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EFEITOS DA CONDENAÇÃO

A condenação é o ato no qual o juiz define a pena ao sujeito que infringiu a norma,
transformando em concreto a sanção estabelecida em lei (Liebman).

EFEITOS PRINCIPAL

O primeiro efeito de qualquer condenação penal é a imposição de uma sanção penal, seja
ela privação da liberdade (reclusão, detenção ou prisão simples), restrição de direitos,
multa ou medida de segurança. Esse é o chamado efeito primário da condenação.
(SOUZA e JAPIASSÚ, 2018)

De acordo com os ensinamentos de Capez (2011) a condenação penal tem efeitos


principais que é a imposição da pena privativa de liberdade, da restritiva de direitos, da
pena de multa ou medida de segurança e a de efeitos secundários de natureza penal que
repercute na esfera penal sendo assim a condenação vai induzir:
a) A reincidência (art.64, I do CP);
b) Impede, em regra, os sursis (salvo se a condenação for a pena de multa);
c) Causa a revogação dos sursis ou do livramento condicional anteriormente
impostos;
d) Impede o perdão judicial em certos crimes, como na receptação culposa (art.180,
§ 5º, 1ª parte);
e) Aumenta o prazo para obter livramento condicional em caso de um novo crime;
f) Aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória;
g) Interrompe a prescrição da pretensão executória quando caracterizar reincidência;
h) Causa revogação da reabilitação obtida por delito anterior;
i) Impede a transação penal e a suspensão condicional do processo no caso da prática
de nova infração penal (arts. 76, § 2º, I, e 89, caput, da Lei n. 9.099/95);
j) Veda a redução da pena no crime de tráfico de drogas, ainda que o réu não se
dedique a este tipo de crime de forma contumaz e não integre organização
criminosa (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006).
k) Impede o privilégio nos crimes de furto (art. 155, § 2º, do CP), apropriação
indébita (art. 170 do CP), estelionato (art. 1.271, § 1º, do CP) e receptação
(art.180, § 5º, 2ª parte, do CP);

EFEITOS SECUNDARIOS

De acordo com os ensinamentos de André Estefam os efeitos secundários extrapenais


foram divididos em duas categorias:
a) os genéricos (art. 91 do CP);
b) os específicos (art. 92 do CP).

Efeitos Extrapenais Genéricos

São assim denominados assim porque decorrem de qualquer condenação. Constituem


efeito automático da condenação, vale dizer, não necessitam de declaração expressa na
sentença.
São os seguintes:
a) Tornar certa a obrigação do indenizar o dano causado pelo crime (art.91, I
do CP).
De acordo com os ensinamentos de André Estefam a sentença condenatória tem título
executivo judicial. Assim a vítima do crime ou seus familiares não precisam ingressar
com ação indenizatória na esfera civil, caso haja condenação no âmbito penal. Diante
disso o juiz deverá fixar o valor mínimo, considerando os prejuízos causados a vítima
(art.387, IV do CPP), de acordo com o STJ é necessário o pedido expresso na inicial
acusatória, sob pena de afronta à ampla defesa e ao contraditório;
b) A perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé (art.91, II, a, do CP).
Capez (2011) estabelece que não é qualquer instrumento utilizado na pratica de crime
que pode ser confiscado, mas somente aquele cujo porte, fabrico ou alienação constituam
fato ilícito. Dessa forma o instrumento do crime e automática, decorrendo do transito em
julgado da sentença condenatória. André Estefam evidencia nos seus ensinamentos que o
confisco só pode recair sobre objeto que pertença ao autor ou participe do crime. O
próprio art. 91, II, do Código Penal ressalva o direito do lesado ou do terceiro de boa-fé.
É de se mencionar que, se o objeto não pertence ao criminoso, mas é desconhecido o seu
proprietário, torna-se necessário aguardar o prazo de 90 dias a contar do trânsito em
julgado da sentença, hipótese em que será vendido em leilão, caso não seja reclamado,
depositando-se o valor à disposição do juízo de ausentes (art.123 do CPP).

Capez (2011) ainda pontua que são três os tipos de bens que podem ser apreendidos,
sendo eles:
a) produtos do crime (art. 60): é a vantagem direta obtida com a prática criminosa. Por
exemplo: o dinheiro recebido com a venda da droga;
b) proveito auferido (art. 60): é a vantagem indireta, conseguida a partir do produto, por
exemplo, um carro comprado com a venda da droga;
c) veículos, embarcações, aeronaves, maquinários, instrumentos e objetos de qualquer
natureza, utilizados para a prática de crimes previstos na referida lei (art. 62).

O art. 61 da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006) trata da apreensão de veículos,


embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, bem como maquinários,
instrumentos, utensílios e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos
crimes definidos na Lei.
Apesar do dispositivo ter redação genérica dada pela doutrina e que a perda ocorrerá
qualquer que seja o crime praticado, é logico que a interpretação dada pela doutrina e pela
jurisprudência e restritiva, no sentido de que só deve de decretada a perda dos bens se
foram relacionados ao tráfico de drogas. Assim, que usa o próprio carro para nele fazer
uso de maconha (crime de porte para consumo próprio) não corre o risco de ter o veículo
confiscado. E por fim que, mesmo que o crime seja o de tráfico, estão assegurados os
direitos dos terceiros de boa-fé, como, por exemplo, do amigo que emprestou o carro para
o outro sem saber que este iria transportar droga com o veículo. (ESTEFAM e
GONÇALVES, 2020)

c) Perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de


boa-fé, do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua
proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso (art. 91, II, b,
do CP)

Produto é a vantagem direta auferida pela prática do crime (p. ex.: o relógio furtado);
proveito é a vantagem decorrente do produto (p. ex.: o dinheiro obtido com a venda do
relógio furtado). Na realidade, o produto do crime deverá ser restituído ao lesado ou ao
terceiro de boa-fé, somente se realizando o confisco pela União se permanecer ignorada
a identidade do dono ou não for reclamado o bem ou o valor. (CAPEZ,2011)

Estefam e Gonçalves (2020) pontua que decretada a perda do produto ou proveito do


crime em razão de sentença condenatória, poderão estes ser exigidos ainda que estejam
em poder dos sucessores. O art. 5º, XLV, da Constituição Federal consagra o princípio
da intranscendência da pena, mas não veda que este efeito extrapenal da condenação
alcance os sucessores. A lei 12.694/12, que visa reforçar a importância patrimoniais aos
criminosos condenados o art.91 do CP, estabelece inicialmente, que poderá ser decretada
a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime quando estes
não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior (art. 91, §1°). Além disso
para que haja êxito em referida providencia, estabelece que as medidas assecuratórias
previstas na legislação processual (sequestro, arresto e hipoteca) poderão abranger bens
ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de perda.
O Plenário do STF, no julgamento do RE 795.567/PR, após reconhecer a repercussão
geral (tema 187), aprovou a tese: “As consequências jurídicas extrapenais, previstas no
art. 91 do Código Penal, são decorrentes de sentença penal condenatória. Tal não ocorre,
portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente
homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As
consequências geradas pela transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por
modo consensual no respectivo instrumento de acordo”.

d) Suspensão dos direitos políticos, enquanto durarem os efeitos da condenação


(Art. 15, III, da CF).
Cuida-se de efeito automático e inerente a toda e qualquer condenação. Consiste,
basicamente, na perda do direito de votar e de ser votado. Quando uma pessoa é
definitivamente condenada, o juízo de origem deve comunicar o fato à Justiça Eleitoral
que impedirá o exercício do voto. (ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)

O Plenário do STF, no julgamento do tema 370 (repercussão geral), confirmou que


também há suspensão dos direitos políticos em caso de substituição da pena privativa de
liberdade por pena restritiva de direitos (STF, RE 601.182, Rel. p/ acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 08.05.2019).
Declarada a extinção da pena, por seu cumprimento ou pela prescrição, o sujeito recupera,
também automaticamente, os direitos políticos. De acordo com a Súmula n.
9 do TSE, “a suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada
em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de
reabilitação ou de prova de reparação dos danos”.

e) Rescisão do contrato de trabalho por justa causa (art. 482, d, da CLT)


Prevê o art. 482, d, da Consolidação das Leis do Trabalho que constitui justa causa para
a rescisão do contrato de trabalho pelo empregador a condenação criminal do empregado,
passada em julgado, caso não tenha havido suspensão condicional da pena (sursis). A
ressalva contida na parte final do dispositivo nos faz acreditar que, também quando
houver aplicação exclusiva de pena de multa, não haverá justa causa para a rescisão.
(ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)

f) Obrigatoriedade de novos exames às pessoas condenadas por crimes


praticados na direção de veículo automotor descritos no Código de Trânsito
Brasileiro (art. 160 da Lei n. 9.503/97).
Estabelece o art. 160 do Código de Trânsito Brasileiro que a condenação por qualquer
dos crimes nele previstos torna necessária a realização de novos exames para que o
condenado volte a conduzir veículos automotores. Trata-se de efeito automático da
condenação, não precisando ser mencionado na sentença. Por esta razão e por ser
aplicável a todos os crimes do Código de Trânsito classifica-se como efeito genérico.
(ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)

Efeitos Extrapenais Específicos

São aqueles que não decorrem meramente da condenação, exigindo a lei requisitos
específicos. Além disso, é necessário que o juiz justifique a aplicação de tais efeitos na
sentença, não sendo, assim, automáticos. (ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)

São eles:
a) Perda do cargo, função pública ou mandato eletivo
Conforme o art. 92, I, do CP, são também efeitos da condenação, a perda do cargo, função
pública ou mandato eletivo decorrente de duas hipóteses: a) quando aplicada pena
privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, quando o ilícito for praticado
com abuso de poder ou violação dos deveres funcionais; ou b) quando aplicada pena de
prisão por tempo superior a quatro anos, nos demais casos.
Na primeira hipótese, a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo abrange não
somente os chamados delitos funcionais (arts.312 e segs., do CP), mas, igualmente, todo
e qualquer delito no qual o agente tenha abusado de seus poderes ou descumprido seus
deveres de servidor público, como, por exemplo, no estelionato praticado em detrimento
da própria administração pública (art.171, §3°, do CP).Na segunda hipótese em razão da
aplicação de uma sanção elevada, o servidor torna-se indigno para exercer o cargo, a
função ou mandato eletivo custeado pelo contribuinte brasileiro. Diante disso, não terá
condições de conciliar o expediente normal na repartição pública com a privação da
liberdade imposta na sentença condenatória. (SOUZA e JAPIASSÚ, 2018)
b) Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, nos crimes
dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado.
Esse dispositivo foi alterado pela Lei n° 13.715/18
A decretação de referida incapacitação pressupõe quatro requisitos:
1) Que o crime tenha sido praticado contra outrem igualmente titular do mesmo
poder familiar, filho, filha ou outro descendente (neto, neta) ou contra tutelado ou
curatelado;
2) Que trate de crime doloso;
3) Que trate de crime apenado de reclusão;
4) Que o juiz entenda ser necessária referida inabilitação em razão da gravidade dos
fatos e pela incompatibilidade gerada em relação ao exercício do poder familiar,
tutela ou curatela (art. 92, parágrafo único, do CP).
c) Inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de
crime doloso.
Esta inabilitação somente é aplicada quando o veículo é utilizado como
instrumento para a prática de crime doloso, como, por exemplo, quando o agente
atropela intencionalmente alguém com o intuito de matá-lo ou lesioná-lo. Nos
casos de participação em competição não autorizada em via pública (“pegas”,
“rachas”), das quais decorra morte ou lesões em terceiro, a jurisprudência firmou
entendimento no sentido da configuração de crimes de homicídio ou lesões
corporais dolosas (dolo eventual). Em tais hipóteses, portanto, será cabível o
efeito em tela, uma vez que o texto legal não restringe o instituto aos casos de dolo
direto. A incidência deste dispositivo também não é automática, devendo ser
motivadamente declarada na sentença. Trata-se de efeito que só pode ser afastado
após a reabilitação criminal, de modo que só depois disso o condenado poderá
novamente obter sua habilitação para conduzir veículos. Nos crimes de homicídio
culposo e lesão corporal culposa cometidos na direção de veículo automotor, a
suspensão e a proibição de obter a habilitação ou permissão para dirigir veículo
constituem pena prevista no próprio tipo penal, e não efeito da condenação (arts.
302 e 303 do CTB). (ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)
REFERÊNCIAS

 ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal


esquematizado– parte geral – Coleção esquematizado - 9. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1, parte geral 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.

 SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Direito


penal: volume único. São Paulo: Atlas, 2018.

(ESTEFAM e GONÇALVES, 2020)

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