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anos 30
Elizabeth Cancelli
A virada do século XIX para o XX havia chegado com o surgimento de uma nova
complexidade social, tão diferenciada que fizera possível até a Revolução de 1917 na Rússia. A
organização das classes trabalhadoras em sindicatos e associações ensejava aos países de regime
liberal, e depois aos autoritários, a certeza de que a desordem das ruas e dos operários poderia
provocar aborrecimentos e perigos incontroláveis. 1917 seria a prova concreta
conc reta das preocupações
que as elites levantavam desde o século XIX. Não que Moscou, posteriormente, não viesse a
provocar uma espécie de reação em cadeia com sua política de espalhar o sonho
s onho de uma
sociedade mais livre e mais justa, acompanhada da política de subvencionar um grande número
de militantes e agentes internacionais prontos a tentar a derrubada completa do capitalismo.
Internacionalizara-se o capital e internacionalizara-se o trabalho. Algumas políticas
deveriam acompanhar esta mudança. A História, definitivamente, passara a ser internacional.
Nenhuma nação integrada ao desenvolvimento moderno do capitalismo -- e eram muitas --
sonhava agora em isolar-se, seja via protecionismo dos mercados comerciais, seja no manejar de
seus problemas sociais e políticos. A Ia Guerra Mundial e a fundação da Terceira Internacional
em Moscou, nos anos 1918 e 1919, eram a prova incontestável dessa realidade.
As práticas de controle e repressão gradativamente integraram-se a este mundo universal.
O Estado moderno tomara para si o monopólio da violência. O trabalho das polícias urbanas de
inteligência necessitava agora ser internacionalizado. A atividade policial tornara-se mais
complexa do que promover a moralização e a educação das massas com a finalidade de manter a
estabilidade social burguesa, aos moldes do século XIX1. As fronteiras internas dos países não
podiam mais dar conta nem da internacionalização do trabalho, nem da internacionalização
interna cionalização do
capital. Tratava-se de política, ou de políticas, integrada.
Sabe-se, entretanto, que desde o século XVIII já era comum a assinatura de acordos
bilaterais para a extradição de criminosos2. A França, depois a ustria e os Estados germânicos
°
celebraram inúmeros tratados que garantiam a um outro Estado o exercício de seu direito
punitivo, e foi no final do século XIX e início do século XX que este tipo de acordo proliferou.
Até o século XVIII, porém, a extradição só existia e era praticada para crimes de deserção,
políticos ou religiosos. Depois, foi admitida para alguns crimes comuns e muito recentemente
(1946) formalmente excluída para crimes políticos3. Pouco a pouco o jogo político-repressivo
deparou-se com a prática e a necessidade de abandonar as fronteiras dos estados nacionais para o
exercício de sua eficácia.
A nova sistemática de relações internacionais das instituições de controle e repressão
baseava-se não mais apenas em acordos bilaterais de expulsão, e sim na troca de informações, na
assinatura de tratados e na organização e reorganização policial, troca de informações isoladas
entre as polícias sobre crimes, criminosos e organizações políticas.
É bem verdade que havia anteriormente acordos internacionais que tentavam refrear
alguns problemas de ordem social de maneira pontual e isolada. As tentativas de combate ao
tráfico de mulheres e crianças que vinham sendo sistematizadas, desde 19024, eram uma
evidência deste tipo de iniciativa. Trabalho, aliás, que, embora centrasse o problema de certa
forma no espetáculo da miséria urbana, politizava-se radicalmente na medida em que tentava
associar o tráfico à presença de judeus- comunistas.
Assim, nos anos 1920, pela primeira vez, foi que as polícias de vários países, além da
preocupação em manter os tratados de extradição e o controle
con trole ao tráfico de mulheres e crianças,
iniciaram uma certa organização internacional. Esta era mais ampla em sua concepção e atuação
do que os acordos internacionais de extradição e combate ao tráfico, e atingia tanto o controle ao
crime comum quanto as atividades de cunho político.
Um primeiro encontro preparatório para a concatenização dos trabalhos policiais de
diversos países foi realizado em 1920. Vários chefes de polícia encontraram-se em Nova Yorque
para tentar sistematizar o que já vinha ocorrendo na prática:
pr ática: a cooperação policial internacional.
Finalmente, em maio de 1923, Guidanski, Dinamarca, Finlândia, Lituânia, Suiça, Bélgica,
Bulgária, Grécia, Holanda, ustria, Portugal, Suécia, Hungria, Inguslávia, Tchecoslováquia,
°
8. Vi ena, 1923; Vi ena, 1924; Ber l i m, 1927; Amst er dam, 1927; Vi ena,
1930; Amber es, 1930; Par i s, 1931; Roma, 1932; Vi ena, 1934,
Bel gr ado, 1936; Londr es, 1937; Bucar est , 1938; Br uxel as, 1946.
Conf . : Bar r oso, Casemi r o Gar ci a. Op. ci t . .
17. Paul o Sér gi o Pi nhei r o sust ent a que depoi s de 30 houve apenas
i nt ensi f i cação e especi al i zação dest a pr át i ca. Di scor damos e
acr edi t amos que a pr át i ca t ot al i t ár i a, de uma f or ma ger al , não só
i nt ensi f i ca e especi al i za o j á exi st ent e nas soci edades di t as
l i ber ai s, mas t r ansf or ma seu sent i do e o de suas i nst i t ui ções.
Est e é o caso par a o Est ado Pol i ci al da Er a Var gas.
20. Conf . Huggi ns, Mar t ha. Pol i t i cal Pol i ci ng: Ei ght y year s of
Uni t ed St at es Trai ni ng of Lat i n Amer i ca Pol i ce. Manuscr i t o,
i nédi t o, 1991. Ci t ação de Gol dst ei n, 1978, p. 202.
21. Conf . Cancel l i El i zabet h. Na Nova Yor que de Har r y Ber ger e
El i za Ewer t . Mi meo, l i vr o em andament o.
24. Nat i onal Ar chi ves, Ar chi ves of ext er i or Rel at i ons of t he Rei ch,
da Embai xada Al emã no Ri o de J anei r o, 10 de dezembr o de 1936,
col eção de document os nazi st as, doc. 295188.
34. MAE- Achi vi o St or i co Di pl omat i co, Ser i e Pol i t i ca, Bust a 24. 7
de mar ço de 1940
35. Comi t ê Consul t i vo Par a a Def esa Pol í t i ca. Legi sl ação Pol í t i ca
nas r epúbl i cas amer i canas. I n: Cancel l i , El i zabet h. op. ci t .
46. Médi co f amoso e pr est i gi ado, ex- deput ado f eder al , Medei r os
publ i cou o l i vr o " Out r as r evol uções vi r ão" , onde f ez a denúnci a.
61. MAE- Ar chi vi o St or i co Di pl omat i co, Ser i e Pol i t i ca, Bust a 16,
ano 1938
62. Paul o Sér gi o Pi nhei r o escl ar ece que Van Mi ne er a o chi nês Chen
Shao- yu, que usava o pseudôni mo de Wang Mi ng. Pi nhei r o, Paul o
Sér gi o, Op. ci t . p. 314
67. Nat i onal Ar chi ves, Ar chi ves of t he Rei ch. Ri o de j anei r o, 12 de
f ever ei r o de 1937, de Rober t Lehr ao Embai xador da Al emanha. Doc.
295211.
69. Nat i onal Ar chi ves. RG 59, M 1472, r ol l 4, 832 00B/ 82 - 832. 00.
Ri o de j anei r o, 15 de mar ço de 1939.
70. Nat i nal Ar chi ves. Ar chi ves of t he Rei ch, Ber l i m, 7 de abr i l de
1937, do chef e do pr ot ocol o Von Bul l ow, doc. 295226
71. Ao cont r ár i o do que af i r ma o Di ci onár i o Hi st ór i co- bi bl i ogr áf i co
Br asi l ei r o, da Fundacão Get úl i o Var gas, Godof r edo da Si l va Tel es
não af ast ou- se da vi da publ i ca depoi s de t er buscado asi l o na
Fr ança com a der r ot a da Revol ução de 1932 em São Paul o.
76. Nat i onal Ar chi ves, Ar chi ves of t he Rei ch, cl assi f i cação 295200.
Ri o de J anei r o, 3 de set embr o de 1936. Do embai xador al emão ao
chef e de Pol í ci a da Gest apo, at r avés do Mi ni st ér i o das Rel ações
Ext er i or es.
77. Em 1937 f oi expul sa out r a al emã, Ana Ger t r ude Lambr echt
80. Nat i onal Ar chi ves. Ar chi ves of t he Rei ch. Ri o de J anei r o, 17 de
f ever ei r o de 1937. Da Embai xada Al emã no Ri o. Doc. 2952228
86. MAE- Ar chi vi o St or i co Di pl omat i co, Ser i e Pol i t i ca, Bust a 16,