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Universidade de Brasília

Instituto de Ciências Políticas


Disciplina: Introdução a Ciência Política - Turma O

Ana Lívia de Oliveira Carvalho (211059988)


Pablo Cerrado Rodrigues Silva (211060352)

"Existe uma crise da democracia em curso no Brasil atual?"

BRASÍLIA
2022
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INTRODUÇÃO

O objetivo desse ensaio é demonstrar através dos textos de Carnoy, Ballestrin


e Costa como existe uma crise na democracia brasileira, tendo em vista seu
desenvolvimento através do capitalismo, mostrando como desde o estabelecimento
da indústria moderna e do mercado mundial, a elite tem concentrado, no Estado
moderno, o exclusivo poder político, e como esse poder não é inclusivo em relação à
participação popular dentro das decisões presentes na sociedade. Os elementos
democráticos vigentes no Brasil acabam por ser apenas uma fachada, que valida a
concentração do poder na mão da classe dominante, que visa a manutenção de
seus privilégios, por meios institucionais.

1 RELAÇÃO ENTRE CAPITALISMO, POLÍTICA E DEMOCRACIA

Segundo as observações de Carnoy sobre o texto de Marx, o Estado


capitalista, é como um braço de apoio às opressões. Nesse modelo de sistema as
opressões se escondem mais facilmente do que na sociedade escravagista, tendo
em vista a construção de um ideal presente na constituição, que predispõe em sua
formalidade, que todos os sujeitos são iguais e livres. Esse fator gera condição para
que os capitalistas explorem a força de trabalho dos proletários, de maneira discreta,
pelo fato de levar como ponto principal a ideia ilusória de que os trabalhadores são
livres, o que naturalmente os daria o direito de escolher para quem trabalhar. Porém
nesse modelo de sociedade, isso se revela, apenas como mais uma forma de
exploração. (CARNOY,1990)
O Estado surge então, como um modelo de representação das minorias
burguesas, que serve de instrumento para opressão. Levando em consideração que
o poder econômico e o poder político estão intimamente interligados, o que dá, para
a burguesia (que tem consigo o poder na medida que tem o controle dos meios de
produção de capital), uma grande influência nas medidas e leis que irão ser criadas
pelo aparato estatal.
Sendo assim, inclusive o modelo jurídico, é para o Estado um instrumento de
exploração do trabalho, na medida que controla e mantém um aparato de repressão
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para as ações que impedem ou dificultam o funcionamento da máquina de


reprodução econômica capitalista. (CARNOY, 1990)
A crise da democracia reside no lugar de entendimento de que ela não será,
de fato, representativa, enquanto a desigualdade ainda for presente, já que a mesma
não contempla toda a estrutura de classe presente no modelo social vigente. O
aparelho do Estado perpetua inclusive a não participação política do povo nas
decisões estatais, servindo como instrumento da burguesia para continuidade da
dominação.
Como observa Draper, no texto de Carnoy sobre o Estado e Teoria política:

“consiste na "utilização" pela classe dominante das formas democráticas (eleições


Parlamento) como meio para oferecer a ilusão de participação das massas no estado,
enquanto que o poder econômico da classe dominante garante a reprodução das relações
entre o capital e o trabalho na produção.” (CARNOY, 1990, 71-72).

Ou seja, dentro do modelo de democracia atual, a classe dominante utiliza de


meios democráticos como mais uma das formas de manipulação que visa perpetuar
a opressão presente na sociedade burguesa. Logo, o Estado, mesmo com suas
instituições democráticas, é nas sociedades capitalistas, controlado diretamente pela
classe burguesa, tendo como função principal dirigir a coerção: “não é o Estado que
molda a sociedade, mas a sociedade que molda o Estado. A sociedade, por sua vez,
se molda pelo modo dominante de produção e das relações de produção inerentes a
esse modo” (CARNOY, 1990, p. 66).
Além disso, há o equívoco de que o Estado seria uma instituição a par dos
antagonismos de classe, separado da sociedade civil, em que o mesmo, visaria o
bem comum, tendo como função apenas velar pelas condições de funcionamento
normal do mercado. Porém, o Estado atua por meio de pessoas, e não através de
uma máquina, que teria a efetividade da neutralidade.
Ademais, essas pessoas que representam o poder político, são também
pertencentes a classe dominante, visando apenas os próprios interesses, não
havendo assim, a inserção das classes trabalhadoras dentro da política. Logo, para
Marx, o Estado não representa o bem comum, como disse Carnoy:

“Uma vez que ele chegou a sua formulação de sociedade capitalista como uma sociedade de
classes, dominada pela burguesia, seguiu-se necessariamente a sua visão de que o Estado é
a expressão política dessa dominação. Na verdade, o Estado é um instrumento essencial de
dominação de classes na sociedade capitalista. Ele não está acima dos conflitos de classes
mas profundamente envolvido neles. Sua intervenção no conflito é vital e se condiciona ao
caráter essencial do Estado como meio de dominação de classe" (CARNOY, 1990, p 67).
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Sendo assim, pelo fato da burguesia ter controle no processo de produção


capitalista, ela acaba por estender seu poder ao Estado e suas instituições
democráticas. Dentro disso, fica evidenciado a crise na democracia como sendo a
crise da participação política dos oprimidos dentro da sociedade.

2 O BRASIL VIVE UMA PÓS-DEMOCRACIA?

Por este motivo, a crise democrática pode ser percebida em diversos países
capitalistas. Esta onda global pode ser entendida dentro da perspectiva Pós-
democrática como consequência direta do neoliberalismo. Isso porque, a separação
entre política e economia é uma divisão liberal artificial.(WOOD, 2011) Na prática, o
poder das corporações e firmas globais, contribuem para o processo de
esvaziamento da substância da democracia, já que esses atores participam
ativamente do processo político, tendo um enorme peso na política estatal.
(CROUCH, 2011)
O neoliberalismo é uma racionalidade política, onde ocorre uma
reprogramação do Estado, o mercado passa a agir como eixo central e regulador da
vida social.Sendo assim, o Estado se isenta de suas responsabilidades como
provedor de direitos, passando a agir pela priorização dos lucros, o que acaba por
conceder poder político as grandes corporações e firmas globais. (BALLESTRIN,
2018)
É importante entender que a classe dominante paga um custo para viver em
democracia, já que em contextos de grandes desigualdades, como é o caso
brasileiro, a democracia tende a fazer uma maior redistribuição do ingresso em favor
aos setores mais pobres. Por este motivo, o autoritarismo é mais favorável à elite, já
que o mesmo preserva as desigualdades e suprime a participação popular. (PEREZ-
LIÑAN, 2017) O neoliberalismo acaba por assim, se tornar um problema para a
democracia liberal, já que, “Na medida em que potencializa a desigualdade na
distribuição de recursos variados - riqueza, educação, informação, direitos, entre
outros -, o capitalismo de mercado estipula uma espécie de limite para a
democratização das sociedades.” (BALLESTRIN, 2018. p.152)
Entretanto, apesar do autoritarismo, totalitarismo e populismo ganharem
forças na pós-democracia, podendo ganhar um perigoso espaço dentro das
instituições democráticas, a Pós-democracia não significa a extinção da democracia
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em sua formalidade. Por isso, a mesma preserva alguns elementos democráticos,


como é evidenciado por Sintomer:

“A pós-democracia é um sistema no qual, aparentemente, nada muda em relação à


democracia ocidental clássica: seguem-se organizando eleições livres, o Poder Judiciário é
independente, os direitos individuais são respeitados. A fachada é a mesma, mas o poder
real está em outra parte. As decisões são tomadas pelas direções das grandes corporações
transnacionais, mercados, agências de classificação, organizações internacionais e
organismos tecnocráticos.” (SINTOMER, 2017. p. 31-32).

O diagnóstico de uma situação pós-democrática depende de uma série de


fatores, mas é possível traçar as principais características desse sistema, como
pode ser observado no trecho escrito por Luciana Ballestrin:

“A conjuntura pós-democrática atual pode ser caracterizada a partir de uma série de eventos
que sugerem a escalada global de a) um recuo democrático no seu sentido hegemônico e
formal, possibilitado por dentro das próprias instituições democráticas; b) a crescente
autorização pública de ascensão de discursos autoritários, antidemocráticos e anti-
humanistas, com apelo e adesão popular/populista; e) a crescente colonização da esfera
econômica internacional sobre a vida política nacional; d) o espraiamento da razão neoliberal
para todas as esferas da vida pessoal e coletiva. inclusive política: e) o esvaziamento da
política e da democracia.” (BALLESTRIN, 2018. p.157)

Porém, como é possível deduzir pelo próprio nome, a Pós-democracia é


sucessora de um Estado democrático. De acordo com o sociólogo Collin Crouch, um
dos principais pesquisadores sobre o tema, a Pós-democracia descreve o momento
onde a desilusão política se instaura após um período democrático. Segundo ele,
nesse momento pós-democrático o interesse da elite, a qual representa uma
pequena parte da população, se tornam mais ativos do que o da massa popular,
favorecendo as classes mais ricas da sociedade. (CROUCH, 2011) Por isso, é no
mínimo complicado dizer que o Brasil vive a Pós democracia, apesar de apresentar
características da mesma, já que o mesmo não viveu governos democráticos
duradouros e bem estabelecidos. Nunca tendo havido, de fato, um verdadeiro
estado de bem estar social como pôde ser observado nos países do norte global,
nem mesmo um expressivo protagonismo político da classe trabalhadora.
Sendo assim, apesar de alguns teóricos considerarem que o mesmo vive uma
Pós-democracia, marcada pelo golpe de 2016, fazendo as devidas ressalvas que o
país demanda, é possível, também, interpretar a realidade brasileira como uma crise
democrática permanente, tendo tido uma Intensificação da mesma desde 2016, já
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que a democracia é uma exceção a realidade brasileira, que sempre esteve em uma
relação complicada com a democracia. “Afinal, pode-se falar em pós-democracia em
contextos onde a própria noção de democracia liberal esteve em grande parte
ameaçada pelo autoritarismo, desigualdade e violência? Sob essa perspectiva, as
sociedades pós-coloniais não poderiam espelhar realidades pós-democráticas,
somente apresentar desvios e exceções democráticas em sua longa, oscilante e
vulnerável história em busca de democracia.” (BALLESTRIN, 2018. p.161)
Contudo, apesar de não haver um diagnóstico claro para a realidade
brasileira, é notável a existência de uma crise democrática dentro da mesma.

3 UMA EVIDÊNCIA DA CRISE DEMOCRÁTICA BRASILEIRA

O texto “Estrutura Social e Crise Política no Brasil” de Sérgio Costa, consegue


exemplificar esta crise, através do conflito, ocasionado pelas mudanças na estrutura
hierárquica das classes sociais durante o período de 2003 a 2018. No texto, o autor
traz, através de uma combinação das perspectivas marxistas e weberianas, a
divisão de 4 classes sociais, sendo elas: pobres, outsiders, estabelecidos e
milionários. Que podem ser entendidos de maneira simplificada, como:
- Pobres:
"população que vive no limite da linha de pobreza e que, ou vive de transferências
não apresentando rendimentos próprios e/ou ocupa as posições menos valorizadas
no mercado de trabalho, com forte participação no trabalho doméstico. É menos
escolarizada, não pertence a associações privilegiadas e seus direitos existenciais
são particularmente vulneráveis." (COSTA, 2018, p.510 e 511,)

- Outsiders: Conhecidos pelo mito da "nova classe média" ou apenas como “ex-
pobres”, grupo de pessoas que ascenderam socialmente, aumentando sua renda e
consumo, passando a disputar espaços sociais e bens de consumo com os
estabelecidos. (COSTA, 2018)
- Estabelecidos: Podem ser descritos como aqueles que em 2003 já ocupavam,
no modelo de 5 classes de renda A a E, a posição C, B ou A (excluindo os
milionários). (COSTA, 2018)
- Milionários: 1% dos mais ricos da população brasileira. (COSTA, 2018)

Os vetores determinantes de desigualdades que caracterizam e sustentam a divisão


dessas classes, são:
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“1. Riqueza material, incluindo-se aqui patrimônio, meios de produção, rendimentos e outros
ativos que, conforme elaborou Kreckel (1992), podem ser convertidos ou ao menos
expressos em dinheiro.
2. Posições ocupadas em organizações hierárquicas e espaços valorizados socialmente. O
impacto sobre as desigualdades sociais das posições ocupadas por indivíduos em
organizações do mundo do trabalho ou de outras esferas da vida social, as quais, seguindo a
“ideologia meritocrática” (Kreckel, 1992) estão vinculadas a diferentes níveis de prestígio,
poder e compensação, já está bastantante estudado e conhecido. Cabe, contudo, no caso
brasileiro, ampliar o alcance deste vetor para que possa abranger espaços sociais
organizados hierarquicamente, mesmo que não configurem uma organização. Trata-se, aqui,
de espaços de lazer (clubes recreativos, casas de shows etc.), ou mesmo de compras e
prestação de serviços (shopping centers, aeroportos) nos quais vigoram critérios
discricionários (econômicos ou informais) de acesso (Caldeira, 2014). Frequentar estes
espaços conforma uma dimensão importante da experiência de classe no Brasil. Por
decorrência, impedir o acesso de novos aspirantes a tais espaços representa uma forma
particular de encerramento social.
3. Conhecimento socialmente valorizado: trata-se de categoria ampla que expressa, conforme
mostrou Kreckel (1992), a detenção de capacitações valorizadas e requeridas no capitalismo
contemporâneo. De maneira geral, o equivalente geral correspondente a este vetor são os
diplomas e títulos. Contudo, é preciso ter em conta que, no caso brasileiro, diplomas e anos
de escolaridade não representam equivalentes gerais com consequências imediatas para a
mobilidade social. A forte heterogeneidade da qualidade da educação recebida pelos
diferentes estratos e classes sociais funciona, na maioria das vezes, como instrumento de
encerramento social fazendo com que a escolaridade mais valorizada socialmente percebida
pelos mais ricos permita a estes garantir suas altas posições nas hierarquias sociais (ver,
entre outros, Quadros, 2008).
4. Acesso a associações exclusivas: esta dimensão é traduzida em diferentes graus de
pertença a grupos (étnicos, de gênero, regionais, etc.), em geral informalmente estabelecidos,
e que garantem vantagens e privilégios a seus membros (Weber, 1956 [1922]; Kreckel,1992).
Para o estudo do caso brasileiro, cabe destacar a existência de ao menos dois tipos de
associações informais com enorme impacto para as desigualdades existentes: as alianças
informais organizadas por gênero e ou raça que garantem a reprodução das assimetrias em
favor dos homens e dos brancos (Costa, 2017) e as associações entre grandes empresas e
partidos e políticos individuais com o objetivo de transferir, ilegalmente, recursos do Estado
para agentes políticos e econômicos, conforme descrito mais abaixo.
5. Direitos existenciais: este vetor expressa a “alocação desigual da realização pessoal, isto
é, da autonomia, da dignidade, dos graus de liberdade e dos direitos de respeito e
autodesenvolvimento” (Therborn, 2013:49). No caso brasileiro, a porcentagem significativa da
população economicamente ativa alocada no setor informal, sem nenhuma garantia
trabalhista, a violação sistemática dos direitos civis de parte da população por agentes
estatais e privados e o acesso muito desigual à justiça obrigam a tratar as hierarquias
existenciais como uma dimensão própria e fundamental das desigualdades existentes no
Brasil.” (COSTA, 2018, p.505-506)

Para entender a trajetória dessas classes sociais durante o período de 2003


a 2018, é necessário entender o que foi o lulismo, que nasceu em 2003 com a
eleição do ex-presidente Lula.
O lulismo foi um sistema de poder extremamente bem sucedido, composto
por um pacto de classes, que mantinha uma política econômica ortodoxa, mas que
proporcionou um aumento real do salário mínimo e políticas sociais proporcionais ao
crescimento econômico alcançado, garantindo ganhos tanto para a parte mais rica
da população, quanto para os mais pobres. (COSTA, 2018)
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No meio institucional, esse pacto de classes era sustentado pelas alianças do


PT com partidos à direita, por meio do pagamento direto aos deputados, o que ficou
conhecido como mensalão, e pelos loteamentos de espaços de poder, o que mais
tarde ficou conhecido como “fabriquinhas”. (COSTA, 2018)
O sucesso desse sistema foi evidenciado com o crescimento de 64% do PIB
entre os anos de 2003 e 2013, além de garantir 4 mandatos ao PT, mesmo que em
2013 já fosse possível perceber os sinais do esgotamento do lulismo. (COSTA,
2018)
Nesse período, de 2003 a 2013, houve um progresso significativo para a
classe mais pobre da população, em relação à riqueza material, ao acesso ao
conhecimento e aos direitos existenciais. Já que, houve uma redução pela metade
da pobreza (CEPAL, 2016:8), um aumento médio em 1,5 anos de estudos dos 40%
mais pobres (IBGE,2015), além do aumento da formalização do trabalho e
ampliação de programas sociais. (COSTA, 2018)
Entre os anos de 2003 e 2011 surgiram cerca de 39,6 milhões de “outsiders”
(NERI, 2012:27), considerados “ex-pobres”, o que significou um aumento da renda e
de seu poder de consumo. Consequentemente, houve um aumento significativo dos
direitos sociais desse grupo, que agora ascendiam dentro dos espaços hierárquicos
que antes eram reservados aos estabelecidos. Além disso, os “outsiders”
começaram a ocupar cada vez mais espaço dentro das universidades, por
consequência da implementação da política de cotas nas universidades públicas e
do financiamento nas privadas (ADBAL E NAVARA, 2014). (COSTA, 2018)
Apesar de ter havido um crescimento da riqueza de quem tinha renda média e
alta dentre anos de 2003 e 2014 (Castro, 2014) e um aumento de 1 ano de estudo
para os estabelecidos entre os anos de 2003 e 2013, os mesmos tiveram seu
acesso às universidades reduzidos, além de uma relativa perda de posição em
relação aos contextos hierárquicos e nas associações seletivas. Tudo isso, por
consequência da ascensão dos “outsiders”, o que gerou um ódio dos estabelecidos
em relação aos mesmos. Além, do ganho de direitos dos trabalhadores domésticos,
que ocasionaram a perda de posição social das classes médias. Essas perdas dos
estabelecidos foram essenciais para despertar o início do antipetismo. (COSTA,
2018)
A riqueza material dos milionários voltava a subir, depois da queda que
tiveram entre os anos de 1987 e 2005, atingindo seu ápice em 2011 e, em 2012,
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onde representavam cerca de 25% da renda total dos brasileiros (MILÁ, 2015). O
que garantiu estabilidade política ao Partido dos Trabalhadores, pelo menos até
2013, já que os outros vetores determinantes de desigualdade continuaram estáveis
para esta poderosa classe. (COSTA, 2018)
A partir de junho de 2013, começa a surgir uma onda de protestos e
passeatas, inicialmente como um movimento pela gratuidade do transporte público
para os estudantes, mas aos poucos a onda de protestos vai ganhando um caráter
mais à direita, se intensificando e se tornando uma crítica generalizada ao Partido
dos Trabalhadores. (COSTA, 2018)
Mas é a partir de 2014 que a cena política muda, com uma crise econômica
que afeta todas as classes, e a crise política, dada a abrangente investida contra a
corrupção, que combinava ações do Judiciário, Ministério Público e a Polícia
Federal. (COSTA, 2018)

"A agudização da crise econômica faz com que todos os grupos, com especial ênfase nos
outsiders, percam riqueza. O corte de vagas de trabalho no mercado formal produz a perda
de direitos existenciais, sobretudo, para os pobres e os outsiders. Os estabelecidos, mesmo
que se tornem menos ameaçados pelos outsiders, também decaem socialmente, na medida
em que a recessão avança. Por fim, os milionários, que até então haviam ganhado em todos
os níveis da desigualdade durante os governos do PT, perdem ao menos parte de suas
associações seletivas na medida em que as investigações de corrupção avançam e suas
redes criminosas com o Estado e com a política são desmanteladas.” (COSTA, 2018, p.522 -
523)

(Referente ao texto “Estrutura Social e Crise Política no Brasil”, COSTA, 2018, p. 517)
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Neste momento de crise, a classe dos milionários começa a se articular


através de suas entidades representativas com a FIESP, exigindo publicamente a
destituição da presidência. Segundo Sérgio Costa, o descontentamento dos
estabelecidos, também foi crucial, para que o golpe acontecesse, devido a forte
influência desses grupos nos meios de comunicação de massas. (COSTA, 2018)
Neste sentido, fica claro que a decisão política está, de fato, na mão da classe
dominante, já que, "Quando entenderam que os interesses do capital se
encontravam ameaçados e seus canais privilegiados de acesso ao Estado foram
obstruídos, eles entraram na luta política que se desenrolava na esfera pública,
decidindo o jogo a seu favor.” (COSTA, 2018, p.523). O impeachment da Dilma e os
governos posteriores, são nada mais, que uma medida de manutenção dos
privilégios desta classe dominante.

CONCLUSÃO

Dessa forma, tendo em observação a condição política vigente no Brasil, a


teoria de manipulação de massa de forma coercitiva, de Marx e Engels, o contexto
pós democrático, proporcionado pela ascensão do neoliberalismo, descrito por
Luciana Ballestrin, e a estrutura social brasileira, descrita por Sergio Costa. Conclui-
se que existe uma manipulação das elites, na política brasileira, prezando pela
manutenção de seus privilégios dentro da sociedade, fator este, que provém do
sistema capitalista, que oprime as classes mais pobres.
Tendo em vista esse contexto, não parece haver outra solução para a crise,
que não seja por meio de criação e/ou fortalecimento de movimentos sociais,
sindicatos e organizações não vinculadas ao Estado, com o objetivo principal de
inserção da política no conhecimento das massas como parte de seu dia a dia,
respeitando as limitações presentes na implementação dessa ideia. Levando
conhecimento de múltiplas formas, a diversas instituições e espaços presentes no
cotidiano popular, a fim de aproximar as pessoas da realidade política brasileira.
Mostrando como a aproximação com o tema, pode ajudar na melhoria de sua
qualidade de vida, e que com a pressão popular organizada, se pode mobilizar uma
sociedade inteira. Com a finalidade de incorporar nas instituições políticas e em seus
projetos, medidas que visem a diminuição das desigualdades sociais, com reformas
que garantam a inserção das classes populares dentro das mesmas.
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REFERÊNCIAS

ABDAL, Alexandre e NAVARRA, Julia. “Uni por uni, eu escolhi a que era do lado
da minha casa: deslocamentos cotidianos e o acesso, a permanência e a
fruição da universidade por bolsistas do Prouni no ensino superior privado”.
Novos Estudos, n°99, 2014.

BALLESTRIN, Luciana. O Debate Pós-Democrático no Século XXI. em: Revista


Sul-Americana de Ciência Política, v. 4, n. 2, 2018.

CARNOY, Martin. “Marx, Engels, Lênin e o Estado”, em: Estado e Teoria


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CROUCH, Colin. The strange non-death of neoliberalism. Cambridge: Polity


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