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Rio de Janeiro
2023
JÚLIA ALMEIDA DE AZEVEDO - DRE: 123500737
Rio de Janeiro
2023
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3
2 A NECROPOLÍTICA E O DIREITO............................................................................. 5
3 O DIREITO E A CEGUEIRA DE COR ......................................................................... 6
4 METODOLOGIA ............................................................................................................. 7
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 8
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 9
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1 INTRODUÇÃO
A ordem das coisas nem sempre foi da forma que conhecemos, mas caminharam
historicamente até atingirem o grau em que se encontram. É claro, que herdamos fatores
sociais desse processo evolutivo, principalmente se analisarmos sob o ponto de vista de
classes. Ainda temos presentes as vontades de classes dominantes que impuseram suas
condições durante esta caminhada.
Em seu livro Teoria Geral do Direito e Marxismo, Pachukanis faz menção ao Direito
como um legitimador das classes burguesas, que necessitam justamente desses poderes para
a vigência das desigualdades que os privilegia:
O estado jurídico é uma miragem que muito convém a burguesia, uma vez que substitui
a ideologia religiosa em decomposição e esconde aos olhos das massas o domínio da
burguesia. A essência do poder do estado como uma violência organizada de uma
classe da sociedade sobre as outras (PACHUKANIS, 1988).
a raça), e uma pessoa cuja vida não possui importância para esse ordenamento, a não ser como
mero interesse de apropriação como um maquinário para alcançar o lucro a partir da exploração.
Além disso, o direito contribui para as desigualdades sociais ao se abster de políticas
sociais que realmente visem a diminuição dessas disparidades e ao não garantir efetivamente os
direitos sociais, que apesar de serem estabelecidos por lei não passam de declarações meramente
formais, que não atingem a totalidade dos indivíduos. Seguindo consequentemente o histórico
de desequilíbrio e excluindo as classes que desde sempre foram excluídas, e continuarão sendo
enquanto for de interesse de um grupo essa exclusão.
2 A NECROPOLÍTICA E O DIREITO
Assim fica concluído que certas pessoas nascem com o privilégio de serem protegidas
estatalmente, fato que é uma herança histórica, e que outras nascem sem esse privilégio. O “não
privilégio” daquele que é visto como “o outro”. Nesse viés, o poder de determinar quem vai
sobreviver e quem vai morrer é nominado por Achille Mbembe como Necropolítica.
Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (2/11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública aponta que cerca de 60% dos brasileiros concordam com a frase “bandido bom
é bandido morto”. Os que discordam da afirmação representam 34% dos
entrevistados, e 6% disseram não ter opinião formada (JUSBRASIL, 2016).
Assim, o direito ao não adotar medidas que vão contra esse cenário contribui para o
poder de escolha de quem deve morrer, para a eliminação dos excluídos considerados sem valor.
O maior exemplo dessa realidade são as operações policiais que resultam em mortes de
inocentes, que claramente não ferem ou afetam o estado ou o direito. A morte de Agatha Félix
é um exemplo claro da aplicação da necropolítica, criança negra de 8 anos que cumpria o perfil
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de pessoas que estão submetidos à necropolítica das ações policiais. Segundo matéria publicada
pelo BBC NEWS Brasil “A menina de oito anos foi atingida por tiros nas costas enquanto estava
dentro de uma kombi, no Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio”.
O daltonismo racial possui como composição da sua concepção o fato de que todos
são vistos igualmente. Todos são percebidos dentro da sociedade, entretanto, o fato de
todos serem vistos igualmente impõe um desdobramento perigoso: a ignorância quanto
ao conceito de raça, dentro de uma sociedade solidamente racista (Alexander, 2017).
tomadas pelo racismo e pelas desigualdades sociais presentes. Essa legitimação do racismo
pelas esferas jurídicas foi mencionada pela escritora comunista Ângela Davis, em seu livro
“Mulheres, raça e classe”, no qual a mesma contesta as ações descomedidas cometidas por
classes dominantes e que são protegidas pelo direito:
Parece que homens da classe capitalista e seus parceiros de classe média são imunes
aos processos judiciais porque cometem suas agressões sexuais com a mesma
autoridade incontestada que legitima suas agressões diárias contra o trabalho e a
dignidade de trabalhadoras e trabalhadores (DAVIS, 1981, p. 201).
Assim, fica clara a abordagem de neutralidade racial por parte do Estado quando não
julgam casos, que claramente são motivados pelo racismo, como fruto de preconceitos raciais
enraizados. Casos como o de Fernando Silva dos Santos, homem negro acusado de roubar em
loja, são exemplos disso. A vítima desse caso tinha acabado de comprar uma mochila na loja e
foi julgado como criminoso por segurança, como o mesmo explica em entrevista publicada pelo
G1:
“Eu tinha comprado a mochila aqui dentro, e ele [um segurança] dizendo que eu tinha
roubado um par de tênis aqui dentro. Quando eles abriram, que não viram nada, que
não tinham nada, só meu par de tênis e as minhas roupas, eles ficaram desesperados
porque viram que eu não tinha roubado nada lá dentro. E eu falei: ‘É porque eu sou
preto?’” (G1, 2021).
4 METODOLOGIA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essa pesquisa, é possível entender um pouco mais acerca da estrutura social e como
o direito, na sua face conservadora e burguesa, possui um papel fulcral dentro dessa
engrenagem. Engrenagem presente desde o início de nossa sociedade, em que sempre houve a
dominação de um grupo sobre o outro. Fica claro também que o enriquecimento de uma classe
e o empobrecimento de outra são fatos que estão intrinsicamente relacionados, uma vez que as
péssimas condições de vida proporcionadas estrategicamente pelo Estado para certos grupos
facilitam uma exploração que gerará o enriquecimentos dos interessados envolvidos.
Ademais, ficou claro após a análise feita os mecanismos utilizados pelo direito, como a
neutralidade racial e a necropolítica, que legitimam e perpetuam as disparidades sociais que,
como foi dito anteriormente, são benéficas para essas classes dominantes que se apoderam
dessas desigualdades para gerar proveito próprio, não sendo portanto interessante mudar o atual
cenário.
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REFERÊNCIAS
"Bandido bom é bandido morto", dizem 60% dos brasileiros. Jusbrasil, 2016. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/noticias/bandido-bom-e-bandidomorto-dizem-60-dos-
brasileiros/401711699
ASSIS, Marselha Silvério, Direito e estado sob a óptica de Karl Marx. Revista Sociologia
Jurídica. - ISSN: 1809-2721. Disponível em:
Caso João Pedro: quatro crianças foram mortas em operações policiais no Rio no último ano.
http://www.sociologiajuridica.net.br/numero10/234-assis-marselha-silverio-dedireitoeestado-
sob-a-optica-de-karl-marx Acesso em 09 de Junho de 2015.
MARX, Karl Heinrich (1818-1883); ENGELS, Friedrich (1820-1895). A ideologia alemã; Ed.
Ridendo Castigat Mares, 1999.
PACHUKANIS, E. B., Teoria geral do direito e marxismo. São Paulo: Acadêmica, 1988.