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Civil e Penal
Formação Inicial e
Continuada
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IFMG
Luiz Carlos Garcia
Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
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2021
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Sobre o material
Formulário de
Sugestões
Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.
Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando
eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:
Objetivos
Inicialmente teremos a apresentação do conceito,
características, elementos e demais pontos relevantes da
Responsabilidade Civil. Embasado pela doutrina,
jurisprudência e demonstrando a sua aplicabilidade, através
de exemplificações que nos remetem a casos cotidianos de
nossa sociedade.
Entende-se, assim, por dever jurídico a conduta externa de uma pessoa imposta pelo
Direito Positivo por exigência da convivência social. Não se trata de simples
conselho, advertência ou recomendação, mas de uma ordem ou comando dirigido e
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à vontade dos indivíduos, de sorte que impor deveres jurídicos importa criar
obrigações (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 02).
A violação de um dever jurídico configura o ilícito, que, quase sempre, acarreta dano
para outrem, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano. Há
assim, um dever jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação
gera um dever jurídico sucessivo, também chamado de secundário, que é o de
indenizar o prejuízo. A título de exemplo, lembramos que todos têm o dever de
respeitar a integridade física do ser humano. Tem-se, aí, um dever jurídico originário,
correspondente a um direito absoluto. Para aquele que descumprir esse dever surgirá
um outro dever jurídico: o da reparação do dano (CAVALIERI FILHO, 2012, p. 02).
Neste sentido, tem-se aqui a noção de responsabilidade civil, considerando que seu
sentido etimológico, a responsabilidade exprime uma ideia de obrigação, encargo e
contraprestação. Contudo, em seu sentido jurídico, o termo responsabilidade está
relacionado à um desvio de conduta, ou seja, alcança as condutas praticadas de forma
contrária ao direito e danosas a outrem.
Portanto, cumpre explicitar a procedência do termo “responsabilidade”. Para tanto,
usaremos a definição dada por Gagliano e Pamplona Filho:
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Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir
do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde
a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório
(extingue-se pelo cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação
economicamente aferível (DINIZ, 2020, p. 507).
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do próprio imputado, da pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal
sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal (DINIZ, 2001, p. 34).
A responsabilidade civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que sofreu o
prejuízo e a que deve repará-lo, deslocando o ônus do dano sofrido pelo lesado para
outra pessoa que, por lei, deverá suportá-lo, atendendo assim à necessidade moral,
social e jurídica de garantir a segurança da vítima violada pelo autor do prejuízo. Visa,
portanto, garantir o direito do lesado à segurança, mediante o pleno ressarcimento
dos danos que sofreu, restabelecendo-se na medida do possível o statu quo ante,
logo, o princípio que domina a responsabilidade civil na era contemporânea é o da
restitutio in integrum, ou seja, da reposição completa da vítima à situação anterior à
lesão, por meio de uma reconstituição natural, de recurso a uma situação material
correspondente ou de indenização que represente do modo mais exato possível o
valor do prejuízo no momento e seu ressarcimento, respeitando assim, sua dignidade
(DINIZ, 2007, p. 07-08).
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[...] Ainda que não muito farta a doutrina pátria no particular, têm-se designado as
"punitive damages" como a "teoria do valor do desestímulo" posto que, repita-se, com
outras palavras, a informar a indenização, está a intenção punitiva ao causador do
dano e de modo que ninguém queira se expor a receber idêntica sanção. (...) "O
critério que vem sendo utilizado por essa Corte Superior na fixação do valor da
indenização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das
partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o
enriquecimento indevido do ofendido, bem como que sirva para desestimular o
ofensor a repetir o ato ilícito [...] (REsp 210.101/PR, Rel. Min. Carlos Fernando
Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região),4ª Turma, unânime, DJe de
09.12.2008).
Desta forma, a própria conduta social define o dever do indivíduo, ao agir de maneira
que possa causar infortúnio a terceiro, indenizá-lo de forma a prestar uma contraprestação
pela conduta danosa praticada e ressarcir os prejuízos causados.
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Para efeito de punição ou da reparação, isto é, para aplicar uma ou outra forma de
restauração da ordem social é que se distingue: a sociedade toma à sua conta aquilo
que a atinge diretamente, deixando ao particular a ação para restabelecer se, à custa
do ofensor, no status quo anterior à ofensa. Deixa, não porque se não impressione
com ele, mas porque o Estado ainda mantém um regime político que explica a sua
não intervenção. Restabelecida a vítima na situação anterior, está desfeito o
desequilíbrio experimentado (GONÇALVES, 2011, p. 41).
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Ademais, ante a todos os aspectos que fazem a distinção entre responsabilidade civil
e penal, insta salientar que a responsabilidade penal é intransferível, haja vista que o réu
pode, inclusive, responder com a privação de sua liberdade. Por esta razão pela qual tal
responsabilização deve ser cercada por todas as garantias contra o Estado, haja vista que
a este incumbe reprimir o crime e arcar com todo o ônus da prova.
Já a responsabilidade civil é patrimonial: é o patrimônio do devedor que responde por
suas obrigações. Ninguém pode ser preso por dívida civil no Brasil, exceto o devedor de
pensão oriunda do Direito de Família. Desse modo, se o causador do dano é obrigado a
indenizar não tiver bens que possam ser penhorados, a vítima permanecerá irressarcida.
Contudo, tem-se o instituto desconsideração de personalidade como uma forma de
inibir o desvio de finalidade da pessoa jurídica praticado pelos sócios e/ou administradores,
que a utiliza para a prática de atos abusivos ou fraudulentos.
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observados, considerando que já estabelece um vínculo jurídico entre as partes. Lado outro,
a responsabilidade extracontratual não existe um contrato formalizado entre as partes,
contudo, o dever jurídico violado é previsto em lei e no ordenamento jurídico.
Exemplificativamente, há responsabilidade contratual quando existe a celebração de
um contrato, senão vejamos: João antes de se casar, optou por construir um imóvel em lote
que lhe foi cedido pelo pai. Para tal, contratou Eduardo, engenheiro civil conhecido da família
para fazer o projeto. Após, dois meses e com parte dos trabalhos desenvolvidos, Eduardo
acionou João afirmando ter que romper o contrato pois viajaria para fora do país. Sem uma
negociação sobre o objeto contratado, João acionou Eduardo na Justiça, para que o mesmo
fosse responsabilizado civilmente pelo rompimento injustificado do contrato.
Em casos de responsabilidade extracontratual, não há celebração de um contrato,
haja vista que decorre da própria lei. Sendo assim, vejamos o exemplo a seguir: O
engenheiro ambiental Clóvis, atuando como avaliador em determinada usina hidrelétrica
exarou um relatório cujo conteúdo dizia estar o empreendimento em consonância com as
leis ambientais. Após algum tempo, foi visualizado que, a usina vinha depositando efluentes
em quantidade fragrantemente superior aos parâmetros legais. O Ministério Público, acionou
a usina e também Clóvis, que ao alterar o relatório apresentado, lesou direitos de toda a
coletividade por atentar contra bem ambiental.
Ante os exemplos supramencionados, torna-se claro a distinção entre as
responsabilidades aqui estudadas, entretanto, em nosso sistema jurídico, a divisão entre
responsabilidade contratual e extracontratual não é isolada ou exclusiva. Pelo contrário, há
vínculo entre esses dois tipos de responsabilidade, haja vista que regras previstas no Código
Civil (2002) para a responsabilidade contratual são também aplicadas à responsabilidade
extracontratual, conforme se depreende dos artigos 393, 402 e 403 do referido dispositivo.
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causal esteja comprovado. Neste sentido, a culpa será ou não considerada elemento da
obrigação de reparar o dano.
Diz-se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A
prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Nessa
concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo
ou culpa, sendo obrigado a indenizar do dano causado apenas caso se consume sua
responsabilidade.
Exemplo clássico que podemos seguir é um acidente de ônibus, onde o motorista do
veículo será compelido a indenizar dos prejuízos, caso seja provada a vontade de praticar
aquele ato (dolo) ou ainda que haja a presença de negligência, imprudência ou imperícia
(culpa).
O Código Civil, em seu artigo 186, manteve a culpa como fundamento da
responsabilidade subjetiva, haja vista que foi empregada em seu sentido amplo, de forma a
indicar também o dolo, conforme a seguir: Art. 186. “Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Contudo, em determinados casos, pessoas e situações, a lei impõe um dever de
reparar o dano, independentemente de culpa. Quando há ocorrência dessa situação, tem-
se a responsabilidade objetiva, ou seja, ela prescinde da culpa e se concretiza com o dano
e nexo de causalidade, considerando que essa pode ou não existir, mas será sempre
irrelevante para a configuração do dever de indenizar.
A responsabilidade objetiva é presente na maioria das relações previstas no Código
de Defesa do Consumidor, e, novamente utilizando o universo do exemplo anterior, podemos
definir que, no mesmo acidente de ônibus, a empresa responsável pelo transporte
responderá de forma objetiva pelos transtornos causados, justamente pela relação empresa-
cliente ser prevista no código consumerista.
Por sua vez, sustenta-se uma responsabilidade objetiva, sem culpa, baseando-se na
chamada Teoria do Risco, que foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, e recebido
pelo Código Civil nos artigos 927 e 931, in verbis.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos
causados pelos produtos postos em circulação.
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Ademais, houve uma inovação constante no parágrafo único do artigo 927, do Código
Civil, considerando a admissão da responsabilidade sem culpa, pelo exercício de atividade
que, por sua natureza, representa risco para os direitos de outrem. Desta forma, tal
legislação, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável.
Nas palavras de Cavalieri (2008), todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem o causou independente de ter ou não agido com culpa. Resolve-se o
problema na relação de nexo de causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a
culpa”.
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lei, sendo, por isso, chamados de involuntários. Quando alguém comete um ilícito há a
infração de um dever e a imputação de um resultado.
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Neste diapasão, o Código Civil traz a responsabilidade civil pautada em dois pilares,
a saber, ato ilícito e abuso de direito, ambos descritos, respectivamente nos artigos 186 e
187 do mesmo dispositivo, in verbis:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes
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Semana 2 – Responsabilidade Civil e Penal Plataforma +IFMG
Objetivos
Abordaremos quais os pressupostos da Responsabilidade
Civil, tratando dos fenômenos que precisam ter acontecido
para que haja responsabilidade civil. E por sua vez, traremos
a importância de compreendê-los para identificar quando
existe ou quando não existe o dever de indenizar.
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“ação ou omissão” inicialmente refere-se à lei a qualquer pessoa que, por ação ou
omissão, venha a causar dano a outrem. A responsabilidade pode derivar de ato
próprio, de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos
causador por coisas e animais que lhe pertençam (GONÇALVES, 2011. p. 22).
Neste sentido, a conduta humana pode ser positiva (um fazer) e negativa (uma
omissão). Essa conduta deve ser voluntária, o que não significa, necessariamente, a vontade
de causar prejuízo (culpa). O elemento voluntariedade é tão simplesmente ter consciência
da ação cometida.
Sendo assim, a responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro que
esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e animais que lhe
pertençam. Nos casos de ato próprio, o Código Civil prevê, dentre outros, nos casos de
calúnia, difamação e injúria; de demanda de pagamento de dívida não vencida ou já paga;
de abuso de direito.
Já a responsabilidade de ato de terceiro, vejamos o que aduz os artigos 932 e 933 do
Código Civil, in verbis:
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Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que
não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali
referidos.
Por fim, a responsabilidade por danos causados por animais e coisas que estejam
sob a guarda do agente é, em regra, objetiva: independe de prova de culpa. Isto se deve ao
aumento do número de acidentes e de vítimas, que não devem ficar irressarcidas, decorrente
do grande desenvolvimento da indústria de máquinas. Vejamos os artigos 936 a 938, do
Código Civil.
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não
provar culpa da vítima ou força maior.
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de
sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente
das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.
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O grau de culpa restará disposto nos artigos 944 e 945 do Código Civil, momento pelo
qual o dano se apresenta consumado. A verificação do grau de culpa tem como intuito a
avaliação para a respectiva indenização dada a responsabilidade civil do autor.
Cumpre salientar que para obter a reparação do dano, nos termos da teoria subjetiva
adota pelo ordenamento jurídico, a vítima ainda precisa provar dolo ou culpa stricto sensu
do agente. Entretanto, considerando que essa prova é por vezes dificilmente localizada, o
ordenamento permite, em hipóteses específicas, a responsabilização sem culpa, que,
conforme já mencionado anteriormente, trata-se da responsabilidade objetiva, baseando-se
na teoria do risco.
Por fim, não é necessário traçar uma distinção entre dolo e culpa stricto sensu, haja
vista que o objetivo é indenizar vítima e não gerar uma punição ao agente culpado, razão
pela qual a indenização é medida pela extensão do dano e não pelo grau de culpa do agente.
Pela mesma razão, não faremos uma distinção entre culpa grave, leve e levíssima,
considerando que conforme previsto no artigo 944, do Código Civil, a legislação torna
possível ao juiz graduar a indenização se houver excessiva desproporção entre o dano
causado e a gravidade da culpa. Desta forma, é necessário que no momento da conduta, ou
o sujeito causou prejuízo intencional a outrem, no caso do dolo, ou o causou por agir sem o
dever de cuidado, no caso da culpa stricto sensu.
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2.1.4 Dano
Nos ensinamentos de Gonçalves (2009), sem a prova do dano, ninguém pode ser
responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem
repercussão na órbita financeira do ofendido, haja vista que a inexistência de dano é óbice
à pretensão de uma reparação, aliás, sem objeto.
Neste sentido, dano é a lesão a um interesse jurídico, patrimonial ou extrapatrimonial
(direito personalíssimo) que foi gerado pela ação ou omissão de um indivíduo infrator.
Ademais, todo dano deve ser reparado, mesmo que não se possa voltar ao estado em que
as coisas estavam (status quo ante), sempre será possível fixar uma quantia pecuniária a
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Nos termos do artigo 25, do Código Penal: entende-se em legítima defesa quem,
usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente,
a direito seu ou de outrem. Ou seja, para que a legítima defesa seja procedente, é preciso
que a proporcionalidade da defesa seja requisito para tal ato possuir legitimidade.
Conforme já estudado anteriormente, em que pese quem pratica o ato danoso em
estado de necessidade seja obrigado a reparar referido dano causado, o mesmo não ocorre
com aquele que o pratica em legítima defesa, no exercício regular de um direito, bem como
no estrito cumprimento do dever legal. Segundo a redação do artigo 188, inciso I do Código
Civil: “não constituem atos ilícitos: os praticados em legítima defesa ou no exercício regular
de um direito reconhecido”.
Sendo assim, se o ato danoso foi praticado contra o próprio causador do dano ou ao
agressor e se caracterizado a legítima defesa, não pode e nem seria viável que o agente
seja responsabilizado civilmente pelos danos provocados. Contudo, por exemplo, se por
engano ou erro de pontaria, terceira pessoa foi atingida (ou alguma coisa de valor), neste
caso deve o agente reparar o dano. Entretanto, haverá uma ação regressa contra o agressor,
para ressarcimento da importância desembolsada.
Para além da legítima defesa real, há casos da legítima defesa putativa (situação em
que o indivíduo age imaginando estar reagindo contra uma agressão inexistente), também
não exime o réu de indenizar o dano, pois somente exclui a culpabilidade e não a
antijuridicidade do ato.
Em regra, todo ato ilícito é indenizável. Contudo, a restrição a essa regra geral está
consagrada no art. 188, I e II, do Código Civil, que excepciona os praticados em legítima
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Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188,
não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.
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descrito, pelo que consta do próprio Código Civil, haverá dever de indenizar. No entanto,
haverá direito de regresso contra o real causador do evento danoso.
Exemplificando tal instituto, vejamos: Considere que João dirige o seu veículo
regularmente. Entretanto, João é surpreendido por um outro veículo, conduzido por Pedro,
lhe provocando perigo iminente. Para João conseguir se salvar, removendo o perigo
causado por Pedro, necessária se faz a colisão em uma moto, de propriedade de Antônio,
que se encontrava estacionada. Nesta hipótese, Antônio poderá ajuizar ação indenizatória
contra João, que embora tenha agido em estado de necessidade, praticando ato lícito, será
civilmente responsabilizado pela reparação dos danos causados. Em que pese o João possa
vir a ser responsabilizado, o ordenamento jurídico lhe permite a propositura de ação
regressiva contra o causador do perigo, no caso Pedro.
Cumpre observar que se o Código Civil não tivesse excluído a ilicitude do ato
necessitado (praticado por João), não poderia ele ajuizar ação regressiva contra o causador
do perigo (Pedro), pois sua pretensão teria como fundamento a existência de ato ilícito por
ele próprio praticado.
Nos termos do artigo 188, em seu inciso I, segunda parte, do Código Civil, preconiza
que não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um direito reconhecido. Trata-
se de uma das excludentes do dever de indenizar mais discutidas no âmbito da
jurisprudência nacional. Sendo assim, o agente que atua respaldado no direito não poderá
sofrer sanção alguma relacionado ao próprio direito, não gerando assim, uma pretensão
indenizatória contra o agente que está exercitando regulamente seus direitos.
Tem-se um exemplo clássico dado pela doutrina, imagina-se uma situação na qual o
agente Antônio, andando tranquilamente pela rua e avista o agente Bruno, que se encontra
com a intenção de pular da ponte, Antônio, de imediato, o segura e impossibilita que o
mesmo pule. Este fato claramente constitui exercício regular de direito, pois possui previsão
no artigo 146 do Código Penal como se vê a seguir:
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abuso foi doloso, eivado de má-fé, o que certamente responderá, pois seu ato é ilícito (art.
186 ou 187, do Código Civil), ensejando reparação.
Com efeito, dispõe o artigo 945 do Código Civil: “se a vítima tiver concorrido
culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a
gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”.
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Relativamente ao caso fortuito e força maior tem-se que ambos se encontram fora do
quesito culpa, pois se trata de acontecimentos que escampam do controle humano, ou seja,
são circunstâncias irresistíveis que impede o cumprimento da obrigação por parte do agente.
Tal instituto possui previsão legal no artigo 393, do Código Civil, que aduz:
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou
força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Para tanto, grande parte da doutrina entende o caso fortuito como um evento
imprevisível e inevitável como, por exemplo: tempestades, enchentes e etc. Já a força maior
a doutrina entende como aquele em que nada pode ser feito mesmo que seja previsível.
O quesito imprevisibilidade se torna um elemento essencial para a caracterização do
caso fortuito, já na força maior será a irresistibilidade. Contudo, na prática, ambos são
responsáveis por excluir o nexo causal, ou seja, não haverá responsabilização do agente.
Ante todo o exposto, foi possível verificar e analisar os diversos institutos que afastam
a responsabilidade civil, que pode ocorrer através da exclusão do ato ilícito, por cláusula
expressa ou até mesmo por ausência de requisitos para se configurar a responsabilidade.
Conforme o artigo 188 do Código Civil traz as previsões expressas para exclusão de
um ato ilícito e por consequência da responsabilidade civil que conforme já foram citadas
são elas; o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal
e o exercício regular do direito. Porém, a culpa da vítima e o caso fortuito ou força maior
também podem afastar a responsabilidade.
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Semana 3 – Teoria do Crime e Responsabilidade
Objetivos
Objetiva-se apontar, definir e verificar quais as distinções entre
as formas e espécies de responsabilidade civil, buscando,
para tanto, uma breve apresentação das teorias e definições
dos doutrinadores modernos que se debruçam nos estudos da
responsabilidade civil, à luz do Código Civil.
Para além, a doutrina brasileira conceitua o crime em três formas, sendo elas:
material, formal e analítica. Vamos aprofundar no estudo de cada uma delas.
O doutrinador Capez (2003), nos explica o aspecto da teoria material, in verbis:
No aspecto material há uma análise se além da conduta prevista em lei ser crime, ela
também representa uma ofensa ao bem jurídico. Exemplo, no homicídio a vida; no furto o
patrimônio. Assim, sob esta perspectiva o crime pode ser definido como uma conduta que
resulta em uma lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico.
Quanto ao aspecto formal, Capez (2003, p.106) assevera que “O conceito de crime
resulta da mera subsunção da conduta do tipo legal e por considerar-se infração penal tudo
Art. 5º - (...)
Para início da ação penal privada, a vítima deve apresentar a queixa-crime, sendo
essa a peça processual cabível para averiguação do ato e devido andamento processual.
Apresentada perante o juízo criminal, com o pedido de que o autor ou os autores do crime
sejam processados e condenados. Ademais, dispõe a vítima de um período de até 06 (seis)
meses, a partir do dia que o autor do crime foi identificado.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os
demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do
Código Penal).
Não obstante, caso o juiz no âmbito penal reconhecer que o fato tenha sido praticado
perante as excludentes; em estado de necessidade, no estrito cumprimento do dever legal,
em legítima defesa ou no exercício regular do direito, afastará o ilícito do caso, fazendo coisa
julgada no cível.
Porém, caso tenha ocorrido uma situação definida como estado de necessidade
gerando danos e prejuízos, o responsável poderá no âmbito cível ter que indenizar a vítima,
Ante todo o exposto, é possível notar que o Estado exerce seu poder soberano de
maneira a editar leis, além de ser o responsável por aplicar a justiça, por meio de casos
concretos, com aplicação das normas instituídas. Contudo, com o intuito de facilitar essas
funções, o legislador optou por dividi-las nos termos dos ramos do Direito. Para tanto,
embora a jurisdição seja una e indivisível ocorre essas separações visando o caráter prático.
Desta forma, quando há a ocorrência de um ilícito penal, que normalmente também
se trata de um ilícito civil, será apurada a sua responsabilidade penal junto ao juízo criminal,
e a responsabilidade civil no juízo cível. Tais processos poderão ocorrer simultaneamente,
e desta forma poderá ter a incidência de sentenças contraditórias entre si, como explica
Gonçalves (2012): “Corre-se o risco de se ter duas decisões conflitantes: uma afirmando a
existência do fato ou da autoria e a outra negando; uma reconhecendo a ilicitude da conduta
do réu e a outra a licitude”.
Por esta razão, foi criado pelo legislador e inserido em diversos diplomas artigos para
disciplinar a interação entre as jurisdições civil e penal, para que não ocorram decisões
conflitantes que poderiam causar descredibilidade do Poder Judiciário.
______. Lei nº 10.046, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 04 dez. 2016.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal - Volume1: parte geral (arts. 1° a 120). 13. ed.
- São Paulo: Saraiva, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: volume 1. 6.ed. rev. e atual - São Paulo:
Saraiva, 2003.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. Ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
DANTAS, San Tiago. Programa de Direito Civil. Volume I. Editora Rio, 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 19. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. 13 ed. São Paulo. 2019.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de Direito Civil. Volume 03. 17 ed. São Paulo. 2019.
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GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, v. 3:
responsabilidade civil. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil: direito das obrigações. Volume 06. Parte
especial, responsabilidade civil. 15. ed. São Paulo. 2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado, Atlas. São Paulo. 2005.
PIVA, Rui Carvalho. Direito Civil: parte geral. São Paulo. 2012.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. Volume
02. 14 ed. Rio de Janeiro. 2019.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2003
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Currículo do autor
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Glossário de códigos QR (Quick Response)
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Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD