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DIREITO PENAL II – PROF.

JULIO HOTT
EFEITOS DA CONDENAÇÃO E REABILITAÇÂO
A condenação produz efeitos principais que são a obrigatoriedade de cumprimento da
pena (privativa de liberdade ou a substituição pela restritiva de direitos ou, ainda, da
pena de multa) ou imposição de medida de segurança em caso de necessidade dos
semi-imputáveis e, efeitos secundários que podem ser de natureza penal ou
extrapenal.

Efeitos secundários de natureza penal da condenação: Podemos enumerar vários,


mas os principais são a inscrição no rol dos culpados, os antecedentes e a
reincidência, a revogação de benefícios em curso e a interrupção da prescrição.
Assim podemos enumerar:
a) Possibilidade de revogação do sursis anteriormente concedido;
b) Possibilidade de revogação do livramento condicional;
c) Caracteriza a reincidência por um crime posterior a uma condenação definitiva;
d) Regula o prazo da prescrição da pretensão executória (art. 110, caput do CP);
e) Revogação da reabilitação, quando se tratar de reincidente;
f)O impedimento de vários benefícios previsto na lei penal( art. 155, § 2º, 171, § 1º,
180, § 3º e etc);
g) A inscrição do nome do réu no rol dos culpados (art. 393, inc. II do CPP).

Efeitos secundários de natureza extrapenal:


a) Genéricos: decorrem de qualquer condenação criminal sem a necessidade de
serem declarados na sentença penal condenatória. São efeitos automáticos de toda e
qualquer condenação (art. 91).
b) Específicos: decorrem da condenação criminal pela prática de determinados
crimes e em hipóteses específicas, devendo ser motivadamente declarados na
sentença condenatória. Não são automáticos, nem ocorrem em qualquer hipótese (art.
92).

Efeitos extrapenais genéricos da condenação (art. 91):


I) Tornar certa a obrigação de reparar o dano causado pelo crime:
A sentença penal condenatória com transito em julgado é um título executivo judicial,
não precisando rediscutir a culpa do dano causado pelo crime.
O art. 63 do CPP dispõe: “Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão
promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o
ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros”.
O parágrafo único do art. 63 do CPP, dispõe: “Transitada em julgado a sentença
condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso
IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a apuração do
dano efetivamente sofrido” (alteração promovida pela Lei nº nº 11.719, de 2008).
Até a edição da Lei nº 11.719/08, o juiz criminal não decidia sobre a reparação dos
danos causados pelo crime, entretanto, referida Lei, prevê que inc. IV do art. 387 do
CPP, que o Juiz ao proferir sentença condenatória: “fixará valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido”
Neste caso, o juiz criminal (assim como o cível), deverá atentar para o fato de que se
houver a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, na
modalidade de prestação pecuniária (art.43, I do CP), será deduzido o montante na
reparação civil, se coincidentes os beneficiários (art. 45, § 1º do CP).
Assim diante da nova orientação legislativa, pode-se concluir que a reparação civil ex
delicto poderá ocorrer na esfera criminal, bem como na esfera cível.
O Art. 935 do CC/2002 dispõe: “A responsabilidade civil é independente da
criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”.
A ação acima mencionada será a de AÇÃO DE EXECUÇÃO CIVIL exercida com base
em um título executivo judicial (sentença penal condenatória). Poderá ser proposta
pela vítima ou seus herdeiros, sendo que no caso de pobreza e inexistindo defensoria
pública no local, poderá ser manejada pelo Ministério Público.
Se a vítima quiser poderá ingressar com a ação de reparação de danos no juízo cível,
mesmo estando em curso a ação penal, podendo o juízo cível determinar a
suspensão da ação, até que haja decisão no processo crime (art. 64, § único do CPP).
Aqui se trata da AÇÃO CIVIL EX DELICTO (ação ordinária) visto que ainda não há
uma sentença condenatória.
Não perde a condição de título executivo a sentença condenatória transitada em
julgado se posteriormente houver a extinção da punibilidade do agente por causa
superveniente a ela (ex. prescrição executória).
II) A perda em favor da união, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de
boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que seu uso, porte, detenção, alienação ou
fabrico constituam fato ilícito: poderão ser confiscados apenas os instrumentos
utilizados na prática de crime, desde que o porte, o fabrico ou alienação,
constituam fato ilícito.
A Lei de Drogas (11.343/06) prevê em seus arts. 60/64, a apreensão e perda em favor
da União, com destinação ao SENAD, de qualquer meio de transporte, maquinismo ou
instrumento para a prática do crime, ainda que seu porte, alienação ou fabrico não
constituam, fato ilícito. Serão ainda, confiscadas todas as glebas de terra utilizadas
para cultura ilegal de plantas psicotrópicas (art. 243, caput da CF) e todo e qualquer
bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico (parágrafo único do art.
243 da CF).
O confisco dos instrumentos do crime previsto no art. 91, II, "a", somente atinge os
bens do autor do ilícito, não podendo terceiro, estranho à lide ser prejudicado pela
medida, assim como deve ser ressalvado o direito do lesado.
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito
auferido pelo agente com a prática do fato criminoso: produto é a vantagem direta
auferida pelo crime (ex. o relógio roubado), enquanto que proveito é a vantagem
decorrente do produto (ex. a venda do relógio roubado). O objeto produto do crime,
será restituído ao seu proprietário ou terceiro de boa-fé, e em caso da não reclamação
do bem, será perdida em favor da União. Trata-se de efeito da condenação,
prevalecendo mesmo que ocorra a prescrição da pretensão executória, pois esta
somente atinge o cumprimento da pena, subsistindo os demais efeitos da
condenação.

A condenação criminal definitiva também suspende os direitos políticos,


enquanto durar a execução da pena, nos termos do art. 15, III da CF: Enquanto
não houver a extinção da pena, o condenado ficará privado de seus direitos políticos,
não podendo sequer exercer o direito de voto (qualquer que seja a pena, inclusive o
sursis e livramento condicional – há divergência doutrinária e jurisprudencial).
Cumprida ou extinta a pena, em regra cessa a suspensão, independentemente de
reabilitação ou da reparação dos danos (Súmula n. 9 do TSE). O interessado precisa
tão-somente comprovar a cessação do impedimento, nos termos do art. 52 da
Resolução TSE n. 20.132/98. O STF, já decidiu que a condenação, uma vez
concedido o sursis, não implica a suspensão dos direitos políticos (RTJ 82/647).
E o preso provisório como fica? A Resolução do TSE n.º 20.471, de 14.9.99 –
determina a instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos
penitenciários a fim de que os presos que aguardam julgamento ou o trânsito em
julgado tenham assegurado o seu direito de voto.
A condenação criminal também é causa de rescisão do contrato de trabalho por
justa causa, nos termos da alínea “d” do art. 482 da CLT: “Constituem justa causa
para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador a condenação criminal do
empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da
pena”.
O Código de Transito Brasileiro, prevê outro efeito extrapenal da condenação
nos crimes nele previstos, conforme disposto no art. 160 da lei 9.503/97:
“condutor condenado por delito de trânsito deverá ser submetido a novos exames
para que possa voltar a dirigir, de acordo com as normas estabelecid
as pelo CONTRAN, independentemente do reconhecimento da prescrição, em face da
pena concretizada na sentença”.

CONFISCO ALARGADO OU AMPLIADO: Alterações trazidas pelo pacote


anticrime - (Lei nº 13.964, de 2019) confisco do patrimônio obtido ilicitamente pelo
condenado incompatível com suas rendas. Esse confisco já existia anteriormente na
lei de drogas e lavagem de dinheiro.
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena
máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como
produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do
patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento
lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício
direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente;
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a
partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a
procedência lícita do patrimônio.
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério
Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença
apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e
especificar os bens cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas
e milícias deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado,
dependendo da Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo
a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de
ser utilizados para o cometimento de novos crimes.

Efeitos extrapenais específicos da condenação (Art. 92):


a) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, em duas hipóteses:
1) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um
ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com
a Administração Pública. Crimes funcionais (art. 312 a 326 – peculato, concussão,
corrupção passiva, prevaricação e etc) praticados por Funcionários Públicos (art. 327
do CP), no exercício da função pública. Além destes crimes, que são próprios dos
Funcionários Públicos, caso venham praticar, no exercício da função, com abuso
de poder e com violação do dever funcional, outros crimes, tais como o homicídio,
o roubo, estupro, o furto e etc., este efeito da condenação também poderá ser
aplicado. Em qualquer hipótese, depende do juiz declarar motivadamente na
sentença condenatória.
2) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos. Condenação em qualquer crime, devendo o juiz da
condenação declarar motivadamente a perda.

OBS.:
• A lei 7.716/89 (racismo) em seu art. 16 prevê que no caso de crime de preconceito
de raça ou cor praticado por servidor público, também ocorrerá a perda de cargo ou
função pública, se o juiz declarar na sentença condenatória (art. 18).
• A lei dos crimes de tortura, nº 9.455/97, art. 1º, §5º, prevê a perda do cargo, função
ou emprego e a interdição para o seu exercício pelo dobro do prazo da pena
aplicada, para o agente público que cometer crime de tortura, independente da
quantidade da pena imposta, bem como de declaração expressa e motivada na
sentença.
• No caso da condenação de parlamentares (deputados e senadores), a perda do
mandato, somente ocorrerá se a respectiva casa parlamentar assim o decidir, ou
seja, não será o juiz da condenação que decidirá sobre a perda do mandato do
parlamentar (art. 55, VI da CF).
b) Incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, nos crimes
dolosos, sujeitos a pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado: exige quatro requisitos, quais sejam:
b.1) crime deve ser doloso;
b.2) sujeito a pena de reclusão;
b.3) o crime tem que ser cometido contra filho, tutelado ou curatelado; e
b.4) a sentença tem que declarar a incapacidade para o exercício.
Decretada a incapacidade do agente, em princípio ela será permanente, salvo se
ocorrer a sua exclusão pelo instituto da reabilitação (CP art. 93, parágrafo único),
sendo que mesmo reabilitado, a capacidade não pode ser exercida novamente com
relação ao filho, ao tutelado ou curatelado vitima do crime.

c) Inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio para a prática de
crime doloso: três requisitos: crime doloso; veículo como instrumento do crime;
declaração expressa na sentença.
Este efeito da condenação ocorrerá nos casos em que o delito de trânsito for doloso e
o veículo for utilizado na prática do delito, ou seja, haverá a aplicação da pena
correspondente ao delito, bem como a inabilitação para dirigir veículo, como efeito
extrapenal específico.
Não se deve confundir essa inabilitação com a pena abstrata de suspensão da
permissão, autorização ou habilitação para dirigir veículo, prevista nos crimes de
trânsito (CTB, Lei n. 9.503/97), que pode ser cumulada com outra modalidade de
pena.
No caso da pena restritiva de direitos, na modalidade da interdição temporária de
direito, prevista no Art. 47, III, do CP, qual seja a suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo, só é aplicável para os crimes culposos de trânsito
(que não os previstos no CTB), conforme manda o art. 57 do CP.
A inabilitação poderá ser atingida pelo instituto da reabilitação.

REABILITAÇÃO
Conceito:
Damásio diz ser a reintegração do condenado no exercício dos direitos atingidos
pela sentença. Enquanto Fernando Capez diz ser o benefício que tem por finalidade
restituir o condenado à situação anterior à condenação, retirando as anotações do seu
boletim de antecedentes. Mirabete por sua vez, dá uma definição mais completa: é a
declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as penas impostas ao
sentenciado, que assegura o sigilo dos registros sobre o processo e atinge outros
efeitos da condenação.
Para alguns autores a reabilitação criminal nada mais é do que uma declaração
judicial de que o condenado está regenerado.
Natureza Jurídica: trata-se de causa eliminatória de alguns efeitos secundários da
condenação (art. 92) e assegura o sigilo dos registros criminais.
Antes da reforma de 1984, o código considerava a reabilitação como causa extintiva
da punibilidade. Hoje além de não ser causa de extinção da punibilidade, a
reabilitação pode ser revogada (art. 95).A reabilitação só é possível se houver
sentença penal condenatória com transito em julgado, cuja pena tenha sido executado
ou esteja extinta.
Pressupostos para a concessão da reabilitação (cumulativos):
a) Decurso de dois anos da extinção da pena, computado o período do sursis ou
livramento condicional que não foi revogado, neste caso contado da audiência
admonitória, independentemente de ser o réu primário ou reincidente (art. 94, caput
do CP). No caso da extinção da pena pela ocorrência da prescrição (executória), o
prazo para requerimento de reabilitação é do dia que ocorreu a prescrição e não da
data da sentença de extinção da pena. No caso de condenação a pena de multa, no
dia do pagamento. E na hipótese de condenação em vários crimes, o pedido de
reabilitação só será atendido, quando todas elas forem cumpridas ou extintas.
b) Domicílio no país durante esses dois anos (art. 94, I)
c) Bom comportamento público e privado durante esses dois anos (art. 94 II);
d) Reparação do dano causado pelo crime, salvo absoluta impossibilidade de fazê-lo
ou renúncia comprovada da vítima ou novação da dívida (art. 94, III). Se houver a
prescrição civil, não se exige o requisito da reparação do dano.

Efeitos da reabilitação:
a) Assegurar o sigilo sobre o processo e a condenação – art. 93 do CP (sigilo
relativo): com a Lei nº 7210/84, tal dispositivo tornou-se ineficaz, já que o seu art. 202
dispõe que: "cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou
certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer
notícia ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova
infração penal ou outros casos expressos em lei".

O STJ já decidiu que: "o livre acesso aos terminais do Instituto de Identificação fere
direito daqueles protegidos pelo manto da reabilitação. Impõe-se, assim, a exclusão
das anotações do Instituto, mantendo-se tão somente nos arquivos do Poder
Judiciário" (RT 728/509).
b) Suspensão dos efeitos extrapenais específicos (art. 92, I, II e III do CP),
conforme parágrafo único do art. 93: possibilita a reconquista de alguns direitos
perdidos em razão da sentença condenatória, observando as seguintes regras: • no
caso do art. 92, I (perda do cargo público, função pública ou mandato eletivo):
reconquista o direito de concorrer a cargo público, vedada a reintegração do cargo
perdido;
• no caso do art. 92, II (incapacidade para o exercício do pátrio poder, da tutela ou
curatela): reconquista o pátrio poder, tutela ou curatela....), salvo em relação ao filho,
ao tutelado ou curatelado que foi vítima do crime.
• no caso do art. 92, III (inabilitação para dirigir veículo): reconquista o direito de fazer
novos exames de habilitação.

A reabilitação será requerida ao juiz da condenação e não da Execução Criminal (art.


743 do CPP)
Negada a reabilitação, poderá ser requerido a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários
(parágrafo único do art. 94).

Revogação da reabilitação
A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não
seja de multa (Art. 95 do CP), cujo efeito será a perda de todos os efeitos
reconquistados com a reabilitação, significa dizer que volta a proibição que antes
constava da sentença (ex.: perda do cargo ou função pública).

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