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Introdução
DISCIPLINA
SOCIOLOGIA E OS ASPECTOS DA
SEGURANÇA PÚBLICA
CONTEÚDO
Encarceramento em Massa
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Sociologia e os Aspectos da Segurança Pública |
Introdução
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Introdução
1 Sumário
2 Introdução ................................................................................................................. 4
3 Encarceramento em Massa ........................................................................................ 5
4 Segurança Pública no Brasil ....................................................................................... 6
5 Desigualdade Social ................................................................................................... 7
5.1 Da superpopulação carcerária .................................................................................................. 8
5.2 Perfil da População Carcerária ................................................................................................ 11
6 Encarceramento em Massa e Encarceramento em Pobreza ...................................... 12
6.1 Desafios e Soluções ................................................................................................................ 15
7 Conclusão ................................................................................................................ 17
8 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 17
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Introdução
2 Introdução
O renomado sociólogo e criminologista Jock Yong discorre em sua obra intitulada
“Sociedade Excludente” (2002) sobre o aumento considerável da taxa de crimes
registrados após a década de 1960 na maioria dos países industriais e sobre como
este, dentre outros fatores, impulsionou uma reavaliação do sistema de justiça
criminal. Tomando por base a teoria da causalidade, o autor descreve como esse
problema contradizia a crença de que a criminalidade resultava de más condições
sociais, dado que eclodia em um período em que o Ocidente prosperava, de pleno
emprego.
Nesse sentido deram início aos debates acirrados entre as doutrinas classicista e
positivista quanto a natureza do crime, o papel da justiça criminal e “a possibilidade,
pela intervenção do governo, de um contrato social dos cidadãos. Explica o autor que
esse processo abrangeu, além dos estudos da criminologia, todas as outras áreas das
políticas sociais, “pois o crime e as ansiedades que o circundam são, como sempre, a
rosa-dos-ventos a mudar em nossa sociedade”.
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Encarceramento em Massa
3 Encarceramento em Massa
O termo aprisionamento em massa, ou encarceramento em massa como
popularmente utilizado no Brasil, surgiu, nos Estados Unidos, em meados da década
de 1970 e pode ser caracterizado a partir de sua manifestação mais acentuada que é
“uma taxa de encarceramento historicamente sem precedentes, altamente
concentrada em comunidades específicas” (BROWN, 2017, p. 495), fenômeno este que
pode ser encontrado de forma acentuada em diversos países ocidentais pós-coloniais.
A discussão desse tema é muito importante, pois aborda questões sobre políticas de
ressocialização, inclusão social, relações de segurança pública, entre outros.
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O tema não recebe muita atenção na ceara Penal ou Processual Penal, o que se
percebe é uma discussão em torno da polícia em si, das atividades que desempenha
e de soluções teóricas para a criminalidade ou debates sobre as leis penais, sobre o
funcionamento de institutos tais como a pena restritiva de liberdade e a multa.
Contudo, a segurança pública passa negligenciada. Nos termos de Nucci, “não há
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Desigualdade Social
5 Desigualdade Social
O tema da desigualdade social exige um entendimento prévio sobre a cidadania que
pode ser definida como o conjunto de direitos e deveres que o indivíduo que vive em
sociedade exerce. A expressão vem do latim civitas, que quer dizer cidade.
Assim, a cidadania é também o direito que o indivíduo tem de exercer livremente seus
direitos e deveres. A cidadania existe na conformidade da Lei, no seu aspecto formal,
como garantido e apresentado na lei, e no aspecto material (a prática) que diz respeito
às condições de acesso aos direitos e benefícios. Contudo, existe uma questão de
desigualdade em relação ao acesso que desencadeia um problema social e acentua
questões relacionadas à injustiça.
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Assim, embora o Estado oferte aos cidadãos direitos iguais, existe uma discrepância
de oportunidades e condições. Por exemplo, quem faz parte do grupo de baixa renda
não tem condições de pagar um bom advogado que esquadrinhe os pormenores e as
entrelinhas para criar condições de uma liberdade provisória ou um pedido de habeas
corpus. Isso faz com que muitas vezes o indivíduo dependa da defensoria, que tem
milhares de casos para cuidar. Assim, esse indivíduo, que não tem condições de renda,
não tem quem perturbe o Poder Público por ele. Ou seja, a lei é igual para todos, mas
não são todos que tem as mesmas condições e oportunidades e dinheiro para pagar
um bom advogado e ter acesso a uma defesa que se preocupe realmente em fazer o
máximo possível para garantir ao seu cliente o mais favorável. A lei é igual para todos,
o que não existe de forma igualitária é a oportunidade e a condição de garantir o
acesso àquilo que a lei diz ser direito de todos.
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Segundo levantamento feito pelo jornal G1 em maio de 2021, atualmente, o Brasil tem
322 pessoas presas para cada 100 mil habitantes, considerando-se o número de
presos dentro do sistema prisional, apontando apara um déficit de 241.652 vagas nas
cadeias. Os estados mais superlotados do Brasil são Amazonas (196,2%); Mato Grosso
do Sul (165,5%); Pernambuco (141,4%); Distrito Federal (114,2%); e Alagoas (106,2%).
Estudos vêm apontando, ainda, como maior motivo para as prisões no Brasil o tráfico
de drogas, que teve um aumento significativo desde que passou a vigorar a Lei de
Drogas em 2006. Em São Paulo, por exemplo, é responsável por 40,5% das prisões,
seguido do crime de roubo (26,1%) e furto (10,1%). O crime de homicídio ocupa a 4ª
posição com 7,6%.
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Desigualdade Social
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Quanto à faixa etária, o relatório mostra que a maior parte da população carcerária do
Brasil é composta por jovens entre 18 a 29 anos de idade. “Entre estes, 29,9% possuem
entre 18 a 24 anos, seguido de 24,1% entre 25 a 29 anos e 19,4% entre 35 a 45 anos.
Somados o total de presos até 29 anos de idade totalizam 54% da população
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Isso mostra que existe um perfil étnico, mas também um perfil social e, por que não
dizer, um perfil econômico em relação à população carcerária no Brasil. É no que
concerte esse aspecto, essa realidade que abordaremos na sequência a obra de Juliana
Borges sobre o encarceramento em massa pelo ângulo sociológico de análise da
estrutura, dos perfis étnicos, econômicos e sociais quando falamos da população
carcerária.
LEI N. 3.353/88
ART. 1º É DECLARADA EXTINTA, DESDE A DATA DESTA LEI, A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.
ART. 2º REVOGAM-SE AS DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO.
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Por não haver nenhuma regulamentação ou provisão para o sistema de inclusão das
pessoas que até então eram escravas na sociedade brasileira, do dia para a noite, essas
pessoas perderam seus trabalhos, sua fonte de sustento, sua alimentação, moradia e
vestimenta, ou seja as poucas coisas que recebiam do seu senhor em troca do trabalho
escravo. Além disso, esses indivíduos não tinham acesso à educação, não recebendo
nenhuma instrução para entrar no mercado de trabalho, portanto não estavam
preparados para competir como os filhos dos brancos.
Agora toda a mão de obra até então escrava estava livre e lançava-se ao mercado de
trabalho, muitas vezes tendo que se submeter a condições degradantes para manter
a sua sobrevivência. Muitos libertos abandonaram as fazendas em que foram
escravizados e se distanciaram delas a procura de melhores salários. Contudo, esse
movimento migratório de ex-escravos gerou muita revolta por parte dos grandes
latifundiários, que começaram a pressionar as autoridades para reprimir o movimento.
Com isso, muitos desses homens e mulheres que estava a procura de melhores
condições passaram a ser taxados de vagabundos por não aceitarem as condições
impostas pelos proprietários, e com isso sofriam muita repressão.
Como consequência dessa relação, com homens e mulheres negras sendo submetidos
a trabalhos que proporcionavam um mínimo salário, dessa forma, tendo que
sobreviver muitas vezes em condições desumanas, não podendo proporcionar aos
seus filhos condições que lhes permitissem prosperar socialmente, perpetuava-se a
pobreza, desencadeando um problema social.
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São diversos os fatores podem ter influenciado diretamente nesse processo e que
contribuem para a segregação dos sujeitos, tais como a ênfase na guerra às drogas, a
ampliação de políticas neoliberais, e criminalização da pobreza, entre outros. A lei
antidrogas, por exemplo, é um fator que contribuiu para a ampliação da população
carcerária, que, no entanto, tem uma atuação mais intensa muito mais voltada para o
alcance de uma solução imediata que atinge apenas a extremidade do problema, cujo
âmago permanece intocado. A autora explica que
O sistema de justiça criminal tem profunda conexão com o racismo, sendo o funcionamento
de suas engrenagens mais do que perpassados por esta estrutura de opressão, mas o aparato
reordenado para garantir a manutenção do racismo e, portanto, das desigualdades baseadas
na hierarquização racial. Além da privação de liberdade, ser encarcerado significa a negação
de uma série de direitos e uma situação de aprofundamento de vulnerabilidades (ibd.)
Juliana Borges defende que, em virtude do estigma social que existe em relação ao
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Conforme defende Juliana Borges, precisamos repensar o sistema de justiça para que
este se reorganize não pela punição como forma de vingança, mas principalmente
pela restauração e pela conciliação. Partindo desse pressuposto, a solução para o
problema do encarceramento em massa não seria aumentar o número de vagas em
penitenciárias ou ampliar essas instituições. A despeito desse sistema punitivo e da
aplicação de penas, a criminalidade e a violência continuam ocorrendo em escala
ampla; os direitos continuarão sendo lesados e as prisões superlotadas.
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O autor defende, ainda, que diante do argumento de que existe um elevado número
de presos provisórios, é válido ressaltar que estes “não podem ser incluídos na
população carcerária de quem já é definitivamente condenado. Afinal, a qualquer
momento, o preso provisório pode ser liberado por habeas corpus ou outra decisão
judicial. Enfim, esse número é variável”.
Ora, já há previsão de penas alternativas para os crimes cujas penas máximas não ultrapassem
4 anos de reclusão (ou detenção), atingindo inúmeros delitos. Outros crimes violentos contra
a pessoa ou com penas superiores a 4 anos (crimes graves) só podem seguir para o regime
carcerário. Para o Brasil diminuir os seus 325.917 presos em regime fechado, seríamos
obrigados a dar pena alternativa para roubo, extorsão, homicídio, estupro, furto qualificado,
tráfico de drogas etc.? É isso mesmo que a sociedade almeja de seus governantes?
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Conclusão
7 Conclusão
A questão do encarceramento em massa fomenta debates acirrados entre em diversas
esferas intelectuais, sendo objeto de exposição de doutrinadores, sociólogos, ativistas,
e escritores de modo geral. Contudo, observamos que existem grande dificuldade em
encontrar dados precisos e confiáveis que demonstrem a real situação carcerária do
país, tendo em vista que as atualizações nos meios de divulgação desses dados não
ocorrem em tempo real, que há um número variável de presos provisórios, e que
outros meios diversos dos oficiais fazem o levantamento de dados, mutas vezes
tensionando para o discurso que se pretende emitir.
À parte esses fatores, podemos constatar que existe um problema no sistema criminal
brasileiro, um problema de superlotação nas prisões, e um problema na segurança
pública. Todos esses temas, além de outros pertinente ao caso, envolvem pensar em
soluções para problemas que estão muito além da superfície, enraizados na sociedade
desde os tempos coloniais.
8 Referências Bibliográficas
BORGES, J. O que é: encarceramento em massa? Belo Horizonte: Letramento:
Justificando, 2018.
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