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RESUMO:
1 INTRODUÇÃO
1
É formada em direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, juíza de direito
coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania da Comarca de Ponta Grossa -
PR, membro da Comissão de Justiça Restaurativa do Tribunal de Justiça do Paraná e do Grupo de
Trabalho para desenvolvimento de Justiça Restaurativa em âmbito nacional instituído pelo Conselho
Nacional de Justiça
2
É assistente de juiz de direito de 1º grau, membro da Comissão de Justiça Restaurativa do Tribunal de
Justiça do Estado Paraná, facilitadora e instrutora de Processo Circular Restaurativo - Círculo de
Construção de Paz.
Não obstante, a violência doméstica, embora de forma tímida e bastante
recente, tem se destacado no âmbito sociocultural, por não ser considerada mais
conduta totalmente aceita pela sociedade, que agora compreende que todos os entes
que conceitualizam o termo “família” são possuidores dos seus próprios direitos. O
aumento da relevância com que o assunto tem sido tratado é visível nestes últimos 10
(dez) anos, pois foi quando a matéria passou a ser problematizada e colocada em
pauta para discussões e resoluções:
[...] a violência tem seu ritmo próprio e, dentre os inúmeros motivos que
levam uma queixante a retirar a queixa contra o acusado, figura em um
particular: romper o ciclo da violência é um processo prolongado e, por
natureza, cheio de hesitações. (...)Supor que o ato da denúncia seja o
momento definitivo desse processo é não conhecer o “ciclo da violência”. É
ignorar a dinâmica das relações abusivas. É imaginar que, para a vítima, seu
casamento, sua família e sua história tenham o mesmo significado de um
assalto sofrido na esquina por um ladrão qualquer. (SOARES, 1999, p. 224)
A função do Judiciário não é só impor uma pena de reclusão, que impede que
ele pague a pensão para o filho, e joga o agressor em um ambiente
extremamente machista e que fomenta a violência. O Estado tem que atuar
mais na prevenção, pensar em medidas que viabilizem uma educação não
sexista a médio e longo prazo. (Ana Flávia Oliveira - IG São Paulo,
03.05.2015)
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Aos primeiros casos selecionados foram aplicados somente os círculos de
construção de paz que apresentam a metodologia descrita a seguir. Em um primeiro
momento as partes são atendidas separadamente em um encontro chamado pré-
círculo, oportunidade em que são apresentadas aos princípios e possibilidades da
justiça restaurativa e manifestam sua aceitação ou não em se submeterem às práticas.
O procedimento apenas continua com a concordância de ambos os envolvidos,
já que um dos princípios base da justiça restaurativa é a voluntariedade. Em razão
disso, o consentimento para a participação também pode ser retirado a qualquer
momento. Com a anuência de todos, é agendado o círculo restaurativo para o diálogo
acerca do conflito referente à violência doméstica e busca do atendimento das
necessidades e responsabilização dos envolvidos.
Consoante já manifestado, a ideia aqui apresentada não tem intuito de
substituir ou concorrer com a prestação jurisdicional tradicional (já que a resposta
restaurativa e a retributiva podem acontecer concomitantemente), muito menos foi
concebida para afrouxar qualquer possibilidade de punição do ofensor.
Gradualmente, após a aceitação dos atendidos em se submeterem às práticas
restaurativas, observou-se uma maior receptividade quanto à alternativa proposta e
que o formato espacial circular favoreceu nitidamente o diálogo calmo, tranquilo e
objetivo, de forma respeitosa e segura por meio do objeto da palavra, que funciona
como um grande equalizador e determina o compasso da conversa.
Os assuntos tratados nos círculos são os mais diversos, desde a história da
infância até os anelos futuros a que aspiram para suas realizações pessoais e
profissionais, bem como acerca das sequelas resultantes do conflito, do rompimento
dos laços mais importantes.
Com o desenvolvimento do projeto e das oficinas, constatou-se que tanto a
mulher, vítima, quanto o homem, agressor, são parte do ciclo de violência doméstica
criado e alimentado por eles e que ambos merecem oportunidade de dialogar em um
ambiente seguro de escuta ativa e expressão autêntica, tendo como consequência
desse encontro o empoderamento, a responsabilização e a reparação de danos.
Assim, a realização do projeto, além de oportunizar a reflexão acerca da
violência no contexto familiar para homens e mulheres e proporcionar um ambiente
acolhedor para que os participantes possam expor seus medos, experiências, anseios,
dúvidas e perspectivas de vida, possibilita a ressignificação de suas experiências
pessoais e das relações para a construção de vínculos saudáveis.
Com a prática do projeto e a convivência diária com vítimas e ofensores,
percebeu-se que a investigação e o estudo de cada caso, visto como único e singular,
oportunizam aos envolvidos o conhecimento da história do outro e as respostas para
suas inquietudes sobre o “por que?”.
Esse trabalho, em que pese vagaroso, é essencial para que se chegue ao imo
do litígio e entender por quais motivos ele se perpetua no seio familiar e destrói as
histórias antes construídas com amor e afeto.
E por que é tão importante saber o “por que?”. A vítima tem necessidades. E
essas necessidades não são supridas pelo processo judicial tradicional, que a afasta
dos atos processuais e da construção da resposta. Ela não possui informações
suficientes que saciem sua ânsia de conhecimento, não possui atenção bastante que
a tranquilize e não é valorizada ao ponto de se sentir segura e confiante quanto à
decisão judicial.
Até o presente momento, o projeto apresentou ótimos resultados no campo das
experiências pessoais, além das evidentemente alcançadas no âmbito coletivo. Nos
11 (onze) casos em que foram aceitos o procedimento circular restaurativo atendidos
pelo Projeto Circulando Relacionamentos, em todos, houve a construção coletiva de
consenso.
Em muitos casos, em que pese a estruturação do consenso ter sido trabalhosa
no início, os resultados de superação, empatia e fortalecimento foram exponenciais no
âmbito interno. Dos relatos dos participantes atendidos para a realização dos Círculos
de Construção de Paz constam as palavras “aliviadas” e “satisfeitas” como as mais
recorrentes na descrição de como se sentiram ao término do círculo, deixando claro
que o poder do círculo não vem somente para solucionar um confronto, mas também
para aperfeiçoar o ser humano como parte de um todo.
Ao se perceberem no outro, vítima e agressor encontram denominadores em
comum que os mostram vulneráveis, sem as camadas que escondem quem realmente
são, deixando claro que ambos são humanos, dotados de sentimentos e emoções que
foram ofendidos e precisam ser reparados, restaurados.
Imperioso destacar que, até o presente momento, os casais que participaram
do projeto não reataram o relacionamento conjugal. O círculo mostra que ninguém
além dos envolvidos tem poder sobre o resultado do consenso. Disso, percebe-se que
a reconciliação entre o casal de modo algum pode ser o objetivo da aplicação das
práticas restaurativas, mas, quando muito, uma consequência da vontade das partes.
A aceitação para se submeterem ao projeto ainda é um obstáculo com o qual
trabalhamos todos os dias, ante a falta de conhecimento da população quanto às
práticas restaurativas e seus resultados positivos. Porém, em que pese certa
resistência, quando de fato conhecem o método e o reconhecem como ferramenta útil
capaz de ajudá-los a superar a dor e o sofrimento, aceitam não só o projeto, mas os
benefícios que decorrem dele.
A difusão do projeto tem ocorrido por conta dos relatos das experiências vividas
pelos envolvidos no conflito e pela divulgação na imprensa. Além disso, o acolhimento
e a confiança dos próprios integrantes dos sistemas de justiça - juízes, promotores,
advogados, defensores e delegados - que encaminham casos para as práticas
restaurativas corroboram o êxito de sua aplicação.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ZEHR, Howard. Justiça restaurativa. Tradução de Tônia Van Acker. São Paulo:
Palas Athena, 2012.
____. Violência Doméstica. 80% das mulheres não querem a prisão do agressor.
Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2015-05-03/violencia-domestica-
80-das-mulheres-nao-querem-a-prisao-do-agressor.html. Acessado em 18.05.2016.