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RAYSA @Raysa Marinho

21.1 Introdução

O efeito principal da sentença condenatória é a aplicação da pena a ser cumprida pelo


acusado. Existem, contudo, diversos efeitos secundários previstos tanto no Código Penal
quanto em leis especiais. Em alguns casos, esses efeitos secundários são de natureza penal e,
em outros, de cunho extrapenal. Estes últimos, por sua vez, subdividem-se em efeitos
extrapenais genéricos ou específicos.

21.2. Efeito principal

O efeito principal da condenação, conforme já mencionado, é a imposição da pena (privativa


de liberdade ou multa) ou da medida de segurança para os semi-imputáveis cuja necessidade
de tratamento tenha sido constatada (os inimputáveis também recebem medida de segurança,
mas em razão de sentença absolutória, conforme se verá oportunamente). É certo que o juiz
pode, ainda, substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou multa, ou
suspendê-la condicionalmente (sursis). Esses temas, entretanto, já foram estudados, sendo
que a finalidade do presente capítulo é exatamente a de analisar os efeitos secundários da
condenação.

RODRIGO @Natividade

21.3. Efeitos secundários

São todos os demais efeitos condenatórios. Podem ser de natureza penal ou extrapenal.”

“2.EFEITOS SECUNDÁRIOS PENAIS E EXTRAPENAIS DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA

A sentença condenatória produz efeitos secundários de duas ordens:

a) penais: impedir ou revogar o sursis, impedir ou revogar o livramento condicional ou a


reabilitação, lançar o nome do réu no rol dos culpados, propiciar a reincidência etc.

b) extrapenais: a atuação se dá fora do âmbito penal, subdividindo-se em genéricos e


específicos, previstos nos arts. 91 e 92 do Código Penal.

3. EFEITOS GENÉRICOS

3.1 Tornar certa a obrigação de reparar o dano

Trata-se de efeito automático, que não necessita ser expressamente pronunciado pelo juiz na
sentença condenatória e destina-se a formar título executivo judicial (art. 515 do CPC/2015)
para a propositura da ação civil ex delicto.

THALITA @Thalita💕

4.EFEITOS ESPECÍFICOS

4.1 Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo

Trata-se de efeito não automático, que precisa ser explicitado na sentença, respeitados os
seguintes pressupostos:
a) nos crimes praticados com abuso de poder ou violação do dever para com a Administração
Pública, quando a pena aplicada for igual ou superior a 1 ano;

b) nos demais casos, quando a pena for superior a 4 anos.

Cargo público é o cargo criado por lei, com denominação própria, número certo e remunerado
pelos cofres do Estado (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União), vinculando o
servidor à administração estatutariamente; função pública é a atribuição que o Estado impõe
aos seus servidores para realizarem serviços nos três Poderes, sem ocupar cargo ou emprego.

(...).

4.2 Efeito específico da incapacidade para o poder familiar, tutela ou curatela

Trata-se de efeito não automático e permanente, que necessita ser declarado na sentença
condenatória. É aplicável aos condenados por crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão,
cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder, contra filho, filha ou outro
descendente, tutelado ou curatelado (art. 92, II, CP).

Pouco interessa, nesse caso, qual o montante da pena aplicada, importando somente se tratar
de crime sujeito à pena de reclusão. Embora seja de aplicação rara, ou por esquecimento do
magistrado, ou porque este se convence de sua inutilidade no campo reeducativo e
pedagógico (lembremos que o efeito é permanente, podendo fomentar o descrédito do pai ou
da mãe no lar em relação ao(s) filho(s), mesmo depois de cumprida a pena), o fato é que a lei
civil também prevê a hipótese de perda do poder familiar em caso de condenação.

MARIA CLARA (continuação)

Dispõe o art. 1.638, parágrafo único, do Código Civil (com a redação dada pela Lei
13.715/2018) o seguinte: 'perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que: I –
praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: a) homicídio, feminicídio
ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso
envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de
mulher; b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão; II –
praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de
natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; b) estupro,
estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão'.

Sob outro aspecto, constitui forma de suspensão do poder familiar a condenação por sentença
irrecorrível, em face de delito cuja pena ultrapasse dois anos de prisão (art. 1.637, parágrafo
único, CC). Nesta hipótese, pouco importa se o crime é apenado com reclusão ou detenção
(fala-se somente em prisão) ou mesmo se tem a infração penal como vítima o filho. O
fundamento é a prisão efetiva, em regime incompatível com o exercício do poder familiar (ex.:
aquele que está em regime fechado não tem condições de cuidar do filho). No entanto, se o
genitor for condenado a regime semiaberto ou aberto, possuindo condições de criar os filhos,
a suspensão se torna desnecessária.

(...).

4.3 Inabilitação para dirigir veículo advinda do art. 92, III, do CP


Trata-se de efeito não automático, que precisa ser declarado na sentença condenatória e
somente pode ser utilizado quando o veículo for usado como meio para a prática de crime
doloso. A nova legislação de trânsito não alterou este efeito da condenação, pois, no caso
presente, o veículo é usado como instrumento de delito doloso, nada tendo a ver com os
crimes culposos de trânsito. Como lembra Frederico Marques, “quem usa do automóvel,
intencionalmente, para matar ou ferir alguém, não está praticando um ‘delito do automóvel’,
mas servindo-se desse veículo para cometer um homicídio doloso, ou crime de lesão corporal
também dolosa” (Tratado de direito penal, v. 4). (...)”

EMILLY @Emilly

Jurisprudência

TJDFT

Tráfico de drogas – perdimento dos bens

“O perdimento de bens em decorrência da prática do crime de tráfico de drogas tem previsão


no artigo 63, inciso I, e § 1º, da Lei nº 11.343/2006. O Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do RE 638491, fixou a tese de que é possível o confisco de todo bem de valor
econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir
a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar
a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além
daqueles previstos expressamente no artigo 243, parágrafo único, da Constituição Federal
(Tema 647).”

Acórdão 1722496, 07186077920228070001, Relator: ESDRAS NEVES, Primeira Turma Criminal,


data de julgamento: 29/6/2023, publicado no PJe: 6/7/2023.

Imóvel adquirido com produto de crime – penhorabilidade do bem de família

“7. A impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 1º da Lei 8.009/90, não é oponível
em relação ao bem que tiver sido adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens, nos termos
do inciso VI, do art. 3º, do mesmo Diploma Legal.”

Acórdão 1688856, 07145936220218070009, Relator: JANSEN FIALHO DE ALMEIDA, Terceira


Turma Criminal, data de julgamento: 13/4/2023, publicado no DJe: 26/4/2023.

Perda de cargo público – condenação pelo crime de tortura

“6 Nos termos do § 5º do art. 1º da Lei 9.455/97 e da jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça, a perda do cargo público é efeito extrapenal automático da condenação pelo crime de
tortura.”

Acórdão 1685635, 00003616120088070003, Relator: CESAR LOYOLA, Primeira Turma Criminal,


data de julgamento: 13/4/2023, publicado no DJE: 19/4/2023

Condenação por porte de arma – impossibilidade de restituição do bem

“4. O perdimento da arma de fogo e munições apreendidas não configura pena restritiva de
direito, mas sim efeito automático da condenação por porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido, o que inviabiliza a restituição dos objetos (art. 91, II, alínea "a", do CP c/c o art. 25
da Lei 10.826/2003).”

Acórdão 1694716, 07148424320228070020, Relator: JANSEN FIALHO DE ALMEIDA, Terceira


Turma Criminal, data de julgamento: 26/4/2023, publicado no DJe: 9/5/2023.

Perda de cargo público – servidores ativos

“5. A aposentadoria, direito à inatividade remunerada, não é abrangida pelo disposto no art.
92 do CP. A condenação criminal, portanto, somente afeta o servidor ativo, ocupante efetivo
de cargo, emprego, função ou mandato eletivo. ”

Acórdão 1693824, 00290062920138070001, Relator: ASIEL HENRIQUE DE SOUSA, Primeira


Turma Criminal, data de julgamento: 27/4/2023, publicado no DJe: 10/5/2023.

Prática de crime doloso – utilização do veículo para realização do crime – inabilitação para
dirigir

“17. Constatada a prática de crime doloso e verificando-se que o veículo foi utilizado como
instrumento para a realização do crime, é possível a imposição da inabilitação para dirigir
veículo, com fundamento no artigo 92, inciso III, do Código Penal, desde que fundamentada a
necessidade de aplicação da medida no caso concreto.”

Acórdão 1625782, 00213269520158070009, Relator: CESAR LOYOLA, Primeira Turma Criminal,


data de julgamento: 6/10/2022, publicado no PJe: 16/11/2022.

Crime de corrupção passiva no exercício do cargo público – efeito extrapenal – perda do cargo

"18 - Mantém-se, como efeito extrapenal da condenação, a perda de cargo público se o agente
comete o crime (corrupção passiva) no exercício do cargo, com abuso de poder ou violação de
dever para com a Administração Pública (art. 92, I, 'a', do CP).”

Acórdão 1272264, 00047354820168070001, Relator: JAIR SOARES, Segunda Turma Criminal,


data de julgamento: 13/8/2020, publicado no PJe: 18/8/2020.

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