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1. Introdução
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como seus valores, são provenientes de fontes muito diferentes
das da Europa ocidental, em cuja herança cultural o sistema do
direito internacional foi desenvolvido.
Pelo fato de o processo de codificação ser compreendido no
seu sentido mais amplo, isto é", como um meio de adaptar o direito
existente a novas necessidades, é que os mais diversos países
encontraram possibilidade de acreditar no valioso papel da codi-
ficação. Esses países não duvidaram que a codificação pudesse
ser elemento de vasta importância no desenvolvimento pacifico,
permitindo modificar o direito segundo as novas necessidades e
fazer, por seu intermédio, com que ele fosse geralmente aceito,
podendo, dessa maneira, contribuir para a manutenção da estabi-
lidade das relações internacionais.
Também é preciso assinalar o que a facilidade da comuni-
cação moderna e a pressão das exigências do progresso econômico
criaram. Elas deram origem à necessidade de um desenvolvimen-
to do direito internacional em setores que, até então, não haviam
sido regulados.
Os anos que sucederam a 1945 viram frutificar vínculos de
interdependência cada vez mais estreitos entre os estados. Na
realidade, as invenções técnicas e científicas mostraram a ur-
gência de se regular, juridicamente, certas atividades como a ex-
ploração do espaço extra-atmosférico ou do fundo do mar, as
quais excederam as possibilidades do homem em apenas 10 anos.
2. Conceito
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Começou no mundo ocidental, então, o movimento codificador
que adotou o regime de codificação parcelada, o qual é mantido
até hoje. Este período foi marcado pelo liberalismo, pela inde-
pendência e pelo constitucionalismo. As codificações e os códigos
caracterizaram o direito dessa época.
A Constituição francesa, de 1791, estabelecia que "será feito
um código das leis civis comuns a todo o reino". Por aí pode-se
verificar que a organização dos códigos foi a preocupação máxima
dominante nos séculos XVIII e XIX, uma vez que estava prevista
e regulada em textos constitucionais.
E, novamente a França, com o Código Civil de Napoleão
(1804), foi a precursora do movimento de codificação do direito
interno na Europa. Esse código propiciou a unidade do direito
francês, pois cada região do norte do país tinha o seu costume,
lado a lado com o direito romano na região sul, as ordenanças
reais e as leis. Estava criada, assim a plena autonomia no campo
das normas jurídicas, planificadas no sistema dos grandes códigos.
E a codificação napoleônica, que expandiu-se por toda Europa,
serviu de modelo para as novas codificações que foram surgindo.
O segundo grande código civil do século XIX foi o da Aus-
tria, em 1811. Entretanto, 44 anos depois, em 1855, surgiu o Có-
digo do Chile, de Andrés Bello, que recebeu influências dos có-
digos francês e austríaco. Uma de suas grandes influências foi a
de ter promovido a introdução de princípios democráticos latino-
americanos no direito civil. E foi, também, o primeiro código
civil de feição original nas Américas; seus princípios foram ado-
tados na maioria dos códigos dos estados das Américas Central
e do Sul.
Ainda nesse período, surgiu um outro código de grande valor:
o do Cantão de Zurique, na Suíça, em 1854. De autoria do sábio
jurista Bluntschli, continha idéias próprias, desvinculadas das
idéias do direito romano.
Em 1865, entretanto, ~~p~~e~~~-;- Código Civil da Itália.-- Re:
sultante da unidade política do país, terminou com as divergên-
cias existentes entre as diversas cidades italianas e possibilitou a
efetivação da unidade nacional.
O século encerrou-se com UIIl-·g~~~de- ~~~~~z{t~ legislativo~
isto é, com o Código Civil do Império Alemão, de 1896, que in-
fluenciou os códigos civis do Japão (1898), da Suíça (1911) e do
Brasil (1916).
Assim sendo, pode-se afirmar que a codificação do direito in-
terno, no século XIX, atendeu a uma necessidade político-jurídi-
4. Desvantagens da codüicação
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automático demonstra um total desconhecimento da realidade,
pois os fatos evoluem e surgem sempre num determinado mo-
mento histórico. Nem mesmo no direito interno, existe uma regra
perfeita aplicável a todos os casos. E se isso correspondesse à rea-
lidade, não haveria jurisprudência, uma vez que ela adapta as nor-
mas existentes às novas exigências sociais.
A crítica é, portanto, improcedente. A codificação do direito
internacional não tem por finalidade realizar um código que reúna
todos os assuntos, pois visa tão-somente a efetuar convenções
internacionais sobre determinadas matérias.
Para alguns, a codificação tenderia a imobilizar o direito, pois
seria, no caso, obstáculo à efetivação de novos usos e implicaria
a eliminação do direito costumeiro.
Atualmente, porém, creio que essa crítica está-se esvaziando
em importância. É que a própria sociedade internacional, con-
vencida de que o direito está sofrendo profundas mudanças,
criou nas mais recentes convenções internacionais um mecanismo
que permite revisão a cada cinco ou 10 anos das disposições es-
tabelecidas convencionalmente. E isso, com a finalidade de
adaptá-las ao incessante progresso tecnológico e às transformações
políticas e sociais da vida internacional.
Charles de Visscher considerava a codificação, em 1953, com
um pessimismo que nos parece excessivo. Afirmava que "atual-
mente, as possibilidades de uma codificação do direito interna-
cional, realizada no plano universal, são nulas. A contradição
existente entre as concepções jurídicas que se debatem na Assem-
bléia Geral das Nações Unidas, inclusive sobre os pontos mais
fundamentais, chegaram a tal extremo que qualquer empresa
desta ordem deve ser considerada perigosa para o direito interna-
cional".
Essa crítica parece estar em contradição direta com a reali-
dade. Embora existam grandes transformações políticas nas Na-
ções Unidas, em virtude da presença de novos estados que reivin-
dicam posições diferentes em vários assuntos, isso não impediu
que fosse iniciado um grande esforço codificador em Genebra
(1958-60) e em Viena (1961-69).
- A codificação deverá permanecer. É evidente que ela não
poderá abranger todos os temas, mas atingirá maior desenvolvi-
mento quando conseguir, em determinadas matérias, traduzir o
sentimento de todos os estados. Em outras, a codificação deve
ser gradual e progressiva, mais como um meio de expressar o
direito do que de criá-lo e se reservar condições particulares.
5. Vantagens da codüicação
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d) no plano jurídico-político, o direito existente foi completa
ou parcialmente modificado pela codificação. Nas convenções in-
ternacionais, onde os estados grandes e pequenos, desenvolvi-
dos e subdesenvolvidos estão no mesmo nível, graças à igualdade
jurídica, a codificação possibilita a esses últimos maior parti-
cipação na elaboração da norma internacional. Se essa não for
aceita pelos estados pequenos, não terá efeito sobre eles mesmos;
e) a codificação gera uma grande vitalidade na doutrina e ju-
risprudência internacionais, além de ser um instrumento de di-
vulgação do direito internacional junto à opinião pública;
f) constitui ainda um estímulo para o estudo de novos proble-
mas internacionais, pois o costume só é conhecido pelos especia-
listas no assunto, o que não ocorre com as convenções, nas quais
todos tomam conhecimento de sua existência, e
g) cria novas regras, que surgirão com o desenvolvimento
progressivo do direito internacional, servindo para cobrir as
lacunas do direito convencional, assim como para favorecer a
solução jurídica de problemas que estavam condicionados às osci-
lações políticas.
Após a enumeração de tais vantagens, é fácil compreender a
razão pela qual as diversas tentativas de codificar o direito inter-
nacional tem suscitado, no tempo e no espaço, constante preo-
cupação dos doutrina dores e dos organismos internacionais mais
importantes.
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apareceu o Projeto de código de direito internacional público de
autoria do francês Duplessix. Em 1910, o italiano Internoscia
publica o Nouveau code de droit international. Em 1911, temos o
Projeto de código de direito internacional público, do brasileiro
Epitácio Pessoa.
6.2 A codificação das associações científicas
Ao contrário da codificação doutrinária, que não teve muita im-
portância na codificação do direito internacional, uma vez que re-
presentava a opinião pessoal dos diversos especialistas na matéria,
as associações científicas desempenharam um papel preponderan-
te na codificação do direito internacional. Suas resoluções servi-
ram de base para a elaboração de novas convenções coletivas.
As mais importantes são:
a) o destacado Institut de Droit International, fundado em 1873,
na cidade de Gand, por diversos juristas, e cujos anuários são de
um valor inestimável nesse domínio. O instituto efetuou, em 1880,
a codificação do direito de guerra terrestre, e, em 1913, a de guer-
ra marítima. Além disso, o mesmo instituto foi o responsável pela
codificação das regras em matéria de extradição;
b) a International Law Association, criada em 1873, em Bruxe-
las, com o nome de International Association for the Reform
and Codification of the Law of Nations, foi reorganizada em 1895,
quando passou a ter a denominação atual. Esta associação pres-
tou grandes serviços, especialmente no domínio da codificação do
direito internacional privado. Entretanto, seus relatórios possuem
documentação igualmente importante para codificação do direito
internacional público;
c) a União Interparlamentar, fundada em 1889, que se destacou
na codificação do direito preventivo de guerra;
d) a American Society of International Law, fundada em 1906.
Em 1912, em Washington, o Instituto Americano de Direito
Internacional. Essas duas instituições se esforçaram para pre-
parar a codificação do direito regional americano. O instituto re-
digiu, em 1916, uma Declaração dos direitos e deveres dos esta-
dos e elaborou 30 projetos que serviram de base aos trabalhos da
Comissão de Juristas americanos, que se reuniu no Rio de Ja-
neiro, em 1927, para preparar o trabalho de codificação da VI Con-
ferência Pan-americana, e
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Em 1856, no Congresso de Paris, foi estabelecida uma nova
regulamentação de direitos marítimos, ocasião em que foi feita
uma declaração sobre a guerra marítima. Em Genebra, a partir
de 1864, realizaram-se as convenções da Cruz Vermelha sobre
feridos, doentes ou mortos na guerra terrestre. Após duas revi-
sões, uma em 1906 e outra em 1929, a convenção foi emendada
e ampliada em 1949 por uma conferência que resolveu criar uma
proteção eficaz para os prisioneiros de guerra e populações civis
em tempo de operações militares.
Em 1868, em São Petersburgo, proibiu-se o uso de certas ar-
mas de guerra terrestre. Com a criação das uniões internacionais
surgiu a codificação das regras do direito administrativo interna-
cional. Todavia, a obra mais importante de codificação do direito
internacional foi realizada pelas conferências de Haia de 1988,
reunida por iniciativa de Czar Nicolau lI, da Rússia, da qual par-
ticiparam 26 estados, e de 1907, reunida por proposta do Pre-
sidente Wilson, dos EUA, com a presença de 44 estados.
Ambas trataram de assuntos de paz e de guerra. A primeira
adotou 3 convenções: (solução pacífica dos conflitos internacio-
nais, leis e costumes de guerra terrestre e humanização da guer-
ra). A segunda adotou 14 convenções sobre meios de resolver
amigavelmente os conflitos entre estados, a guerra e a neutrali-
dade terrestre ou marítima. Em 1909, a Conferência de Londres
emitiu uma declaração sobre a guerra marítima, conhecida como
Declaração de Londres, que tentou converter o direito consuetu-
dinário em normas escritas e formulou regras novas, que foram
adotadas na guerra de 1914.
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direitos e deveres dos estados em caso de guerra civil; neutrali-
dade marítima; direito de asilo; tratados internacionais; funcio-
nários diplomáticos e agentes consulares;
g) na VII Conferência, em Montevidéu, 1933, foram realiza-
das convenções sobre: asilo político, direitos e deveres dos esta-
dos, extradição e nacionalidade;
h) em 1938, por ocasião da VIII Conferência americana, em
Lima, foram efetuadas simples declarações de princípios;
i) na IX Conferência, em 1948, foi elaborada a Carta da Orga-
nização dos Estados Americanos e o Tratado Americano de So-
luções Pacíficas, denominado Pacto de Bogotá, que reorganizou
a União Pan-Americana e criou como órgão permanente um
Conselho Interamericano de Jurisconsultos, cuja finalidade prin-
cipal era promover a codificação; e
j) em 1954, na X Conferência, em Caracas, foram concluídas
duas convenções: uma sobre asilo diplomático e outra sobre
asilo territorial.
O trabalho de codificação na OEA, desde 1948, tem sido rea-
lizado pelo Conselho Interamericano de Jurisconsultos (um dos
três Órgãos do Conselho da Organização), art. 67 da Carta, que
era assessorado pela Comissão Jurídica Interamericana, com sede
no Rio de Janeiro e formada por nove estados.
Na sistemática da Carta de 1948, o Conselho Interamericano
de Jurisconsultos se reunia, por intermédio da Convenção do
Conselho da OEA. A Comissão Jurídica era encarregada de pre-
parar estudos para a codificação de direito internacional e os re-
metia ao Conselho Interamericano de Jurisconsultos, que elabo-
rava os projetos de convenções e os enviava ao Conselho da OEA,
que posteriormente os encaminhava à Conferência Interame-
ricana.
Com a reforma da Carta da OEA, pelo protocolo de Buenos
Aires de 1967, o Conselho Interamericano de Jurisconsultos foi
substituído pelo Comitê Jurídico Interamericano, que passou a
integrar um dos oito órgãos principais da Organização, art. 51,
letra d.
O Comitê Jurídico Interamericano representa o conjunto dos
estados membros da Organização. Goza da mais ampla autonomia
técnica. É composto de 11 juristas, mais dois do que estava pre-
visto na Carta de 1948, eleitos por quatro anos, e tem sede no
Rio de Janeiro.
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Em 1927, a 8. a Assembléia analisou, detalhadamente, os tra~
balhos preparatórios da comissão. Decidiu, então, convocar uma
grande conferência de codificação, que se encarregaria da tarefa
de elaborar convenções de natureza universal, sobre três assun-
tos selecionados pela comissão (águas territoriais, responsabili-
dade dos estados e nacionalidade).
Um comitê composto de cinco membros foi selecionado para
colaborar na preparação técnica.
Em março de 1930, a Conferência de Codificação se reuniu
em Haia e contou com a participação de 47 estados, distribuídos
da seguinte forma: 29 da Europa, 11 da América, 5 da Asia e
2 da Africa.
Ela não obteve resultados positivos e concretos sobre os te-
mas (águas territoriais e responsabilidade de estados). Somente
com relação à nacionalidade foi possível chegar a um acordo,
embora de maneira limitada. Sobre este tema, fortes oposições
foram levantadas entre os partidários da nacionalidade individual
da mulher casada e os da unidade da nacionalidade da família.
Divergências surgiram entre os países de imigração, defensores
do princípio do jus soli, e os estudos europeus, onde prevalecia o
jus sanguinis.
Assim, a Conferência conseguiu terminar apenas uma das
convenções previstas - a que se refere a certas questões relativas
ao conflito de leis sobre nacionalidade ou apatridia, que foi assi-
nada por 30 estados.
Foram também adotados dois protocolos: um referente às
obrigações militares para certos casos de dupla nacionalidade e
outro relativo à nacionalidade do filho de pai apátrida ou cuja
nacionalidade era desconhecida.
O fracasso dessa tentativa de codificação, efetuada em 1930,
pode ser atribuído à grande divergência de interesses existente
por parte dos estados.
As dificuldades foram de ordem política. A noção de sobe-
rania, fortemente arraigada entre os estados, criaram sérios obs-
táculos para se chegar a um denominador comum em matérias
complexas, como mar territorial e responsabilidade dos estados.
A codificação do direi to internacional está inserida em um
programa jurídico-político de grande envergadura, que por vezes
esbarra numa estrutura pouco desenvolvida do direito interna-
cional.
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o número de membros da COInlssao tem sido constantemen-
te ampliado. Originariamente, era constituída de 15 membros, em
1956, atingindo 21, em virtude da resolução 1103 da Assembléia-
geral e, atualmente, é formada por 25 membros, desde a reso-
lução 1647, de 1961. Esse aumento de componentes da comissão
foi devido à quantidade de estados africanos que alcançaram a
independência e ingressaram nas Nações Unidas.
A grande maioria da assembléia considerou que a melhor
maneira de assegurar o cumprimento do art. 8.° do estatuto, que
requer que na Comissão, em seu conjunto, estejam representa-
das as grandes civilizações e os principais sistemas jurídicos do
mundo, consistia em aumentar o número de participantes na
Comissão.
O § 1.0 do art. 1.0 do Estatuto da Comissão de Direito Inter-
nacional, dispõe "que ele terá por objetivo impulsionar o desen-
volvimento progressivo do direito internacional e sua codificação".
Portanto, a tarefa da Comissão lhe é ditada pela natureza do
trabalho a ser efetuado. Segundo esse ponto de vista, a Comis-
são não deve somente utilizar-se de regras de direito interna-
cional em relação às quais o sentido é claro e completo. Se os
esforços da Comissão se limitassem a essa finalidade, poucos as-
suntos seriam considerados como objeto de suas deliberações.
Quando resultar de pesquisas e trocas de pontos de vista, já que
não existem sobre determinado ponto regras de direito, apoia-
das em convenções, no costume, ou em princípios gerais de direito,
a Comissão deverá escolher entre as várias proposições oferecidas
e propor sua própria solução. Se não houver desacordo, a Comis-
são não estará saindo de seu papel, ao sugerir modificações que
levem em conta as necessidades do tempo.
Um outro problema da mais alta importância é o da escolha
das matérias a codificar. Se o objetivo final é codificar a totali-
dade do direito internacional, é conveniente fazê-lo por ordem de
urgência dos assuntos, levando-se em conta situações novas que
podem alterar esse quadro. O critério definitivo não deve ser a
facilidade que uma área particular do direito internacional oferece
para a codificação, mas a necessidade de codificá-la.
A comissão se ocupará principalmente do direito internacio-
nal público, mas pode em caráter excepcional tratar do direito
internacional privado (art. 1.°, § 1.0 do estatuto).
Os membros da Comissão são internacionalistas de reconhe-
cida competência (art. 2.° do estatuto), e representam os prin-
cipais sistemas jurídicos do mundo. Seus integrantes não re-
presentam oficialmente os respectivos governos, mas dela parti-
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to de estados e de governos; b) imunidades jurisdicionais dos
estados e de suas propriedades; c) jurisdição penal em matéria
de infrações cometidas fora do território nacional; d) tratamento
dos estrangeiros, e e) direito de asilo.
Os 11 temas que foram suprimidos pela Comissão foram
os seguintes:
a) sujeitos do direito internacional; b) fontes do direito inter-
nacional; c) relações entre as obrigações criadas pelo direito in-
ternacional e o direito interno d) direitos e deveres fundamen-
tais dos estados; e) competência nacional; f) reconhecimento dos
atos de estados estrangeiros; g) obrigações em matéria de com-
petência territorial; h) domínio territorial dos estados; i) solução
pacífica dos conflitos internacionais; j) extradição, e 1) leis
de guerra.
Independentemente dos temas incluídos na lista de 1949, a
Comissão estudou, ou está estudando atualmente, certos assuntos
que lhe foram enviados pela Assembléia-geral.
Além do projeto de declaração dos direitos e deveres dos es-
tados, as questões que foram encaminhadas à Comissão são as
seguintes: a) formulação dos princípios de Nuremberg; b) pro-
blema de uma jurisdição criminal internacional; c) problema da
definição de agressão; d) projeto de código dos crimes contra a
paz e a segurança da humanidade; e) participação mais ampla
dos tratados multilaterais concluídos sob os auspícios da Socie-
dade das Nações; f) missões especiais; g) relações entre os esta-
dos e as organizações internacionais; h) cláusula da nação mais
favorecida; i) regime jurídico das águas históricas, e j) tratados
concluídos entre os estados e as organizações internacionais ou
entre duas ou mais organizações internacionais.
O programa de trabalho da Comissão era constituído destes
itens e dos relacionados na lista de 1949.
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13. Desenvolvimento e codificação do direito internacional
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14. A codificação dos trabalhos da Comissão
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refere às causas de nulidade dos tratados e ao grande problema
referente aos tratados em conflito com uma norma imperativa de
direito internacional (jus cogens).
Esta Convenção representa uma luz verde para a solução
de alguns problemas genéricos da comunidade internacional. Re-
gras escritas assim formuladas substituirão regras costumeiras,
que durante séculos orientaram a vida internacional. Entretanto,
as regras do direito internacional costumeiro continuarão a servir
como norma, para as questões não reguladas, pelas disposições da
Convenção.
A Convenção de Viena poderá trazer grandes conseqüências
para os estados que não a ratificaram ou aceitaram. Estes esta-
dos, de acordo com as regras de direito internacional vigentes,
terão suas relações reguladas pelo direito internacional consuetu-
dinário. Como o direito costumeiro é impreciso e caracterizado
por inúmeras incertezas, a doutrina e a prática internacionais po-
derão usar a Convenção de Viena, ainda que não tenha sido rati-
ficada ou entrado em vigor, como a principal fonte do direito
internacional em matéria de tratados.
As regras da Convenção de Viena, sobre o direito dos trata-
dos, vigorarão no futuro sempre que um ato internacional silen-
ciar em relação a certa questão.
Considero que a Convenção de Viena sobre o direito dos tra-
tados contribuirá para preencher as lacunas do direito e facili-
tará o desenvolvimento e a codificação do direito internacional.
17. Conclusão
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N estas condições, a codificação deverá realizar-se com base
em princípios fundamentais.
O costume continuará ainda, por algum tempo, a ser uma
das principais fontes do direito internacional. Entretanto, sua im-
portância deverá atenuar-se, na medida em que os estados con-
cluírem maior número de tratados internacionais, o que possibi-
litará a conversão de várias regras costumeiras em normas es-
critas.
Sem dúvida, a codificação levará em conta os princípios
clássicos e as regras costumeiras, toda vez que for preciso conser-
vá-las, sem contudo deixar de incorporar as novas normas, mais
adaptadas às contingências e técnicas de um mundo onde o dina-
mismo é a regra.
Os estados não desejam, simplesmente, modificar o direito
existente. A realidade é que as necessidades do mundo são tais,
que adota-se atualmente uma atitude bem mais dinâmica em
relação ao direito internacional.
Embora a codificação internacional esteja intimamente ligada
à concordância dos estados, pois é antes de tudo um assunto po-
lítico, é necessário ressaltar o grande esforço codificador que vem
sendo realizado pelas Nações Unidas, cujos resultados podem ser
comprovados pelas convenções de Genebra de 1958-60 sobre o
direito do mar; de Viena, em 1961-63 sobre direito diplomático e
consular e pela de 1969 sobre o direito dos tratados.
É evidente que a codificação não poderá abranger todos os
temas. Mesmo porque, em determinados assuntos, deverá ser
gradual e progressiva.
A soberania dos estados representa um sério obstáculo ao im-
pulso codificador, toda vez que surge a necessidade de conciliar
diferentes interesses em certas questões delicadas.
É preciso admitir que o direito internacional ainda é consti-
tuído por um sistema de regras e princípios jurídicos cuja apli-
cação depende em primeiro lugar dos estados, em virtude de sua
igualdade soberana.
Por esta razão, a sociedade internacional contemporânea acha
conveniente reconhecer a necessidade da adoção de uma outra
forma, mais eficaz, de respeito às regras e princípios jurídicos.
Daí porque, ultimamente, a conclusão e aplicação das con-
venções internacionais multilaterais são cada vez mais impor-
tantes.
Todavia, esse processo é ainda bastante lento e não pode ser
estendido, por razões políticas e jurídicas, a todos os domínios
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As convenções poderão ser, em consequencia, o instrumento
mais eficaz para a modernização do direito internacional tradi-
cional e contribuirão, certamente, para a elaboração de uma nova
ordem jurídica internacional, que terá nos tratados a fonte for-
mal mais importante do direito internacional.
Há, portanto, uma evidência a ser observada em relação ao
direito internacional moderno. É que as relações internacionais
são cada vez menos bilaterais e a solução dos problemas interna-
cionais exige a cada dia em maior grau acordos multilaterais.
Isso conduzirá à elaboração de um novo direito internacional,
baseado no equilíbrio entre a soberania dos estados e a coope-
ração internacional.
Pessoalmente, penso que a codificação gradual e progressiva
será um dos pilares do direito internacional, mas ela só deverá
ser realizada quando corresponder ao desenvolvimento do direito
internacional num dado setor.
Essas são algumas das observações que desejava fazer sobre
o tema palpitante que é o da codificação e desenvolvimento do
direito internacional.
B ONU S DA UNESCO