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BRASÍLIA
2022
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INTRODUÇÃO
“Uma vez que ele chegou a sua formulação de sociedade capitalista como uma sociedade de
classes, dominada pela burguesia, seguiu-se necessariamente a sua visão de que o Estado é
a expressão política dessa dominação. Na verdade, o Estado é um instrumento essencial de
dominação de classes na sociedade capitalista. Ele não está acima dos conflitos de classes
mas profundamente envolvido neles. Sua intervenção no conflito é vital e se condiciona ao
caráter essencial do Estado como meio de dominação de classe" (CARNOY, 1990, p 67).
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Por este motivo, a crise democrática pode ser percebida em diversos países
capitalistas. Esta onda global pode ser entendida dentro da perspectiva Pós-
democrática como consequência direta do neoliberalismo. Isso porque, a separação
entre política e economia é uma divisão liberal artificial.(WOOD, 2011) Na prática, o
poder das corporações e firmas globais, contribuem para o processo de
esvaziamento da substância da democracia, já que esses atores participam
ativamente do processo político, tendo um enorme peso na política estatal.
(CROUCH, 2011)
O neoliberalismo é uma racionalidade política, onde ocorre uma
reprogramação do Estado, o mercado passa a agir como eixo central e regulador da
vida social.Sendo assim, o Estado se isenta de suas responsabilidades como
provedor de direitos, passando a agir pela priorização dos lucros, o que acaba por
conceder poder político as grandes corporações e firmas globais. (BALLESTRIN,
2018)
É importante entender que a classe dominante paga um custo para viver em
democracia, já que em contextos de grandes desigualdades, como é o caso
brasileiro, a democracia tende a fazer uma maior redistribuição do ingresso em favor
aos setores mais pobres. Por este motivo, o autoritarismo é mais favorável à elite, já
que o mesmo preserva as desigualdades e suprime a participação popular. (PEREZ-
LIÑAN, 2017) O neoliberalismo acaba por assim, se tornar um problema para a
democracia liberal, já que, “Na medida em que potencializa a desigualdade na
distribuição de recursos variados - riqueza, educação, informação, direitos, entre
outros -, o capitalismo de mercado estipula uma espécie de limite para a
democratização das sociedades.” (BALLESTRIN, 2018. p.152)
Entretanto, apesar do autoritarismo, totalitarismo e populismo ganharem
forças na pós-democracia, podendo ganhar um perigoso espaço dentro das
instituições democráticas, a Pós-democracia não significa a extinção da democracia
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“A conjuntura pós-democrática atual pode ser caracterizada a partir de uma série de eventos
que sugerem a escalada global de a) um recuo democrático no seu sentido hegemônico e
formal, possibilitado por dentro das próprias instituições democráticas; b) a crescente
autorização pública de ascensão de discursos autoritários, antidemocráticos e anti-
humanistas, com apelo e adesão popular/populista; e) a crescente colonização da esfera
econômica internacional sobre a vida política nacional; d) o espraiamento da razão neoliberal
para todas as esferas da vida pessoal e coletiva. inclusive política: e) o esvaziamento da
política e da democracia.” (BALLESTRIN, 2018. p.157)
que a democracia é uma exceção a realidade brasileira, que sempre esteve em uma
relação complicada com a democracia. “Afinal, pode-se falar em pós-democracia em
contextos onde a própria noção de democracia liberal esteve em grande parte
ameaçada pelo autoritarismo, desigualdade e violência? Sob essa perspectiva, as
sociedades pós-coloniais não poderiam espelhar realidades pós-democráticas,
somente apresentar desvios e exceções democráticas em sua longa, oscilante e
vulnerável história em busca de democracia.” (BALLESTRIN, 2018. p.161)
Contudo, apesar de não haver um diagnóstico claro para a realidade
brasileira, é notável a existência de uma crise democrática dentro da mesma.
- Outsiders: Conhecidos pelo mito da "nova classe média" ou apenas como “ex-
pobres”, grupo de pessoas que ascenderam socialmente, aumentando sua renda e
consumo, passando a disputar espaços sociais e bens de consumo com os
estabelecidos. (COSTA, 2018)
- Estabelecidos: Podem ser descritos como aqueles que em 2003 já ocupavam,
no modelo de 5 classes de renda A a E, a posição C, B ou A (excluindo os
milionários). (COSTA, 2018)
- Milionários: 1% dos mais ricos da população brasileira. (COSTA, 2018)
“1. Riqueza material, incluindo-se aqui patrimônio, meios de produção, rendimentos e outros
ativos que, conforme elaborou Kreckel (1992), podem ser convertidos ou ao menos
expressos em dinheiro.
2. Posições ocupadas em organizações hierárquicas e espaços valorizados socialmente. O
impacto sobre as desigualdades sociais das posições ocupadas por indivíduos em
organizações do mundo do trabalho ou de outras esferas da vida social, as quais, seguindo a
“ideologia meritocrática” (Kreckel, 1992) estão vinculadas a diferentes níveis de prestígio,
poder e compensação, já está bastantante estudado e conhecido. Cabe, contudo, no caso
brasileiro, ampliar o alcance deste vetor para que possa abranger espaços sociais
organizados hierarquicamente, mesmo que não configurem uma organização. Trata-se, aqui,
de espaços de lazer (clubes recreativos, casas de shows etc.), ou mesmo de compras e
prestação de serviços (shopping centers, aeroportos) nos quais vigoram critérios
discricionários (econômicos ou informais) de acesso (Caldeira, 2014). Frequentar estes
espaços conforma uma dimensão importante da experiência de classe no Brasil. Por
decorrência, impedir o acesso de novos aspirantes a tais espaços representa uma forma
particular de encerramento social.
3. Conhecimento socialmente valorizado: trata-se de categoria ampla que expressa, conforme
mostrou Kreckel (1992), a detenção de capacitações valorizadas e requeridas no capitalismo
contemporâneo. De maneira geral, o equivalente geral correspondente a este vetor são os
diplomas e títulos. Contudo, é preciso ter em conta que, no caso brasileiro, diplomas e anos
de escolaridade não representam equivalentes gerais com consequências imediatas para a
mobilidade social. A forte heterogeneidade da qualidade da educação recebida pelos
diferentes estratos e classes sociais funciona, na maioria das vezes, como instrumento de
encerramento social fazendo com que a escolaridade mais valorizada socialmente percebida
pelos mais ricos permita a estes garantir suas altas posições nas hierarquias sociais (ver,
entre outros, Quadros, 2008).
4. Acesso a associações exclusivas: esta dimensão é traduzida em diferentes graus de
pertença a grupos (étnicos, de gênero, regionais, etc.), em geral informalmente estabelecidos,
e que garantem vantagens e privilégios a seus membros (Weber, 1956 [1922]; Kreckel,1992).
Para o estudo do caso brasileiro, cabe destacar a existência de ao menos dois tipos de
associações informais com enorme impacto para as desigualdades existentes: as alianças
informais organizadas por gênero e ou raça que garantem a reprodução das assimetrias em
favor dos homens e dos brancos (Costa, 2017) e as associações entre grandes empresas e
partidos e políticos individuais com o objetivo de transferir, ilegalmente, recursos do Estado
para agentes políticos e econômicos, conforme descrito mais abaixo.
5. Direitos existenciais: este vetor expressa a “alocação desigual da realização pessoal, isto
é, da autonomia, da dignidade, dos graus de liberdade e dos direitos de respeito e
autodesenvolvimento” (Therborn, 2013:49). No caso brasileiro, a porcentagem significativa da
população economicamente ativa alocada no setor informal, sem nenhuma garantia
trabalhista, a violação sistemática dos direitos civis de parte da população por agentes
estatais e privados e o acesso muito desigual à justiça obrigam a tratar as hierarquias
existenciais como uma dimensão própria e fundamental das desigualdades existentes no
Brasil.” (COSTA, 2018, p.505-506)
onde representavam cerca de 25% da renda total dos brasileiros (MILÁ, 2015). O
que garantiu estabilidade política ao Partido dos Trabalhadores, pelo menos até
2013, já que os outros vetores determinantes de desigualdade continuaram estáveis
para esta poderosa classe. (COSTA, 2018)
A partir de junho de 2013, começa a surgir uma onda de protestos e
passeatas, inicialmente como um movimento pela gratuidade do transporte público
para os estudantes, mas aos poucos a onda de protestos vai ganhando um caráter
mais à direita, se intensificando e se tornando uma crítica generalizada ao Partido
dos Trabalhadores. (COSTA, 2018)
Mas é a partir de 2014 que a cena política muda, com uma crise econômica
que afeta todas as classes, e a crise política, dada a abrangente investida contra a
corrupção, que combinava ações do Judiciário, Ministério Público e a Polícia
Federal. (COSTA, 2018)
"A agudização da crise econômica faz com que todos os grupos, com especial ênfase nos
outsiders, percam riqueza. O corte de vagas de trabalho no mercado formal produz a perda
de direitos existenciais, sobretudo, para os pobres e os outsiders. Os estabelecidos, mesmo
que se tornem menos ameaçados pelos outsiders, também decaem socialmente, na medida
em que a recessão avança. Por fim, os milionários, que até então haviam ganhado em todos
os níveis da desigualdade durante os governos do PT, perdem ao menos parte de suas
associações seletivas na medida em que as investigações de corrupção avançam e suas
redes criminosas com o Estado e com a política são desmanteladas.” (COSTA, 2018, p.522 -
523)
(Referente ao texto “Estrutura Social e Crise Política no Brasil”, COSTA, 2018, p. 517)
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CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ABDAL, Alexandre e NAVARRA, Julia. “Uni por uni, eu escolhi a que era do lado
da minha casa: deslocamentos cotidianos e o acesso, a permanência e a
fruição da universidade por bolsistas do Prouni no ensino superior privado”.
Novos Estudos, n°99, 2014.