Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
.................................................................................................................................
Cada modo de produção vai gerar um tipo básico de Estado e em cada formação
social específica (modo de produção + sua superestrutura) este tipo de Estado poderá se
1
“Veja-se, por exemplo, Celso Ribeiro Bastos, Curso de Direito Constitucional, São Paulo, Saraiva,
1984, 7ª ed., os. 178/192”.
estruturar de diferentes formas, mantendo, porém, as características fundamentais
determinadas pelo modo de produção a que corresponde”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 99: “(...) é no campo penal que talvez melhor se possa identificar (...) caráter
desigual do direito da sociedade capitalista, pois, não obstante o mito da igualdade se
2
“Cirino, Juarez. ‘As Raízes do Crime’, Rio, Forense, 1984, p. 126”.
aqui ainda mais difundido e interiorizado, é o direito penal o direito desigual por
excelência.
.................................................................................................................................
3
“Zambrano Pasquel, Alfonso. ‘Nueva Criminología y Derecho Penal’, in Derecho Penal y Criminologia,
31, Universidad Externado de Colombia, Bogotá, 1987, p. 72”.
(...) operando basicamente com a lógica da individualização das condutas
socialmente negativas, não vai funcionar nos delitos cometidos na atividade das grandes
empresas e do aparelho burocrático, sendo extremamente difícil responsabilizar os
dirigentes, os mandantes e os beneficiários desse tipo de condutas criminosas4”.
2. A aplicação do direito
p. 102: “É, portanto, este direito fundado na desigualdade que será aplicado no
exercício concreto da função judiciária, aplicação que vai acentuar ainda mais seu
caráter desigual e seletivo.
.................................................................................................................................
4
“Para uma visão crítica do direito penal, veja-se especialmente Alessandro Baratta: ‘Criminología
Crítica y Crítica del Derecho Penal’, México, Siglo XXI, 1986”.
5
“Veja-se a análise de Nicos Poulantzas sobre a burocracia em ‘Poder Político e Classes Sociais’, São
Paulo, Martins Fontes, 1977, pp. 327 ss”.
distanciá-los ainda mais dos condicionamentos originais e do funcionamento político
característico das classes ou frações eventualmente inferiores de que possam ter saído”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
(...) a (...) atuação pautada pela lógica e pela razão do poder de classe do Estado,
a incapacidade do juiz em penetrar e compreender o mundo dos imputados provenientes
daquelas camadas mais baixas e marginalizadas, são fatores, evidentemente,
desfavoráveis a estes”.
.................................................................................................................................
6
“Baratta, Alessandro, op. cit., p. 172”.
(...) é a atuação da magistratura que, ao aplicar aquelas definições legais aos
casos concretos, dará o status de criminoso àqueles indivíduos respeitadores das leis e
contribuindo (...) para sua estigmatização, para a construção e propagação de uma
imagem do criminoso, formada fundamentalmente a partir do perfil daqueles indivíduos
condenados, notadamente à pena privativa de liberdade”.
.................................................................................................................................
p. 110: “Três são as vertentes (...) [para o avanço de classes sob estado de
exceção, igualmente, no campo da superestrutura, ideológico, para delineação de outro
funcionamento e/ou organização da função judicial, com ponto de vista socializado,
democrático]: a compreensão crítica da função judiciária, a criação de mecanismos de
participação popular no exercício da função judiciária e a busca de realização dos
direitos humanos como perspectiva de atuação do Poder Judiciário.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
7
“Zaffaroni, Eugenio Raúl e Larrandart, Lucila. ‘Administração de Justicia y Reforma Constitucional em
la Argentine: La necesidad de um modelo’, in: Derecho Penal y Criminología, 27-28, Universidad
Externado de Colombia, Bogotá, 1985/86, pp. 222-248”.
p. 112-13: “(...) a introdução de juízes leigos [para a concretização da
democracia popular], eleitos diretamente ou através de organizações comunitárias
(associações de moradores, sindicatos, igrejas, etc.), por período determinado e sem
possibilidade de recondução, para atuarem conjuntamente e com as mesmas atribuições
dos juízes de carreira”.
(...). O direito e sua aplicação são fatos bem mais simples do que fazem crer as
construções dogmáticas tão desenvolvidas pelos cultores das ciências jurídicas,
construções quase sempre artificiais, que contribuem para institucionalizar o saber
enquanto instrumento de dominação (Cap. IV).
8
“Sobre formas de autogestão social para solução de conflitos, especialmente em máteria penal, conforme
as propostas abolicionistas, veja-se a exposição de Louk Hulsman em ‘Peines Perdues’, Paris, Centurion,
1982”.
que assegura condições ótimas de nutrição, ao acesso e utilização dos
recursos naturais existentes”.
.................................................................................................................................
p. 115: “
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 143: “No entanto (...) parece mais proveitosa uma outra opção: buscar uma
conceituação de direitos humanos não nos textos normativos, mas a partir do real e do
concreto, chegando, com sua análise, aos reflexos normativos que daí se podem extrair.
.................................................................................................................................
p. 144:
.................................................................................................................................
p. 145: “3. O bem estar corporal e o abrigo vão gerar os direitos a uma habitação
confortável e inviolável e a um meio ambiente saudável”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 147: “Segundo a mesma pesquisa, há uma relação direta entre baixa estatura e
pobreza, registrando-se quatro vezes mais homens nanicos em famílias cuja renda
mensal não passa de um quarto do salário mínimo por pessoa, do que em outras de
renda igual ou superior a 2,2 salários por pessoa.
p. 149: “(...) as mulheres das camadas mais altas realizam seus abortos
livremente, em clínicas bem equipadas, de endereços conhecidos, sem maiores riscos.
Num país que se intitula uma democracia racial, não são poucos os preconceitos,
velados ou não. À igualdade formal, à proibição da discriminação, opõe-se o real”.
p. 149-50: “As marcas de uma colonização, que se faz com o genocídio dos
povos indígenas, que aqui moravam, e com a escravidão de povos africanos, de suas
terras arrancados, perduram, seja no desrespeito à identidade, às tradições, à língua, ao
patrimônio cultural e à integridade territorial dos raros povos indígenas sobreviventes,
seja nos embranquecidos valores culturais dominantes, na objetividade racista que faz
dos descendentes dos escravos os semi-libertos contingentes maiores dos excluídos
deste país”.
p. 150: “Mas, nosso apartheid não é só racial. Brancos e negros podem aqui se
igualar, quando surge a outa discriminação maior, a que seapra pelo acesso às riquezas,
a que faz com que o 1% mais rico da população tenha uma participação maior na renda
nacional do que os 50% mais pobres, a que indelevelmente divide o país em uns poucos
privilegiados e milhões de deserdados.
Essa discriminação de classe, essa divisão entre senhores e escravos,
latifundiários e sem-terra, grandes empresários e trabalhadores mal pagos, conta a
história econômica do Brasil, a história da repetida produção de desigualdades, a
história da negação da dignidade social, da negação da cidadania”.
(...) processo, que expulsa milhões de lavradores, deixando-os sem terra onde
viver e de onde tirar sua subsistência, além dos conflitos que gera no campo, com suas
mortes anunciadas e impunes, leva à inchação dos centros urbanos, onde o mesmo
processo se repete: aqui também o espaço é desigualmente dividido; aqui também são
milhões os que não têm onde se abrigar e muito poucos os que gozam do direto a uma
habitação confortável”.
p. 151-2: “As habitações precárias, onde famílias inteiras, muitas vezes, vivem
em um único cômodo, habitações construídas em locais inseguros, sem água encanada,
sem ligação a redes de esgoto e de tratamento de lixo, são a submoradia de milhões de
brasileiros, ainda assim em melhor situação do que os grandes contingentes de
habitantes das ruas” (Cap. I).
p. 152: “A especulação imobiliária, os programas habitacionais que acabaram
financiando moradias para os setores já privilegiados (só 18% dos investimentos do
extinto BNH se destinaram a projetos populares), empurraram a maioria da população
para as submoradias. Mesmo as parcelas que tiveram acesso aos chamados conjuntos do
BNH – mais para guetos do que propriamente conjuntos – receberam residências mal
construídas, edificadas sem levar em conta os materiais de cada região, as condições
climáticas e as tecnologias disponíveis, do que resultou sua deterioração em poucos
anos de uso.
Mas a isto, somam-se os atentados praticados pela ação direta do próprio Estado,
de seus agentes policiais, que não hesitam em realizar suas blitzen, seus espetáculos de
terror oficial, invadindo, sob qualquer pretexto e sem nem cogitar de mandado judicial,
os domicílios situados em locais de concentração das camadas mais baixas e
marginalizadas da população. A inviolabilidade, consagrada nos textos normativos,
como ocorre com outros bens e direitos, só tem validade para os poucos privilegiados,
que vivem no lado Bélgica de nosso país”.
.................................................................................................................................
Este país, que não investe na educação de seu povo, igualmente despreza sua
cultura. O modelo do mercado, do consumo e do negócio reduz arte e cultura a
espetáculo, a produto rentável, gerando uma indústria colonizada, subjugada a
produções culturais centrais, especialmente norte-americanas, vivemos na Améria
Latina e desconhecemos totalmente a cultura de nossos vizinhos”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 159: “(...). Além de não se apropriar do que produz, além de gerar aquele
valor excedente, o dono da força de trabalho não determina o que e como produzir,
submetendo-se a uma estrutura subordinadora, departamentalizada, verticalizada e
hierarquizada, que caracteriza a empresa capitalista e que tira do trabalhador qualquer
poder de decisão e criação”.
.................................................................................................................................
(...) é destas camadas que sai a clientela de um sistema penal seletivo (...)
injusto, que tem na prisão o seu centro (...). A liberdade mental [além da física] é (...)
afetada por uma prática, que exige a submissão total a uma ordem artificial e autoritária
(...) que reproduz as características (...) da sociedade capitalista – o egoísmo, a
submissão, a exploração do mais fraco – humilhando, aviltando e degradando.
7. Segurança (conservação da vida e da integridade pessoal)
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
Papel (...) relevantes tem também a violência punitiva, que se realiza fora do
direito, a chamada repressão informal, responsável por significativa parcela do número
total de homicídios no Brasil”.
p. 165: “As atuações ilegais das agências policiais provocam inúmeras mortes
sistematicamente apresentadas como resultados de enfrentamentos com supostos
criminosos ou suspeitos, em situações de repressão ao crime, de reação armada destes
supostos criminosos ou suspeitos, atuações essas legitimadas em autos de resistência,
não previstos na legislação, sob o manto de um inexistente cumprimento de dever legal,
sem que sofram maiores questionamentos, inobstante os eloquentes indícios de se
constituírem numa das formas extralegais de aplicação da pena de morte”.
.................................................................................................................................
A estas execuções extra-oficiais (...) extra-legais da pena de morte, somam-se os
linchamentos [o bater a gosto], momento culminante da repressão e do controle social,
em que a interiorização, pelas classes subalternas, da visão dominante de violência, que
a identifica com a criminalidade convencional, produz a forma mais perfeita desta
repressão e deste controle: a auto-destruição dos dominados
.................................................................................................................................
p. 173: “As teorias absolutas surgiram sustentando que a pena encontra sua
justificação em si mesma, baseando-se na ideia da retribuição, do castigo, da
compreensão do mal, representado pela infração, com o mal, representado pelo
sofrimento da pena.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 177: “(...) a falácia de tais construções aparece (...) em (...) fazer da pena
retributiva uma pena justa, numa sociedade sem justiça distributiva (...) como há
duzentos anos, mantém-se pertinente a indagação de por que razão os indivíduos
despojados de seus direitos básicos, como ocorre com a maioria da população de nosso
país, estariam obrigados a respeitar as leis10.
.................................................................................................................................
10
“Vejam-se as conhecidas objeções que Jean Paul Marat formulou ao retribucionismo, em sua obra
filosófica”.
11
“Eugênio Raúl Zaffaroni, Em Busca de las Penas Perdidas, Buenos Aires, Ediar, 1989, os. 84/86”.
12
“Louk Hulsman, Peines Perdues, op. cit., os. 63/66”.
A privação da liberdade, o isolamento, a separação, a distância do meio familiar
e social, a perda de contato com as experiências da vida normal de um ser humano, tudo
isso constitui um sofrimento considerável”.
.................................................................................................................................
p. 18: “(...) nasce da convivência forçada, que faz com que qualquer (...)
desentendimento (...) antipatia (...) dificuldade de relacionamento, assumam proporções
insuportáveis, o desgaste da convivência entre pessoas, que (...) não se entendam, aqui é
inevitável. As pessoas que não se ajustam, os inimigos, são obrigados a se ver todos os
dias, a ocupar o mesmo espaço, o que (...) acirra os ânimos, eleva a tensão, exacerba os
sentimentos de ódio, levando, muitas vezes, a que um preso mate outro, por motivos
aparentemente sem importância.
(...) a disciplina (...), onde se exige a submissão total a uma ordem artificial e
autoritária, determinante da normalidade ou anormalidade da conduta, é a prisão a
instância social onde o controle se mostra em sua máxima autoridade sobre o
indivíduo”. (Suveiller et de Foucault)
.................................................................................................................................
p. 184: “Esta ordem social, que funciona pelo avesso [aqui, Rafael Valim, em
Estado de exceção, como estado de relação subvertida], que tem efeitos altamente
deteriorantes, condiciona a reprodução de sua clientela, exercendo o mais alto grau de
estigmatização e marginalização de todo o sistema punitivo (...).
(...) naquela construção (...) da imagem do criminoso (...) a partir do perfil (...)
nas camadas mais baixas e marginalizadas da população, que a prisão exerce seu mais
relevante papal na manutenção e reprodução da formação social capitalista.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 186-7: “
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
13
“Evandro Lins e Silva, De Beccaria a Filippo Gramatica, in Sistema penal para o Terceiro Milênio, Rio
de Janeiro, Ed. REvan, 1991, p. 40”.
14
“Eugenio Raúl Zaffaroni, Manual de Derecho Penal – Parte General, Buenos Aires, Ediar, 5ª ed., 1986,
p. 716”.
p. 189: “Impedindo a substituição da pena privativa de liberdade ou a suspensão
condicional de sua execução (...) reincidência deixa como única e monstruosa opção o
cárcere.
(...) a presença (...) de uma maioria de condenados (...) foram encarcerados (...)
peça prática de furto, delito cuja escassa lesividade só pode ser negada por quem (...)
reconheça a proteção máxima da propriedade privada, como objetivo da lei penal15”.
p. 190: “(...) resistência das agências judiciais a estes regimes mais brandos, a
fazer da imposição do regime fechado a regra (...).
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
15
“Os dados constam do Censo Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, realizado pela Secretaria de
Estado de Justiça, em setembro de 1988: 56, 98% dos presos receberam condenações a penas inferiores a
7 anos; entre 8.67 presos, 050 cumpriam pena pela prática de furto”.
16
“A Lei nº. 8.07/90 foi assim apelidada pelo Prof. Tourinho Filho, em conferência proferida na abertura
do Simpósio de Direito Penal e Direito Processual Penal: Reflexos Constitucionais, Inovações e
Tendências, realizado no Rio de Janeiro, em nov. de 1990, pelo Instituto de Estudos Jurídicos”.
(...) uma atitude (...) humana aponta para respostas e para estilos, que favoreçam
não os interesses de manutenção e reprodução de sistemas desiguais e perversos, mas
que sim permitam a libertação e a emancipação do homem”.
p. 195: “O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078/90) traz, entre seus
dispositivos, algumas regras, que, facilmente, poderiam se aplicar ao sistema penal.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
(...) a apreensão da realidade se faz, cada vez mais, através dos meios massivos:
as experiências diretas da realidade cedem espaço e passam a ser experiências do
espetáculo da realidade, que é passado pelos meios massivos de informação, da mesma
forma que a própria comunicação entre as pessoas se refere muito mais ás experiências
apreendidas através do espetáculo do que às experiências vividas”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
(...). Fosse efetivamente cumprida a lei penal, para que se punissem todos os
casos em que se desse sua violação (...) não haveria ninguém que não fosse várias vezes
processado e punido, tendo-se que propor como consequência, tão lógica quanto
absurda, a transformação da sociedade em um imenso presídio (...) dificilmente sobraria
alguém para julgar, ou para exercer a função de carcereiro”.
.................................................................................................................................
.................................................................................................................................
p. 206: “(...). A ideia de que algo precisa ser feito para manter a ordem, que
acaba por admitir todo tipo de violência – da tortura ao extermínio – contra os
dissidentes, igualmente, alimenta a repressão à criminalidade convencional, nas
democracias mais ou menos reais, provocando e permitindo crimes e violências outras,
maiores do que as que se diz pretender combater”.
.................................................................................................................................
p. 206-7: “(...) desigualdade (...) encoberta por uma publicidade tão enganosa e
eficaz (...) esquecidos da imunidade dos poderosos, invulneráveis à ação do sistema
penal, exceto em pouquíssimos casos, em que conflitos entre os setores hegemônicos
permitem a retirada da cobertura de invulnerabilidade e o sacrifício de um ou outro
membro das classes dominantes, que colida com o poder maior, a que já não sirva”.
.................................................................................................................................
p. 207: “Fazendo acreditar na fantasia de uma falsa solução (...) o sistema penal
poderia (...) se enquadrar entre os produtos e serviços potencialmente nocivos ou
perigosos, cuja publicidade enganosa ou abusiva se pretende proibir, através da
paradoxal criação de novos crimes, por uma lei pena, que, assim, contraria a si mesma.