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Apresentação do Módulo
Conhecer a teoria não é suficiente para se ter um controle efetivo diante de situações adversas
que implicam a atuação do agente de segurança pública; é preciso também prática, isto é,
saber agir. A proposta aqui apresentada objetiva criar condições para que vocês, agentes de
segurança pública, possam estudar os “caminhos norteadores”, isto é, posturas adequadas de
como usar a força em variadas situações, aplicando-a de modo eficaz sem romper com o
princípio ético e moral da corporação pertencente, bem como com seus próprios direitos e
deveres, não apenas como agente público a serviço da sociedade, mas também como pessoa,
cidadão.
As Nações Unidas consideram que qualquer ameaça à vida e à segurança dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei deve ser encarada como uma ameaça à estabilidade da
sociedade em geral.
Objetivos do Módulo
Estrutura do Módulo
Uma das grandes dificuldades ao tratar da temática do Uso da Força era sempre a unificação
de conceitos que regem a matéria. Assim sendo, desde a publicação da Portaria
Interministerial nº 4226 de 31 de dezembro de 2010, que estabelece Diretrizes Sobre o Uso da
Força pelos Agentes de Segurança Pública, alguns desses conceitos foram consolidados e
padronizados como meio de facilitar o entendimento uniforme por todos os profissionais
envolvidos.
Força: Intervenção coercitiva imposta a pessoa ou grupo de pessoas por parte do agente de
segurança pública com a finalidade de preservar a ordem pública e a lei.
Nível do uso da força: Intensidade da força escolhida pelo agente de segurança pública em
resposta a uma ameaça real ou potencial.
Princípio da Necessidade: Determinado nível de força só pode ser empregado quando níveis
de menor intensidade não forem suficientes para atingir os objetivos legais pretendidos.
Princípio da Proporcionalidade: O nível da força utilizado deve sempre ser compatível com
a gravidade da ameaça representada pela ação do opositor e com os objetivos pretendidos pelo
agente de segurança pública.
Uso diferenciado da força: Seleção apropriada do nível de uso da força em resposta a uma
ameaça real ou potencial visando limitar o recurso a meios que possam causar ferimentos ou
mortes.
No estudo da Segurança Pública verifica-se que surgem três ideias principais com relação ao
trabalho dos agentes de Segurança Pública:
• Uma ideia de proteção da paz social e da ordem pública e a segurança dos cidadãos;
Os Órgãos de Segurança Pública, de modo geral, tem por missão garantir a paz e a segurança
de uma comunidade, bem como a segurança de cada cidadão, impondo-lhe a força, caso seja
necessário, para o respeito e para cumprimento das leias.
Disso se extrai que as prerrogativas dos Órgãos de Segurança Pública podem, em casos
extremos, levar ao uso da força e de armas de fogo para garantir o cumprimento da lei, ao
reconhecimento e ao respeito dos direitos e das liberdades de todos e para satisfazer as justas
exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. (artigo
29 da Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH)
Importante!
É importante ressaltar que o Uso da Força e de armas de fogo deve ser limitado por leis e
regulamentos, colocando sempre em evidência a questão do serviço e do interesse público.
O exercício do poder para usar a força e armas de fogo não é uma questão individual, mas sim
uma questão de função. Qualquer uso que não esteja dentro do marco legal estará sujeita a
uma crítica por excesso, desvio, abuso de autoridade ou poder. É aqui, precisamente, que os
valores éticos são fundamentais.
No estudo da doutrina do Uso da Força muitos autores já se pronunciaram sobre o tema, veja
o que já foi dito e compares com a nossa doutrina brasileira:
“Os países outorgam suas organizações de aplicação da lei à autoridade legal para usarem a
força, se necessário, para servirem aos propósitos legais de aplicação da lei.” (ROVER 2000,
p. 275)
“O Estado intervém, com violência legítima, quando um cidadão usa a violência para ferir,
humilhar, torturar, matar outros cidadãos, de forma a garantir a tranquilidade. É a lógica da
violência legítima contendo a violência ilegítima.” (SILVA 1994, p. 48)
Portanto, se o Agente de Segurança Pública deixar de cumprir tais requisitos, i Uso da Força
será caracterizado como ilegítimo, sendo então, apontado como violência, truculência, abuso
do poder, entre outras formas de desvio de procedimentos não concebíveis ao Agente da área
de Segurança Pública, integrante de uma Organização promotora de paz social e como tal
deve seguir os parâmetros legais e éticos.
Violência
Na próxima aula, você estudará as ideias sobre o uso da força e atividade profissional dos
agentes de segurança pública.
Você deve ter notado que o simples conhecimento de um texto não é suficiente para que um
profissional tenha uma conduta adequada. É necessário o entendimento de que sua profissão
deriva dos ideais legais e democráticos do nosso país. Assim sendo, você já deve ter
percebido a importância de estudar sobre Segurança Pública e sobre o Uso da Força e de
armas de fogo no desempenho da sua atividade.
Parte dos problemas enfrentados hoje com relação ao abuso de autoridade, e sua expressão
última que é a brutalidade e a violência do Agente da área de Segurança Pública, resultam da
ausência de uma substantiva sobre o emprego qualificado e comedido da força.
Refletindo sobre a questão...
Reflita sobre sua experiência e vivência como Agente de Segurança Pública. Você acredita
que tais Agentes tem consciência da importância do Uso da Força? Do contrário, a que
atribuiria o uso indevido da força no desempenho da função da Segurança Pública?
Os órgãos de segurança pública brasileiros recebem uma série de meios legais para capacitar
seus integrantes a cumprir seus deveres de aplicação da lei e preservação da ordem, sempre
em busca da paz. Sem estes e outros poderes, tal como aquele de privar as pessoas de sua
liberdade, você não conseguiria desempenhar a sua missão constitucional em defesa da
sociedade.
Agente de segurança pública! Você recebe do Estado a autorização para usar a força quando
atua em nome do próprio Estado. Sobre esse pensamento Rover (2000) lembra que:
“Os Estados não negam a sua responsabilidade na proteção do direito à vida, liberdade e
segurança pessoal quando outorgam aos seus encarregados de aplicação da lei a autoridade
legal para a força e arma de fogo”.
O agente de segurança pública tem o dever de aplicar a lei e de reprimir com energia a
sua transgressão em defesa da sociedade, a mesma sociedade da qual ele faz parte e de
onde ele foi escolhido para se juntar à Força de Segurança Pública.
Os órgãos de segurança pública existem para servir à sociedade e para proteger os seus
direitos mais fundamentais. Cerqueira (1994, p. 1), acrescenta essa ideia ao relatar que: “O
sistema de justiça criminal, no qual se inclui a polícia, atua fundamentalmente para
garantir os direitos humanos, em sentido estrito, e, portanto, a lógica de uso da força
para conter a violência é perfeitamente compreensível”.
A Força Pública de Segurança, por intermédio dos seus Agentes, atua para assegurar que os
direitos fundamentais dos cidadãos, individual e coletivamente, sejam protegidos. O direito à
vida e à segurança pessoal devem ter a mais alta prioridade.
Art. 3º DUDH – Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Art. 4º Convenção Americana do Direitos Humanos: Artigo 4(1). Direito à vida – Toda
pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei.
Neste ponto do seu estudo, pense como o Agente de Segurança Pública (funcionário
responsável pela aplicação da lei) tem responsabilidade pela proteção de todas as pessoas da
sociedade.
Se a sua conclusão foi a de que o Agente tem um grau muito elevado de responsabilidade para
a proteção à vida das pessoas da comunidade, então certamente ele, como funcionário do
Estado, é um protetor de vidas , é um protetor do direito fundamental de todas as pessoas, é
um protetor do maior bem jurídico protegido: A VIDA.
Vamos estudar, a partir de agora, algumas Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de
Segurança Pública.
Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL)
É o código adotado por intermédio da resolução 34/169 da Assembleia Geral das Nações
Unidas, em 17 de dezembro de 1979. É um instrumento internacional, com o objetivo de
orientar os Estados-membros quanto à conduta dos agentes de segurança pública.
Embora o Código não seja um tratado com força legal, o Código é um documento de
orientação aos Estados que busca criar padrões para que as práticas de aplicação da lei
estejam de acordo com as disposições básicas dos direitos e das liberdades humanas.
ARTIGO 1.º
Comentário
Comentário
ARTIGO 3.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando tal se
afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.
Comentário
a) Essa disposição salienta que o emprego da força por parte dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei deve ser excepcional. No entanto, admite que esses funcionários possam
estar autorizados a utilizar a força na medida em que tal seja razoavelmente considerado como
necessário, tendo em conta as circunstâncias, para a prevenção de um crime ou para ajudar na
detenção legal de delinquentes ou de suspeitos – ou evitá-la. Qualquer uso da força fora desse
contexto não é permitido.
c) O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem fazer-se todos os
esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo, especialmente contra as crianças.
Em geral, não deverão utilizar-se armas de fogo, exceto quando um suspeito ofereça
resistência armada, ou quando, de qualquer forma, coloque em perigo vidas alheias e não haja
medidas menos extremas para dominá-lo ou detê-lo. Cada vez que uma arma de fogo for
disparada, deverá informar-se prontamente as autoridades competentes.
ARTIGO 4.º
Comentário
Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei obtêm
informações que podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas ou ser
potencialmente prejudiciais aos seus interesses e especialmente à sua reputação. Deve-se ter a
máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações, as quais só devem ser
divulgadas no desempenho do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas informações
para outros fins é totalmente abusiva.
ARTIGO 5.º
Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar
qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou
degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais excepcionais, tais como o
estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou
qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas ou
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Comentário
tal ato é uma ofensa contra a dignidade humana e será condenado como uma
negação aos propósitos da Carta das Nações Unidas e como uma violação aos
direitos e liberdades fundamentais afirmados na Declaração Universal dos Direitos
do Homem (e noutros instrumentos internacionais sobre os direitos do homem).
Tortura significa qualquer ato pelo qual uma dor violenta ou sofrimento físico ou
mental é imposto intencionalmente a uma pessoa por um funcionário público, ou por
sua instigação, com objetivos tais como obter dela ou de uma terceira pessoa
informação ou confissão, puni-la por um ato que tenha cometido ou se supõe tenha
cometido, ou intimidá-la a ela ou a outras pessoas. Não se considera tortura a dor ou
sofrimento apenas resultante, inerente ou consequência de sanções legítimas, na
medida em que sejam compatíveis com as Regras Mínimas para o Tratamento de
Reclusos*.
c) A expressão “penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes” não foi definida pela
Assembleia Geral, mas deve ser interpretada de forma a abranger uma proteção tão ampla
quanto possível contra abusos, quer físicos quer mentais.
Saiba mais...
Comentário
b) Embora o pessoal médico esteja geralmente adstrito aos serviços de aplicação da lei, os
funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem tomar em consideração a opinião de tal
pessoal, quando este recomendar que deve proporcionar-se à pessoa detida tratamento
adequado, através ou em colaboração com pessoal médico não adstrito aos serviços de
aplicação da lei.
ARTIGO 7.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer ato de
corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater todos os atos dessa índole.
Comentário
a) Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível
com a profissão de funcionário responsável pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada na
íntegra em relação a qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção, dado que os
Governos não podem esperar aplicar a lei aos cidadãos se não a puderem ou quiserem aplicar
aos seus próprios agentes e dentro dos seus próprios organismos.
b) Embora a definição de corrupção deva estar sujeita à legislação nacional, deve-se entendê-
la como tanto a execução ou a omissão de um ato, praticadas pelo responsável, no
desempenho das suas funções ou com estas relacionado, em virtude de ofertas, promessas ou
vantagens, pedidas ou aceites como a aceitação ilícita desses atos, uma vez a ação cometida
ou omitida.
ARTIGO 8.º
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que se
produziu ou irá produzir uma violação desse Código, devem comunicar o fato aos seus
superiores e, se necessário, a outras autoridades com poderes de controle ou de reparação
competentes.
Comentário
a) Este Código será observado sempre que tenha sido incorporado na legislação ou na prática
nacionais. Se a legislação ou a prática contiverem disposições mais limitativas do que as do
atual Código, devem observar-se essas disposições mais limitativas.
d) Em alguns países, pode considerar-se que os meios de comunicação social (mass media)
desempenham funções de controle, análogas às descritas na alínea anterior.
Consequentemente, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei poderão, como último
recurso e com respeito pelas leis e costumes do seu país e, ainda, pelo disposto no artigo 4.º
do presente Código, levar as violações à atenção da opinião pública através dos meios de
comunicação social.
É enfatizado pelo documento que o uso da força deve ser excepcional e nunca
ultrapassar o nível razoavelmente necessário para se atingir os objetivos legítimos de
aplicação da lei. Nesse sentido, entende-se que o uso da arma de fogo é uma medida
extrema.
Tendo em vista o contido no Código de Conduta sobre o uso de arma de fogo, qual é sua ideia
a respeito? Pense na sua realidade e na sua experiência profissional. Você acredita que o uso
da arma de fogo é uma medida extrema?
Objetivo do CCEAL
Você é um sujeito de autoridade do Estado e como tal está investido de poder de grande
alcance, e a natureza de seus deveres coloca-o em situações de corrupção e violência em
potencial. O documento afirma ainda que expor abertamente esses perigos escondidos é o
primeiro passo para combatê-los efetivamente.
A atitude de autoridade tem uma forte relação com a imagem e percepção da organização
como um todo; carrega assim, alta expectativa com relação aos padrões éticos mantidos
dentro dos órgãos de segurança pública.
Importante!
Um agente de segurança pública que excede no uso da força ou que seja corrupto pode fazer
com que todos os agentes sejam vistos como violentos ou corruptos, porque o ato individual
reflete como ato coletivo da organização.
Os padrões estabelecidos pelo código devem fazer parte da crença do agente de segurança
pública, e isto significa que esses valores devem estar conscientemente incorporados na sua
atuação cotidiana de segurança pública.
Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF)
Embora os Princípios Básicos não sejam um documento considerado como tratado, isto é,
com força legal, é um documento de orientação aos Estados, proporcionando normas
orientadoras na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dos agentes de segurança
pública. Neste curso, será tratado somente do Uso da Força nos níveis que antecedem a
letalidade.
• Disposições gerais: PB 1 a 8;
Veremos a explicação dos pontos mais importantes dos PBUFAFs, mas convém que você leia
todo o seu conteúdo.
Perceba que, nos PB 1 e 2 , estão as atribuições dos governos com relação à adoção de
normas reguladoras no Uso da Força e armas de fogo e na obrigação de dotar seus
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei com variedade de tipos de armas e
munições que permitam o Uso Diferenciado da Força e de armas de fogo, bem como a
inclusão de armas incapacitantes não-letais e equipamentos de legítima defesa e proteção.
Os PB 5 e 6 indicam o dever dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei sempre que o
Uso da Força e de armas de fogo for inevitável. Perceba que o princípio consagrado é sempre
agir com moderação, diminuir a quantidade de danos ou lesões e dar assistência e preservar a
vida humana e comunicar oficialmente os atos ocorridos. Lembre-se dos Princípios da
Legalidade, Necessidade e Proporcionalidade e os demais Princípios também consagrados na
Portaria Interministerial 4226/2010 no Brasil.
Atenção!
Os PBs 9 e 10 são importantíssimos para a atividade de Segurança Pública e devem ser lidos e
relidos com muita atenção para evitar uma falsa interpretação dos Princípios. A Portaria
Interministerial 4226 aborda muito claramente as questões colocadas nesses dois Princípios
Básicos. Busque a informação e compare!
É por isso que os treinamentos e as instruções dos Agentes de Segurança Pública são
fundamentais para evitarem-se erros na atuação operacional. Os treinamentos que você deve
levar a efeito são aqueles que guardam semelhança com a realidade do serviço de proteção da
sociedade. Ex: técnicas de abordagem, técnicas adequadas de tiro, técnicas de verbalização,
negociação, mediação, resolução de conflitos, entre outras.
Veja que as técnicas de Segurança Pública são importantes, mas importantes também são os
valores ético profissionais e a observância dos direitos fundamentais das pessoas. Isso tudo é
um conjunto indissociável que faz parte da sua profissão. A sociedade requer um Agente
profissional e preparado para a sua defesa e que não viole as normas que todos temos de
cumprir. Se o Agente se Segurança Pública recorre a violações da lei com a desculpa de que
tem de fazê-lo para manter a ordem pública, ele não é muito diferente do infrator que está
combatendo. As violações por parte dos Órgãos de Segurança Pública só reduzem a sua
autoridade e a sua confiabilidade.
O PB11 diz respeito ao conteúdo das normas e regulamentos sobre o Uso da Força e armas de
fogo.
Os PBs 18, 19, 20 e 21 dizem respeito à habilitação, formação e orientação dos profissionais
encarregados pela aplicação da lei. São mencionados os processos seletivos para o ingresso
nos Órgãos de Segurança Pública, as qualidades esperadas de cada pessoa que ingressa no
serviço de Segurança Pública e a necessidade da formação contínua no decorrer da carreira.
Os treinamentos específicos para cada tipo de arma a ser utilizada e os elevados padrões
profissionais desejados com o estudo de várias áreas do conhecimento humano, entre eles a
ética e os direitos humanos.
Aqui também a Portaria Interministerial 4226 aborda muito claramente as questões colocadas
nestes cinco Princípios. Busque a informação e compare!
Legislação brasileira
São vários os instrumentos que regulam o Uso da Força e arma de fogo pelos Agentes de
Segurança Pública. Veja!
Importante!
Exclusão de ilicitude
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito.
O Código de Processo Penal contém em seu teor dois artigos que permitem o emprego de
força pelos agentes de segurança pública no exercício profissional, são eles:
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de
resistência ou tentativa de fuga do preso.(...)
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se
encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de
prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas
e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o
executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as
saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que amanheça, arrombará as portas e
efetuará a prisão.
O Código Penal Militar contém em seu teor o artigo 42 relacionado com a Polícia Militar, no
tocante ao emprego de força, como se vê:
Exclusão de crime
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento do dever legal;
IV – em exercício regular de direito.
O Código de Processo Penal Militar contém, em seu teor, artigos relacionados com o
emprego de força na ação policial. Veja esses artigos a seguir.
Emprego de algemas
O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou de
agressão da parte do preso, e de modo algum permitido, nos presos a que se refere o
art. 242.
Uso de armas
O recurso do uso de armas só se justifica quando for absolutamente necessário para
vender e resistência ou para proteger a incolumidade do executor da prisão ou de
auxiliar seu. (art. 234, 2º, do CPPM).
Diretriz 17. Nenhum agente de segurança pública deverá portar armas de fogo ou instrumento
de menor potencial ofensivo para o qual não esteja devidamente habilitado e, sempre que um
novo tipo de arma ou instrumento de menor potencial ofensivo for introduzido na instituição,
deverá ser estabelecido um módulo de treinamento específico com vistas à habilitação do
agente.
Diretriz 23. Os órgãos de segurança pública deverão criar comissões internas de controle e
acompanhamento da letalidade, com o objetivo de monitorar o uso efetivo da força pelos seus
agentes.
Diretriz 24. Os agentes de segurança pública deverão preencher um relatório individual todas
as vezes que dispararem arma de fogo e/ou fizerem uso de instrumentos de menor potencial
ofensivo, ocasionando lesões ou mortes. O relatório deverá ser encaminhado à comissão
interna mencionada na Diretriz n.º 23 e deverá conter no mínimo as seguintes informações:
a. circunstâncias e justificativa que levaram ao uso da força ou de arma de fogo por parte do
agente de segurança pública;
f. quantidade de feridos e/ou mortos atingidos pelos disparos efetuados pelo(s) agente(s) de
segurança pública;
g. número de feridos e/ou mortos atingidos pelos instrumentos de menor potencial ofensivo
utilizados pelo(s) agente(s) de segurança pública;
k. ações realizadas para facilitar a assistência e/ou auxílio médico, quando for o caso; e
l. se houve preservação do local e, em caso negativo, apresentar justificativa.
Importante!
Você sabia que a Polícia Militar de Minas Gerais publicou no ano de 1984 a Nota de
Instrução nº 001/84 – que trata de maneira bem objetiva e clara sobre “O uso de força no
exercício do poder de polícia”?
Saiba mais...
A Polícia Militar de Minas Gerais publicou no ano de 1984 a Nota de Instrução nº 001/84 –
que trata de maneira bem objetiva e clara sobre “O uso de força no exercício do poder de
polícia”.
“O policial militar pode e deve fazer uso da força, no desempenho de sua missão, de forma tal
que esse uso não vá além do necessário e chegue a configurar o excesso ou uma ação policial
violenta.” (PMMG, 1984).
Outro documento produzido pela PMMG de importância para o uso da força são as Diretrizes
Auxiliares de Operações nº 1, de 1994, nos seus itens “4. m. 2)”, que descrevem doze
orientações aos policiais militares sobre o uso da força. Na verdade são orientações dirigidas
aos policiais militares do estado de Minas Gerais, mas podem e devem ser aplicadas por
todos policiais brasileiros.
O agente de segurança pública é um cidadão que porta a singular permissão para o uso da
força e das armas, no âmbito da lei, o que lhe confere natural e destacada autoridade para a
construção social ou para sua devastação (Ricardo Balestreri, adaptado).
O uso legítimo da força não se confunde com truculência, como assevera Balestreri:
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal, pela lei; no campo
racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a
metodologia de agentes de segurança pública e criminosos.
“A aplicação da lei não é uma profissão em que se possa utilizar soluções padronizadas
para problemas padronizados que ocorrem em intervalos regulares.” (ROVER 2000, p.
274)
Espera-se que você tenha a compreensão do espírito e da forma da lei, bem como saiba como
resolver as circunstâncias únicas de um problema particular. Trata-se de uma arte na aplicação
de palavras como negociação, mediação, persuasão e resolução de conflitos. No entanto,
existem situações em que, para se obter os objetivos da legítima aplicação da lei, ou você
deixa como está e o objetivo não será atingido, ou você decide usar a força para alcançá-lo.
Em algumas intervenções, o agente de segurança pública tem o dever de fazer o uso da força
para que os objetivos da aplicação da lei sejam alcançados, desde que não haja outro modo de
atingi-los. Um caso típico é quando um cidadão infrator coloca em risco a vida de pessoas
atirando em suas direções. Nessa situação, o agente de segurança pública deve fazer o uso da
força para neutralizar a ação do infrator.
Os países não apenas autorizaram seus encarregados da aplicação da lei a usar a força,
mas alguns chegaram a obrigar os encarregados a usá-la.” (ROVER 2000, p. 275)
É importante que você faça uma avaliação individualmente quando houver uma situação em
que surja a opção de uso da força. O agente de segurança pública somente recorrerá ao uso da
força quando todos os outros meios para atingir um objetivo legítimo tenham falhado,
justificando o seu uso.
Somente será permitido ao policial empregar a quantidade de força necessária para alcançar
um objetivo legítimo.
A autoridade legal para empregar a força, incluindo o uso letal de armas de fogo em situações
em que se torna necessário e inevitável para os propósitos legais da aplicação da lei, ROVER
(2000, p. 271) lembra que isso cria uma situação na qual o policial e membros da comunidade
se encontram em lados opostos, o que pode influenciar na qualidade do relacionamento entre
a Força de Segurança e a comunidade como um todo. No caso de uso da força ilegal e
indevida, esse relacionamento será ainda mais prejudicado.
Importante!
O não atendimento a qualquer desses princípios caracteriza uso indevido da força pelo órgão
de segurança pública. Não esqueça isso, agente de segurança pública!
Fica fácil concluir que o uso da força é uma das atividades desempenhadas pelo órgão de
segurança pública, mas, o agente de segurança pública deve estar cônscio da importância da
sua atividade para as políticas de segurança pública. É necessário que o órgão de segurança
pública tenha mecanismos de controle da atuação de seus integrantes para evitar dissabores
quanto ao abuso de poder.
Quando você perceber a necessidade de usar a força para atender o objetivo legítimo da
aplicação da lei e manutenção da ordem pública, responda a algumas questões importantes
que lhe servirão como guias.
Para responder, o agente de segurança pública precisa identificar o objetivo a ser atingido. A
resposta adequada atende aos limites considerados mínimos para que se torne justa e legal a
ação. Caso contrário, o agente de segurança pública cometerá um abuso e poderá ser
responsabilizado.
Busca-se verificar a boa fé por parte do agente de segurança pública e os seus princípios
éticos. A boa fé demonstra a intenção do agente, embora ele possa errar ao adotar uma opção
equivocada, decorrente de uma análise também equivocada.
Como já foi exposto anteriormente, vale ressaltar as consequências drásticas que a violência
ilegítima do agente de segurança pública pode acarretar, levando a uma séria desordem
pública, pela qual o órgão de segurança pública tem, então, que responder, podendo assim
expô-lo a situações perigosas e desnecessárias, fazendo com que ele se torne mais vulnerável
aos contra-ataques, conduzindo a uma falta de confiança na própria polícia por parte da
comunidade.
E ainda, o agente de segurança pública será responsabilizado civil e criminalmente pelo uso
abusivo da força.
Finalizando...
Neste primeiro módulo, você estudou os principais conceitos relacionados ao uso da força e
os aspectos legais, internacionais e nacionais, que devem nortear a ação do policial (agente de
segurança pública). No próximo módulo, você estudará sobre os principais modelos
existentes, utilizados pelas diversas polícias pelos órgãos de segurança pública do mundo,
sobre a diferenciação do uso da força.
Exercícios
Resposta – 2 – 1 - 2
2. Você viu neste módulo dois importantes documentos internacionais sobre o uso da força.
Para facilitar a compreensão de seu conteúdo, faça uma síntese dos documentos, elencando
três aspectos que você julga importante de cada um.
Orientação de resposta: A resposta do aluno deve contemplar uma síntese dos documentos
internacionais.
( ) Os órgãos de segurança Pública, de modo geral, têm por missão garantir a paz e a
segurança de uma comunidade, bem como a segurança de cada cidadão,
impondo-lhe a força, caso seja necessário, para o respeito e para cumprimento das
leis.
( ) Não são necessários parâmetros e nem limitações legais para o uso da força. O
Agente de Segurança Pública possui bom senso. Portanto, o uso da força é uma
questão individual e não da função.
( ) Parte dos problemas enfrentados hoje com relação ao abuso de autoridade, e sua
expressão última que é a brutalidade e a violência do Agente da Área de
Segurança Pública, resultam da ausência de uma reflexão substantiva sobre o
emprego qualificado e comedido da força.
Resposta: V- F – F - V