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Lei 14.550/23
Alterações na Lei Maria da Penha
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Sumário
1. LEI 14.550/23 – ALTERAÇÕES NA LEI MARIA DA PENHA........................................................................................ 3
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1. LEI 14.550/23 – ALTERAÇÕES NA LEI MARIA DA PENHA
1.1 – INTRODUÇÃO
► Acrescentou três parágrafos ao art. 19 (§§ 4°, 5° e 6°), que está situado no capítulo
“Das Medidas Protetivas”;
Essa alteração tem um foco certo: garantir a proteção das mulheres, afastando
interpretações que restringem o alcance da Lei Maria da Penha por parte das autoridades públicas
(Delegado, Juiz, etc). O objetivo das alterações é trazer maior clareza sobre alguns pontos que
antes eram objeto de interpretações diversas (verdadeira interpretação autêntica/legislativa –
como ensinam Alice Bianchini e Thiago Pierobom de Ávila). A justificativa do projeto de lei deixa
nítida essa intenção, como no seguinte trecho: “apresenta-se esta proposta de alteração
legislativa com o objetivo de explicitar o espírito da Lei Maria da Penha”.
Art. 19, §4° - As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária a
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partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de suas
alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade de inexistência
de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus
dependentes.
Art. 19, §6° - As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
STJ - não será possível a eternização da medida, devendo a sua duração ser sopesada à luz
dos princípios da proporcionalidade e adequação.
Art. 19, §6° - deverá persistir enquanto houver risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
Conclusão – não há a previsão de prazo certo, sendo assim a duração da medida protetiva
estará vinculada à persistência da situação de risco.
Art. 40-A - Esta Lei será aplicada a todas as situações previstas no seu art. 5º,
independentemente da causa ou da motivação dos atos de violência e da condição do ofensor ou
da ofendida.
Diante da redação do art. 5° da Lei Maria da Penha, o qual conceitua a violência doméstica e
familiar contra a mulher e, em especial, pela expressão “ação ou omissão baseada no gênero”,
havia muita controvérsia a respeito da interpretação do que seria violência baseada no gênero.
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Parte da doutrina entendia que para a caracterização da violência doméstica e familiar
contra a mulher bastava o preenchimento das situações elencadas no art. 5° (violência pratica no
âmbito da unidade doméstica, família ou relação íntima de afeto), sem a necessidade de se
verificar a motivação de gênero.
Contudo, alguns doutrinadores entendiam que não bastava preencher o conceito do art. 5°
se, no caso concreto, não fosse constatado que a violência tinha como motivação o gênero
feminino (ou seja, o objetivo da violência foi o de menosprezar a mulher, em razão dela ser
mulher).
Esse entendimento sempre foi problemático. Isso porque essa constatação no caso concreto
é muito difícil de ser realizada, é algo muito subjetivo e que, por vezes, não tem como ser
demonstrado.
O art. 40-A acaba com tal discussão ao fixar que a Lei 11.340/06 será aplicada a todas as
situações previstas no seu art. 5º, independentemente da causa ou da motivação dos atos de
violência e da condição do ofensor ou da ofendida.
Ou seja, se a violência contra a mulher foi cometida em algum dos âmbitos listados no art. 5°
(unidade doméstica; família; relação íntima de afeto), estaremos diante de violência doméstica e
familiar contra a mulher apta a atrair a incidência da Lei Maria da Penha. Não há necessidade de
provar a motivação da violência, a causa e qualquer outro aspecto relacionado.
Como bem apontam Rogério Sanches e Valéria Scarance Fernandes: “Com o advento no
artigo 40-A, inserido pela Lei 14.550/23, o que determinará a aplicação da Lei Maria da Penha é
um fator objetivo – contexto afetivo, doméstico e familiar -, presumindo, nesses ambientes, a
violência de gênero (preconceito, menosprezo ou discriminação quanto ao gênero feminino).”
Aprofundamento. Com o novel art. 40-A, temos que a vulnerabilidade da mulher frente ao
agressor é totalmente presumida pela lei caso a violência seja cometida nos moldes do art. 5°.
Esse já era o entendimento dominante na doutrina e jurisprudência.
Com o novo art. 40-A essa diferenciação realizada por alguns doutrinadores deixa de existir.
Ou seja, independentemente do sexo do sujeito ativo (homem ou mulher), caso seja praticada
uma violência nos moldes do art. 5° da Lei 11.340/06, não há a necessidade de se constatar a
vulnerabilidade da vítima no caso concreto, nem motivação da violência ou qualquer outro
aspecto relacionado a situações de opressão baseada no gênero. A vulnerabilidade da vítima
sempre será presumida pela lei, independentemente do sexo do agressor.
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2023/04/20/lei-14-550-2023-altera-a-lei-maria-da-
penha-para-garantir-maior-protecao-da-mulher-vitima-de-violencia-domestica-e-familiar/#_ftn9
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2023/04/20/lei-n-14-450-2023-uma-intepretacao-a
utentica-quanto-ao-dever-estatal-de-protecao-as-mulheres/
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