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Rio de Janeiro
2008
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Rio de Janeiro
2008
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Agradecimentos
Aos meus pais, que estão sempre presentes em vida e foram fundamentais para
da graduação.
um ano e meio da minha vida acadêmica, aprendendo e trocando idéias sobre a nossa
profissão.
companheirismo durante esta jornada; que a nossa amizade possa perdurar por muito
tempo.
vida enquanto pessoa e estudante, por me orientar neste momento tão especial, que é
dedico este trabalho. Uma pessoa forte, inteligente e de extrema simplicidade com
integrar seu grupo de pesquisadoras. Onde quer que ela esteja permanecerá em meu
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coração. Espero em minha trajetória profissional, dar continuidade aos seus projetos
para a construção de sociedade mais justa, na defesa e garantia dos direitos humanos.
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Resumo
Este trabalho examina o sistema prisional do Rio de Janeiro, uma vez que seu
direitos.
todos os indivíduos.
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Sumário
Apresentação................................................................................................ 08
Introdução.....................................................................................................12
4.1) Idade...................................................................................................85
4.2) Sexo....................................................................................................86
4.3) Escolaridade.......................................................................................86
4.4) Artigo/Condenação.............................................................................87
5) Análise qualitativa dos dados obtidos....................................................88
pena.................................................................................................90
Considerações Finais..................................................................................95
Referências Bibliográficas...........................................................................98
Anexos........................................................................................................103
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APRESENTAÇÃO
campo dos Direitos Humanos no Brasil, coordenado pela Profª. Drª. Suely Souza de
prisional e das correlações de força existente neste espaço suscitaram o meu interesse
Este trabalho de conclusão de curso tem as marcas desse percurso, como vistas a
contribuir no debate acerca dos direitos humanos e do sistema prisional, tema este que
direitos humanos.
1
O trabalho foi elaborado em co-autoria com Alessandra Nascimento dos Santos também integrante do núcleo de
pesquisa “O Serviço Social e a constituição do campo dos direitos humanos no Brasil e orientado pela Profª. Dr.
Suely Souza de Almeida e co-orientado pela Profª. Dr. Lília Guimarães Pougy.
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INTRODUÇÃO
perpretada pelo Estado, com vistas à verificar a dificuldade no cumprimento das leis,
população e, por conseguinte, a não ocupação direta desta em espaços que deveriam
mais explícito; visto que, no senso comum, os direitos humanos são entendidos como
sociais acabam assumindo duas funções: social – passa a ter função redistributiva de
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prisionais gera, em muitos casos, rebeliões, por meio das quais os apenados
reivindicam melhores condições de vida, pois estão sob a proteção do Estado e este
não cumpre com o seu dever de zelar pelas garantias fundamentais destes indivíduos.
que podem ser igualmente qualificadas como formas brutais de violência que se
O Serviço Social é uma profissão que intervém nas expressões da questão social,
academia o debate sobre o sistema penitenciário, pois o Assistente social tem um papel
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cultural e econômica das classes subalternas, Torres afirma que “as saídas para a
categoria atuante no sistema penitenciário, bem como uma reflexão sobre a intervenção
da profissão nos presídios, estão nas mãos dos próprios profissionais, mas não de
maneira individual, e, sim de forma coletivamente, de maneira que leve a uma reflexão
(2001: 91)
prisional.
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social, econômica, política e cultural do país. Estes elementos são fundamentais para o
capitalista.
cenário brasileiro: este acentua que algumas razões, ligadas à nossa história e à
À medida que esta não possui meios para suprir a sua necessidade, realiza estratégias
práticas consideradas ilícitas, uma vez que o sistema de justiça criminal considera as
setor de intervenção estatal, ainda são bastante incipientes, mesmo com os avanços
No entanto, mesmo com avanços no aparato legal ainda há dificuldades para que
população e, por conseguinte, a não ocupação direta desta em espaços que deveriam
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Segundo Neme (2005), essas iniciativas surgiram como novas políticas de segurança a partir do nível federal e
entre outros objetivos, visaram tratar os problemas de segurança pública com racionalidade maior – a partir de
diagnósticos, sistematização de dados e definição de prioridades. Também buscaram associar a eficiência policial ao
respeito aos direitos humanos em uma tentativa de oferecer alternativas aos dilemas entre lei e ordem que fortemente
domina o campo da segurança no Brasil.
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Estado, ela se encontra em outras instituições; por exemplo: na família, nas escolas,
nas atividades religiosas... no cotidiano dos indivíduos, nos espaços em que estes se
Assim, a violência praticada pelo Estado atravessa todas as esferas da vida social
contribuindo para não efetivação de direitos à medida que não garante à população o
exercício da cidadania.
violação de direitos humanos torna-se uma prática comum e a cidadania dos indivíduos
mais explícito, visto que no senso comum os direitos humanos são entendidos como
para análise dos problemas que atingem a população cotidianamente, uma vez que
aos direitos dos cidadãos. Algumas instituições, principalmente aquelas voltadas para a
do período militar. Estas se constituem em grandes entraves para tornar estes espaços
A luta pela democratização do país teve início no final dos anos 70, tornando-se
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Segundo Adorno, (...) a reconstrução democrática e o novo regime político acenaram para substantivas
mudanças, entre as quais conviria destacar as seguintes: ampliação dos canais de participação e
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Para Coutinho (2000) este processo que pôs fim à ditadura, possui uma dinâmica
contraditória:
país, o mesmo autor assinala que ocorreu uma transição “fraca” de regimes4 as
sobre os outros” (pág.92), porém de modo que as estruturas de poder não fossem
modificadas.
Coutinho assinala que “uma transição desse tipo (...) implicava certamente uma
ruptura com a ditadura implantada em 1964, mas não com os traços autoritários e
(pág.93)
“O país reajustou boa parte de seu instrumental legal aos novos contornos da
situação democrática e ao mesmo tempo, demonstrou disposição em se afinar
aos principais instrumentos de regulação da ordem internacional,
especialmente aqueles voltados para o respeito e a promoção aos direitos
humanos”. (SALLA, 2003:419).
“(...) Os aparato policial e prisional, desde a década de 80, têm oposto forte
resistência à assimilação dos novos padrões da vida democrática que se
estabeleceram no país, em boa parte em razão das práticas de arbitrariedade
e violência apesar do esfacelamento das formas autoritárias de governo”.
(SALLA, 2003: 419).
condições, uma vez que a disciplina e a ordem corroboram com a não realização de
direitos. Mesmo com um aparato legal de proteção aos direitos dos presos, estes não
são efetivados; dada a cultura prisional, bem como o corporativismo existente entre os
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José P. Netto afirma que estas transformações afetam diretamente o conjunto da vida social, pois a
reestruturação do mundo do trabalho traz novas configuarações, demandas a vida da classe
trabalhadora.
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empregam a violência física para reprimir a população. Adorno (1995) sinaliza que para
É importante frisar que a violência exercida por estas instituições não se restringe
aos delitos cometidos pelos indivíduos, atua também na contenção, no controle das
garantia e manutenção dos direitos conquistados historicamente através das lutas dos
trabalhadores.
Para o sociólogo francês Loïc Wacquant (2001), o Estado Penal brasileiro apenas
a militar, conhecida pelo lema “atire primeiro, pergunte depois”, quanto a civil, que está
estratégia na qual os americanos foram pioneiros: usar práticas punitivas para controlar
prisões não passam de grandes depósitos de gente, nos quais os membros alienados
coerção que incide de modo recorrente no espaço público e privado dos indivíduos. Ao
serem coagidos por estas ações, ocorre a desmobilização dos cidadãos; que deixam de
desmobilizar a população para fragmentar suas lutas; estas perdem seu caráter coletivo
âmbito coletivo para o particular. De acordo com este autor, a individualidade abriu
permitia aos sujeitos a liberdade de condução de suas vidas foi perpassada pela
ideologia das classes dominantes, desta forma, sob a ótica do pensamento burguês; o
homem constrói a sua liberdade, os seus valores sem pensar no bem estar da
coletividade.
partir do contexto social e econômico em que estão inseridas, acaba atribuindo aos
de eliminá-los. Assim, retira-se o caráter histórico das políticas sociais, das lutas para
sua implementação.
eventual e localizado.
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A realidade das prisões brasileiras é uma expressão da questão social, existe uma
série de fatores que contribui para que ela permaneça nessas condições, violadora de
suas vidas não conseguiram usufruir a cidadania na sua plenitude, pois apesar a
das políticas sociais brasileiras faz com que a população tenha acesso a frações de
cidadania, uma vez que os direitos não são universalizados e os serviços oferecidos
da população brasileira. Ao passo que o Estado opta pela manutenção dos interesses
miséria.
O contexto atual é marcado pelos ajustes neoliberais que visam à diminuição das
assumindo duas funções: social – pode ter função redistributiva de renda na sociedade,
(Pastorini, 1997).
do país é um reflexo das contradições produzidas pela própria sociedade que fortalece
parcelas da população.
sistema punitivo brasileiro; uma vez que os fenômenos sociais são enfrentados a partir
A massa carcerária constitui uma parte significativa da população que não teve
acesso ao emprego por meio de qualificação adequada para sua inserção no mercado
de trabalho.
Embora alguns autores afirmem que a o trabalho não é um fator importante para
“No Brasil, revela-se um quadro em que tanto o Estado Social como o Estado
Legal são fracos, pois incapazes de universalizar, de fato, os direitos sociais e
os direitos civis. A garantia desses direitos permanece restrita a uma minoria,
de modo que as amplas parcelas da população restam um Estado precário e
repressor. É para as camadas sociais mais pobres, desprovidas dos direitos
sociais, que se apresentam tanto os maiores riscos da criminalidade como a
face repressora ou mesmo ilegal do Estado”.(NEME, 2005:15)
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encarcerados, uma vez que estes não apresentam condições de proverem suas vidas e
não possuem apoio estatal para a garantia de um sistema de proteção social que possa
direcionado, que quando privado de sua liberdade, tem seus laços sociais
liberdade.
Este regulamento trouxe medidas significativas para a vida dos presos, uma vez
Unidades Prisionais: Gericinó, Frei Caneca e isoladas; Niterói e interior, com o objetivo
de dar assistência mais personalizada às direções dos presídios. São órgãos da SEAP:
Penitenciário (FUESP).
dos presos, bem como da tentativa das melhorias das condições de vida dos apenados
obtidos atualmente.
7
www.seap.rj.gov.br
8
30
constituiu-se na manutenção do controle dos indivíduos, “de maneira cada vez mais
insistente, tem em vista menos a defesa geral da sociedade que o controle e a reforma
1977: 67).
Se antes, no nascimento das prisões o corpo era o alvo de práticas violentas e estas
não são publicizadas regularmente, uma vez que não há interesse em divulgar a
contribuem para o fomento de rebeliões, bem como para dificultar o retorno dos presos
31
“roupagem”, mas atuam de modo a assegurar que estes indivíduos permaneçam sob
encarceramento, estes perdem a sua individualidade uma vez que suas singularidades
poder do espírito sobre o espírito” (idem,1977:69); para o controle dos indivíduos, hoje,
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O Panopticon era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel se
dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas
celas havia segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um
prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura. Na torre havia um vigilante. Como cada cela dava para o
interior e exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, por
conseguinte, tudo que fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas,
de postigos semi-cerrados de modo a poder ver tudo, sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. (FOUCALT:
1974: 68,69)
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Foucault sustenta que a prisão vai muito além da simples detenção, ela pretende
disciplinar o indivíduo e torná-lo dócil. Pois, “é dócil um corpo que pode ser submetido,
que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (1977:126)
perspectiva preventiva e educativa, mas que são sobrepostas pela lógica da punição.
casa de trabalho foi uma estratégia anterior ao cárcere, de subordinação das classes
protocárcere” que seria depois tomado como modelo da forma moderna do cárcere no
parecia ser outra coisa senão uma instituição de adestramento forçado das massas ao
de modo de produção capitalista, afinal, para elas, esse modo de produção era uma
absoluta novidade ( e nesse sentido, a casa de trabalho era uma instituição subalterna
à fábrica).
contribui para o aumento das desigualdades sociais restando aos indivíduos que não
1992:57).
década de 60, ocorre em nível mundial um novo paradigma da violência. Este novo
desde então novas formas de controle social e punição. O surgimento de novas formas
pelo Estado tentam responder de maneira eficaz aos anseios da população diante dos
comunicação.
elementos importantes que contribuem para as formas de punição adotadas pelo Brasil.
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inexorável da violência criminal. Afirma também o uso rotineiro da violência letal pela
policia militar e o recurso habitual à tortura por parte da polícia civil, as execuções
classes populares, que são seu alvo, e banalizam a brutalidade no seio do Estado;
judiciário; e por fim, menciona o estado das prisões, utilizados para o controle dos
sociais.
Assim, as prisões são utilizadas para conter um público que não se enquadra ao
penitenciária que gera cada vez mais o distanciamento entre o plano formal e a
efetivação de direitos dos apenados. Diariamente, os presos convivem com uma série
tocante aos seus projetos de liberdades. Os presos não têm a possibilidade de projetar
suas vidas extramuros, porque não se viabilizam condições para que possam obter
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Mesmo com o apoio dos familiares são numerosos os efeitos produzidos pelas prisões,
carcerária.
Salla (2001) afirma, que ao longo das décadas de 1980 e 1990, a violência nas
quanto ao acesso aos serviços oferecidos pela instituição. A área técnica, composta por
espaço, ainda que com um viés de manutenção e coesão, que propicia melhores
que garantam seus direitos, tais como: assistência social, psicológica, educacional,
alguns obstáculos por parte dos agentes de segurança para que estes setores
desenvolvimento das potencialidades dos apenados. Assim, as práticas que têm como
propósito a promoção da cidadania dos internos não têm tanta relevância em relação às
jogo de “cabo de guerra” numa ponta estão os inspetores penitenciários, com sua
desses profissionais abrangem questões que não se articulam no interior das Unidades
Fundamental Completo: 2.514, Ensino Médio Incompleto: 801, Ensino Médio Completo:
913, Ensino Superior Incompleto:118, Ensino Superior Completo: 74, Ensino acima de
Superior Completo:02.
Ilustração 1
10
Inteligência Penitenciária Nacional do Depen.
38
Analfabetos
0%
Alfabetizados
1%
4% Ensino Fundamental
0%
4% Incompleto
18% Ensino Fundamental
11% Completo
2%
Ensino Médio
Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior
60% Incompleto
Ensino Superior
Completo
Ensino acima de
Superior Completo
desigualdades sociais,
são punidos com penas mais pesadas que seus comparsas brancos. E, uma
vez atrás das grades, são ainda submetidos às condições de detenção mais
duras e sofrem violências mais graves. Penalizar a miséria significa aqui tornar
invisível o problema negro e assentar a dominação racial dando-lhe um aval de
Estado” (idem, págs. 09 e10).
Ilustração 2
1%
0% Branca
31%
Negra
43%
Parda
Amarela
25% Outros
dificuldades para terem seus direitos garantidos. Geralmente são aqueles que se
base salarial gira em torno de um salário mínimo, sem contar com as pessoas inseridas
no mercado informal, que sobrevivem de uma renda que nem sempre é suficiente para
vez que a seguridade social organiza-se através do seguro social, dificultando o acesso
dos benefícios e serviços”, ou seja, a situação de vínculo empregatício define quem terá
neste campo de intervenção, que não se constitui como área privilegiada para o Estado.
estão vinculados à decisões de cunho econômico e político, que incidem nas condições
As políticas sociais aplicadas pelo poder público são pontuais, não se efetivam
forma acabam por fragilizar a vida daqueles que necessitam dos serviços oferecidos,
uma vez que não são idealizadas sob o princípio de universalidade de atendimento,
existe um público específico que acessa as ações realizadas pelo poder público. À
medida que estes serviços (saúde, educação, assistência,...) são débeis e fragilizados
vulnerabilidade social.
não há uma articulação entre as mesmas. A ausência de uma política específica para o
41
pena.
violentas que se traduzem no descontentamento dos apenados, bem como dos agentes
instituições. São escassos os noticiários que fazem observações sobre a realidade dos
Garland (1997), que faz uma associação entre as falhas do sistema penal e a
“há uma tensão inerente às sociedades ocidentais, uma vez que estas lidam
com a punição de forma racional e por meio de um desejo coletivo moral e
apaixonado de punir aqueles que violam as regras sociais. A tentativa de
prevenir o crime por meio de leis e de um sistema carcerário convive com o
desejo de vingança. O sistema jurídico-penal, portanto, é capaz de oferecer
melhores oportunidades de escolha para uma vida sem crimes, mas também
opera no sentido de satisfazer vontades coletivas’.
aqueles que violaram as regras impostas por um modo de pensar dominante, do que
condições de cumprirem sua pena e obterem acesso a políticas que lhe dêem suporte
buscou-se identificar a banalização da violência por parte do Estado; uma vez que este
mecanismos legais que dispõem sobre o tratamento penal destinados aos presos.
delitos fosse a solução para a redução dos elevados índices de violência na sociedade.
criminalidade.
O Estado utiliza a força e a militarização “para conter a insegurança física cujo vetor é a
na sociedade.
3. ”Do ponto de vista político, este mesmo clima passa a alimentar iniciativas
de cunho demagógico – seja no âmbito administrativo, seja no âmbito
legislativo - e reforça um discurso retrógrado do tipo “lei e ordem” e/ou
“tolerância zero” não raras vezes proponentes da violência hostil a qualquer
princípio humanista”.
violência que assola o país, para o Estado a militarização da vida social é a solução
no Brasil, “revela a função coercitiva do Estado e demonstra que a justiça se torna mais
PEREIRA, 2006:67), não oferece estrutura para o cumprimento das penas, e sua
prisões.
Rolim (2007) sinaliza alguns dos principais problemas das instituições penais
por este segmento pelos próprios agentes do Estado e também pela população que
humanos a direitos de bandidos, essa simples relação retira o caráter histórico das
caráter universal desses direitos; uma vez que no senso comum estes são restringidos
à população carcerária.
de vontade política dos governantes para tornar efetivas as prescrições das leis, gera
esse distanciamento entre a esfera legal e as garantias previstas aos apenados, pois
47
população.
Mészáros (1993) chama atenção para o que Marx afirma ser uma “ilusão jurídica”,
que trata a esfera dos direitos como independente ou auto regulada (pág. 204); ou seja,
48
a realização dos direitos ocorre sem levar em consideração as escolhas dos indivíduos,
direitos do homem e a realidade da sociedade capitalista, onde se crê que estes direitos
formal, estes estão voltados apenas para uma minoria ao invés de serem
pretendida igualdade direitos a posse culminou em uma contradição radical, visto que
só indivíduo”.
o caráter universal dos direitos humanos, eles passam a serem atribuídos apenas para
desigualdades sociais.
cometido e não há suporte para que o preso possa, gradualmente, dar continuidade a
Bobbio (1992:25) afirma que “o problema grave do nosso tempo, com relação aos
“(...) o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico e, num
sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais são e quantos são
esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos
naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais
seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações,
eles sejam continuamente violados”.
caso os direitos dos presos e de suas famílias – não é uma dificuldade de ordem
conceitual. São direitos reconhecidos, pelo menos, por parte da humanidade e constam
em relação aos direitos dos presos e também decorre da ausência de uma política
11
Geralmente, os presos que não recebem visitas dos familiares buscam o apoio material e emocional junto a
entidades religiosas.
50
Meszáros (2006) alerta, contudo para o risco dos direitos humanos se tornarem
Desta forma, os direitos humanos devem ser entendidos como direitos universais,
justa e igualitária.
das prisões.
Reclusos.
mas cotidianamente vêm sendo afrontados pelo Estado dentro das prisões. Portanto,
51
A Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 5º que “Todos são iguais perante a
cometido algum delito, faz com estes sofram processos criminalizantes por condutas
cidadania formal, tal como imaginamos que ”deve ser”. Na verdade, entretanto, um
amplo contingente dos brasileiros, entre eles os presos, é visto como não merecedor de
direitos”.
de ir e vir, do direito ao voto, direitos civis e políticos. Logo, a idéia de que os presos
não são cidadãos é fomentada entre os agentes do Estado – poucos são aqueles que
ideologia de castigo.
privada dessas pessoas. Esse controle social fomentado pelo ideário da cultura
prisional invade a vida dos presos afetando suas relações sociais, e a conseqüência
destes atos é torná-los propensos à reincidência criminal uma vez que não encontram
verbalizou:
“Falta muito, tem muita coisa faltando para o preso. Porque as condições são
muito ruins, falta o essencial: educação, saúde, atenção. Falta muita coisa pra
você ressocializar o preso. Só nesta unidade se encontra coisas de estudos,
industrial, mas se vai para outra cadeia, vai encontrar só o espaço que tem pra
ficar, não tem trabalho, não tem nada”. (Presidiário, 33 anos, recluso há cinco
anos e nove meses. Já teve passagem em três unidades prisionais – Bangu VIII,
Água Santa e atualmente Penitenciária Industrial Esmeraldino Bandeira).
A fala deste interno resume a realidade das prisões brasileiras, não possuem
viabilização de direitos.
(Lei 7.210 de 11/07/1984). Esta lei tem como objetivo “efetivar as disposições da
prisional e estabelece normas a serem cumpridas acerca dos direitos e deveres dos
reinserí-los na sociedade de forma harmônica não condiz com a realidade, porque esta
problemas sociais, que são fatores condicionantes na vida dos indivíduos aprisionados.
Segundo Torres,
normas estas que o Brasil é signatário e prevêem que a execução penal trabalhe em
prerrogativas.
pena”.
54
sistema prisional. Uma parte dos condenados cumpre pena irregularmente, em locais
não apropriados de acordo com as sentenças que lhes foram proferidas. Existem
retorno à liberdade.
11º especifica a assistência a ser prestada aos presos: I) material; II) à saúde; III)
Social, Psicológica, Educacional, Jurídica e Saúde), que no geral apesar dos embates
Alguns convivem com doenças como HIV e Tuberculose, que são agravadas pelas
na área da saúde também contribui para a fragilização dos atendimentos nesta área.
De modo geral, estes atendimentos são realizados pelos serviços de saúde pública, e
são muitos precários para a grande maioria da população. Acrescenta-se a este fato as
assim, nesta área uma grande dificuldade para cumprir os aspectos legais.
carcerária que busca dar continuidade aos estudos. Não há recursos materiais e
humanos suficientes para que o trabalho seja desenvolvido com qualidade. Além disso,
tempo de prisão ser reduzido na proporção de três dias trabalhados para um de pena,
ressaltando-se que a ocorrência de falta grave é fator de perda dos dias anteriormente
remidos.
destas atividades possuem remuneração, mas não são protegidas pelas leis
trabalhistas.
A maior parte do efetivo carcerário é formada por uma população com baixa
mecanismo de disciplinamento dos cárceres com vistas à manutenção das normas para
trabalho prisional exerce várias funções: controle, oferta de mão -de - obra barata para
o capital, além de isentar o Estado de suas atribuições; visto que muitas das atividades
realizam estas atividades e na maioria dos casos não recebem nenhum tipo de
Cabrini) com o objetivo de contribuir para a criação dos meios necessários para que os
de apoiá-los de acordo com suas condições e garantir uma carta de emprego com
fator condicionante que influencia nos projetos de liberdade dos presos; pois está ligada
Outra área abordada pela LEP é a assistência jurídica que deve ser destinada aos
são contínuos; uma vez que os Defensores são alocados em vários estabelecimentos
penais ao mesmo tempo, e não conseguem dar conta dos inúmeros processos que
penitenciário brasileiro.
A assistência social (artigo 22) “tem por finalidade amparar o preso e o internado,
trabalho, por questões relativas à segurança e por todos os motivos que já foram
expostos e que abrangem as demais áreas que atuam no “tratamento” dos presos.
normas de cumprimento das penas privativas, não tem sido levada em consideração na
são colocados em prática pela execução penal: existem algumas exceções, mas estas
não conseguem superar essa conjuntura marcada por uma ausência de atendimento e
familiares e às condições físicas dos prédios não têm expressado o real cumprimento
da lei.
Outro mecanismo legal que orienta a administração da vida dos presos são as
Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos. Essas regras foram adotadas pelo
59
cada secção”.
Desta forma são, portanto, referência para todos os profissionais que trabalham no
Execuções Penais; tais como: Separação por Categorias, Locais de Reclusão, Higiene
aleatoriamente, desde que sejam de uma facção comum ao presídio a que são
destinados.
No item 9º “As celas ou locais destinados ao descanso noturno não devem ser
ocupados por mais de um recluso. Se, por razões especiais, tais como excesso
central adote exceções a esta regra, deve evitar-se que dois reclusos sejam alojados
No item 11º “em todos os locais destinados aos reclusos, para viverem ou
trabalharem”:
possam ler ou trabalhar com luz natural e devem ser construídas de forma a
apenados quando estes organizam motins e rebeliões por melhores condições de vida
• Higiene Pessoal
decente”.
escrupulosamente limpas”.
privacidade, sem as condições necessárias para que o ser humano realize suas
de saúde a todos os reclusos que não estejam autorizados a usar o seu próprio
vestuário. Este vestuário não deve de forma alguma ser degradante ou humilhante”.
deve ser fornecido um leito próprio e roupa de cama suficiente e própria, que estará
limpa quando lhes for entregue, mantida em bom estado de conservação e mudada
• Alimentação
• Serviços Médicos
Regra 22
serviços médicos devem ser organizados em estreita ligação com a administração geral
suficiente”.
qualificado”.
Regra 24.
“O médico deve examinar cada recluso o mais depressa possível após a sua
Regra 25.
“Ao médico compete vigiar a saúde física e mental dos reclusos. Deve visitar
adequado para a eliminação das mesmas. Em muitas unidades prisionais não há oferta
contínua das atividades médicas, assim a população carcerária também tem seus
apropriação privada da riqueza produzida pelo trabalho coletivo, aprofunda cada vez
nesta realidade.
sociedade capitalista.
uma discriminação seletiva cujo alvo são as camadas subalternas. Assim, o sistema
Sobre esse aspecto, ressalta Baratta (2002) que há uma contradição entre a
classes.
2. A lei penal não é igual para todos, pois o status de criminoso é distribuído
de modo desigual entre os indivíduos;
Um exemplo recente de que o direito penal não é igual para todos, é o caso do
crime que cometeu. Em contrapartida, tem-se o caso de Marcos Mariano da Silva 12, que
“foi preso injustamente no lugar de um assassino com o mesmo nome dele. O mais
absurdo: duas vezes. Primeiro, em 1976, ele ficou detido seis anos. Esclarecido o
levou de volta para o presídio pelo mesmo crime que ele não havia provado que não
sociedade que sobrevive em condições de indigência enquanto que uma pequena parte
operação do direito penal analisado por Baratta, que leva a práticas punitivas e a uma
desigualdade.
Ressalta Baratta:
O termo ressocialização nos traz uma visão conservadora e moralizante que está
marginaliza aqueles que estão privados de direitos. Uma vez encarcerado, o apenado
amigos; levando este a tecer novas redes sociais e culturais com o objetivo de
SegundoTorres (2007:197),
prisionais do país, não há uma política efetiva de acompanhamento dos presos, uma
política que contribua de fato para que os apenados tenham acesso a direitos sociais
modificado, pois atinge diretamente a vida dos presos e daqueles que os acompanham
durante a execução da pena, uma vez que estes têm seus direitos constantemente
violados.
68
sistema penitenciário do Rio de Janeiro, com base nas experiências dos profissionais
que atuam neste estabelecimento e dos presos que nele se encontram reclusos,
trabalho e dos apenados que cumprem suas penas e têm seus direitos constantemente
violados.
dados foi concebido para permitir que cada um desses sujeitos pudesse expor
compõem a equipe técnica, quanto para os que fazem parte da área de segurança.
cumprimento da pena.
diferenciada daqueles aplicados aos profissionais, uma vez que ambos os entrevistados
70
possuem papéis distintos e desiguais dentro das correlações de poder existente dentro
humanos.
Biblioteca; 10. Padaria; 11. Atividades Religiosas. Atualmente os apenados contam com
multidisciplinar, apesar de existirem iniciativas para que o trabalho seja realizado sobre
renda para aqueles que nela se encontram reclusos. Desta forma é considerada uma
unidade prisional modelo, pois se comparada com as demais, até mesmo quanto a
pesquisa.
3.2.1) Idade
destes trabalhadores. Dentro desta amostra, verificou-se que o maior índice está entre
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
Faixa etária de 30 a 40 anos Faixa etária de 40 a 55 anos
3.2.2) Sexo
enquanto que o sexo feminino prevaleceu nas áreas consideradas de tratamento aos
presos.
como agentes penitenciárias. As demais conseguem exercer estas funções, mas nas
áreas que se destinam ao “cuidado” com o preso. Como já foi descrito acima, nas
relações de trabalho, no campo político, sindical por meio da divisão sexual do trabalho.
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práticas sociais diferentes segundo o sexo. Homens e mulheres sofrem e/ou exercem a
dominação segundo sua posição nas diversas práticas sociais que são determinadas
É importante frisar que esta é uma discussão densa e que deve ser explorada em
outros trabalhos, porém é uma questão importante que não pode deixar de ser
analisada.
3.2.3) Formação
CRUZ).
Aqueles que possuem ensino superior incompleto estão cursando Direito nas
A maioria dos entrevistados possui nível superior ainda que alguns esteja
Janeiro
3,5
3
3
2,5 9 anos
2 10 anos
1,5
14 anos
1 1 1
1
22 anos
0,5
0
9 anos 10 anos 14 anos 22 anos
penitenciário brasileiro.
pelo sistema carcerário brasileiro, em especial, o Rio de Janeiro, objeto de estudo deste
trabalho.
medidas adotadas para a contenção dos presos estão com um cunho mais educativo,
“Ah! Melhorou bastante, porque antes era difícil conscientizar o preso. Hoje
muitos presos estão conscientes até dos seus direitos, até dos próprios
guardas, corpo técnico. Eu trabalho, bato papo com os internos de direitos. Eu
acho também que a parte judiciária quando foi operada a Lei do Um Sexto
melhorou muito, agora o interno para ele adquirir benefícios de progressão de
regime, de condicional é muito menos tempo da pena, isso ajudou no
comportamento do interno. Então eu acho que foi uma política geral do
governo de tentar colocar pessoas dirigindo a Secretaria coma idéia de
ressocialização, das direções, do nível intelectual dos guardas, isso tudo
desencadeou um lado bom, um lado mais de conscientização dos internos
pelos guardas e pelos técnicos” (Agente de Segurança, com experiência de 14
anos na SEAP).
vez que não há uma política que oriente e normatize as ações do sistema prisional em
âmbito nacional, cada estado possui uma forma de gerenciar seus respectivos sistemas
prisionais.
se encontra inscrita, bem como os seus objetivos. Grande parte dos profissionais
fala dos profissionais para justificar as ações implementadas pelo Estado no tocante ao
tornando-se assim justificativa para programas de tratamento para que estas pessoas
Execuções Penais, “que prevê através das penas e das medidas de segurança a
de um trabalho eficaz para os presos e que este incida concretamente em suas vidas.
brasileiro traz como proposta o tratamento e a reintegração dos apenados sob um viés
deveriam ser concomitantes ao que está exposto na lei, e esta não é a realidade das
“Quem legisla no Brasil muita das vezes não conhece o assunto, não vive, não
tem aquela experiência, aquela vivência de lei, que realmente vai se aproveitar,
vai ter proveito em uma unidade prisional. Eles fazem a lei, mas não sabe das
suas conseqüências e muitas das vezes também a lei só vem para atrapalhar
(...) Muitas das vezes, a gente vê também que o sistema cai no mesmo erro
também de 10, 20 anos atrás, com um mínimo de funcionários, com uma
massa carcerária na cadeia maior”. (Agente de Segurança, com 9 anos de
experiência na SEAP)
atividades que contribuem para minimizar os efeitos deteriorantes da prisão, uma vez
das intervenções.
de suas intervenções.
“Já tenho 8 anos só nesta unidade prisional, então na nossa unidade que é
industrial, eu acho que ela tem muitas atividades, então a educação em
relação as dificuldades que nós temos de material, de recursos de tudo, eu
acho até que funciona bem. Nós temos pré-vestibular, nós temos capoeira,
alfabetização, nós vamos começar agora com a aula de música, temos
artesanato, teatro. Então fora as provas de vestibular, que tem internos que
fazem as provas de vestibular do PCERJ, da UERJ e do fundão, então eu acho
que perante as outras nós temos bastante atividades aqui dentro. A condição
não é muito favorável não porque, por exemplo, eu tenho uma máquina olivete
de bater, eu até hoje não tenho um computador (...) para que o andamento do
trabalho possa fluir teria que ter um computador, a minha sala não tem piso, é
muita dificuldade aqui que a gente trabalha. Às vezes o interno que está
fazendo curso de pré-vestibular não tem caderno, não tem lápis, entendeu, a
gente faz o que pode, os recursos são bem escassos “. (Equipe Técnica, com
22 anos de experiência na SEAP).
prisionais.
dos presos.
“Por se tratar de uma instituição que às vezes traz esse perfil mesmo de estar
isolada, excluídas de outras políticas, temos dificuldades de lidar com o que a
gente chama de homem aprisionado; porque ele continua com a cidadania
cerceada, alguns aspectos de sua cidadania, mas ele não deixa de ser
cidadão”. (Equipe Técnica, com 14 anos de experiência na SEAP).
serviços com as demais ações de outras políticas públicas, considerando que estes
política que deveria ser ampliada para todo o efetivo carcerário e para os seus
contribui para que os apenados tenham recursos financeiros para proverem suas
Alguns profissionais identificaram como limite o que é imposto pelas leis, ou seja,
penitenciário.
DHAMMER (2006:135) afirma que “ainda que a esfera legal seja repudiada,
nosso ver, o instrumento pelo qual, institucionalmente, pode-se buscar suporte para o
embate, bem como encontrar estratégias para, junto ao escalão superior de chefias,
por um profissional, um interesse maior para que todos os trabalhadores que atuam nas
“Eu acho que poderia ter mais empenho, mais empenho das pessoas, não só
das autoridades, mas também da nossa Secretaria, de quem está acima, mais
empenho. Porque acredito muito na educação, através dela você pode
conseguir muita coisa, você tem resultados positivos”. (Equipe Técnica, com
experiência de 22 anos na SEAP).
A idéia expressa neste relato pressupõe que os internos não foram socializados no
tendo em vista que o contexto sócio-familiar em que se encontravam inscritos, não foi
capaz de cumprir esta tarefa dentro dos limites aceitos pela sociedade.
direitos humanos.
“Tem que ter uma política voltada para o sistema penitenciário, que pense
melhor a capacitação de seus profissionais, do Assistente Social também, não
é fácil lidar com esse tipo de população, ele também está vulnerável ao
bombardeio da mídia, que continua cada vez mais a estigmatizar esse
segmento. É necessário um trabalho com todos que trabalham no sistema
penitenciário, uma capacitação contínua de todos os profissionais para que
saibam lidar com isso, uma capacitação em direitos humanos e cidadania”.
(Equipe Técnica, 14 anos de experiência na SEAP).
intervenções.
Neste item foi possível verificar que há percepções equivocadas sobre os direitos
humanos:
enquanto sujeitos sociais, precisam ter acesso a uma gama de direitos que não se
de direitos que garanta o seu bem estar proporcionando o alcance aos bens produzidos
socialmente.
Esta fala compreende os direitos humanos como direito à vida, não leva em
A luta pela garantia dos direitos humanos no Brasil foi adensada durante o regime
identificados como direitos de bandidos, como privilégio de poucos. Ainda está obscuro
que informam os princípios legais. Essa assincronia é flagrante no país. O fato dos
Assim, todo este ideário faz com que os direitos humanos sejam restritos a
poucos, pois uma imensa parcela da população não tem acesso à cidadania.
Janeiro. Esta informação se constitui em um dado importante, pois à medida que não
“Na LEP tem escrito o que é direito e o que é dever”. (Equipe Técnica, 14 anos
de experiência na SEAP).
85
LEP em suas intervenções, na viabilização dos direitos dos internos. Logo, ainda há um
longo caminho a ser percorrido para que de fato haja a tentativa de humanização do
A LEP é uma das legislações do país que protege os direitos dos presos, mas
4.1) Idade
86
idade. Não há registros sobre o perfil da população carcerária nesta unidade prisional,
estágio, foi possível afirmar que esta faixa etária é a que mais se sobressai nesta
instituição.
entre 21 e 30 anos. Portanto, com a união dos percentuais descritos na figura abaixo
com este grupo de indivíduos não contemplados na pesquisa, é possível perceber que
impossibilitando assim, a construção de uma vida melhor para si e para seus familiares.
estiverem em liberdade.
4.2) Sexo
este sexo.
4.3) Escolaridade
durante o período de estágio, a maioria dos presos reclusos nesta unidade prisional
formal e informal de trabalho com vistas a auxiliar financeiramente a família por questão
seria a forma mais rápida para o acesso. Porém, esta escolha significa que este
4.4) Artigo/Condenação
Internacional
Associação e 12 e 14 1 15 anos
Tráfico
As ilustrações abaixo demonstram respectivamente o tempo que estes internos
envolvimento com o tráfico de drogas foi o delito que teve mais repercussão entre os
Rio de Janeiro também pode ser atribuída à rivalidade entre facções criminosas e ao
17%
33%
67%
83%
principais fatores pela falta de infra-estrutura para a manutenção dos presos nas
prisões, uma vez que a ideologia do controle suscita uma série de fatores que
contribuem para tornar o cumprimento da pena muito mais doloroso, tendo em vista a
dos presos.
processo judicial. Isto porque, se não temos, nos tempos atuais a exposição pública do
suplício, sabe-se que de forma extralegal, ele é levado a cabo nas delegacias, presídios
Existe uma relação de poder entre desiguais dentro das prisões, ao mesmo tempo
em que o interno relata sua opinião sobre a ineficácia do sistema prisional, tenta
justificar os atos dos agentes de segurança com o mesmo argumento utilizado para
“Eu acho que o sistema carece de oportunidades para ocupar o tempo. Tem
falta de atividades, até assim de alojamento, a comida poderia ser melhor
também. É que tem várias deficiências, certamente que não existe nenhum
sistema que é bom, porém sempre deve ser tentado melhorar o sistema
porque também faz parte da sociedade da qual a meta é ressocializar para ter
o convívio com o resto das pessoas da sociedade”. (Interno com 57 anos, já
teve passagem em outras unidades prisionais, já cumpriu 9 anos e 2 meses de
pena).
90
carcerário esta é a única via para o retorno à sociedade, para eles, as prisões não são
produtos do contexto social em que estão inseridos, portanto torna-se necessária uma
em suas vidas (...) “as marcas são físicas e somáticas, como as limitações de funções
familiares, pois o Estado e seus agentes ainda trabalham com o conceito de família
estruturada – composta por pai, mãe e filhos; uma vez que os presos são oriundos de
famílias que não seguem este modelo e ficam privados das visitas porque não é
(as), primos (as), cunhados (as), limitando-os em suas relações sociais e afetivas).
Em muitos casos, os presos não têm a possibilidade de receber a visita dos pais,
dos irmãos, tendo em vista que muitas famílias residem em locais distante do complexo
anterior a prisão, faziam parte das redes sociais dos internos, ficam impossibilitados de
conviverem com pessoas que podem contribuir para a vida durante e após a prisão.
Os familiares cumprem pena junto com seus entes privados de liberdade, portanto
também sofrem com os preconceitos e com a precarização dos serviços nas unidades
prisionais.
outros.
humilhações das revistas para entrada nas unidades prisionais e com os abusos de
acompanhamento de suas penas devido a toda burocracia imposta pelo aparato judicial
Todas essas questões rebatem no tratamento dispensado aos presos pelo Estado,
um completo desrespeito aos direitos destes indivíduos que estão sob sua tutela e
humanos.
“Eles tratam mal, eles não tratam como gente, tratam como bicho, a gente é
tratado como se fosse animal. Ninguém é nada, ninguém tem direito a nada”.
(Interno com 32 anos, já teve em passagem em outras unidades prisionais, já
cumpriu 1 ano e 6 dias de sua pena).
Constatou-se nos dados obtidos que alguns fizeram relação com direitos que possuem
“A gente entende, por exemplo, que o lugar que a gente dorme poderia ser
mais organizado, tipo roupa de cama, colchão... Muita gente não tem cama pra
dormir, dorme em um colchão que dura três, quatro dias e já não presta mais
(...). Alguns têm condições de trazer, a família manda, outros já não têm”.
(Interno com 32 anos, já teve em passagem em outras unidades prisionais, já
cumpriu 1 ano e 6 dias de sua pena).
“São todos os direitos que todos os seres humanos têm, de, por exemplo, pra
ter uma situação digna. Na teoria os presos devem ter seis metros quadrados
de espaço, tem que ter uma alimentação adequada tem que ter as coisas
básicas, ou seja, as coisas básicas para os seres humanos sobreviverem sem
sofrimento. Não pode sofrer maus tratos, tanto físico quanto psicológico. Então
acho que tudo isso faz parte do que são os direitos humanos”. (Interno com 57
93
É possível apreender também que o Estado não tem cumprido o seu papel de
dos apenados. Estes acabam por receber apoio material e emocional através de seus
familiares e aqueles que não possuem familiares ficam sujeitos a precariedade das
prisões.
“Eu escrevi uma para eles, mas que tipo de direitos humanos na cadeia? Se
você é delinqüente não tem direito nenhum na lei. Aqui você só tem direito ao
seu cantinho, sua comida e mais nada. Dentro daqui da cadeia não tem
direitos humanos, lá fora pode ter, mas aqui dentro preso não tem direito não.
Direito humano é preso abaixar a cabeça (...)”. (Interno com 33 anos, já teve
em passagem em outras unidades prisionais, já cumpriu 5 anos e 9 meses de
sua pena).
“Raramente a gente vê falar alguma coisa. Desde que estou aqui, raramente
apareceram, (...) se vieram aqui deram uma voltinha na cadeia e foram
embora”. (Interno com 45 anos, nunca teve passagem em outras unidades
prisionais, já cumpriu 2 anos e 4 meses de sua pena).
interior das prisões. Há uma afirmação sobre a inexistência dos direitos humanos
dentro do sistema penitenciário, tendo em vista que os presos não são considerados
Os presos, assim como uma grande parcela da população têm seus direitos
violados pela falta de conhecimento dos mesmos ou das formas de acesso para obtê-
los e garanti-los.
na qual indivíduos perigosos são excluídos deste meio considerado harmônico. Desta
alimentada pela imagem de que o sistema penitenciário não é punitivo. Ou pela imagem
de que o infrator da lei não tem condições e oportunidade de ser regenerado, sendo,
portanto, um privilegiado, que grande parte da população não tem acesso aos mínimos
humanos dos presos, retira-se do Estado a atribuição de prover o bem estar de todos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que possibilita ainda mais o descumprimento das leis e outras ilegalidades contra os
dos presos no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, uma instituição que ao longo de
A população sofre com a precarização dos serviços oferecidos pelo Estado e com
políticas voltadas para áreas como Educação, Saúde, Habitação e Trabalho fragilizam
das políticas sociais, para que uma parcela significativa da população não vivam
todos os profissionais que nele exercem suas atividades. O Serviço Social, em especial,
cidadania, com vistas à construção de uma sociedade mais justa e igualitária para
após a prisão.
sistema penal, não se efetiva nas prisões dado os elementos apontados na pesquisa e
direitos dos apenados não são efetivados e estes sofrem uma série de injustiças,
pois aqueles que não têm acesso às condições dignas de vida ficam mais propensos a
cometerem delitos. Logo, cabe ao Estado zelar pelas garantias deste segmento
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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impunidade”. Ciência Hoje. Vol.30, nº 178, dezembro de 2001, p 43-46.
CONTE, Marta; HENN, Ronaldo César; OLIVEIRA, Carmem Silveira; Wolff, Maria
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liberdade. In: Revista Serviço Social & Sociedade nº 67. Rio de Janeiro. Ed Cortez,
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Caderno de Leis, Regulamentos, Portarias e Resoluções. SEAP. Subsecretaria Adjunta
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______, Fernando. Rebeliões nas prisões brasileiras. In: Revista Serviço Social &
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TEIXEIRA, Bruno Ferreira. Gato escaldado em teto de zinco quente: uma análise
sobre os egressos do sistema penitenciário. Rio de Janeiro. UFRJ. 2007.
Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Social. In: Crítica à Execução Penal. Salo de Carvalho (org.) Rio de Janeiro. Lumen
Juris Editora. 2ª edição. 2005.
ANEXOS
104
Roteiro (Entrevistas)
PROFISSIONAIS
1) Idade:
2) Sexo:
3) Formação:
4) Ano:
5) Instituição de Ensino:
6) Titulação:
penitenciário brasileiro?
11) Descreva o seu cotidiano profissional e explique de que forma desenvolve a sua
14) O que você entende por direitos humanos? Consegue viabilizá-los na sua intervenção
profissional?
15) Possui conhecimento de legislações referentes à proteção dos direitos dos presos,
INTERNOS
1.Idade:
2.Sexo:
3.Escolaridade:
4.Artigo/Condenação:
pena?
9.O que você pensa sobre o tratamento destinado aos presos nas Unidades Prisionais?
10.Tem conhecimento sobre seus direitos? De que maneira você acha que eles devem
ser garantidos?
11.O que você entende sobre direitos humanos? Consegue ter acesso a esses direitos?