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A Associação Brasileira Beneficente Aslan - ABBA agradece a organização Substitute

Families for Abandoned Children (SFAC) – Famílias Substitutas para Crianças/


adolescentes Abandonadas – por ter providenciado o material para esse curso
preparatório “O desafio do acolhimento”. Esse material é compilado de quatro
modelos de treinamento usados na Inglaterra nos últimos 30 anos e é suplementado por
materiais ajuntados do Brasil, Estados Unidos, e Canada. Os primeiros três modelos
foram escritos pela N.F.C.A. (National Foster Care Associations – Associação
Nacional de Acolhimento) e, o quarto é a recente adição da Fostering Network (Rede
de Acolhimento). Cada modelo de treinamento fez parte do processo de aprendizado e
desenvolvimento que levaram à abordagem mais técnica sobre o acolhimento e às
expectativas mais altas por parte dos acolhedores.
I. Pais diferenciados
II. O desafio de Acolher
III. Escolhendo Acolher
IV. Habilidades para Acolher
“O desafio do Acolhimento” inclui questões de cuidado com crianças e adolescentes
que a ABBA e a SFAC consideram ser relevante para as várias situações no Brasil. Isto
foi adaptado para refletir devidamente algumas diferenças culturais e sociais
perceptíveis. Mas, ao mesmo tempo, questões abrangentes necessárias para o trabalho
com crianças/ adolescentes em risco foram mantidas.
A Fostering Network (Rede de Acolhimento) cedeu gentilmente a permissão para o uso
do material pela SFAC a fim de ajudar no desenvolvimento do programa de
acolhimento familiar em novos países.
Compilação:
Michael Pease Diretor – SFAC.
Val Hales Gerente de equipe, Acolhimento e Adoção Leeds
Social Services, England
Tradução:
Caio Cesar Dias Peres ABBA
Fernanda Brasiliense Fernandes Hochstedler ABBA
Outros Contribuintes:
Delton Hochstedler Coordenador Técnico, ABBA
Eliane Araújo da Silva Assistente Social, ABBA
Maria Aparecida da Silva Gambarini Assistente Social, ABBA
Sandra Helena Pires de Oliveira Educadora, ABBA

Segunda Edição
Publicada: 15/07/2015
©ABBA1
www.abbabrasil.com.br www.sfac.org.uk

1
Termo de Uso - Concede-se a autorização para apresentar na tela, copiar e distribuir o material desta publicação
unicamente para o desenvolvimento de acolhimento institucional e familiar em projetos/programas sem fins lucrativos
no Brasil com a condição de que não se modifique o material e que se conserve todas as legendas de direitos autorais
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das leis de marcas comerciais, das leis de privacidade e publicidade e das leis e regras de comunicações.
INTRODUÇÃO
A ideia de exigir preparação e treinamento a fim de se tornar um acolhedor
pode parecer estranha, particularmente quando a maioria dos pais cria seus
filhos biológicos com pouca preparação a cerca de criação de filhos a não
ser as experiências que eles tiveram na infância. O conceito de
acolhimento não se restringe somente ao receber a criança/ adolescente e
criá-la como parte da sua família. Agora, o conceito já é vastamente
reconhecido como a habilidade de cuidar do filho(a) de outra pessoa em
um tempo de grande dificuldade para a criança/ adolescente e sua família.
Isto significa cuidar da criança/ adolescente através do acolhimento por um
período indeterminado que pode acabar com a criança/ adolescente
voltando para casa, sendo adotada ou, dependendo da idade, a criança/
adolescente se torna independente.

“O desafio do acolhimento” ajuda a preparar potenciais acolhedores para


os desafios que aparecerão no decorrer do caminho – aprender a entender
pelo que a criança/ adolescente já passou, por que eles se comportam de tal
maneira possivelmente trabalhando com a família da criança/ adolescente,
trabalhando com o assistente social e entendendo a situação legal da
criança/ adolescente com o objetivo de prover para a criança/ adolescente
esperança para um futuro melhor. Se você conversar com algum acolhedor
experiente, eles dirão que preparação e treinamento são essenciais para
entender mais sobre a criança/ adolescente e sua situação para que você
possa fazer este difícil, mas compensador, trabalho mais eficientemente.

Nós esperamos que você aprenda muito ao fazer este curso, estando você
no meio de um acolhimento ou só começando a pensar sobre isso, e que
você também aproveite bem o tempo junto com o grupo. Nós esperamos
que aqueles de vocês que estão começando a pensar em acolhimento
resolvam aceitar o desafio e, aqueles que já estão acolhendo, renovem seu
compromisso com o desafio.

“Você faz um viver pelo que você recebe – você faz uma vida pelo que
você dá” - Winston Churchill

3
Conteúdo

CAPÍTULO 1 O QUE É ACOLHIMENTO? ................................................................. 5


A) ALGUNS PONTOS PARA CONSIDERAR ....................................................................... 5
B) O QUE ACOLHEDORES FAZEM?................................................................................. 9
C) EXERCÍCIOS ............................................................................................................... 12
D) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES QUE ACOLHEM ......................................................... 19
E) OS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO ........................................................................ 21
CAPÍTULO 2 O INÍCIO DO ACOLHIMENTO ......................................................... 25
A) RECEBENDO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE............................................................... 25
B) COMO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE PODE SE SENTIR ............................................ 32
C) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES FALANDO ................................................................... 37
D) AFETANDO O DESENVOLVIMENTO ......................................................................... 42
E) CONFIDENCIALIDADE .............................................................................................. 46
CAPÍTULO 3 ORIGENS SÃO IMPORTANTES ........................................................ 48
CAPÍTULO 4 HABILIDADES E CONHECIMENTO DA FAMÍLIA
ACOLHEDORA .................................................................................... 60
A) ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL .................................................. 61
B) SEPARAÇÃO, PERDA E VÍNCULO ............................................................................. 66
C) RECONHECENDO ABUSO ......................................................................................... 74
D) AMBIENTE SEGURO .................................................................................................. 83
E) ENTENDENDO COMPORTAMENTO .......................................................................... 86
F) LIDANDO COM COMPORTAMENTO ......................................................................... 94
G) ENTENDENDO AS DIFERENÇAS ............................................................................. 107
CAPÍTULO 5 DIZER ADEUS – SEGUIR EM FRENTE E SE DESPRENDER ...... 110
CAPÍTULO 6 FILHOS DOS ACOLHEDORES ........................................................ 118
QUESTÕES IMPORTANTES NO BRASIL ....................................................................... 124

4
CAPÍTULO 1 O QUE É ACOLHIMENTO?

A) ALGUNS PONTOS PARA CONSIDERAR


Este capítulo te ajuda a pensar sobre o que está envolvido no
acolhimento e explica como o curso de treinamento é adequado para
alguém se tornar um acolhedor.

“A coisa mais importante que eu aprendi do curso foi que o acolhimento


será um trabalho difícil e que eu vou precisar de uma mente aberta e
bastante ajuda. Mas, as crianças que estão por aí realmente precisam de
nós.”

Mensagens chave:

• O acolhimento envolve todas as pessoas da casa incluindo os filhos


da família acolhedora e outros parentes.

• Acolhimento é complexo. Ideias simples como, por exemplo,


resgatar crianças/ adolescentes de lares infelizes e dar uma boa família para
compensar a família inadequada, não são corretas.

• Há diversas razões porque crianças e adolescentes precisam de


cuidados.

• Existem diferentes tipos de acolhimento, incluindo curto prazo ou


emergencial, médio prazo, cuidado compartilhado e longo prazo. Alguns
acolhedores proporcionarão cuidados a curto ou médio prazo, mas outros
poderão se tornar famílias substitutas por períodos longos.

• Acolhimento, às vezes, envolve trabalhar de perto com a família


biológica da criança/ adolescente para ajudar a criança/ adolescente a
voltar para casa ou, pelo menos, para manter o contato enquanto o retorno
não acontece.

• Todos os acolhedores precisam entender as dificuldades e problemas


que a criança/ adolescente e sua família já encararam se eles quiserem ser
eficazes. Isto inclui os efeitos da pobreza e discriminação.

• Acolhimento é um serviço comunitário local, promovido por


famílias para famílias. Este serviço possibilita ajuda em tempos de crises e
stress. Deveria ser um serviço flexível e não uma última opção caso todas
as outras opções tenham dado errado.

5
VOCÊ E O SEU LAR

Acolhimento envolve todas as pessoas que fazem parte do lar, incluindo


os filhos da família acolhedora e outros parentes.

A estrutura das famílias varia consideravelmente; não existe uma descrição


para família típica. Famílias estão todas em estágios diferentes na vida. Por
exemplo, dois lares diferentes podem conter quatro pessoas. Uma pode ter
uma combinação de idades elevadas, por conta de filhos já crescidos ou
por avós morando na mesma casa. Outros lares podem ter crianças
pequenas em casa.

• Qualquer nível de experiência que o lar possa oferecer, acolhimento


significará novos desafios e irá requerer novas habilidades.

• O seguinte exercício se concentra naqueles que vivem em um lar


específico. De qualquer forma, acolhimento envolve um grupo de pessoas
muito mais abrangente da comunidade local que inclui outros parentes da
família, amigos, vizinhos, escolas, médicos e igrejas.

• Também ajuda a considerar se você tem tempo suficiente na sua


vida para cuidar de uma criança/ adolescente em necessidade. Acolhimento
terá uma demanda sobre você e sua família, é importante que você tenha o
tempo necessário para tal.

6
As perguntas seguintes começam a explorar porque você quer acolher.
Elas também têm o propósito de te ajudar a pensar sobre a variedade de
pessoas e situações que a palavra “família” abrange.

Q. Como você se interessou pelo acolhimento?

Q. Por que você quer acolher?

Q. Quem irá cuidar da criança/ adolescente?

Q. Qual é o número total de pessoas na sua casa?

Q. Você acha possível trabalhar e ainda acolher uma criança/


adolescente? Se sim, por que?

Q. Você acha certo receber ajuda financeira para acolher uma


criança/ adolescente?

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ACOLHIMENTO É COMPLEXO. IDÉIAS SIMPLES COMO, POR
EXEMPLO, RESGATAR CRIANÇAS/ ADOLESCENTES DE UM
PASSADO INFELIZ E DAR A ELES UMA BOA FAMÍLIA PARA
COMPENSAR A FAMÍLIA INADEQUADA, NÃO SÃO
CORRETAS.

Quem precisa de cuidado?

Existem muitas razões para que uma criança/ adolescente precisa de


cuidados de uma família acolhedora. Você conhecerá mais sobre essas
razões no curso e muitos dos pontos são resumidos nas próximas páginas.
Use o espaço abaixo para fazer suas próprias anotações sobre o que você já
ouviu ou leu sobre o assunto.

Escreva algumas razões por que a criança/ adolescente precisaria de


acolhimento.

Por que algumas crianças/ adolescentes não podem continuar vivendo em


suas casas.

Quem usa o serviço?

O stress, causado pela pobreza, desemprego e discriminação, pode levar


algumas famílias à necessidade de suas crianças/ adolescentes precisarem
de acolhimento. Algumas famílias acham que têm pouco, talvez nenhuma,
condição emocional e prática de cuidar das próprias crianças e/ou
adolescentes. Essas circunstâncias afetam alguns grupos mais do que a
outros – por exemplo, famílias grandes, famílias pobres e pessoas com
deficiência. As famílias que estão em melhores condições financeiras
acham maneiras de lidar com o stress familiar de forma que não seja
necessária uma intervenção de algum serviço social ou organização.

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B) O QUE ACOLHEDORES FAZEM?

Acolhimento pode envolver contato próximo com a família da criança/


adolescente para ajudar a sua volta para casa ou para manter o contato
com membros da família mesmo que a criança/ adolescente não possa
voltar para casa. Existem tipos diferentes de acolhimento, incluindo os
emergenciais, curto prazo, e longo prazo.

Acolhimento pode ser imprevisível e inclui uma variedade abrangente de


tarefas. Isto requer muitas habilidades diferentes que você pode já ter, mas
também precisará desenvolver algumas como:
• Ouvir e entender a criança/ adolescente
• Encorajar atividades infantis
• Construir a autoestima da criança/ adolescente
• Desenvolver comunicação com a criança/ adolescente
• Ajudar a criança/ adolescente a ser um “protagonista” e não uma
“vítima”
• Mostrar para a criança/ adolescente como ter cuidados com a saúde
e ter higiene
• Ajudar a criança/ adolescente a entender seu próprio
desenvolvimento
• Apoiar a criança/ adolescente nos estudos
• Apoiar a criança/ adolescente no contato com a família

Um trabalho habilidoso:
• Acolhedores têm um trabalho difícil que pode ser imprevisível.

• Todos os acolhedores devem estar preparados para cuidar de


crianças ou adolescentes que já foram abusados sexualmente.
Algumas vezes esta informação não é conhecida antes que a criança/
adolescente chegue.

• Acolhedores precisam de uma variedade de habilidades. Você pode


já ter várias delas como a habilidade para ouvir e conversar com
criança e adolescentes.

• Algumas novas habilidades precisarão ser desenvolvidas ou


habilidades já adquiridas precisarão ser adaptadas. É necessário
providenciar treinamento para ajudar os acolhedores a fazerem isso.

• Acolhedores não estão sozinhos. Educadores do projeto, assistentes


sociais e psicólogos devem estar sempre disponíveis para ajudar.

9
Trabalhando com outros profissionais:

• Acolhedores trabalham com diferentes profissionais que têm mais


status (no trabalho social) do que as famílias acolhedoras. Isto pode
significar que a opinião dos acolhedores não seria levada tão a sério quanto
a dos outros. Por exemplo, sabendo que a criança/ adolescente veio de um
abrigo e que está sendo cuidado pela família acolhedora, o diretor da
escola da criança/ adolescente pode ter a tendência de se comunicar com o
projeto ou o assistente social antes de se comunicar com a família
acolhedora. Acolhedores precisam ter confiança e apoio para desafiar e
superar situações como essa.

• Acolhedores estão em uma boa posição para certificar que a


educação para a criança/ adolescente tem sido promovida e não
negligenciada.

• Acolhedores também podem providenciar informações importantes


sobre a saúde da criança/ adolescente e preencher algumas brechas que são
comuns no histórico de saúde das crianças e adolescentes que vivem longe
da família.

• Às vezes, outros profissionais não apreciam totalmente que as


famílias acolhedoras tenham acesso à informações relevantes para se ter
um cuidado apropriado da criança/ adolescente.

Alguns comentários de acolhedores

“Às vezes acolher significa ter longas horas, sentando e esperando por
uma criança que, por algum motivo, fugiu.”

“Eu não me vejo como um santo. Eu me vejo como uma valiosa pedra que
possibilita a criança a pisar para prosseguir a caminhada.”

“Mês passado eu testemunhei o nascimento do filho de uma das primeiras


meninas que eu acolhi. Para mim isso foi maravilhoso.”

“O melhor para mim é quando a criança alcança algum objetivo durante


o tempo dela comigo e perceber que fui eu quem ajudou para que isso
acontecesse.”

“Eu acho que às vezes os nossos filhos biológicos se sentiram esquecidos.


Muitas vezes nós pedimos para que eles entendam algo que está muito
além da capacidade deles.”

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Acolhedores . . .

• Ajudam a criança/ adolescente a prosseguir.


• Ajudam a criança/ adolescente a aprender a compartilhar
• Ajudam a criança/ adolescente a autorrespeitar
• Certificam que os direitos da criança/ adolescente são respeitados
• Descobrem os problemas emocionais da criança/ adolescente
• Supervisionam a criança/ adolescente de perto
• Reagem à violência física apropriadamente
• Cuidam de crianças e adolescentes que foram abusados sexualmente
• Ajudam a criança/ adolescente a contar informações importantes
• Lidam com suas fortes emoções
• Preparam bebês para adoção
• Respeitam privacidade e confidencialidade
• Ouvem e escrevem o que é dito
• Negociam com professores
• Trabalham como uma equipe
• Marcam consultas com médicos
• Providenciam alimentação diferente
• Conversam positivamente sobre os pais biológicos
• Lidam com racismo
• Ajudam a criança/ adolescente a ter orgulho de sua herança
• Ouvem quando um adolescente quer conversar
• Dão prioridade ao tempo junto a criança/ adolescente
• Falam em defesa da criança/ adolescente
• Cuidam de uma criança/ adolescente infectada com HIV
• Vão as reuniões

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C) EXERCÍCIOS

Mônica Davi

(5 anos) (13 meses)

Mônica e Davi são miscigenados. Sua mãe é gaúcha e o pai é paulista de


afro-descendência. O pai deles não vive com eles, mas os visita
ocasionalmente, normalmente quando ele precisa de algo. Geralmente as
visitas acabam com os pais brigando e gritando na frente das crianças. As
crianças têm morado com a mãe em condições limitadas. Ela não tem
emprego e tem pouco dinheiro. Ela tem se misturado com “amigos” que
arrumam drogas para ela, mas agora ela quer ajuda para parar. Não há
parentes que possam cuidar das crianças. O Davi não vai para a creche e a
Mônica deveria ir para escola, porém tem muitas faltas.

O professor da Mônica diz que ela está indo bem na escola e que é uma
menina inteligente que gosta de desenho e de livros. O assistente social só
se encontrou duas vezes com a Mônica e a achou quieta e madura.

O Davi é cheio de energia e quer andar para todos os lugares. Ele está
aprendendo novas palavras o tempo todo. Às vezes, quando a mãe estava
usando drogas, ele ficava com os “amigos” dela, mas ninguém sabe quem
eles são. Ele quer atenção, fica com qualquer um sem problema e é bem
teimoso. A Mônica e o Davi se dão bem e ela gosta de proteger o irmão.

Mônica e Davi ficam com uma família acolhedora até que o sistema
judicial possa estabelecer se a mãe está apta a providenciar um ambiente
seguro para as crianças. Ela diz que quer as crianças de volta.

12
1. Como a Mônica e o Davi podem estar se sentindo?

2. O que um abrigo pode oferecer para Mônica e Davi?

3. O que uma família acolhedora pode oferecer para Mônica e Davi?

4. Que outras informações e habilidades a família acolhedora precisaria?

5. Quão certo você pode ser do que acontecerá no futuro nesta situação?

Acolhendo Mônica e Davi


Mônica e Davi irão questionar o que está acontecendo com eles e sentirão
saudades da mãe. Eles irão ter muitas perguntas, provavelmente muitas
delas não serão audíveis. Um lar acolhedor poderia providenciar atenção
individual para eles em circunstâncias incertas. Também poderia ajudá-los
manter contato com a família e outras pessoas importantes na vida deles
como o professor da Mônica e o assistente social que se encontrou com
eles.
Devido a grande possibilidade de se ter acolhedores que não tenham as
mesmas heranças culturais das crianças, é necessário que as características
hereditárias importantes das crianças sejam respeitadas e mantidas pelos
acolhedores de tal forma que as crianças não se sentirão desconfortáveis
com as diferenças hereditárias.
Os acolhedores poderão precisar de informações sobre o passado das
crianças e as pessoas que foram importantes na vida delas. Eles precisam
de informações sobre qualquer questão de saúde física e mental. Eles
precisam entender os efeitos que a separação de pessoas amadas tem nas
crianças, a fim de lidar com as consequências dessa separação.

13
Luiz (13 anos)

Luiz, de 12 anos, chegou a uma das Varas da Infância e da Juventude (VIJ)


de São Paulo apenas com uma mochila nas costas. Além de trazer poucos
pertences, o menino parecia triste. Depois de cinco anos em uma família, a
mãe que o adotou não o quis mais. “Foi devolvido como se fosse um saco
de batatas”, disse a psicóloga da VIJ, que acompanhou o caso. A alegação
da mãe adotiva foi que ele não obedecia mais. “Não aguento mais. Ele
desobedece, falta na escola”, teria dito ela. A intervenção do Conselho
Tutelar não adiantou. O Judiciário propôs uma terapia familiar, mas a mãe
não compareceu. Luiz voltou ao abrigo vivendo a segunda experiência de
abandono.

Na família em que nasceu, o pai o espancava com um pau e foi preso por
tráfico de drogas. A mãe também apanhava do marido, não dava comida ao
Luiz nem banho. Luiz foi parar em uma instituição aos 2 anos, depois de
ser encontrado pela polícia sozinho, aos prantos, com fome e sujo. Como
ele tinha uma avó, o Conselho Tutelar deu-lhe a tarefa de criá-lo, mas ela
não conseguiu. Ao voltar ao abrigo, Luiz estava com hematomas e um
braço quebrado. Ficou ali até ser adotado, aos 7 anos.

O juiz avisou que o menino tinha problemas de anemia, raquitismo e


arritmia no coração, e a mãe adotiva o levou ao medico inúmeras vezes.
Tudo parecia bem. Mas, quando ele entrou na adolescência, a mãe adotiva
teve dois netos e, segundo os técnicos que acompanharam o caso, ela
passou a cuidar mais deles do que de Luiz. “O meu primo nasceu, e minha
mãe só cuida deles”, teria dito antes. Agora, ele está acolhido
temporariamente num abrigo aguardando uma família que possa acolhê-lo.
Segundo o assistente social do abrigo ele está tranquilo e indo a escola
regularmente.

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1. Como Luiz pode estar se sentindo?

2. O que uma família acolhedora pode oferecer para Luiz?

3. Que outras informações e habilidades a família acolhedora precisaria?

4. O que você acha que pode acontecer no futuro nesta situação?

Sendo que Luiz ficou com a família adotiva por 5 anos, ele precisará de
tempo para aprender a lidar com a perda, o abandono, e rejeição. A família
acolhedora poderia providenciar um lugar saudável, seguro, e afetivo para
ele conseguir superar essa fase de sua vida. Ele precisará de tempo para
determinar o que quer agora de sua vida, sendo que o sonho de ser adotado
foi desfeito.

A diferença entre a descrição do seu comportamento pela família adotiva e


o assistente social do abrigo é significativa. Provavelmente, ele se acalmou
no abrigo porque não se sentiu mais rejeitado. A família acolhedora deverá
deixar claro na sua comunicação que ele está com eles por um período
temporário para não criar expectativas de permanecer na família. Isso
poderia ajudá-lo a controlar a sua ansiedade também.

Os acolhedores precisarão de mais informações sobre a sua escolaridade e


seu estado de saúde física. Também, a família necessitaria do apoio de um
acompanhamento psicológico apropriado para ele tratar de seus traumas.

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Florinda (5) e Florismar (10)

Florinda e Florismar são nordestinos. Sua mãe a Sra. Maria Raimunda é


mineira. Ambos são filhos de pais desconhecidos. Vivem com a mãe em
uma comunidade carente na cidade de São Paulo. A Sra. Maria Raimunda
está grávida de seis meses, desempregada, vende material reciclável para
sustento da família. As crianças ficam em situação de rua muitas vezes
ajudando a mãe e não frequentam a escola, correndo o risco de
envolverem-se com usuários de drogas da comunidade.

Por várias vezes, o Conselho Tutelar do Município, notificou a Sra. Maria


Raimunda, sobre a situação das crianças, comunicando a possibilidade de
acolhimento institucional, caso ela não tomasse providência em relação às
crianças. Finalmente, o Conselho Tutelar precisou tirar as crianças e
encaminhá-las ao acolhimento familiar.

A família não está envolvida em nenhum projeto social (Bolsa Família,


Renda Cidadã e Auxilio Moradia) que possa auxiliá-los a sair da situação
de vulnerabilidade em que se encontram.

1. Como Florinda e Florismar podem estar se sentindo?

2. O que uma família acolhedora pode oferecer para Florinda e Florismar?

3. Que outras informações e habilidades a família acolhedora precisaria?

4. O que você acha que pode acontecer no futuro nesta situação?

16
Acolhendo Florinda e Florismar

Florinda e Florismar provavelmente devem estar sentindo-se


desamparados e confusos com a situação. O fato de que eles ajudaram a
mãe a recolher recicláveis poderia demonstra um vínculo de afetividade
com ela. Eles se sentirão divididos entre a lealdade para com sua mãe e
para com a futura família acolhedora.

Os acolhedores precisarão de mais informações sobre as circunstâncias que


levaram as crianças a serem retiradas da mãe. A primeira impressão é que
talvez eles foram retirados por causa da pobreza, muitas vezes uma
criança/ adolescente nessa situação sente-se injustiçado, manifestando seu
desagrado através do seu comportamento (ex. agressivo, introvertido,
revoltado). Os acolhedores precisariam de estratégias para lidar com elas.

Como os dois não foram a escola por muito tempo, os acolhedores terão
que providenciar reforço escolar para ajudá-los a recuperar o tempo
perdido.

17
ALGUNS PONTOS PARA LEMBRAR

• Acolhimento é complexo – envolve as emoções das pessoas.

• Crianças e adolescentes de todas as idades têm sentimentos e,


normalmente, estes são contraditórios. Todos irão enfrentar emoções
diversas associadas à separação e perda. As crianças/ adolescentes devem
ser ouvidas e suas emoções e percepções devem ser levadas a sério.

• Acolhimento envolve a família biológica da criança/ adolescente.

• Quando uma criança/ adolescente vai morar com uma família


acolhedora, este processo deveria ser parte de um plano para a criança/
adolescente. Cada plano é diferente. Para alguns isso quer dizer que o
acolhimento será de curto prazo, demorando alguns meses. Mas, para
outros pode significar muitos anos de acolhimento.

• Acolhimento significa trabalhar com outros profissionais como


assistentes sociais, profissionais da saúde e professores.

• Acolhedores precisam de todas as informações corretas disponíveis


sobre a criança/ adolescente ou adolescente para que possam acolher de
forma efetiva.

• Padrões apropriados de higiene são importantes em todos os lares


acolhedores de acordo com as normas culturais.

• As expectativas dos acolhedores, quanto a criança/ adolescente que


eles estão acolhendo, devem ser realistas.

18
D) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES QUE ACOLHEM
Se você tem seus próprios filhos, agora é o tempo de conversar sobre
medos, ansiedades, assim como os benefícios que o acolhimento irá trazer
para eles e discutir como eles terão que se adequar a essa nova situação.

Pesquisas mostram que no início do acolhimento, as expectativas dos


filhos biológicos dos acolhedores eram bem diferentes das de seus pais.
Ainda que preocupações surgissem das duas partes, os filhos dos
acolhedores eram mais interessados na própria pessoa da criança/
adolescente que viria morar com eles. Eles pensavam sobre aparência
física, se as crianças/ adolescentes seriam bagunceiros ou barulhentos e
como eles reagiriam ao irem morar com eles. Mais especificamente, os
filhos mais novos pareciam mais ansiosos para saber se a criança/
adolescente acolhido iria gostar deles, ainda que adolescentes pensassem
mais sobre quão honesto e confiável as crianças e/o adolescentes seriam.

Se você já tem filhos, trabalhe em cima das questões abaixo com eles ou
peça para que eles mesmos completem o questionário.

1)Eu estou animado para ter uma criança e/ou adolescente morando aqui
porque…….

2)Eu poderei fazer estas coisas com a nova criança/ adolescente acolhido .
...

3) Eu estou preocupado com este acolhimento porque……

4) Coisas boas que irão mudar para mim são……

5) Coisas nem tão boas que irão mudar para mim são……

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Comentários de pesquisas com filhos de acolhedores:

“Os filhos dos acolhedores se preocupam mais em ter que compartilhar


suas coisas”

“Os filhos dos acolhedores recebem menos informações sobre a criança/


adolescente do que os seus pais. Eles se sentem confrontados por uma
criança/ adolescente a quem eles não entendem, talvez se sentindo
ameaçadas e não gostaram disso. Apesar disso, eles são colocados na
posição de aceitar e serem amigos da criança/ adolescente.”

“A maioria dos filhos de acolhedores disse que gostou do acolhimento.


Eles gostaram de ter uma criança/ adolescente por perto e de viver em
uma família grande.”

20
E) OS BENEFÍCIOS DO ACOLHIMENTO

Alguns comentários de quem já experimentou o acolhimento.

“Eu acho que agora eu sou muito mais tolerante com as pessoas – eu
entendo o problema das pessoas muito melhor. Eu também gosto de um
desafio. O menininho que eu acolhi agora era muito mal visto pela última
família que o acolheu – eles ficavam me ligando perguntando se eu sabia
como seria difícil e que talvez fosse um desafio muito grande. Com isso eu
tive determinação de que faria de tudo para que ele se tornasse uma
criança diferente e ele é agora. Ele é um menininho muito lindo.”

“Eu acho que nós tivemos a satisfação de acolhermos algumas crianças


em casa e ver a coisa funcionando. Nós sentimos que essa era a coisa que
nós realmente queríamos fazer e nossa família sentiu isso também.
Definitivamente eu amadureci bastante e coisas que eram importantes
antes, eu decidi que não seriam mais agora; como, por exemplo, a hora
em que eu vou para cama dormir. Eu aprendi a disciplinar cada criança
de acordo com sua necessidade; eu aprendi que toda criança é diferente.”

“Eu nunca iria acreditar que eu poderia me dar tão bem com as crianças
como eu vejo agora. Eu aprendi que a gente deve ser muito mais paciente
com crianças do que a gente era, simplesmente porque eles vêm até nós
precisando tanto amor e compreensão.”

“Desde o início eu sabia que eu queria acolher crianças, porque eu


sempre senti que as crianças devem ter um lar permanente e não ficar
morando em instituições. O que eu aprendi com isso tudo é como
trabalhar com crianças que estão experimentando um tempo difícil e ter
paciência com elas. Quando você começa, você não tem certeza se está
fazendo as coisas certas e se pergunta: Será que fiz tudo que eu podia?
Existe algo mais que poderia ter feito? Mas, no decorrer do tempo você
desenvolve técnicas de saber se você preparou uma criança e quando elas
estão prontas para seguir em frente.
“As recompensas são grandes”

21
Mais alguns comentários.

“Uma das coisas que a gente tenta dar às crianças é o sentimento de


que elas são importantes e o que elas fazem é importante.”

“Quando uma criança não sabe tomar banho, usar garfo e faca e tem
uma autoimagem bem fraca, puxa! Mas, quando eles deixam a nossa casa
sabendo que eles são realmente alguém, é aí que eu sinto que eu realmente
consegui fazer algo.”

“Mas quando essas crianças vêm a você e mostram todo o amor que
elas deveriam estar dando aos seus pais biológicos, essa é a maior
recompensa de todas. Aí você sabe que tudo o que você fez, todas as
dores de cabeça e dificuldades, tudo o que você investiu neles não foi em
vão.”

“Tem sido bom para nossa filha. Tem ajudado ela a entender que
existem pessoas menos favorecidas e que assim a gente pode ajudar um
pouco. Nada de muito grandioso, a gente vai somente compartilhar o
nosso prato de comida com uma criança que precisa um lugar para
morar.”

“Quando uma criança vem a nós e não é muito boa em fazer coisas e aí
ela muda e traz boas notas da escola, isso faz nos sentirmos muito
orgulhosos.”

“Nós sentimos que estamos fazendo algo para alguém e isso é bom.”

“Dar um bom começo para uma criança é o que realmente importa.”

“Quando ela veio para casa e disse que tinha se inscrito para o coral -
uma menina que sempre se sentiu incapaz de fazer qualquer coisa e
nunca quis tentar nada – eu nem sei como dizer como todos nós nos
sentimos bem. Eu espero que isso irá acontecer com você também.”

22
“Quando eu digo que elas são como nossas próprias crianças, eu falo
sério. Com as de 16 e 17 anos de idade dá para sentir muito amor
porque nós realmente sentimos que eles são como nossas próprias
crianças.”

“Algumas das crianças que nós acolhemos cresceram, conseguiram o seu


próprio lugar para morar, tiveram seus próprios filhos e ainda vêm nos
visitar. Às vezes a gente até cuida de seus filhos como se fôssemos avós. O
nosso relacionamento não acabou mesmo depois que o processo de
acolhimento acabou. Nosso relacionamento pessoal continua da melhor
maneira possível.”

23
Use esta página para fazer um resumo do que você aprendeu sobre
acolhimento e sua própria contribuição para isso. Escreva também
qualquer passo que você deva tomar agora.

Resumindo
Algo que eu aprendi sobre crianças/ adolescentes em acolhimento…..

Algo que eu aprendi sobre ser acolhedor…..

Eu preciso aprender mais sobre…

Eu preciso falar com meus amigos, filhos e família sobre...

Coisas que vão ter que mudar na minha casa e família...

Qualquer outra coisa que eu preciso considerar. Exemplo: eu tenho


tempo para acolher?...

24
CAPÍTULO 2 O INÍCIO DO ACOLHIMENTO

A) RECEBENDO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE

Mudar de um lugar conhecido para um desconhecido é difícil para


todos nós. Receber uma criança/ adolescente na sua casa irá ser difícil
para a criança/ adolescente assim como para você e sua família. Talvez
essa mudança foi só uma das várias pela qual a criança/ adolescente já
passou. Esta parte da apostila aponta como as crianças/ adolescentes
podem reagir às mudanças e ajudará os acolhedores a estarem mais
preparados para os conflitos das primeiras semanas.

Mensagem Lidar com uma criança ou adolescente e sua família biológica


não é fácil, mas você não pode desistir no primeiro sinal de
dificuldade. É sobre o futuro de uma criança/ adolescente que
nós estamos lidando, você não pode devolvê-los como se fosse
uma televisão quebrada. Você precisa segurar firme porque
alguém precisa ter um compromisso com essa criança ou
adolescente.

Objetivos Nesta parte nós queremos:

• Reconhecer que nossa experiência familiar não é, necessariamente, a


mesma que todo mundo.

• Reconhecer alguns dos sentimentos que a criança/ adolescente traz


com ele para a família acolhedora.

• Tentar entender os tipos de comportamento que a criança/


adolescente tem e que são consequências das constantes mudanças.

• Pensar sobre como nossos amigos e família podem reagir à chegada


da criança/ adolescente.

25
INFORMAÇÃO DO CONTEXTO

Abaixo estão alguns elementos importantes da informação que os


acolhedores precisam ter a fim de tornar aquelas primeiras semanas um
pouco mais confortáveis.

Situação judicial da criança/ adolescente


Razão para a criança/ adolescente precisar de acolhimento
Possíveis contatos com a família

Informação médica:
Alergias
Vacinas
Saúde bucal
Internação em hospital

Lugares por onde a criança/ adolescente já esteve


Quanto tempo a criança/ adolescente não vive com os pais?
Quantas vezes já morou em abrigo ou em outra família acolhedora?
Motivo para as mudanças

Comportamentos significativamente difíceis:


No que a criança/ adolescente precisa de cuidado especial?
Fobias particulares

Habilidades especiais e adquiridas

Educação:
Que escolas eles frequentaram
Qual o desempenho deles na escola

26
Interesses especiais/hobbies

Nome que a criança/ adolescente gosta de ser chamada

Brinquedo favorito

Comida:
Que gosta
Que não gosta

Dormir:
Cochilo
Problemas
Hora de ir para cama
Rituais

Roupas:
Problemas para se vestir
Roupas favoritas
Estilos preferidos

Atividades religiosas

Responsabilidades na casa

Quais outros itens você quer adicionar na lista?

27
AJUDANDO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE A SE SENTIR EM
CASA

A família acolhedora da criança/ adolescente precisa saber o máximo


possível o que pode esperar. Você deve pedir para o assistente social te
contar quais problemas esperar e o que você pode fazer para ajudar. Você
deve ter a oportunidade de conversar sobre isso com o resto da família.

Para ajudar a criança/ adolescente a se adaptar nas primeiras semanas, você


pode preparar as comidas que ele gosta e tentar manter algumas das rotinas
que ele está acostumado, como hora de comer, de dormir e questões de
higiene.

Durante o período inicial do acolhimento, tente reproduzir o quanto


possível, algumas coisas com as quais eles se sentem seguros. Se as coisas
que você faz não estão de acordo com as que ele estava acostumado, tente
explicar porque você faz ou não faz essas coisas. Mas cuidado para não
julgar a família da criança/ adolescente, principalmente na frente dele.

Como as crianças/ adolescentes acolhidos nos chamam

“Tia e tio” -“Mamãe Joana / papai João” -“Senhor e senhora....”

Você pode ter algumas preferências quanto ao modo como a criança/


adolescente vai te chamar, mas a criança/ adolescente pode ter preferências
também. Talvez ele nem tenha muita consistência chamando o marido de
“papai João” e a mãe de “tia Joana”. Os nomes podem mudar na frente de
outras pessoas também. Como vocês devem se chamar no caso de um
acolhimento a longo prazo?

Para muitos casos, a escolha dos nomes não é um assunto desinteressante.


Isto pode significar dicas muito importantes para desvendar sentimentos.

Como você espera que a criança/ adolescente irá te chamar?

28
SENTIMENTOS DIFERENTES DE PERSPECTIVAS
DIFERENTES

O que eu quero Como os acolhedores podem


saber? ajudar nas respostas?

Criança/ adolescente
Para onde eu vou? O que eu fiz? Onde
está minha mãe, ela está bem? Vai ter um
cachorro? Vai ter outras crianças?

Pais
Para onde ele vai? Quando eu a verei? O
que eu fiz? Por que eu não fiz mais
perguntas? Por que eu deixei isso
acontecer?

Assistente Social
Será que eles vão? Eu cuidei de todos os
documentos? Tinha mais alguma
informação para dar? Será que eu podia
prepará-los melhor?

Família acolhedora
Como será que vai ser? Eu escolhi as
coisas certas para comer? Será que ele vai
gostar?

Filhos da família acolhedora


Será que ele vai ficar no meu quarto?
Será que ele gosta de música? Espero que
ele não queira usar minha bicicleta.

29
MUDANDO PARA UMA FAMÍLIA ACOLHEDORA

O modo como a família recebe a criança/ adolescente é muito importante

Perguntas:

Algumas perguntas que as crianças/ adolescentes podem ter em mente


quando se mudarem para a família acolhedora.

• Quais os nomes das pessoas com que eu vou morar?


• Como eu os chamo?
• Tem outras crianças? Menino ou menina? Quantos anos elas têm?
• Como eles são?
• Em que tipo de casa eles moram?
• Por que eu tenho que me mudar?
• O que eu fiz de errado?
• Por que eu vou morar com eles?
• Os meus pais sabem onde eu estou?
• Como eu falo com eles se eu precisar?
• Quando eu vou ver meus pais de novo?
• Para onde meus irmãos vão?
• O que vai acontecer com eles?
• Quanto tempo eu vou ficar lá?
• Quando eu vou ver o assistente social de novo?
• Se eu precisar eu posso falar com ele?
• Eu vou ter que ir para escola, uma diferente?
• E as coisas que eu tenho (roupas, brinquedos etc.)?
• O que essa família sabe sobre mim?

30
COMO OS ACOLHEDORES PODEM AJUDAR?

Sugestões de adolescentes que viveram em abrigos

1. Não julgue ou seja negativo sobre as experiências passadas das


crianças/ adolescentes.

2. Não critique os pais biológicos ou amigos das crianças/


adolescentes, mesmo que eles mesmos façam isso.

3. Saiba que a criança/ adolescente, provavelmente, tem sua fidelidade


dividida.

4. Valorize a educação da criança/ adolescente. Para alguns, uma


educação decente foi o fator mais valioso enquanto estavam em
acolhimento.

5. Deixe a criança/ adolescente trazer à tona seus problemas no seu


próprio tempo.

6. Entenda que eles podem ter muito que falar sobre sexo e
sexualidade, ouça-os.

7. Dê a eles tempo suficiente para tomar decisões importantes.


Verifique se eles realmente estão sérios sobre o que dizem.

8. Dê espaço para a criança/ adolescente poder falar com o assistente


social em particular. Isto pode ser muito importante quando a
criança/ adolescente mora com uma família acolhedora pela primeira
vez.

9. Respeite os direitos das crianças/ adolescentes porque isso as ajuda a


criar um senso de valor próprio.

10. Reconheça que as crianças/ adolescentes têm o direito de esperar


segurança e disciplina.

11. Não culpe as crianças/ adolescentes automaticamente quando os


problemas surgirem e o acolhimento começar a seguir um caminho
errado.

31
B) COMO A CRIANÇA/ ADOLESCENTE PODE SE SENTIR

O que acontece quando uma criança/ adolescente é tirada de sua casa?

Sentimentos de perda (Separação) Se afastando – da família acolhedora.


Um tempo de afastamento onde a
Crianças/ adolescentes sentem criança/ adolescente fica hesitante,
profundamente a perda pessoal quando deprimido e desconfiado. Por isso, ele
são separados de suas famílias. Eles busca ficar sozinha com ele mesmo ou
perderam as pessoas mais importantes de com alguma coisa.
suas vidas. Eles perderam suas casas e
também todos os padrões familiares com
os quais eles estavam acostumados. Eles
também perderam a comunidade e, com Indo contra – a família acolhedora.
isso, tudo o que formava os seus mundos. Quando a criança/ adolescente é
constantemente rebelde e exigente com
a família acolhedora, expressando raiva
Reação à perda (Separação)
e hostilidade para com eles.
As reações das crianças/ adolescentes
diante da perda variam, mas sempre
interrompe seu desenvolvimento Ajustando
emocional. Eles podem se sentir,
abandonados, rejeitados, sem ajuda, sem As crianças/ adolescentes trabalham no
valor e até responsáveis pelos problemas seu ajustamento de maneiras diferentes
de suas famílias. Eles podem até desejar em estágios e em períodos de tempo
se punirem por isso. diferentes..

Em geral, o período para uma criança/ Um ajustamento saudável começa


adolescente se acostumar com uma quando a criança/ adolescente aparenta
família acolhedora pode ser descrito por estar mais feliz, mais contente e
um padrão que inclui. autoconfiante, estando mais apto para
mostrar e resolver seus sentimentos de
raiva e ansiedade.
Indo na direção - da família acolhedora.
Isto pode ser como uma lua de mel onde
a criança/ adolescente é prestativa e bem
comportado, mas cheia de ansiedades, se
sentindo indiferente, isolado e perdido.

32
A criança/ adolescente pode
se sentir –
Com medo “Ele parecia tão angelical, mas
Deprimido quando ninguém estava olhando
Com raiva ele fazia de tudo para destruir os
Ansioso brinquedos dos meus filhos”.
Indiferente
Desconfiado Ele podia estar se sentindo
Satisfeito
Autoconfiante
Feliz
Hostil
Irreparável
Sozinha “Sempre que nos sentávamos para
a refeição ela nunca tocava na
Que outros sentimentos? comida até que todos tivessem
comido primeiro”.

Ela podia estar se sentindo


O que está envolvido aqui?

A seguir estão algumas


experiências de algumas famílias
acolhedoras. Para cada exemplo,
escolha uma ou mais palavras que
podem descrever os sentimentos
da criança/ adolescente envolvida.
Toda família acolhedora
“Um dos momentos mais desenvolve seus próprios métodos
frustrantes para mim foi quando a de reconhecer situações que
criança/ adolescente fugiu pela surgem e lidar com elas. Aqui
primeira vez”. estão algumas frases de famílias
acolhedoras.
A criança/ adolescente podia estar
se sentindo

33
Como você reagiria às situações
seguintes?

“Ele está conosco há 9 meses e “Nós não podíamos sair porque


ainda tem muita raiva nele, mas ela destruiria a casa e causaria
eles está começando a chegar no uma grande bagunça.”
ponto em que pode falar um
pouco sobre sua mãe e seus
sentimentos.” O que você faria?

Eu poderia………….
O que você faria?

Eu poderia………….

“Ela tinha três anos. Nós nem


podíamos crer, ela era tão capaz.
Ela mesma se vestia, nos ajudava
“O pequeno menino que nós a cuidar do seu irmãozinho. Hoje
pegamos grita sempre que nós nós percebemos que ela era
saímos da sala e quer ser pego no quieta demais e boa demais.”
colo”.

O que você faria? O que você faria?

Eu poderia……… Eu poderia……….

34
CONSTRUINDO ENTENDIMENTO

A criança/ adolescente se
Uma situação: Eu sentiria ……. sentiria…
“Uma criança/ adolescente
vai para sua casa e não sabe
tomar banho aos oito anos de
idade”.

“Ele não sabia o que era um


tomate e tinha medo dele.”

“Ela é uma adolescente e não


sabia qual era o seu mundo.
Ela se recusava a ir para
casa”.

“Eu decidi levar o mais velho


para o cabeleireiro. Quando
eles começaram a cortar seu
cabelo, bichos iam saindo
dali.”

“Ele era uma criança que foi


tão negligenciada que ele
estava acostumado a comer
com a mão qualquer coisa
que aparecia na sua frente.”

“Ela se jogava no chão e


gritava. Ela gritava com
você, derrubava tudo que
estava na prateleira e
arremessava a comida.”

“Quando eu entrei na sala ele


tinha riscado o nome dele
bem em cima da nossa mesa
de jantar.”

35
Por que? O que podemos fazer é ...

36
C) CRIANÇAS/ ADOLESCENTES FALANDO

Aqui estão dois poemas muito distintos escritos por jovens que estiveram
sob a guarda do sistema público. Lendo-os, o que você pensa sobre eles?

Você se lembra de um momento na sua vida em que você estava confuso


sobre quem você era e onde você estava?

Eu sou eu

Não faz diferença de que maneira eu chego


Se timidamente me apresento ou se furioso entro no aposento
Ou sendo carregado do carro da assistente social enquanto chorando
Eu estou aqui.

Eu não era ruim, mas muito triste


E às vezes nem tão limpo
Mesmo que as roupas que uso não fossem do tamanho certo
Elas são minhas.

Estenda a sua mão


E me ajude a achar o meu lugar dentro do plano
E me ajude a fazer parte do plano
E vamos fazer isso funcionar, para que logo possam me mandar
de volta para casa?

Meus pais tentaram


Mas muitas vezes as coisas desandaram
E parecia que ninguém queria entender
O meu lugar.

Então eu estou aqui


E vou usar o seu lar
E juntos vamos construir um caminho melhor
Para mim.

(Escrito por um adolescente acolhido)

37
Eu Nasci

Eu nasci, mas não tinha nome


Eu, uma foto, mas não tinha moldura
Eu, um menino branco, mas coberto de cinzas
Eu, um menino negro, longe de sua raiz
Eu nasci menino negro, negro por uma noite
Eu nasci negro e fui forçado a ser branco
Eu nasci em sessenta e sete
Eu sei que é inferno, eles dizem que é céu.
(Lemn Sissay)

Que tipo de ansiedades e confusões você reconhece nesses dois poemas


escritos por jovens?

O que você, como família acolhedora, pode fazer sobre isso?

Não há nada que substitua a atenção que damos para ouvir as


crianças/ adolescentes e jovens. A vida é deles e eles vão,
eventualmente, ter que controlá-la.

38
Crianças e adolescentes falando

Ouvir aquilo que criança e adolescentes têm a dizer sobre acolhimento vai
ajudar você a desenvolver o seu papel como família acolhedora.

Pontos para considerar

• Leve as opiniões de crianças e adolescentes a sério.

• Não subestime os sentimentos de medo e confusão da criança ou


adolescente quando chegando numa família acolhedora, mesmo que ele ou
ela tenha tido experiências negativas em casa e pareça estar feliz ao chegar.

• Educação é negligenciada frequentemente. Isto jamais deveria


acontecer.

• Crianças e adolescentes precisam ser ajudados para desenvolverem


um senso de responsabilidade pessoal. Isto é alcançado mais facilmente
através de respeito e confiança mútuo do que através de simplesmente ser
rígido.

• Crianças e adolescentes de origem mista (com duas ou mais


heranças) muitas vezes precisam de mais ajuda para preservar e valorizar
as diferentes partes de sua herança, que muitas vezes são menosprezadas e
às vezes até negadas.

• Uma crescente consciência de sexo e identidade sexual é uma parte


natural do processo de desenvolvimento de todas as crianças e
adolescentes, mas as experiências de algumas criança e adolescentes
acolhidos podem levar a uma significância adicional.

• O plano para quando o jovem deixa a família acolhedora precisa ser


considerado desde o início e não somente quando o dia de partida chega
perto.

39
QUAL É A SENSAÇÃO DE SER ACOLHIDO

“Eu era muito novo quando entrei em uma família acolhedora. No começo
era como um pesadelo. Foi muito difícil… Com o passar do tempo eu me
acostumei”.

“Deixar minha família para traz foi como um grande suspiro de alívio, mas
ao mesmo tempo era amedrontador”.

“No começo você está com medo demais para dizer qualquer coisa.
Sempre dizendo ‘sim, por favor’ e ‘não, obrigado’ tentando ser o mais bem
educado possível”.

“Quando você recebe uma família acolhedora boa, você tem a sensação de
pertencer a algum lugar e a alguém e que você não está sozinho”.

Escola

“Meus colegas sempre pensavam que por eu estar em um abrigo, eu


deveria ser algum criminoso. Era como se eu fosse um marginal e mesmo
que quisesse ser amigo deles, eles não queriam estar perto de mim.”

“Começar em uma escola nova é terrível, fazer novos amigos e todas essas
coisas.”

Valorizando quem você é

“Eu sou escocês e venho de outra cultura do que as pessoas inglesas têm,
mesmo que muitas pessoas não enxerguem isso assim. Existe diferença e
várias das minhas famílias acolhedoras não respeitavam a minha cultura
escocesa.”

“Algumas crianças tiram sarro de mim por eu estar em uma família


acolhedora e às vezes eles são meio racistas.”

“Minha mãe é branca e meu pai é negro. Carmen, minha mãe acolhedora
está me ajudando a entender a minha origem”.

40
Mantendo o contato

“Eu era difícil porque fui mandado para uma família acolhedora que
morava longe da minha mãe.”

“Eles achavam que a coisa mais importante sobre mim era a minha religião
e não o meu relacionamento com minha mãe. Ninguém me perguntou o
que era a coisa mais importante para mim.”

Seguindo em frente

“Eu ainda não deixei de estar debaixo do sistema sócioassistencial. Eu


tenho quase dezoito anos e vou ser emancipado logo. Eu estou meio que
flutuando entre as duas coisas, mas eu não acho isso assustador, porém é
difícil. Eu não acho assustador porque sempre têm pessoas para quem eu
posso voltar.”

“Deixar o acolhimento é assustador porque quando você é cuidado, tudo é


feito para você.”

“Eu que muitos jovens voltam para a família acolhedora só para ganhar
um pouco mais de força para prosseguir na vida.”

41
D) AFETANDO O DESENVOLVIMENTO

Criança e adolescentes se desenvolvem o


tempo todo.

Experiências passadas afetam o desenvolvimento da criança/


adolescente

O tempo deles com você


afetará o desenvolvimento
deles.

Como o tempo deles com você pode contribuir para o desenvolvimento


deles?

42
Expectativas coisas. Entenda que para das coisas que eles
ser parte da sua família e aprendem é quem eles
realistas são e quem são as
se acostumar como os
É extremamente outros, a criança precisa de pessoas. Eles aprendem
importante para os pais ter sobre eles mesmos a
tempo para aprender como
expectativas realistas de o partir de como os
sua família é e como fazer
que seus filhos podem outros a tratam.
para te agradar. Não pense
fazer em diferentes idades que ao assumir algumas Com as interações que
e estágios da vida. responsabilidades, a eles veem e participam,
Algumas crianças se criança já se sente parte do as crianças estabelecem
desenvolvem mais rápido grupo. Esteja certo de que seus próprios padrões e
que outras. Uma criança a responsabilidade dada é expectativas de
pode fazer mais do que se uma que a criança possa relacionamentos
esperam dela na idade e fazer. Sucesso e elogios
fase em que ela está. irão ajudar a criança a Conceito próprio: Os
concluir que elas têm primeiros sentimentos
Existem muitos fatores que a criança tem sobre
responsabilidades como os
envolvidos para determinar ela mesma como pessoa
outros têm, mas que eles a
o quanto uma criança pode vêm da vida diária com
fazem bem e contribuem
fazer, inteligência, sua família. Conforme
para o grupo.
educação e experiências. elas começam a interagir
Em qualquer idade existe com amigos e pessoas de
um tipo de comportamento
Como crianças
fora, as crianças
normal que alguém deve diferem de adultos encontram valores
esperar da criança. Dependência: Todas as diferentes dos que ela
pessoas são dependentes aprendeu em casa, assim
Às vezes, mesmo crianças de outras para companhia elas adicionam novos
inteligentes e saudáveis e senso de segurança, mas heróis e modelos para
têm problemas em certas crianças, além disso, são identificação. Com o
áreas que os fazem parecer dependentes de outros
crescimento da
mais novos do que são. para suas necessidades de
autoconsciência, elas
Isso pode ser verdade sobrevivência diária. A
preocupação de um adulto percebem que pessoas
especialmente para gostam ou não delas, as
com o bem-estar de uma
crianças acolhidas que vê como amigos, membro
criança é extremamente
podem ter vivido com importante para ela. do grupo etc.
tensão e preocupação. Com Crescimento para a O autorrespeito da
crianças assim, você deve independência acontece criança cresce conforme
considerar as habilidades quando uma criança pode ela ganha confiança em
que elas parecem ter e não contar com a ajuda de um suas próprias
as que você pensa que elas adulto que se importa. habilidades e reconhece
devem ter e tratá-las por que ela pode afetar o
aquilo que elas já têm. Aprendizado constante: mundo a sua volta. Mas,
O crescimento das as crianças só podem
Quando em dúvida sobre a crianças parece investir sua energia em
acontecer do nada, mas desenvolver
preparação da criança,
eles estão aprendendo competência e
ajuste suas expectativas sempre com as
para que a criança tenha autoconfiança quando
experiências diárias e a elas se sentem seguras
sucesso em pequenas vida ao redor deles. Uma na vida diária.

43
Dependência: Desenvolvimento de um senso de aprendizado próprio e
constante são características básicas na infância. Mas, crescer é mais difícil
para crianças e adolescentes acolhidos. Eles precisam de mais ajuda para
crescer e você pode precisar de ajuda para suprir as necessidades deles.

Confiança: Interrupções no desenvolvimento podem significar que a


criança/ adolescente acolhido não consegue desenvolver o sentimento de
que as pessoas são dependentes.

Como você pode ajudar uma criança/ adolescente a desenvolver confiança


quando seus pais continuam prometendo coisas que nunca fazem?

O que você pode fazer por uma criança/ adolescente que teme te dizer o
que ele sente?

Autoconfiança: Experiências infelizes e ameaçadoras geralmente fazem


parte da vida das crianças e adolescentes acolhidos. Autoconfiança parece
desaparecer ou nunca se desenvolve.

Como você pode ajudar uma criança de dez anos que tem medo de atender
o telefone, ir em reuniões ou fazer coisas por ela mesma?

Como você pode ajudar um adolescente de treze anos que ainda faz xixi na
cama?

Escreva aqui uma maneira específica com a qual você pode encorajar a
autoconfiança de uma criança/ adolescente na sua casa

44
Sendo produtivo: Crianças/ adolescentes acolhidos podem achar difícil
desenvolver um senso de satisfação com seus esforços. Algumas crianças/
adolescentes perderam o desenvolvimento de desejar aprender novas
coisas ou de persistir naquilo que começaram. Incertezas nas suas vidas
contribuíram para um sentimento de inferioridade ou uma atitude de
indiferença.

Como você responde a uma criança/ adolescente que diz não conseguir
fazer diversas coisas (lição de casa, andar de bicicleta ou finalizar um
projeto)?

Qual é um modo específico com o qual você pode contribuir para a


criança/ adolescente ter as habilidades para fazer as coisas bem?

45
E) CONFIDENCIALIDADE
Todos nós temos informações pessoais ou coisas sobre nós mesmos que
nós escolhemos compartilhar com pessoas que confiamos.

Crianças e adolescentes acolhidos também chegam com uma bagagem


pessoal, muitas vezes com experiências dolorosas. Eles têm que confiar em
muitos adultos para saber quando, onde e como o compartilhamento de
informações confidenciais será para o bem deles.

Isto não é sempre rápido. Quem deve confiar em quem? Quem deve
compartilhar informações e por quê?

Como você lidaria com as seguintes situações?

1. Uma amiga sua que foi pegar sua filha na mesma escola que a criança
acolhida por você diz: Minha filha disse que a criança que você acolheu
já foi obrigada a fumar cigarros. Que terrível. É verdade? Por que
fazem essas coisas? Pobre menino.

2. Você (acolhedor) chegou em casa na sexta de noite e fica sabendo que


sua esposa acolheu, emergencialmente, uma menina de 10 anos. Ela
chegou com a assistente social que não deu nenhuma informação. Na
segunda, durante o almoço, um colega diz: Eu fiquei sabendo que você
acolheu a filha daquele cara que foi preso no fim de semana. Como ela
é?

3. Pedro tem doze anos. Ele foi para sua casa três meses atrás e ficará com
você a longo prazo. O pai dele está cumprindo 5 anos de prisão por
pedofilia – a mãe de Pedro deixou a casa assim que ele nasceu. Ele
ainda não sabe a razão do pai ter sido preso e disseram para você não
contar para ele ainda.

46
Uma noite Pedro chega e vai direto pro quarto, visivelmente aborrecido.
Quando você conversa com ele, ele diz que estava na casa do melhor
amigo e viu uma menininha cair do balanço. Ao tentar ajudá-la, a mãe
dela gritou com ele e disse para ele não tocar nela porque ele era tão
sujo quanto o pai. O que ela quis dizer com isso? – ele pergunta.

4. Quando você estava sendo aprovado para ser uma família acolhedora,
você, confidencialmente, disse que tinha uma queixa da polícia por um
pequeno furto quando tinha 16 anos. Você tem sido uma família
acolhedora por 3 anos e uma nova assistente social que espera que você
receba uma adolescente, menciona o seu problema com a polícia.

5. O diretor da escola liga para família acolhedora: “Por favor compareça


na escola. A adolescente que vocês acolheram contou para a professora
(depois de ela ter prometido que não contaria para ninguém) que o
vizinho de vocês a assediou sexualmente.” Seu vizinho é um senhor
gentil cuja esposa morreu no ano passado. Por ele viver sozinho, vocês
o têm convidado para o almoço de domingo. Ele geralmente brinca com
as crianças mais novas e eles gostam dele como um avô. A adolescente
mora com vocês há dois meses.

Você acha que alguma dessas situações poderia ter sido evitada?

Qual ação você, como família acolhedora, deveria ter?

47
CAPÍTULO 3 ORIGENS SÃO IMPORTANTES

Este capítulo introduz alguns dos maiores problemas envolvidos em


cuidar de crianças/ adolescentes abandonados e traumatizados. Em
particular, isto enfatiza a importância de ajudar a promover um senso
positivo de identidade.

“Era como se eu não tivesse um passado, uma casa ou família. Eu tinha


que lutar para ter meus próprios amigos, ver a minha irmã e escolher o
que eu queria ter no meu quarto. Não é que era de propósito, mas o
assistente social e a família acolhedora não pensavam sobre os meus
sentimentos.”

Mensagens chave

• Toda criança e adolescente tem um passado que deve ser valorizado


e respeitado, a força da história deles deve ser construída.

• Algumas crianças e adolescentes terão sido descriminadas. Parte da


responsabilidade da família acolhedora é desafiar essa descriminação
quando a vê acontecendo.

• É importante para toda criança e adolescente desenvolver um senso


positivo de identidade; famílias acolhedoras devem ajudar a promover isso.

• Criança e adolescentes têm direitos, mas só podem exercê-los se


alguns adultos os ajudarem.

O exercício seguinte está ligado às afirmações acima. Ele pode ser feito
durante o curso ou depois. Alguns podem ser compartilhados com a
família e amigos. Eles precisam aprender e entender mais sobre os
problemas com os quais a família acolhedora tem que lidar.

48
QUEM EU SOU HOJE TEM A VER COM ONTEM

Escreva aqui algumas das suas memórias mais antigas de sua infância.

Eu me lembro…

Eu me lembro ....

Eu me lembro …

Criança e adolescentes acolhidos têm dificuldade para se lembrar de seu


passado, mesmo quando é falado para eles. Você pode ajudá-las a colocar
a vida deles em ordem conectando o presente deles com o passado e o
futuro.

Algumas perguntas que assistentes sociais e famílias acolhedoras


normalmente ouvem de crianças/ adolescentes abandonados:

Com quem eu pareço? Onde eu nasci? Quanto eu pesava quando eu


nasci? Quem escolheu meu nome? Como eu era quando era bebê? Quem
cuidou de mim? Eu tive alguma doença? Alguém guardou alguma
lembrança desse tempo? Tem alguma razão genética para eu ser bom em
algumas coisas? Meus pais trabalham com o que? Qual o nome completo
deles? Quais os nomes dos meus avôs? Onde minha família mora? Alguém
tem fotos da minha família? Eu tenho algum irmão ou irmã? Qual o nome
deles? Eu tenho outros parentes? Eles sabem onde eu estou? Eu tenho
valor para alguém?

Uma das maneiras para ajudar as crianças/ adolescentes a fortalecer suas


raízes é manter um diário da vida da criança/ adolescente.

49
VOCÊ SABE COMO VOCÊ TEM ESSE NOME?
Quem escolheu seu nome?

Qual a origem dele?

O que ele significa para você?

Você gosta dele ou não?

Por que essas perguntas são significantes para poder cuidar de crianças/
adolescentes?

Como você mantém vivos aspectos da sua herança que acabariam esquecidos,
ignorados ou desvalorizados caso você não se esforçasse para mantê-los?

Pontos para pensar


• A criança/ adolescente pode viver longe de sua família biológica,
mas o nome dele é um lembrete importante de sua história pessoal.
• Algumas crianças/ adolescentes sabem pouco sobre sua família de
origem. Isso pode ser uma fonte de sentimentos diversos que irão variar
com o tempo.
• A cultura da família acolhedora pode ser bem diferente da
experiência da criança/ adolescente que ela está recebendo.
• Pais que são separados podem continuar tendo uma parte ativa no
cuidado para com a criança/ adolescente.
• Grupos diferentes têm status diferentes. Alguns irão achar aspectos
de sua cultura e origens reforçados de uma maneira mais positiva que
outros grupos.

50
SONHOS QUE SE TORNAM REALIDADE

Colin Thompson tinha 18 anos quando ele escreveu esse relato de sua
experiência quando foi acolhido na Inglaterra.

Aos nove anos indo para uma família acolhedora, foi uma experiência
ameaçadora. Um dia, quando estava na escola, o assistente social me
visitou e disse que minha mãe estava doente e que eu ficaria em um lugar
enquanto ela se recuperava – isso demorou nove anos.

Depois de várias tentativas mal sucedidas de acolhimento, eu fui enviado


para um abrigo, isto foi amedrontador. Todos eram tratados iguais e você
tem um educador que tenta cuidar das suas necessidades específicas.
Quando você está num abrigo e eles começam a buscar famílias
acolhedoras para você, eles te perguntam que tipo de família você gostaria
de ter. Eu disse que queria um pai solteiro, talvez com uma criança.
Quando eu fui conhecer a família acolhedora, era uma família completa
com três filhos naturais e três adotados. Depois de duas visitas e um fim de
semana com eles eu decidi que queria ficar com eles.

Depois de nove ou dez meses eu tive coragem de chamá-los de pai e mãe.


Agora sou parte da família por 8 anos e sou considerado como filho deles.

Quanto ao serviço social, eu gostaria que eles fossem mais honestos e


falassem a verdade. Em relação planos para o futuro, o que o assistente
social diz e faz, ou não, pode ajudar ou destruir o futuro de uma criança ou
adolescente; e essas coisas não deixam de existir quando o adolescente faz
18 anos, elas são levadas com ele pelo resto da vida.

51
MINHAS MEMÓRIAS

Toda criança e adolescente tem um passado que deve ser valorizado e os


pontos fortes desse passado devem ser firmados. É importante para toda
criança e adolescente desenvolver um senso de identidade positivo.
Os seguintes exercícios ajudam você a considerar porque memórias são
importantes e, feito com pessoas, ajuda a reconhecer que as experiências
de infância de todos são diferentes.
Você pode tentar com sua família e amigos, lendo as perguntas você
mesmo ou deixando outro fazer para que você participe.
Pense sobre qualquer momento da sua infância. Pode ser um tempo feliz ou triste.

Descreva a imagem que você tem na sua memória respondendo as seguintes


perguntas:

Não se apresse e dê uma pausa entre cada pergunta.


Quem mais está envolvido na situação?

O que você está fazendo?

Onde você está?

Que sons você pode ouvir e cheiros que pode sentir?

Do que você tem mais medo?

Sobre o que você está mais ansioso?

Você lembra quantos anos tem?

52
Use o espaço abaixo para PONTOS PARA PENSAR
marcar as respostas das
próximas perguntas sobre • Para muitas crianças e
adolescentes em acolhimento, suas
suas experiências ao crescer. memórias podem ser tudo que têm para
Quem foi mais importante na sua vida? lembrá-los do passado. Pode haver
pouca informação ou até nenhuma, que
eles possam usar; muita coisa está em
fichas de assistência social que não
representam as perspectivas das
crianças e adolescentes sobre os
acontecimentos.
Quais eram seus lugares favoritos?
• Crianças/ adolescentes que vão
para famílias acolhedoras, geralmente
são sensíveis sobre suas memórias e
informações. As famílias devem ter
cautela e tratar essas memórias com
grande respeito.
Do que você gostava de brincar? • O sistema de assistência social
pode enfraquecer a identidade das
crianças e adolescentes, principalmente
os mais subestimados. Todos devem
ajudar a promover um senso de
identidade positivo para essas crianças/
adolescentes.
Qual era seu maior medo?
• Às vezes, crianças/ adolescentes
chegam com pouco menos do que o que
enche uma malinha de mão. Isto pode
parecer insignificante, mas pode ser o
único vínculo dele com o passado. É
importante não substituir rapidamente
as roupas e outras posses porque
Quais sonhos você tinha?
parecem velhas e feias para você.

• Famílias acolhedoras precisam


ajudar a criança/ adolescente a manter
um diário de seu tempo com elas desde
o início para que possam lembrar-se
daquele período particular da vida dele
com você e seguir em frente.
Hoje, o que te lembra daquele tempo?

53
MANTENDO UM DIÁRIO

Manter um documento escrito deveria começar assim que a criança/


adolescente é recebido pela família acolhedora.

SUGESTÕES

Sugestões práticas para ajudar as crianças/ adolescentes a


lembrarem de suas histórias

A própria família da criança/ Obtenha uma cópia do certificado


adolescente, parentes e amigos devem de nascimento com o assistente social.
estar envolvidos o quanto possível.

Visitar os outros lugares onde a


Peça para assistente social criança/ adolescente já ficou.
conseguir informações sobre os pais da
criança/ adolescente. Muitos pais vão
ajudar para se fazer uma árvore
genealógica, informações sobre irmãos Manter desenhos antigos com
e irmãs, lugar de nascimento etc. a idade que a criança/ adolescente
fez e a data em que foram feitos.

Tente conseguir fotos antigas e as


trate com respeito. Elas podem formar Guarde roupas favoritas.
um álbum separado com comentários
escritos pela criança/ adolescente.

Guarde brinquedos
favoritos.
Use um diário para escrever
sobre eventos significativos.
Faça uma árvore
Visite lugares do passado da genealógica.
criança/ adolescente come ele, mas veja
se ele está pronta para isso.

54
APRENDENDO AS REALIDADES DA VIDA

Bimpe Bucknor escreveu esse relato de sua experiência em família


acolhedora

Para começar, gostaria de dizer o que é acolhimento. Minha definição de


acolhimento é que isto ajuda a promover o desenvolvimento da criança,
então cuidando e criando em um ambiente apropriado em que ela pode se
identificar.

Eu a chamava de mãe porque ela é minha mãe. Eu compartilhava com ela


todos os meus problemas e, claro, todas as minhas alegrias. Não há dúvida
de que eu sinto falta dos meus pais, mas há entendimento mútuo entre eles
e a minha família acolhedora.

Eu gostaria de lhe dizer o que eu pensava sobre acolhimento antes de ser


acolhida. Eu pensava que acolhimento te afastava do mundo e não
possibilitava aprendizado sobre a vida real. Eu pensava que era para
crianças totalmente descontroladas, mas eu estava errada sobre isso.

Apesar de o meu acolhimento ter sido emergencial, não há dúvidas na


minha mente de que foi a coisa certa. Resumindo, acolhimento fez para
mim o que pais bons e normais sempre fariam pelos seus próprios filhos.

55
Pessoas: Essas são as pessoas mais Sonhos: Eu queria ser. . . .
importantes na minha vida….

O que você faz: Essas coisas dão


sentido à minha vida . . . .

Valores: Meus valores são . . . .


História: Essas coisas sobre meu
passado são importantes ....

Línguas: Eu falo essas línguas...


Grupos: Eu pertenço a esses grupos. . . .

Crenças: Eu creio em . . .

Lugares: Os lugares que são


importantes para mim. . .

Personalidade: Eu sou esse tipo


de pessoa. . . Prazeres: Essas coisas me fazem
feliz. . .

56
“ESTE SOU EU”

Muitas vezes você não sabe o que é importante para você até que você a
perca
Crianças e adolescentes entram no acolhimento familiar com suas próprias
identidades. Em muitos, essa identidade é frágil. O acolhimento familiar
pode enfraquecê-la mais, a não ser que a família e assistentes sociais
trabalhem para proteger e desenvolver o senso positivo de valor próprio e
identidade da criança/ adolescente.

Escreva algo sobre você mesmo em cada balão da última página. O que
você escreve é confidencial, se você quiser, escreva em uma folha a parte.

Para Pensar

• Essas questões te ajudam a ver como diferentes aspectos da nossa


vida combinam para construir nosso senso de identidade.

• Isto desenvolve aos poucos na infância, primeiro por outros e depois


nós adicionamos nossos próprios pensamentos e perspectivas.

• Se diferentes aspectos da vida não são encorajados em nós quando


somos novos, é muito difícil para nós construí-los depois.

• Esta é uma lembrança importante para os que trabalham com


crianças/ adolescentes separados de suas famílias.

57
APRENDENDO SOBRE QUEM VOCÊ É

Zena Dickson diz por que foi importante descobrir mais sobre seu passado

Meu pai era de Trinidad, mas ele morreu quando eu era muito nova, então
eu perdi o aprendizado sobre essa parte de quem eu sou. Minha mãe se
casou de novo e isso causou alguns problemas para mim e o meu irmão, o
que nos levou sermos levados pelo Conselho Tutelar. Uma de minhas tias
já era uma família acolhedora e eu vivi com ela por um tempo. Eu também
fui acolhida por um casal. Uma vez o serviço social me levou para
Trinidad quando eu tinha 14 anos. A maior parte da família do meu pai
ainda vive lá e eu pude conhecê-los.

Eu acho muito importante para crianças como eu aprenderem sobre suas


raízes culturais. Eu sempre fui muito independente e sempre me defendi
sozinha no fim da minha adolescência. Agora eu trabalho com
comunicação, mas em algum momento eu gostaria de ser mais ativa para
ajudar outros jovens já que eu passei por experiências iguais as deles e eu
posso entendê-los melhor.

58
FAMÍLIAS BIOLÓGICAS PODEM CONTINUAR SE
ENVOLVENDO NA VIDA DE SEUS FILHOS
VALORIZANDO AS CONTRIBUIÇÕES DOS PAIS
Famílias acolhedoras estão em uma boa posição para encorajar pais e filhos a
manterem contato.
Lesley Oppenheim descreve diferentes maneiras da família acolhedora e assistentes
sociais encorajarem os pais a continuarem envolvidos na vida de seus filhos.
Ela usa o conceito de “rede” para descrever o complexo emaranhado de
relacionamentos ao redor da criança/ adolescente acolhido. Mapear essa rede para cada
criança/ adolescente é uma maneira importante de identificar pontos fortes e fracos. Ela
sugere como os pais podem participar dessa rede em momentos diferentes e de modos
diferentes, como ir a apresentações da escola. Existem muitos meios que a ajuda pode
ser dada à criança/ adolescente com uma divisão de tarefas, mesmo que os pais não
tenham uma participação ampla e com todas as responsabilidades que os pais
normalmente têm.
Por exemplo, ela identifica ajuda emocional,material e simbólica (somente estar
presente).
As implicações de dividir tarefas são que os pais não precisam fazer tudo. Eles têm uma
gama de oportunidades para se manterem como uma parte significativa para a criança/
adolescente. Isso impede que os pais sejam vistos como bons ou maus, pois nenhum pai
é bom ou mau em tudo e acaba ressaltando os pontos fortes dos pais ao invés dos
fracos.

A FAMÍLIA ACOLHEDORA E A FAMÍLIA BIOLÓGICA


Pesquisas sobre como as famílias acolhedoras tratam as famílias biológicas mostram
que elas podem ser pessimistas e preconceituosas.

Atitudes variam dependendo das razões pelas quais a criança/ adolescente está em
acolhimento: famílias que não puderem cuidar das crianças/ adolescentes eram vistas
com melhores olhos do que os que as famílias que abusaram ou negligenciaram a
criança/ adolescente.
No estudo sobre progresso educacional de 49 crianças e adolescentes acolhidos, Jane
Aldgate e seus colegas descobriram uma falta de envolvimento preocupante da família
biológica em decisões e ajuda educacional com os assistentes sociais e as famílias
acolhedoras aceitando e legitimando a situação.
Um modo de entender porque isso acontece é ver que a família acolhedora está
expressando o seu descontentamento de um modo que mostre que ela tem mais poder
do que a família biológica. Enquanto as famílias biológicas têm menos poder do que os
assistentes sociais, elas têm um poder significativo diante da família biológica. As
famílias acolhedoras devem usar esse poder para o benefício da criança/ adolescente,
que poderá receber muito mais de um relacionamento positivo entre a família
acolhedora e a biológica.

59
CAPÍTULO 4 HABILIDADES E CONHECIMENTO
DA FAMÍLIA ACOLHEDORA
Acolher pode ser imprevisível e inclui uma variedade de tarefas. Acolher
exige muitas habilidades diferentes. Você terá algumas delas, mas terá que
desenvolver outras.

8 dimensões de necessidades para desenvolvimento da criança/


adolescente:

• Saúde

• Educação

• Identidade

• Família e relacionamentos sociais

• Apresentação social

• Desenvolvimento emocional e comportamental

• Habilidades de cuidado pessoal

• Espiritual

60
A) ENTENDENDO O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Desenvolvimento como chave para ajudar a criança/ adolescente

Nascimento até 1 ano


A criança começa a construir um senso de segurança e confiança

Desenvolvimento esperado:

• Rápido crescimento físico


• Começo de desenvolvimento da fala
• Ganho de coordenação motora
• Confiança começa a se desenvolver pelo suprimento das
necessidades (comida, roupa e afeição)
• Forte vínculo com pessoas próximas e desconfiança de estranhos.

Desenvolvimento interrompido pode significar:

• Falha no crescimento físico e emocional


• Desenvolvimento da fala muito limitado
• Insegurança
• Desconfiança
• Inabilidade de identificar as próprias necessidades e como supri-las

Comportamento consequente inclui:

• Passividade
• Falta de respostas apropriadas aos estímulos
• Pouca coordenação motora
• Pouco movimento ou fala

O que a família acolhedora pode fazer?


-Tratá-la como um recém-nascido
-Dar muitos estímulos, atenção, contato físico e falar/cantar para a criança

61
1 -3 anos
Esses são os anos em que a criança/ adolescente desenvolve autoconfiança
e um senso de ser humano separado.

Desenvolvimento esperado:

• Ficar de pé, andar, pegar objetos e “desbravar” as coisas.


• Ter os pais como base para explorar o mundo.
• Tentar ter algum controle sobre o mundo – raiva e frustração surgem
se as tentativas falham

Desenvolvimento interrompido pode significar:

• Desenvolvimento pobre do físico e da coordenação motora


• Falta de confiança nos pais pode resultar em medo de explorar as
coisas ou ficar muito independente dos adultos causando perigos
• Falta de habilidade para controlar a raiva e a frustração

Comportamento resultante pode incluir:

• Retorno ao desenvolvimento de bebê (regressão), incluindo


balançar, chupando dedo e linguagem de bebê
• Ficar muito grudado e dependente, querendo ficar perto de adultos
• Teimosia, resistente às ordens, explosão de temperamento e tentativa
de ser autossuficiente

O que os pais ou responsáveis podem fazer?


–Aceitar o comportamento de bebê
–Tentar restabelecer um equilíbrio realista entre deixar a criança se sentir
segura e encorajar a busca por novas conquistas
–Achar caminhos de lidar com os descontroles emocionais até que eles
sejam desnecessários para a criança ter a atenção

“Permitir que a criança tenha a chance de regredir pode ser importante


independente da idade.”

62
3 -6 anos
Nessa idade as crianças estão se descobrindo e também o mundo a sua
volta.

Desenvolvimento esperado:
• Rápido desenvolvimento da fala
• Curiosidade e desejo por informação – muitas perguntas
• Gosto por atividade física e mais desafiador – perigo
• Brincar usando a imaginação para descobrir mais o mundo
• Compartilhar e cooperar com outros
• Gosto por companhia de outras crianças e adultos
• Aumento de capacidade para tarefas – se vestir e usar o banheiro

Desenvolvimento interrompido pode significar:


• Atraso no desenvolvimento da fala
• Falta de curiosidade
• Pouca coordenação motora e medo de atividade física
• Medo excessivo sobre o que aconteceu a eles – “foi minha culpa?”
• Falta de controle: raiva, agressão e incapacidade de compartilhar
• Falta de controle sobre as funções corporais

Comportamento resultante pode incluir:


• Falta de interesse – se afastar e paralisar diante de algo
• Pesadelos
• Pensar ser uma criança má - culpa
• Apego extremo
• Energia acumulada – correr pela sala
• Agressão a si mesma, a outras crianças e a objetos

O que pais e responsáveis podem fazer?


–Dar muita atenção individual
– Ajudar a criança a fazer algo junto com você
–Ajudar a criança a se livrar da culpa e reafirmar que não foi culpa dela
–Diminuir o medo de dormir com rotinas bem preparadas
–Achar algo que a criança faz bem e elogiar as conquistas

“O que é difícil para um pai, pode não ser para outro. Às vezes é mais
fácil mudar a forma de reagir ao comportamento da criança do que
mudar a criança”

63
6 -10 anos
Esses são anos em que a criança está tentando ganhar maior
entendimento e controle da vida fora da família.

Desenvolvimento esperado:

• Habilidade de raciocínio - mudar do pensamento mágico para o


concreto
• Novas habilidades físicas – muito trabalho e muita brincadeira
• Começar a ver um senso de ordem no mundo, no tempo e no espaço
• Desenvolver a consciência – um senso claro de certo e errado

Desenvolvimento interrompido pode significar:


• Ficar sobrecarregado com o senso de tristeza e perda – “por que
aconteceu comigo? Não é justo”
• Pouca concentração na escola – a tristeza toma muita energia e deixa
pouca para desenvolver novas habilidades
• Dificuldade de fazer amigos

Comportamento resultante e pode incluir:


• Sentimento de tristeza, raiva, culpa e depressão
• Isolamento de outras crianças ou ser muito “mandão”
• Baixo rendimento na escola
• Mentira para compensar a falta de habilidades
• Falta de habilidade para deixar o pensamento mágico

O que os pais e responsáveis podem fazer?


-Dar tempo para a criança lamentar apropriadamente
-Não esperar que a criança seja grata
-Elogiar e encorajar para cada nova tarefa aprendida
-Ver o modo mágico de pensar pelo que é – um desejo de ter um final
feliz!

“As crianças biológicas da família acolhedora têm um papel importante.


Elas podem ser um modelo positivo, mas às vezes as crianças acolhidas
se sentem comparadas de uma forma desfavorável.”

64
10 – 16 anos
Nesses anos, a criança/ adolescente está criando noção de quem é e está
achando o seu lugar no mundo.
Desenvolvimento esperado:
• Diversas mudanças físicas são comuns na puberdade
• Necessidade de conquistar independência da família
• Fazer relacionamentos importantes com pessoas fora da família
• Dar sentido a emoções fortes, inclusive sexualidade
• Questionar valores dos adultos e mudar as visões do mundo
• Explorar e experimentar com uma base segura
• Mudar a visão sobre si mesma
• Estabelecer um senso mais claro de identidade
Desenvolvimento interrompido pode significar:
• Insegurança
• Baixa autoestima
• Maior intensidade das emoções
• Falta de habilidade fazer amizades duradouras
• Confusão de identidade
Comportamento resultante pode incluir:
• Agressão e violência, verbal e física
• Endurecimento com relação aos adultos
• Desafiar constantemente as autoridades, como discutir sobre
questões aparentemente triviais
• Procura inapropriada de atenção, por exemplo, roubar e ter
comportamento sexual provocativo
• Cabular aula
• Fugir – literalmente e emocionalmente
• Uso de bebidas alcoólicas, drogas e outras formas de abuso
O que os pais e responsáveis podem fazer?
-Estabelecer limites e ter convicção das suas razões
-Melhorar as habilidades de comunicação
-Aborde questões sobre sexualidade e informe a criança/ adolescente dos
riscos
-Prepare-a para a independência ensinando habilidades para a vivência
-Use métodos de disciplina que edificam a autoestima ao invés de punir
-Encontre meios de edificar o senso de identidade
“Os filhos biológicos das famílias acolhedoras podem se sentir
ameaçadas com o comportamento que elas não esperavam. Eles
precisam de ajuda para se sentirem seguros.”

65
B) SEPARAÇÃO, PERDA E VÍNCULO

• Toda criança/ adolescente em acolhimento familiar terá


experimentado a tristeza da separação e da perda

• Crianças/ adolescentes expressam suas experiências de


separação e perda através do comportamento

• O desenvolvimento pode ser afetado por inabilidades


específicas, mas também por causa da separação e da perda

• Algumas crianças/ adolescentes parecem ser mais relutantes


do que outros quanto aos efeitos da separação e da perda

• Vínculo aos pais ou responsáveis é necessário para o


desenvolvimento “normal”

• O vínculo das crianças/ adolescentes pode ter impacto para o


resto de suas vidas

• Crianças/ adolescentes em acolhimento familiar são


propensas a ter dificuldades enraizadas em vínculos
quebrados

• Algumas crianças/ adolescentes de acolhimento familiar vão


sofrer sérios problemas de aprendizado e desenvolvimento
porque eles nunca experimentaram vínculos seguros

66
Algumas crianças/ adolescentes que precisam de acolhimento familiar
encaram repetidas separações e perdas de suas famílias, irmãs, irmãos,
amigos, vizinhos e a comunidade na qual eles estão acostumados a viver.
Isso pode ser extremamente traumática para a criança/ adolescente e a leva
a ansiedade e depressão que podem durar meses e, em alguns casos, a
infância inteira. A família acolhedora precisa ajudar a criança/ adolescente
a superar essa situação traumática e ajudá-la a lidar com os efeitos da
separação e reajustá-lo a relacionamentos saudáveis e normais.

Separação, temporária ou permanente, de relacionamentos significantes,


causa um senso de perda agudo. A dor é o processo pelo qual alguém passa
para se recuperar da perda. “Separação envolve medo, que precisa ser
controlado e perda envolve dor que precisa ser expressa.”

Alguns fatores que influenciam a reação à separação

Crianças/ adolescentes irão reagir de diferentes maneiras por terem sido


separados de suas famílias. Reações podem variar entre depressão séria e
reação nenhuma em crianças/ adolescentes que foram negligenciadas
emocionalmente pelos seus pais.

Os dois fatores principais que influenciam a reação de um indivíduo à


separação são a importância do relacionamento que foi quebrado e quão
abrupta foi a separação. Quanto mais importante o relacionamento, mais
traumática a perda. Quanto mais abrupta a separação, mais difícil será para
completar o processo da dor.

Fatores que influenciam a reação da criança/ adolescente à separação


dos pais

• A idade da criança/ adolescente e estágio de desenvolvimento


• O vínculo da criança/ adolescente com os pais
• A ligação dos pais com a criança/ adolescente
• Experiências de separação passadas
• A percepção da criança/ adolescente quanto à razão da separação
• A preparação da criança/ adolescente para a mudança
• A mensagem que a criança/ adolescente recebe na hora da partida
• O ambiente da “pós-separação”
• O temperamento da criança/ adolescente
• O ambiente do qual a criança/ adolescente foi removido

67
a. A família acolhedora precisa reconhecer que quando há interrupções no
cuidado com a criança durante os primeiros 4 anos, as experiências futuras
precisam enfatizar as oportunidades para aprimoramento da confiança e da
autonomia da criança.
b. A formação da identidade possivelmente será afetada com a mudança
para uma nova família nos primeiros anos de vida. Mudar a forma como se
chama a criança (nome ou apelido) deve ser evitado. As crianças podem
regredir e não conseguir fazer tarefas que já haviam aprendido como
comer, dormir, usar o banheiro e falar.
c. Aqueles que experimentaram mudanças múltiplas são menos propensos
a mostrar uma reação clara à separação. A criança aprende a desenvolver
defesas contra a dor e hesita em se tornar próxima d outras pessoas
emocionalmente. Adultos acham difícil cuidar de crianças que não querem
ou não conseguem retribuir alguma coisa emocionalmente.
d. Crianças, comumente, pensam que elas são culpadas por terem sido
separadas da família. As crianças devem receber ajuda para pensar sobre a
responsabilidade ao invés de culpa e devem entender que todos têm
responsabilidades pelo seu próprio comportamento e sentimentos, mas não
são responsáveis pelas ações de outros.
e. Crianças precisam receber permissão para terem emoções. Às vezes isso
pode ser facilmente feito por uma conversa sobre outras crianças: algumas
crianças dizem que ficaram tristes, outras ficaram com medo e outras com
raiva, como é para você? Algumas crianças precisam aprender a
reconhecer sentimentos. “Quando eu fico nervoso, meu estômago fica
estranho. Você já sentiu isso?”
f. Crianças e adolescentes podem comunicar sua dor através de uma
variedade de comportamento, alguns deles não apropriados para a idade
como fazer xixi na cama, chupar dedo, não querer comer, roubar etc.
Algumas crianças e adolescentes se isolam como um meio de se
defenderem contra emoções dolorosas. Famílias acolhedoras precisam
enxergar além do comportamento e ver a emoção que a criança/
adolescente quer expressar – quase nunca uma tarefa fácil de realizar!
g. Crianças e adolescentes que experimentaram perda ou violência podem
perder seus sensos de segurança e podem se tornar fatalistas sobre seus
futuros como se já tivessem sido destinados a um final infeliz. Isso pode
levar a desmotivação e comportamento destrutivo como uso de drogas,
promiscuidade sexual, autoflagelação ou relacionamentos abusivos.

68
O PROCESSO DE LUTO

John Bowlby descreve três estágios que crianças e adolescentes com fortes
vínculos passam quando são separados de seus pais ou responsáveis com
quem tinham o vínculo. Isso é mais evidente em crianças até 4 anos.
1. Protesto e tentativa de encontrar os pais ou responsáveis.
2. Desespero quanto ao retorno dos pais e aparenta preocupação e
depressão.
3. Se torna desvinculado emocionalmente e aparenta perder o interesse
por qualquer um que cuide dela.

João
João fez 4 anos recentemente. Ele está em acolhimento familiar por 3
meses. Inicialmente ele estava irritado e chorava muito. Dentro de poucas
semanas ele ficou menos apreensivo e se isolou mais. Ele brincava sozinho
por horas fazendo sons de bebê e outros sons bem peculiares. Às vezes ele
ignorava os adultos completamente e às vezes fazia contato visual, mas
parecia não fazer distinção entre quem ele tinha mais afeição. Ele estava na
fase de fazer testes de desenvolvimento.

A história revelou que a mãe de João morreu quando ele tinha um ano e
meio. Quando João tinha três anos, seu pai planejou uma grande mudança
para o outro lado do país. Enquanto seu pai se mudava, ele deixou João
com uma tia com quem João nunca tinha tido contato antes.

Quando seu pai se mudou, João ficou muito bravo. Ele perdeu a habilidade
de usar o banheiro e estava com o rosto sujo constantemente. Suas
emoções variavam entre depressão e raiva. Então a tia pediu que ele fosse
acolhido por causa de seu comportamento.

Depois que João estava em acolhimento familiar por três meses, seu pai
fez a primeira visita. O rosto de João brilhou quando o viu, mas depois
ficou apreensivo e parecia não saber se iria se aproximar do pai ou não.

69
Os estágios do luto podem ser descritos como:
• Choque / Negação
• Raiva
• Negociação
• Depressão
• Aceitação
Na fase do choque e da negação, a reação inicial do corpo é se fechar, e a
criança/ adolescente pode demonstrar pouca emoção e parecer mecânica.
Distúrbios de apetite e o sono são comuns assim como a falta de
concentração.
Os próximos três estágios podem ocorrer em qualquer ordem. Ira é
comumente expressada a outros e a criança/ adolescente que passa pela dor
pode responder a pedidos simples com uma atitude descontrolada. A
negociação normalmente é modelada por promessas e, durante a tristeza e
o desespero, lágrimas aparecem facilmente e o apego pode surgir. A
aceitação para criança/ adolescente é quando ele se conforma com o fato
dele ter dois “tipos” de pais.

COMO CRIANÇAS/ ADOLESCENTES PERCEBEM E REAGEM


A SEPARAÇÃO E PERDAS

Eles podem se sentir raptados ou escondidos


• Levando a medo crônico e ansiedade
• Isolamento e tentativa de agradar a todos
• Uma alternativa é uma tentativa constante de afirmar a si mesmos e tentar estar no
controle de tudo.
• Diminuição da confiança dos adultos e delas mesmas
Eles podem se sentir dados
• Se sente responsável pela mudança
• Desenvolver culpa crônica
• Tristeza e depressão
• Estado de ansiedade
Eles pode se sentir no comando da mudança
• Acreditar que a mudança ocorreu pela escolha dele
• Acreditar que ele está no comando dos eventos e decisões futuros
Nós podemos ajudar melhor as crianças/ adolescentes a se livrarem do
passado, facilitando o processo da dor e sendo apoiadores dos sentimentos
das crianças/ adolescentes enquanto eles falam, choram, gritam,
esperneiam ou só ficam sentadas. É a presença do adulto e a aceitação
emocional da dor da criança/ adolescente que é mais importante do que
palavras.

70
-A próxima seção foi tirada do livro de Vera Fahlberg -“A Jornada da
Criança/ adolescente no Acolhimento”, 1994.

Esta é uma ficção sobre estar separado de pessoas a quem se tem


vínculo. Muitas crianças/ adolescentes acolhidos passaram por
experiências de separação similares a esta.

Você está em casa de noite. Suas três crianças estão dormindo e você
acabou de ir para cama. Seu marido está fora e não voltará logo. Tudo está
quieto e você está se acalmando para dormir.

De repente alguém bate na porta e passos se fazem notar pelo barulho.


Alguém de uniforme entra no seu quarto e anuncia: Você vem comigo. Ele
te leva para fora com seus filhos e todos entram no carro. Você passa por
uma vizinhança estranha longe de sua casa. Você é deixada no carro
enquanto o homem leva uma de suas crianças para uma casa e a deixa ali.
O homem de uniforme volta, dirige mais um pouco e deixa sua segunda
crianças em outra casa e o mesmo acontece com a terceira crianças. Ele te
leva de volta para casa e te deixa lá sozinha.

1. Como você se sente quando a pessoa de uniforme entra na sua


casa?

2. Como você sente enquanto suas crianças são deixadas com


estranhos?

3. O que você gostaria de fazer?

71
VÍNCULO
Vínculo com pais ou responsáveis é necessário
para o desenvolvimento normal

• Vínculo é a ligação emocional da criança/ adolescente com os pais ou


responsável. Essa pessoa é a primeira figura com a qual a criança se
vincula. Resumindo, é entendido que o vínculo envolve a tarefa de
cumprir o papel de pai e mãe nos primeiros anos da criança.
• É uma relação de vínculo mútuo e promove a base para o crescimento
saudável em todas as áreas: desenvolvimento físico, habilidade de
aprendizagem, ter relacionamentos significativos com outras pessoas e
ser orientado pelas regras da sociedade na qual a criança/ adolescente
cresce.
• No Brasil, o padrão para muitas famílias é que a mãe é a responsável
primária da criança, de qualquer forma, os pais ou outros homens
também podem cumprir bem as tarefas de mãe necessárias para criança.
• Em algumas famílias e culturas, mais de uma pessoa pode compartilhar
o papel de mãe para a criança. É possível que a criança tenha vínculos
saudáveis com diversas pessoas. O ponto importante é que a qualidade
do cuidado seja boa e seja feito por pessoas que estejam presente
constantemente na vida da criança em seus primeiros anos. Crianças
com vínculos a várias pessoas se desenvolvem tão bem quanto as que
têm vínculo com uma única pessoa.
• Uma criança/ adolescente que teve a oportunidade de ter um vínculo
saudável com uma ou mais pessoas podem prosseguir para desenvolver
vínculos com outras que, talvez, tenham que substituir essas pessoas.
Isto é verdade mesmo quando a criança tem menos de quatro anos. Isto
é crucial no acolhimento, porque significa que a criança consegue
desenvolver vínculos com outras pessoas que cuidarão dela.
Os vínculos podem ter impactos para o resto da vida
• Os primeiros vínculos se tornam o padrão para os relacionamentos
pessoais da criança/ adolescente.
• Crianças/ adolescentes que têm vínculos íntimos e fortes são capazes de
entender eles mesmos e as outras pessoas mais facilmente e
desenvolvem e autoconfiança.
• Crianças/ adolescentes com vínculos saudáveis conseguem progredir e
ter uma imagem positiva de si mesmos e de outros adultos, conseguindo
ter uma base segura para “explorar” o resto do mundo.

72
Crianças/ adolescentes em famílias acolhedoras têm mais chances de
ter dificuldades enraizadas em vínculos quebrados

• Assim como terem sido afastadas de suas famílias, crianças/


adolescentes em famílias acolhedoras, comumente, se mudaram muitas
vezes. Eles não foram beneficiados com um cuidado contínuo e
consistente que todas as crianças/ adolescentes precisam. Famílias
acolhedoras precisam acompanhar seus relacionamentos com
sensibilidade para que a criança/ adolescente possa progredir em seu
próprio ritmo.
• Eles são mais propensas a serem ansiosas, incertas e inseguras. Quanto
eles são afetadas por isso irá depender das circunstâncias. Coisas como
a qualidade do cuidado nos primeiro relacionamentos de vínculo,
quantos anos tinha quando foram separadas e quanto contato eles
continuaram tendo com os pais ou outras pessoas a quem eles tinham
vínculos.
• Suas reações também irão ser afetadas pela qualidade dos seus vínculos
com a família acolhedora e como a família acolhedora teve sucesso em
criar um ambiente que os permite a criar relacionamentos saudáveis.

Algumas crianças/ adolescentes que vão para o acolhimento sofrerão


sérios problemas de aprendizado e desenvolvimento porque nunca
experimentaram vínculos seguros

• Em casos extremos, crianças/ adolescentes que nunca tiveram a


oportunidade de criar vínculos seguros quando eram bem novas, ou que
tiveram o vínculo quebrado constantemente, podem desenvolver
distúrbios de vínculo e demonstrar comportamentos com sérios
problemas. Essas crianças/ adolescentes precisarão de ajuda e terapia
para se verem de uma forma mais positiva e seguirem em frente para
fazer relacionamentos bem sucedidos.

73
C) RECONHECENDO ABUSO
Toda pessoa precisa estar preparada para cuidar de crianças/
adolescentes e jovens que tenham vivido situações de abuso, incluindo
sexual.
O abuso de crianças/ adolescentes é complexo e traz à tona fortes emoções.
Às vezes as pessoas tornam-se famílias acolhedoras para protegerem as
crianças/ adolescentes, especialmente se um dos acolhedores vivenciou
algum tipo de abuso. Se este for o seu caso, talvez você precise refletir
sobre o impacto que o dito abuso teve em sua vida e como isso está
impulsionando o seu desejo de tornar-se um acolhedor, e também antes de
poder discutir sobre a situação com algum terapeuta ou conselheiro.
DEFINIÇÕES DE ABUSO
Negligência: Ocorre quando as necessidades básicas da criança/
adolescente, psicológicas e físicas, não são atendidas, resultando em sérios
danos a saúde e ao desenvolvimento da criança/ adolescente. A negligência
ocorre quando a criança/ adolescente não recebe comida adequada, abrigo,
roupas, e tratamento ou cuidado médico; tanto quanto não atender as
necessidades emocionais ou de desenvolvimento da criança/ adolescente.
Abuso físico: Agressão física ou até mesmo a ameaça de agressão física,
ou não prevenindo a agressão ou sofrimento físico. Inclui bater, arremessar
objetos, chacoalhar, envenenar, queimar, escaldar, afogar ou asfixiar a
criança/ adolescente.
Abuso sexual: Ocorre quando a criança/ adolescente é forçada ou seduzida
a participar em alguma atividade sexual; a criança/ adolescente pode estar
ciente do que está ocorrendo ou não. Abuso sexual inclui todo ato de
penetração e até atividades livres de contato físico, tais como envolver a
criança/ adolescente na produção de materiais pornográficos, forçar a
criança/ adolescente a assistir pornografia, ou encorajar crianças/
adolescentes a se expressarem sexualmente de maneira não apropriada.
Abuso emocional: Ocorre quando o desenvolvimento emocional da
criança/ adolescente é danificado devido a maus tratos. Inclui comunicar a
criança/ adolescente que ele não tem valor, ou que não é amada, e também
pode incluir quando expectativas são impostas sobre a criança/ adolescente
que não são apropriadas para sua idade, ou seu nível de desenvolvimento.
Abuso emocional sempre ocorre junto a outros tipos de abuso, porém pode
ocorrer isoladamente.

*Descreva o que você pensa sobre o abuso:

74
EXTENSÃO DO ABUSO
• É muito difícil estabelecer claramente a extensão dos diferentes
tipos de abuso, porque os pesquisadores medem o abuso utilizando
definições variadas do que abrange o abuso, especialmente o sexual.
• Definições de abuso dependem muito da atitude individual de cada
um e da atitude da sociedade em geral, incluindo normas culturais.
• Tanto meninos quanto meninas correm riscos quase iguais de serem
abusados fisicamente, porém o abuso sexual tende a ocorrer mais
com as meninas.
• Frequentemente, percebemos que a criança/ adolescente foi abusada
devido as ações e aquilo que a criança/ adolescente expressa dentro
do lar acolhedor.
• Crianças/ adolescentes com alguma deficiência física correm um
risco maior de todos os tipos de abuso. Dificuldades na criança/
adolescente de se expressar e comunicar podem mascarar o abuso. O
abuso emocional é uma experiência frequente dentre as pessoas com
deficiências físicas. A negligência pode ocorrer quando o
responsável sente medo de algo acontecer com a criança/
adolescente deficiente e a mantém preso ou não oferece estímulo
suficiente para o seu desenvolvimento.
• Deficientes físicos frequentemente são tratados de forma desumana.
Isto facilita a ocorrência do abuso.
• Abuso sexual sério, que persiste, geralmente ocorre antes dos 12
anos. Os ofensores muitas vezes são homens que fazem parte da
rede familiar da criança/ adolescente – avôs, namorados, tios.
• Abuso emocional é raramente reconhecido e tende a ocorrer junto a
outros tipos de abuso.
• Negligência pode ser tanto física quanto emocional. Crianças/
adolescentes podem morrer como decorrência da negligência. Não
deve ser considerado como um abuso menos grave.
• Abuso sexual ocorre em todas as comunidades e culturas.
• Crescer em um ambiente abusivo pode afetar o desenvolvimento da
criança/ adolescente, e demonstra-se em atraso no desenvolvimento
mental e crescimento físico. Pode envolver a vista, a fala,
coordenação motora e desenvolvimento linguístico.

75
RAZÕES DO ABUSO

• Raramente há uma explicação simples para o abuso de uma criança/


adolescente. Porém, o ofensor tem que assumir a responsabilidade por
suas ações.

• A pressão exercida sobre as famílias por serem desavantajadas e


isoladas socialmente, a violência doméstica, ou problemas mentais
podem contribuir em parte ou totalmente para que o abuso ocorra.

• Álcool e drogas podem danificar a criança/ adolescente dentro do


ventre materno, e também tendem a resultar em incapacitação ou
desatenção para com a criação dos filhos, tornando eles mais
vulneráveis ao abuso.

• Às vezes, os próprios pais foram abusados e não se sentem capazes de


serem bons pais.

Os ofensores

• A maioria dos ofensores são homens heterossexuais. Porém, tem


surgido casos de mulheres que abusam de crianças e

• Ofensores sexuais de crianças/ adolescentes, geralmente são membros


da sociedade muito bem respeitados. Homens que são sexualmente
atraídos a crianças/ adolescentes (pedófilos) são especialistas em
manter suas atividades escondidas. Eles tendem a procurar empregos e
locais que permitam proximidade as crianças/ adolescentes (inclusive o
acolhimento).

• Alguns ofensores vivenciaram o abuso físico ou sexual no seu próprio


passado como crianças/ adolescentes. Porém, isso não comprova a
ligação entre ser abusado e tornar-se um ofensor. A maioria das
crianças/ adolescentes que foram abusadas (na sua maioria meninas e
mulheres jovens) não se torna ofensoras sexuais.

• Algumas crianças/ adolescentes simplesmente gostam de ferir outras


crianças e adolescentes. Às vezes eles procuram envolver outras
crianças ou adolescentes em atividades sexuais que não são
apropriadas, especialmente se eles estão tentando entender suas
próprias experiências de abuso. Estas crianças ou adolescentes precisam
de ajuda. A responsabilidade que estas crianças ou adolescentes tem por
suas ações, dependerá da idade no momento da ofensa.

76
Maria
(12 anos)

Geralmente acontecia quando eu e minha irmã voltávamos da escola. Não


me lembro quantos anos eu tinha quando tudo começou – parece que
nunca teve um começo… que sempre ocorreu. Ele tirava suas roupas e
nossas também. Aí ele nos tocava nas nossas partes íntimas e nos fazia
tocá-lo também. Quando eu tocava, ele ficava molhado e pegajoso. Ele
nunca nos dava nossa mesada até fazermos isso. Quando eu tentei
empurrá-lo, ele me bateu no rosto.

Meu pai não conversava muito com as pessoas, e ele nunca nos deixava
brincar fora de casa, então não tínhamos amigos. Minha mãe nos deixava
várias vezes sozinhas e ia a casa da vovó. Eu queria falar para minha mãe,
mas não sabia como. Meu pai dizia que se contássemos a alguém, ele nos
mataria. Ele dizia que as outras pessoas não falariam mais comigo, e eu
acreditava nele. Ele fazia-me sentir horrível e estúpida. Uma vez, minha
irmãzinha, Ana, e eu estávamos deitadas na cama conversando sobre tudo
isso e decidimos fugir para a casa da vovó e contar a mamãe.

Mas quando chegamos na casa da vovó, recebemos uma bronca por termos
saído a noite e minha mãe nos levou de volta para casa e brigou com meu
pai e eu nunca tive a oportunidade de falar a ela. Depois disso, eu não
sabia mais o que fazer.

Um dia Ana, que sempre estava ansiosa na escola, começou a contar a


professora sobre seus pesadelos e sobre monstros que faziam coisas
horríveis a ela e foi aí que as pessoas começaram a nos questionar sobre
nosso pai. Eu fiquei petrificada quando eles me perguntaram sobre tudo,
mas agora me sinto aliviada. Estamos numa família acolhedora por
enquanto e eu nunca mais quero ver meu pai de novo, mas gostaria que
mamãe arranjasse uma casa e que nós pudéssemos voltar a morar com ela.

77
VAMOS REFLETIR...
• É importante reconhecer o que ocorreu e não minimizar os sentimentos de
Maria.
• Reações ao abuso podem ser variadas. O importante é saber como o abuso
afetou especificamente a Maria.
• A experiência de Maria é perturbadora. Os acolhedores sentirão raiva, porém
é importante que expressem seus sentimentos de uma maneira que ajude
Maria.
• Maria pode sentir alívio de estar longe de seu pai; porém, às vezes o término
de um relacionamento abusivo pode incluir sentimentos de perda assim como
o de alívio.
• Algumas crianças/ adolescentes culpam a si mesmos pelo que aconteceu.
• Quando Maria se muda para a família acolhedora, ela levará consigo mesma
suas expectativas do que ocorre dentro das famílias. Isso pode ser definido
como sua cultura familiar, e a maneira como os acolhedores se comportam e
agem será bem diferente disso, pois eles têm uma cultura familiar diferente.
• Dificuldades ocorrem quando os acolhedores não estão cientes de que
culturas familiares diferentes, naturalmente entram em conflito. Maria terá
que aprender que o relacionamento que ela vivenciou com seu pai não foi
normal. Ela talvez terá muito medo do que seus acolhedores farão com ela.
• Todos os acolhedores, especialmente os homens, precisam lembrar que
devido ao abuso ocorrido com Maria, ela talvez aja de uma maneira que seja
difícil de entender e talvez até seja sexualmente provocativa.
• A experiência de Maria, terá ensinado ela a perceber os sinais que talvez
indiquem que ela esteja sob o risco de ser abusada novamente. Porém, dentro
da família acolhedora, os mesmos sinais poderão não ter esse mesmo
significado, e talvez, inicialmente, ela fique confusa.
• Acolhedores devem ter cuidado para não agirem de maneira que possa ser
interpretada de forma errada por Maria. Por exemplo, discutir a mesada pode
trazer a tona medo do que poderá acontecer com ela.
• Acolhedores talvez precisem ajudá-la se ela precisar testemunhar no tribunal,
ou se for entrevistada pelos investigadores.
• Às vezes os acolhedores são as primeiras pessoas a quem a criança/
adolescente descreve o abuso ocorrido. É importante preparar-se para essa
possibilidade.
• Crianças/ adolescentes acolhidos às vezes confiam nos filhos biológicos da
família acolhedora. Estes filhos precisam saber que é vital, eles
compartilharem toda informação com seus pais.

78
É importante levar a sério o relato da criança/ adolescente.
Conversa de criança/ adolescente:

A história de Maria encontra-se em um livro Out in the Open – A guide for


young people who have been sexually abused (Saindo do Esconderijo –
Um guia para jovens que sofreram abuso sexual) escrito por Ouaine Bain e
Maureen Sanders (Editora Viargo, 1990). A melhor maneira de avaliar o
impacto do abuso é ouvir o relato da criança ou adolescente que foi
afetado. Abaixo você encontrará algumas perguntas que podem ser usadas
para processar histórias como a de Maria.

Como o relato de Maria o afetou?

Como você acha que Maria se sentiu ao ir morar com uma família
acolhedora?

Quais são os cuidados especiais que a família acolhedora precisa ter


com a Maria?

Qual seria o papel dos filhos biológicos dos acolhedores, se eles tiverem
algum?

79
VAMOS REFLETIR...

• Trabalhar com crianças/ adolescentes que foram abusadas é


doloroso. Para conseguir ajudar a criança ou adolescente, os acolhedores
precisam carregar parte da dor que eles sentem. Porém, se o acolhedor
sente-se sobrecarregado ao compartilhar esta dor, ou é afetado
negativamente de outra maneira, ele(a) terá pouco sucesso em ajudar a
criança ou adolescente.

• O abuso vivido pela criança ou adolescente pode desencadear


memórias do acolhedor sobre seu próprio passado. Alguém que já viveu o
abuso, pode ser uma pessoa ideal para ajudar a criança ou adolescente a
processar o que ele vivenciou somente se ela mesma já pôde avaliar sua
própria experiência de abuso. Porém, a criança/ adolescente não é
beneficiado quando o acolhedor utiliza tais situações para processar o seu
passado.

80
Sugestões para Cuidar de Crianças/ adolescentes que
foram Abusados Sexualmente
Uma vez que o abuso sexual ocorre, a criança/ adolescente pode ter
dificuldade em aceitar algo para comer ou beber, e até mesmo descansar ou
dormir.

Às vezes a criança/ adolescente pode ter sido forçada a comer ou beber


algo, portanto não seria estranho se ele recusasse tais coisas vindo de
pessoas estranhas. O abuso sexual pode resultar até na anorexia.

O ritmo de descanso e sono muitas vezes é interrompido após a ocorrência


do abuso. Para muitas crianças e adolescentes, a cama e a hora de dormir
foram locais e eventos em sua rotina diária de pouca segurança. Antes de
as crianças e adolescentes poderem aceitar o cuidado oferecido a eles, eles
precisam sentir-se seguras.

As recomendações encontradas abaixo são maneiras práticas que poderão


auxiliá-lo no cuidado para com a criança ou adolescente que sofreu abuso:

1. Mantenha junto a criança/ adolescente o maior número possível de


seus pertences pessoais.
2. A criança/ adolescente deve ser quem autoriza as pessoas a entrarem
dentro de seu espaço de dormir.
3. Ajude a criança/ adolescente a decidir quem irá dormir aonde e leve-
o pela casa inteira para familiarizá-lo com o ambiente.
4. A privacidade dentro do banheiro deve ser absolutamente garantida.
Procure não tocar na criança/ adolescente quando ele está despido.
Comunique a criança/ adolescente que ninguém irá tocar nele, sem
antes pedir permissão.
5. Sendo que a criança/ adolescente poderá demonstrar dificuldades em
aceitar algo para comer ou beber, peça a criança/ adolescente que
faça uma lista de todas as comidas que ele não gosta. Quando você
for oferecer algo para comer, sempre que possível ofereça mais de
uma opção: “Você gostaria de comer um pedaço de chocolate ou
uma bolacha?” Permita que a criança/ adolescente faça a escolha do
que ele irá colocar em sua boca.

81
A Hora de Dormir
A hora de dormir apresenta algumas dificuldades porque geralmente o
abuso ocorre durante esta parte do dia. Lembre-se do seguinte:
• Faça com que a cama seja um lugar seguro para a criança/
adolescente.
• Tranquilize a criança/ adolescente através de palavras e atos
carinhosos.
• Permita que a criança/ adolescente leve um objeto familiar para a
cama.
• Dê a ele um cobertor fofo e macio.
• Permita que ele tenha um copo de água ao lado da cama.
Quando chegar a hora da criança/ adolescente ir dormir, passe um tempo
ouvindo-o relatar seu dia, seus pensamentos e temores.
Cubra a criança/ adolescente e dê um beijo de boa-noite.
Pergunte a criança/ adolescente se ele quer a luz acesa ou apagada, a porta
aberta ou fechada. Lembre-o aonde você estará se ela precisar de alguma
coisa, ou tiver algum medo.
Se a criança/ adolescente chamá-lo durante a noite, vá até a porta do quarto
e diga quem você é e pergunte se você pode entrar.
O abuso pode deixar sequelas...
• Se o abuso ocorreu durante um período prolongado, todos os
aspectos do desenvolvimento da criança/ adolescente, sua
autoestima e autoimagem podem ter sido afetados.
• As dificuldades que a criança/ adolescente vivencia após o abuso
podem estender-se até em seus relacionamentos futuros como uma
pessoa adulta e determinar seu sucesso como um pai ou uma mãe.
• Um clima de violência para com a criança/ adolescente pode levar a
comportamentos agressivos, problemas emocionais ou de
comportamento, e até dificuldades na escola.
• Abuso emocional pode ter um impacto na saúde mental da criança/
adolescente e tende a causar maiores danos quando vivenciado nos
primeiros meses ou anos de vida.
• O abuso sexual pode levar a comportamentos sexualizados que não
são apropriados para a idade da criança/ adolescente, a tristeza,
automutilação, depressão e perda da autoestima.
• Negligência extrema pode danificar o desenvolvimento físico e
social da criança/ adolescente, e sua capacidade de aprender.

82
D) AMBIENTE SEGURO
Acolhedores cuidam de crianças/ adolescentes que, na realidade, não são
seus, dentro de seu próprio lar. Essas crianças/ adolescentes têm
perspectivas de vida diferente, e sua maneira de entender as regras, os
limites e as expectativas do lar acolhedor pode variar. Eles são literalmente
estranhos totais a família acolhedora.
Descreva quais mudanças você implementaria a sua rotina familiar se
você tivesse pessoas estranhas morando nele.
Ambiente seguro significa:
• Manter a criança/ adolescente acolhido seguro de todos os tipos de
abuso
• Manter seus próprios filhos seguros
• Proteger a família acolhedora de qualquer alegação de abuso. Isto
pode ocorrer quando:
• A criança/ adolescente foi abusada por um membro da família
biológica.
• A criança/ adolescente interpreta de maneira errada suas ações ou
intenções.
• A criança/ adolescente está guardando rancor e deseja causar
danos a alguém.
• Pode ser um meio da criança/ adolescente chamar atenção.
Sugestões para minimizar tais riscos:
1. Mantenha seu cronograma anual de capacitações atualizado
2. Converse com seus filhos sobre como manter todos seguros
3. Converse com a seu assistente social sobre desenvolvimento de um
ambiente seguro
4. Mantenha um diário de eventos significativos que ocorrem com a
criança/ adolescente acolhido
5. Sempre relate qualquer incidente que possa causar suspeita, a
assistente social do foro ou da ABBA, tais como marcas no corpo da
criança/ adolescente.
6. Descreva sua política familiar. Inclua aspectos importantes a sua
família e quais mudanças precisariam ocorrer. Tais como:
a. Não andar pela casa despidos
b. Trancar a porta do banheiro antes de utilizá-lo
c. Bater na porta do quarto antes de entrar
d. Ao entrar em um quarto, mantenha a porta aberta
e. Não demonstre muito afeto físico quando a sós com a criança/
adolescente
Você consegue pensar em outras coisas que devem ser incluídas?

83
Agora, pense no que precisa mudar dentro do seu lar?

Comportamento atual Mudança necessária

84
Desenvolvendo Segurança
Comportamento Comportamento mais seguro
Criança frequentemente sobe na O carinho não precisa acontecer na
cama dos acolhedores para receber cama. Procure outros ambientes do
carinho. lar que são mais acessíveis a todos.
Acolhedor (homem) dá banho em O homem nunca deve dar banho
um menino de 4 anos de idade. sozinho – tenha sempre uma mulher
presente ou próxima.
Acolhedor (homem) lê uma Seria mais seguro ler a história em
história no quarto de uma criança outro aposento ou com uma mulher
de 3 anos antes dela ir dormir. presente.
Adultos e crianças andam pela Somente no próprio quarto. Não há
casa despidos. outro jeito seguro de lidar com esse
aspecto de vida familiar.
Acolhedores brincam de rolar no Somente com outro adulto presente.
chão e fazer cócegas com a Outra opção seria de brincar de outra
criança/ adolescente acolhido. coisa que não envolva o toque físico.
O acolhedor limpa as nádegas de Deve sempre haver duas acolhedores
uma adolescente deficiente de 13 presentes, sendo um deles mulher.
anos. Encoraje independência.
Crianças e adolescentes entram a Somente sob supervisão e de
vontade nos quartos uns dos maneira planejada.
outros.
Acolhedor (homem) sozinho no Evite se possível. Quando
carro com a criança acolhida necessário, coloque a criança no
banco traseiro.
O filho de 17 anos do acolhedor as Rapazes jovens devem sempre ter
vezes cuida da criança acolhida. uma mulher mais velha presente.
Um acolhedor dorme com uma Evite isso. Dormir próximo a criança
criança de 11 anos que está doente. e com a porta aberta.
Uma acolhedora fotografa uma Jamais tire fotos dos filhos de outras
criança de 6 anos tomando banho. pessoas, despidos ou tomando
banho.
Acolhedores têm relações sexuais JAMAIS!
com a porta do quarto aberto
quando há crianças na casa
Os riscos jamais podem ser totalmente eliminados, mas podem ser minimizados!

85
E) ENTENDENDO COMPORTAMENTO

Conforme uma criança/ adolescente desenvolve, o seu comportamento


muda. Quando uma criança/ adolescente sofre algum tipo de abuso,
especialmente um que tenha causado danos profundos, o seu
desenvolvimento afetivo, social e mental muita vezes não equivale a sua
idade real. Muitas vezes a criança/ adolescente pode sofrer um atraso em
seu desenvolvimento que equivale a anos.

1. Acolhedores precisam ter um entendimento das fases de


desenvolvimento em que as crianças/ adolescentes acolhidos se
encontram, tanto reais, quanto ideais.
2. Abuso, separação e perda atrasam o desenvolvimento da criança/
adolescente, ou podem trazer complicações.
3. As pesquisas demonstram que essas crianças e adolescentes têm mais
tendência a sofrerem distúrbios emocionais, que por vez afetam seu
desenvolvimento.

Leia os exercícios sobre os problemas de comportamento de Samara &


João. Utilize o que você tem aprendido para responder as questões.

Samara tem 2 anos. Você pergunta a ela se ela pegou o ursinho de seu
irmão, ela responde que não. Mais tarde, você encontra-o embaixo da cama
dela. Samara diz que não foi ela que o colocou ali.

Relacione o comportamento de Samara com o seu desenvolvimento.

Se Samara for uma criança acolhida, o que os acolhedores devem lembrar-se ao se


relacionarem com ela?

86
Samara tem 9 anos. Pacotes de bolachas, barras de chocolate, latas de fruta
e outras comidas desaparecem com frequência. Você pergunta a Samara se
foi ela quem pegou algumas destas coisas. Ela diz que não. Mais tarde
você encontra embalagens vazias e outras provas do crime. Samara ainda
nega que ela tenha pegado qualquer coisa, mesmo quando você a vê
pegando várias coisas.

Relacione o comportamento de Samara com o seu desenvolvimento.

Se Samara for uma criança acolhida, o que os acolhedores devem lembrar-se ao se


relacionarem com ela?

Samara tem 15 anos. Uma quantia de dinheiro sumiu de sua bolsa e você
encontra dois novos CDs no quarto de Samara. Ela diz que não tem
conhecimento algum do dinheiro desaparecido e que você está sempre
culpando-a.
Relacione o comportamento de Samara com o seu desenvolvimento.

Se Samara for uma adolescente acolhida, o que os acolhedores devem lembrar-se ao se


relacionarem com ela?

87
• Aos 2 anos, Samara não terá desenvolvido ainda um entendimento do
certo e errado, e não saberá dizer porque é errado tomar algo que pertença a
outra pessoa ou até mesmo de se lembrar aonde ela teria colocado o que ela
apanhou. O único entendimento que ela tem, é que fazer algumas coisas é errado
se um adulto assim diz. Ela sabe que deve obedecer, porém não tem seu próprio
sentido do que é certo e errado, e só virá a desenvolvê-lo mais tarde.
• Aos 9 anos, Samara está começando a entender o que é certo e errado de
uma forma mais abstrata. Ela tem a capacidade de pensar sobre seu
comportamento e de sentir remorso. Ela tem um ponto de vista forte a respeito
do que é justo e exclama com frequência que algo é injusto. Ela está aprendendo
as regras de convivência social em grupo e entre amigos, sempre disposta a
demonstrar sua posição e procura não deixar-se abalada.
• Samara talvez veja as guloseimas como uma forma de consolo por
alguma falta de afeto em sua vida. Por outro lado, as guloseimas talvez sejam
sua maneira de comprar amizades ou demonstrar sua posição diante das outras
crianças/ adolescentes.
• Aos 15 anos, Samara já desenvolveu uma consciência e tem a capacidade
de entender que suas ações têm consequências para os outros.
• Samara sabe que roubar testará seus relacionamentos com os adultos.
Talvez o roubo tenha se tornado um hábito e ela não tem forças para controlar
seus impulsos. Samara pode estar testando seu relacionamento com os adultos
que cuidam dela, para ver se eles ainda a amam apesar de seu comportamento.
Se ela for uma adolescente acolhida, ela talvez tenha a expectativa de que os
acolhedores a rejeitarão, como já aconteceu em seu passado e isso reforçará seus
temores pessoais e sua autoestima baixa. Ela pode até querer ser rejeitada na
esperança de que talvez ela vá morar em outro lugar!

88
João tem 2 anos. Ele pede para você ler uma história. Quando você acaba
de ler, ele pede para você ler novamente. Ele já decorou a história de cor.
Você constrói torres para ele com blocos, porém ele só quer destruí-las.
Ele às vezes joga seus brinquedos no chão com força, frequentemente
quebrando-os.

Como o comportamento de João se relaciona ao seu desenvolvimento?

João tem 9 anos. Tudo que ele ganha, ele acaba destruindo, incluindo
brinquedos que ele sempre quis. Às vezes ele quebra outras coisas, porém,
talvez mais por acidente do que de propósito. A destruição de seus
pertences parece ser proposital. Ele fala que não sabe ler e quer que seus
acolhedores leiam para ele.

Como o comportamento de João se relaciona ao seu desenvolvimento?

Se João for uma criança acolhida, o que os acolhedores devem lembrar-se ao se


relacionarem com ele?

89
João tem 15 anos. Ele nunca lê e passa todo seu tempo assistindo TV e
brincando jogos no computador. Quando ele fica bravo, ele tende a chutar
e socar as coisas ao redor, às vezes até destruindo os pertences de outras
pessoas.

Como o comportamento de João se relaciona ao seu desenvolvimento?

Se João for um adolescente acolhido, o que os acolhedores devem lembrar-se ao se


relacionarem com ele?

• Aos 2 anos, as crianças/ adolescentes necessitam de rotina e repetição, e estão


começando a aprender sobre o mundo ao redor através de histórias e da palavra falada.
• Destruindo torres de blocos não seria considerada necessariamente uma tendência
destrutiva. Pode ser um prazer que ele sente ao se ver capaz de fazer algo que tenha
consequências reais e imediatas, ou seja, ele é capaz de derrubar torres feitas de blocos.
Ele pode, ou não, ter a capacidade de construí-las de novo.
• Aos 2 anos ele está tentando adquirir algum controle sobre o seu mundo. Jogar
brinquedos com força no chão pode ser devido a alguma frustração que ele sinta em
relação a sua falta de habilidade de controlar estes brinquedos do jeito que ele gostaria.
• Aos 9 anos, as habilidades motoras e musculares de João já devem ter melhorado. João
pode preferir quebrar os brinquedos ao invés de se mostrar capaz de brincar com eles
adequadamente. Talvez ele esteja recebendo mais atenção ao quebrar os brinquedos do
que ao brincar com eles de maneira correta.
• Ele começará a resistir as tentativas de afeto em público dos adultos ao seu redor. Ele
talvez sinta falta dos momentos quando alguém sentava para ler uma história para ele,
especialmente quando este tipo de afeto seja considerado mais aceitável, por não ser em
público.
• Aos 15 anos ler livros talvez não seja comum para meninos adolescentes entre o grupo
de amigos de João, ao contrário de assistir TV ou brincar jogos no computador. João
quer impressionar seus amigos mais do que seus pais ou acolhedores.
• João, nesta fase de sua vida, estará tentando entender suas emoções fortes. Chutar e
socar talvez sejam as únicas maneiras que ele conheça de aliviar estes sentimentos.
• João saberá que destruir os pertences de outros, testará severamente seu relacionamento
com os adultos ao seu redor. Ele talvez tenha criado o hábito de destruir objetos e tem
dificuldade de controlar seus impulsos. João talvez esteja testando seus limites para ver
se, apesar de seu comportamento, os adultos em sua vida ainda se importam com ele.

90
Entendendo comportamento – pontos de consideração

1. O significado do comportamento depende do contexto da situação.

2. Contexto refere-se a fase de desenvolvimento da criança/ adolescente


comparada a sua idade cronológica, assim como aos eventos que
ocorreram na vida da criança/ adolescente, seu histórico e outros
aspectos únicos a situação da criança/ adolescente.

3. O comportamento das crianças/ adolescentes frequentemente pode ser


entendido em termos de sua fase de desenvolvimento. Porém, para uma
criança/ adolescente acolhido, a perda e interrupções criadas com sua
separação da família biológica, pode levar a turbulências adicionais que
são expressadas pela criança/ adolescente através de seu
comportamento.

4. Acolhedores precisam ter o conhecimento da maneira como o


desenvolvimento normal e natural afeta aos jovens, assim como o
impacto da separação familiar.

5. Uma reação comum de crianças/ adolescentes e adolescentes que estão


preocupados ou tristes, é de regressarem e se comportarem num nível
abaixo de sua idade de desenvolvimento.

6. Outra reação é de ser egoísta e querer mais atenção dos adultos ao seu
redor, ou até mesmo de se distanciar de seus acolhedores.

7. As crianças/ adolescentes às vezes podem ter pensamentos ‘mágicos’.


Talvez, eles acreditem que certos comportamentos podem conferir a
eles o que eles mais desejam. Por exemplo, eles talvez acreditem que se
eles se comportarem mal, eles serão devolvidos aos pais biológicos ou
acolhedores de quem eles foram separados. Talvez eles achem que
foram mandadas embora do lar anterior devido a algo que fizeram ou
disseram.

91
Ser resiliente é:

A flexibilidade e capacidade interior de se adaptar e superar as


adversidades que ocorrem em nossas vidas.

Crianças e adolescentes precisam de ajuda para conseguirem superar as


adversidades que talvez eles tenham vivido, para então poderem
desenvolver-se em adultos bem sucedidos.

A individualidade da criança/ adolescente é um fator importante ao


determinarmos a capacidade e a maneira com que ele lida com trauma e
stress em sua vida. Algumas características necessárias para sobrepor
dificuldades pessoais podem ser:
• Humor
• Inteligência
• Persistência
• Coragem
• Discernimento para seus problemas
• Lealdade
• Entendimento

• Como um barco que a tempestade lança fora de rumo, talvez quebrado


e arruinado, a criança/ adolescente pode nunca reencontrar o seu rumo,
ou talvez ele consiga eventualmente atracar em águas calmas para ser
reconstruída.

• Essas crianças e adolescentes, quebrados emocionalmente, precisam de


ajuda para conseguirem superar momentos de adversidade em suas
vidas, para então poderem se desenvolver e viver ao máximo as
oportunidades que a vida lhes dá.

• Algumas crianças e adolescentes não possuem força interna suficiente e


talvez precisem de alguma ajuda externa, tal como alguma psicoterapia.

Reflita sobre sua própria experiência de vida e como pessoas e/ou eventos
foram cruciais em transformar a sua vida pessoal.

92
Acolhedores podem auxiliar as crianças/ adolescentes sob seu cuidado,
providenciando fatores externos que ajudem as crianças/ adolescentes a
superarem momentos de adversidade:
1. Encorajando uma experiência escolar positiva
a. Tenha ambições elevadas, porém realistas em relação ao
desenvolvimento acadêmico da criança/ adolescente.
b. Mantenha contato frequente com a escola sobre a criança/
adolescente.
c. Ajude em eventos sociais e educacionais na escola.
2. Encoraje amizades
a. A capacidade de ter amigos é um barômetro útil em relação a
saúde emocional.
b. Proteja a criança/ adolescente contra atos de intimidação das
outras crianças/ adolescentes.
c. Se interesse nas amizades da criança/ adolescente.
3. Encoraje interesses/envolvimento em esportes, passatempos,
música, atividades culturais
a. Tais atividades fortalecem a resistência interior de uma
criança/ adolescente.
b. Natação, animais, jogos e brincadeiras, danças aumentam a
confiança da criança/ adolescente.
c. Introduza a criança/ adolescente a estas atividades de acordo
com suas necessidades e interesses.
4. Ajude a criança/ adolescente a discutir problemas e colocar em
prática suas habilidades de lidar com problemas pessoais
a. Isto exige tempo e paciência.
b. Seja sensível ao conversar sobre o passado da criança/
adolescente, mas é importante conversar, mesmo que seja
doloroso.
c. Converse sobre o futuro.
d. Explique como a criança/ adolescente pode influenciar o seu
próprio futuro através das decisões que ele faz agora.
5. Encoraje atitudes carinhosas para com outros
a. Providencie regras claras e introduza princípios a criança/
adolescente que possam ser modelos de comportamento
carinhoso.
b. Não se esqueça que as crianças/ adolescentes aprendem
observando e ouvindo o que acontece ao redor!
c. Ajude a criança/ adolescente a entender que ele tem a
capacidade de ser bom e generoso.

93
F) LIDANDO COM COMPORTAMENTO

Acolhedores terão que enfrentar situações difíceis. Algumas das


dificuldades poderão surgir do comportamento ou atitudes da própria
criança/ adolescente, ou de sua família biológica; outras dificuldades
surgirão devido as reações de indivíduos que não fazem parte da família
(vizinhos, professores, empregados e a polícia ou agentes do governo).

Precisamos avaliar como podemos enfrentar certos comportamentos ou


atitudes, trabalhando juntos para conseguirmos proteger e apoiar a criança
ou adolescente acolhido.

O comportamento de crianças e adolescentes acolhidos, muitas vezes


desafia os acolhedores. Por exemplo:

• Comportamento considerado não aceitável aos outros

• Sentimentos que afligem a criança/ adolescente mesma, como


ansiedade ou depressão

• Hiperatividade ou dificuldades com atenção

• Problemas relacionados aos adultos (falta de apego ou falta de


limites)

• Qualidade de seus relacionamentos com outras crianças ou


adolescentes

94
Exercício 1 – O que realmente me aborrece…

- Cada um se aborrece com coisas diferentes.


- Pessoas mais descontraídas têm menos tendência de se deixarem ser
aborrecidas, e se tornarem frustradas ou exaustas

Coloque as cadeiras em um círculo, uma a menos do que o número de participantes.

Uma pessoa fica em pé no meio do círculo e descreve o que os aborrece.

Os outros que se aborrecem com a mesma coisa se levantam e trocam de lugar.

Quem não conseguir achar uma cadeira para sentar, fica no meio e por sua vez descreve
algo que os aborrece.

Então todos que se aborrecem com a mesma coisa se levantam e trocam de lugar…

Tome nota das coisas que aborrecem as pessoas do grupo

Exercício 2 – Reflita sobre as seguintes questões e discuta-as:

Quando eu era uma criança, eu sabia que os adultos não aprovavam de


meu comportamento quando …

Como um adulto, quando uma criança está se comportando de uma


maneira que eu não aprovo, eu …………

95
POR QUE USAMOS DISCIPLINA?
Que outras razões para disciplinar você acrescentaria ao diagrama
abaixo?
Estabelecer uma rotina Recompensar comportamento bom

………………………. Manter ordem

……………………. Preparar as crianças e adolescentes para o futuro

Disciplinar comportamento errado Aprender autocontrole

Nós disciplinamos agora, para que um dia a criança/ adolescente tenha


o luxo de ser uma pessoa disciplinada.

GUIAS DE DISCIPLINA:

1. Dever ser Direta e Objetiva


A criança/ adolescente que desobedece de propósito, geralmente
começa a justificar sua ação na sua própria cabeça. Comunicação direta
durante a disciplina ajuda a criança/ adolescente a superar este diálogo
justificativo e confrontar a verdade sobre o comportamento da criança/
adolescente. Isto permite que a criança/ adolescente veja a necessidade
de mudar e de se submeter a disciplina que é dada. A disciplina deve
ser direta e objetiva.

2. Deve Custar Algo da Criança/ adolescente


Quando a criança ou adolescente faz uma escolha errada, naturalmente
tem um custo ou consequência dessa escolha. Onde possível, a
disciplina deverá ser ligada a essa consequência natural. Por exemplo,
se a criança/ adolescente andasse de bicicleta na rua sem permissão
depois de você ter explicado a ele porque é perigoso, uma consequência
apropriada seria tirar o uso da bicicleta durante um período. Quando
isso não for possível, algo pode ser substituído deixando a criança ou
adolescente sentir o custo dessa escolha. “Puxa!” – uma criança/
adolescente pensará “Eu não farei isso de novo!”

3. Deve ser Rápida e Não se Prolongar


A intervenção deve ser rápida por várias razões. Dirigir-se
imediatamente ao comportamento errado, demonstra à criança/

96
adolescente que você coloca muita importância sobre o que a criança/
adolescente acabou de fazer. Permitir que a situação se prolongasse por
um período, demonstra que o que ocorreu não é importante para você.
Também significa que você deve intervir prontamente, antes que o
comportamento da criança/ adolescente tenha afetado o seu
autocontrole emocional. Geralmente, esperar e aguardar que o
comportamento da criança/ adolescente vá embora significa que você
ficará mais e mais agitado, até que você não aguente mais, e reaja de
forma errada. Desta maneira, a criança/ adolescente aprende a obedecer
da primeira vez.

4. Você deve Participar da Disciplina


Frequentemente, nós não participamos ativamente da disciplina. Damos
ordens a distância ou palavras de correção, e não chegamos para perto
da criança/ adolescente dando nossa atenção completa a situação, assim
demonstrando novamente a importância do que a criança/ adolescente
acabou de fazer, e por vez que você espera que a criança/ adolescente
mude em seu comportamento. Geralmente, a criança/ adolescente fala
para si mesma que o que ela fez não tem importância, mas a sua
participação ativa demonstra o contrário, e que você se importa o
suficiente com a criança/ adolescente para se envolver por completo na
situação.

USANDO A DISCIPLINA DE FORMA POSITIVA


• Intervenha cedo, de preferência a primeira vez que o problema ocorre.
• Demonstre a seriedade do que ocorreu, sem demonstrar fortes emoções
ou raiva.
• Explique a criança/ adolescente que é o comportamento que não é
aceitável e não ele mesmo.
• Explique o tipo de disciplina que será usada.
• Explique para que sirva, quanto tempo durará, e o que acontecerá
depois.
• Dê a disciplina de maneira apropriada ao comportamento errado.
• Dê a disciplina no momento em que o comportamento errado ocorre e
não depois.
• Não exagere o prolongamento da disciplina, por exemplo, não faça a
criança/ adolescente ficar de castigo por um mês sem sair de casa
depois da escola – isto não seria necessário e nem é realista.

97
TÉCNICAS BÁSICAS DE MODIFICAÇÃO DE
COMPORTAMENTO

Contratando: Contratos são acordos que têm como objetivo principal


facilitar a vida. Eles são feitos entre a criança acolhida e os acolhedores, e
identificam os comportamentos e expectativas que ambas as partes
esperam. Considere o conteúdo do contrato juntos.

Modelando: Uma criança pode ser encorajada a agir de uma certa maneira
se ela ver as pessoas, que são importantes para ela, agirem desta maneira
também. Lidere a criança/ adolescente sendo um exemplo para ele.

Sinalizando: Um sinal pode ser dado antes de um comportamento


específico. Por exemplo, uma criança/ adolescente aprendendo pela
primeira vez como ele deve se comportar na hora da refeição, talvez
precise de um sinal para saber quando começar a comer. Muitas vezes,
contato visual é suficiente.

Reforço Positivo: Abrange várias técnicas diferentes, tais como louvando a


criança por comportamentos positivos, ou até mesmo um sistema de
pontos em que a criança recebe pontos por comportamentos positivos ou
perde pontos por comportamentos negativos. Recompense
comportamento positivo.

Tempo de espera: Remover a criança de uma situação difícil e colocá-lo a


sós em uma área mais isolada permite que ela se acalme. Tempo de
reflexão.

Comportamento Substituto: Ensinando uma habilidade nova que substitui


o comportamento negativo. Por exemplo, uma mãe ensina sua filha a fazer
um chá sob sua supervisão ao invés da criança ficar mexendo sozinha com
a chaleira tentando fazer o chá por sua própria conta. Distração.

Remoção de Privilégios: Deve ser usado como último recurso para enviar
uma mensagem mais direta e clara a criança, após as outras técnicas não
terem tido resultados positivos. Remova temporariamente os privilégios
que são mais importantes para a criança, por exemplo, ficar acordada até
mais tarde, assistir um certo programa na TV, passar tempo com os
amigos. A criança aprende a merecer de volta seus privilégios.

98
Notas principais:
Sempre procure por detrás do comportamento pela causa do mesmo.
• O que aconteceu antes do comportamento?
• Identifique o que despertou o comportamento.
• O comportamento poderia ter sido prevenido?

Lembre-se que crianças/ adolescentes acolhidos viveram experiências


prejudiciais que atrasaram seu desenvolvimento e raciocínio.
• Lide com o comportamento, não desculpe-o.
• Seja consistente com os limites que você delineou.
• Não compare a criança/ adolescente com outras, especialmente os
seus próprios filhos!
Se tiver alguma dúvida, converse com o assistente social ou psicólogo que
fará seu acompanhamento.

O que não é permitido:

Não é permitido disciplinar crianças/ adolescentes acolhidos fisicamente


com tapas ou machucando-as de qualquer forma.

E requerido que nenhuma disciplina física seja usada com crianças/


adolescentes acolhidos pelas seguintes razões:

1. O juiz é primeiramente o responsável pelo cuidado e segurança da


criança/ adolescente acolhido e estabelece as regras.

2. Muitas crianças/ adolescentes acolhidos foram submetidas a crueldade


ou atos extremos de castigo. Tanto que algumas destas crianças/
adolescentes não respondem a castigos a não ser que eles sejam severos
ou até abusivos.

3. Acolhedores e assistentes sociais têm que exercer cautela para não se


colocarem em qualquer situação que possa ser interpretada de forma
errada pelas autoridades ou pela criança/ adolescente.

99
Mantendo a Paz

Impondo limites
Não é possível utilizar todas as estratégias existentes para transformar o
comportamento da criança/ adolescente, mas um bom começo seria
demarcar claramente e com autoridade os tipos de comportamentos que
você e sua família não irão tolerar. Estes limites não devem ser
negociáveis. Geralmente, estes limites já existem dentro do lar para
proteger a criança/ adolescente e a família emocionalmente e fisicamente.
Porém, tenha cautela com o número de regras, pois a existência de muitas
delas pode ser confuso para a criança/ adolescente acolhido.

Pense nos limites que são essenciais para você. Procure explicar
claramente porque você não permite certos comportamentos. Imagine que
você está explicando os seus limites a uma pessoa recém-chegada a seu lar.

Alguns dos limites que temos em nosso lar são...

Nossas razões são...

Acolhedores têm encontrado muitas soluções para aliviar a raiva e


desarmar comportamentos difíceis das crianças/ adolescentes acolhidos.

100
AUXILIANDO CRIANÇAS/ ADOLESCENTES E ADULTOS A
LIDAREM COM RAIVA

Para crianças e adolescentes:


• Sacos de socar são úteis.
• Puffs são bons para enfiar a cabeça dentro deles e berrar, ou para
chutá-los.
• Argila é boa para dar tapas, socar ou esmagar.
• Pular para cima e para baixo, berrando (em um lugar apropriado)
• Longas caminhadas.
• Envolvendo a criança ou adolescente em atividades.

Para adultos:
• Todas as opções acima.
• Trabalho físico árduo como cavar, cortar madeira com machado,
esfregar chão.
• Conversar com alguém sobre sua raiva e o que a causou.
• Escreva sobre seus sentimentos. Descreva porque você está bravo,
como, e o que você gostaria que tivesse acontecido de diferente e
por que.
• Tome um banho frio.
• Faça alguma atividade física, vá até a academia.
• Pondere sobre o que aconteceu.

Abordagens de Controle de Comportamento.


• Procure não ser negativo o tempo todo. Quando a criança/ adolescente
se comporta de uma maneira difícil, mostre seu desagrado, mas
explique a criança/ adolescente porque o comportamento dele não é
aceitável, e converse sobre maneiras diferentes que ele deve se
comportar no futuro.
• Se a criança/ adolescente não seguiu suas instruções, procure ressaltar
algo positivo que a criança/ adolescente tenha feito.
• Sempre finalize qualquer conversa sobre problemas de comportamento,

101
enfatizando a criança/ adolescente que você acredita que ele tem a
capacidade de mudar. Comunique a criança/ adolescente que seu
desagrado para com o comportamento dele não continuará e que você o
ama e se importa com ele.
• Com algumas crianças/ adolescentes manter um diário, contratos ou
tabelas de pontuação são também eficientes. Todas estas coisas podem
ser adaptadas a idade da criança/ adolescente.
• Crianças/ adolescentes acolhidos geralmente têm uma autoestima muito
baixa. Em seu histórico familiar, a disciplina dada pelos pais,
provavelmente foi humilhante e ressaltou a incapacidade da criança/
adolescente de melhorar:
- Você não tem jeito mesmo… você é inútil e não presta para nada!

Portanto, utilize a disciplina para enfatizar o seu desagrado com o


comportamento da criança/ adolescente, e não com a criança/
adolescente em si. Ensine a criança/ adolescente, através da disciplina,
o futuro que você crê que ele poderá ter.
• Reflita sobre porque o comportamento da criança/ adolescente torna a
convivência com ele tão difícil; é algo pessoal, que talvez não
incomode a outros? Se for o caso, faça um contrato consigo mesmo que
você não permitirá que tal comportamento te incomode, e quando ele
ocorrer lembre-se que esta é sua tarefa.
• Se você não pode ignorar o comportamento, procure modificar a
maneira como você responde a criança/ adolescente. Talvez desta forma
você consiga quebrar o ritmo do comportamento.
• Não se deixe afetar de maneira pessoal pelo comportamento da criança/
adolescente. Não diga “Por que esta criança/ adolescente está fazendo
isso comigo?”
• Por que o comportamento está ocorrendo? Ele pode ser prevenido ou
curado? Você pode reconhecer os sinais que a criança/ adolescente dá
antes de o comportamento acontecer e intervir de alguma forma?
• Quando você achar que a criança/ adolescente está tentando começar
uma discussão, procure ouvir ativamente. Não responda com palavras
que possam bloquear a discussão, mas concentre-se na mensagem que a
criança/ adolescente está querendo passar, refletindo de volta para ele o
que foi dito, e dando a si mesmo um tempo para pensar no que a
criança/ adolescente está falando. Uma discussão calma é muito melhor
e mais eficaz do que um argumento forte.

102
O exercício abaixo pode ser individual, mas é melhor quando feito em
grupo, especialmente com outros acolhedores. Pense nas maneiras em que
você foi criado, especialmente na área do comportamento, e como você
agora está tentando influenciar o comportamento das crianças/
adolescentes ou adolescentes que você acolhe.

Faça duas listas:

Quando eu era criança/ adolescente, eu aprendi a me comportar


através de:

Com meus próprios filhos ou outras crianças/ adolescentes dentro do


meu lar, eu ensino eles a se comportarem através de:

Ao acabar o exercício acima, compare as duas listas. Note qualquer


semelhança ou diferença.

103
As seguintes listas contêm palavras que podem ser usadas para descrever
métodos diferentes de disciplina. Quais palavras melhor descrevem a sua
maneira de disciplinar…

1. Amável 1. Suborno
2. Discussão aberta 2. Frustrada
3. Explicação 3. Coerção
4. Estruturada 4. Chantagista
5. Caótica

É importante lembrar que crianças e adolescentes florescem em um


ambiente seguro e repleto de amor. A disciplina utilizada de maneira
correta é a estrutura que dá segurança para todos dentro do lar. É
também a estrutura que permite a expressão do amor dentro do lar. Com
segurança e amor como uma base, os acolhedores podem então ensinar a
criança/ adolescente caminhos que vão guia-los para o resto da sua vida.

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer


não se desviará dele.

Provérbios 22:6, A Bíblia

104
AS PERSPECTIVAS DE ALGUNS ADOLESCENTES
SOBRE SEU COMPORTAMENTO

Carol:

“Eu creio que a razão principal pelo comportamento difícil em crianças


acolhidas é que elas têm uma autoimagem frágil e que ao chegarem ao lar
acolhedor, elas veem um grupo de pessoas unido, com uma autoimagem
forte. Geralmente, a família acolhedora tem um grupo familiar extenso e
está bem estabelecida dentro da comunidade. Já a criança acolhida vem de
uma família quebrantada, e como é a família que forma a base para a
autoimagem da criança, ela se sente perdida e sem uma base estável.
Adolescentes acolhidos muitas vezes sentem-se inferior. Eles foram
rejeitados na escola, na comunidade e por indivíduos.

Todo mundo quer manter um pedaço deles mesmo, e com a criança


acolhida há a sensação de que você está se afogando e perdendo todo o seu
ser… tudo o que você é… portanto é normal o adolescente resistir e
procurar maneiras de manter sua própria identidade, e frequentemente a
maneira de fazer isso não é necessariamente positiva.

Outra razão porque comportamentos difíceis surgem, é para testar os


relacionamentos. Adolescentes que passaram por vários lares terão sofrido
vários relacionamentos rompidos, e provavelmente se sentirão rejeitados,
portanto seu comportamento pode ser uma maneira deles testarem o seu
compromisso para com eles. Da perspectiva de um adolescente, as vezes é
mais fácil ser rejeitado antes que o relacionamento tenha tido uma chance
de se desenvolver, e é mais fácil causar a rejeição com seu próprio
comportamento, pois pelo menos assim você sabe porque foi rejeitado.

Se um adolescente acolhido está fazendo parte das atividades e rotina


familiar, e não está sendo difícil ou tendo problemas, isso significa que há
compromisso nos relacionamentos e que tudo está indo bem. Mas dá medo
admitir que você está feliz e que tudo está indo bem, porque isso te faz
mais vulnerável a sofrer mais desapontamentos”.

105
Débora:
“Pergunte a eles porque eles estão se comportando desta maneira e não
seja tão rápido em chamá-los de difíceis, pois estas são palavras e rótulos
que eles carregarão para o resto de suas vidas.

Você lembra deste tipo de coisa pelo resto da vida.

É bom também os acolhedores serem coerentes um com o outro. Quando


está tudo bagunçado e a criança não sabe se ela está indo ou vindo, ela
pode se sentir confusa e sobrecarregada e isto pode causar o
comportamento difícil. “Procure criar um ambiente equilibrado.”

Anna:
“Tenho que admitir que meu comportamento foi terrível e que fiz meus
acolhedores sofrerem muito. A razão pelo meu comportamento foi a
mudança de vida que sofri. Morei na cidade durante a maior parte de
minha infância e de repente me levaram embora e fui parar em uma
cidadezinha no meio do nada, onde não havia ninguém. Ser separada de
meus amigos e trocar de escola me deixou meio atordoada e doidinha. Fui
parar também em uma escola minúscula aonde eles não tinham experiência
em lidar com crianças com distúrbios emocionais e foi difícil lidar não
somente com os professores mas também com os outros alunos. Não havia
nada para se fazer naquela cidadezinha no meio do nada, e sinceramente,
eu fiquei meio chocada… e tudo isso fez com que meu comportamento
piorasse.

Outro problema para mim foi fazer parte de uma família. Eu achei difícil
aceitar afeto e atenção de meus acolhedores… parecia que eles se sentiam
obrigados a me dar atenção. Nunca tinha recebido atenção antes e foi
difícil me acostumar… então as vezes eu ficava meio agressiva mesmo.

Para lidar com meu comportamento, meus acolhedores até tiveram que
sentar em cima de mim… sei que não havia outra maneira de lidar comigo
naquelas horas, mas eu me sentia trancada, presa e assustada. Acho que
isso me fez sentir pior e mais frustrada. ”

106
G) ENTENDENDO AS DIFERENÇAS

Alguns comentários de crianças/ adolescentes acolhidos:

“Tudo era diferente lá. A maneira como eles viviam, a comida que
comiam… até o jeito como eles conversavam uns com os outros”.

“Era como se fizéssemos parte de um grande jogo aonde todos conheciam


as regras, menos eu”.

“Eu fiquei com muito medo a primeira vez que fui para um lar acolhedor,
eu não sabia como seriam as coisas”.

“Ir para um lar acolhedor foi como pular dentro de um buraco enorme e
escuro”.

Crianças/ adolescentes criadas dentro de famílias não biológicas muitas


vezes sentem-se diferentes. Eles descrevem essa diferença como um
estigma por não estarem com suas famílias de origem. A sociedade vê eles
de maneira diferente, como se eles fossem a causa do problema ao invés de
vítimas de abuso ou negligência.

Esse estigma manifesta-se das seguintes maneiras:


• Preconceito – Julgando alguém sem ter conhecimento algum da
pessoa, e formando conclusões a partir de sua religião,
nacionalidade, sexo, alguma deficiência, sua raça ou origem étnica.

Todos têm preconceito. Ele nos ajuda a avaliarmos nossas crenças e


filosofia de vida. Porém, quando julgamos alguém sem conhecermos
a pessoa ou suas circunstâncias, formamos atitudes sobre ela como
membros de um grupo da sociedade. Isto nos leva a termos opiniões
e agirmos de maneira que não seja justa e que seja até prejudicial a
pessoa em questão.

107
Descreva alguns de seus preconceitos:

1) De onde eles vem?

2) Que efeito os seus preconceitos tem sobre…

a) Sua maneira de viver

b) Seus relacionamentos com sua família

c) Seus relacionamentos no trabalho ou na comunidade

d) As decisões e escolhas que você faz

** Que impacto você acha que preconceitos terão sobre qualquer


criança/ adolescente que você venha a acolher?

• Discriminação – Ocorre quando alguém é tratado de uma maneira


menos favorável devido a cor de sua pele, alguma deficiência,
origem étnica, língua, nacionalidade, raça, religião ou sexo.
o A discriminação resulta em ação injusta. Pessoas que são
discriminadas podem ter dificuldades em encontrar emprego,
casa, educação, ou acesso a instalações que outras pessoas
talvez tenham.
• Racismo – É a crença que algumas raças são superiores a outras
devido a aspectos físicos, como a cor da pele. Tende a ocorrer com
grupos raciais que fazem parte da minoria dentro da sociedade.

o Racismo não ocorre necessariamente de maneira intencional.


Indivíduos que fazem parte do grupo em maioria podem
julgar de maneira errada baseado na raça da pessoa e tratando
a pessoa do grupo da minoria pior do que outro membro do
grupo da maioria.

108
Discriminação injusta pode afetar o potencial da criança/ adolescente
acolhido e as oportunidades de vida que a criança/ adolescente poderá
ter. Acolhedores devem ficar alertas contra isso e encontrar meios de
desafiar a discriminação.

Alguns exemplos visto na Inglaterra:

1. 50% das crianças/ adolescentes acolhidos obtiveram uma


qualificação formal na escola em comparação a 98% de todos os
estudantes.

2. 8% obtiveram pelo menos 5 qualificações formais comparada com


48% de todos os estudantes.

3. Mais de 50% dos adolescentes acolhidos que não estavam morando


com sua família biológica aos 16 anos tem tendência a serem
desempregados.

4. 13% das crianças/ adolescentes acolhidos sofrem necessidades


especiais ao tornarem-se emancipados, incluindo dificuldades
emocionais e de comportamento, dificuldades de aprendizagem e
problemas mentais

109
CAPÍTULO 5 DIZER ADEUS – SEGUIR EM
FRENTE E SE DESPRENDER

Um tema constante durante este curso tem sido as dificuldades vividas


pelas crianças/ adolescentes acolhidos ao frequentemente mudarem de lar.
Chega um ponto no processo de acolhimento em que devemos considerar o
futuro da criança/ adolescente e prepará-lo para o fim específico que já
fora planejado de acordo com o caso dele. Esta é uma das tarefas mais
importantes que um acolhedor pode cumprir, ao se assegurar que o adeus é
dito e feito de maneira saudável e que a criança/ adolescente então pode
continuar sua vida, entendendo claramente o seu passado e a esperança que
está no seu futuro.

Mensagem: ‘Não importa o que aconteceu durante o processo de


acolhimento, quer tenha sido positivo ou negativo, a criança/
adolescente precisa deixar o lar com sua bênção. Todos
podemos aprender com o que aconteceu.’

Objetivos: Nossas metas são:

• Enfatizar a importância do adeus e a preparação necessária que


precisa ser feita

• Pensar sobre as necessidades que a criança/ adolescente terá no


futuro, assim como as dos acolhedores que continuarão neste ramo

• Explorar finalizações diferentes

• Ilustrar a importância de manter o passado, presente e futuro intactos

110
Crianças/ adolescentes deixam o lar acolhedor por várias razões…

Algumas razões positivas:


1. Eles irão morar novamente com seus pais ou membros de sua família
biológica.
2. Eles irão morar em lares adotivos ou um acolhimento mais permanente.
3. Eles são maduros o suficiente para morarem sozinhas.
Algumas razões menos positivas:
1. Os acolhedores pediram a remoção da criança/ adolescente de seu lar.
2. A criança/ adolescente pede e insiste em ser mudada para outro lar.
3. A criança/ adolescente desenvolveu um hábito de fugir de suas
circunstâncias.
4. A criança/ adolescente informa a assistente social que alguém no lar
acolhedor abusou dele.
5. A criança/ adolescente pode ter dificuldades em se adaptar a vida
familiar e requer um ambiente mais estruturado como um abrigo.

PONTOS DE CONSIDERAÇÃO
• Situações de acolhimento terminam por várias razões. É importante
tornar a situação o mais positiva possível para a criança ou
adolescente.
• O acolhedor não deve ser visto como uma falha quando o
acolhimento termina de maneira inesperada. Geralmente, não reflete
a capacidade do acolhedor, mas sim a confusão e o distúrbio interno
da criança/ adolescente.
• Dizer adeus dói, mesmo que o acolhimento não tenha sido muito
positivo – a mudança pode ser algo muito emocional para todos.
• A maioria das crianças/ adolescentes normalmente sai de casa
somente após terem amadurecido e ao se tornarem mais
independentes. Eles também podem voltar ao lar se precisarem.
• Crianças/ adolescentes que moram longe de suas famílias biológicas
estão sempre menos preparadas emocionalmente para se mudarem
do lar, porém tem que superar este tipo de situação com mais
frequência e tendo menos maturidade.
• Às vezes, acolhedores podem continuar se relacionando com a
criança ou adolescente mesmo após estas terem saído do lar
acolhedor. Isto deve ser algo encorajado pela agência, especialmente
se for algo positivo que ajudará a criança ou o adolescente.

111
“Foi um alívio saber que poderíamos nos apegar a uma criança acolhida
e demonstrar nossa tristeza com sua saída do nosso lar. Mas é ainda mais
importante não permitir que seus próprios sentimentos atrapalhem a
decisão de fazer aquilo que é o melhor para ela”.
O comentário acima foi feito por um acolhedor, e está certíssimo.
Crianças/ adolescentes abandonados precisam de acolhedores com quem
eles possam se apegar – mas isso também torna as coisas mais difíceis na
hora da separação quando a criança/ adolescente precisa sair do lar
acolhedor.
Outros comentários feitos por acolhedores:
“O que muitas vezes eu não compartilho em público é a dor que sinto ao
ter que permitir que a criança vá embora do lar. Quando começamos a
acolher crianças, recebíamos muitos bebês. Ficava acordada várias noites
atendendo aos choros deles e no final do acolhimento, quando tínhamos
que dizer adeus a algum o bebê… sempre foi difícil, apesar do trabalho
que eles davam. Os adultos muitas vezes dizem que as crianças são muito
resistentes e que conseguirão superar a separação, mas esquecemos
também que as crianças são muito sensíveis. Elas sentem muito a tristeza
do adeus.”

“Sempre que me pedem para compartilhar sobe o acolhimento com um


grupo de pessoas, eu geralmente compartilho aquilo que temos aprendido
como família durante este curto tempo em que começamos a acolher. Eu
digo as pessoas que meus filhos têm aprendido a compartilhar seu lar,
seus pais, seus brinquedos, seus primos, etc com as crianças acolhidas.
Eles têm aprendido também que a vida não é perfeita e têm aprendido
sobre as realidades da vida bem mais cedo do que eu quando era
criança!”

1) Descreva situações positivas e negativas de quando você teve que


dizer adeus.

2) Compartilhe uma destas experiências com outros do seu grupo.


Dizer adeus tende a ser um momento cheio de emoção. A maneira como as
pessoas dizem adeus varia de acordo com o histórico e a personalidade de
cada um. Todos precisam ter a liberdade de lidar com a perda sentida ao
dizerem adeus, de sua própria maneira.

112
Lições aprendidas através de sua experiência pessoal ajudam a
identificar o que faz do adeus uma experiência positiva.

Exercício: Leia novamente as oito razões para terminar o acolhimento e


descreva uma maneira de finalizar cada tipo de situação de maneira
positiva.

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

113
PONTOS DE CONSIDERAÇÃO

Acolhedores precisam encontrar uma maneira de tornar o adeus uma


ocasião especial. É necessário comunicar a criança/ adolescente acolhido
que você deseja a ele toda a sorte e sentirá falta dele, e que ele foi e sempre
será importante para vocês.
• A maneira como os acolhedores dizem adeus deve ser algo natural e
não esquisito, e deve ser feito de uma maneira que se encaixe dentro da
cultura familiar. Bolos e festas não seriam certos para todas as famílias,
mas podem ser certos para algumas.
• Crianças e adolescentes não devem pensar que estão indo embora
devido a quem eles são. Por exemplo, uma criança que foi abusada
sexualmente não deve sentir-se que está sendo transferida do lar por causa
de algo que ela tenha feito.
• O adeus pode incluir várias pessoas, incluindo da escola, amigos e
membros da família extensiva dos acolhedores.
• Grupos de irmãos que foram acolhidos no mesmo lar, embora
possam ter muito em comum, provavelmente têm sua maneira individual
de reagir ao adeus e a separação.
• Crianças e adolescentes voltando a suas famílias de origem,
raramente voltam ao lar da mesma maneira que saíram. A vida continuou,
eles mudaram, assim como todos os membros de sua família de origem.
• Os pais biológicos das crianças/ adolescentes acolhidos, as vezes
fazem promessas que não são muito realistas de que tudo ficará bem na
família. Isso pode dificultar o relacionamento da criança/ adolescente com
o acolhedor.
• Mudanças podem instigar uma reação da criança/ adolescente
baseada em memórias de mudanças que ocorreram no passado.
• Crianças/ adolescentes que encontraram segurança e estabilidade no
lar acolhedor, especialmente após terem vivenciado abuso e negligência
desde cedo em suas vidas, se tornarão inseguras sobre a vida e sobre o que
acontecerá no futuro.
• As vezes as crianças/ adolescentes acreditam que a mudança ocorre
porque eles não foram boas.
• Os filhos dos acolhedores também sentirão tristeza ou até alívio
quando a criança/ adolescente acolhido for embora.
• Acolhedores devem passar o máximo possível de informação sobre
a criança/ adolescente aos novos acolhedores que forem recebê-lo.

114
MANTENDO AS MEMÓRIAS SEGURAS

É importante que os acolhedores ajudem as crianças/ adolescentes a


manterem o seu passado e a procurarem entendê-lo, ao invés de esquecê-
lo. Quando uma criança/ adolescente muda de lar existe o perigo de ele
perder o contato com seu passado. Uma criança/ adolescente que vai de lar
em lar terá pouca ligação com sua história, a não ser que os acolhedores
preservem seus relacionamentos, histórico médico e escolar, e outros
pontos de referência do passado da criança/ adolescente para ele.

Exercício: Descreva alguns itens que você guardou de sua infância e


porque eles são especiais para você.

Sugestões para como os acolhedores podem ajudar a preservar as


memórias do passado da criança/ adolescente acolhido:

• Fotos ou vídeos do tempo que a criança/ adolescente passou no lar


acolhedor

• Concorde em manter contato com a criança/ adolescente por telefone ou


carta

• Convide a criança/ adolescente a voltar para visitá-los

• Permita que a criança/ adolescente leve um objeto favorito dos


acolhedores

• Guarde boletins escolares, certificados, desenhos, e objetos que sejam


da criança/ adolescente e passe aos novos acolhedores que receberão a
criança/ adolescente

• Mantenha um livro ou caixa com informações pessoais e importantes da


criança/ adolescente e passe aos acolhedores que receberão a criança/
adolescente

115
Sugestões ao assistente social e psicólogo do projeto de acolhimento
familiar para ajudar a preservar as memórias da criança/ adolescente:

Trabalho de Vida:

• Ajude a criança/ adolescente a relembrar quem faz parte de sua família


de origem – fotografias, cartas, nomes, endereços e eventos
importantes.

• Procure informações importantes para a criança/ adolescente – quanto


maior o espaço de tempo em que nenhuma informação é anotada ou
buscada, mais difícil será encontrá-la depois.

• Ajude a criança/ adolescente a entender o que aconteceu em sua vida –


desenhe uma linha do tempo ou faça uma árvore genealógica. Muitos
de nós temos amigos ou parentes que nos ajudam a fazer isso, porém
não é o caso de crianças/ adolescentes acolhidos.

• Crie uma caixa de memórias que possa acompanhar a criança/


adolescente para onde ele for. Se a criança/ adolescente quiser ficar
com ela o tempo todo, faça uma cópia, caso a criança/ adolescente
destrua ela em um momento de raiva.

• O Trabalho de Vida pode ajudar a promover uma identidade mais


positiva na criança/ adolescente.

Exercício: exemplo de como fazer uma árvore genealógica

116
Quando o acolhimento acaba repentinamente

• Quanto menor o tempo de experiência dos acolhedores, maior a


probabilidade de dificuldades. O maior risco ocorre no primeiro ano de
experiência, após o qual o risco diminui consideravelmente no segundo
ano.

• Há um risco maior se os acolhedores têm filhos, especialmente abaixo


de 5 anos. O risco torna-se menor se a criança/ adolescente acolhido é
bem mais velha que os filhos dos acolhedores, porém esta situação
apresenta outros riscos, tais como o de segurança dos filhos.

• Acolhedores que têm filhos que não se adaptam bem a uma outra
criança/ adolescente invadindo o espaço familiar, apresentam mais
tendência a problemas de acolhimento. O risco é maior quando há uma
diferença 5 anos ou menos entre os filhos dos acolhedores e a criança/
adolescente acolhido, ou 2 anos ou menos com crianças mais velhas ou
adolescentes.

• Quando não há muito apoio aos acolhedores da parte do projeto de


acolhimento familiar e da escola. Toda vez que a criança/ adolescente
muda de escola, o risco de problemas com acolhimento aumenta.

A ruptura do acolhimento raramente ocorre devido a um único evento ou a


uma certa característica pessoal. Ela tende a ocorrer quando existem
longos períodos de stress e quando os acolhedores chegam ao ponto em
que a única maneira de voltarem a ter um lar normal é para a criança/
adolescente acolhido ir embora.

117
CAPÍTULO 6 FILHOS DOS ACOLHEDORES

Esta parte é para os filhos dos acolhedores conseguirem


entender e fazer suas perguntas sobre o acolhimento

Atividade 1:

Em um grupo, faça as seguintes perguntas:

1. Se eu pudesse ser famoso, eu seria ……………………………

2. Se eu pudesse ir a algum lugar, eu iria …………………….

3. Se eu escrevesse um livro, eu escreveria sobre …………………….

4. Quando eu crescer, eu quero ser …………………………..

5. Se eu fosse uma fruta, eu seria……………………………..

6. Se eu fosse um animal, eu seria …………………………

Atividade 2:

Trabalhe em grupos de 3 a 4 crianças/ adolescentes, e mais um adulto.

Anote o seguinte:

• O que eles entendem sobre a ideia de suas famílias acolherem?


• Como eles se sentem sobre isso? – empolgados, preocupados,
interessados, ou outro?
• Por que eles se sentem assim?
• Eles já conversaram sobre isso com alguém? Volte a se reunir em
um grupo maior e discutam o tema acima.

118
PONTOS DE REFLEXÃO
1. É importante que os filhos entendam que eles não devem manter
segredos sobre as crianças/ adolescentes acolhidos. “Se eu te contar
algo, você promete que não contará a ninguém…”
2. Filhos de acolhedores passarão muito tempo com as crianças/
adolescentes acolhidos e ouvirão sobre várias histórias e experiências
vivida – algumas poderão chocá-los!

3. Explique a diferença entre segredos bons e ruins.

4. Filhos de acolhedores não devem divulgar o histórico da criança/


adolescente acolhido a outras pessoas.

Leia o seguinte texto: A família de Jonas tem sido uma família acolhedora
há 2 anos. Jonas tem 10 anos…

‘Minha mãe me falou antes de acolhermos uma criança que as vezes a


criança me contaria coisas que ela não gostaria que os acolhedores
soubessem. Ela falou que se isso acontecesse, eu teria que contar a ela,
mesmo se a criança acolhida me pedisse para não contar. Eu não achava
que esse tipo de coisa aconteceria de verdade.

A primeira criança que acolhemos foi o Davi, ele tinha a mesma idade que
eu e nós compartilhávamos um quarto. Na primeira noite, ele me contou
tudo que seu pai tinha feito a ele – espancou, deixou ele sozinho em casa,
fez ele cozinhar e limpar toda a casa. Ele me mandou não contar a ninguém
– se eu contasse, o seu irmão mais velho me bateria.

Eu me preocupei a noite toda sobre isso, mas de manhã eu resolvi contar a


minha mãe. Fiquei aliviado ao contar a ela. Eles resolveram tudo e nada de
ruim aconteceu comigo. Davi pôde conversar com minha mãe e com a
assistente social sobre coisas que ele jamais contou a alguém antes. Ele
nem tem um irmão mais velho, mas mamãe disse que ninguém jamais teria
me machucado por ter contado o que o Davi falou para mim!’

119
Atividade 3: Coloque cartões com as seguintes perguntas no chão, com a
face escrita para baixo. Junte as crianças/ adolescentes em um círculo.
Cada uma deve escolher um cartão, ler a pergunta e respondê-la.

1. Como é o seu banheiro de casa?


2. Quem limpa a casa?
3. Quem é seu cantor ou banda favorita?
4. O que você faz quando está entediado?
5. O que você mais gosta de fazer?
6. O que você mais detesta fazer?
7. Quando você está feliz, o que você faz?
8. Quando você está triste, o que você faz?
9. Para que servem os pais?
10. Para que servem irmãos e irmãs?
11. O que você gosta de fazer com seus amigos?
12. Do que você tem pavor?
13. O que você faz nas manhãs de sábado?
14. O que você faz nos domingos?
15. Você consegue pensar no que mudará quando sua família começar a
acolher crianças ou adolescentes?
16. Há algo que você não quer que mude?
17. Há algo que você gostaria que fosse mudado?
18. A quem você contaria se você visse ou ouvisse a criança ou adolescente
acolhido fazendo ou falando algo que você não acha certo?
19. Que coisas você terá que compartilhar?
20. Faça uma lista de coisas que você não se importaria em compartilhar e
outra de coisas que você não quer compartilhar

120
E Finalmente… Vamos avaliar:
O que você mais gostou deste curso?

O que você menos gostou deste curso?

Como o curso te ajudou a sentir-se mais preparado para tornar-se uma


família acolhedora?

121
Como este curso te ajudou a preparar seus filhos para o acolhimento?

O que você gostaria de aprender mais?

Quais são três coisas importantes que você aprendeu sobre o acolhimento?

122
Obrigado por ter completado este curso.

Esperamos que você tenha aprendido muito sobre o que é ser uma família
acolhedora.

Há muitas coisas que você deve lembrar, mas o mais importante é que as
crianças e adolescentes que você acolherá não são suas. Eles tiveram uma
vida antes de vir ao seu lar, e seja o que for que aconteceu com eles, as
dificuldades que eles vivenciaram terá criado confusão e ansiedades a eles.
Lembre-se, crianças e adolescentes geralmente são vítimas da negligência,
abuso ou exploração de um adulto. Raramente, são eles a causa dos
problemas e a razão por eles não poderem permanecer com suas famílias
de origem. No final, são eles que acabam pagando o maior preço!

123
Anexo I

QUESTÕES IMPORTANTES NO BRASIL


1) O Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA)
foi criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2009 para
monitorar as políticas de acolhimento na área da infância e da
juventude. Um levantamento da CNCA de fevereiro de 2012 relata os
seguintes dados sobre a situação de crianças e adolescentes em
instituições de acolhimento no Brasil1

 37.240 é o numero de crianças e adolescentes acolhidos.


 17.599 são de sexo feminino.
 19.641 são de sexo masculino.
 A maior parte dos acolhidos se encontra em São Paulo (8.485).
Depois em Minas Gerais (5.574), Rio de Janeiro (4.422), Rio
Grande do Sul (3.802) e Paraná (2.943).
 2008 é o numero de unidades de acolhimento no Brasil. Os estados
com maior índice de unidades de acolhimento são: São Paulo (362),
Minas Gerais (352), Rio Grande do Sul (213), Rio de Janeiro (173)
e Paraná (131)

2) Um levantamento publicado pelo Ministério de Desenvolvimento


Social e Combate a Fome (MDS) em 2013 pesquisou 2.624 abrigos
com 36,929 crianças e adolescentes acolhidos e informou o seguinte
sobre a faixa etária deles.2

 16,5 % são de 0 a 3 anos


 12,7% são de 4 a 6 anos
 31,2% são de 7 a 11 anos
 22,3% são de 12 a14 anos
 16,7% são de 15 a 17 anos
 11,9% são de 16 a 18 anos
 0,6% sem informação

O mesmo levantamento mostrou que as cinco razões mais comuns de


acolhimento institucional são:

1. Negligência (33,2%)
2. Abandono (18,5%)
3. Violência física (9,6%)

124
4. Violência sexual (5,5%)
5. Violência psicológica (4,5%)

O mesmo levantamento mostrou que das 932 crianças e adolescentes


inseridos em 144 projetos de acolhimento familiar no Brasil, as cinco
razões mais comuns de acolhimento familiar são:

1. Negligência (54,9%)
2. Abandono (21,8%)
3. Violência física (12,6%)
4. Violência psicológica (9,1%)
5. Violência sexual (8,0%)

3) O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) foi criado pelo CNJ em 2008


para reunir informações sobre os pretendentes e as crianças/
adolescentes ou adolescentes disponíveis para a adoção. Pesquisa
realizada pelo CNA em maio de 2012 registra o seguinte: 3

 5.240 é o numero de crianças e adolescentes disponível para adoção


 45,92% são pardas, 33,8% brancas e 19,06% negras
 77,16% dessas crianças e adolescentes têm irmãos – sendo 35,99%
com o familiar também inscrito no Cadastro Nacional de Adoção
 28.041 é o numero de pessoas cadastrada como pretendes a adoção
(quase cinco vezes maior do que o numero de crianças e
adolescentes disponível para adoção)
 Apenas 18,08% estão dispostos a adotar irmãos
 Com relação à raça, 90,91% dos interessados aceitam adotar
brancos, 61,87% pardos e 34,99% negros
 76,01% dos cadastrados só querem adotar crianças até 3 anos de
idade.
 De acordo com Nicolau Lupianhes, juiz auxiliar da Corregedoria
Nacional de Justiça e coordenador do CNA, o perfil exigido pelos
inscritos no cadastro ainda é a principal barreira para a inserção das
crianças e jovens em uma nova família.
*Segundo artigo publicado pela revista Mãos Dadas em
setembro de 2011, a chance de uma criança negra ou parda,
com irmãos e com mais de 5 anos, que está esperando adoção,
encontrar pais que a aceitem é de 0,31%, ou seja, apenas uma
criança em 320. 4

125
4) O censo do governo federal publicado em março de 2011 é a primeira
pesquisa que mostra a realidade de crianças e adolescentes em situação
de rua no Brasil.5

 23.973 crianças e adolescentes vivem nas ruas de 75 cidades com


mais de 300 mil habitantes.*
 A maior parte dessa população é do sexo masculino e está na faixa
etária dos 12 aos 15 anos.
 Metade dos entrevistados revelou que vive nessa situação há mais
de um ano.
 O estado com o maior número de crianças e adolescentes vivendo
nas ruas é o Rio de Janeiro, com 5.091; a seguir vem São Paulo
(4.751) e Bahia (2.313).
 Entre as crianças e adolescentes ouvidos, 63% disseram que vivem
nessa situação por causa de brigas familiares e violência doméstica.

*Obs: A pesquisa analisou 75 cidades num universo de 5.565


municípios brasileiros.

1
http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/18297-mais-de-37-mil-jovens-vivem-em-abrigos. Acesso: 20/07/12
2
http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/dicivip_datain/ckfinder/userfiles/files/LIVRO_Levantamento%20Nac
ional_Final.pdf3http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/19552-cadastro-tem-52-mil-criancas. Acesso:
20/07/12
4
http://www.maosdadas.org/?pg=show_artigos&area=revista&artigo=446&sec=270&num_edicao=27&
util=1. Acesso: 20/07/12
5
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1108319. Acesso: 20/07/12

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