Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 4
1. A Arqueologia e a Bíblia................................................................................................................................ 4
1.1 Panorama geral e funções da Arqueologia Bíblica ................................................................................................. 4
1.1.1 A Arqueologia Bíblica e o Antigo Testamento ................................................................................................ 4
1.1.3 A escola arqueológica Minimalista ............................................................................................................... 10
1.1.4 Os Resultados ............................................................................................................................................... 11
1.2 Os Códigos Legais do Antigo Oriente e o Antigo Testamento .............................................................................. 11
1.2.1 O Oriente Médio e o Antigo Testamento...................................................................................................... 14
1.3.1 Escritos de Povos Antigos ............................................................................................................................. 15
2. As narrativas patriarcais e a arqueologia .................................................................................................... 20
3. Sodoma e Gomorra .................................................................................................................................... 33
3.1 Incredulidade e negação...................................................................................................................................... 34
3.2 O Que Disseram os Geólogos .............................................................................................................................. 34
3.3 A historicidade de Sodoma e Gomorra ................................................................................................................ 35
3.4 A Procura de Sodoma e Gomorra ........................................................................................................................ 35
4. O Êxodo ...................................................................................................................................................... 38
4.1 O Êxodo e a arqueologia ...................................................................................................................................... 38
4.2 O caminho da terra dos filisteus .......................................................................................................................... 40
4.3 A rota do êxodo e as imagens de satélites .......................................................................................................... 41
4.4 O coração endurecido do Faraó .......................................................................................................................... 42
4.5 Teria Israel atravessado o “Mar Vermelho”? ....................................................................................................... 42
5. As principais cidades de Canaã e a Arqueologia ......................................................................................... 45
5.1 A cidade de Ai ...................................................................................................................................................... 45
5.2 A cidade de Hazor ................................................................................................................................................ 46
5.3 A cidade de Jericó ................................................................................................................................................ 47
5.4 A Cidade de Siquém ............................................................................................................................................. 49
5.5 O que estas descobertas podem provar? ............................................................................................................ 50
6. A monarquia e a Arqueologia ..................................................................................................................... 52
6.1 Saul, Davi e Salomão............................................................................................................................................ 52
6.2 A cidade de Ecrom ............................................................................................................................................... 54
6.3 As cartas de Laquis .............................................................................................................................................. 54
6.4 Selo de barro com impressão digital ................................................................................................................... 55
7. Os Manuscritos do Mar Morto ................................................................................................................... 55
7.1 O que são os manuscritos? .................................................................................................................................. 55
7.2 Qumran e sua relação com eles........................................................................................................................... 56
7.3 Como chegaram até as grutas ............................................................................................................................. 57
7.3.1 A descoberta ................................................................................................................................................. 57
7.3.2 Data das descobertas ................................................................................................................................... 58
7.3.3 País em que foram achados .......................................................................................................................... 58
7.3.4 Onde se encontram ...................................................................................................................................... 59
7.3.5 Os atuais donos ............................................................................................................................................ 59
7.4 Israel Adquire os Principais Manuscritos da Gruta .............................................................................................. 60
7.4.1 Os Manuscritos que foram publicados ......................................................................................................... 61
7.4.2 Os Idiomas em que Foram Escritos ............................................................................................................... 61
7.4.3 As Datas ........................................................................................................................................................ 62
7.4.4 Duas Cópias de Isaías Descobertas na Gruta ................................................................................................ 64
Conclusão ....................................................................................................................................................... 65
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................. 66
1. A Arqueologia e a Bíblia
Muitas pessoas após ter lido ou ouvido falar das Escrituras Bíblicas, já questionaram e questionam a
veracidade dos acontecimentos. A arqueologia bíblica, um precioso estudo que vem sendo explorado há
poucos séculos, tem esclarecido muitos destes questionamentos que os cépticos opõem aos fatos históricos
dos livros bíblicos.
A palavra “arqueologia” deriva do termo grego archaiología, que significa “estudo das coisas antigas
[ou arcaicas]”. Os gregos usavam a palavra “arqueologia” para descrever antigas lendas e tradições. A primeira
menção conhecida — em inglês — data de 1607, usada numa referência ao “conhecimento” sobre o Israel
antigo com relação a fontes de literatura como a Bíblia. Então, no século XIX, quando começaram a ser
desenterrados artefatos dos tempos bíblicos, a palavra foi a estes aplicada.
À medida que a arqueologia se desenvolveu como ciência e as escavações alcançaram terras além das
que têm relevância bíblica, surgiu a necessidade de se cunhar um termo mais exclusivo. E assim, como uma
disciplina distinta em um campo mais extenso, nasceu a “arqueologia bíblica” — a ciência da escavação,
decifração e avaliação crítica dos registros de materiais antigos relativos à Bíblia. A primeira tentativa
“científica” em arqueologia foi conduzida por Napoleão Bonaparte em 1798.
Coisas palpáveis podem assistir a fé em seu crescimento. A arqueologia traz à luz os remanescentes
tangíveis da história, permitindo a criação de um contexto razoável para o desenvolvimento da fé. Permite
também que fatos a sustentem — a confirmação da realidade dos personagens e eventos bíblicos. Assim,
céticos e santos podem, do mesmo modo, perceber a mensagem espiritual arraigada à história.
A arqueologia é o principal meio de recuperar o passado por intermédio da descoberta de sítios antigos
e ao se encontrar, por meio da escavação, construções, artefatos e documentos escritos que eles continham em
tempos passados. Dessa forma, ela dá ao historiador uma ferramenta para que ele possa fazer um retrato do
homem, de suas atividades e do seu pensamento em dado período e lugar na história. Visto que o Antigo
Testamento em si já é uma coleção de escritos pertencentes a um contexto de vida específico, não é de
surpreender que a arqueologia das terras bíblicas, principalmente da Síria-Palestina e seus vizinhos,
No final dos anos de 1980 e começo de 1990, deu-se início a um novo movimento de arqueólogos, que
levantaram graves objeções a seus colegas que os precederam, estes novos arqueólogos passaram a ser
denominados de “minimalistas”. Dentre os primeiros pesquisadores identificados como minimalistas, temos:
John van Seters, Donald Redford e Thomas L. Thompson.
“Os minimalistas afirmam que o Israel na Bíblia hebraica nunca existiu, exceto nas mentes dos autores
persas e helênicos, que criaram as narrativas e as histórias da monarquia em sua imaginação. A menos que
exista uma comprovação independente, por ‘fontes extrabíblicas’, os minimalistas rejeitam a utilidade da
Bíblia hebraica como testemunha dos eventos escritos. O texto bíblico é sujeito a um padrão de comprovação
mais elevado do que as fontes ‘extrabíblicas’. Os minimalistas insistem que qualquer afirmação feita por um
texto antigo deve ser comprovada por uma fonte independente.” (MORAES, 2015, p. 262).
Segundo os minimalistas, os manuais de “História de Israel” têm sido, durante muito tempo, uma
paráfrase racionalista do texto bíblico. De fato, grande parte da historiografia sobre essa temática foi conduzida
por religiosos. Dentro e fora da academia a história dos antigos israelitas era vista como a evolução de um
único grupo, ou seja, aceitava-se a sequência: patriarcas, escravidão no Egito, êxodo, conquista da Palestina,
confederação das 12 tribos, monarquia davídico-salomônica, divisão entre reino do norte e do sul, exílio e
volta para a terra.
Acreditava-se que todas essas etapas estavam em conformidade com as evidências arqueológicas e
fontes extrabíblicas, de tal modo, houve um razoável consenso sobre a história de Israel até meados da década
de 70 do século XX (...) Uma mudança significativa só veio a ocorrer, de fato, a partir da década de 1990, com
a criação do Seminário Europeu sobre Metodologia Histórica. O grupo de pesquisadores que possibilitou o
surgimento do referido seminário se uniu em torno das frustrações referentes ao debate sobre o Israel antigo.
A partir de então, tem sido conduzida uma profunda revisão deste tema, de modo que os resultados obtidos
1.1.4 Os Resultados
Assombrosos e incalculáveis por sua profusão, esses dados e descobertas modificaram a maneira de
considerar a Bíblia. Episódios que até agora muitos consideravam simples “histórias piedosas” adquirem de
repente estatura histórica. Por vezes, os resultados da pesquisa coincidem com as narrativas bíblicas nos
mínimos detalhes. Eles não só “confirmam”, mas esclarecem igualmente os acontecimentos históricos que
originaram o Antigo Testamento e os Evangelhos. As experiências e o destino do povo de Israel são assim
apresentados, não só num cenário vivo e variado, como num colorido painel da vida diária, mas também nas
circunstâncias e lutas políticas, culturais e econômicas dos Estados e Impérios da Mesopotâmia e do Nilo, das
quais nunca puderam libertar-se inteiramente, durante mais de dois mil anos, os habitantes de estreita região
intermédia da Palestina.
É importante perceber que os códigos legais do Antigo Testamento não são únicos no mundo antigo.
A maioria das nações do Oriente Médio antigo possuía sistemas jurídicos semelhantes. Vejamos os códigos
legais antigos mais importantes por ordem de antiguidade:
1. Código de Ur-nammu. Assim chamado por causa do primeiro rei da terceira dinastia de Ur
(aproximadamente 2100-2000 a.C.). Trata-se do primeiro código legal conhecido na história
(aproximadamente 2050 a.C.). Foi escrito em sumério, e apenas pequenas porções foram recuperadas. Possui
um prólogo e vinte e nove leis, todas casuístas.
2. Código de Eshnunna. Seu nome não se deve a alguém, mas a um lugar. A cidade ficava localizada
perto da atual Bagdá, e floresceu entre a queda de Ur e a época de Hamurabi. Suas leis, sessenta e uma no
total, são as mais antigas já escritas em babilônico e datam de cerca de 1980 a.C.
Se as grandes histórias da criação e do dilúvio foram histórias reais, como a Bíblia as apresenta, não
deveriam outras culturas antigas terem sabido destas histórias também? Esta suposição foi confirmada quando
um número de textos cuneiformes antigos foram descobertos contendo paralelos mesopotâmios dos relatos
bíblicos.
Tecnicamente falando, esses textos não foram descobertos por arqueólogos no campo, mas por eruditos
estudando. Apesar da arqueologia na Mesopotâmia não ter sido a ciência exata que é hoje, ela desenterrou
centenas de toneladas de esculturas monumentais e milhares e milhares de tabletes cuneiformes. A maioria
veio através dos esforços de sir Austen Henry Layard, que escavou na antiga capital assíria de Nínive, na
década de 1850. No palácio do rei assírio Assurbanipal, ele encontrou milhares de tabletes de argila que haviam
A chamada Epopéia de Atrahasis é um poema épico da Mitologia suméria, sobre a criação e o dilúvio
universal. A sua cópia mais antiga data de 1600 a.C., quando a civilização suméria desaparece ante as invasões
dos Hititas, e acredita-se esteja liga às tradições próprias do templo da cidade-estado de Eridu, vizinha à antiga
foz do rio Eufrates. É um dos mitos de criação mais antigos da região do Médio Oriente, narrando a trajetória
de Atrahasis (o muito inteligente). Atra-Hasis ou Atrahasis é o nome do herói da história, uma espécie de Noé.
As semelhanças superficiais entre a Bíblia e os mitos do antigo Oriente Médio não nos devem cegar para as
profundas diferenças de perspectiva.
A descoberta do mais antigo texto mesopotâmio com paralelos com o Gênesis foi feita no século
passado e chamado Épico de Atrahasis (Atrahasis é o principal personagem da narrativa). Apesar de ter sido
primeiro publicado em 1876 por George Smith, do Museu Britânico, descobriu-se em 1956 que ele tinha
erroneamente ordenado a destruição dos fragmentos do texto, e em 1965 que tinha somente um quinto do
próprio texto! Foi então que o erudito inglês Alan Millard, assistente interino do Departamento de
Antiguidades da Ásia Ocidental no Museu Britânico, pôde restaurar outros três quintos de texto dos fragmentos
armazenados no porão do museu. Enquanto analisava um texto que tinha sido desenterrado mais de um século
antes, ele notou que os escritos pareciam estranhamente como os do livro de Gênesis. Esta história épica estava
preservada num tablete de mais de 1.200 linhas. O tablete em si provavelmente datava do século XVII a.C.,
mas a história que ele recontava remonta a séculos do período babilônico mais antigo. A história, apesar de
apresentada de uma perspectiva teológica dos babilônios, contém muitos detalhes que são semelhantes aos
relatos bíblicos da criação e do dilúvio. No conto babilônico, os deuses governavam os céus e a terra (cf. Gn
1.1). Eles fazem o homem do pó da terra misturado com sangue (cf. Gn 2.7; 3.19; Lv 17.11) para tomar dos
deuses inferiores a responsabilidade de cuidar da terra (cf Gn 2.15). Quando o homem se multiplica sobre a
terra e se torna muito barulhento, um dilúvio é enviado (depois de uma série de pragas) para destruir a
humanidade (cf Gn 2.15). Um homem, Atrahasis, é avisado sobre o dilúvio e recebe ordens para construir um
barco (cf. Gn 6.14). Ele constrói um barco e enche-o de comida, animais e pássaros. Por este meio ele é salvo
enquanto o resto do mundo perece (cf. Gn 6.17-22). Muito do texto é destruído neste ponto, portanto não há
A mais famosa história da criação acádia intitula-se Enuma Elish (“Quando acima ...”), um poema de
quase 1.100 linhas. “Entre 1848-1876, foram encontrados os primeiros tabletes do épico babilônico chamado
Enuma Elish. Escritos em caracteres cuneiformes, os sete cantos do épico foram escritos em sete tabletes e
recuperados da biblioteca do imperador assírio Assurbanipal (669-626 a.C.) em sua capital, Nínive. Essa
versão, embora tardia, retorna, quanto aos aspectos políticos, aos dias de Hamurabi, o Grande, (1792-1750
a.C.) e além dele aos dias dos sumérios, os primeiros habitantes da baixa Babilônia.” (UNGER, 2008, p. 41).
Geoge Smith, que havia traduzido a história mesopotâmica do dilúvio, foi também o primeiro homem
a revelar ao mundo a existência de um relato mesopotâmico da criação conhecido como Enuma Elish. Como
o Épico de Atrahasis, fragmentos deste texto também tinham vindo da biblioteca de Assurbanipal, em Nínive,
mas outros fragmentos foram mais tarde encontrados em Ashur (a velha capital da Assíria) e Uruk. Em meados
de 1920 dois tabletes quase completos foram também achados em Kish. Ao todo, sete tabletes juntos
compunham este conto épico. A parte mais interessante deste conto (para estudantes da Bíblia) é aquele em
que a criação é recontada sob uma perspectiva babilônica e assíria. O estranho nome do texto vem das palavras
assírias que introduzem o texto: Enuma Elish, que significam “quando acima”. Na pequena porção do texto
que menciona a criação, somos avisados que o universo, em suas partes componentes, começou com os deuses
principais (que representam as forças da natureza), e foi completado por Marduque, que veio a ser o cabeça
do panteão (assembleia de deuses) babilônico. É Marduque, não a criação, que permanece como o tema
dominante no épico.
Quando procuramos paralelos com o relato de Gênesis encontramos alguns: o caos aquático é separado
em céu e terra (cf. Gn 1.1-2, 6-10), a luz é preexistente à criação do sol, lua e estrelas (cf Gn 1.3-5,14-18), e o
número sete figura proeminentemente (cf. Gn 2.2-3). Além disso, porém, o contexto mitológico controla o
conteúdo. Os deuses geraram outros deuses aos quais tentam destruir por causa de suas barulhentas festas. A
mãe destes deuses, Tiamat, cria monstros para devorá-los, mas o mais forte deles — Marduque — corta-lhe
ao meio. E de suas duas metades que os céus e a terra são formados. A humanidade é formada do sangue do
líder capturado dos deuses rebeldes (uma espécie de demônio entre os deuses) para trabalharem como escravos
para os preguiçosos deuses inferiores e alimentar o panteão babilónico. Este conto mitológico tem pouco em
comum com os primeiros capítulos de Gênesis, que nos falam sobre Deus criando o homem à sua própria
imagem, dando-lhe o mundo para desfrutar, cuidando dele e buscando amizade com ele. Mesmo assim, a
descoberta de Enuma Elish proveu nosso primeiro conhecimento de que outras culturas do Oriente Próximo
compartilhavam aspectos da cosmogonia bíblica (relato da criação).
Outro achado importante que vem da escavação de Henry Layard foi um velho conto babilônico do
dilúvio chamado Épico de Gilgamés. Ele foi nomeado depois que o principal personagem, o rei Gilgamés, que
deve ter governado a cidade mesopotâmica de Uruk por volta de 2600 a.C., e que nesta história épica está em
busca da imortalidade. Porque nenhuma cópia do texto completo foi encontrada, os eruditos tiveram que
compor o texto baseados nos fragmentos de períodos separados por mais de 1.000 anos (1750-612 a.C.).
Enquanto uma data no século XVIII é conjeturada para a composição original, se o material de Gilgamés for
confirmado nos tabletes Ebla, a data poderia retroceder a um tempo muito anterior. O épico como o temos
hoje está registrado em 12 tabletes. A história do dilúvio, que aparece no tablete 11, parece ter sido tomada
como empréstimo do Épico de Atrahasis (que está incompleto).
Algumas pessoas o declaravam uma prova histórica do dilúvio do Gênesis, enquanto outros ainda
desdenhavam da asseveração de que a Bíblia é singular e autêntica. Em toda a literatura mesopotâmica, o
conto do dilúvio no tablete 11 representa a principal correlação com o texto bíblico. Na história recontada
aqui, Gilgamés é avisado sobre o dilúvio por Utnapishtim, um homem que ganhou imortalidade, e como o
Noé bíblico, também passou a salvo pelas águas do dilúvio. Em seu relato do dilúvio, ele diz que o deus criador
Ea favoreceu-o avisando-o sobre o dilúvio e ordenando-lhe que construísse um barco (cf. Gn 6.2,13-17). Neste
barco ele levou sua família, tesouros e todas as criaturas vivas (cf. Gn 6.18-22; 7.1-16), escapando assim da
tempestade enviada pelos céus que destruiu o restante da humanidade (cf. Gn 7.17-23). De acordo com seus
cálculos, a tempestade acabou no sétimo dia, e a terra seca apareceu no décimo segundo dia (cf Gn 7.24).
Quando o barco veio a repousar sobre o monte Nisir, no Curdistão (ao invés do bíblico monte Ararate, na
Turquia), Utnapishtim enviou uma pomba, uma andorinha e finalmente um corvo (cf. Gn 8.3-11). Quando o
corvo não voltou ele deixou o barco e ofereceu um sacrifício aos deuses (cf. Gn 8.12-22). Apesar de que estes
elementos particulares da história mesopotâmica pareçam excepcionalmente paralelos à história bíblica, uma
Desde a descoberta dos textos mesopotâmicos, questões têm sido levantadas a respeito da origem
destas histórias que são semelhantes àquelas encontradas na Bíblia. Três possíveis respostas têm sido
oferecidas pelos eruditos: 1) Elas foram relatos israelitas originalmente, que foram tomados como empréstimo
e adaptados à religião e cultura mesopotâmicas; 2) Elas foram originalmente histórias mesopotâmicas, que
foram tomadas como empréstimo pelos israelitas para atender aos seus propósitos religiosos; 3) tanto os relatos
mesopotâmicos como os israelitas (bíblicos) vieram de uma fonte antiga em comum.
Concernente à primeira opção, até onde se sabe, os relatos bíblicos não foram escritos até o tempo de
Moisés no século XV a.C. Parece improvável, então, que as histórias mesopotâmicas mais velhas (século XVII
a XVIII a.C.) fossem derivadas do relato israelita. Quanto à segunda opção, é possível que Moisés tenha usado
fontes para compilar seus relatos no Gênesis (veja Gn 14). Mais ainda, é possível que os escritores bíblicos
tenham tido acesso ao Épico de Gilgamés. Isso significa que tenha ocorrido uma dependência literária dos
textos mesopotâmicos para compilar os relatos bíblicos? O uso de fontes extrabíblicas não é conflitante com
a doutrina da inspiração, uma vez que há numerosos exemplos nos quais obras não-canônicas são citadas tanto
no Antigo como no Novo Testamentos (veja Js 10.13; 1 Sm 24.13; 2 Sm 1.18; Lc 4.23; At 17.28; Tt 1.2; Jd
14). Todavia, nem a posse e nem o uso ocasional de textos extrabíblicos pelos escritores bíblicos estabelecem
que tenha ocorrido uma dependência literária deles. Os escritores bíblicos continuamente enfatizam que sua
fonte primária era a revelação divina. Fontes secundárias podem ter sido usadas em algumas ocasiões, mas
não parece que elas foram usadas em referência à criação ou ao dilúvio. As muitas diferenças significativas e
omissões entre os relatos podem tornar improvável que tanto os autores mesopotâmicos como os bíblicos têm
tomado emprestado um do outro.
Mas poderia ter acontecido uma “dependência da tradição?” Isto é, poderiam os relatos bíblicos
simplesmente ser variações de mitos mesopotâmicos? Mais uma vez, é improvável. Uma das razões é que a
orientação bíblica é monoteísta (um só Deus) e seus personagens são eticamente morais. Em contrapartida, a
orientação mesopotâmica é politeísta (muitos deuses) e seus personagens são eticamente volúveis. Este
A fé de Israel está baseada em fato histórico ou em ficção? Abraão é a criação da fé ou o criador da fé?
Não restam dúvidas que o legado espiritual deixado pelo patriarca (pai que governa) Abraão, independe da
sua existência histórica. Para bilhões de fiéis no mundo todo, basta o exemplo de fé e obediência do patriarca.
As três grandes religiões monoteístas, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, reivindicam todas, às vezes
com certa rivalidade, a mesma origem em Abraão. Chamam-no de Pai.
O período patriarcal corresponde, aproximadamente, à Média Idade do Bronze (1950-1550 a.C.), época
que foi marcada pelo movimento de vários grupos de povos nômades no Oriente Médio, e que foi caracterizada
pelos padrões culturais e sociais retratados nas narrativas patriarcais. Explorações arqueológicas realizadas
nas décadas de 1940 a 1960 mostraram de forma considerável, e lançaram luzes as histórias patriarcais
relatadas em Gênesis 12-50. Três estudiosos do antigo Oriente Próximo contribuíram formidavelmente para
as pesquisas da historicidade dos patriarcas, são eles: William Foxwell Albright (1891-1971), Cyrus Herzl
Gordon (1908-2001) e Ephraim Avigdor Speiser (1902-1965). O egiptólogo britânico Kenneth A. Kitchen
também chamou atenção para outras numerosas comparações sociais que são bastante convincentes na
averiguação do mundo e das circunstâncias dos patriarcas tais como elas são descritas em Gênesis 12-50.
3. Sodoma e Gomorra
“Então o Senhor, da sua parte, fez chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. E Abraão
levantou-se de madrugada, e foi ao lugar onde estivera em pé diante do Senhor; e, contemplando Sodoma e
Gomorra e toda a terra da planície, viu que subia da terra fumaça como a de uma fornalha”. (Gn 19.24, 28).
Para muitos pesquisadores da Bíblia e arqueólogos, a história de Sodoma e Gomorra não aconteceu
como descrito na Bíblia. Os mais críticos eruditos da Bíblia, chamaram-na de “história puramente mítica”.
Para a maioria dos eruditos críticos ela é uma “extraordinária história-origem” criada por contadores de história
israelitas mais tarde para comunicar assuntos teológicos e sociais, não para preservar a memória dos lugares e
acontecimentos históricos. Outros eruditos dizem que existe uma fração de historicidade dentro de um grande
conteúdo de tradição literária posterior. Não é totalmente ficção, mas um “fragmento de memória local,”
tomada por israelitas e ampliada pela imaginação.
Os geólogos tiraram dessas descobertas e observações outra interpretação, que poderia explicar a causa
e fundamento da narrativa bíblica da aniquilação de Sodoma e Gomorra.
A expedição americana dirigida por Lynch foi a primeira que, em 1848, deu a notícia da grande descida
do Jordão em seu breve curso pela Palestina. O fato de, em sua queda, o leito do rio descer muito abaixo do
nível do mar é, como só pesquisas posteriores comprovaram, um fenômeno geológico singular. “É possível
que haja em algum outro planeta coisa semelhante ao que ocorre no vale do Jordão; no nosso não existe”,
escreve o geólogo George Adam Smith em sua obra “A Geografia Histórica da Terra Santa”. “Nenhuma outra
parte não submersa da nossa Terra fica mais de 100m abaixo do nível do mar”.
Será que Sodoma e Gomorra afundaram quando (acompanhado por terremotos e erupções vulcânicas)
um pedaço do chão do vale ruiu um pouco mais? E o Mar Morto se alongou naquela época em direção ao sul?
A ruptura da terra liberou as forças vulcânicas contidas há muito tempo nas profundezas da abertura.
Na parte superior do vale do Jordão, junto a Basan, erguem-se ainda hoje as crateras de vulcões extintos e
Os escritores bíblicos, acreditavam que a narrativa era história genuína. Eles citaram-na como
referência de valor histórico, pois que valor histórico uma fábula teria para convencer uma audiência da certeza
do julgamento de Deus? A menção da destruição de Sodoma e Gomorra por tantos autores bíblicos para
diferentes audiências testifica do reconhecimento universal do evento no antigo Oriente Próximo (Dt 29.23;
32.32; Is 1.9,10; 3-9; 13.19; Jr 23.14; 49.18; 50.40; Lm 4.6; Ez 16.46-49; 53-56; Am 4.11; Sf 2.9; Mt 10.15;
11.23-24; Lc 10.12; 17.29; 2 Pe 2.6; Jd 7; Ap 11.8). Além disso, antigos historiadores não bíblicos também
escreveram sobre Sodoma e Gomorra de uma maneira realista.
Flávio Josefo, historiador do século I, escreveu extensivamente sobre Sodoma e Gomorra, como o fez
Filon. A literatura judaica extrabíblica também contém referências frequentes a cidades, como os Rolos do
Mar Morto, 3 Macabeus 2.5; Sabedoria de Siraque 16.7; Apocalipse de Esdras 2.19; 7.12; Testamento de Levi
4.6; Testamento de Nafitali, 3.4; 4.1; Testamento de Aser. 7.1; Testamento de Benjamim 9.1; Targum Pseudo-
Jonatas de Gênesis 18.20,21; etc. Alguns até afirmaram que evidências de sua destruição podiam ser vistas em
seus dias.
4. O Êxodo
“De acordo com o analista de imagens de satélite George Stephen, a rota do êxodo ainda pode ser
vista hoje através do uso de tecnologia infra-vermelha. Os satélites que empregam esta tecnologia para
propósitos como levantamentos para inteligência e exploração mineral, podem também isolar trilhas nas
areias do deserto mesmo que elas tenham milhares de anos. Eles fazem isso captando padrões de calor
deixados na terra. Tais satélites têm capacitado os arqueólogos a recuperarem informações sobre rotas de
caravanas antigas, descobrir vestígios de leitos fluviais secos ou soterrados há muito tempo, e encontrar
cidades perdidas debaixo das areias. Stephens estudou as imagens captadas pelo satélite francês SPOT do
Egito, do Golfo de Suez, do Golfo de Ácaba, e porções da Arábia Saudita a uma altura de 161 metros. Ele
alega que pôde ver evidência de trilhas antigas feitas por “um grande número de pessoas” saindo do Delta
do Nilo e seguindo direto ao sul ao longo da costa do Golfo do Suez e ao redor da extremidade da península
do Sinai. Além disso, ele diz que observou vestígios de “acampamentos muito grandes” ao longo da trilha.”
(PRICE, 2006, p. 108).
Claro que não é possível determinar se estas trilhas foram feitas pelos israelitas mesmo ou por outros
peregrinos através dos milênios. Mas isso demonstra que grande número de pessoas podia se sustentar na
mesma região e na mesma rota tomada pelos israelitas do êxodo.
O que descobrimos é que Faraó era considerado como a encarnação do deus sol Rá e Horus-Osíris, os
deuses mais importantes do Egito. Assim, ele era visto como o principal deus do mundo.
Descobertas egípcias nos proporcionam uma fascinante explicação sobre como Deus pode ter decidido
“endurecer” o coração de Faraó. Na teologia do antigo culto egípcio à morte, conforme descrito no egípcio
“Livro dos Mortos,” depois da morte, o falecido embalsamado e colocado na tumba tinha que enfrentar um
julgamento na Sala do Julgamento para determinar sua culpa ou inocência.
Se julgado culpado seu destino era a destruição; se inocente, então a vida eterna com suas recompensas.
Para passar por este julgamento, o morto tinha que negar uma longa lista de pecados que era lida contra ele e
com êxito declarar que era puro. Este ato era chamado de “Confissão Negativa,” e enquanto estava sendo
conduzido, o coração do falecido estava sendo pesado em escalas de julgamento contra o padrão da verdade.
Este julgamento é vividamente representado num mural pintado conhecido como “a pesagem do coração.”
Uma vez que todos os homens pecam e que a inclinação do coração é confessar este pecado, os engenhosos
egípcios desenvolveram um meio de evitar que o coração contradissesse a Confissão Negativa. Eles fizeram
isso escrevendo encantamentos sobre uma imagem de pedra de seus escaravelhos sagrados que eram
entalhados na forma de um coração. Este coração em forma de escaravelho de pedra era então colocado dentro
ou em cima da cavidade do peito durante a mumificação (um fato revelado por raios-X de múmias egípcias).
Vários encantamentos que ordenavam ao coração: “não se rebele contra mim” ou “não testemunhe contra
mim” transferiam o caráter do coração de pedra para o coração de carne no pós-túmulo, tornando-o “duro” e
incapaz de falar. Este ritual de “endurecimento do coração” revertia a função natural do coração flexível e
resultava na salvação, desde que o falecido fosse agora declarado sem pecado através do silêncio.
Quando Deus “endureceu” o coração de Faraó, que como um deus em si mesmo representava a
salvação do Egito, Ele reverteu a esperança teológica de todos os egípcios. Este endurecimento resultou na
incapacidade de Faraó naturalmente responder às assustadoras pragas, rendendo-se à solicitação de Moisés.
Portanto, ao invés de o “endurecimento do coração” trazer salvação, ele trouxe destruição. Assim, a
arqueologia proveu nova perspectiva de um conceito teológico difícil dando-nos o cenário apropriado e o
esquema das crenças egípcias que, através de Moisés, Deus queria confrontar. Além disso, ao revelar a
precisão dos detalhes no relato bíblico, ela indica sua historicidade.
Tendo em vista a quantidade de judeus que saíram do Egito, que gira em torno de dois milhões
conforme Números 1.45-46, alguns críticos alegam que não seria possível essa quantidade de pessoas
passarem pelo mar vermelho (yam suph - mar de juncos) em tão pouco tempo.
A localização dos lugares bíblicos é um dos temas mais enfadonhos da arqueologia bíblica. Os
arqueólogos precisam levar em conta tantas minúcias que deixariam qualquer leigo desnorteado com as
referências aos locais pouco conhecidos da Terra Santa, todos com modernos nomes árabes. Identificar com
precisão a localização as principais cidades de Canaã permanece um desafio.
A terra de Canaã, que o Senhor havia prometido a Abraão (Gn 17.8), é reconhecida como unidade
geográfica nos textos de Nuzi (séc. XV a.C.), NAS Cartas de Amarna do Egito (séc. XIV a.C.) e em outras
antigas fontes do Oriente Médio. A cultura e a religião cananeias estão refletidas na literatura de Ugarite
(Biblos), na Síria, datada da Idade do Bronze Tardio (séc. XVI-XII a.C.)
5.1 A cidade de Ai
Ai foi a segunda cidade conquistada na entrada da Terra Prometida. A localização de Ai ainda está em
debate e, enquanto não for definida, a data de sua destruição continuará sendo um ponto questionável. “David
Livingston e outros estudiosos, faz opção pela cidade atual de el-Bireh como o sítio de Betel e localiza a
cidade de Ai num pequeno tel localizado nas imediações.” (MERRILL, 2002, p. 110). Por causa de um
influente artigo escrito por W.F. Albright (o “pai” da arqueologia bíblica), em 1924, quase todos os estudiosos
localizam Ai com um local conhecido por et-Tel (monte de pedras), a menos de quatro quilômetros a leste de
Betel (Beitin), mas, esta visão não mais desfruta de consenso. Essa identificação, porém, apresenta um
problema, já que et-Tell não era ocupada no tempo de Josué. No entanto, ela foi habitada na Idade do Bronze
Antigo (o início do período patriarcal), e essa localização provavelmente é, o local original de Ai (Gn 12.8).
A Bíblia declara que a cidade capturada por Josué era pequena (Js 7.3; 10.2), por isso é possível que tenha
havido uma fortaleza próxima da moderna et-Tell chamada Ai no tempo de Josué.
Harrisson, descreve os pormenores da localização de Ai nas proximidades de Betel, vejamos:
“O local onde fica Ai, situado há aproximadamente dois quilômetros e meio a oeste de Betel, foi
escavado em 1933 por Madame Marquet-Krause, quando foram descobertas as ruínas de uma cidade da
época do início da Idade do Bronze. As ruínas dos templos, palácios e dos muros da cidade indicavam que a
cidade havia sido completamente destruída por volta de 2200 a.C. e que não havia sido ocupada novamente
por mais mil e cem anos, quando uma cidade muito menor se estabeleceu ali. Dessa forma, a descrição do
ataque e da conquista de uma cidade cuja população chegava a doze mil pessoas (Js 8.25) se refere,
provavelmente, à destruição da cidade de Ai (Js 8.19,20).” (HARRISON, 2010, p. 169-170).
Em 1838, o erudito inglês Edward Robinson foi informado de uma tradição da Terra Santa que situava
Ai na moderna Khirbet el-Maqatir, informação que também chegou, em 1899, ao estudioso alemão Sellin.
Desde 1995, Bryant Wood tem conduzido escavações em Khirbet el-Maqatir, concluindo que, de fato, havia
Hazor, provavelmente, foi a maior das cidades do norte e de toda Canaã e dominava as regiões altas da
Galileia. Era tradicionalmente reconhecida por sua liderança na região (Js 11.10).
Depois que os exércitos da coalizão norte-cananéia foram derrotados Josué capturou Hazor e a queimou
(Js 11). Foram descobertas, em muitos lugares do sítio, evidências da destruição pelo fogo na época da
conquista (final do século XV a.C.). Três templos do mesmo período foram escavados. Todos os três templos
foram destruídos violentamente, em cumprimento a ordem de Deus (Êx 34.13).
Logo após sua destruição, porém, a cidade como um todo foi restaurada. O governador de Hazor foi o
único líder a quem as cartas de Amarna (a correspondência dos governantes cananeus ao faraó do Egito em
meados do século XIV a.C.) se referem como rei. Esse reconhecimento especial demonstra a importância de
Hazor, em comparação com outras cidades-Estado cananéias e comprova a veracidade da frase bíblica “a
capital de todos esses reinos” (Js 11.10). A Hazor cananéia encontrou seu fim quando Débora e Baraque
destruíram a cidade, no final do século XIII a.C.
Em 1954, uma expedição da Universidade Hebraica de Jerusalém, dirigida pelo Doutor Yadin,
começou a fazer escavações nesse local.
“Quanto a Hazor, Ygael Yadin, escavador e principal autoridade no local, sugeriu a princípio que ela
sofrera um terrível incêndio por volta de 1400 – uma calamidade por ele associada à conquista -; porém,
mais tarde, ele modificou a data para o século XIII. Sem considerar o que o levou a reavaliar sua teoria,
muitos estudiosos ainda estão convencidos de que sua data original deve ser aceita.” (MERRILL, 2002, p.
67).
John Bimson, em uma meticulosa análise dos dados arqueológicos oriundos de Hazor e das redondezas,
concluiu que o ajuste feito por Yadin não apenas foi desnecessário como também completamente injustificado.
A data inicialmente proposta por Yadin (1400) está de fato correta. Logo, o único local que pode ser utilizado
nesta discussão – Hazor – apoia inegavelmente uma data mais antiga para a conquista.
Porque Jericó é o mais famoso dos sítios da conquista, ela tem sido o assunto mais freqüente na
investigação arqueológica. A cidade de Jericó tem sofrido tanto a degeneração causada pelo tempo e as
escavações feitas sem a direção científica apropriada, que os especialistas estão completamente divididos em
relação à cronologia, um fato que levam muitos a desconsiderarem o local como importante para a pesquisa
em geral.
A Jericó do Antigo Testamento sofreu quatro escavações: por Charles Warren (1867-1868); Ernst
Sellin e Carl Watzinger (1907-1909); John Garstang (1930-1936; Kathleen Kenyon (1952-1958).
Infelizmente, as primeiras três usaram métodos que os arqueólogos modernos consideram primitivos e falíveis,
e o sítio sofreu erosão.
“A conquista israelita de Canaã pode ter começado com a destruição de Jericó cerca de 1405 (depois
dos quarenta anos no deserto). Esta data tem sido confirmada pelas escavações de John Garstang no sítio de
Jericó, Tell es-Sultan, entre 1930 e 1936. Por razões arqueológicas, datou a cidade do nível da Idade de
Bronze (“Cidade D”) em cerca de 1400. (ARCHER, 2003, p. 139-140). Sendo assim, Garstand sustentou a
data de aproximadamente 1400 a.C., para a conquista, e uma mais antiga correspondente para o êxodo.
“Contudo, mais recentemente Kathleen Kenyon, respeitada arqueóloga britânica concluiu, que Garstand
havia interpretado as evidências erroneamente, e que os escaravelhos de Amenotepe pertenciam a um
depósito posterior. Seu nível D, então, tinha de ser remarcado próximo a 1300.” (MERRILL, 2002, p. 109).
No coração da Samaria, há um vale extenso e plano, acima do qual se erguem os altos cumes do
Gerizim e do Ebal. Siquém está situada na região montanhosa de Efraim.
Sabe-se que a mais antiga ocupação de Siquém ocorreu durante o Período Calcolítico (cerca de 4000-
3500 a.C.). Alguns níveis de não ocupação, datando do III milênio a.C. são visíveis no sítio, embora uma
cidade considerável tenha sido erguida ali durante a Idade do Bronze Médio (cerca de 1900-1550 a.C.). Essa
cidade sofreu uma aniquilação desastrosa no final desse período, e grande parte do entulho provocado por essa
destruição foi encontrado. Siquém foi reconstruída durante a Idade do Bronze Tardio (cerca de 1550-1200
a.C.)
Foi obra do arqueólogo alemão Professor Ernst Sellin. Em escavações que duraram dois anos, 1913 e
1914, vieram à luz do dia camadas da mais alta antiguidade.
Sellin encontrou restos de muros do séc. XIX a.C. Pouco a pouco foi tomando forma um gigantesco
muro circundante com sólidos alicerces, tudo toscamente talhado em blocos de rocha. Alguns desses blocos
mediam até dois metros de espessura. Os arqueólogos designam esse tipo de construção com o nome de “muros
ciclópicos”. O muro era reforçado por um talude (rampa). Os construtores de Siquém não só tinham guarnecido
a muralha de dois metros de largura com pequenas torres, mas haviam-lhe sobreposta ainda uma muralha de
terra.
Foram também surgindo dos escombros as ruínas de um palácio. O acanhado pátio quadrangular,
rodeado por uns poucos compartimentos de grossas paredes, mal poderia merecer o nome de palácio. Como
Siquém, eram todas as cidades de Canaã cujos nomes temos ouvido tantas vezes e diante das quais os israelitas
sentiram tanto medo no princípio. Salvo poucas exceções, conhecemos todas as construções notáveis daquele
tempo. A maioria só foi revelada pelas escavações nas últimas décadas. Durante milênios, ficaram enterradas
As evidências arqueológicas sobre a conquista de Canaã e as cidades de Canaã ainda são muito
limitadas e controversas. O que elas demonstram é que dos 17 sítios listados no relato da conquista no livro
de Josué, 12 tiveram algum tipo de colonização na Idade do Bronze Recente. Destes, somente dois tiveram
evidência de uma destruição durante o Bronze Recente I e cinco durante o Bronze Recente II - Ferro I. Mesmo
que a identidade de muitos destes sítios ainda seja disputada, aceitando-os para fins de estatística, eles revelam
que a arqueologia não provê muita informação sobre estas cidades da conquista. Mesmo o livro de Josué provê
muito pouca informação. Além das declarações que nos dizem que estas cidades foram “tomadas”, o texto dá
6. A monarquia e a Arqueologia
Com tanta ênfase em Saul, Davi e Salomão nas Escrituras, para muitos causa surpresa saber que até há
pouco tempo todos os livros que lidam com a história Bíblica tinham de admitir que nenhum rastro de Davi
jamais aparecera nos registros arqueológicos.
Esta falta de evidência leva muitos estudiosos críticos a duvidarem que um Davi histórico alguma vez
tenha existido. Revisionistas históricos (ou minimalistas) argumentaram que o “mito Davi” tinha sido invenção
literária tirada de várias tradições heroicas para explicar a formação da monarquia de Israel. Em certo
desenvolvimento deste mito, de acordo com os críticos, uma escola sacerdotal circunjacente ao Templo tinha
procurado base teológica para o próprio conceito de governo divino. Tratava-se do conceito de um rei ideal
(Davi) comparado com um rei imperfeito (Saul). De acordo com os críticos, Saul, é claro, não existiu, mas
serviu junto com Davi como modelos teológicos contrastantes da escolha do homem (Saul) versus a escolha
de Deus (Davi).
Uma importante razão para a falta de evidência pode ser que muito pouco tenha sido escavado nas
áreas relacionadas aos reinados desses monarcas. Israel é um tel gigantesco, e em lugares como Hebrom e
Jerusalém, onde se esperaria que fosse encontrada a maioria das evidências deste período, antagônicas
reivindicações religiosas e desassossego político tornam virtualmente impossível para os arqueólogos o acesso
a alguns dos sítios mais promissores.
Em termos de arquitetura, construções mais recentes encobriram estruturas mais antigas e pouco
deixaram do original para ser achado. Por exemplo, no nível mais baixo das escavações no muro meridional
do monte do Templo, os arqueólogos só descobriram uma pequena seção de uma construção cuja data remonta
aos tempos de Salomão. Em geral, milhares de anos de ocupações mais recentes encobrem quase todos os
sítios.
Entretanto, os críticos foram forçados a reconsiderar suas opiniões com base em novas evidências
descobertas em 1993. O desafio para estes revisionistas surgiu através da inscrição num monumento (estela)
de quase 3.000 anos, escrito em basalto preto por um dos inimigos estrangeiros de Israel. Descoberto no sítio
de Tel Dã, norte de Israel, esta inscrição surpreendente traz as palavras “Casa de Davi”. O arqueólogo que fez
Ecrom era a mais antiga das cidades filistéias, construída no tempo dos juizes e totalmente destruída—
muito provavelmente durante as guerras de Davi — ao redor de 1000 a.C. Isto fez de Ecrom um importante
sítio arqueológico para aumentar nosso conhecimento dos filisteus. Entre 1983 e 1997, a arqueóloga israelita,
Trude Dothan, e o arqueólogo americano, Seymour Gittin, trabalharam para pôr a descoberto a história
enterrada de Tel Miqne, a qual eles estavam certos de que se tratava da Ecrom dos tempos bíblicos.
O que os pesquisadores acharam foi uma inscrição de pedra que finalmente confirmou que eles estavam
cavando na cidade bíblica de Ecrom. Extraordinariamente, a pedra não apenas identificou o nome da cidade,
mas também os nomes de dois dos seus reis. Nunca antes em Israel havia sido achado uma inscrição dessa
qualidade num contexto historicamente identificável.
O teor da inscrição, que está completa, é composto de 5 linhas com 71 letras. Esta pedra marcou a
dedicação de um santuário num enorme complexo do templo. O rei na época, provavelmente por volta de 690
a.C., era Aquis, filho de Padi, como nos informa a inscrição. Ele era o rei de Ecrom e construiu este santuário
para a sua deusa.
O nome técnico de tais selos é “bulas”. Recentemente foi revelado que existe outra bula com o nome
de Baruque numa coleção particular em Londres. Este selo, porém, tem uma diferença incrível. Preservado no
barro endurecido está a impressão de um dedo. Considerando que esta bula pertencia a Baruque, ele é a pessoa
que a teria tocado por último quando selou o rolo de papiro. Por isso é provável que esta seja a impressão
digital real do próprio Baruque! Quem sabe o que estaria escrito no rolo selado por esta bula? Poderia ter sido
uma cópia do auto de compra selado mencionado em Jeremias 32.14, ou talvez até uma cópia das profecias de
Jere-mias? O que quer que fosse, com esta impressão digital hoje temos uma imagem da própria mão que
ajudou a escrever um livro da Bíblia!
O termo “Manuscritos do Mar Morto” é usado atualmente em dois sentidos, um genérico e outro
específico. No sentido genérico, “Manuscritos do Mar Morto” refere-se a textos, encontrados não no Mar
Morto, mas descobertos em grutas ao longo da margem noroeste desse mar entre os anos de 1947 e 1956.
Esses “manuscritos” às vezes são completos, mas a grande maioria deles é fragmentos de textos ou de
documentos de diversos tipos que datam mais ou menos do final do séc. III a.C. aos séculos VII-VIII d.C.
Nem todos são relacionados entre si, mas foram encontrados em grutas ou cavidades em sete diferentes locais
na margem noroeste do Mar Morto. Nesse sentido genérico, o termo inclui até mesmo alguns textos
descobertos no final do século passado num genizah (esconderijo usado para abrigar pergaminhos e livros
judaicos velhos ou gastos) da Sinagoga de Esdras na parte antiga do Cairo. Os sítios ao longo do Mar Morto
Qumran é o nome árabe moderno usado para o Khirbet Qumran e o Wadi Qumran. O árabe khirbet
significa “ruína de pedras” e wadi, também árabe, “leito de rio seco”; o último é equivalente do hebraico nahal.
Perto do Wadi Qumran e mais para o Norte, no topo de um platô calcário na base de penhascos que se situam
a pouco mais de 1km da margem do Mar Morto, fica o Khirbet Qumran. O platô é limitado ao sul pelo Wadi
e a Oeste e Norte por desfiladeiros. O Khirbet Qumran era um sítio conhecido dos exploradores e considerado,
desde o final do séc. XIX, como as ruínas de uma fortaleza romana. Nunca havia sido escavado.
Quando a Gruta 1 foi descoberta em 1947 numa fenda acima dos penhascos, pouco mais de 1km ao
Norte do Khirbet Qumran, acabou-se suspeitando que o Khirbet Qumran, que fica ao sul, devia ter relações
com ela. Assim, ele foi escavado sob o comando de Roland de Vaux, OP, diretor da École Biblique et
Archéologique Française, de Jerusalém, entre 1951 e 1956. As escavações do Khirbet Qumran revelaram três
coisas importantes: a) vestígios de um aqueduto, que trazia água do Wadi Qumran para o centro comunitário;
b) um centro comunitário na parte ocidental do platô, um complexo com uma torre e vários cômodos usados
para fins comunitários e como oficinas; e c) um cemitério, que ocupava a metade oriental do platô e era
separado do centro comunitário por uma longa muralha. Relacionadas com o Khirbet Qumran estavam as 25
grutas, que parecem ter sido onde os membros da comunidade viviam. Também relacionadas a ele havia duas
áreas agrícolas, uma a cerca de 1,25km ao sul do Khirbet Qumran, perto de ‘Ain Feshkha (uma fonte de água
salobra), e outra acima dos penhascos em Buqei’a. Das grutas numeradas, nas quais se encontrou material
Não se sabe com certeza como os manuscritos chegaram às grutas de Qumran. Na Gruta 1 os
manuscritos estavam enrolados em tecido e guardados em jarros. Não havia provas de que a gruta fosse
habitada. Daí se conclui que servia como local de armazenamento; o mesmo parecer vale para a Gruta 3. Nas
Grutas 2 e 5 a 11, no entanto, foram encontrados artefatos, indício de habitação. Por isso os manuscritos
descobertos nessas grutas podem ter sido os remanescentes da biblioteca particular das pessoas que viveram
ali. Quanto à Gruta 4, na extremidade sul do platô, da qual não veio nenhum manuscrito completo, “pelo
menos 15.000 fragmentos” foram coletados dos escombros que se acumularam ali em mais de um metro de
altura durante os séculos. Nesse caso, os manuscritos não tinham sido envolvidos em tecido nem guardados
em jarros, e tinha-se a impressão de um lugar onde os membros da seita simplesmente descarregaram os
manuscritos de sua biblioteca comunitária na época (68 d.C.), em que o centro estava preste a ser destruído
pelos romanos a caminho do assédio a Jerusalém. Parece que foram jogados ali às pressas, talvez na esperança
de que mais cedo ou mais tarde fossem encontrados intactos por membros que algum dia retornassem. Ali
ficaram até 1952.
7.3.1 A descoberta
Diz-se que os manuscritos da hoje chamada Gruta 1 foram descobertos por um menino, pastor beduíno,
que conduzia seu rebanho de ovelhas e cabras para dar-lhes de beber na fonte ‘Ain Feshkha. Os pormenores
da descoberta ficam no campo dos boatos, mas parece que quando um dos animais se perdeu, o menino saiu à
sua procura e, vendo uma abertura no penhasco a pouco mais de 1km ao Norte do Khirbet Qumran, lançou
uma pedra contra ela. Ouvindo-a produzir um som estranho, decidiu investigar. No dia seguinte, voltou com
um companheiro, escalou a parede e entrou na gruta, onde descobriu grandes jarros de terracota com tampa,
nos quais estavam armazenados rolos de manuscritos envoltos em tecido. Posteriormente, se revelou que 7
grandes manuscritos foram encontrados nessa gruta. Em seguida, arqueólogos visitaram a gruta e encontraram
cerca de 70 textos fragmentados, alguns dos quais relacionados com os 7 manuscritos maiores; asseguraram
dessa forma que os 7 rolos vieram de fato daquela gruta.
Os beduínos Ta’amireh estavam agora alertas para a possibilidade de descobrir outros documentos em
grutas. Membros dessa tribo beduína descobriram a Gruta 2 em 1952. Arqueólogos do Museu Arqueológico
da Palestina, da Escola Bíblica e da Escola Americana de Pesquisa Oriental, que exploraram os penhascos,
descobriram a Gruta 3. Os beduínos, novamente, descobriram a Gruta 4, tendo sido levados a ela em virtude
da história contada por um ancião beduíno, que vira uma perdiz ferida voar para dentro de uma fenda na
Os sete grandes manuscritos da Gruta 1 foram descobertos no início de 1947, antes da guerra árabe-
israelense de 1948/9. Só depois da guerra, em 1949, a gruta foi identificada pelo capitão Philippe Lippens –
membro belga da ONU para supervisão do armistício – e por um oficial britânico da Legião Árabe Jordaniana,
sendo visitada e escavada em seguida por arqueólogos do Departamento de Antiguidades da Jordânia, da
Escola Bíblica e do Museu Arqueológico da Palestina. Durante essa escavação, 72 fragmentos foram
recuperados. A Gruta 2 foi descoberta por beduínos em fevereiro de 1952. Durante a exploração dos penhascos
pela equipe dos arqueólogos, em março de 1952, a Gruta 3 foi descoberta. As Grutas 4 e 6 foram descobertas
pelos beduínos em setembro de 1952. As Grutas 5 e 7-10 foram encontradas pelos escavadores do Khirbet
Qumran em fevereiro e março de 1955. A Gruta 11, que passou despercebida da equipe de exploração em
1952, foi encontrada pelos beduínos em 1956.
Os sete grandes manuscritos da Gruta 1 estão guardados hoje no Santuário do Livro, parte do Museu
de Israel, em Jerusalém. A Placa de Cobre da Gruta 3 e alguns fragmentos da Gruta 1, estão no Museu do
Departamento de Antiguidades, Amã, Jordânia. Alguns dos textos fragmentários da Gruta 1 estão no Museu
Arqueológico da Palestina de Jerusalém oriental, agora chamado Museu Rockefeller, e os que ficaram em
posse da Escola Bíblica foram adquiridos pela Biblioteca Nacional de Paris. Os milhares de fragmentos da
Gruta 4 ainda estão no scrollery, nome dado ao acervo de documentos do Museu Arqueológico da Palestina,
onde também se encontram os textos da Gruta 11.
Os sete grandes manuscritos da Gruta 1 são propriedade do Estado de Israel. Excluídos esses
manuscritos, é difícil dizer a quem pertence o restante. De acordo com uma “lista de distribuição”, alguns dos
72 fragmentos da Gruta 1 foram enviados para o Departamento de Antiguidades da Jordânia, em Amã, alguns
para o Museu Arqueológico da Palestina, em Jerusalém oriental, e alguns para a Escola Bíblica. Uma nota de
rodapé diz que todos os fragmentos desta última instituição foram posteriormente adquiridos pela Biblioteca
Nacional de Paris.
Dado que o material das Grutas 2-11 foi encontrado na Cisjordânia entre 1952-1956, a Jordânia
reivindicou-o para si. Em maio de 1961, o governo nacionalizou os fragmentos de Jerusalém oriental e proibiu
sua exibição em qualquer outro país, exceto na Jordânia.
O assunto, porém, é complicado. Quando os milhares de fragmentos da Gruta 4 foram trazidos para o
acervo do Museu Arqueológico da Palestina, muitos deles tiveram de ser comprados dos beduínos, que
primeiramente haviam descoberto a gruta e começado a limpá-la. Foi feito assim um esforço por parte do
Departamento de Antiguidades da Jordânia para comprar todos os fragmentos dos beduínos porque se
Quando descobriu a Gruta 1 em 1947, Muhammad edh-Dhib levou os sete manuscritos a um sapateiro
sírio de Belém, Khalil Iskander Shahin, que também vendia antiguidades. Em companhia de outro cristão sírio,
George Isaiah, Muhammad levou quatro dos manuscritos a seu Metropolita (arcebispo), Mar Athanasius
Yeshue Samuel, abade do Mosteiro de São Marcos em Jerusalém e chefe dos cristãos jacobitas sírios locais.
O Metropolita comprou os quatro pergaminhos (ao que parece, por 24 libras). Assim, o manuscrito Isaías A,
o Manual de Disciplina, o Pesher sobre Habacuque e o Apócrifo de Gênesis passaram a pertencer ao
Metropolita. Os outros três manuscritos, Isaías B, o Manuscrito da Guerra e os Salmos de Ação de Graças,
foram vendidos ao Professor Eleazar Lipa Sukenik, da Universidade Hebraica de Jerusalém Ocidental. Pouco
antes da primeira guerra árabe-israelense, em fevereiro de 1948, o Metropolita levou seus quatro manuscritos
para o que então se chamava Escola Americana de Pesquisa Oriental (hoje o Instituto W. F. Albright de
Pesquisa Arqueológica) em Jerusalém oriental, onde três deles foram fotografados por John C. Trevor. O
quarto, o Apócrifo de Gênesis, não pode ser aberto por estar muito grudado. Quando irrompeu a guerra, o
Metropolita levou os quatro manuscritos para Homs, na Síria, e em seguida para Beirute. Em janeiro de 1949,
levou-os para os Estados Unidos, onde ficaram depositados na caixa-forte de um banco de Nova York por
vários anos. O Apócrifo de Gênesis ainda não havia sido aberto.
Em primeiro de junho de 1954, publicou-se um anúncio no Wall Street Journal: “Os quatro Manuscritos
Bíblicos do Mar Morto, que remontam pelo menos a 200 AC, estão à venda. Seria uma doação ideal para um
indivíduo ou grupo fazer a uma instituição educacional ou religiosa. Box F 206”. Yigael Yadin, filho do
Professor Sukenik, ex-oficial do exército israelense durante a guerra árabe-israelense e posteriormente vice-
primeiro-ministro de Israel, estava nos Estados Unidos naquele momento e tomou conhecimento do anúncio.
Todos os sete grandes manuscritos da Gruta 1 foram publicados por estudiosos norte-americanos ou
israelenses. Os 72 textos fragmentários também foram publicados por eruditos franceses ou poloneses. Um
texto da Gruta 1, o Apócrifo de Gênesis, foi recentemente submetido a novas técnicas fotográficas, e algumas
colunas mal preservadas do texto tiveram agora melhor leitura; essas colunas ainda não foram publicadas. O
número total de textos da Gruta 1 é 79.
Todos os textos das Grutas 2-3, 5-10 foram publicados. Da Gruta 2, há 33 textos fragmentários, e da
Gruta 3, 15 textos. Da Gruta 5, 25 textos fragmentários foram publicados; da Gruta 6, 31 textos; da Gruta 9, 1
fragmento de papiro; e da Gruta 10, um óstraco com duas letras hebraicas nele. No total, foram publicados
130 textos fragmentários dessas grutas menores.
A maioria dos textos da Gruta 11 foi publicado por eruditos norte-americanos, holandeses ou
israelenses em publicações independentes. Ao todo, eles aparentemente perfazem cerca de 25 textos; uns
poucos fragmentos menores ainda aguardam publicação.
O problema tem sido o atraso escandaloso na publicação de tantos textos fragmentários da Gruta 4.
Apenas 98 textos foram publicados, e em acréscimos a eles, cerca de 20 outros textos (bíblicos e não-bíblicos),
foram publicados em forma preliminar por estudantes de pós-graduação da Universidade de Harvard. Alguns
dos editores, a quem os textos foram confiados, publicaram vez por outra parte de outros textos diferentes.
Esses textos fragmentários variam em tamanho, de um fragmento a diversos fragmentos reunidos, ou a vários
identificados como pertencendo ao mesmo texto.
Segundo o último relatório (1991), o trabalho sobre o quebra-cabeça já produziu 584 textos
fragmentários da Gruta 4. Isso significa que cerca de 80% dos textos fragmentários da Gruta 4 ainda aguardam
publicação.
De todas as 11 grutas, dos 818 textos de Qumran conhecidos, cerca de 350 deles foram definitivamente
publicados, ou seja, cerca de 40%.
7.4.3 As Datas
Embora tenham sido usados dados arqueológicos como cerâmica e moedas encontradas às vezes nas
grutas junto com os fragmentos, a datação se faz principalmente por paleografia, isto é, pelo estudo
comparativo de formas antigas de escrita.
Especialistas como W. F. Albright, N. Avigad, S. A. Bimbaum, F. M. Cross, R. S. Hanson e J. T. Milik,
fizeram a maior parte desse trabalho paleográfico. Inicialmente, os textos, à medida que vinham à luz, eram
comparados com outros textos antigos conhecidos, como o papiro Nash do último período macabeu e antigas
inscrições do período romano. Logo esses estudiosos conseguiram classificar a escrita dos MMM em quatro
categorias paleográficas principais (embora a terminologia possa diferir de um autor para outro):
• Arcaica: de cerca de 250 a.C. a 150 d.C.;
• Hasmoneana: 150-30 a.C.;
• Herodiana: 30 a.C. a 70 d.C.;
• Pós-herodiana ou ornamental: 70 a 135 d.C.
Dentro dessas categorias, os estudiosos às vezes distinguem ainda a escrita formal da cursiva. Após
vários anos de estudo, esse método paleográfico foi considerado muito acurado, com uma margem de erro de
50 anos.
Além da paleográfica, usou-se também a datação radiocarbônica. O carbono 14, um isótopo radioativo
do carbono, divide-se num ritmo mensurável com exatidão, independentemente de seu meio ambiente. Raios
cósmicos do espaço sideral, bombardeando a terra com aparente constância, transformam o nitrogênio na
atmosfera em carbono 14. Quando reage com o oxigênio no ar, cria dióxido de carbono. As plantas retiram a
maior parte de seu carbono do dióxido de carbono no ar e na água. Os animais alimentam-se de plantas, e
assim todas as criaturas vivas acabam com carbono 14 em seu organismo. Quando um ser vivo destes morre,
O resultado do teste foi que os fragmentos da Gruta 4 de Qumran estavam mais intimamente
relacionados aos de (b), (d) e (e) do que a (a), sendo ligeiramente mais velhos que os de (b). Em outras palavras,
os fragmentos de Qumran não eram tão velhos quanto as cartas egípcias em aramaico, mas mais velhos que as
peles de Murabba’at.
Finalmente, há algumas indicações em certos manuscritos que podem ser usadas como data interna.
Por exemplo, faz-se referência a um personagem histórico, que é com quase certeza Demétrio III Eucero, um
dos governadores selêucidas no século II a.C. Há também um fragmento calendárico, ainda não publicado,
que menciona Selãmsiyôn, nome hebraico da Rainha Alexandra, sucessora de Alexandre Janeu Hircano, e os
massacres de ‘Emilyôs, Emílio Escauro, o primeiro governador romano da Síria (63 a.C.). Essas referências
internas ajudam a localizar de modo geral a existência da comunidade de Qumran e sua literatura nos dois
últimos séculos antes de Cristo. Em seguida, ajudam a excluir a identificação da comunidade de Qumran com
um movimento cristão e a fixar suas raízes no judaísmo dos últimos séculos antes de Cristo.
Os sete grandes manuscritos da Gruta 1 são os seguintes: a) cópia “a” do Livro de Isaías: este texto,
datado paleograficamente em 125-100 a.C. e agora pelo radiocarbono em 202-107 a.C., contém todos os 66
capítulos do Livro de Isaías, exceto por algumas palavras cortadas na base de algumas colunas. Está escrito
em 54 colunas de largura variada, sobre 17 peças de pele de carneiro costuradas para formar um rolo, medindo
aproximadamente 7,5m de comprimento e 0,30m de altura. Esse manuscrito dá um testemunho singular da
fidelidade com que o Livro de Isaías foi copiado ao longo dos séculos pelos escribas judeus, já que o mais
antigo texto hebraico de Isaías que se conhecia antes da descobertas dos manuscritos era o códice do Cairo
dos Profetas maiores e menores datado em 895 d.C. (em seu colofão). Embora haja diferenças de soletração,
que eram de esperar, o que há de notável sobre o texto é que apenas 13 leituras variantes que ele continha
foram consideradas suficientemente importantes para serem usadas na publicação de 1952 da Revised
Standard Version (versão padronizada e revisada da Bíblia). Além disso, esse manuscrito não apresenta
nenhuma consciência da distinção de Primeiro, Segundo e Terceiro Isaías, de vez que os capítulos 39-40 são
copiados na mesma peça de pele, e o mesmo vale para os capítulos 55-56. Excetuando-se essas 13 leituras
variantes, o texto da cópia “a” de Isaías é textualmente insignificante. Juntamente com a cópia “b” de Isaías e
com pelo menos 15 outros textos fragmentários de Isaías provenientes de Qumran, ele revela que o texto de
Conclusão
O que foi dito acima é apenas parte do retrato que pode ser reconstruído com base nas evidências
arqueológicas. Isso pode testar teorias exageradas e negativas, derivadas tanto de fatos reconhecidos como de
formas literárias e de interpretação. Visto que se acumulam novos dados constantemente, “precisamos lembrar
que as evidências que a arqueologia e os textos fornecem sempre serão incompletas precisamos admitir
também que só a ausência de evidências arqueológicas não seria suficiente para lançar dúvidas sobre as
afirmações dos testemunhos escritas. A arqueologia também levanta problemas que ainda aguardam uma
solução definitiva, como, por exemplo, a falta de evidências, apesar de amplas escavações, da ocupação de Ai
e Jericó na época da entrada dos hebreus na terra, embora diferentes soluções possam ser genuinamente
propostas. Ela tem resolvido uma série de problemas levantados pelos críticos, como a existência e o uso de
camelos na Palestina no período antigo dos patriarcas (Gn 12.16 etc.) ou o reinado de Tiraca já em 701 a.C.
(2Rs 19.9). A arqueologia deve ser recebida como um acréscimo bem-vindo ao nosso conhecimento, mas
nunca como o substituto da própria Escritura. O expositor e comentarista bíblico precisa estar sempre em dia
com os achados arqueológicos, mas nunca ser servo deles.
ARRUDA, José Robson A. História Antiga e Medieval. 6ª. ed. São Paulo: Ática, 1983
BÍBLIA de Estudo Arqueológica NVI. São Paulo : Vida, 2013.
BRIGHT, John. História de Israel. 7ª edição. São Paulo : Paulus, 2003.
DILLARD, Raymond B; LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo :
Vida Nova, 2006.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª ed. rev.
e amp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
HARRISON, R.K. Tempos do Antigo Testamento, um contexto social, político e cultural. Janeiro :
CPAD, 2010.
KAISER, Walter, Jr. Documentos do Antigo Testamento: Sua relevância e confiabilidade : Cultura
Cristã, 2007.
KELLER, Werner. E a Bíblia Tinha Razão. São Paulo: Melhoramentos, 1958.
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro : CPAD, 2002.
SANTOS, Rosevaldo C. dos. Apostila de Geografia Bíblica. São Paulo: Edições IBETEL, 2004.
SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel. São Paulo: Vida Nova, 1984.
SHEDD, R. P. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova.
SITE: http://www.tryte.com.br/judaismo/colecao/br/.
TENNEY, Merrill C. (Org.). Enciclopédia da Bíblia. Vl 4. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. São Paulo : Vida Nova, 2006.
________, Merriel Frederick. Arqueologia do Antigo Testamento. São Paulo : Imprensa Batista, 1985.
VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo : Vida Nova, 2004.
VOGELS, Walter. Abraão e Sua Lenda – Gênesis 12,1-25,11. São Paulo : Loyola, 2000.
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblia, Antigo e Novo Testamentos. São Paulo : Cultura Cristã, 2010.
WALTKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis. São Paulo : Cultura Cristã, 2010.