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Conceitos Básicos de Responsabilidade

Civil e Penal

Luiz Carlos Garcia

Formação Inicial e
Continuada

+
IFMG
Luiz Carlos Garcia

Conceitos Básicos de Responsabilidade Civil e Penal


1ª Edição

Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
© 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
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Diretor de Programas de Extensão Niltom Vieira Junior
Coordenação do curso Luiz Carlos Garcia
Arte gráfica Ângela Bacon
Diagramação Eduardo dos Santos Oliveira

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G216c Garcia, Luiz Carlos.


Conceitos básicos de responsabilidade civil e penal [recurso
eletrônico] / Luiz Carlos Garcia. – Belo Horizonte : Instituto
Federal de Minas Gerais, 2021.
57 p. : il.

E-book, no formato PDF.


Material didático para Formação Inicial e Continuada.
ISBN 978-65-5876-098-6

1. Direito civil. 2. Direito penal. 3. Responsabilidade


(Direito). I. Título.

CDU 347+343

Catalogação: Aline M. Sima - CRB-6/2645

Índice para catálogo sistemático


Direito Civil - 347+343

2021
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Palavra do autor

É com muito entusiasmo que oferecemos o curso “Conceitos Básicos de


Responsabilidade Civil e Penal”, direcionado para debater e esclarecer
profissionais da Engenharia e correlatos sobre as possibilidades da
responsabilização jurídica, com especial enfoque na responsabilidade civil e
criminal.
Trata-se de um material direcionado, com conceitos importantes e
basilares, trabalhados de forma clara, com exemplos práticos e abordagem
objetiva. Somado aos exercícios propostos, o material propiciará aos
interessados, condição de conhecer os institutos jurídicos, sua aplicação e
como lidar com cada um.
Inicialmente teremos a apresentação do conceito, características,
elementos e demais pontos relevantes da Responsabilidade Civil. Embasado
pela doutrina, jurisprudência e demonstrando a sua aplicabilidade, através de
exemplificações que nos remetem a casos cotidianos de nossa sociedade.
Abordaremos também quais os pressupostos da Responsabilidade Civil,
tratando dos fenômenos que precisam ter acontecido para que haja
responsabilidade civil. E por sua vez, traremos a importância de compreendê-
los para identificar quando existe ou quando não existe o dever de indenizar.
Por fim, cumpre estudar as causas de excludentes de responsabilidade
civil são definidas como situações que a partir do momento que é atacado um
dos elementos ou pressupostos da responsabilidade se rompe o nexo de
causalidade, não gerando direito em regra a uma indenização por parte de
quem sofreu o dano, em razão de uma determinada situação.

Desejo um excelente estudo e aproveitamento!

Professor Luiz Carlos Garcia


Bons estudos!
Luiz Carlos GarcMaria de Lima
Apresentação do curso

Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.

Inicialmente teremos a apresentação do conceito,


características, elementos e demais pontos relevantes da
Responsabilidade Civil. Embasado pela doutrina,
SEMANA 1
jurisprudência e demonstrando a sua aplicabilidade,
através de exemplificações que nos remetem a casos
cotidianos de nossa sociedade.
Abordaremos quais os pressupostos da Responsabilidade
Civil, tratando dos fenômenos que precisam ter acontecido
SEMANA 2 para que haja responsabilidade civil. E por sua vez,
traremos a importância de compreendê-los para identificar
quando existe ou quando não existe o dever de indenizar.
Objetiva-se apontar, definir e verificar quais as distinções
entre as formas e espécies de responsabilidade civil,
buscando, para tanto, uma breve apresentação das teorias
SEMANA 3
e definições dos doutrinadores modernos que se debruçam
nos estudos da responsabilidade civil, à luz do Código
Civil.

Carga horária: 30 horas.


Estudo proposto: 2h por dia em cinco dias por semana (10 horas semanais).
Apresentação dos Ícones

Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando
eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:

Atenção: indica pontos de maior importância


no texto.

Dica do professor: novas informações ou


curiosidades relacionadas ao tema em estudo.

Atividade: sugestão de tarefas e atividades


para o desenvolvimento da aprendizagem.

Mídia digital: sugestão de recursos


audiovisuais para enriquecer a aprendizagem.
Sumário

Semana 1 – Noções de Responsabilidade Civil ............................................ 15


1.1. Características da Responsabilidade Civil.......................................... 15
1.2. Estrutura e Funções da Responsabilidade Civil ................................. 18
1.3. Espécies de Responsabilidade Civil ................................................... 20
1.3.1. Responsabilidade Civil e Penal .......................................................... 21
1.3.2. Responsabilidade Contratual e Extracontratual .................................. 24
1.3.3. Responsabilidade Objetiva e Subjetiva .............................................. 25
1.4. Ato Ilícito e Abuso de Direito .............................................................. 27
Semana 2 – Responsabilidade Civil e Penal ................................................. 31
2.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil e Penal ............................... 31
2.1.1 Ação ou Omissão ............................................................................... 32
2.1.2 Culpa ou Dolo do Agente ................................................................... 33
2.1.3 Relação de Causalidade .................................................................... 35
2.1.4 Dano .................................................................................................. 35
2.2 Excludentes do Dever de Indenizar .................................................... 36
2.2.1 Legítima Defesa ................................................................................. 37
2.2.2 Estado de necessidade ou remoção do perigo iminente .................... 38
2.2.3 Exercício regular de direito ou das próprias funções .......................... 39
2.2.4 Excludentes de nexo de causalidade ................................................. 40
Semana 3 – Teoria do Crime e Responsabilidade ........................................ 43
3.1 Teoria Geral do Crime ........................................................................ 43
3.2 Responsabilidade Penal ..................................................................... 45
3.3 Indenização na esfera penal .............................................................. 47
Referências ................................................................................................... 51
Glossário de códigos QR (Quick Response) ................................................. 55
Semana 1 – Noções de Responsabilidade Civil Plataforma +IFMG

Objetivos
Inicialmente teremos a apresentação do conceito,
características, elementos e demais pontos relevantes da
Responsabilidade Civil. Embasado pela doutrina,
jurisprudência e demonstrando a sua aplicabilidade, através
de exemplificações que nos remetem a casos cotidianos de
nossa sociedade.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Apresentação do curso”.

1.1. Características da Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil conquistou inegável importância prática e teórica no Direito


moderno, razão pela qual não é mais possível ignorá-la. Ainda, sua aplicação hoje é uma
das mais férteis, expandindo-se pelo direito público e privado, contratual e extracontratual,
aéreo e terrestre, individual e coletivo, social e ambiental, nacional e internacional. Pode-se
dizer que seus domínios são ampliados na mesma proporção em que se multiplicam os
inventos, as descobertas e outras conquistas da atividade humana.
Para além, alguns princípios da responsabilidade civil ganharam status de norma
constitucional após a Carta de 1988, sem se falar no enriquecimento que lhe trouxe a edição
do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que regula todas as relações de consumo,
em seus múltiplos aspectos.
Nas palavras de San Tiago Dantas, o principal objetivo da ordem jurídica é “proteger
o lícito e reprimir o ilícito. Vale dizer: ao mesmo tempo em que ela se empenha em tutelar a
atividade do homem que se comporta de acordo com o Direito, reprime a conduta daquele
que o contraria”. Desta forma, podemos sintetizar dizendo que o Direito se destina aos atos
lícitos; cuida dos ilícitos pela necessidade de reprimi-los e corrigir os seus efeitos nocivos.
A responsabilidade Civil é tratada como um dever jurídico, e sobre o tema, Sergio
Cavalieri Filho conceitua como:

Entende-se, assim, por dever jurídico a conduta externa de uma pessoa imposta pelo
Direito Positivo por exigência da convivência social. Não se trata de simples
conselho, advertência ou recomendação, mas de uma ordem ou comando dirigido e

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à vontade dos indivíduos, de sorte que impor deveres jurídicos importa criar
obrigações (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 02).

E sobre o descumprimento de um dever jurídico, Sergio Cavalieri Filho esclarece:

A violação de um dever jurídico configura o ilícito, que, quase sempre, acarreta dano
para outrem, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano. Há
assim, um dever jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação
gera um dever jurídico sucessivo, também chamado de secundário, que é o de
indenizar o prejuízo. A título de exemplo, lembramos que todos têm o dever de
respeitar a integridade física do ser humano. Tem-se, aí, um dever jurídico originário,
correspondente a um direito absoluto. Para aquele que descumprir esse dever surgirá
um outro dever jurídico: o da reparação do dano (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 02).

Neste sentido, tem-se aqui a noção de responsabilidade civil, considerando que seu
sentido etimológico, a responsabilidade exprime uma ideia de obrigação, encargo e
contraprestação. Contudo, em seu sentido jurídico, o termo responsabilidade está
relacionado à um desvio de conduta, ou seja, alcança as condutas praticadas de forma
contrária ao direito e danosas a outrem.
Portanto, cumpre explicitar a procedência do termo “responsabilidade”. Para tanto,
usaremos a definição dada por Gagliano e Pamplona Filho:

A palavra “responsabilidade” tem sua origem no verbo latino respondere, significando


a obrigação que alguém tem de assumir com as consequências jurídicas de sua
atividade, contendo, ainda, a raiz latina de spondeo, fórmula através da qual se
vinculava, no Direito Romano, o devedor nos contratos verbais (STOLZE;
PAMPOLHA, 2006, p. 02-03).

Desta forma, a responsabilidade civil consiste na aplicação de medidas que obriguem


uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial, causado a terceiros, em decorrência de
um ato praticado por ela mesmo ou por uma simples imposição legal. Sendo assim, a
responsabilidade destina-se a restaurar o equilíbrio, seja ele moral ou patrimonial, provocado
pelo autor do dano, com o intuito de restabelecer a harmonia e o equilíbrio violado pelo dano.
Em complementação, colaciona-se o entendimento do professor Carlos Roberto
Gonçalves, que assevera:

Pode-se afirmar, portanto, que responsabilidade exprime ideia de restauração de


equilíbrio, de contraprestação, de reparação de dano. Sendo múltiplas as atividades
humanas, inúmeras são também as espécies de responsabilidade, que abrangem
todos os ramos do direito e extravasam os limites da vida jurídica, para se ligar a
todos os domínios da vida social. Coloca-se, assim, o responsável na situação de
quem, por ter violado determinada norma, vê-se exposto às consequências não

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desejadas decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a restaurar


o status quo ante (GONÇALVES, 2012, p. 21).

Dica do Professor: O termo status quo ante é uma


expressão em Latim, nada mais é ou se apresenta, como
uma expressão utilizada para restabelecer o
desequilíbrio promovido na vida de alguém. Ou
simplesmente para se referir ao estado atual das coisas.
Neste sentido, na Responsabilidade Civil, quando
verificado determinado dano patrimonial ou material,
enseja a devida reparação pelo ofensor - sanção imposta
por lei -, visando a recomposição da situação provocada,
com retorno ao status quo ante, fazendo com que o
ofendido seja indenizado com o valor ou o bem relativo
ao dano que suportou.

Ato contínuo, a responsabilidade pode resultar de uma violação de normas morais


como jurídicas, a depender do fato que configura a infração. Indubitavelmente, o campo de
violação das normas morais é mais amplo que o direito, haja vista que só há
responsabilidade jurídica quando há violação ao indivíduo ou à coletividade. Assim, o autor
da lesão torna-se obrigado a recompor o direito atingido, com sua reparação integral, seja
essa em espécie ou pecúnia.
Lado outro, a responsabilidade moral e a religiosa atuam no campo da consciência
do indivíduo. Segundo Carlos Roberto Gonçalves, o homem sente-se moralmente
responsável perante sua consciência, mas não há nenhuma preocupação com a existência
de prejuízo a terceiro. Pressupõe, porém, o livre-arbítrio e a consciência da obrigação.
Neste aspecto, torna-se necessário fazer uma distinção entre obrigação e
responsabilidade. Nos termos de Maria Helena Diniz:

Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir
do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde
a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório
(extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação
economicamente aferível (DINIZ, 2020, p. 507).

Em outras palavras, a obrigação nasce de diversas fontes e seu cumprimento deve


ser livre e espontâneo. Entretanto, quando não ocorre esse cumprimento, advindo, portanto,
o inadimplemento, tem-se o surgimento da responsabilidade. Ou seja, a responsabilidade é
uma consequência jurídica patrimonial em decorrência do descumprimento da relação
obrigacional pactuada anteriormente.
Neste sentido, tem-se que a obrigação é sempre um dever originário, enquanto a
responsabilidade é um dever sucessivo, derivado da violação do primeiro. A exemplo, se
alguém se compromete a prestar um serviço profissional a outrem, o comprometimento gera

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uma obrigação, ou seja, um dever originário. Entretanto, se não há o cumprimento da


obrigação, deixando de prestar os serviços, há uma violação do dever originário, surgindo a
responsabilidade com o dever de restaurar o prejuízo causado.
Por fim, notoriamente tem-se que em toda obrigação há um dever jurídico originário
e na responsabilidade, um dever jurídico sucessivo. E, sendo a responsabilidade uma
espécie de obrigação, sempre que quisermos saber quem é o responsável, teremos de
observar a quem a lei imputou a obrigação ou dever originário.

1.2. Estrutura e Funções da Responsabilidade Civil

Conforme analisado no tópico anterior, a responsabilidade é um fato da realidade


social e jurídica, que pressupõe o dever de responder pelos próprios atos por meio da
reparação de um dano. Desta forma, ao tratar da responsabilidade civil, indubitavelmente há
uma perda por alguém. Tal instituto estabelece a obrigação de reparar um dano moral ou
patrimonial, causado a outrem, de maneira a ressarcir o prejuízo gerado na sua
integralidade, reestabelecendo o equilíbrio moral ou patrimonial da vítima, podendo ser por
ato comissivo ou omissivo.

Dica do Professor: Sobre atuação comissiva e


omissiva, destaca-se que a comissão (positivo) ou
omissão (negativo) são comportamentos humanos
compreendidos pela ação, ou conduta. A conduta do
agente pode consistir num fazer ou deixar de fazer
alguma coisa. Quando o agente faz alguma coisa que
estava proibido, fala-se em crime comissivo; quando
deixa de fazer alguma coisa a que estava obrigado,
temos um crime omissivo. A exemplo, se o motorista de
um carro não parou o veículo a tempo de evitar colisão,
sua conduta pode ser descrita como ato omissivo
(deixou negligentemente de frear) ou comissivo
(continuou acelerando imprudentemente).

Do mesmo modo, o objetivo principal da reparação civil é restabelecer o status a quo,


não devendo a vítima atingir com a reparação uma situação mais ou menos vantajosa da
que estaria se o dano não tivesse ocorrido. Juridicamente, pode-se definir tal instituto como
sendo a responsabilidade imposta àquele que violou um bem juridicamente protegido,
gerando contra ele uma sanção.
Neste sentido, Maria Helena Diniz, assim conceitua a Responsabilidade Civil:

Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que


obriguem a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato

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do próprio imputado, da pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal
sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal (DINIZ, 2001, p. 34).

Atualmente há uma grande importância da responsabilidade civil, considerando que


tutela a pertinência de um bem, em todas as suas utilidades, presentes e futuras, ou seja,
tal instituto se identifica como uma tentativa de restabelecer o equilíbrio violando pelo dano,
de forma a restituir à vítima o que lhe foi prejudicado, através do dano causado por outrem.
Para tanto, referido instituto apresenta três funções, a saber: (a) compensatória para
a vítima; (b) punitiva para o ofensor e; (c) desmotivadora social da conduta lesada. Vejamos
as definições abaixo.
Segundo definição de Carlos Roberto Gonçalves, na sua função compensatória, a
responsabilidade civil busca restabelecer o estado em que a vítima se encontrava
anteriormente à lesão, repondo o bem perdido, ou, quando em razão à sua natureza não
seja possível fazê-lo, se indenizará em importância equivalente ao valor do bem prejudicado.
Já na função punitiva, busca-se persuadir o infrator a não incorrer reiteradamente em
práticas abusivas, bem como, puni-lo pela falta de atenção na prática de seus atos,
pretendendo que, o mesmo passe a tomar condutas mais cautelosas a fim de evitar causar
danos a terceiros. Entretanto, cumpre ressaltar que referida função não é primordial, haja
vista que se houver a restituição integral do bem lesionado, restaurando exatamente como
se encontrava anteriormente ao dano, tal instituto não se aplica.
Cumpre ressaltar que a função punitiva é paralela à função compensatória e, em
algumas situações, a aplicação efetiva daquela resulta no alcance desta. Assim,
entendemos que a função punitiva tem o condão de impedir que a indenização seja
meramente simbólica, ou seja, num patamar tão insignificante que não represente agravo
ao agente causador do dano.
Por fim, em sua função desmotivadora, busca a responsabilidade civil, tornar pública
à toda coletividade que condutas análogas àquelas ensejadoras de dano, não serão
permitidas em meio a sociedade, de forma a inibir que demais pessoas venham a praticar
tais condutas lesivas.
Acerca deste tema, Maria Helena Diniz assevera:

A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu o
prejuízo e a que deve repará-lo, deslocando o ônus do dano sofrido pelo lesado para
outra pessoa que, por lei, deverá suportá-lo, atendendo assim à necessidade moral,
social e jurídica de garantir a segurança da vítima violada pelo autor do prejuízo. Visa,
portanto, garantir o direito do lesado à segurança, mediante o pleno ressarcimento
dos danos que sofreu, restabelecendo-se na medida do possível o statu quo ante,
logo, o princípio que domina a responsabilidade civil na era contemporânea é o da
restitutio in integrum, ou seja, da reposição completa da vítima à situação anterior à
lesão, por meio de uma reconstituição natural, de recurso a uma situação material
correspondente ou de indenização que represente do modo mais exato possível o
valor do prejuízo no momento e seu ressarcimento, respeitando assim, sua dignidade
(DINIZ, 2007, p. 07-08).

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Desta forma, quando há o preenchimento destes três requisitos, resta configurado a


responsabilidade civil, com o cumprimento do seu objetivo no ordenamento jurídico, haja
vista que permite o restabelecimento do equilíbrio nas relações sociais. Entretanto, para que
cumpra determinado objetivo, faz-se necessário, ainda, que a indenização seja proporcional
ao dano sofrido, não devendo ser indenizado a mais, ou ainda permitir que a vítima se
responsabilize pelo remanescente não indenizado.
Neste diapasão, colaciona-se julgado do relator Ministro Carlos Fernando Mathias -
RESP 210.101/PR:

[...] Ainda que não muito farta a doutrina pátria no particular, têm-se designado as
"punitive damages" como a "teoria do valor do desestímulo" posto que, repita-se, com
outras palavras, a informar a indenização, está a intenção punitiva ao causador do
dano e de modo que ninguém queira se expor a receber idêntica sanção. (...) "O
critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da
indenização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das
partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o
enriquecimento indevido do ofendido, bem como que sirva para desestimular o
ofensor a repetir o ato ilícito [...] (REsp 210.101/PR, Rel. Min. Carlos Fernando
Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região),4ª Turma, unânime, DJe de
09.12.2008).

Desta forma, a própria conduta social define o dever do indivíduo, ao agir de maneira
que possa causar infortúnio a terceiro, indenizá-lo de forma a prestar uma contraprestação
pela conduta danosa praticada e ressarcir os prejuízos causados.

1.3. Espécies de Responsabilidade Civil

Inicialmente cumpre evidenciar que a Responsabilidade Jurídica pode ser dividida em


diferentes espécies, podendo ser administrativa, penal ou civil. Isso dependerá da origem do
ato praticado, bem como contra quem tal ato foi efetivado. Pode-se ilustrar com os casos
relativos à responsabilização em caso de dano ambiental, que pode ocorrer nas três esferas
mencionadas.

Dica do Professor: Na responsabilização por dano


ambiental, constata-se que elementos necessários para
se proceder à responsabilização, nas três esferas
cabíveis e consequentemente contribuir para a proteção
ambiental, no caso de ocorrência ou risco de dano, são
fornecidos pelo Direito Ambiental. Os três tipos de
responsabilização ambiental contribuem para
potencializar a consciência das pessoas (físicas e

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jurídicas), quanto à necessidade de proteger o meio


ambiente.

De forma a propiciar distinção entre as responsabilidades (administrativa, penal e


civil) aplicáveis nos casos, por exemplo, de danos ambientais, a Figura I apresenta as
principais características das responsabilidades, conforme será tratado a seguir.

Figura 1 - Principais características das responsabilidades


Fonte: Elaborado a partir de Milaré (2015, pág. 337) http://www.ibeas.org.br/conresol/conresol2019/IX-012.pdf.
Acesso em: 25 fev. 2021.

1.3.1. Responsabilidade Civil e Penal

A responsabilidade jurídica abrange a responsabilidade civil e penal e distinguem-se


porquanto a responsabilidade civil possui interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico
alterado ou desfeito pela conduta causadora do dano, sendo este de repercussão privada,
individual; de modo que a vítima poderá pedir reparação do prejuízo causado, traduzida na
recomposição do status quo ante ou numa importância em dinheiro, a responsabilidade
penal requer prejuízo a terceiro, particular ou Estado.
Em suma, na responsabilidade penal, o lesante deve suportar a repressão de reparar
o dano; já na responsabilidade civil, aquele ficará com a obrigação de recompor a posição
da vítima, indenizando-a em detrimento aos danos causados.
Discorrendo a respeito da distinção entre responsabilidade civil e penal, Carlos
Roberto Gonçalves, escreveu:

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Para efeito de punição ou da reparação, isto é, para aplicar uma ou outra forma de
restauração da ordem social é que se distingue: a sociedade toma à sua conta aquilo
que a atinge diretamente, deixando ao particular a ação para restabelecer se, à custa
do ofensor, no status quo anterior à ofensa. Deixa, não porque se não impressione
com ele, mas porque o Estado ainda mantém um regime político que explica a sua
não intervenção. Restabelecida a vítima na situação anterior, está desfeito o
desequilíbrio experimentado (GONÇALVES, 2011, p. 41).

A título exemplificativo, quando há colisão de veículos, tal fato pode acarretar a


responsabilidade civil do culpado, que será obrigado a custear as despesas do conserto,
bem como aos demais danos causados. Contudo, além da responsabilidade civil, pode gerar
também a responsabilidade penal se, por exemplo, causar ferimentos em alguém, se
enquadrando na descrição dos tipos penais referentes.
Ademais, cumpre ressaltar que nos casos da responsabilidade penal, o agente
infringe uma norma de direito público, onde o interesse lesado é o da sociedade. Já na
responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado é o privado, razão pela qual o
prejudicado poderá pleitear ou não a reparação.

Dica do Professor: A diferença entre direito público e


direito privado remete às regras jurídicas romana.
Enquanto o direito privado abrange interesses entre
particulares, o direito público, em suas subdivisões,
estabelece normas estruturais para a sociedade, regula
a atividade do Estado, disciplina condutas, dentre outros.
É o direito público, por exemplo, que rege a organização
do próprio Estado pela divisão de competências entre
agentes e órgãos públicos. Já no direito privado, as
relações são iguais entre as partes privadas, e as leis,
dispositivas, atuam quando não há acordo pré-
estabelecido entre os agentes.

Neste sentido, se o agente causador do dano transgride uma lei penal,


automaticamente ele se torna obrigado civilmente e penalmente. Com isso, responderá
perante o lesado, bem como perante a sociedade, haja vista que sua conduta justifica a
utilização do sistema repressivo da responsabilidade penal. Entretanto, quando há uma
coincidência entre ambas as responsabilidades, realiza-se as respectivas ações: uma
exercível pela sociedade e outra, pela vítima; uma tendente à punição e outra, reparação.
Cumpre destacar que alguns atos tem como consequência a ação penal pública
incondicionada, tem origem na centralização do jus puniendi na figura no Estado. Com efeito,
a ação penal é pública quando promovida e movimentada pelo Ministério Público. Nesse
contexto, a ação pública é incondicionada quando, para promovê-la, o Ministério Público
independe de qualquer manifestação de vontade.

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Dica do Professor: De acordo com Capez (2012), o jus


puniendi é uma expressão latina que pode ser traduzida
como direito de punir do Estado, referindo-se ao poder
de sancionar do Estado, que é o “direito de castigar”, e
uma expressão usada sempre em referência ao Estado
frente aos cidadãos.

Ademais, ante a todos os aspectos que fazem a distinção entre responsabilidade civil
e penal, insta salientar que a responsabilidade penal é intransferível, haja vista que o réu
pode, inclusive, responder com a privação de sua liberdade. Por esta razão pela qual tal
responsabilização deve ser cercada por todas as garantias contra o Estado, haja vista que
a este incumbe reprimir o crime e arcar com todo o ônus da prova.
Já a responsabilidade civil é patrimonial: é o patrimônio do devedor que responde por
suas obrigações. Ninguém pode ser preso por dívida civil no Brasil, exceto o devedor de
pensão oriunda do Direito de Família. Desse modo, se o causador do dano é obrigado a
indenizar não tiver bens que possam ser penhorados, a vítima permanecerá irressarcida.
Contudo, tem-se o instituto desconsideração de personalidade como uma forma de
inibir o desvio de finalidade da pessoa jurídica praticado pelos sócios e/ou administradores,
que a utiliza para a prática de atos abusivos ou fraudulentos.

Atenção: A desconsideração da personalidade, que é


uma hipótese excepcional, desconsidera-se a
personalidade da pessoa jurídica da companhia para
identificar o(s) ato(s) daquele(s) que, usando aquela
personalidade de forma ilícita ou fraudatória,
determinaram o prejuízo. A partir da desconsideração
será possível responsabilizá-los pessoalmente”.

O Código Civil, em seu artigo 50, elencou as hipóteses na qual a autonomia


patrimonial da pessoa jurídica poderá ser afastada. Recepcionou, portanto, a teoria maior
com o objetivo de exigir que a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica seja
aplicada quando cumuladas a comprovação da insolvência da pessoa jurídica e o desvio de
finalidade ou confusão patrimonial.
Assim, a possibilidade de aplicação deste instituto deve ser observada a situação no
caso concreto, tendo por fundamento o princípio da boa-fé objetiva e na hipótese de
desconsideração, para cumprimento de obrigações, deverá ser considerado tanto o
patrimônio pessoal dos sócios como outras pessoas jurídicas na qual detenha o controle
acionário.

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Dica do Professor: Em que pese as conceituações aqui


propostas serem abordadas em tópico posterior, cumpre
diferenciar a responsabilidade objetiva e subjetiva,
basicamente, no fato de que a primeira depende da
comprovação de dolo ou culpa, enquanto a segunda,
estará caracterizada desde que o nexo causal esteja
comprovado. Ainda, a responsabilidade objetiva aplica-
se, via de regra, em atividades nas quais o agente
assume os riscos da ocorrência dos danos, por exemplo,
responsabilidade do empregador pelo acidente de
trabalho, responsabilidade do fabricante pelos danos
causados pelo produto, responsabilidade da companhia
aérea pelo acidente com o passageiro, responsabilidade
do Estado por ato praticado por funcionário público.

1.3.2. Responsabilidade Contratual e Extracontratual

Conforme os conceitos supracitados, quem infringe dever jurídico que resulte em


dano a outrem fica obrigado a indenizar. Entretanto, esse dever pode ter como fonte uma
relação jurídica obrigacional preexistente, ou seja, um dever firmado em contrato. Lado
outro, pode haver uma causa geradora de obrigação imposta por preceitos gerais de Direito
ou decorrentes da própria Lei. Pautando-se nessa dicotomia, há uma divisão entre a
responsabilidade civil contratual e extracontratual, classificadas de acordo com o tipo da
violação.
Se preexiste um vínculo obrigacional, e o dever de indenizar é consequência do
inadimplemento, temos a responsabilidade contratual, também chamada de ilícito contratual
ou relativo. Contudo, se esse dever surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que
entre o ofensor e a vítima preexista qualquer relação jurídica que o possibilite, temos a
responsabilidade extracontratual, também chamada de ilícito aquiliano ou absoluto.

Dica do Professor: Ilícito contratual e ilícito aquiliano.


Como o próprio nome já sugere, ilícito contratual
pressupõe a presença de um contrato existente entre as
partes envolvidas, agente e vítima. Já o ilícito aquiliano
o agente não tem vínculo contratual com a vítima, mas,
tem vínculo legal. Ademais, o termo aquiliano nasceu do
direito romano da Lex Áquila, que significa
responsabilização pelo ato ilícito cometido a partir do
elemento subjetivo culpa.

Em suma, notoriamente que em ambos os tipos de responsabilidade há uma evidente


violação de um dever jurídico preexistente. Desta forma, a distinção está na qualificação
desse dever jurídico, haja vista que na responsabilidade contratual os deveres são previstos
em contrato, já definindo por si só, as cláusulas de cada contratante, devendo ser fielmente

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observados, considerando que já estabelece um vínculo jurídico entre as partes. Lado outro,
a responsabilidade extracontratual não existe um contrato formalizado entre as partes,
contudo, o dever jurídico violado é previsto em lei e no ordenamento jurídico.
Exemplificativamente, há responsabilidade contratual quando existe a celebração de
um contrato, senão vejamos: João antes de se casar, optou por construir um imóvel em lote
que lhe foi cedido pelo pai. Para tal, contratou Eduardo, engenheiro civil conhecido da família
para fazer o projeto. Após, dois meses e com parte dos trabalhos desenvolvidos, Eduardo
acionou João afirmando ter que romper o contrato pois viajaria para fora do país. Sem uma
negociação sobre o objeto contratado, João acionou Eduardo na Justiça, para que o mesmo
fosse responsabilizado civilmente pelo rompimento injustificado do contrato.
Em casos de responsabilidade extracontratual, não há celebração de um contrato,
haja vista que decorre da própria lei. Sendo assim, vejamos o exemplo a seguir: O
engenheiro ambiental Clóvis, atuando como avaliador em determinada usina hidrelétrica
exarou um relatório cujo conteúdo dizia estar o empreendimento em consonância com as
leis ambientais. Após algum tempo, foi visualizado que, a usina vinha depositando efluentes
em quantidade fragrantemente superior aos parâmetros legais. O Ministério Público, acionou
a usina e também Clóvis, que ao alterar o relatório apresentado, lesou direitos de toda a
coletividade por atentar contra bem ambiental.
Ante os exemplos supramencionados, torna-se claro a distinção entre as
responsabilidades aqui estudadas, entretanto, em nosso sistema jurídico, a divisão entre
responsabilidade contratual e extracontratual não é isolada ou exclusiva. Pelo contrário, há
vínculo entre esses dois tipos de responsabilidade, haja vista que regras previstas no Código
Civil (2002) para a responsabilidade contratual são também aplicadas à responsabilidade
extracontratual, conforme se depreende dos artigos 393, 402 e 403 do referido dispositivo.

Mídia digital: Para auxiliar na sedimentação do


conhecimento, assista o documentário “Dois pesos e
Duas Medidas” (link) que trata da responsabilidade civil
da indústria de tabaco. Para além, o documentário traz a
opinião de especialistas em direito, saúde e políticas
públicas com o intuito de promover o debate na
sociedade sobre como o Poder Judiciário vem usando
pesos e medidas diferentes quando se trata do direito do
consumidor tabagista e responsabilidade civil
empresarial.

1.3.3. Responsabilidade Objetiva e Subjetiva

Conforme já mencionado neste material, a diferença entre a responsabilidade


subjetiva e a objetiva reside, basicamente, no fato de que a primeira depende da
comprovação de dolo ou culpa, enquanto a segunda, estará caracterizada desde que o nexo

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causal esteja comprovado. Neste sentido, a culpa será ou não considerada elemento da
obrigação de reparar o dano.
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A
prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Nessa
concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo
ou culpa, sendo obrigado a indenizar do dano causado apenas caso se consume sua
responsabilidade.
Exemplo clássico que podemos seguir é um acidente de ônibus, onde o motorista do
veículo será compelido a indenizar dos prejuízos, caso seja provada a vontade de praticar
aquele ato (dolo) ou ainda que haja a presença de negligência, imprudência ou imperícia
(culpa).
O Código Civil, em seu artigo 186, manteve a culpa como fundamento da
responsabilidade subjetiva, haja vista que foi empregada em seu sentido amplo, de forma a
indicar também o dolo, conforme a seguir: Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Contudo, em determinados casos, pessoas e situações, a lei impõe um dever de
reparar o dano, independentemente de culpa. Quando há ocorrência dessa situação, tem-
se a responsabilidade objetiva, ou seja, ela prescinde da culpa e se concretiza com o dano
e nexo de causalidade, considerando que essa pode ou não existir, mas será sempre
irrelevante para a configuração do dever de indenizar.
A responsabilidade objetiva é presente na maioria das relações previstas no Código
de Defesa do Consumidor, e, novamente utilizando o universo do exemplo anterior, podemos
definir que, no mesmo acidente de ônibus, a empresa responsável pelo transporte
responderá de forma objetiva pelos transtornos causados, justamente pela relação empresa-
cliente ser prevista no código consumerista.
Por sua vez, sustenta-se uma responsabilidade objetiva, sem culpa, baseando-se na
chamada Teoria do Risco, que foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, e recebido
pelo Código Civil nos artigos 927 e 931, in verbis.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos
causados pelos produtos postos em circulação.

Dica do Professor: Segundo Cavalieri (2002), no final


do século XIX, os juristas na França conceberam a teoria
do risco como sendo uma probabilidade de dano, isto é,
aquele que exercesse uma atividade perigosa deveria

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assumir os riscos e reparar o dano dela decorrente.


Assim, todo prejuízo deveria ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem causou, independente de ter ou não
agido com culpa. Para essa teoria, toda pessoa que
exerce alguma atividade que cria um risco de dano para
terceiros, deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua
conduta seja isenta de culpa.

Ademais, houve uma inovação constante no parágrafo único do artigo 927, do Código
Civil, considerando a admissão da responsabilidade sem culpa, pelo exercício de atividade
que, por sua natureza, representa risco para os direitos de outrem. Desta forma, tal
legislação, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,


nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Nas palavras de Cavalieri (2008), todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem o causou independente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o
problema na relação de nexo de causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a
culpa”.

1.4. Ato Ilícito e Abuso de Direito

Ao abordar a responsabilidade, bem como suas diversas espécies, sempre há uma


relação entre referido fato e a lesão causa ao direito, ou seja, sempre resta configurado uma
lesão do direito, ou sempre que infringir um dever jurídico, tem-se vigente, portanto, a
responsabilidade.
Neste sentido, a concepção de lesão ao direito está prevista no artigo 186 do Código
Civil, que aduz, “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Sendo assim, resta evidenciado que o ato ilícito é configurado toda vez em que a lesão
estiver presente, podendo, inclusive, ser cumulada com danos materiais, morais, estéticos
ou outra categoria que se adeque ao caso concreto.
Segundo Tartuce (2017), o ato ilícito é o ato praticado em desacordo com a ordem
jurídica, violando direitos e causando prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência, a norma
jurídica cria o dever de reparar o dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito
obrigacional. Por sua vez, é considerado um fato jurídico em sentido amplo, haja vista que
produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas impostos pela Lei.
O ato ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que produz
efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles impostos pela

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lei, sendo, por isso, chamados de involuntários. Quando alguém comete um ilícito há a
infração de um dever e a imputação de um resultado.

Atenção: Citado por Menezes Cordeiro, Jhering, ainda


no século XIX, já diferenciava a existência do dever de
indenizar por dano decorrente de mera controvérsia de
direitos do dano decorrente do ato ilícito: Qualquer
pessoa sente a diferença que existe entre a pretensão
do proprietário contra o terceiro possuidor de boa-fé da
coisa dele e a do roubado, contra o ladrão. Naquele caso
trata-se, apenas, da existência do direito controverso,
sem ser necessário confrontar-se, por parte do autor,
com a censura de um desvio jurídico consciente e
censurável. Em ambos os casos há contrariedade ao
Direito; objetiva, no do possuidor de boa fé e subjetiva,
no do ladrão. O ilícito objetivo dispensa a culpa, mas não
a vontade humana - ou teríamos uma força da natureza,
juridicamente irrelevante.

Torna-se fundamental ressaltar que há casos em que a conduta ofende a sociedade


(ilícito penal) e o particular (ilícito civil), acarretando uma dupla responsabilidade. A exemplo,
pensemos em um acidente de trânsito, situação em que pode haver um crime, bem como o
dever de indenizar. Lado outro, não se pode esquecer a regra prevista no artigo 935 do
Código Civil, pela qual a responsabilidade civil independe da criminal, conforme se extrai do
referido dispositivo: Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Por conseguinte, mesmo que haja uma responsabilização nas esferas cível e penal,
ainda podemos considerar uma responsabilidade tripla, abrangendo a esfera administrativa,
que, conforme demonstrado anteriormente, pode exemplificar por meio de uma conduta que
cause danos ao meio ambiente, haja vista que sua responsabilidade é civil, administrativa e
penal, através das Leis nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) e Lei nº 9.605/98
(Crimes Ambientais).
Neste sentido, insta afirmar que o ato ilícito pode ser conceituado como uma conduta
humana que fere direitos subjetivos privados, haja vista que estão em desacordo com a
ordem jurídica e produz como resultado um dano a outrem. Para tanto, tem-se a redação do
artigo 186 do Código Civil: Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito. Ou seja, percebe-se que o ato ilícito é a soma de dois fatores, sendo esses: Lesão
de Direitos + Dano.
Por sua vez, a consequência da prática do ato ilícito é a obrigação de indenizar, bem
como de efetuar a reparação dos danos. Contudo, impede considerar que o ato ilícito
constitui um fato jurídico, mas não se trata de um ato jurídico, haja vista que para este é
necessária a licitude da conduta.

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Dica do Professor: Cumpre fazer uma distinção entre


fato jurídico e ato jurídico, no intuito de uma melhor
compreensão do conteúdo já apresentado. Fato jurídico
é todo acontecimento relevante para o direito e
suscetível de regulação pela norma jurídica. Ele pode
decorrer de um fato natural ou de uma conduta pessoal.
A morte de um indivíduo, por exemplo, é um fato jurídico
de sentido estrito ordinário, pois é um evento inevitável
(todos morrem) que gera óbvios efeitos jurídicos:
extinção da personalidade, abertura de obrigações como
partilha de bens e quitação de dívidas, etc. Já o ato
jurídico se trata de toda conduta lícita que tem por
objetivo a aquisição, o resguardo, a transmissão,
modificação ou extinção do direito. São exemplos de
atos jurídicos: notificação para constituir mora do
devedor; reconhecimento de filho; ocupação; uso de
coisa; perdão; confissão; tradição; etc.

Neste diapasão, o Código Civil traz a responsabilidade civil pautada em dois pilares,
a saber, ato ilícito e abuso de direito, ambos descritos, respectivamente nos artigos 186 e
187 do mesmo dispositivo, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes

Através dos dispositivos supracitados, verifica-se que o abuso de direito é um ato


ilícito pelo conteúdo e pelas consequências, ou seja, a ilicitude do abuso de direito está
presente na forma de execução do ato. Desse conceito conclui-se que a diferença em
relação ao ato ilícito tido como puro reside no fato de que o último é ilícito no todo, quanto
ao conteúdo e quanto às consequências.
Parte da doutrina entende que no abuso de direito, não é necessário que o agente
aja culposamente, infringindo um dever preexistente, mas apenas agindo dentro do seu
direito, em alguns casos, pode ser responsabilizado. Assim, prescinde da ideia de culpa. A
ilicitude do ato abusivo se caracteriza sempre que o titular do direito se desvia da finalidade
social para a qual o direito subjetivo foi concedido.
Ainda, podemos verificar o Enunciado nº 539, da VI Jornada de Direito Civil, que aduz:
o abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade civil.
Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independentemente de
dano. Ou seja, nos termos do coordenador geral Ministro Ruy Rosado de Aguiar, não resta

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dúvida sobre a possibilidade de a responsabilidade civil surgir por danos decorrentes do


exercício abusivo de uma posição jurídica. Por outro lado, não é menos possível o exercício
abusivo dispensar qualquer espécie de dano, embora, ainda assim, mereça ser duramente
coibido com respostas jurisdicionais eficazes.
Em consonância com o Enunciado nº 37, da I Jornada de Direito Civil, com a seguinte
redação: a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e
fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico, é possível afirmar que o abuso de
direito é o exercício de direito por seu titular, contudo, quando há o excesso em sua
execução, com a violação da boa-fé objetiva, dos costumes, bem como da função social,
referido abuso produz a responsabilidade civil objetiva, uma vez que independe de culpa do
agente causador do dano.
De fato, cabem, por exemplo, medidas preventivas, se o abuso de direito ocorrer,
independentemente da presença do dano. Todavia, para que o abuso de direito seja
analisado, o dano deve estar presente, conforme se abstrai do art. 927, do Código Civil, que
exige o elemento objetivo do prejuízo para que surja a consequente responsabilidade civil
do agente, conforme aduz: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Atividade: Para concluir a primeira semana de estudos,


acesse a notícia a seguir (link) a qual trata-se do
desabamento de um viaduto em Belo Horizonte. Após,
comente, a luz dos conhecimentos adquiridos, os
aspectos possíveis de responsabilização dos
profissionais envolvidos.

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 2 – Responsabilidade Civil e Penal Plataforma +IFMG

Objetivos
Abordaremos quais os pressupostos da Responsabilidade
Civil, tratando dos fenômenos que precisam ter acontecido
para que haja responsabilidade civil. E por sua vez, traremos
a importância de compreendê-los para identificar quando
existe ou quando não existe o dever de indenizar.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Responsabilidade civil e Penal
– Semana 02”.

2.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil e Penal

Os pressupostos são os elementos que caracterizam a responsabilidade civil, ou seja,


aqueles que devem estar presentes para tenhamos configurada referido instituto. É possível
extrair seus pressupostos através do artigo 186 do Código Civil, base fundamental da
responsabilidade civil. Vejamos a redação do citado artigo: Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Insta necessário fazer uma breve distinção nos conceitos de negligência, imprudência
e imperícia, haja vista que os três institutos são modalidade de culpa, contudo, não se
confundem entre si. Ademais, comumente tais terminologias são utilizadas, por exemplo, em
caso de erro médico, acidentes de trânsito ou acidentes com arma de fogo.
Inicialmente, a negligência implica em o agente deixar de fazer algo que sabidamente
deveria ter feito, ou seja, omissão e inobservância do dever. Um exemplo, é o médico que,
ao realizar uma cirurgia, esquece um bisturi dentro do paciente.
Já a imprudência, ocorre quando uma ação é realizada de forma precipitada e sem
cautela. Nesse caso, o agente sabe fazer de forma correta, contudo, não toma o devido
cuidado para que isso aconteça. Há, nitidamente, uma falta de cuidado e de precaução. Um
exemplo para imprudência é o motorista devidamente habilitado que ultrapassa um sinal
vermelho e, como consequência disso, provoca um acidente de trânsito.
Por último e não menos importante, tem-se o instituto da imperícia, na qual o agente
não sabe praticar o ato e mesmo assim o realiza sem ter o conhecimento técnico, teórico ou
prático necessário para isso. Exemplificando tem-se um engenheiro elétrico que assina um
projeto de construção de um grande edifício. Tal profissional não tem conhecimento técnico
para o fazer, haja vista que o profissional habilitado é o engenheiro civil.

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Plataforma +IFMG

Portanto, através da leitura do artigo supracitado, bem como das conceituações


propostas, verifica-se que há quatro elementos essenciais da responsabilidade civil, a saber:
(a) ação ou omissão; (b) culpa ou dolo do agente; (c) relação de causalidade e; (d) dano
experimentado pela vítima.
Realizadas tais ponderações, passa-se à análise dos pressupostos da
responsabilidade civil.

2.1.1 Ação ou Omissão

Entende-se que esse pressuposto consiste na exteriorização da atitude humana, que,


de maneira voluntária, por ação ou omissão produz consequências relevantes para o direito.
A fim de melhor elucidar este ponto importante o posicionamento de Carlos Roberto
Gonçalves:

“ação ou omissão” inicialmente refere-se à lei a qualquer pessoa que, por ação ou
omissão, venha a causar dano a outrem. A responsabilidade pode derivar de ato
próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos
causador por coisas e animais que lhe pertençam (GONÇALVES, 2011. p. 22).

Neste sentido, a conduta humana pode ser positiva (um fazer) e negativa (uma
omissão). Essa conduta deve ser voluntária, o que não significa, necessariamente, a vontade
de causar prejuízo (culpa). O elemento voluntariedade é tão simplesmente ter consciência
da ação cometida.

Dica do Professor: A ideia de omissão


necessariamente pressupõe um dever anterior. Ou seja,
não há que se falar em omissão sem que o indivíduo
tenha a obrigação de realizar um ato.

Sendo assim, a responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que
esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe
pertençam. Nos casos de ato próprio, o Código Civil prevê, dentre outros, nos casos de
calúnia, difamação e injúria; de demanda de pagamento de dívida não vencida ou já paga;
de abuso de direito.
Já a responsabilidade de ato de terceiro, vejamos o que aduz os artigos 932 e 933 do
Código Civil, in verbis:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;

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II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas


condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no
exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue
por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que
não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali
referidos.

Por fim, a responsabilidade por danos causados por animais e coisas que estejam
sob a guarda do agente é, em regra, objetiva: independe de prova de culpa. Isto se deve ao
aumento do número de acidentes e de vítimas, que não devem ficar irressarcidas, decorrente
do grande desenvolvimento da indústria de máquinas. Vejamos os artigos 936 a 938, do
Código Civil.

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de
sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

Atenção: De extrema relevância é o dano por omissão,


pois para que este se configure requer prova da qual
aponte que diante de determinada conduta o dano
poderia ser evitado. Citaremos dois exemplos para
ilustrar a situação de omissão: acidente de trânsito onde
o causador do dano omite socorro; curatelado que sofre
dano devido à conduta omissa do curador.

2.1.2 Culpa ou Dolo do Agente

Discorrendo sobre os pressupostos da responsabilidade civil, Gonçalves (2012)


ministra que da redação do artigo 186 do Código Civil, cogita-se o dolo no início: ‘ação ou
omissão voluntária’, passando, em seguida, a referir-se à culpa: ‘negligência e imperícia’.
Desta forma, o dolo consiste na vontade de cometer uma violação de direito, e a culpa, na
falta de diligência. Dolo, portanto, é a violação deliberada, consciente, intencional, do dever
jurídico.

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O grau de culpa restará disposto nos artigos 944 e 945 do Código Civil, momento pelo
qual o dano se apresenta consumado. A verificação do grau de culpa tem como intuito a
avaliação para a respectiva indenização dada a responsabilidade civil do autor.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.


Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto
com a do autor do dano.

Cumpre salientar que para obter a reparação do dano, nos termos da teoria subjetiva
adota pelo ordenamento jurídico, a vítima ainda precisa provar dolo ou culpa stricto sensu
do agente. Entretanto, considerando que essa prova é por vezes dificilmente localizada, o
ordenamento permite, em hipóteses específicas, a responsabilização sem culpa, que,
conforme já mencionado anteriormente, trata-se da responsabilidade objetiva, baseando-se
na teoria do risco.

Dica do Professor: A culpa lato sensu se desdobra em


dolo e culpa propriamente dita. Nessa concepção, dolo é
a intenção do agente em cometer o ato. Seria a quebra
intencional do dever jurídico imposto pela lei. A culpa
stricto sensu é a modalidade de culpa propriamente dita,
sendo aquela que falta ao agente a vontade do
cometimento do ilícito. Ela deriva da falta de cuidado,
zelo, que, sem a pretensão do agente, gera um ato ilícito.
Ela se divide em negligência, imprudência e imperícia,
podendo consistir ainda em uma ação ou omissão.

Por fim, não é necessário traçar uma distinção entre dolo e culpa stricto sensu, haja
vista que o objetivo é indenizar vítima e não gerar uma punição ao agente culpado, razão
pela qual a indenização é medida pela extensão do dano e não pelo grau de culpa do agente.
Pela mesma razão, não faremos uma distinção entre culpa grave, leve e levíssima,
considerando que conforme previsto no artigo 944, do Código Civil, a legislação torna
possível ao juiz graduar a indenização se houver excessiva desproporção entre o dano
causado e a gravidade da culpa. Desta forma, é necessário que no momento da conduta, ou
o sujeito causou prejuízo intencional a outrem, no caso do dolo, ou o causou por agir sem o
dever de cuidado, no caso da culpa stricto sensu.

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2.1.3 Relação de Causalidade

Trata-se da relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente em


detrimento ao dano verificado. Desta forma, consigna-se que é um vínculo entre determinada
conduta e o dano suportado pelo agente. Ainda, sem a análise desse instituto, não há como
identificar a causa do dano, bem como seu causador.
Ademais, a relação de causalidade é expressamente descrita no artigo 186, do
Código Civil através do verbo “causar”, haja vista que sem ela, não existe a obrigação de
indenizar, isso porque se houver um dano, contudo, sua causa não está relacionada com o
comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também o dever de indenizar.
Exemplificando referido conceito, vejamos, se um engenheiro ou técnico projeta
corretamente um quadro de energia, com os dispositivos de segurança necessários, mas a
vítima deliberadamente viola este espaço e agarra de forma proposital um condutor
energizado não se pode afirmar ter ele causado o referido acidente. Entretanto, se o
profissional não segue as condutas necessárias, responderá pelo dano causado.
A caracterização da relação de causalidade é fundamental, pois, somente se terá o
valor da indenização, caso a conduta tenha efetivamente causado o dano. Indubitavelmente,
seria impossível responsabilizar alguém que não causou o dano, ou lesou o direito de
outrem; seria completamente antiético e ilegal.

Atenção: O nexo causal é elemento indispensável em


todas as modalidades de responsabilidade civil, pois
conforme visto, existe responsabilidade sem culpa, mas
nunca sem nexo causal. Ainda neste esteio, o nexo
causal cumpre dupla função: por um lado, permite
determinar a quem deve ser atribuído resultado danoso,
por outro lado, é indispensável na verificação da
extensão do dano a se indenizar, pois somente será
indenizado o dano efetivamente causado pela ação.

2.1.4 Dano

Nos ensinamentos de Gonçalves (2009), sem a prova do dano, ninguém pode ser
responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem
repercussão na órbita financeira do ofendido, haja vista que a inexistência de dano é óbice
à pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto.
Neste sentido, dano é a lesão a um interesse jurídico, patrimonial ou extrapatrimonial
(direito personalíssimo) que foi gerado pela ação ou omissão de um indivíduo infrator.
Ademais, todo dano deve ser reparado, mesmo que não se possa voltar ao estado em que
as coisas estavam (status quo ante), sempre será possível fixar uma quantia pecuniária a

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título de compensação. Para a reparação do dano são necessários os seguintes requisitos:


violar um interesse jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou de uma
pessoa jurídica; e a certeza do dano.
Exemplificando, tem-se o seguinte caso: a construtora Fazemos Bem Ltda realizou
empreendimento na cidade de Bonfim o qual vendeu todos os apartamentos. Dois anos
depois, um dos apresentou diversas trincas, o que levou os moradores a terem que
abandonar o prédio. Após perícia realizada, foi identificado que, o problema devia-se a
cálculo erroneamente realizado, que culminou com o comprometimento da infraestrutura.
Diante da perícia, ficou evidenciado a relação direta do engenheiro responsável - nexo de
causalidade - bem como o dano - famílias tiveram que pagar aluguel em outros locais, além
da perda do imóvel adquirido - assim foram responsabilizados tanto a construtora quanto o
responsável técnico.

Atenção: Necessário fazer uma distinção entre dano e


prejuízo, considerando que dano seria a ofensa à
integridade de uma pessoa ou de uma coisa, e prejuízo,
as consequências patrimoniais ou extrapatrimoniais
dessa ofensa.

2.2 Excludentes do Dever de Indenizar

O estudo das excludentes de responsabilidade é um tema que possui grande


relevância, pelo fato de elencar as defesas que podem ser alegadas pelo agente causador
do dano, de modo a afastar o seu dever de indenizar. Desta forma, serão abordados cinco
excludentes de responsabilidade civil: (a) legítima defesa; (b) estado de necessidade ou
perigo iminente; (c) exercício regular do direito ou das próprias funções; (d) excludentes do
nexo de causalidade, ou seja, fato exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e força
maior e; (e) cláusula de não indenizar.
Cumpre salientar que as três primeiras excludentes - legítima defesa, estado de
necessidade e exercício regular de direito - constituem atos ilícitos, nos termos do artigo 188
do Código Civil. Porém, em regra, não há o dever de indenizar considerando a falta de
ilicitude.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de
remover perigo iminente.

Quanto às excludentes de nexo de causalidade, são fatores que obstam a relação de


causa e efeito entre a conduta do agente e o dano causado. Por fim, a cláusula de não
indenizar ou de irresponsabilidade, representa uma previsão contratual que afasta a

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responsabilidade civil, viável juridicamente apenas no âmbito do inadimplemento das


obrigações.

2.2.1 Legítima Defesa

Nos termos do artigo 25, do Código Penal: entende-se em legítima defesa quem,
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente,
a direito seu ou de outrem. Ou seja, para que a legítima defesa seja procedente, é preciso
que a proporcionalidade da defesa seja requisito para tal ato possuir legitimidade.
Conforme já estudado anteriormente, em que pese quem pratica o ato danoso em
estado de necessidade seja obrigado a reparar referido dano causado, o mesmo não ocorre
com aquele que o pratica em legítima defesa, no exercício regular de um direito, bem como
no estrito cumprimento do dever legal. Segundo a redação do artigo 188, inciso I do Código
Civil: “não constituem atos ilícitos: os praticados em legítima defesa ou no exercício regular
de um direito reconhecido”.
Sendo assim, se o ato danoso foi praticado contra o próprio causador do dano ou ao
agressor e se caracterizado a legítima defesa, não pode e nem seria viável que o agente
seja responsabilizado civilmente pelos danos provocados. Contudo, por exemplo, se por
engano ou erro de pontaria, terceira pessoa foi atingida (ou alguma coisa de valor), neste
caso deve o agente reparar o dano. Entretanto, haverá uma ação regressa contra o agressor,
para ressarcimento da importância desembolsada.

Atenção: Importante mencionar que o excesso de


legítima defesa se torna punível, sendo passível de
responsabilização. Referida conduta inicia-se quando
cessa a injusta agressão e aquele que estava se
defendendo continua sua “defesa”. Podemos citar a
situação de uma criança pega em flagrante invadindo
uma propriedade para colher as frutas de uma árvore e
ser recebida a tiros. Neste caso, não há que se alegar
legítima defesa, pois esta não se confunde com o
excesso de defesa.

Para além da legítima defesa real, há casos da legítima defesa putativa (situação em
que o indivíduo age imaginando estar reagindo contra uma agressão inexistente), também
não exime o réu de indenizar o dano, pois somente exclui a culpabilidade e não a
antijuridicidade do ato.
Em regra, todo ato ilícito é indenizável. Contudo, a restrição a essa regra geral está
consagrada no art. 188, I e II, do Código Civil, que excepciona os praticados em legítima

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defesa, no exercício regular de um direito reconhecido e a deterioração ou destruição da


coisa alheia, a fim de remover perigo iminente.
Para além, os artigos 929 e 930, do Código Civil designam casos em que, embora o
agente tenha atuado sob o amparo dessas circunstâncias inibidoras do ilícito, subsiste a
obrigação de indenizar o eventual dano causado a outrem. Mesmo não sendo considerada
ilícita a conduta daquele que age em estado de necessidade, exige-se que repare o prejuízo
causado ao dono da coisa, ou à pessoa lesada, se estes não forem culpados pelo perigo.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188,
não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.

Em suma, a legítima defesa, que exclui a responsabilidade civil do agente, é a real,


pois, conforme visto, a legítima defesa putativa não exclui, e desde que o lesado seja o
próprio injusto agressor. Se terceiro é prejudicado, por erro de pontaria, subsiste a obrigação
de indenizar.

2.2.2 Estado de necessidade ou remoção do perigo iminente

Segundo Maria Helena Diniz, o estado de necessidade consiste na ofensa do direito


alheio para remover perigo iminente, quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário e quando não exceder os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Será legítimo quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário. Não libera de
quem o pratica de reparar o prejuízo que causou. Não podemos aceitar, que o prejuízo recaia
sobre a vítima inocente, e que esta permaneça irressarcida.
O estado de necessidade se justifica pela inexigibilidade de conduta adversa, de
forma que em situações jurídicas extremadas, sem que o agente a tenha provocado, para
se salvar de perigo atual e efetivo, se vê obrigado a causar um dano a outrem. É o caso do
alpinista que arremessa o companheiro ao abismo que se sustenta na mesma corda, pois
era séria a ameaça de romper-se com o peso dos dois.
Cumpre visualizar os conceitos de estado de necessidade defensivo e estado de
necessidade agressivo. Tais conceitos envolvem tanto o Direito Civil como o Direito Penal,
e, segundo os ensinamentos de Flávio Augusto Monteiro: “o estado de necessidade
defensivo está presente quando o agente, para preservar bem jurídico próprio ou alheio,
sacrifica bem pertencente ao causador da situação do perigo. Trata-se justamente do caso
da pessoa que destrói a casa do causador de um incêndio para salvar uma criança. Em
situações tais, não haverá dever de indenizar.
Lado outro, haverá estado de necessidade agressivo quando o agente, mais uma vez
para preservar um bem jurídico, sacrifica um bem pertencente a terceiro. Em casos como o

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descrito, pelo que consta do próprio Código Civil, haverá dever de indenizar. No entanto,
haverá direito de regresso contra o real causador do evento danoso.
Exemplificando tal instituto, vejamos: Considere que João dirige o seu veículo
regularmente. Entretanto, João é surpreendido por um outro veículo, conduzido por Pedro,
lhe provocando perigo iminente. Para João conseguir se salvar, removendo o perigo
causado por Pedro, necessária se faz a colisão em uma moto, de propriedade de Antônio,
que se encontrava estacionada. Nesta hipótese, Antônio poderá ajuizar ação indenizatória
contra João, que embora tenha agido em estado de necessidade, praticando ato lícito, será
civilmente responsabilizado pela reparação dos danos causados. Em que pese o João possa
vir a ser responsabilizado, o ordenamento jurídico lhe permite a propositura de ação
regressiva contra o causador do perigo, no caso Pedro.
Cumpre observar que se o Código Civil não tivesse excluído a ilicitude do ato
necessitado (praticado por João), não poderia ele ajuizar ação regressiva contra o causador
do perigo (Pedro), pois sua pretensão teria como fundamento a existência de ato ilícito por
ele próprio praticado.

2.2.3 Exercício regular de direito ou das próprias funções

Nos termos do artigo 188, em seu inciso I, segunda parte, do Código Civil, preconiza
que não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um direito reconhecido. Trata-
se de uma das excludentes do dever de indenizar mais discutidas no âmbito da
jurisprudência nacional. Sendo assim, o agente que atua respaldado no direito não poderá
sofrer sanção alguma relacionado ao próprio direito, não gerando assim, uma pretensão
indenizatória contra o agente que está exercitando regulamente seus direitos.
Tem-se um exemplo clássico dado pela doutrina, imagina-se uma situação na qual o
agente Antônio, andando tranquilamente pela rua e avista o agente Bruno, que se encontra
com a intenção de pular da ponte, Antônio, de imediato, o segura e impossibilita que o
mesmo pule. Este fato claramente constitui exercício regular de direito, pois possui previsão
no artigo 146 do Código Penal como se vê a seguir:

Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de


lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer
o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
II - a coação exercida para impedir suicídio.

Notoriamente, é possível esclarecer que os incisos I e II aduzem meios de uso do


direito que garantem ao agente a legalidade do ato que está praticando. Entretanto, tudo
dependerá das circunstâncias, cabendo verificar se, de acordo com as circunstâncias, o

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abuso foi doloso, eivado de má-fé, o que certamente responderá, pois seu ato é ilícito (art.
186 ou 187, do Código Civil), ensejando reparação.

2.2.4 Excludentes de nexo de causalidade

Conforme mencionado anteriormente, o nexo de causalidade é a relação entre a


conduta culposa e o dano. É necessário que o dano tenha nascido da conduta para existir o
dever de reparar. Entretanto, quando o evento ocorre por culpa exclusiva da vítima ou de
terceiros, bem como em caso fortuito e força maior, há a excludente de nexo de causalidade,
suprimindo a responsabilização civil.
Assim, se o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima, desaparece a
responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito entre
o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que, no caso de culpa
exclusiva da vítima, o causador do dano não passa de mero instrumento do acidente. Não
há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vítima.
Exemplificando, é o que ocorre quando a vítima é atropelada ao atravessar,
embriagada, uma estrada de alta velocidade; ou quando o motorista, dirigindo com toda a
cautela, vê-se surpreendido pelo ato da vítima que, pretendendo suicidar-se, atira-se sob as
rodas do veículo. Impossível, nestes casos, falar em nexo de causa e efeito entre a conduta
do motorista e os ferimentos, ou o falecimento, da vítima.
Lado outro, há situações em a culpa da vítima ocorre de forma parcial, ou seja, é
concorrente com a do agente causador do dano, uma vez que vítima e autor contribuem
para a produção de um fato danoso. Nesses casos, temos a culpa concorrente, e haverá a
repartição de responsabilidades, em conformidade com o grau e parcela de culpa.

Há casos em que a culpa da vítima é apenas parcial, ou concorrente com a do agente


causador do dano. Autor e vítima contribuem, ao mesmo tempo, para a produção de um
mesmo fato danoso. É a hipótese, para alguns, de “culpas comuns”, e, para outros, de “culpa
concorrente”.

Atenção: Em casos de culpa concorrente, a indenização


poderá ser reduzida pela metade, se a culpa da vítima
corresponder a uma parcela de 50%, como também
poderá ser reduzida de 1/4, 2/5, dependendo de cada
caso

Com efeito, dispõe o artigo 945 do Código Civil: “se a vítima tiver concorrido
culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”.

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Relativamente ao caso fortuito e força maior tem-se que ambos se encontram fora do
quesito culpa, pois se trata de acontecimentos que escampam do controle humano, ou seja,
são circunstâncias irresistíveis que impede o cumprimento da obrigação por parte do agente.
Tal instituto possui previsão legal no artigo 393, do Código Civil, que aduz:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou
força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Para tanto, grande parte da doutrina entende o caso fortuito como um evento
imprevisível e inevitável como, por exemplo: tempestades, enchentes e etc. Já a força maior
a doutrina entende como aquele em que nada pode ser feito mesmo que seja previsível.
O quesito imprevisibilidade se torna um elemento essencial para a caracterização do
caso fortuito, já na força maior será a irresistibilidade. Contudo, na prática, ambos são
responsáveis por excluir o nexo causal, ou seja, não haverá responsabilização do agente.
Ante todo o exposto, foi possível verificar e analisar os diversos institutos que afastam
a responsabilidade civil, que pode ocorrer através da exclusão do ato ilícito, por cláusula
expressa ou até mesmo por ausência de requisitos para se configurar a responsabilidade.
Conforme o artigo 188 do Código Civil traz as previsões expressas para exclusão de
um ato ilícito e por consequência da responsabilidade civil que conforme já foram citadas
são elas; o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal
e o exercício regular do direito. Porém, a culpa da vítima e o caso fortuito ou força maior
também podem afastar a responsabilidade.

Atividade: Para concluir a segunda semana de estudos,


vá até a sala virtual e participe do Fórum. Para tanto,
deverá fazer a leitura de um conhecido texto - “O caso
dos exploradores de Cavernas”, escrito por Lon Fuller,
devendo fazer uma publicação no fórum da semana,
associando as possibilidades interpretativas de
aplicação/afastamento da responsabilidade penal e civil.

Nos encontramos na próxima semana.


Bons estudos!

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Semana 3 – Teoria do Crime e Responsabilidade

Objetivos
Objetiva-se apontar, definir e verificar quais as distinções entre
as formas e espécies de responsabilidade civil, buscando,
para tanto, uma breve apresentação das teorias e definições
dos doutrinadores modernos que se debruçam nos estudos da
responsabilidade civil, à luz do Código Civil.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Teoria do Crime e
Responsabilidade – Semana 03”.

3.1 Teoria Geral do Crime

Os doutrinadores brasileiros divergem quanto a teoria do crime aplicada no Brasil,


haja vista que uma grande parte entende ser a teoria bipartite e outros, defendem a
quadripartite. Entretanto, a teoria adotada atualmente no ordenamento jurídico brasileiro é a
teoria triparte do crime, ou seja, aquela constituída por três elementos básicos de um crime,
a saber, fato típico, antijurídico (ilícito) e culpável.
Com a promulgação da Constituição Federal, diversos ramos do Direito foram criados
para proteção de bens relevantes à sociedade, a exemplo, as áreas administrativas, cíveis,
tributária, ambiental, etc. Contudo, há também o Direito Penal, que além da sua
subsidiariedade, atua somente em casos que os demais ramos do direito não conseguem
proteger, haja vista que no direito penal há proteção dos bens mais relevantes, como
exemplo: vida, propriedade, integridade física, etc.
Em suma, o direito penal é um sistema de normas jurídicas que regulam o poder de
punir do Estado, estabelecendo por pressupostos o crime como fato e uma pena como
consequência.
Neste sentido, cumpre esclarecer a definição de crime, conforme Mirabete (2005): a
doutrina tem definido o crime como sendo o fato típico e antijurídico. Para que exista o crime,
basta que haja um fato típico e antijurídico. Entretanto, para haver a aplicação da pena é
necessário também, que o fato seja culpável”.
Pode-se afirmar com segurança que todo crime é, em primeiro lugar, um fato típico
(ou seja previsto num tipo penal). Quando alguém realiza uma conduta não punida por
qualquer lei penal, é dizer, que não se subsume a nenhum tipo penal incriminador, pratica
um indiferente penal. Esse fato é típico. Insta salientar que a Constituição Federal declara
“não há crime sem lei anterior que o defina...” (art. 5º, XXXIX). Se o ato cometido não é

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definido em lei penal anterior, resta claro que não há crime. Lado outro, só há crime quando
o fato for típico (previsto e punido em lei penal anterior).
A mesma certeza existe, ainda, quanto à ilicitude, parte integrante do conceito de
crime. Justamente porque nosso Código Penal declara não haver crime quando o fato é
praticado ao abrigo de uma causa excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de
necessidade, exercício regular de um direito ou no estrito cumprimento de um dever legal).
No que tange à culpabilidade, há crime, ainda que ela não se verifique. Quando uma
pessoa comete um fato típico e antijurídico, mas age sem culpabilidade, nosso Código, em
vez de dizer que “não há crime”, como se viu acima, declara que o agente é “isento de pena”

Figura 2 – Conceito Analítico de Crime


Fonte: Elaborado por Ana Mendonça e Cristiane Dupret
https://www.editorajuspodivm.com.br/cdn/arquivos/2f82b4c7e82a6b0170bc21ec299d3a8c.pdf
Acesso em: 13 mai. 2021

Para além, a doutrina brasileira conceitua o crime em três formas, sendo elas:
material, formal e analítica. Vamos aprofundar no estudo de cada uma delas.
O doutrinador Capez (2003), nos explica o aspecto da teoria material, in verbis:

“É todo aquele que busca estabelecer a essência do conceito, isto é, o porquê de


determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Sob esse enfoque, crime
pode ser definido como todo fato humano que propositada ou descuidadosamente
lesa ou expõem a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência
da coletividade e da paz social” (CAPEZ, 2003, p. 105).

No aspecto material há uma análise se além da conduta prevista em lei ser crime, ela
também representa uma ofensa ao bem jurídico. Exemplo, no homicídio a vida; no furto o
patrimônio. Assim, sob esta perspectiva o crime pode ser definido como uma conduta que
resulta em uma lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.
Quanto ao aspecto formal, Capez (2003, p.106) assevera que “O conceito de crime
resulta da mera subsunção da conduta do tipo legal e por considerar-se infração penal tudo

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aquilo que o legislador descreve como tal, pouco importando o seu conteúdo”.
Exemplificando, no caso do homicídio, definido no artigo 121 do Código Penal, ninguém em
sã consciência vai afirmar que matar alguém está de acordo com a lei. O comando normativo
que dali se extrai é que não devemos matar, portanto, quando realizada, representa ofensa
ao comando normativo e, portanto, à própria lei.
O último aspecto, que por sinal é o foco, é o analítico, que pode ser diferente
dependendo da teoria adotada. Desta forma, Capez (2003, p. 106) conceitua o aspecto
analítico sendo “aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos
estruturais do crime”. Enquanto Mirabete (2005, p. 96) descreve que “o conceito formal de
delito com referência aos elementos que o compõem (melhor seria fala-se em aspectos ou
características do crime), de caráter analítico, tem evoluído”.
Por fim, podemos observar que para que haja caracterização de um crime, torna-se
extremamente necessário que se tenha os aspectos formais e materiais a serem analisados
em relação a conduta praticada pelo agente. Observa-se também, que alguns doutrinadores
discutem sobre o elemento culpabilidade, pautando seu status de elemento constituinte do
crime ou se deveria ser analisado apenas como um pressuposto de punibilidade. Fato é que
mesmo havendo ótimos argumentos em ambas as correntes doutrinárias, a teoria adotada
no ordenamento jurídico é a teoria tripartida, ou seja, deve-se considerar os três elementos
para configuração do crime, a saber: fato típico, ilicitude e culpabilidade.

3.2 Responsabilidade Penal

As normas jurídicas são convergentes no sentido de que se voltam para a


preservação de bens e interesses; consequentemente o ilícito (contrariamente ao dever
jurídico), causa do dano ou estabelece perigo ao objeto jurídico. Desta forma, seja no âmbito
civil, como no criminal, o ilícito acarreta prejuízo (no sentido amplo do termo, abrangendo
também a probabilidade de dano); porém, enquanto o prejuízo civil afeta diretamente
interesse individual, o prejuízo penal, antes de tudo, ofende interesse coletivo.
No Direito Penal, o prejuízo é da sociedade, tanto assim que, os autores registram o
Estado como sujeito passivo de todas as infrações penais. Para além, o consentimento da
vítima, impeditivo do nascimento do ilícito, somente é válido nos limites concedidos pelo
Estado. A diferença apontada reflete na disciplina da ação, para o fim de ser relevante como
ilícito civil ou penal.
Em todas as legislações modernas, observa-se uma constante no terreno civil - a
responsabilidade objetivo, que pouco a pouco ganha maior extensão e, em detrimento da
vida em sociedade e da multiplicação das relações jurídicas, houve uma condução da
doutrina a subscreverem entendimento mais favorável à vítima. O dano, portanto, deve ser
sempre reparado, e eliminados, quando possível, os obstáculos para consolidar-se a
reparação.
Contudo, no Direito Penal o tratamento da ação ilícita segue caminho diverso. De
início predominou a responsabilidade objetiva, porém, ao passar pelo Direito Grego e Direito
Canônico, até a consagração do período humanitário, à prevalência da responsabilidade

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Pró-Reitoria de Extensão 45
subjetiva. Hoje, encontra-se presente na Constituição Federal de 1988, o princípio da
individualização da pena, em que, referida norma deve ser interpretada e compreendida
como determinação de estudo também do acusado na aplicação da pena.

Art. 5º - (...)

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;


b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

Dica do Professor: Cumpre fazer uma distinção entre


responsabilidade objetiva e subjetiva. A
responsabilidade objetiva tem como requisitos a
conduta, o dano e o nexo causal. Ou seja, nesses casos
o causador do dano deverá indenizar a vítima mesmo
que não seja comprovada a culpa. Por outro lado, na
responsabilidade subjetiva é necessário comprovar a
conduta, o dano, o nexo causal e culpa do agente. Desse
modo, o causador do dano só deverá indenizar a vítima
se ficar caracterizada a culpa. A responsabilidade
penal pertence a seu autor, é própria dele, subjetiva, na
medida em que é responsável pelo fato praticado porque
quis (dolo) ou porque tal fato ocasionou-se devido à falta
de um dever de cuidado (culpa), ou por omissão quando
tinha o dever legal de agir.

No Direito Civil não há que se falar em individualização da sanção. Esta, como


reparação do dano, é sempre a mesma, oscilando somente o “quantum” da indenização,
haja vista que não importa a personalidade do agente que haja atuado com dolo ou culpa,
os meios empregados, o modo de execução, os motivos determinantes, as circunstâncias
de tempo e de lugar, os antecedentes do autor e sua atitude de insensibilidade, diferença ou
arrependimento após o fato. Interessa, exclusivamente, a maior ou menor extensão do dano.
Contudo, no Direito Penal não é assim, considerando que resultado da ação é importante,
todavia, não é a única referência para fixar a pena do indivíduo.
Em sendo a infração penal um ilícito personalíssimo, evidentemente a respectiva
sanção é censura ao agente, ao contrário do ilícito civil que enfoca o prejuízo. Em outras
palavras, a sanção no âmbito criminal tem o acusado por objeto, enquanto no civil, se volta
ao patrimônio.

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Pró-Reitoria de Extensão 46
Ainda, há que ressaltar que alguém é responsável criminalmente quando responde
por um ilícito, considerando que o descumprimento de uma norma penal cria para o Estado
uma pretensão punitiva. Todavia, torna-se imprescindível que o agente a quem se impõe as
consequências do ato, seja imputável, ou seja, que tenha condições de atribuir-lhe as
responsabilidades da infração.
Ademais, o contexto típico, a conduta praticada pelo autor da ação penal, tal como a
responsabilidade se caracteriza pela previsibilidade do autor. Assim, a pena imputada, na
convicção penal, firma-se na medida em que se estrutura a tentativa ou consumação do tipo.
Desta forma, ninguém responde por fato ilícito fora da sua culpabilidade, ou seja, ou seja,
ao contrário do que ocorre na responsabilidade civil, a responsabilidade penal é
intransferível. Em outras palavras, por exemplo, o empregador não será condenado por
homicídio causado pelo sem empregado.
Adequando para as aéreas da Engenharia, o profissional pode ser responsabilizado,
também, penalmente pelos atos ilícitos que praticar. Esta responsabilidade decorre dos fatos
considerados crimes, e pode até mesmo sujeitar os profissionais engenheiros a pena de
reclusão, dependendo da gravidade da ação cometida.

Dica do Professor: Pena de reclusão é aquela aplicada


a crimes dolosos, e cumprida em regime fechado
(estabelecimento penal de segurança média ou máxima,
semiaberto (estabelecimento penal agrícola, industrial
ou similar, sendo possível o trabalho externo) ou aberto
(cumprido em estabelecimento chamado “cada do
albergado”, ou similar, inclusive domiciliar); e pena de
detenção é aquela aplicada tanto a crimes dolosos como
culposos, e seu regime de cumprimento é semi-aberto
ou aberto.

Assim, a responsabilidade do profissional de Engenharia, assim como de qualquer


outro profissional decorre da obrigação de probidade, de lisura e boa-fé nas relações para
com os outros profissionais e contratantes. Assim, se porventura ocorrer dano, o engenheiro
tem a obrigação legal de reparar e/ou indenizar.

3.3 Indenização na esfera penal

O ofendido pelo crime, sujeito passivo da relação jurídico-penal, normalmente não


integra a relação jurídico-processual penal, salvo nas ações penais de iniciativa privada
quando poderá, em nome próprio, interpor a ação penal. Ainda, a ação penal privada é
aquela na qual se tem como titular, em regra, o ofendido e, excepcionalmente, - na falta de
capacidade da vítima - o seu representante legal por meio da qual se busca o início da ação
penal.

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Pró-Reitoria de Extensão 47
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara
privativa do ofendido.

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei


o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de


quem tenha qualidade para representá-lo.

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o


Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.

Para início da ação penal privada, a vítima deve apresentar a queixa-crime, sendo
essa a peça processual cabível para averiguação do ato e devido andamento processual.
Apresentada perante o juízo criminal, com o pedido de que o autor ou os autores do crime
sejam processados e condenados. Ademais, dispõe a vítima de um período de até 06 (seis)
meses, a partir do dia que o autor do crime foi identificado.

Atenção: A decadência nada mais é do que a perda do


direito de ação do ofendido de propor a ação penal
privada. Ou seja, possui prazo de até 06 meses a partir
do conhecimento do autor do delito. Passado esse
prazo, nada mais poderá ser feito.

Nas ações penais privadas, as vítimas normalmente apresentam um papel secundário


na ação penal, considerando ser o Ministério Público o titular da acusação, nos termos do
artigo 129, inciso I, da Constituição Federal, que aduz: “São funções institucionais do
Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”. Isso
ocorre porque a lide penal é baseada no conflito entre a pretensão punitiva do Estado e a
pretensão do acusado. Nestes termos, a vítima não é considerada um sujeito de direitos,
mas mero objeto ou pretexto da investigação a ser instaurada.
Com o surgimento e implantação dos Juizados Especiais, amparado pela Lei nº
9.099/95, traz relevância ao sujeito passivo do crime, dando-se importância à reparação civil
dos dados, conforme se extrai dos artigos 72 e 89, §1º, inciso I, da referida lei, possuindo
como um dos objetivos da lei a reparação dos danos sofridos pela vítima.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o


autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus
advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da
aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do
Código Penal).

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Pró-Reitoria de Extensão 48
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

Dica do Professor: Os juizados especiais são um


importante meio de acesso à justiça, pois permitem que
cidadãos busquem soluções para seus conflitos
cotidianos de forma rápida, eficiente e gratuita. Os cíveis
servem para conciliar, julgar e executar causas de menor
complexidade, que não exceda 40 salários mínimos. Já
os criminais conciliam, julgam e executam infrações
penais de menor potencial ofensivo.

Já no Código Penal, há outros efeitos em decorrência de uma sentença penal


condenatória, podendo ser efeitos de natureza penal ou de natureza civil, entre os quais o
de tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, nos termos do artigo
91, inciso I, do Código Penal, in verbis: “São efeitos da condenação: I - tornar certa a
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime.” Neste sentido, além de aplicar uma
sanção de caráter penal, atua também como uma função declaratório de que houve a prática
de um ato ilícito.
Para que o autor do crime tenha que indenizar a vítima, é necessário o dano resultante
do ilícito praticado, contudo, insta salientar que mesmo que a sentença penal condenatória
nada tenha dito sobre o dano, isso pouco importa e não interfere no ajuizamento da ação no
âmbito cível. Entretanto, há uma informação importante, considerando que a entrada em
vigor da Lei 11.719, que altera o Código de Processo Penal, a partir de 2008 foi autorizado
aos juízes que, ao proferir uma sentença penal, já fixasse os valores de danos morais para
a vítima ou seus familiares. Vejamos a nova redação do artigo 387 do referido dispositivo.

Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:


IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;

Não obstante, caso o juiz no âmbito penal reconhecer que o fato tenha sido praticado
perante as excludentes; em estado de necessidade, no estrito cumprimento do dever legal,
em legítima defesa ou no exercício regular do direito, afastará o ilícito do caso, fazendo coisa
julgada no cível.
Porém, caso tenha ocorrido uma situação definida como estado de necessidade
gerando danos e prejuízos, o responsável poderá no âmbito cível ter que indenizar a vítima,

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desde que esta não tenha dado causa a situação de perigo, conforme os artigos 929 e 930
do Código Civil.

Atenção: O conceito de coisa julgada está previsto no


artigo 502 do Código de Processo Civil, que a descreve
como sendo uma autoridade que impede a modificação
ou discussão de decisão de mérito da qual não cabe
mais recursos.

Ante todo o exposto, é possível notar que o Estado exerce seu poder soberano de
maneira a editar leis, além de ser o responsável por aplicar a justiça, por meio de casos
concretos, com aplicação das normas instituídas. Contudo, com o intuito de facilitar essas
funções, o legislador optou por dividi-las nos termos dos ramos do Direito. Para tanto,
embora a jurisdição seja una e indivisível ocorre essas separações visando o caráter prático.
Desta forma, quando há a ocorrência de um ilícito penal, que normalmente também
se trata de um ilícito civil, será apurada a sua responsabilidade penal junto ao juízo criminal,
e a responsabilidade civil no juízo cível. Tais processos poderão ocorrer simultaneamente,
e desta forma poderá ter a incidência de sentenças contraditórias entre si, como explica
Gonçalves (2012): “Corre-se o risco de se ter duas decisões conflitantes: uma afirmando a
existência do fato ou da autoria e a outra negando; uma reconhecendo a ilicitude da conduta
do réu e a outra a licitude”.
Por esta razão, foi criado pelo legislador e inserido em diversos diplomas artigos para
disciplinar a interação entre as jurisdições civil e penal, para que não ocorram decisões
conflitantes que poderiam causar descredibilidade do Poder Judiciário.

Atividade: Para concluir o curso e gerar o seu


certificado, vá até a sala virtual e responda ao
Questionário “Avaliação Geral”. Este teste é constituído
por 10 perguntas de múltipla escolha, que se baseiam
em nos tópicos elencados neste material.

Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer tê-lo conosco!

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Pró-Reitoria de Extensão 50
Referências
______. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de janeiro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro,
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>.
Acesso em: 27 fev. 2021.

______. Lei nº 10.046, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 04 dez. 2016.

______. Poder Judiciário. Conselho da Justiça Federal. Enunciado nº 37. I Jornada de


Direito Civil. Brasília, 2002. Disponível em: < https://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-
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cej/EnunciadosAprovados-Jornadas-1345.pdf.> Acesso em: 17 abr. 2021.

______. Poder Judiciário. Conselho da Justiça Federal. Enunciado nº 539. IV Jornada de


Direito Civil. Brasília, 2006. Disponível em: <https://www.cfj.jus.br/cjf/corregedoria-da-
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web.pdf.> Acesso em: 17 abr. 2021.

______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 210.101/PR. Relator: Juiz


Federal convocado do TRF 1ª Região Carlos Fernando Mathias. 4ª Turma. 09 de dezembro
de 2008. Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21809069/recurso-
especial-resp-839923-mg-2006-0038486-2-stj/inteiro-teor-21809070>. Acesso em: 20 abr.
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal,


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CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal - Volume1: parte geral (arts. 1° a 120). 13. ed.
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CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo:
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CORDEIRO, António Menezes. Tratado de direito civil português. Coimbra: Almedina,


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GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de Direito Civil. Volume 03. 17 ed. São Paulo. 2019.

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GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, v. 3:
responsabilidade civil. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

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MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado, Atlas. São Paulo. 2005.

PIVA, Rui Carvalho. Direito Civil: parte geral. São Paulo. 2012.

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Disponível em: <http://www.valeriosaavedra.com/conteudo_18_responsabilidade-civil-e-
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TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. Volume
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TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. 2 ed. Rio de Janeiro. 2020.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2003

52
Currículo do autor

Luiz Carlos Garcia é Advogado. Professor de Direito Privado junto a Universidade


Presidente Antônio Carlos - UNIPAC/Itabirito. Professor substituto no Instituto
Federal de Minas Gerais - IFMG. Coordenador de Extensão da UNIPAC/Itabirito.
Doutorando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Mestre
em Engenharia Ambiental no Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto. Mestre em Direito no Programa
de Pós Graduação em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Pós-graduado em Direito Ambiental pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais.
Pós-graduado em Direito Administrativo e Econômico pela Faculdade Mantenense
dos Vales Gerais. Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto. Atuou como professor
substituto de direito privado junto a Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP. Atuou como professor de
Direito público junto a Faculdade de Direito do Leste de Minas - FADILESTE. Desenvolve trabalhos na
prática extensionista, orientação de iniciação científica e monografia de conclusão de curso.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2391299572131929

Feito por (professor-autor) Data Revisão de layout Data Versão

Luiz Carlos Garcia 17/05/2021 Viviane Lima Martins 18/05/2021 1.0

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Glossário de códigos QR (Quick Response)

Mídia digital Mídia digital


Apresentação do Dois Pesos e Duas
curso Medidas

Dica do professor Mídia digital


Responsabilização -
Responsabilidade
Desabamento de
Civil e Penal -
viaduto em Belo
Semana 02
Horizonte

Dica do professor Mídia digital


O Caso dos Teoria do Crime e
Exploradores das Responsabilidade -
Cavernas - Lon Fuller Semana 03

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Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD

A Pró-Reitoria de Extensão (Proex), neste ano de


2020 concentrou seus esforços na criação do Programa
+IFMG. Esta iniciativa consiste em uma plataforma de cursos
online, cujo objetivo, além de multiplicar o conhecimento
institucional em Educação à Distância (EaD), é aumentar a
abrangência social do IFMG, incentivando a qualificação
profissional. Assim, o programa contribui para o IFMG cumprir
seu papel na oferta de uma educação pública, de qualidade e
cada vez mais acessível.
Para essa realização, a Proex constituiu uma equipe
multidisciplinar, contando com especialistas em educação,
web design, design instrucional, programação, revisão de
texto, locução, produção e edição de vídeos e muito mais.
Além disso, contamos com o apoio sinérgico de diversos
setores institucionais e também com a imprescindível
contribuição de muitos servidores (professores e técnico-
administrativos) que trabalharam como autores dos materiais
didáticos, compartilhando conhecimento em suas áreas de
atuação.
A fim de assegurar a mais alta qualidade na produção destes cursos, a Proex adquiriu
estúdios de EaD, equipados com câmeras de vídeo, microfones, sistemas de iluminação e
isolação acústica, para todos os 18 campi do IFMG.
Somando à nossa plataforma de cursos online, o Programa +IFMG disponibilizará
também, para toda a comunidade, uma Rádio Web Educativa, um aplicativo móvel para
Android e IOS, um canal no Youtube com a finalidade de promover a divulgação cultural e
científica e cursos preparatórios para nosso processo seletivo, bem como para o Enem,
considerando os saberes contemplados por todos os nossos cursos.
Parafraseando Freire, acreditamos que a educação muda as pessoas e estas, por
sua vez, transformam o mundo. Foi assim que o +IFMG foi criado.

O +IFMG significa um IFMG cada vez mais perto de você!

Professor Carlos Bernardes Rosa Jr.


Pró-Reitor de Extensão do IFMG
Características deste livro:
Formato: A4
Tipologia: Arial e Capriola.
E-book:
1ª. Edição
Formato digital

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