos sem lei em razão do princípio da
boa-fé objetiva. Nesse caso, a segurança jurídica atua indiretamente com função bloquea-
dora. Pode-se, então, afirmar que o resultado interpretativo do conjunto é menor do que a
soma das suas partes!” (ÁVILA, 2008a, p. 47-48).
120
AVILA. Sistema constitucional tributário, p. 47.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
126 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
121
ÁVILA. Loc. cit.
122
ÁVILA. Op. cit., p. 51.
123
ÁVILA. Op. cit., p. 154.
124
AVILA. Sistema constitucional tributário, p. 156.
125
É importante observar, neste ponto, que a atividade de formação dos fatos pelo intérprete-
aplicador do direito não é arbitrária, sendo-lhe autorizado selecionar e valorar os fatos (e
aspectos destes) descriteriosamente. Conforme adverte Ávila, o sobreprincípio do Estado
de Direito impõe que a preferência por determinado fato (e/ou aspecto fático) deve ser
acompanhada pela devida fundamentação da justificação da opção. Essa, em sua doutrina,
exigência da “teoria formal da argumentação” (ÁVILA, 2008a, p. 154). Ao mesmo tempo,
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
127
certos fatos e/ou aspectos são preferíveis a outros em razão da relevância dos bens
jurídicos a que se referem. Nesses casos, a opção por uns em detrimento de outros decorre
da própria pretensão de eficácia própria dos princípios: os bens jurídicos suportados
por princípios superiores haverão de ser privilegiados. Essa, a vez, exigência da “teoria
material da argumentação”, segundo as formulações de Ávila.
126
Advirta-se que não há graus de normatividade entre princípios implícitos e explícitos,
conforme já esclarecido pela doutrina.
127
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
128
“Art. 5º [...]
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”
129
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
III – cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver
instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu
ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
42, de 19.12.2003)”.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
128 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
2.3.5.1 A irretroatividade
2.3.5.1.1 O princípio/regra da irretroatividade
A irretroatividade, normalmente concebida como irretroatividade
das leis, é, em poucas palavras, norma jurídica que veda o atingimento,
130
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 308.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
129
131
ÁVILA. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos, p. 180.
132
AVILA. Sistema constitucional tributário, p. 145.
133
SPAGNOL. Curso de direito tributário, p. 107.
134
AVILA. Loc. cit.
135
Veja-se, nesse sentido, as palavras do autor: “[...] quanto ao objeto, qualifica-se, na sua
dimensão de regra, como uma limitação negativa, na medida em que exige, na atuação
legislativa de instituição e aumento de qualquer tributo, o respeito aos fatos já consolidados
e, na sua dimensão de princípios, como uma limitação positiva, porquanto impõe a adoção,
pelo Poder Público, das condutas necessárias para a garantia ou a manutenção dos ideais
de previsibilidade, de estabilidade, de cognoscibilidade, de confiabilidade e de lealdade;...”
(ÁVILA, 2008a, p. 145)
136
Conforme observa Derzi (2009, p. 421), é de longa data a expressa previsão da irretroatividade
nos textos constitucionais brasileiros: “No Brasil, a natureza constitucional explícita do
princípio é muito antiga, data da Constituição do Império. Depois ele foi igualmente repetido
em nossas Constituições republicanas, exceção feita, como seria de se esperar, na Constituição
de 1937. E mais, tem o princípio da irretroatividade luma amplitude inigualável, em relação a
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
130 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
outros sistemas jurídicos, se atentarmos para os enunciados linguísticos dos textos escritos e
expressos, já que inclusivos de todas as áreas especializadas do Direito. Assim o art. 11, al. 3, da
Constituição de r1891; o art. 113, nº 3, da Constituição de 1934; o art. 141, §32, da Constituição
de 1946; o art. 153, §32, da Constituição de 1967, com a Emenda nº 1, de 1969; e, finalmente, o
art. 52, XXXVI da Constituição de 1988.”
137
Vide nota 208.
138
“Art. 5º [...]
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”
139
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 421.
140
Vide nota 209.
141
Rememore-se, aqui, que as “Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar”, tratadas na
segunda seção do Capítulo I do Título VI da Constituição da República (a partir do art. 150), já
foram consideradas pelo Supremo Tribunal Federal como cláusulas pétreas, por encerrarem,
em seus bojos, verdadeiros direitos fundamentais. Ao tratar, da anterioridade, por exemplo,
o STF tomou-a por “norma imutável”, pois “[...] é garantia individual do contribuinte...”
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Limitações constitucionais ao poder de tributar. (ADI 939,
Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, DJ 18-03-1994
PP-05165 EMENT VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-00151-03 PP-00755)
142
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 422.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
131
143
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 415.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
132 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
144
DERZI. Op. cit. p. 451.
145
Conforme observa DERZI, há países em que o principio não goza de positivação expressa,
como na Alemanha, que é uma das razões, em seu entender, mas a multiplicidade de estudos
a respeito da proteção da confiança (DERZI, 2009, p. 420).
146
CARVALHO. Direito tributário, linguagem e método, p. 417.
147
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 156.
148
“No caso da importação de um veículo, motivada por um decreto do Poder Executivo,
que prometia baixar as alíquotas do imposto de importação, a proibição de retroatividade
exige que a alteração das alíquotas se aplique a fatos geradores ocorridos após a edição
do ato normativo que as modificou. Para o Supremo Tribunal Federal, o fato gerador é o
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
133
151
Vigência e vigor, para alguns estudiosos da dogmática jurídica, como Ferraz Jr. (2010, p. 165-
171), gozam de significados distintos, sendo a vigência o interregno em que a norma atua,
podendo ser invocada para produzir efeitos, e o vigor, a força vinculante que a norma tem
ou mantém, mesmo não estando mais vigente. Prefere-se, no entanto, seguir com Carvalho
(2008b, p. 417), que reconhece as duas realidades, mas não lhe empresta tais definições:
“Viger é ter força para disciplinar, para reger, cumprindo a norma seus objetivos finais. A
vigência é propriedade das regras jurídicas que estão prontas para propagar efeitos, tão logo
aconteçam, no mundo fático, os eventos que elas descrevem. A propósito, Ferraz Jr. distingue
‘vigência’ como intervalo de tempo em que a norma atua, podendo ser invocada para produzir
efeitos, e ‘vigor’, como a força vinculante que a norma tem ou mantém, mesmo não sendo
mais vigente. O exemplo de uma regra não mais vigente, revogada, que continue vinculante
para os casos anteriores à sua revogação, justificaria a sua diferenciação semântica. Creio que
o assunto mereça, efetivamente, variação terminológica capaz de identificar dois momentos
diferentes. Parece-me, contudo, que os termos empregados não seriam os mais recomendáveis.
Fico com a distinção, que a entendo útil e relevante. Mas sem dar conteúdos semânticos
diversos às palavras ‘vigência’ e ‘vigor’. A regra revogada não terá vigência para fatos futuros,
conservando, porém, a vigência para os casos acontecidos anteriormente à sua revogação.
Haverá uma vigência plena (passado e futuro) e outra parcial (passada, havendo revogação,
ou futura, quando a vigência for nova”(CARVALHO, 2008b, p. 404-405)
152
“[...] o que é relevante em nossa ordem jurídica é o momento da vigência da lei. Esse é o tempo presente,
o “agora”, a partir do qual se pode considerar o que é passado (o “agora” que não mais SE dá)
e o futuro (o “agora” que ainda não SE dá). Não tem cabimento, entre nós, a consideração
feita pelos tribunais alemães e suíços, relativas à delimitação do momento da confiança, se do
anúncio da lei, ou de sua aprovação pelo Parlamento, ou de sua publicação, ou ainda de sua
regulamentação, para definir até que ponto o contribuinte poderia esperar uma continuidade
da ordem jurídica, ou legitimamente, poderia o contribuinte ter tido confiança em que os
contratos, por ele contraídos, e os atos praticados, não seriam atingidos pela lei nova. Essa
difícil questão, quando não se tem a consagração expressa do princípio da irretroatividade, faz
aflorar os critérios do princípio da proteção da confiança aplicáveis. Entre nós, a objetividade
da matéria é evidente: ou a lei nova está em vigor ou não. Os fatos jurídicos, já ocorridos,
existentes, antes da data da vigência (ainda que tivessem se completado na véspera do dies a
quo da vigência da lei, ainda que a mudança da lei tivesse sido anunciada, vigorosamente, pela
mídia de toda espécie, não importa) são dignos de proteção contra a retroação da lei nova, no
Direito brasileiro; [...].” (DERZI, 2009, p. 448-449).
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
135
153
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 493.
154
DERZI. Op. cit., p. 457.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
136 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
155
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 497.
156
DERZI. Loc. cit.
157
Em complementação a essas ideias, mais que pertinentes são as palavras de Derzi, (2009, p.
497- 498), que se transcreve a seguir: “Será, exatamente nas mudanças das normas editadas,
para onerar mais intensamente o contribuinte, o administrado, embora se tivessem mantido
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
137
158
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 124.
159
Ao tratar do assunto, Araújo observa que legalidade não se confunde com legitimidade, embora
se encontre, na literatura administrativista, vários autores que os tratem como sinônimos. Nota
que legalidade liga-se à ideia de conformidade com o ordenamento jurídico, com a lei, em
sentido amplo. A legitimidade, por sua vez, está para o justo; o legitimo, nas palavras do autor,
“[...] é o que existe sobre a base de um justo título.” (ARAUJO, 2005, p. 40). A legitimidade, por
isso, não afetaria diretamente a legalidade, ou, em termos outros, a ilegitimidade não invalidaria
uma exigência de legalidade. Exemplifica com a situação de um regime autoritário que põe as
suas leis, também arbitrariamente, mas as cumpre. Conquanto ilegítima, não se poderia dizer,
ao seu sentir, que a atuação administrativa, nesse caso, não atende a uma exigência mínima de
legalidade. O Professor mineiro ressalva, no entanto, que, sob um ponto de vista material, a
legalidade pode abranger a ideia de legitimidade.
160
ÁVILA. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos, p. 130-131.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
139
161
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 72.
162
As palavras são de Carvalho que, ao tratar do tema, faz a seguinte consideração: “[...] ambas
as locuções (“dever-poder” e “poder-dever”), entretanto não resistem a uma análise mais
paciente. Sob o ponto de vista lógico, todo dever implica um poder [...], que se pode interpretar:
se uma conduta ‘p’ é obrigatória, então está permitido cumpri-la. Seja como for, retendo-se a
conduta obrigatória, sua permissibilidade estará necessariamente implícita, sendo redundante
a construção. Por outro lado [...], querendo afirmar que, se uma conduta ‘p’ é permitida então
ela é obrigatória, não se sustenta, uma vez que da permissão não se extrai uma obrigação.
Se tentarmos outro trajeto pata imaginar o ‘poder-dever’, chegaremos igualmente a soluções
absurdas: [...] significaria uma conduta ‘p’, simultaneamente, permitida e obrigatória. Como em
toda obrigação está embutida a permissão, bastaria registrar a conduta obrigatória [...], sendo
despicienda a referência à permissão”. (CARVALHO, 2008a, p. 262). Conquanto concorde-se
com a análise, reconhece-se, também, que a locução proposta por Bandeira de Mello ilustra
bem a submissão da Administração pública à legalidade e à finalidade administrativas.
163
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 72.
164
A título de exemplo, vide o “Direito posto e o direito pressuposto”, (GRAU, 2008), “O mandado
de segurança: a busca da verdadeira especialidade”, (ANDRADE, 2010), e o artigo “Em torno do
prazo decadencial de invalidação de atos administrativos no exercício da autotutela administrativa”
(MAFFINI in “Fundamentos do Estado de Direito: estudos em homenagem ao Professor
Almiro do Couto e Silva”, 2005).
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
140 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
165
COUTO E SILVA. Os princípios da legalidade da administração pública e da segurança jurídica no
estado de direito contemporâneo, p. 54.
166
MOREIRA NETO. Juridicidade, pluralidade normativa, democracia e controle social, p. 71.
167
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p.124-125.
168
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro,
Tese, p. 64-65.
169
Embora não a trate como postulado, Binenbojn (2008, p. 160) bem caracteriza o novo paradigma:
“A ideia de juridicidade administrativa, elaborada a partir da interpretação dos princípios e
regras constitucionais, passa, destarte, a englobar o campo da legalidade administrativa, como
um de seus princípios internos, mas não mais altaneiro e soberano como outrora. Isso significa
que a atividade administrativa continua a realizar-se, via de regra, (i) segundo a lei, quando
esta for constitucional (atividade secundum legem), (ii) mas pode encontrar fundamento direto
na Constituição, independente ou para além da lei (atividade praeter legem), ou, eventualmente,
(iii) legitimar-se perante o direito, ainda que contra a lei, porém com fulcro numa ponderação
da legalidade com outros princípios constitucionais (atividade contra legem, mas com
fundamento numa otimizada aplicação da Constituição)”.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
141
170
GRAU. O direito posto e o direito pressuposto, p. 174.
171
BANDEIRA DE MELLO. Ato administrativo e direito dos administrados, p. 17.
172
BARROSO. O estado contemporâneo, os direitos fundamentais e a redefinição da supremacia do
interesse, p. XII-XIII.
173
Nas próprias palavras do autor: “A Constitucionalização do direito infraconstitucional não se
confunde com a inclusão na Lei Maior de normas próprias de outros domínios, mas expressa a
reinterpretação dos institutos ordinários sob uma ótica constitucional. À luz de tais premissas,
toda interpretação jurídica é também interpretação constitucional. Qualquer operação de
realização do direito envolve a aplicação direta ou indireta da Constituição. Direta, quando
uma pretensão se funda em uma norma constitucional; E indireta, quando se funda em uma
norma infraconstitucional, por duas razões: a) antes de aplicar a norma, o intérprete deverá
verificar se ela é compatível com a Constituição, porque, se não for não poderá faze-la incidir; e
b) ao aplicar a norma, deverá orientar seu sentido e alcance à realização dos fins constitucionais.
(BARROSO, 2010, p. xii-xiii)
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
142 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
174
PEREIRA DO REGO apud SOUZA JUNIOR. Estado, governo e administração pública, p. 532.
175
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro,
Tese, p. 67.
176
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 59.
177
Bandeira de Mello (2008, p. 37), na esteira da doutrina de Alessi (2008, p. 65-69), menciona
distinção entre interesses públicos primários e secundários. Aqueles seriam os interesses
acima referidos, os interesses da coletividade; já estes os interesses da Administração
Pública na condição de um sujeito de direito qualquer, que seriam estranhos aos da
sociedade. Araújo (2005, p. 34), em comentário à distinção – que não julga pertinente, com o
que concorda o próprio Bandeira de Mello (2008, p. 37) – observa que a “[...] Administração
não pode ter interesses ‘como qualquer sujeito de direito, pelo simples fato de que ela é
concebível apenas como sujeito curador de interesses coletivos...”.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
143
178
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 68-69.
179
Nesse mesmo sentido, as considerações de Binenbojm, (2010, p. 169): “Na verdade, o conceito
de interesse público é daqueles ditos juridicamente indeterminados, que só ganham maior
concretude a partir da disposição constitucional dos direitos fundamentais em um sistema
que contempla e pressupõe restrições ao seu exercício em prol de outros direitos, bem como
de metas e aspirações da coletividade de caráter metaindividual, igualmente estampadas na
Constituição. Ao Estado Legislador e ao Estado Administrador incumbe atuar como intérpretes
e concretizadores de tal sistema, realizando as ponderações entre interesses conflitantes,
guiados pelo postulado da proporcionalidade (BINENBOJRN, 2010, pp. 168-169).
180
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 37.
181
Borges (1999, p. 94-95), com a técnica que lhe é característica, partindo de clássicos como
JUNA MANUEL TERÁN, RECASENS SICHES e EDUARDO GARCIA MAYNES, coloca em
termos claros o que são os conceitos lógico-jurídicos: “Os conceitos lógico-jurídicos constituem
pressupostos fundamentais para a ciência jurídica. Entre esses pressupostos essenciais estão
as noções de direito subjetivo, dever jurídico, objeto, relação jurídica, etc. correspondem,
pois, à estrutura essencial de toda norma jurídica. Consequentemente, não são exclusivas de
determinado ordenamento jurídico, mas comum a todos. Não são dados os conceitos lógico-
jurídicos empiricamente, porque são alheios a toda experiência. São necessários a toda realidade
positiva, efetivamente existente, historicamente localizada ou apenas possível, precisamente
porque funcionam como condicionantes de todo pensamento jurídico. Mas essas considerações
lógicas não importam a aplicação ao campo do Direito dos princípios da lógica pura, no sentido
de que não se referem a juízos enunciativos de verdade ou falsidade. Porque referidos a
normas jurídicas, são juízos sobre a validade ou a invalidade das normas, formuladas mediante
proposições científicas. Os princípios da lógica pura pertencem à ordem do ser (Sein); os da
lógica jurídica, à ordem do dever-ser (Sollen). Os supremos princípios lógico-jurídicos, de índole
essencialmente formal, tem apoio em certos axiomas. Donde a viabilidade da construção de uma
axiomática jurídica, pela formulação de proposições universais e apriorísticas. São formais esses
princípios porque nada adiantam sobre o conteúdo concreto das normas jurídicas. Valem para
todo conteúdo juridicamente possível e, por isso, são universais e absolutos.”.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
144 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
182
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 207.
183
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 67.
184
BANDEIRA DE MELLO. Op. cit., p. 68-69.
185
“Com efeito, dita qualificação quem faz é a Constituição e, a partir dela, o Estado, primeiramente
através dos órgãos legislativos, e depois por via dos órgãos legislativos, e depois por via dos
órgãos administrativos, nos caos limite da discricionariedade que a lei lhes haja conferido.
Tomem-se alguns exemplos para aclarar o que foi dito. Algumas ou múltiplas pessoas, talvez
mesmo a maioria esmagadora, considerarão de interesse público que haja, em dado tempo e lugar,
monopólio estatal do petróleo, que se outorgue tratamento privilegiado a empresas brasileiras
de capital nacional ou que se reserve a exploração mineral exclusivamente a brasileiros. Outras
pessoas, sobretudo se estrangeiras ou mais obsequiosas a interesses alienígenas do que aos
nacionais, pensarão exatamente o contrário. Encarada a questão de um ângulo político, sociológico,
social ou patriótico, poderá assistir razão aos primeiros e sem razão completa os segundos; mas, do
ponto de vista jurídico, será de interesse público a solução que haja sido adotado pela Constituição
ou pelas leis quando editadas em consonância com as diretrizes da Lei Maior.
De outro lado, é evidente, e de evidencia solar, que a proteção do interesse privado nos termos
do que estiver disposto na Constituição, é, também ela, um interesse público, tal como qualquer
outro, a ser fielmente resguardado.” (BANDEIRA DE MELLO, 2008, p. 67).
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
145
186
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 66.
187
PONTES. O princípio da proporcionalidade e o direito tributário, passim.
188
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, p. 211.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
146 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
189
BANDEIRA DE MELLO. Loc. cit.
190
Ressalte-se que é o próprio autor que opta por uma lista exemplificativa (FREITAS, 2007, p. 20).
191
Destaque-se que o autor se refere ao “direito à administração pública dialógica” (FREITAS,
2007, p. 20).
192
FREITAS. Discricionariedade administrativa e o direito fundamental à boa administração pública, p. 20.
193
Em igual sentido, MAFFINI (2009, p. 49), conforme se vê do seguinte excerto: “A proteção
da confiança tem, assim, a dimensão normativa de um princípio jurídico, na medida em que
possui por deve imediato a “promoção de um estado ideal de coisas’, embora tal conformação
não lhe retire o dever mediato de ‘adoção da conduta necessária’ para os fins almejados”.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
147
194
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 402.
195
DERZI. Op. cit., p. 409.
196
DERZI. Op. cit., p. 404-406.
197
DERZI. Op. cit., p. 604.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
148 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
198
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 604.
199
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 323.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
149
sentido, por isso, em se pensar situação em que ele tenha tido que confiar
e, ainda menos, que sua confiança (considerada a possibilidade de ele
a manifestar), demande por proteção.
Aliás, a própria natureza da atuação estatal, totalmente vinculada
à ordem jurídica (seja à Constituição, quando no exercício da função
legislativa, seja a esta e à lei, quando em desempenho das funções
executivas), impede, sob pena de violação ao Estado de Direito, que o
Estado tenha a sua confiança protegida. Consoante as lições de Derzi,200 se
a proteção da confiança for considerada em benefício do Estado, ele poderá
alcançar posição ainda mais favorável da que a ele impõe o ordenamento
pátrio, o que é juridicamente vedado, em razão dos estritos limites a ele
impostos pela adoção do Estado de Direito.
Já em terceiro lugar, deve-se ter em consideração que a proteção
da confiança, assim como a irretroatividade, consiste em limitação
constitucional ao poder de tributar, constante do rol dos direitos e das
garantias fundamentais de que são titulares os cidadãos.201 Como tal,
protege o cidadão contra o exercício das funções estatais, não o contrário.202
200
DEREZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 606.
201
DERZI. Op. cit., p. 605.
202
Essas razões já são suficientes a demonstrar a parcialidade da aplicação do princípio em exame.
Ainda há outras, todavia, conforme observa Derzi (2009, p. 605-606):
“[...] (II) é notável a relação de dependência do cidadão em face do Estado, em seus atos de
intervenção e de regulação, de modo que o Ente estatal tem mais recursos, e muito mais abrangentes,
para se prevenir de uma decepção (a criação de novos tributos é apenas um exemplo entre outros).
Nessas hipóteses, aplica-se a regra “quanto mais tanto mais”. Segundo Blanke e também Muckel,
para a estruturação da proteção da confiança, deve ser ainda considerada como determinante a
fórmula “quanto mais tanto mais” (je-desto-Formel), que O. BACHOF desenvolveu no Seminário
de Ensino sobre o Estado de Direito” de 1973, que diz o seguinte: “quanto maior for a pressão da
obrigatoriedade exercida pelo poder público, vinculando respectivamente o comportamento do
indivíduo, e quanto mais o indivíduo ficar dependente de uma decisão do poder público, mais
fortemente ele dependerá da possibilidade de poder confiar nessa decisão”.
Na verdade, as lições acima repetidas e registradas nos tópicos anteriores apenas confirmam as
afirmações de Luhmann, no sentido de que todo aquele que tem posição soberana em relação
aos acontecimentos/eventos não tem confiança a proteger. O Estado é que tem domínio sobre
os atos praticados por seus três Poderes;
[...]
(IV) os atos, ações e omissões do cidadão em face do Estado, abusivos ou fraudulentos,
delituosos e de má-fé, todos já são previstos e sancionados nos termos da lei, mas é significativo,
como explica Weber-Duler, “que, nesse contexto, sempre se fale do abuso de direito do cidadão,
e não da proteção da confiança do Estado”.
(V) são aplicáveis os princípios da proteção da confiança e da boa-fé objetiva, para favorecer uma
pessoa jurídica de Direito público contra a outra, em convênios e contratos. Casos como de reduções
de subvenção, de transferências ainda que voluntárias, mas já prometidas, podem ensejar soluções
baseadas na boa-fé objetiva ou na proteção à confiança, como no Direito privado. Enfim, a plena
aplicação desses princípios tem relevância e total adequação no Direito Internacional Público.”
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
150 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
203
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro, Tese, p.
40-46.
204
MAFFINI. Op. cit., passim.
205
COUTO E SILVA. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro
e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do
art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99), p. 9.
206
MARTIN-COSTA. Almiro do Couto e Silva e a ressignificação do princípio da segurança jurídica na
relação entre o estado e os cidadãos, p. 237-239.
207
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), 2008.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
151
208
COVIELLO. La protección de la confianza del administrador: derecho comparado e derecho
argentino, p. 460.
209
PÉREZ. El principio general de la buena fé em el derecho administrativo, passim.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
152 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
210
RIBEIRO. A segurança jurídica do contribuinte (legalidade, não surpresa e proteção à confiança
legítima), p. 100.
211
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 390.
212
CALMES. Du principe de protection de la confiance legitime en droits allemand, communautaire et
français, p. 301.
213
DERZI. Op. cit., p. 340.
214
DERZI. Op. cit., p. 390.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
153
215
DERZI. Loc. cit.
216
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 327 .
217
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 410.
218
CALMES. Du principe de protection de la confiance legitime en droits allemand, communautaire et
français, p. 371.
219
DERZI. Op. cit., p. 410-412.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
154 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
220
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro,
Tese, p. 156.
221
Nesse sentido, são vários os dispositivos legais nacionais que trazem, em seu bojo, medidas
implementadoras de segurança jurídica. Cite-se, como exemplo, o art. 54 da Lei nº 9.784/99
(“Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.”) e o art. 150 do CTN (citado supra).
222
COVIELLO. La protección de la confianza del administrador: derecho comparado e derecho
argentino, p. 461.
223
COVIELLO. Loc. cit.
224
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 342.
225
COVIELLO. La protección de la confianza del administrador: derecho comparado e derecho
argentino, p. 461.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
155
226
CALMES. Du principe de protection de la confiance legitime en droits allemand, communautaire et
français, p. 437 e ss.
227
CALMES. Op. cit., p. 439.
228
COVIELLO. Loc. cit.
229
CANARIS. O pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito, 2008.
230
CALMES. Op. cit., p. 448 e ss.
231
CALMES. Op. cit., p. 449.
232
CALMES. Du principe de protection de la confiance legitime en droits allemand, communautaire et
français, p. 450.
233
CALMES. Op. cit.,p. 457.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
156 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
234
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro,
Tese, p. 124-125.
235
MARTINS-COSTA. Almiro do Couto e Silva e a ressignificação do princípio da segurança jurídica na
relação entre o estado e os cidadãos, p. 237-239.
236
VILA. Sistema constitucional tributário, p. 324.
237
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 414.
238
Também a necessidade de utilização de tais princípios e garantias haverá de encontrar
as suas diferenciações no Direito brasileiro. Muitas vezes, a proteção da confiança estará
cristalizada por meio de direitos e garantias constitucionais, fortes, como ocorre com o
princípio da irretroatividade das leis, de longa tradição, expresso na Constituição da
República. Será necessário empregar a analogia para reconhecê-lo no Direito público,
em especial no Direito Tributário, como faz a Dogmática alemã. A irretroatividade das
leis, em todos os ramos do Direito, se impõe na ordem positiva nacional, para não ferir o
direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito e, ainda, os fatos jurídicos em
geral, pretéritos em relação à vigência da lei nova. Entre nós, não se reconhece nenhuma
incompatibilidade entre a proteção da confiança e a irretroatividade. Ao contrário, a
proteção, que a Constituição prevê, é tão forte (e o mandamento já conta com mais de
século de prática), que ela se cristaliza por detrás dos institutos. Inexiste a necessidade
de testarmos os requisitos da confiança: o ato do legislador, desencadeador da confiança,
a base da confiança, a confirmação da confiança, os investimentos feitos pelo cidadão,
as consequências desencadeadas, positivas ou negativas, e o sopesamento do interesse
público na mudança da lei. Embora ali latente, mas cristalizada, a proteção da confiança
legítima ou justificada não se manifesta, porque ela está pressuposta, mas pode servir
de explicação ou fundamento da própria escolha da Constituição. Isso explica por que
razão, não sendo rica a literatura nacional em relação à proteção da confiança legítima,
nem mesmo da boa-fé objetiva no Direito Tributário, no entanto, é fartíssima, quase
“incontrolável”, relativamente à segurança jurídica, à previsibilidade e aos princípios da
não surpresa. No Brasil, apenas nos espaços restritos e controversos é que surgirá, como
garantia ético-jurídica, o princípio da proteção da confiança. (DERZI, 2009, p. 413-414)
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
157
239
COUTO E SILVA. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro
e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do
art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei nº 9.784/99), p. 9.
240
COUTO E SILVA. Loc. cit.
241
COUTO E SILVA. Op. cit., p. 9-10.
242
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 413-414.
243
ÁVILA. Sistema constitucional tributário, p. 494.
244
ÁVILA. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
158 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
245
“Embora o princípio da boa-fé e a ideia de proteção da confiança sirvam ao interesse do
indivíduo na permanência e continuidade do ordenamento jurídico e na permanência
inalterada dos seus direitos, relações jurídicas e posições, eles têm traços distintivos: enquanto
a ideia da proteção da confiança pode ganhar importância igualmente na relação jurídica
abstrata e na relação jurídica concreta, a aplicabilidade do princípio da boa-fé se restringe a
uma relação jurídica concreta. Em contrapartida, a ideia da proteção da confiança pode ser
correlacionada àquelas configurações de casos concernentes à retroatividade de leis tributárias,
à proteção da confiança em diretrizes da Administração pública.
Esta visão de conjunto torna compreensível por que o princípio da boa-fé não se dirige ao
Estado como um todo, mas aos seus representantes individuais; não aos contribuintes na sua
totalidade, mas ao contribuinte individual, pois se destina aos envolvidos em uma relação
jurídica concreta, que sempre devem estar em uma certa relação recíproca de “proximidade
interna”. Do contrário, o Estado e os cidadãos não poderiam estar vinculados a normas éticas
iguais ou similares e não se poderia formar a confiança”. (ÁVILA, 2008a, p. 494).
246
Nesse sentido são vários os dispositivos legais nacionais que trazem, em seu bojo, medidas
implementadoras de segurança jurídica. Cite-se, como exemplo, o art. 54 da Lei nº 9.784/99
(“Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram
efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.”) e o art. 150 do CTN (citado supra).
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
159
247
DERZI. Modificações da jurisprudência: proteção da confiança, boa-fé objetiva e irretroatividade como
limitações constitucionais ao poder judicial de tributar, p. 369.
248
MENEZES CORDEIRO. Da boa fé no direito civil, 2007
249
MARTINS-COSTA. Almiro do Couto e Silva e a ressignificação do princípio da segurança jurídica na
relação entre o estado e os cidadãos, p. 156.
250
DERZI. Op. cit., p. 369.
251
DERZI. Loc. cit.
252
GIACOMUZZI. A moralidade administrativa e a boa-fé da administração pública (o conteúdo
dogmático da moralidade administrativa),(2002.
253
GIACOMUZZI , Op. cit., p. 308-309.
254
GIACOMUZZI. Loc. cit.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
160 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
255
ARAÚJO. Motivação e controle do ato administrativo, p. 100.
256
ARAÚJO. Loc. cit.
CAPÍTULO 2
A SEGURANÇA JURÍDICA
161
257
CASTILLO BLANCO. La protección da confianza em el derecho administrativo, p. 375.
258
A esse respeito, complementares e esclarecedoras são as seguintes considerações de Maffini:
“A legalidade administrativa não pode ser considerada como óbice à incidência do princípio
da proteção substancial da confiança, mesmo quando se trata da preservação de condutas – ou
seus efeitos – inválidas. Isso porque, as noções de Estado de Direito e de segurança jurídica
não estão sob, mas sobre ou ao lado do princípio da legalidade, impondo-se a ponderação
entre a legalidade e a segurança jurídica para que, em alguns casos, essa ceda à proteção
da confiança com a estabilidade das relações jurídicas, ainda que inválidas. Ademais, o
fundamento material da legalidade consiste justamente na busca por segurança jurídica, não se
apresentando, pois, num fim em si mesmo. Dessa forma, sempre que a legalidade implicar em
consequências que se contraponham ao seu próprio fim material, qual seja, segurança jurídica,
terá de ser ponderada com outros valores, como é o caso da proteção substancial da confiança,
ensejando tal ponderação a possibilidade de preservação de atos ou efeitos decorrentes de
comportamentos inválidos.” (MAFFINI, 2009, p. 236)
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
162 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
259
MAFFINI. Princípio da proteção substancial da confiança no direito administrativo brasileiro, Tese,
p. 71.
260
Pela contundência, adequadas são as palavras de Maffini (2009, p. 146): “Em outras
palavras, deve-se entender que o princípio da proteção da confiança, ao tutelar interesses
privados decorrentes de expectativas legítimas dos destinatários da função administrativa,
proporciona a plena satisfação do interesse público consistente na obtenção de um estado
de segurança jurídica. Não seria exagerado afirmar, nesse sentido, que a proteção da
confiança realiza, a um só tempo, a interesses privados (de proteção substancial das
expectativas legítimas) e a interesses públicos (de obtenção de um estado de coisas
pertinente à segurança jurídica e ao estado de direito).
Assim, à guisa de conclusão, deve-se entender que os princípios da legalidade e do
interesse público são inquestionavelmente importantes para o Direito Administrativo, mas
não absolutos, razão pela qual se impõe que sejam ponderados com os demais princípios,
resultando justamente dessa ponderação a incidência do princípio da proteção da confiança.”
CAPÍTULO 3
A HOMOLOGAÇÃO EXPRESSA
TACITAMENTE VERIFICADA
1
Como é, por exemplo, o “Termo de Encerramento de Ação Fiscal”, denominação
costumeiramente atribuída pelas Administrações Tributárias para o ato administrativo que
formaliza o fim de uma fiscalização.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
164 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
2
GRECO. Dinâmica da tributação: uma visão funcional, 2007.
3
BANDEIRA DE MELLO. Curso de Direito Administrativo, 2008.
CAPÍTULO 3
A HOMOLOGAÇÃO EXPRESSA TACITAMENTE VERIFICADA
167
aqueles limites previstos nos arts. 145, 146 e 149 do CTN – de ordem
temporal e objetiva, conforme análise feita linhas acima – para que possa
se efetivar (os quais refletem, saliente-se, a positivação, em regras jurídicas,
dos princípios da irretroatividade, da proteção da confiança, da boa-fé
objetiva e da moralidade).
Cabe ressaltar, aqui, também, que, mesmo nos casos em que a revisão é
possível, como na verificação de fatos novos, os princípios da moralidade, da
boa-fé objetiva e da proteção da confiança deverão ser observados. Assim, por
exemplo, constatado fato novo que gere o recolhimento de tributo, estando
o contribuinte de boa-fé, poder-se-á cogitar do afastamento das penalidades
porventura incidentes, como medida de proteção de sua confiança.
A proteção da confiança, nesse caso, haverá de produzir efeitos
para o futuro também: tendo o contribuinte pautado a sua conduta fiscal
por aquela que fora confirmada como válida pelo termo de encerramento
(ato homologatório), os seus “não recolhimentos” subsequentes também
não poderão ser penalizados.
O contribuinte de boa-fé que conforma seu comportamento
com base em ato da Administração não pode ser punido por eventual
descumprimento da legislação. Tal seria, além de violador da segurança
jurídica, completamente injusto. A proteção da confiança para o futuro é
a medida de Direito, uma vez que atende à justiça prospectiva.4
4
DERZI. Justiça prospectiva no imposto sobre a renda, 2006.
MARCO TÚLIO FERNANDES IBRAIM
174 SEGURANÇA JURÍDICA E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO POR HOMOLOGAÇÃO
5
KAUFMANN. Filosofia do direito, 2007.
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