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Segunda Edição
Publicada: 15/07/2015
©ABBA1
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1
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INTRODUÇÃO
A ideia de exigir preparação e treinamento a fim de se tornar um acolhedor
pode parecer estranha, particularmente quando a maioria dos pais cria seus
filhos biológicos com pouca preparação a cerca de criação de filhos a não
ser as experiências que eles tiveram na infância. O conceito de
acolhimento não se restringe somente ao receber a criança/ adolescente e
criá-la como parte da sua família. Agora, o conceito já é vastamente
reconhecido como a habilidade de cuidar do filho(a) de outra pessoa em
um tempo de grande dificuldade para a criança/ adolescente e sua família.
Isto significa cuidar da criança/ adolescente através do acolhimento por um
período indeterminado que pode acabar com a criança/ adolescente
voltando para casa, sendo adotada ou, dependendo da idade, a criança/
adolescente se torna independente.
Nós esperamos que você aprenda muito ao fazer este curso, estando você
no meio de um acolhimento ou só começando a pensar sobre isso, e que
você também aproveite bem o tempo junto com o grupo. Nós esperamos
que aqueles de vocês que estão começando a pensar em acolhimento
resolvam aceitar o desafio e, aqueles que já estão acolhendo, renovem seu
compromisso com o desafio.
“Você faz um viver pelo que você recebe – você faz uma vida pelo que
você dá” - Winston Churchill
3
Conteúdo
4
CAPÍTULO 1 O QUE É ACOLHIMENTO?
Mensagens chave:
5
VOCÊ E O SEU LAR
6
As perguntas seguintes começam a explorar porque você quer acolher.
Elas também têm o propósito de te ajudar a pensar sobre a variedade de
pessoas e situações que a palavra “família” abrange.
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ACOLHIMENTO É COMPLEXO. IDÉIAS SIMPLES COMO, POR
EXEMPLO, RESGATAR CRIANÇAS/ ADOLESCENTES DE UM
PASSADO INFELIZ E DAR A ELES UMA BOA FAMÍLIA PARA
COMPENSAR A FAMÍLIA INADEQUADA, NÃO SÃO
CORRETAS.
8
B) O QUE ACOLHEDORES FAZEM?
Um trabalho habilidoso:
• Acolhedores têm um trabalho difícil que pode ser imprevisível.
9
Trabalhando com outros profissionais:
“Às vezes acolher significa ter longas horas, sentando e esperando por
uma criança que, por algum motivo, fugiu.”
“Eu não me vejo como um santo. Eu me vejo como uma valiosa pedra que
possibilita a criança a pisar para prosseguir a caminhada.”
10
Acolhedores . . .
11
C) EXERCÍCIOS
Mônica Davi
O professor da Mônica diz que ela está indo bem na escola e que é uma
menina inteligente que gosta de desenho e de livros. O assistente social só
se encontrou duas vezes com a Mônica e a achou quieta e madura.
O Davi é cheio de energia e quer andar para todos os lugares. Ele está
aprendendo novas palavras o tempo todo. Às vezes, quando a mãe estava
usando drogas, ele ficava com os “amigos” dela, mas ninguém sabe quem
eles são. Ele quer atenção, fica com qualquer um sem problema e é bem
teimoso. A Mônica e o Davi se dão bem e ela gosta de proteger o irmão.
Mônica e Davi ficam com uma família acolhedora até que o sistema
judicial possa estabelecer se a mãe está apta a providenciar um ambiente
seguro para as crianças. Ela diz que quer as crianças de volta.
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1. Como a Mônica e o Davi podem estar se sentindo?
5. Quão certo você pode ser do que acontecerá no futuro nesta situação?
13
Luiz (13 anos)
Na família em que nasceu, o pai o espancava com um pau e foi preso por
tráfico de drogas. A mãe também apanhava do marido, não dava comida ao
Luiz nem banho. Luiz foi parar em uma instituição aos 2 anos, depois de
ser encontrado pela polícia sozinho, aos prantos, com fome e sujo. Como
ele tinha uma avó, o Conselho Tutelar deu-lhe a tarefa de criá-lo, mas ela
não conseguiu. Ao voltar ao abrigo, Luiz estava com hematomas e um
braço quebrado. Ficou ali até ser adotado, aos 7 anos.
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1. Como Luiz pode estar se sentindo?
Sendo que Luiz ficou com a família adotiva por 5 anos, ele precisará de
tempo para aprender a lidar com a perda, o abandono, e rejeição. A família
acolhedora poderia providenciar um lugar saudável, seguro, e afetivo para
ele conseguir superar essa fase de sua vida. Ele precisará de tempo para
determinar o que quer agora de sua vida, sendo que o sonho de ser adotado
foi desfeito.
15
Florinda (5) e Florismar (10)
16
Acolhendo Florinda e Florismar
Como os dois não foram a escola por muito tempo, os acolhedores terão
que providenciar reforço escolar para ajudá-los a recuperar o tempo
perdido.
17
ALGUNS PONTOS PARA LEMBRAR
18
D) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES QUE ACOLHEM
Se você tem seus próprios filhos, agora é o tempo de conversar sobre
medos, ansiedades, assim como os benefícios que o acolhimento irá trazer
para eles e discutir como eles terão que se adequar a essa nova situação.
Se você já tem filhos, trabalhe em cima das questões abaixo com eles ou
peça para que eles mesmos completem o questionário.
1)Eu estou animado para ter uma criança e/ou adolescente morando aqui
porque…….
2)Eu poderei fazer estas coisas com a nova criança/ adolescente acolhido .
...
5) Coisas nem tão boas que irão mudar para mim são……
19
Comentários de pesquisas com filhos de acolhedores:
20
E) OS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO
“Eu acho que agora eu sou muito mais tolerante com as pessoas – eu
entendo o problema das pessoas muito melhor. Eu também gosto de um
desafio. O menininho que eu acolhi agora era muito mal visto pela última
família que o acolheu – eles ficavam me ligando perguntando se eu sabia
como seria difícil e que talvez fosse um desafio muito grande. Com isso eu
tive determinação de que faria de tudo para que ele se tornasse uma
criança diferente e ele é agora. Ele é um menininho muito lindo.”
“Eu nunca iria acreditar que eu poderia me dar tão bem com as crianças
como eu vejo agora. Eu aprendi que a gente deve ser muito mais paciente
com crianças do que a gente era, simplesmente porque eles vêm até nós
precisando tanto amor e compreensão.”
21
Mais alguns comentários.
“Quando uma criança não sabe tomar banho, usar garfo e faca e tem
uma autoimagem bem fraca, puxa! Mas, quando eles deixam a nossa casa
sabendo que eles são realmente alguém, é aí que eu sinto que eu realmente
consegui fazer algo.”
“Mas quando essas crianças vêm a você e mostram todo o amor que
elas deveriam estar dando aos seus pais biológicos, essa é a maior
recompensa de todas. Aí você sabe que tudo o que você fez, todas as
dores de cabeça e dificuldades, tudo o que você investiu neles não foi em
vão.”
“Tem sido bom para nossa filha. Tem ajudado ela a entender que
existem pessoas menos favorecidas e que assim a gente pode ajudar um
pouco. Nada de muito grandioso, a gente vai somente compartilhar o
nosso prato de comida com uma criança que precisa um lugar para
morar.”
“Quando uma criança vem a nós e não é muito boa em fazer coisas e aí
ela muda e traz boas notas da escola, isso faz nos sentirmos muito
orgulhosos.”
“Nós sentimos que estamos fazendo algo para alguém e isso é bom.”
“Quando ela veio para casa e disse que tinha se inscrito para o coral -
uma menina que sempre se sentiu incapaz de fazer qualquer coisa e
nunca quis tentar nada – eu nem sei como dizer como todos nós nos
sentimos bem. Eu espero que isso irá acontecer com você também.”
22
“Quando eu digo que elas são como nossas próprias crianças, eu falo
sério. Com as de 16 e 17 anos de idade dá para sentir muito amor
porque nós realmente sentimos que eles são como nossas próprias
crianças.”
23
Use esta página para fazer um resumo do que você aprendeu sobre
acolhimento e sua própria contribuição para isso. Escreva também
qualquer passo que você deva tomar agora.
Resumindo
Algo que eu aprendi sobre crianças/ adolescentes em acolhimento…..
24
CAPÍTULO 2 O INÍCIO DO ACOLHIMENTO
25
INFORMAÇÃO DO CONTEXTO
Informação médica:
Alergias
Vacinas
Saúde bucal
Internação em hospital
Educação:
Que escolas eles frequentaram
Qual o desempenho deles na escola
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Interesses especiais/hobbies
Brinquedo favorito
Comida:
Que gosta
Que não gosta
Dormir:
Cochilo
Problemas
Hora de ir para cama
Rituais
Roupas:
Problemas para se vestir
Roupas favoritas
Estilos preferidos
Atividades religiosas
Responsabilidades na casa
27
AJUDANDO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE A SE SENTIR EM
CASA
28
SENTIMENTOS DIFERENTES DE PERSPECTIVAS
DIFERENTES
Criança/ adolescente
Para onde eu vou? O que eu fiz? Onde
está minha mãe, ela está bem? Vai ter um
cachorro? Vai ter outras crianças?
Pais
Para onde ele vai? Quando eu a verei? O
que eu fiz? Por que eu não fiz mais
perguntas? Por que eu deixei isso
acontecer?
Assistente Social
Será que eles vão? Eu cuidei de todos os
documentos? Tinha mais alguma
informação para dar? Será que eu podia
prepará-los melhor?
Família acolhedora
Como será que vai ser? Eu escolhi as
coisas certas para comer? Será que ele vai
gostar?
29
MUDANDO PARA UMA FAMÍLIA ACOLHEDORA
Perguntas:
30
COMO OS ACOLHEDORES PODEM AJUDAR?
6. Entenda que eles podem ter muito que falar sobre sexo e
sexualidade, ouça-os.
31
B) COMO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE PODE SE SENTIR
32
A criança/ adolescente pode
se sentir –
Com medo “Ele parecia tão angelical, mas
Deprimido quando ninguém estava olhando
Com raiva ele fazia de tudo para destruir os
Ansioso brinquedos dos meus filhos”.
Indiferente
Desconfiado Ele podia estar se sentindo
Satisfeito
Autoconfiante
Feliz
Hostil
Irreparável
Sozinha “Sempre que nos sentávamos para
a refeição ela nunca tocava na
Que outros sentimentos? comida até que todos tivessem
comido primeiro”.
33
Como você reagiria às situações
seguintes?
Eu poderia………….
O que você faria?
Eu poderia………….
Eu poderia……… Eu poderia……….
34
CONSTRUINDO ENTENDIMENTO
A criança/ adolescente se
Uma situação: Eu sentiria ……. sentiria…
“Uma criança/ adolescente
vai para sua casa e não sabe
tomar banho aos oito anos de
idade”.
35
Por que? O que podemos fazer é ...
36
C) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES FALANDO
Aqui estão dois poemas muito distintos escritos por jovens que estiveram
sob a guarda do sistema público. Lendo-os, o que você pensa sobre eles?
Eu sou eu
37
Eu Nasci
38
Crianças e adolescentes falando
Ouvir aquilo que criança e adolescentes têm a dizer sobre acolhimento vai
ajudar você a desenvolver o seu papel como família acolhedora.
39
QUAL É A SENSAÇÃO DE SER ACOLHIDO
“Eu era muito novo quando entrei em uma família acolhedora. No começo
era como um pesadelo. Foi muito difícil… Com o passar do tempo eu me
acostumei”.
“Deixar minha família para traz foi como um grande suspiro de alívio, mas
ao mesmo tempo era amedrontador”.
“No começo você está com medo demais para dizer qualquer coisa.
Sempre dizendo ‘sim, por favor’ e ‘não, obrigado’ tentando ser o mais bem
educado possível”.
“Quando você recebe uma família acolhedora boa, você tem a sensação de
pertencer a algum lugar e a alguém e que você não está sozinho”.
Escola
“Começar em uma escola nova é terrível, fazer novos amigos e todas essas
coisas.”
“Eu sou escocês e venho de outra cultura do que as pessoas inglesas têm,
mesmo que muitas pessoas não enxerguem isso assim. Existe diferença e
várias das minhas famílias acolhedoras não respeitavam a minha cultura
escocesa.”
“Minha mãe é branca e meu pai é negro. Carmen, minha mãe acolhedora
está me ajudando a entender a minha origem”.
40
Mantendo o contato
“Eu era difícil porque fui mandado para uma família acolhedora que
morava longe da minha mãe.”
“Eles achavam que a coisa mais importante sobre mim era a minha religião
e não o meu relacionamento com minha mãe. Ninguém me perguntou o
que era a coisa mais importante para mim.”
Seguindo em frente
“Eu que muitos jovens voltam para a família acolhedora só para ganhar
um pouco mais de força para prosseguir na vida.”
41
D) AFETANDO O DESENVOLVIMENTO
42
Expectativas coisas. Entenda que para das coisas que eles
ser parte da sua família e aprendem é quem eles
realistas são e quem são as
se acostumar como os
É extremamente outros, a criança precisa de pessoas. Eles aprendem
importante para os pais ter sobre eles mesmos a
tempo para aprender como
expectativas realistas de o partir de como os
sua família é e como fazer
que seus filhos podem outros a tratam.
para te agradar. Não pense
fazer em diferentes idades que ao assumir algumas Com as interações que
e estágios da vida. responsabilidades, a eles veem e participam,
Algumas crianças se criança já se sente parte do as crianças estabelecem
desenvolvem mais rápido grupo. Esteja certo de que seus próprios padrões e
que outras. Uma criança a responsabilidade dada é expectativas de
pode fazer mais do que se uma que a criança possa relacionamentos
esperam dela na idade e fazer. Sucesso e elogios
fase em que ela está. irão ajudar a criança a Conceito próprio: Os
concluir que elas têm primeiros sentimentos
Existem muitos fatores que a criança tem sobre
responsabilidades como os
envolvidos para determinar ela mesma como pessoa
outros têm, mas que eles a
o quanto uma criança pode vêm da vida diária com
fazem bem e contribuem
fazer, inteligência, sua família. Conforme
para o grupo.
educação e experiências. elas começam a interagir
Em qualquer idade existe com amigos e pessoas de
um tipo de comportamento
Como crianças
fora, as crianças
normal que alguém deve diferem de adultos encontram valores
esperar da criança. Dependência: Todas as diferentes dos que ela
pessoas são dependentes aprendeu em casa, assim
Às vezes, mesmo crianças de outras para companhia elas adicionam novos
inteligentes e saudáveis e senso de segurança, mas heróis e modelos para
têm problemas em certas crianças, além disso, são identificação. Com o
áreas que os fazem parecer dependentes de outros
crescimento da
mais novos do que são. para suas necessidades de
autoconsciência, elas
Isso pode ser verdade sobrevivência diária. A
preocupação de um adulto percebem que pessoas
especialmente para gostam ou não delas, as
com o bem-estar de uma
crianças acolhidas que vê como amigos, membro
criança é extremamente
podem ter vivido com importante para ela. do grupo etc.
tensão e preocupação. Com Crescimento para a O autorrespeito da
crianças assim, você deve independência acontece criança cresce conforme
considerar as habilidades quando uma criança pode ela ganha confiança em
que elas parecem ter e não contar com a ajuda de um suas próprias
as que você pensa que elas adulto que se importa. habilidades e reconhece
devem ter e tratá-las por que ela pode afetar o
aquilo que elas já têm. Aprendizado constante: mundo a sua volta. Mas,
O crescimento das as crianças só podem
Quando em dúvida sobre a crianças parece investir sua energia em
acontecer do nada, mas desenvolver
preparação da criança,
eles estão aprendendo competência e
ajuste suas expectativas sempre com as
para que a criança tenha autoconfiança quando
experiências diárias e a elas se sentem seguras
sucesso em pequenas vida ao redor deles. Uma na vida diária.
43
Dependência: Desenvolvimento de um senso de aprendizado próprio e
constante são características básicas na infância. Mas, crescer é mais difícil
para crianças e adolescentes acolhidos. Eles precisam de mais ajuda para
crescer e você pode precisar de ajuda para suprir as necessidades deles.
O que você pode fazer por uma criança/ adolescente que teme te dizer o
que ele sente?
Como você pode ajudar uma criança de dez anos que tem medo de atender
o telefone, ir em reuniões ou fazer coisas por ela mesma?
Como você pode ajudar um adolescente de treze anos que ainda faz xixi na
cama?
Escreva aqui uma maneira específica com a qual você pode encorajar a
autoconfiança de uma criança/ adolescente na sua casa
44
Sendo produtivo: Crianças/ adolescentes acolhidos podem achar difícil
desenvolver um senso de satisfação com seus esforços. Algumas crianças/
adolescentes perderam o desenvolvimento de desejar aprender novas
coisas ou de persistir naquilo que começaram. Incertezas nas suas vidas
contribuíram para um sentimento de inferioridade ou uma atitude de
indiferença.
Como você responde a uma criança/ adolescente que diz não conseguir
fazer diversas coisas (lição de casa, andar de bicicleta ou finalizar um
projeto)?
45
E) CONFIDENCIALIDADE
Todos nós temos informações pessoais ou coisas sobre nós mesmos que
nós escolhemos compartilhar com pessoas que confiamos.
Isto não é sempre rápido. Quem deve confiar em quem? Quem deve
compartilhar informações e por quê?
1. Uma amiga sua que foi pegar sua filha na mesma escola que a criança
acolhida por você diz: Minha filha disse que a criança que você acolheu
já foi obrigada a fumar cigarros. Que terrível. É verdade? Por que
fazem essas coisas? Pobre menino.
3. Pedro tem doze anos. Ele foi para sua casa três meses atrás e ficará com
você a longo prazo. O pai dele está cumprindo 5 anos de prisão por
pedofilia – a mãe de Pedro deixou a casa assim que ele nasceu. Ele
ainda não sabe a razão do pai ter sido preso e disseram para você não
contar para ele ainda.
46
Uma noite Pedro chega e vai direto pro quarto, visivelmente aborrecido.
Quando você conversa com ele, ele diz que estava na casa do melhor
amigo e viu uma menininha cair do balanço. Ao tentar ajudá-la, a mãe
dela gritou com ele e disse para ele não tocar nela porque ele era tão
sujo quanto o pai. O que ela quis dizer com isso? – ele pergunta.
4. Quando você estava sendo aprovado para ser uma família acolhedora,
você, confidencialmente, disse que tinha uma queixa da polícia por um
pequeno furto quando tinha 16 anos. Você tem sido uma família
acolhedora por 3 anos e uma nova assistente social que espera que você
receba uma adolescente, menciona o seu problema com a polícia.
Você acha que alguma dessas situações poderia ter sido evitada?
47
CAPÍTULO 3 ORIGENS SÃO IMPORTANTES
Mensagens chave
O exercício seguinte está ligado às afirmações acima. Ele pode ser feito
durante o curso ou depois. Alguns podem ser compartilhados com a
família e amigos. Eles precisam aprender e entender mais sobre os
problemas com os quais a família acolhedora tem que lidar.
48
QUEM EU SOU HOJE TEM A VER COM ONTEM
Escreva aqui algumas das suas memórias mais antigas de sua infância.
Eu me lembro…
Eu me lembro ....
Eu me lembro …
49
VOCÊ SABE COMO VOCÊ TEM ESSE NOME?
Quem escolheu seu nome?
Por que essas perguntas são significantes para poder cuidar de crianças/
adolescentes?
Como você mantém vivos aspectos da sua herança que acabariam esquecidos,
ignorados ou desvalorizados caso você não se esforçasse para mantê-los?
50
SONHOS QUE SE TORNAM REALIDADE
Colin Thompson tinha 18 anos quando ele escreveu esse relato de sua
experiência quando foi acolhido na Inglaterra.
Aos nove anos indo para uma família acolhedora, foi uma experiência
ameaçadora. Um dia, quando estava na escola, o assistente social me
visitou e disse que minha mãe estava doente e que eu ficaria em um lugar
enquanto ela se recuperava – isso demorou nove anos.
51
MINHAS MEMÓRIAS
52
Use o espaço abaixo para PONTOS PARA PENSAR
marcar as respostas das
próximas perguntas sobre • Para muitas crianças e
adolescentes em acolhimento, suas
suas experiências ao crescer. memórias podem ser tudo que têm para
Quem foi mais importante na sua vida? lembrá-los do passado. Pode haver
pouca informação ou até nenhuma, que
eles possam usar; muita coisa está em
fichas de assistência social que não
representam as perspectivas das
crianças e adolescentes sobre os
acontecimentos.
Quais eram seus lugares favoritos?
• Crianças/ adolescentes que vão
para famílias acolhedoras, geralmente
são sensíveis sobre suas memórias e
informações. As famílias devem ter
cautela e tratar essas memórias com
grande respeito.
Do que você gostava de brincar? • O sistema de assistência social
pode enfraquecer a identidade das
crianças e adolescentes, principalmente
os mais subestimados. Todos devem
ajudar a promover um senso de
identidade positivo para essas crianças/
adolescentes.
Qual era seu maior medo?
• Às vezes, crianças/ adolescentes
chegam com pouco menos do que o que
enche uma malinha de mão. Isto pode
parecer insignificante, mas pode ser o
único vínculo dele com o passado. É
importante não substituir rapidamente
as roupas e outras posses porque
Quais sonhos você tinha?
parecem velhas e feias para você.
53
MANTENDO UM DIÁRIO
SUGESTÕES
Guarde brinquedos
favoritos.
Use um diário para escrever
sobre eventos significativos.
Faça uma árvore
Visite lugares do passado da genealógica.
criança/ adolescente come ele, mas veja
se ele está pronta para isso.
54
APRENDENDO AS REALIDADES DA VIDA
55
Pessoas: Essas são as pessoas mais Sonhos: Eu queria ser. . . .
importantes na minha vida….
Crenças: Eu creio em . . .
56
“ESTE SOU EU”
Muitas vezes você não sabe o que é importante para você até que você a
perca
Crianças e adolescentes entram no acolhimento familiar com suas próprias
identidades. Em muitos, essa identidade é frágil. O acolhimento familiar
pode enfraquecê-la mais, a não ser que a família e assistentes sociais
trabalhem para proteger e desenvolver o senso positivo de valor próprio e
identidade da criança/ adolescente.
Escreva algo sobre você mesmo em cada balão da última página. O que
você escreve é confidencial, se você quiser, escreva em uma folha a parte.
Para Pensar
57
APRENDENDO SOBRE QUEM VOCÊ É
Zena Dickson diz por que foi importante descobrir mais sobre seu passado
Meu pai era de Trinidad, mas ele morreu quando eu era muito nova, então
eu perdi o aprendizado sobre essa parte de quem eu sou. Minha mãe se
casou de novo e isso causou alguns problemas para mim e o meu irmão, o
que nos levou sermos levados pelo Conselho Tutelar. Uma de minhas tias
já era uma família acolhedora e eu vivi com ela por um tempo. Eu também
fui acolhida por um casal. Uma vez o serviço social me levou para
Trinidad quando eu tinha 14 anos. A maior parte da família do meu pai
ainda vive lá e eu pude conhecê-los.
58
FAMÍLIAS BIOLÓGICAS PODEM CONTINUAR SE
ENVOLVENDO NA VIDA DE SEUS FILHOS
VALORIZANDO AS CONTRIBUIÇÕES DOS PAIS
Famílias acolhedoras estão em uma boa posição para encorajar pais e filhos a
manterem contato.
Lesley Oppenheim descreve diferentes maneiras da família acolhedora e assistentes
sociais encorajarem os pais a continuarem envolvidos na vida de seus filhos.
Ela usa o conceito de “rede” para descrever o complexo emaranhado de
relacionamentos ao redor da criança/ adolescente acolhido. Mapear essa rede para cada
criança/ adolescente é uma maneira importante de identificar pontos fortes e fracos. Ela
sugere como os pais podem participar dessa rede em momentos diferentes e de modos
diferentes, como ir a apresentações da escola. Existem muitos meios que a ajuda pode
ser dada à criança/ adolescente com uma divisão de tarefas, mesmo que os pais não
tenham uma participação ampla e com todas as responsabilidades que os pais
normalmente têm.
Por exemplo, ela identifica ajuda emocional,material e simbólica (somente estar
presente).
As implicações de dividir tarefas são que os pais não precisam fazer tudo. Eles têm uma
gama de oportunidades para se manterem como uma parte significativa para a criança/
adolescente. Isso impede que os pais sejam vistos como bons ou maus, pois nenhum pai
é bom ou mau em tudo e acaba ressaltando os pontos fortes dos pais ao invés dos
fracos.
Atitudes variam dependendo das razões pelas quais a criança/ adolescente está em
acolhimento: famílias que não puderem cuidar das crianças/ adolescentes eram vistas
com melhores olhos do que os que as famílias que abusaram ou negligenciaram a
criança/ adolescente.
No estudo sobre progresso educacional de 49 crianças e adolescentes acolhidos, Jane
Aldgate e seus colegas descobriram uma falta de envolvimento preocupante da família
biológica em decisões e ajuda educacional com os assistentes sociais e as famílias
acolhedoras aceitando e legitimando a situação.
Um modo de entender porque isso acontece é ver que a família acolhedora está
expressando o seu descontentamento de um modo que mostre que ela tem mais poder
do que a família biológica. Enquanto as famílias biológicas têm menos poder do que os
assistentes sociais, elas têm um poder significativo diante da família biológica. As
famílias acolhedoras devem usar esse poder para o benefício da criança/ adolescente,
que poderá receber muito mais de um relacionamento positivo entre a família
acolhedora e a biológica.
59
CAPÍTULO 4 HABILIDADES E CONHECIMENTO
DA FAMÍLIA ACOLHEDORA
Acolher pode ser imprevisível e inclui uma variedade de tarefas. Acolher
exige muitas habilidades diferentes. Você terá algumas delas, mas terá que
desenvolver outras.
• Saúde
• Educação
• Identidade
• Apresentação social
• Espiritual
60
A) ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Desenvolvimento esperado:
• Passividade
• Falta de respostas apropriadas aos estímulos
• Pouca coordenação motora
• Pouco movimento ou fala
61
1 -3 anos
Esses são os anos em que a criança/ adolescente desenvolve autoconfiança
e um senso de ser humano separado.
Desenvolvimento esperado:
62
3 -6 anos
Nessa idade as crianças estão se descobrindo e também o mundo a sua
volta.
Desenvolvimento esperado:
• Rápido desenvolvimento da fala
• Curiosidade e desejo por informação – muitas perguntas
• Gosto por atividade física e mais desafiador – perigo
• Brincar usando a imaginação para descobrir mais o mundo
• Compartilhar e cooperar com outros
• Gosto por companhia de outras crianças e adultos
• Aumento de capacidade para tarefas – se vestir e usar o banheiro
“O que é difícil para um pai, pode não ser para outro. Às vezes é mais
fácil mudar a forma de reagir ao comportamento da criança do que
mudar a criança”
63
6 -10 anos
Esses são anos em que a criança está tentando ganhar maior
entendimento e controle da vida fora da família.
Desenvolvimento esperado:
64
10 – 16 anos
Nesses anos, a criança/ adolescente está criando noção de quem é e está
achando o seu lugar no mundo.
Desenvolvimento esperado:
• Diversas mudanças físicas são comuns na puberdade
• Necessidade de conquistar independência da família
• Fazer relacionamentos importantes com pessoas fora da família
• Dar sentido a emoções fortes, inclusive sexualidade
• Questionar valores dos adultos e mudar as visões do mundo
• Explorar e experimentar com uma base segura
• Mudar a visão sobre si mesma
• Estabelecer um senso mais claro de identidade
Desenvolvimento interrompido pode significar:
• Insegurança
• Baixa autoestima
• Maior intensidade das emoções
• Falta de habilidade fazer amizades duradouras
• Confusão de identidade
Comportamento resultante pode incluir:
• Agressão e violência, verbal e física
• Endurecimento com relação aos adultos
• Desafiar constantemente as autoridades, como discutir sobre
questões aparentemente triviais
• Procura inapropriada de atenção, por exemplo, roubar e ter
comportamento sexual provocativo
• Cabular aula
• Fugir – literalmente e emocionalmente
• Uso de bebidas alcoólicas, drogas e outras formas de abuso
O que os pais e responsáveis podem fazer?
-Estabelecer limites e ter convicção das suas razões
-Melhorar as habilidades de comunicação
-Aborde questões sobre sexualidade e informe a criança/ adolescente dos
riscos
-Prepare-a para a independência ensinando habilidades para a vivência
-Use métodos de disciplina que edificam a autoestima ao invés de punir
-Encontre meios de edificar o senso de identidade
“Os filhos biológicos das famílias acolhedoras podem se sentir
ameaçadas com o comportamento que elas não esperavam. Eles
precisam de ajuda para se sentirem seguros.”
65
B) SEPARAÇÃO, PERDA E VÍNCULO
66
Algumas crianças/ adolescentes que precisam de acolhimento familiar
encaram repetidas separações e perdas de suas famílias, irmãs, irmãos,
amigos, vizinhos e a comunidade na qual eles estão acostumados a viver.
Isso pode ser extremamente traumática para a criança/ adolescente e a leva
a ansiedade e depressão que podem durar meses e, em alguns casos, a
infância inteira. A família acolhedora precisa ajudar a criança/ adolescente
a superar essa situação traumática e ajudá-la a lidar com os efeitos da
separação e reajustá-lo a relacionamentos saudáveis e normais.
67
a. A família acolhedora precisa reconhecer que quando há interrupções no
cuidado com a criança durante os primeiros 4 anos, as experiências futuras
precisam enfatizar as oportunidades para aprimoramento da confiança e da
autonomia da criança.
b. A formação da identidade possivelmente será afetada com a mudança
para uma nova família nos primeiros anos de vida. Mudar a forma como se
chama a criança (nome ou apelido) deve ser evitado. As crianças podem
regredir e não conseguir fazer tarefas que já haviam aprendido como
comer, dormir, usar o banheiro e falar.
c. Aqueles que experimentaram mudanças múltiplas são menos propensos
a mostrar uma reação clara à separação. A criança aprende a desenvolver
defesas contra a dor e hesita em se tornar próxima d outras pessoas
emocionalmente. Adultos acham difícil cuidar de crianças que não querem
ou não conseguem retribuir alguma coisa emocionalmente.
d. Crianças, comumente, pensam que elas são culpadas por terem sido
separadas da família. As crianças devem receber ajuda para pensar sobre a
responsabilidade ao invés de culpa e devem entender que todos têm
responsabilidades pelo seu próprio comportamento e sentimentos, mas não
são responsáveis pelas ações de outros.
e. Crianças precisam receber permissão para terem emoções. Às vezes isso
pode ser facilmente feito por uma conversa sobre outras crianças: algumas
crianças dizem que ficaram tristes, outras ficaram com medo e outras com
raiva, como é para você? Algumas crianças precisam aprender a
reconhecer sentimentos. “Quando eu fico nervoso, meu estômago fica
estranho. Você já sentiu isso?”
f. Crianças e adolescentes podem comunicar sua dor através de uma
variedade de comportamento, alguns deles não apropriados para a idade
como fazer xixi na cama, chupar dedo, não querer comer, roubar etc.
Algumas crianças e adolescentes se isolam como um meio de se
defenderem contra emoções dolorosas. Famílias acolhedoras precisam
enxergar além do comportamento e ver a emoção que a criança/
adolescente quer expressar – quase nunca uma tarefa fácil de realizar!
g. Crianças e adolescentes que experimentaram perda ou violência podem
perder seus sensos de segurança e podem se tornar fatalistas sobre seus
futuros como se já tivessem sido destinados a um final infeliz. Isso pode
levar a desmotivação e comportamento destrutivo como uso de drogas,
promiscuidade sexual, autoflagelação ou relacionamentos abusivos.
68
O PROCESSO DE LUTO
John Bowlby descreve três estágios que crianças e adolescentes com fortes
vínculos passam quando são separados de seus pais ou responsáveis com
quem tinham o vínculo. Isso é mais evidente em crianças até 4 anos.
1. Protesto e tentativa de encontrar os pais ou responsáveis.
2. Desespero quanto ao retorno dos pais e aparenta preocupação e
depressão.
3. Se torna desvinculado emocionalmente e aparenta perder o interesse
por qualquer um que cuide dela.
João
João fez 4 anos recentemente. Ele está em acolhimento familiar por 3
meses. Inicialmente ele estava irritado e chorava muito. Dentro de poucas
semanas ele ficou menos apreensivo e se isolou mais. Ele brincava sozinho
por horas fazendo sons de bebê e outros sons bem peculiares. Às vezes ele
ignorava os adultos completamente e às vezes fazia contato visual, mas
parecia não fazer distinção entre quem ele tinha mais afeição. Ele estava na
fase de fazer testes de desenvolvimento.
A história revelou que a mãe de João morreu quando ele tinha um ano e
meio. Quando João tinha três anos, seu pai planejou uma grande mudança
para o outro lado do país. Enquanto seu pai se mudava, ele deixou João
com uma tia com quem João nunca tinha tido contato antes.
Quando seu pai se mudou, João ficou muito bravo. Ele perdeu a habilidade
de usar o banheiro e estava com o rosto sujo constantemente. Suas
emoções variavam entre depressão e raiva. Então a tia pediu que ele fosse
acolhido por causa de seu comportamento.
Depois que João estava em acolhimento familiar por três meses, seu pai
fez a primeira visita. O rosto de João brilhou quando o viu, mas depois
ficou apreensivo e parecia não saber se iria se aproximar do pai ou não.
69
Os estágios do luto podem ser descritos como:
• Choque / Negação
• Raiva
• Negociação
• Depressão
• Aceitação
Na fase do choque e da negação, a reação inicial do corpo é se fechar, e a
criança/ adolescente pode demonstrar pouca emoção e parecer mecânica.
Distúrbios de apetite e o sono são comuns assim como a falta de
concentração.
Os próximos três estágios podem ocorrer em qualquer ordem. Ira é
comumente expressada a outros e a criança/ adolescente que passa pela dor
pode responder a pedidos simples com uma atitude descontrolada. A
negociação normalmente é modelada por promessas e, durante a tristeza e
o desespero, lágrimas aparecem facilmente e o apego pode surgir. A
aceitação para criança/ adolescente é quando ele se conforma com o fato
dele ter dois “tipos” de pais.
70
-A próxima seção foi tirada do livro de Vera Fahlberg -“A Jornada da
Criança/ adolescente no Acolhimento”, 1994.
Você está em casa de noite. Suas três crianças estão dormindo e você
acabou de ir para cama. Seu marido está fora e não voltará logo. Tudo está
quieto e você está se acalmando para dormir.
71
VÍNCULO
Vínculo com pais ou responsáveis é necessário
para o desenvolvimento normal
72
Crianças/ adolescentes em famílias acolhedoras têm mais chances de
ter dificuldades enraizadas em vínculos quebrados
73
C) RECONHECENDO ABUSO
Toda pessoa precisa estar preparada para cuidar de crianças/
adolescentes e jovens que tenham vivido situações de abuso, incluindo
sexual.
O abuso de crianças/ adolescentes é complexo e traz à tona fortes emoções.
Às vezes as pessoas tornam-se famílias acolhedoras para protegerem as
crianças/ adolescentes, especialmente se um dos acolhedores vivenciou
algum tipo de abuso. Se este for o seu caso, talvez você precise refletir
sobre o impacto que o dito abuso teve em sua vida e como isso está
impulsionando o seu desejo de tornar-se um acolhedor, e também antes de
poder discutir sobre a situação com algum terapeuta ou conselheiro.
DEFINIÇÕES DE ABUSO
Negligência: Ocorre quando as necessidades básicas da criança/
adolescente, psicológicas e físicas, não são atendidas, resultando em sérios
danos a saúde e ao desenvolvimento da criança/ adolescente. A negligência
ocorre quando a criança/ adolescente não recebe comida adequada, abrigo,
roupas, e tratamento ou cuidado médico; tanto quanto não atender as
necessidades emocionais ou de desenvolvimento da criança/ adolescente.
Abuso físico: Agressão física ou até mesmo a ameaça de agressão física,
ou não prevenindo a agressão ou sofrimento físico. Inclui bater, arremessar
objetos, chacoalhar, envenenar, queimar, escaldar, afogar ou asfixiar a
criança/ adolescente.
Abuso sexual: Ocorre quando a criança/ adolescente é forçada ou seduzida
a participar em alguma atividade sexual; a criança/ adolescente pode estar
ciente do que está ocorrendo ou não. Abuso sexual inclui todo ato de
penetração e até atividades livres de contato físico, tais como envolver a
criança/ adolescente na produção de materiais pornográficos, forçar a
criança/ adolescente a assistir pornografia, ou encorajar crianças/
adolescentes a se expressarem sexualmente de maneira não apropriada.
Abuso emocional: Ocorre quando o desenvolvimento emocional da
criança/ adolescente é danificado devido a maus tratos. Inclui comunicar a
criança/ adolescente que ele não tem valor, ou que não é amada, e também
pode incluir quando expectativas são impostas sobre a criança/ adolescente
que não são apropriadas para sua idade, ou seu nível de desenvolvimento.
Abuso emocional sempre ocorre junto a outros tipos de abuso, porém pode
ocorrer isoladamente.
74
EXTENSÃO DO ABUSO
• É muito difícil estabelecer claramente a extensão dos diferentes
tipos de abuso, porque os pesquisadores medem o abuso utilizando
definições variadas do que abrange o abuso, especialmente o sexual.
• Definições de abuso dependem muito da atitude individual de cada
um e da atitude da sociedade em geral, incluindo normas culturais.
• Tanto meninos quanto meninas correm riscos quase iguais de serem
abusados fisicamente, porém o abuso sexual tende a ocorrer mais
com as meninas.
• Frequentemente, percebemos que a criança/ adolescente foi abusada
devido as ações e aquilo que a criança/ adolescente expressa dentro
do lar acolhedor.
• Crianças/ adolescentes com alguma deficiência física correm um
risco maior de todos os tipos de abuso. Dificuldades na criança/
adolescente de se expressar e comunicar podem mascarar o abuso. O
abuso emocional é uma experiência frequente dentre as pessoas com
deficiências físicas. A negligência pode ocorrer quando o
responsável sente medo de algo acontecer com a criança/
adolescente deficiente e a mantém preso ou não oferece estímulo
suficiente para o seu desenvolvimento.
• Deficientes físicos frequentemente são tratados de forma desumana.
Isto facilita a ocorrência do abuso.
• Abuso sexual sério, que persiste, geralmente ocorre antes dos 12
anos. Os ofensores muitas vezes são homens que fazem parte da
rede familiar da criança/ adolescente – avôs, namorados, tios.
• Abuso emocional é raramente reconhecido e tende a ocorrer junto a
outros tipos de abuso.
• Negligência pode ser tanto física quanto emocional. Crianças/
adolescentes podem morrer como decorrência da negligência. Não
deve ser considerado como um abuso menos grave.
• Abuso sexual ocorre em todas as comunidades e culturas.
• Crescer em um ambiente abusivo pode afetar o desenvolvimento da
criança/ adolescente, e demonstra-se em atraso no desenvolvimento
mental e crescimento físico. Pode envolver a vista, a fala,
coordenação motora e desenvolvimento linguístico.
75
RAZÕES DO ABUSO
Os ofensores
76
Maria
(12 anos)
Meu pai não conversava muito com as pessoas, e ele nunca nos deixava
brincar fora de casa, então não tínhamos amigos. Minha mãe nos deixava
várias vezes sozinhas e ia a casa da vovó. Eu queria falar para minha mãe,
mas não sabia como. Meu pai dizia que se contássemos a alguém, ele nos
mataria. Ele dizia que as outras pessoas não falariam mais comigo, e eu
acreditava nele. Ele fazia-me sentir horrível e estúpida. Uma vez, minha
irmãzinha, Ana, e eu estávamos deitadas na cama conversando sobre tudo
isso e decidimos fugir para a casa da vovó e contar a mamãe.
Mas quando chegamos na casa da vovó, recebemos uma bronca por termos
saído a noite e minha mãe nos levou de volta para casa e brigou com meu
pai e eu nunca tive a oportunidade de falar a ela. Depois disso, eu não
sabia mais o que fazer.
77
VAMOS REFLETIR...
• É importante reconhecer o que ocorreu e não minimizar os sentimentos de
Maria.
• Reações ao abuso podem ser variadas. O importante é saber como o abuso
afetou especificamente a Maria.
• A experiência de Maria é perturbadora. Os acolhedores sentirão raiva, porém
é importante que expressem seus sentimentos de uma maneira que ajude
Maria.
• Maria pode sentir alívio de estar longe de seu pai; porém, às vezes o término
de um relacionamento abusivo pode incluir sentimentos de perda assim como
o de alívio.
• Algumas crianças/ adolescentes culpam a si mesmos pelo que aconteceu.
• Quando Maria se muda para a família acolhedora, ela levará consigo mesma
suas expectativas do que ocorre dentro das famílias. Isso pode ser definido
como sua cultura familiar, e a maneira como os acolhedores se comportam e
agem será bem diferente disso, pois eles têm uma cultura familiar diferente.
• Dificuldades ocorrem quando os acolhedores não estão cientes de que
culturas familiares diferentes, naturalmente entram em conflito. Maria terá
que aprender que o relacionamento que ela vivenciou com seu pai não foi
normal. Ela talvez terá muito medo do que seus acolhedores farão com ela.
• Todos os acolhedores, especialmente os homens, precisam lembrar que
devido ao abuso ocorrido com Maria, ela talvez aja de uma maneira que seja
difícil de entender e talvez até seja sexualmente provocativa.
• A experiência de Maria, terá ensinado ela a perceber os sinais que talvez
indiquem que ela esteja sob o risco de ser abusada novamente. Porém, dentro
da família acolhedora, os mesmos sinais poderão não ter esse mesmo
significado, e talvez, inicialmente, ela fique confusa.
• Acolhedores devem ter cuidado para não agirem de maneira que possa ser
interpretada de forma errada por Maria. Por exemplo, discutir a mesada pode
trazer a tona medo do que poderá acontecer com ela.
• Acolhedores talvez precisem ajudá-la se ela precisar testemunhar no tribunal,
ou se for entrevistada pelos investigadores.
• Às vezes os acolhedores são as primeiras pessoas a quem a criança/
adolescente descreve o abuso ocorrido. É importante preparar-se para essa
possibilidade.
• Crianças/ adolescentes acolhidos às vezes confiam nos filhos biológicos da
família acolhedora. Estes filhos precisam saber que é vital, eles
compartilharem toda informação com seus pais.
78
É importante levar a sério o relato da criança/ adolescente.
Conversa de criança/ adolescente:
Como você acha que Maria se sentiu ao ir morar com uma família
acolhedora?
Qual seria o papel dos filhos biológicos dos acolhedores, se eles tiverem
algum?
79
VAMOS REFLETIR...
80
Sugestões para Cuidar de Crianças/ adolescentes que
foram Abusados Sexualmente
Uma vez que o abuso sexual ocorre, a criança/ adolescente pode ter
dificuldade em aceitar algo para comer ou beber, e até mesmo descansar ou
dormir.
81
A Hora de Dormir
A hora de dormir apresenta algumas dificuldades porque geralmente o
abuso ocorre durante esta parte do dia. Lembre-se do seguinte:
• Faça com que a cama seja um lugar seguro para a criança/
adolescente.
• Tranquilize a criança/ adolescente através de palavras e atos
carinhosos.
• Permita que a criança/ adolescente leve um objeto familiar para a
cama.
• Dê a ele um cobertor fofo e macio.
• Permita que ele tenha um copo de água ao lado da cama.
Quando chegar a hora da criança/ adolescente ir dormir, passe um tempo
ouvindo-o relatar seu dia, seus pensamentos e temores.
Cubra a criança/ adolescente e dê um beijo de boa-noite.
Pergunte a criança/ adolescente se ele quer a luz acesa ou apagada, a porta
aberta ou fechada. Lembre-o aonde você estará se ela precisar de alguma
coisa, ou tiver algum medo.
Se a criança/ adolescente chamá-lo durante a noite, vá até a porta do quarto
e diga quem você é e pergunte se você pode entrar.
O abuso pode deixar sequelas...
• Se o abuso ocorreu durante um período prolongado, todos os
aspectos do desenvolvimento da criança/ adolescente, sua
autoestima e autoimagem podem ter sido afetados.
• As dificuldades que a criança/ adolescente vivencia após o abuso
podem estender-se até em seus relacionamentos futuros como uma
pessoa adulta e determinar seu sucesso como um pai ou uma mãe.
• Um clima de violência para com a criança/ adolescente pode levar a
comportamentos agressivos, problemas emocionais ou de
comportamento, e até dificuldades na escola.
• Abuso emocional pode ter um impacto na saúde mental da criança/
adolescente e tende a causar maiores danos quando vivenciado nos
primeiros meses ou anos de vida.
• O abuso sexual pode levar a comportamentos sexualizados que não
são apropriados para a idade da criança/ adolescente, a tristeza,
automutilação, depressão e perda da autoestima.
• Negligência extrema pode danificar o desenvolvimento físico e
social da criança/ adolescente, e sua capacidade de aprender.
82
D) AMBIENTE SEGURO
Acolhedores cuidam de crianças/ adolescentes que, na realidade, não são
seus, dentro de seu próprio lar. Essas crianças/ adolescentes têm
perspectivas de vida diferente, e sua maneira de entender as regras, os
limites e as expectativas do lar acolhedor pode variar. Eles são literalmente
estranhos totais a família acolhedora.
Descreva quais mudanças você implementaria a sua rotina familiar se
você tivesse pessoas estranhas morando nele.
Ambiente seguro significa:
• Manter a criança/ adolescente acolhido seguro de todos os tipos de
abuso
• Manter seus próprios filhos seguros
• Proteger a família acolhedora de qualquer alegação de abuso. Isto
pode ocorrer quando:
• A criança/ adolescente foi abusada por um membro da família
biológica.
• A criança/ adolescente interpreta de maneira errada suas ações ou
intenções.
• A criança/ adolescente está guardando rancor e deseja causar
danos a alguém.
• Pode ser um meio da criança/ adolescente chamar atenção.
Sugestões para minimizar tais riscos:
1. Mantenha seu cronograma anual de capacitações atualizado
2. Converse com seus filhos sobre como manter todos seguros
3. Converse com a seu assistente social sobre desenvolvimento de um
ambiente seguro
4. Mantenha um diário de eventos significativos que ocorrem com a
criança/ adolescente acolhido
5. Sempre relate qualquer incidente que possa causar suspeita, a
assistente social do foro ou da ABBA, tais como marcas no corpo da
criança/ adolescente.
6. Descreva sua política familiar. Inclua aspectos importantes a sua
família e quais mudanças precisariam ocorrer. Tais como:
a. Não andar pela casa despidos
b. Trancar a porta do banheiro antes de utilizá-lo
c. Bater na porta do quarto antes de entrar
d. Ao entrar em um quarto, mantenha a porta aberta
e. Não demonstre muito afeto físico quando a sós com a criança/
adolescente
Você consegue pensar em outras coisas que devem ser incluídas?
83
Agora, pense no que precisa mudar dentro do seu lar?
84
Desenvolvendo Segurança
Comportamento Comportamento mais seguro
Criança frequentemente sobe na O carinho não precisa acontecer na
cama dos acolhedores para receber cama. Procure outros ambientes do
carinho. lar que são mais acessíveis a todos.
Acolhedor (homem) dá banho em O homem nunca deve dar banho
um menino de 4 anos de idade. sozinho – tenha sempre uma mulher
presente ou próxima.
Acolhedor (homem) lê uma Seria mais seguro ler a história em
história no quarto de uma criança outro aposento ou com uma mulher
de 3 anos antes dela ir dormir. presente.
Adultos e crianças andam pela Somente no próprio quarto. Não há
casa despidos. outro jeito seguro de lidar com esse
aspecto de vida familiar.
Acolhedores brincam de rolar no Somente com outro adulto presente.
chão e fazer cócegas com a Outra opção seria de brincar de outra
criança/ adolescente acolhido. coisa que não envolva o toque físico.
O acolhedor limpa as nádegas de Deve sempre haver duas acolhedores
uma adolescente deficiente de 13 presentes, sendo um deles mulher.
anos. Encoraje independência.
Crianças e adolescentes entram a Somente sob supervisão e de
vontade nos quartos uns dos maneira planejada.
outros.
Acolhedor (homem) sozinho no Evite se possível. Quando
carro com a criança acolhida necessário, coloque a criança no
banco traseiro.
O filho de 17 anos do acolhedor as Rapazes jovens devem sempre ter
vezes cuida da criança acolhida. uma mulher mais velha presente.
Um acolhedor dorme com uma Evite isso. Dormir próximo a criança
criança de 11 anos que está doente. e com a porta aberta.
Uma acolhedora fotografa uma Jamais tire fotos dos filhos de outras
criança de 6 anos tomando banho. pessoas, despidos ou tomando
banho.
Acolhedores têm relações sexuais JAMAIS!
com a porta do quarto aberto
quando há crianças na casa
Os riscos jamais podem ser totalmente eliminados, mas podem ser minimizados!
85
E) ENTENDENDO COMPORTAMENTO
Samara tem 2 anos. Você pergunta a ela se ela pegou o ursinho de seu
irmão, ela responde que não. Mais tarde, você encontra-o embaixo da cama
dela. Samara diz que não foi ela que o colocou ali.
86
Samara tem 9 anos. Pacotes de bolachas, barras de chocolate, latas de fruta
e outras comidas desaparecem com frequência. Você pergunta a Samara se
foi ela quem pegou algumas destas coisas. Ela diz que não. Mais tarde
você encontra embalagens vazias e outras provas do crime. Samara ainda
nega que ela tenha pegado qualquer coisa, mesmo quando você a vê
pegando várias coisas.
Samara tem 15 anos. Uma quantia de dinheiro sumiu de sua bolsa e você
encontra dois novos CDs no quarto de Samara. Ela diz que não tem
conhecimento algum do dinheiro desaparecido e que você está sempre
culpando-a.
Relacione o comportamento de Samara com o seu desenvolvimento.
87
• Aos 2 anos, Samara não terá desenvolvido ainda um entendimento do
certo e errado, e não saberá dizer porque é errado tomar algo que pertença a
outra pessoa ou até mesmo de se lembrar aonde ela teria colocado o que ela
apanhou. O único entendimento que ela tem, é que fazer algumas coisas é errado
se um adulto assim diz. Ela sabe que deve obedecer, porém não tem seu próprio
sentido do que é certo e errado, e só virá a desenvolvê-lo mais tarde.
• Aos 9 anos, Samara está começando a entender o que é certo e errado de
uma forma mais abstrata. Ela tem a capacidade de pensar sobre seu
comportamento e de sentir remorso. Ela tem um ponto de vista forte a respeito
do que é justo e exclama com frequência que algo é injusto. Ela está aprendendo
as regras de convivência social em grupo e entre amigos, sempre disposta a
demonstrar sua posição e procura não deixar-se abalada.
• Samara talvez veja as guloseimas como uma forma de consolo por
alguma falta de afeto em sua vida. Por outro lado, as guloseimas talvez sejam
sua maneira de comprar amizades ou demonstrar sua posição diante das outras
crianças/ adolescentes.
• Aos 15 anos, Samara já desenvolveu uma consciência e tem a capacidade
de entender que suas ações têm consequências para os outros.
• Samara sabe que roubar testará seus relacionamentos com os adultos.
Talvez o roubo tenha se tornado um hábito e ela não tem forças para controlar
seus impulsos. Samara pode estar testando seu relacionamento com os adultos
que cuidam dela, para ver se eles ainda a amam apesar de seu comportamento.
Se ela for uma adolescente acolhida, ela talvez tenha a expectativa de que os
acolhedores a rejeitarão, como já aconteceu em seu passado e isso reforçará seus
temores pessoais e sua autoestima baixa. Ela pode até querer ser rejeitada na
esperança de que talvez ela vá morar em outro lugar!
88
João tem 2 anos. Ele pede para você ler uma história. Quando você acaba
de ler, ele pede para você ler novamente. Ele já decorou a história de cor.
Você constrói torres para ele com blocos, porém ele só quer destruí-las.
Ele às vezes joga seus brinquedos no chão com força, frequentemente
quebrando-os.
João tem 9 anos. Tudo que ele ganha, ele acaba destruindo, incluindo
brinquedos que ele sempre quis. Às vezes ele quebra outras coisas, porém,
talvez mais por acidente do que de propósito. A destruição de seus
pertences parece ser proposital. Ele fala que não sabe ler e quer que seus
acolhedores leiam para ele.
89
João tem 15 anos. Ele nunca lê e passa todo seu tempo assistindo TV e
brincando jogos no computador. Quando ele fica bravo, ele tende a chutar
e socar as coisas ao redor, às vezes até destruindo os pertences de outras
pessoas.
90
Entendendo comportamento – pontos de consideração
6. Outra reação é de ser egoísta e querer mais atenção dos adultos ao seu
redor, ou até mesmo de se distanciar de seus acolhedores.
91
Ser resiliente é:
Reflita sobre sua própria experiência de vida e como pessoas e/ou eventos
foram cruciais em transformar a sua vida pessoal.
92
Acolhedores podem auxiliar as crianças/ adolescentes sob seu cuidado,
providenciando fatores externos que ajudem as crianças/ adolescentes a
superarem momentos de adversidade:
1. Encorajando uma experiência escolar positiva
a. Tenha ambições elevadas, porém realistas em relação ao
desenvolvimento acadêmico da criança/ adolescente.
b. Mantenha contato frequente com a escola sobre a criança/
adolescente.
c. Ajude em eventos sociais e educacionais na escola.
2. Encoraje amizades
a. A capacidade de ter amigos é um barômetro útil em relação a
saúde emocional.
b. Proteja a criança/ adolescente contra atos de intimidação das
outras crianças/ adolescentes.
c. Se interesse nas amizades da criança/ adolescente.
3. Encoraje interesses/envolvimento em esportes, passatempos,
música, atividades culturais
a. Tais atividades fortalecem a resistência interior de uma
criança/ adolescente.
b. Natação, animais, jogos e brincadeiras, danças aumentam a
confiança da criança/ adolescente.
c. Introduza a criança/ adolescente a estas atividades de acordo
com suas necessidades e interesses.
4. Ajude a criança/ adolescente a discutir problemas e colocar em
prática suas habilidades de lidar com problemas pessoais
a. Isto exige tempo e paciência.
b. Seja sensível ao conversar sobre o passado da criança/
adolescente, mas é importante conversar, mesmo que seja
doloroso.
c. Converse sobre o futuro.
d. Explique como a criança/ adolescente pode influenciar o seu
próprio futuro através das decisões que ele faz agora.
5. Encoraje atitudes carinhosas para com outros
a. Providencie regras claras e introduza princípios a criança/
adolescente que possam ser modelos de comportamento
carinhoso.
b. Não se esqueça que as crianças/ adolescentes aprendem
observando e ouvindo o que acontece ao redor!
c. Ajude a criança/ adolescente a entender que ele tem a
capacidade de ser bom e generoso.
93
F) LIDANDO COM COMPORTAMENTO
94
Exercício 1 – O que realmente me aborrece…
Quem não conseguir achar uma cadeira para sentar, fica no meio e por sua vez descreve
algo que os aborrece.
Então todos que se aborrecem com a mesma coisa se levantam e trocam de lugar…
95
POR QUE USAMOS DISCIPLINA?
Que outras razões para disciplinar você acrescentaria ao diagrama
abaixo?
Estabelecer uma rotina Recompensar comportamento bom
GUIAS DE DISCIPLINA:
96
adolescente que você coloca muita importância sobre o que a criança/
adolescente acabou de fazer. Permitir que a situação se prolongasse por
um período, demonstra que o que ocorreu não é importante para você.
Também significa que você deve intervir prontamente, antes que o
comportamento da criança/ adolescente tenha afetado o seu
autocontrole emocional. Geralmente, esperar e aguardar que o
comportamento da criança/ adolescente vá embora significa que você
ficará mais e mais agitado, até que você não aguente mais, e reaja de
forma errada. Desta maneira, a criança/ adolescente aprende a obedecer
da primeira vez.
97
TÉCNICAS BÁSICAS DE MODIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTO
Modelando: Uma criança pode ser encorajada a agir de uma certa maneira
se ela ver as pessoas, que são importantes para ela, agirem desta maneira
também. Lidere a criança/ adolescente sendo um exemplo para ele.
Remoção de Privilégios: Deve ser usado como último recurso para enviar
uma mensagem mais direta e clara a criança, após as outras técnicas não
terem tido resultados positivos. Remova temporariamente os privilégios
que são mais importantes para a criança, por exemplo, ficar acordada até
mais tarde, assistir um certo programa na TV, passar tempo com os
amigos. A criança aprende a merecer de volta seus privilégios.
98
Notas principais:
Sempre procure por detrás do comportamento pela causa do mesmo.
• O que aconteceu antes do comportamento?
• Identifique o que despertou o comportamento.
• O comportamento poderia ter sido prevenido?
99
Mantendo a Paz
Impondo limites
Não é possível utilizar todas as estratégias existentes para transformar o
comportamento da criança/ adolescente, mas um bom começo seria
demarcar claramente e com autoridade os tipos de comportamentos que
você e sua família não irão tolerar. Estes limites não devem ser
negociáveis. Geralmente, estes limites já existem dentro do lar para
proteger a criança/ adolescente e a família emocionalmente e fisicamente.
Porém, tenha cautela com o número de regras, pois a existência de muitas
delas pode ser confuso para a criança/ adolescente acolhido.
Pense nos limites que são essenciais para você. Procure explicar
claramente porque você não permite certos comportamentos. Imagine que
você está explicando os seus limites a uma pessoa recém-chegada a seu lar.
100
AUXILIANDO CRIANÇAS/ ADOLESCENTES E ADULTOS A
LIDAREM COM RAIVA
Para adultos:
• Todas as opções acima.
• Trabalho físico árduo como cavar, cortar madeira com machado,
esfregar chão.
• Conversar com alguém sobre sua raiva e o que a causou.
• Escreva sobre seus sentimentos. Descreva porque você está bravo,
como, e o que você gostaria que tivesse acontecido de diferente e
por que.
• Tome um banho frio.
• Faça alguma atividade física, vá até a academia.
• Pondere sobre o que aconteceu.
101
enfatizando a criança/ adolescente que você acredita que ele tem a
capacidade de mudar. Comunique a criança/ adolescente que seu
desagrado para com o comportamento dele não continuará e que você o
ama e se importa com ele.
• Com algumas crianças/ adolescentes manter um diário, contratos ou
tabelas de pontuação são também eficientes. Todas estas coisas podem
ser adaptadas a idade da criança/ adolescente.
• Crianças/ adolescentes acolhidos geralmente têm uma autoestima muito
baixa. Em seu histórico familiar, a disciplina dada pelos pais,
provavelmente foi humilhante e ressaltou a incapacidade da criança/
adolescente de melhorar:
- Você não tem jeito mesmo… você é inútil e não presta para nada!
102
O exercício abaixo pode ser individual, mas é melhor quando feito em
grupo, especialmente com outros acolhedores. Pense nas maneiras em que
você foi criado, especialmente na área do comportamento, e como você
agora está tentando influenciar o comportamento das crianças/
adolescentes ou adolescentes que você acolhe.
103
As seguintes listas contêm palavras que podem ser usadas para descrever
métodos diferentes de disciplina. Quais palavras melhor descrevem a sua
maneira de disciplinar…
1. Amável 1. Suborno
2. Discussão aberta 2. Frustrada
3. Explicação 3. Coerção
4. Estruturada 4. Chantagista
5. Caótica
104
AS PERSPECTIVAS DE ALGUNS ADOLESCENTES
SOBRE SEU COMPORTAMENTO
Carol:
105
Débora:
“Pergunte a eles porque eles estão se comportando desta maneira e não
seja tão rápido em chamá-los de difíceis, pois estas são palavras e rótulos
que eles carregarão para o resto de suas vidas.
Anna:
“Tenho que admitir que meu comportamento foi terrível e que fiz meus
acolhedores sofrerem muito. A razão pelo meu comportamento foi a
mudança de vida que sofri. Morei na cidade durante a maior parte de
minha infância e de repente me levaram embora e fui parar em uma
cidadezinha no meio do nada, onde não havia ninguém. Ser separada de
meus amigos e trocar de escola me deixou meio atordoada e doidinha. Fui
parar também em uma escola minúscula aonde eles não tinham experiência
em lidar com crianças com distúrbios emocionais e foi difícil lidar não
somente com os professores mas também com os outros alunos. Não havia
nada para se fazer naquela cidadezinha no meio do nada, e sinceramente,
eu fiquei meio chocada… e tudo isso fez com que meu comportamento
piorasse.
Outro problema para mim foi fazer parte de uma família. Eu achei difícil
aceitar afeto e atenção de meus acolhedores… parecia que eles se sentiam
obrigados a me dar atenção. Nunca tinha recebido atenção antes e foi
difícil me acostumar… então as vezes eu ficava meio agressiva mesmo.
Para lidar com meu comportamento, meus acolhedores até tiveram que
sentar em cima de mim… sei que não havia outra maneira de lidar comigo
naquelas horas, mas eu me sentia trancada, presa e assustada. Acho que
isso me fez sentir pior e mais frustrada. ”
106
G) ENTENDENDO AS DIFERENÇAS
“Tudo era diferente lá. A maneira como eles viviam, a comida que
comiam… até o jeito como eles conversavam uns com os outros”.
“Eu fiquei com muito medo a primeira vez que fui para um lar acolhedor,
eu não sabia como seriam as coisas”.
“Ir para um lar acolhedor foi como pular dentro de um buraco enorme e
escuro”.
107
Descreva alguns de seus preconceitos:
108
Discriminação injusta pode afetar o potencial da criança/ adolescente
acolhido e as oportunidades de vida que a criança/ adolescente poderá
ter. Acolhedores devem ficar alertas contra isso e encontrar meios de
desafiar a discriminação.
109
CAPÍTULO 5 DIZER ADEUS – SEGUIR EM
FRENTE E SE DESPRENDER
110
Crianças/ adolescentes deixam o lar acolhedor por várias razões…
PONTOS DE CONSIDERAÇÃO
• Situações de acolhimento terminam por várias razões. É importante
tornar a situação o mais positiva possível para a criança ou
adolescente.
• O acolhedor não deve ser visto como uma falha quando o
acolhimento termina de maneira inesperada. Geralmente, não reflete
a capacidade do acolhedor, mas sim a confusão e o distúrbio interno
da criança/ adolescente.
• Dizer adeus dói, mesmo que o acolhimento não tenha sido muito
positivo – a mudança pode ser algo muito emocional para todos.
• A maioria das crianças/ adolescentes normalmente sai de casa
somente após terem amadurecido e ao se tornarem mais
independentes. Eles também podem voltar ao lar se precisarem.
• Crianças/ adolescentes que moram longe de suas famílias biológicas
estão sempre menos preparadas emocionalmente para se mudarem
do lar, porém tem que superar este tipo de situação com mais
frequência e tendo menos maturidade.
• Às vezes, acolhedores podem continuar se relacionando com a
criança ou adolescente mesmo após estas terem saído do lar
acolhedor. Isto deve ser algo encorajado pela agência, especialmente
se for algo positivo que ajudará a criança ou o adolescente.
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“Foi um alívio saber que poderíamos nos apegar a uma criança acolhida
e demonstrar nossa tristeza com sua saída do nosso lar. Mas é ainda mais
importante não permitir que seus próprios sentimentos atrapalhem a
decisão de fazer aquilo que é o melhor para ela”.
O comentário acima foi feito por um acolhedor, e está certíssimo.
Crianças/ adolescentes abandonados precisam de acolhedores com quem
eles possam se apegar – mas isso também torna as coisas mais difíceis na
hora da separação quando a criança/ adolescente precisa sair do lar
acolhedor.
Outros comentários feitos por acolhedores:
“O que muitas vezes eu não compartilho em público é a dor que sinto ao
ter que permitir que a criança vá embora do lar. Quando começamos a
acolher crianças, recebíamos muitos bebês. Ficava acordada várias noites
atendendo aos choros deles e no final do acolhimento, quando tínhamos
que dizer adeus a algum o bebê… sempre foi difícil, apesar do trabalho
que eles davam. Os adultos muitas vezes dizem que as crianças são muito
resistentes e que conseguirão superar a separação, mas esquecemos
também que as crianças são muito sensíveis. Elas sentem muito a tristeza
do adeus.”
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Lições aprendidas através de sua experiência pessoal ajudam a
identificar o que faz do adeus uma experiência positiva.
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PONTOS DE CONSIDERAÇÃO
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MANTENDO AS MEMÓRIAS SEGURAS
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Sugestões ao assistente social e psicólogo do projeto de acolhimento
familiar para ajudar a preservar as memórias da criança/ adolescente:
Trabalho de Vida:
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Quando o acolhimento acaba repentinamente
• Acolhedores que têm filhos que não se adaptam bem a uma outra
criança/ adolescente invadindo o espaço familiar, apresentam mais
tendência a problemas de acolhimento. O risco é maior quando há uma
diferença 5 anos ou menos entre os filhos dos acolhedores e a criança/
adolescente acolhido, ou 2 anos ou menos com crianças mais velhas ou
adolescentes.
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CAPÍTULO 6 FILHOS DOS ACOLHEDORES
Atividade 1:
Atividade 2:
Anote o seguinte:
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PONTOS DE REFLEXÃO
1. É importante que os filhos entendam que eles não devem manter
segredos sobre as crianças/ adolescentes acolhidos. “Se eu te contar
algo, você promete que não contará a ninguém…”
2. Filhos de acolhedores passarão muito tempo com as crianças/
adolescentes acolhidos e ouvirão sobre várias histórias e experiências
vivida – algumas poderão chocá-los!
Leia o seguinte texto: A família de Jonas tem sido uma família acolhedora
há 2 anos. Jonas tem 10 anos…
A primeira criança que acolhemos foi o Davi, ele tinha a mesma idade que
eu e nós compartilhávamos um quarto. Na primeira noite, ele me contou
tudo que seu pai tinha feito a ele – espancou, deixou ele sozinho em casa,
fez ele cozinhar e limpar toda a casa. Ele me mandou não contar a ninguém
– se eu contasse, o seu irmão mais velho me bateria.
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Atividade 3: Coloque cartões com as seguintes perguntas no chão, com a
face escrita para baixo. Junte as crianças/ adolescentes em um círculo.
Cada uma deve escolher um cartão, ler a pergunta e respondê-la.
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E Finalmente… Vamos avaliar:
O que você mais gostou deste curso?
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Como este curso te ajudou a preparar seus filhos para o acolhimento?
Quais são três coisas importantes que você aprendeu sobre o acolhimento?
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Obrigado por ter completado este curso.
Esperamos que você tenha aprendido muito sobre o que é ser uma família
acolhedora.
Há muitas coisas que você deve lembrar, mas o mais importante é que as
crianças e adolescentes que você acolherá não são suas. Eles tiveram uma
vida antes de vir ao seu lar, e seja o que for que aconteceu com eles, as
dificuldades que eles vivenciaram terá criado confusão e ansiedades a eles.
Lembre-se, crianças e adolescentes geralmente são vítimas da negligência,
abuso ou exploração de um adulto. Raramente, são eles a causa dos
problemas e a razão por eles não poderem permanecer com suas famílias
de origem. No final, são eles que acabam pagando o maior preço!
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Anexo I
1. Negligência (33,2%)
2. Abandono (18,5%)
3. Violência física (9,6%)
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4. Violência sexual (5,5%)
5. Violência psicológica (4,5%)
1. Negligência (54,9%)
2. Abandono (21,8%)
3. Violência física (12,6%)
4. Violência psicológica (9,1%)
5. Violência sexual (8,0%)
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4) O censo do governo federal publicado em março de 2011 é a primeira
pesquisa que mostra a realidade de crianças e adolescentes em situação
de rua no Brasil.5
1
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/18297-mais-de-37-mil-jovens-vivem-em-abrigos. Acesso: 20/07/12
2
http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/dicivip_datain/ckfinder/userfiles/files/LIVRO_Levantamento%20Nac
ional_Final.pdf3http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/19552-cadastro-tem-52-mil-criancas. Acesso:
20/07/12
4
http://www.maosdadas.org/?pg=show_artigos&area=revista&artigo=446&sec=270&num_edicao=27&
util=1. Acesso: 20/07/12
5
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1108319. Acesso: 20/07/12
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