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CONCEITO.

Ao praticar um crime, o estado obtém automaticamente a competência para


processar e julgar o delinquente, devendo assim, observando-se as
formalidades legais, puni-lo nos termos da lei. Tal punição é aplicada a todos
indivíduos, não podendo deixar de punir certa pessoa pelo simples fato de sê-
la.

O estado tem um prazo para exercer sua pretensão sob quem vem a ferir a
norma penal, e caso não a faça, perde-se a pretensão punitiva ou a pretensão
executória, devendo-se assim, ser extinta a sua punibilidade.

Pretensão punitiva é a perda do interesse de aplicar uma sanção penal (punir)


a quem pratica uma conduta delituosa, enquanto a pretensão executória é a
perda de executar a pena que foi aplicada na sentença (executar a punição).

Dessa forma, o ius puniendi é exercido de maneira limitada, tendo em vista que
não é eterno o direito do estado de processar e punir alguém.

Nos ensinamentos de Nucci1, o mesmo conceitua prescrição como:

“perda do direito de punir do Estado pelo não


exercício em determinado lapso de tempo. Não há
mais interesse estatal na repressão do crime, tendo
em vista o decurso do tempo e porque o infrator não
reincide, readaptando-se à vida social (2015, p.
733)”.

A prescrição é matéria de ordem pública. Isso significa que pode ser


reconhecida pelo juiz de ofício ou a requerimento das partes em qualquer fase
do processo.

Nestes termos, vemos que a prescrição é a matéria de ordem que está entre o
direito de punir do estado e o direito em que o criminoso tem de não ser
punido, de forma a obstar a aplicação ou execução da pena pelo seu efeito
extintivo exposto nas iras do art. 107, IV, do Código Penal.

1
Nucci, Guilherme de Souza Código penal comentado / Guilherme de Souza Nucci. – 15.
ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015. p 733.
FUNDAMENTOS.

Quanto aos seus fundamentos, vê-se a prescrição de duas óticas distintas. A


primeira seria uma questão política/social, que tem como principal objetivo o
não perpetuamento do processo criminal, ou seja, não seria razoável impor ao
acusado/indiciado, por toda sua vida, a ameaça do processo e da condenação
criminal.

A título de exemplo, imaginemos que alguém pratique um crime de furto


simples, previsto no art. 155, caput, do Código Penal, o qual traz em seu
preceito secundário uma pena de 01 a 04 anos de reclusão e multa. Vamos
considerar que na época dos fatos o autor do crime contava com 24 anos de
idade. Com o decorrer dos anos, atinge-se a fase da sentença, e é aplicado ao
autor do crime uma pena de 2 anos de reclusão. Acontece que, ao ser intimado
da sentença, o réu já está com 87 anos de idade. Seria lógico e eficaz a
aplicação dessa pena? Nesse sentido, vemos a importância de tal instituto.

Sobre o tema, cabe destacar a lição de Bento de Faria 2:

“Decorrido certo lapso de tempo, desde a prática do


crime, sem que se tenha instaurado procedimento
criminal contra o delinquente, e, se instaurado, sem
que se tenha prosseguido nesse procedimento, ou
desde a sentença condenatória, sem que se tenha
feito executar a pena, a memória do fato punível
apagou-se e a necessidade do exemplo desaparece.
Seria repugnante aos princípios da equidade e de
justiça que ficasse perpetuamente suspensa sobre a
cabeça do criminoso a ameaça do procedimento
criminal (1961, p. 197)”.

Noutro norte, tem-se a prescrição como uma forma de afastar a ineficiência do


judiciário, uma vez que, caso o mesmo não exerça sua pretensão dentro dos

2
FARIA, Bento. Código Penal Brasileiro Comentado. 3º Volume. Rio de Janeiro: 
Record, 1961. p. 197.
prazos previstos dentro da legislação penal/extravagante, o seu direito se
perderia dentro do lapso temporal.

Nos ensinamentos de Cleber Masson3:

“Os órgãos estatais responsáveis pela apuração,


processo e julgamento de infrações penais devem
atuar com zelo e celeridade, em obediência à
eficiência dos entes públicos, estatuídas pelo art. 37,
caput, da Constituição Federal como princípio vetor
da Administração Pública. Serve, portanto, como
castigo em caso de não ser alcançada uma meta
pelo Estado, qual seja, aplicar a sanção penal dentro
de prazos legalmente previstos (2014, p. 933)”.

Nesses termos, conclui-se que a prescrição vem com a finalidade de afastar o


caráter perpétuo da ação/sanção penal bem como inibir a ineficiência do
judiciário em processar e julgar os delitos, preservando assim os direitos
fundamentais e o princípio da dignidade da pessoa humana.

3
Masson, Cleber. Direito Penal esquematizado – Parte Geral – Vol.1/ Cleber Masson –
8º ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. p 933.

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