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JULIO HOTT
EFEITOS DA CONDENAÇÃO E REABILITAÇÂO
A condenação produz efeitos principais que são a obrigatoriedade de cumprimento da
pena (privativa de liberdade ou a substituição pela restritiva de direitos ou, ainda, da
pena de multa) ou imposição de medida de segurança em caso de necessidade dos
semi-imputáveis e, efeitos secundários que podem ser de natureza penal ou
extrapenal.
OBS.:
• A lei 7.716/89 (racismo) em seu art. 16 prevê que no caso de crime de preconceito
de raça ou cor praticado por servidor público, também ocorrerá a perda de cargo ou
função pública, se o juiz declarar na sentença condenatória (art. 18).
• A lei dos crimes de tortura, nº 9.455/97, art. 1º, §5º, prevê a perda do cargo, função
ou emprego e a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena
aplicada, para o agente público que cometer crime de tortura, independente da
quantidade da pena imposta, bem como de declaração expressa e motivada na
sentença.
• No caso da condenação de parlamentares (deputados e senadores), a perda do
mandato, somente ocorrerá se a respectiva casa parlamentar assim o decidir, ou
seja, não será o juiz da condenação que decidirá sobre a perda do mandato do
parlamentar (art. 55, VI da CF).
b) Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, nos crimes
dolosos, sujeitos a pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado: exige quatro requisitos, quais sejam:
b.1) crime deve ser doloso;
b.2) sujeito a pena de reclusão;
b.3) o crime tem que ser cometido contra filho, tutelado ou curatelado; e
b.4) a sentença tem que declarar a incapacidade para o exercício.
Decretada a incapacidade do agente, em princípio ela será permanente, salvo se
ocorrer a sua exclusão pelo instituto da reabilitação (CP art. 93, parágrafo único),
sendo que mesmo reabilitado, a capacidade não pode ser exercida novamente com
relação ao filho, ao tutelado ou curatelado vitima do crime.
c) Inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio para a prática de
crime doloso: três requisitos: crime doloso; veículo como instrumento do crime;
declaração expressa na sentença.
Este efeito da condenação ocorrerá nos casos em que o delito de trânsito for doloso e
o veículo for utilizado na prática do delito, ou seja, haverá a aplicação da pena
correspondente ao delito, bem como a inabilitação para dirigir veículo, como efeito
extrapenal específico.
Não se deve confundir essa inabilitação com a pena abstrata de suspensão da
permissão, autorização ou habilitação para dirigir veículo, prevista nos crimes de
trânsito (CTB, Lei n. 9.503/97), que pode ser cumulada com outra modalidade de
pena.
No caso da pena restritiva de direitos, na modalidade da interdição temporária de
direito, prevista no Art. 47, III, do CP, qual seja a suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo, só é aplicável para os crimes culposos de trânsito
(que não os previstos no CTB), conforme manda o art. 57 do CP.
A inabilitação poderá ser atingida pelo instituto da reabilitação.
REABILITAÇÃO
Conceito:
Damásio diz ser a reintegração do condenado no exercício dos direitos atingidos
pela sentença. Enquanto Fernando Capez diz ser o benefício que tem por finalidade
restituir o condenado à situação anterior à condenação, retirando as anotações do seu
boletim de antecedentes. Mirabete por sua vez, dá uma definição mais completa: é a
declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas impostas ao
sentenciado, que assegura o sigilo dos registros sobre o processo e atinge outros
efeitos da condenação.
Para alguns autores a reabilitação criminal nada mais é do que uma declaração
judicial de que o condenado está regenerado.
Natureza Jurídica: trata-se de causa eliminatória de alguns efeitos secundários da
condenação (art. 92) e assegura o sigilo dos registros criminais.
Antes da reforma de 1984, o código considerava a reabilitação como causa extintiva
da punibilidade. Hoje além de não ser causa de extinção da punibilidade, a
reabilitação pode ser revogada (art. 95).A reabilitação só é possível se houver
sentença penal condenatória com transito em julgado, cuja pena tenha sido executado
ou esteja extinta.
Pressupostos para a concessão da reabilitação (cumulativos):
a) Decurso de dois anos da extinção da pena, computado o período do sursis ou
livramento condicional que não foi revogado, neste caso contado da audiência
admonitória, independentemente de ser o réu primário ou reincidente (art. 94, caput
do CP). No caso da extinção da pena pela ocorrência da prescrição (executória), o
prazo para requerimento de reabilitação é do dia que ocorreu a prescrição e não da
data da sentença de extinção da pena. No caso de condenação a pena de multa, no
dia do pagamento. E na hipótese de condenação em vários crimes, o pedido de
reabilitação só será atendido, quando todas elas forem cumpridas ou extintas.
b) Domicílio no país durante esses dois anos (art. 94, I)
c) Bom comportamento público e privado durante esses dois anos (art. 94 II);
d) Reparação do dano causado pelo crime, salvo absoluta impossibilidade de fazê-lo
ou renúncia comprovada da vítima ou novação da dívida (art. 94, III). Se houver a
prescrição civil, não se exige o requisito da reparação do dano.
Efeitos da reabilitação:
a) Assegurar o sigilo sobre o processo e a condenação – art. 93 do CP (sigilo
relativo): com a Lei nº 7210/84, tal dispositivo tornou-se ineficaz, já que o seu art. 202
dispõe que: "cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou
certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer
notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova
infração penal ou outros casos expressos em lei".
O STJ já decidiu que: "o livre acesso aos terminais do Instituto de Identificação fere
direito daqueles protegidos pelo manto da reabilitação. Impõe-se, assim, a exclusão
das anotações do Instituto, mantendo-se tão somente nos arquivos do Poder
Judiciário" (RT 728/509).
b) Suspensão dos efeitos extrapenais específicos (art. 92, I, II e III do CP),
conforme parágrafo único do art. 93: possibilita a reconquista de alguns direitos
perdidos em razão da sentença condenatória, observando as seguintes regras: • no
caso do art. 92, I (perda do cargo público, função pública ou mandato eletivo):
reconquista o direito de concorrer a cargo público, vedada a reintegração do cargo
perdido;
• no caso do art. 92, II (incapacidade para o exercício do pátrio poder, da tutela ou
curatela): reconquista o pátrio poder, tutela ou curatela....), salvo em relação ao filho,
ao tutelado ou curatelado que foi vítima do crime.
• no caso do art. 92, III (inabilitação para dirigir veículo): reconquista o direito de fazer
novos exames de habilitação.
Revogação da reabilitação
A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não
seja de multa (Art. 95 do CP), cujo efeito será a perda de todos os efeitos
reconquistados com a reabilitação, significa dizer que volta a proibição que antes
constava da sentença (ex.: perda do cargo ou função pública).