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CENTRO UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE TANCREDO DE ALMEIDA

NEVES

Direito Criminal: Teoria da Pena


Resenha crítica sobre os Efeitos da
Condenação

Ana Luisa Melo Costa


Ana Luisa Resende Chaves
Fernanda Coimbra Carvalho
Franklin Lucas Reis Mauricio
Leandro Cardoso Souza
Luiz Henrique Vale Ferreira
Patrick Walam Damasceno Margotti
Taynara das Graças Resende
Vinicius de Sousa Lima

São João Del-Rei


2023
INTRODUÇÃO

A condenação é um ato do judiciário, que tem o poder de impor sanções


penais. Os efeitos da condenação, consistem nas consequências que afetam a vida
do condenado, de forma direta ou indireta, por sentença penal transitada em julgado.
Tal censura tem consequências legais, com implicações criminais e extra criminais
para os infratores.

Vê-se que as consequências da sanção penal advêm da sentença


condenatória, sendo os seus principais efeitos a aplicação de pena privativa de
liberdade, penas legalmente restritivas, pena pecuniária, medidas de segurança para
pessoas semi-responsáveis e efeitos secundários sobre os infratores, incluindo
efeitos extrapenais.

Um exemplo de efeito penal é a reincidência. A partir do momento em que já


existe uma sentença penal condenatória transitada em julgado, caso o agente
cometa nova infração penal, será considerado reincidente nos termos do artigo 63
do Código Penal, o que afeta a aplicação de benefícios, a dosimetria da sua pena,
etc.

Já os efeitos extrapenais, se dividem em efeitos extrapenais genéricos e


efeitos extrapenais específicos. No caso do genérico, os efeitos extrapenais são
automáticos e obrigatórios fazendo com que o juiz não precisa fundamentar o motivo
pelo qual se aplicam no caso concreto. Os efeitos extrapenais genéricos estão
previstos no artigo 91 do Código Penal.

Dando continuidade, existem também, como já dito antes, os efeitos


extrapenais específicos, eles, ao contrário dos genéricos, não são automáticos e
precisam de fundamentação do juiz quando for aplicá-los no caso concreto. Eles
estão previstos no artigo 92 do Código Penal (que dá destaque no parágrafo único
dessa necessidade de fundamentação).
OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Partindo da natureza dos efeitos da condenação no judiciário, como define a


doutrina de Guilherme de Souza Nucci:

‘’Proferida uma decisão condenatória, há efeitos principais e secundários; penais e


extrapenais. No campo penal, o efeito principal da sentença é a aplicação da pena; o
efeito secundário é mais amplo: geração de mau antecedente, reincidência, aptidão
para revogar algum benefício penal, como o sursis ou o livramento condicional, entre
outros.’’

Em complemento, com a doutrina de Cezar Roberto Bittencourt, elabora-se a


seguinte sentença: ‘‘Os de natureza penal estão insertos em diversos dispositivos do
próprio Código Penal, do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. Os
de natureza extrapenal encontram-se elencados nos arts. 91, 91-A e 92’’. Nesta
resenha, apresentar-se-á o artigo 91.

“Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de


11.7.1984)
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

Vale ressaltar que a indenização mencionada no Artigo 91, inciso I, é uma


forma de reparação dos danos materiais ou morais causados pela conduta
criminosa. O valor da indenização pode ser determinado pelo juiz no processo
criminal ou pode ser estabelecido em uma ação civil movida pela vítima contra o
condenado. Como define a doutrina de Cezar Bittencourt, essa indenização pode ser
tanto no cível, quanto no criminal:

‘‘nos termos do art. 515, VI, do CPC/2015 (Lei n. 13.105, de 16-3-2015), cuja
liquidação far-se-á na esfera cível. No entanto, a vítima ou seus sucessores não
estão obrigados a aguardar o desfecho da ação penal, podendo buscar o
ressarcimento do dano através de ação própria no juízo cível. A obrigação de
indenizar, como não se trata de pena criminal, mas de efeito da condenação,
transmite-se aos herdeiros do delinquente, até os limites da herança. A sentença
condenatória só pode ser executada no juízo cível contra quem foi réu na ação
criminal. Para acionar o responsável civil, que não tenha sido réu na ação penal, será
necessária a ação cível específica, servindo a condenação penal apenas como
elemento de prova, e não como título executivo.’’

Inciso II: “a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de


terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”. Esse dispositivo
pode ser entendido não como pena, mas sim, como efeito da condenação,
limitando-se aos instrumentos ou produtos do crime. Isso entendido na doutrina de
Cezar Roberto Bittencourt, tal definição engloba-se no que é disposto na CF/88.
Imprescindivelmente, é necessário enfatizar que nem sempre o confisco será
obrigatório, podendo ser analisado, ele só será obrigatório em caso e somente em
objeto pertencente a quem participou da prática do delito.

Um exemplo prático seria o seguinte: suponha que uma pessoa seja


condenada por tráfico de drogas. Durante o processo criminal, ficou comprovado
que essa pessoa adquiriu diversos bens de alto valor utilizando os lucros
provenientes da atividade ilícita. Nesse caso, além da pena imposta, a condenação
criminal pode resultar na perda desses bens em favor da União.

“§ 1º: Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou


proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no
exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012);”

Isso significa que, mesmo que os bens ou valores originalmente obtidos por
meio do crime não sejam localizados ou estejam em jurisdição estrangeira, a Justiça
pode determinar a perda de outros bens ou valores equivalentes pertencentes ao
condenado. Essa medida visa garantir que o criminoso não se beneficie dos frutos
do crime, mesmo que os bens ou valores diretamente relacionados não possam ser
recuperados.

“§ 2º: Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação


processual poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou

acusado para posterior decretação de perda. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012);”

Essa disposição autoriza as autoridades competentes a adotarem medidas


cautelares para garantir a indisponibilidade desses bens ou valores equivalentes,
assegurando que eles não sejam dissipados, ocultados ou transferidos durante o
processo criminal. Assim, caso seja confirmada a condenação, esses bens ou
valores podem ser efetivamente confiscados e perdidos em favor da União, mesmo
que não sejam exatamente os mesmos bens ou valores obtidos originalmente com o
crime.
Sendo assim, em se tratando do art. 91-A do Código penal, onde foi incluído
na lei 13.964/2019 que é conhecida como Pacote Anticrime. Podemos ver que esse
art. trata de fazer com que se torne possibilidade a decretação da perda dos bens
que representa o produto ou o proveito do crime, porém isso só pode acontecer
quando houver condenação cuja pena máxima seja superior a 6 anos de reclusão.

O inciso 1 desse artigo fala e determina que o patrimônio do condenado são


os que estejam em sua titularidade ou sobre os quais ele tenha domínio e benefícios
diretos ou até mesmo indireto na data que houve a infração penal, entretanto
também podem ser considerados aqueles bens que tenham sido transferidos para
outras pessoas (terceiros) de maneira gratuita. Ou seja, quando o criminoso
aumenta seu patrimônio por meio de atividades criminosas esses patrimônios serão
retomados pelo estado, a perda recairá sobre diferença entre o valor do patrimônio
do condenado e o valor compatível com seu rendimento lícito.

Portanto entende-se que nesse artigo e, exatamente nesse inciso, busca-se


cancelar o enriquecimento ilícito que venha de atividades criminosas, e de certa
forma, busca também desencorajar a prática de crimes como esse e, assim,
beneficiando as pessoas e também o Estado proporcionando a recuperação de
ativos para ele.

Não podemos deixar de citar e colocar nesse texto o exemplo que o


comentarista desse artigo, mais conhecido como Mauricio Shaun Jalil aplicou: ‘‘ao
assaltar um banco, o delinquente usa o dinheiro roubado para comprar um
apartamento. Nessa hipótese, já convertido o produto do crime em outro bem
aparentemente lícito, não cabe busca e apreensão, devendo-se proceder a medida
assecuratória do sequestro prevista do CPP (arts. 125 e segs.).

De acordo com o art. 120 do CPP, o produto e o proveito do crime devem ser
restituídos ao prejudicado ou terceiro de boa-fé, desde que não se enquadrem nas
hipóteses da alínea a do inciso II do art. 91 do CP. Caso seja desconhecido o
proprietário, passa-se ao Estado, o qual dará a destinação legal, ou seja, serão
inutilizados, leiloados ou recolhidos ao museu criminal, conforme determinação dos
arts. 122 a 124 e 133 do CPP’’. Nesse exemplo podemos ver perfeitamente tudo que
é falando e citado no art 91-A sendo colocado em pratica.

O artigo 92 do Código Penal Brasileiro, alterado pela Lei nº 7.209/1984,


dispõe sobre os efeitos da condenação criminal. Esses efeitos, previstos nos
incisos I e II deste artigo, são relevantes para a compreensão das consequências
jurídicas decorrentes da aplicação de uma penalidade.

“Art. 92 - São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
 I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:              (Redação dada pela
Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública;             (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
anos nos demais casos.              (Incluído pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)”

O inciso I estabelece a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo


como um dos efeitos da condenação. Essa perda ocorre em duas situações
específicas: a) quando a pena privativa de liberdade aplicada for igual ou superior a
um ano nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever com a
Administração Pública, e b) quando a pena privativa de liberdade aplicada for
superior a quatro anos nos demais casos. Estes incisos visam punir com mais
rigidez os agentes públicos que cometam crimes no exercício das suas funções ou
que violem seus deveres e obrigações com a Administração Pública. A perda do
cargo público ou mandato eleitoral é consequência direta das condenações,
demostrando a gravidade desses atos e a necessidade de preservar a integridade e
o bom funcionamento das instituições públicas.

Na doutrina Tratado de direito penal: parte geral. V.1, de Cezar Roberto


Bitencourt, o autor destaca a importância da fundamentação na sentença para
afastar da Administração Pública os condenados que agiram com abuso ou desvio
de poder. Antes da Lei nº 9.268/96, havia uma liberalidade excessiva que permitia
a impunidade dos maus servidores públicos. A nova redação do artigo 92, Inciso I,
a, retoma de certa forma, a orientação original do Código Penal de 1940,
restringindo a perda apenas ao cargo em que ocorreu o abuso ou violação do
dever. Sobre a perda da obrigatoriedade eleitoral, Bitencourt destacou que não
deve ser confundida com a vigilância do exercício da obrigatoriedade como
punição restritiva de direitos.

Sobre a perda da obrigatoriedade eleitoral, Bitencourt destacou que não


deve ser confundida com a vigilância do exercício da obrigatoriedade como
punição restritiva de direitos. A ressocialização do criminoso não permite que ele
seja reintegrado em mandato anterior, mas permite que ele exerça novo mandato
caso seja eleito.

“II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos


crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente
titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou contra
tutelado ou curatelado;              (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)”

No que diz respeito à incapacidade para o exercício do poder familiar, da


tutela ou da curatela, o autor aponta que qualquer crime doloso contra filho, tutelado
ou curatelado, pode acarretar essa incapacidade. Não há necessidade de
criminosos abusarem desses atributos ou serem inconsistentes com eles. A lei
assume absolutamente a incompatibilidade quando o agente for condenado por
crime doloso punível com pena de prisão. A incapacidade deve ser totalmente
comprovada na sentença. Bitencourt destaca que a deficiência é permanente, mas
pode ser eliminada por meio da reabilitação.

A reabilitação permite ao indivíduo exercer essas atribuições em relação a


outros tutelados ou tutores, bem como a outras crianças, mas não em relação às
suas vítimas anteriores. Dessa forma, a análise de Bitencourt enriquece o
entendimento dos efeitos específicos da declaração prevista no artigo 92 do Código
Penal, abordando as distinções, requisitos e consequências de cada um deles com
base na legislação vigente.

O artigo 92 do CP, traz em seu bojo as consequências extrapenais


específicos e não automáticos. Só se aplicam a certas hipóteses de determinados
crimes e dependem de sentença condenatória tê-los motivadamente declarado, de
modo a deixar claras a necessidade e a adequação ao condenado.
“III – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado, como meio para a
prática de crime doloso.”

O inciso III do art. 92 do CP, traz o efeito específico extrapenal da


condenação – a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a
prática de crime doloso. Não depende de ser o agente legalmente habilitado, pois o
que se prevê não é a suspensão, mas a própria inabilitação. Assim, os efeitos
extrapenais específicos previstos no art. 92 do CP não são consequência automática
da condenação, mesmo quando preencham seus pressupostos.

Eles dependem de ser motivadamente declarados na sentença. Ou seja, para


terem, realmente, os efeitos assinalados, é imprescindível que a sentença os declare
expressamente, dando os motivos pelos quais a condenação terá as terá as
consequências específicas do art. 92, I a III do Código Penal.

Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação


(pretensão executória), mas não atinge os efeitos secundários, penais ou
extrapenais. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.

Bom, a súmula 631 do Supremo Tribunal de Justiça é bem direta em seu


texto, o indulto significa um perdão jurídico, dado pelo Presidente da República de
acordo com Art.84, inciso XII da Constituição Federal. A Súmula reafirma o que está
escrito no Art.107 do Código penal que se designa a extinção da punibilidade, no
inciso II está descrito que poderá ser pela anistia, graça ou indulto.

Apesar deste perdão gerar esta extinção de pena, o infrator receberá os


efeitos secundários, que são os penais como por exemplo maus antecedentes e
extrapenais previstos nos Arts. 91 e 92 do CP.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, é possível inferir que vários efeitos são gerados com a
condenação penal transitada em julgado, visto que essa sentença visa aplicar a
pena que, de forma proporcional, mais se aproxima do mal praticado pelo
sentenciado. Esses efeitos podem ser primários,isto é, imposição da sanção penal,
ou secundários, que, como afirma Greco, mais se parecem com outra pena, de
natureza acessória. Sendo que os secundários são subdivididos em penais, como a
reincidência, ou extrapenais, que por sua vez é dividido em genérico e específico,
regulados pelos arts. 91, 91-A e 92 do Código Penal.

É importante ressaltar as mudanças promovidas pelo pacote anti- crime no


art. 91 do Código Penal, o qual adicionou o dispositivo 91-A que dispõe sobre
perdimento de bens que, embora não estejam ligados diretamente ao crime que está
sendo julgado, de alguma maneira provém de atividades ilegais, segundo Sanches.
Pode-se perceber, portanto, que a intenção do legislador ao acrescentar isso foi de
atingir o patrimônio do criminoso como forma de combate à criminalidade.

Por fim, outra informação importante a ser destacada é que as situações


em que houver perdão do sentenciado pelo Estado, por meio do indulto, previsto na
súmula 631 do STJ de 2019, não serão abrangidas pelos efeitos secundários da
condenação, somente pelos primários.
REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cezar R. Tratado de direito penal: Parte geral - arts. 1º a 120 (vol. 1).
Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555597172. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555597172/.> Acesso em: 27
mai. 2023.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível


em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>
Acesso em: 28 mai. 2023

NUCCI, Guilherme de S. Curso de Direito Penal: Parte Geral: arts. 1º a 120. v.1.
Grupo GEN, 2023. E-book. ISBN 9786559646852. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559646852/>. Acesso em: 28
mai. 2023.

ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor Eduardo R. Esquematizado - Direito Penal -


Parte Geral. Editora Saraiva, 2022. E-book. ISBN 9786555596434. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596434/. Acesso em: 12
jun. 2023.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: artigos 1º a 120 do Código Penal. v.1 .
Grupo GEN, 2022. E-book. ISBN 9786559771493. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559771493/. Acesso em: 12
jun. 2023.

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