Você está na página 1de 14

1

A Esquizofrenia no contexto da lei penal

Vera Lúcia Mocbel de La Rocque2


José Maria Cunha Júnior 3
Amanda Mesquita de Lima 4

Resumo: Este artigo pretende fazer um estudo da Esquizofrenia no âmbito da lei penal. Para
tanto inicia com considerações sobre o que vem a ser a doença e quais as faces que
apresenta, prosseguindo com análise do conceito de culpabilidade na esfera penal, bem como
de suas implicações quanto à questão da imputabilidade e da inimputabilidade. Desenvolve, a
partir daí, um estudo acerca da recepção da Esquizofrenia pelo Código Penal brasileiro,
analisando o papel do juiz e dos profissionais da saúde, como psicólogos e psiquiatras, que
atuam a fim de diagnosticar o caso suspeito.

Palavras-chave: Esquizofrenia, Código Penal, culpabilidade, inimputabilidade.

1. Introdução

O Código Penal brasileiro prevê, em seus artigos 26, caput, 27 e 28, §

1º, os casos de inimputabilidade, aplicada nas situações em que ao agente do

ilícito penal é atribuído ausência de imputação. Não há em nosso código uma

definição do venha a ser a imputabilidade, é o que ocorre com a maioria das

legislações modernas que optam por não defini-la. Todavia, ainda que

indiretamente, pelas características da inimputabilidade, encontra-se a

conceituação de imputabilidade. Trata-se da capacidade mental do ser humano

de, quando da ação ou omissão, entender o caráter ilícito do fato e de

determinar-se em conformidade com esse entendimento.

Daí compreender que se o agente apresentar ausência de integridade

biopsíquica (elemento intelectivo) e do domínio da vontade (elemento volitivo),

simultaneamente, tratar-se-á, conforme preceitua o Código Penal, de um

1
Artigo apresentado à disciplina Psicologia Jurídica sob a orientação do Prof. Dr. José Mário Brito
2
Graduada do Curso de Letras da Universidade Federal do Pará e graduanda do Curso de Direito da
Faculdade de Belém – FABEL
3
Graduando do Curso de Direito da Faculdade de Belém - FABEL
4
Graduanda do Curso de Direito da Faculdade de Belém - FABEL
sujeito inimputável. Isso porque são esses os fatores considerados para efeito

da inimputabilidade.

Sendo uma doença mental, a Esquizofrenia está enquadrada no

contexto do qual trata o artigo 26 do referido código. A qual, embora ainda não

tenha sua origem concluída, é entendida como uma doença da personalidade

total. O esquizofrênico age como alguém que rompeu as rédeas da

concordância cultural.

Cumpre observar que a inimputabilidade penal leva em conta um critério

biopsicológico. Além da presença de um problema mental, é mister que em

face dele a pessoa não tenha capacidade para discernir acerca da conduta

ilícita, no momento do fato. Para tanto, há que se considerar o imprescindível

trabalho de psicólogos e psiquiatras, bem como do juiz que irá requerer o

exame de sanidade mental.

2. A Esquizofrenia e seus tipos

Dentre os transtornos mentais, a Esquizofrenia é uma das psicoses que

mais se destaca, por ser uma doença séria e muito incidente, estimando-se

que 1% da população de idade jovem, entre 15 e 35 anos, seja afetada por

essa doença. É o que menciona Elaine Miranda, citando afirmação de Javitt e

Coyle (2004), ao dizer que os autores

afirmaram que no Brasil, estimativas do Ministério da Saúde


indicaram que entre 0,7 % e 1% da população sofre ou já teve um
surto de esquizofrenia. O estudo apresenta os dados oficiais
apontados pelo Ministério da Saúde entre janeiro e outubro de 2003:
aproximadamente 131 mil pacientes com diagnóstico de esquizofrenia
foram internados em hospitais psiquiátricos conveniados com o
Sistema Único de Saúde (SUS) (2005, p.23).

2
A doença é diagnosticada como um quadro de ampla desorganização

cerebral, em que a pessoa perde ou pode perder a capacidade de integrar suas

emoções e sentimentos com seus pensamentos. Essa desorganização faz com

que o indivíduo possa apresentar delírios, alucinações, dificuldade de

aprendizado, dificuldade de raciocínio, neuroses, etc. A esquizofrenia, na

definição de Foucault, é marcada,

de um modo geral, por uma perturbação na coerência normal das


associações – como um fracionamento do fluxo do pensamento – e
por outro lado, por uma ruptura do contato afetivo com o meio
ambiente, por uma impossibilidade de entrar em comunicação
espontânea com a vida afetiva do outro (autismo) (1998, p.8).

O esquizofrênico tem uma vivência que se priva do convívio social,

voltando-se para uma “realidade” interior, mergulhado num universo fantasioso.

A pesquisadora Ana Mercês Bahia Bock caracteriza a esquizofrenia por

(...) afastamento da realidade – o indivíduo entra num processo de


centramento em si mesmo, no seu mundo interior, ficando,
progressivamente, entregue às próprias fantasias. Manifesta
incoerência ou desagregação do pensamento, das ações e da
afetividade. Os delírios são acentuados e mal sistematizados. A
característica fundamental da esquizofrenia é ser um quadro
progressivo, que leva a uma deterioração intelectual e afetiva.

Embora a Esquizofrenia, segundo a Organização Mundial de Saúde

(OMS), seja a terceira causa de perda da qualidade de vida entre 15 e 44 anos,

considerando-se todas as doenças, e pelo enorme impacto social, a sociedade

pouco sabe a respeito dessa doença, julgando os doentes em base dos antigos

tabus: que esquizofrênicos são agressivos, inconstantes, loucos, que devem

ser internados, etc. Isso decorre da dificuldade de reintegração do indivíduo à

sociedade, motivada por internações muito prolongadas e pelos poucos

recursos de tratamento. Assim, aumentou o estigma e o preconceito que

3
cercam a doença até hoje. No entanto, dependendo da evolução da doença e

das medidas mediadoras como tratamento médico e familiar, a pessoa pode

viver uma vida normal.

A evolução da Esquizofrenia é dividida em tipos distintos de acordo com

a sua apresentação clínica: esquizofrenia paranóide, esquizofrenia hebefrênca

ou desorganizada, esquizofrenia catatônica, esquizofrenia indiferenciada,

esquizofrenia simples, e, esquizofrenia residual.

A Esquizofrenia paranóide é caracterizada pelo predomínio de sintomas

positivos (delírios e alucinações) sobre os sintomas negativos. Na hebefrênica

ou desorganizada há predomínio dos sintomas negativos e de desorganização

do pensamento e do comportamento sobre os sintomas positivos. A catatônica,

que é o tipo menos comum, é caracterizada por sintomas de catatonia na fase

aguda, ocorrendo a possibilidade de o paciente falar pouco ou simplesmente

não falar, ficar com os movimentos muito lentos ou paralisados. Já a

indiferenciada une os sintomas positivos e negativos, em que a pessoa

apresenta delírios e alucinações em intensidade semelhante aos sintomas

negativos e desorganizados. A simples é aquela em que os sintomas negativos

ocorrem isoladamente, assim chamada por não haver uma diferença delimitada

entre as fases aguda e crônica. Os quadros mais crônicos, de longos anos de

evolução ou que evoluem rapidamente para um comportamento mais

deteriorado classificam a chamada esquizofrenia residual.

A Esquizofrenia aparece, comumente, de forma preliminar, com leves

sintomas, manifestando, inicialmente, na maior parte dos casos, ainda na fase

jovem da vida proporcionada, como define Jorge Trindade, “por um evento

estressor identificável”, sendo que

4
os primeiros sintomas perturbadores costumam ser desencadeados
por fatores externos desestruturantes, por uma mudança social ou
ambiental, como o ingresso na faculdade, uma experiência com
substâncias ou a morte de um parente. (2009, p.281)

Em seu curso clássico, a Esquizofrenia é de enfurecimento,

exasperação e, de deterioração progressiva do funcionamento mental anterior,

afetando as atividades pessoais e sociais, com um empobrecimento

generalizado da personalidade, a qual se encontra desestruturada por

completo.

3. Culpabilidade: o imputável e o inimputável

Tem suscitado muita discussão o verdadeiro papel do juízo de

reprovação na Teoria Geral do Direito Penal. Não se pode olvidar da extrema

importância que o tema da culpabilidade tem para o Direito na esfera penal

que, além de ser uma característica do crime ou pressuposto da pena, é um

conceito assaz abstrato; difícil, portanto, muitas vezes, de se determinar. É

justamente essa questão que dá vazo a intermináveis discussões entre doutos.

A ideia que paira sobre o conceito de culpabilidade tem sido, ao longo da

história da humanidade, caracterizada por uma evolução constante e intensa.

Primeiramente, o entendimento era de que bastava apenas o nexo causal entre

a conduta e o resultado (responsabilidade objetiva). Posteriormente, já no

âmbito da concepção atual, a culpabilidade passou a apresentar, como

elementos da imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a

exigibilidade de conduta diversa (responsabilidade subjetiva).

Existe, hoje, uma forte tendência a considerar que o crime, numa visão

analítica, apresenta dois elementos genéricos, quais sejam, o fato típico e a

5
antijuridicidade. Todavia, não se pode jamais abdicar da presença do elemento

culpa. É o que afirma José Geraldo da Silva, ao dizer:

É mister a presença da culpabilidade. Se o agente é incapaz, por


exemplo, por doença mental, falta-lhe a culpabilidade, que é
pressuposto da imposição da pena. De fato não há pena sem
culpabilidade. Trata-se, de um princípio de imperiosa exigência da
consciência jurídica. (2007, p.114)

É importante observar que a culpabilidade não apresenta característica

psicológica. Representa, sim, uma atribuição de valor com cunho normativo.

Nesse sentido difere da “teoria clássica da conduta”, a qual

não é atualmente aceita, pois a culpabilidade não pode ser um mero e


frágil vínculo psicológico. Existem outros fatores que devem ser
utilizados para a sua constatação, o que não se admite no contexto
da teoria psicológica. (MASSON, 2010, p.422)

A culpabilidade, destarte, irá abarcar os seguintes elementos:

imputabilidade, potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta

diversa. No Direito Penal, a imputabilidade representa o composto de

condições que propiciam ao agente ter capacidade para que a ele seja

imputada a conduta de um fato punível. É, nas palavras de José Geraldo da

Silva, a “aptidão do indivíduo para praticar determinados atos com

discernimento” (2007, p.115). Acrescenta ele que se trata de uma condição

psicológica, derivando dessa condição a possibilidade de resultar ou não a

responsabilidade. A potencial consciência do ato ilícito está na consciência por

parte do agente da ilicitude ou antijuridicidade da conduta diversa, bem definida

por José Geraldo como sendo a exigibilidade de que, “nas circunstâncias do

fato, tivesse (o agente) possibilidade de realizar outra conduta, de acordo com

o ordenamento jurídico” (2007, p.115).

6
Entende-se, em síntese, que a culpabilidade é um juízo de reprovação

do qual é atingida a pessoa que realiza um fato típico e ilícito possível de ser

evitado. Para o nosso direito,

somente é culpável o agente maior de 18 anos de idade e


mentalmente sadio (imputabilidade) que age com dolo ou com culpa e
que, no caso concreto, podia comportar-se em conformidade com o
Direito, é dizer, praticou o crime quando tinha a faculdade de agir
licitamente. (MASSON, 2010, p.423).

Conforme mencionado, ao completar 18 anos de idade qualquer pessoa

é presumidamente considerada imputável. Ocorre que essa presunção não é

absoluta e sim relativa (iuris tantum), já que aceita prova em contrário. É dentro

desse entendimento que se estrutura a aferição da inimputabilidade, embasada

em três critérios: biológico, psicológico e biopsicológico.

O caráter biológico é o que considera a existência de um problema

mental, isto é, uma doença mental, ou, ainda, por desenvolvimento mental

incompleto ou retardo. O psicológico leva em conta a incapacidade do agente

para entender o caráter ilícito do fato ou de ter determinação de acordo com

esse entendimento, não importando se ele é portador ou não de alguma

doença mental. O biopsicológico é uma fusão dos dois primeiros.

É inimputável aquele que – no momento do fato – apresenta problema

mental, e, em decorrência dessa situação, não tem capacidade para discernir a

postura ilícita do fato. O Código Penal Brasileiro adotou como regra o critério

biopsicológico. Porém, excepcionalmente, adotou também o biológico, no que

se refere aos menores de 18 anos. Assim, reza o Código em seu art. 26:

É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardo, era, ao tempo da
ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Vade
Mecum, 2009, p.354)

7
As causas que geram a inimputabilidade são: menoridade (art.27);

doença mental (art. 26, caput); desenvolvimento mental incompleto (arts. 26,

caput, e 27); desenvolvimento mental retardado (art. 26, caput); e, embriaguez

completa proveniente de caso fortuito ou força maior (art. 28 § 1º).

Não se pode relegar, ainda, os casos em que o agente não é portador

de uma doença mental propriamente dita e sim de uma perturbação de seu

estado mental, surgindo, desse modo, um hiato entre a higidez mental e a

insanidade. Em tais casos, o Código Penal (art. 26, parágrafo único) prevê a

diminuição da pena de um a dois terços.

Em relação aos semi-imputáveis, que não é o caso do esquizofrênico,

existe a possibilidade de se estabelecer pena ou medida de segurança. Isso

ocorre por se considerar que ainda que o agente possua certa capacidade de

entender o caráter da ilicitude praticada, não o compreende por completo.

Assim, não é considerado totalmente responsável por seus atos, o que

impossibilita que por sua conduta receba total punição pelo tipo.

4. Esquizofrenia e Inimputabilidade

A referência que o Código Penal faz à expressão “doença mental”

precisa ser interpretada em sentido amplo, envolvendo os problemas

patológicos bem como os de natureza toxicológica. Equivale a dizer todas as

alterações mentais e de ordem psíquicas que impedem a pessoa de ter

condições de discernir quanto à ilicitude do fato e posicionar-se em

conformidade com esse entendimento.

Assim, como pontua José Geraldo da Silva,

8
sob a rubrica doença mental, encontramos abrigados todos os casos
de enfermidades mentais propriamente ditas, as doenças que afetam
as funções intelectuais ou volitivas, tanto aquelas que se traduzem
em manifestações orgânicas, como as de caráter funcional ou
psíquico. Ali estão compreendidas, também, as doenças crônicas e
as de natureza transitória, desde que anulem o poder de
autodeterminação. Na expressão doença mental se compreendem as
chamadas psicoses (2007, p.234)

Importa notar que a doença mental em si não é suficiente para a

caracterização da inimputabilidade, o que só irá ocorrer se – em face desse

estado – o agente apresentar-se completamente incapaz de ter entendimento

da ilicitude do fato.

Por doença mental, deve-se entender todos os tipos de psicoses. O

autor supracitado menciona a classificação de Hélio Gomes, exposta na obra

“Medicina Legal”, com respeito às espécies de psicoses:

por infecções devidas à sífilis, exotóxicas, endotóxicas, toxicomanias,


demência senil, arteriosclerose cerebral, dentre outras; psicoses
maníaco-depressivas; psicoses psicogênicas; esquizofrenias;
paranóia; neuroses; personalidades psicopáticas; epilepsia etc. (2007,
p.234).

A esquizofrenia é a mais habitual das psicoses, alcançando um índice

que vai além da metade dos casos de doenças mentais. Trata-se de uma

psicose endógena, marcada principalmente por uma fraqueza psíquica

especial, que se desenvolve progressivamente.

O Código de Processo Penal prevê os casos em que há dúvidas no que

se refere à insanidade mental. Isto é, casos em que não se tem exata

confirmação da integridade mental do acusado. Nessas situações, destaca

Jorge Trindade,

o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do


defensor, de curador, de ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
do acusado, que seja submetido a exame mental. (Op. cit.,p.127)

9
Do artigo 149 ao 154 do Código de Processo Penal, tem-se a

preceituação do contexto que envolve a insanidade mental do acusado. Nesses

artigos estão previstos todos os trâmites processuais decorrentes da hipótese

de dúvida quanto à insanidade mental. Com a declaração da inimputabilidade,

o juiz aplicará uma medida de segurança, que poderá consistir em internação

ou tratamento ambulatorial. Lembra Jorge Trindade que:

Em qualquer das hipóteses, a internação ou o tratamento ambulatorial


será por tempo indeterminado, persistindo enquanto não for
comprovada por perícia médica a cessação de periculosidade,
respeitando-se o prazo mínimo de um a três anos. (Op. cit., p.127)

Trata-se de uma questão que vem sendo polemizada, haja vista a

consideração das vantagens e das desvantagens que o incidente de

insanidade mental pode suscitar. Ainda que a medida de segurança não seja

punitiva e sim curativa, visando à reintegração do indivíduo na sociedade,

levanta-se a questão de os hospitais e casas especializadas não atenderem,

em sua maioria, as específicas exigências dos casos. Surgem, destarte, as

indagações, entre outros aspectos, quanto à violação do princípio da dignidade

humana.

Como já se destacou, a Esquizofrenia é um transtorno muito complexo,

com sinais que expressam alucinação, afeto embotado, ambivalência e

autismo. Sinais esses que, no plano cognitivo, traduzem-se, ainda, em

sintomas como delírios, articulação desorganizada de pensamento, acúmulo

desorganizado de atividade cerebral, alterações de humor, sintomas somáticos

e imobilidade ou agitação motora. Daí compreender o papel do psicólogo e do

psiquiatra jurídicos nos casos em que o agente do ilícito é alguém com esse

diagnóstico.

10
No tocante à perícia médica, o Direito Penal brasileiro considera os

sintomas biológico e psicológico, conforme se disse, quando deseja averiguar

os casos de inimputabilidade (exceto com relação aos menores de 18 anos,

critério biológico). É o que ocorre nos casos de suspeita de esquizofrenia, em

que

o juiz afere a parte psicológica, reservando-se à perícia o exame


biológico (existência de problema ou anomalia mental). Há uma
junção de tarefas, de forma que o magistrado não pode decidir sobre
a imputabilidade ou inimputabilidade do acusado sem a colaboração
técnica dos peritos. (MASSON, 2010, p.439)

A testagem realizada por parte dos psicólogos compreende diversos

instrumentos, como “psicológicos, psicométricos e projetivos, capazes de

fornecer subsídios importantes para a confirmação diagnóstica da

Esquizofrenia” (TRINDADE, 2009, p.281).

Para essa testagem, a vida pregressa do paciente é de grande

importância no que se refere ao diagnóstico de Esquizofrenia, bem como o

exame das condições mentais. Ademais, acrescenta Jorge Trindade,

é preciso levar em conta o nível educacional, a capacidade intelectual


e a afiliação cultural e subcultural do paciente, uma vez que existem
costumes estranhos a um determinado grupo, mas que devem ser
considerados normais para quem está dentro daquele contexto
cultural específico. (Op. cit., p.281)

É somente por meio da realização de exame psiquiátrico, indicado

quando surge a hipótese da doença mental, que se pode estabelecer o nível de

entendimento do agente, na ocasião em que praticou o delito e, ainda, que se

pode investigar se a doença já existia ou se veio a se manifestar após o evento

delituoso. Reconhecendo-se o caso de inimputabilidade, na fase executória,

por ser o agente esquizofrênico, este deverá ser internado em manicômio

11
judiciário, seguindo-se o que preceitua o artigo 682 e parágrafos do Código de

Processo Penal.

O papel e o conhecimento do juiz, principalmente no caso de

manifestação de ofício, é imprescindível para se buscar investigar o caso, o

que só poderá acontecer se for requerido o trabalho de psicólogo e psiquiatra

que poderão diagnosticar, após apurado estudo, o grau de insanidade mental

ou, inclusive, se essa insanidade realmente existe.

5. Considerações Finais

A culpa finalística compreende três elementos: imputabilidade,

exigibilidade de conduta diversa e possibilidade de conhecimento do ilícito

penal. Assim, se o agente não tiver absoluta compreensão de sua conduta

criminosa ele será excluído de sofrer as punições previstas no Código Penal.

Mesmo que o fato praticado seja típico e antijurídico, elementos formais

do delito, se o agente não possui discernimento ético para entender a conduta

ilícita praticada e determinar-se conforme esse entendimento, o juiz, com fulcro

no artigo 26 do Código Penal e artigo 386 do Código de Processo Penal,

considerará o agente inimputável.

É relevante a preocupação do legislador em considerar as situações nas

quais, ainda que presentes os elementos formais do delito, o doente mental

(nesse caso o esquizofrênico) não estaria sujeito a sofrer as sanções em face

de sua conduta.

A imputabilidade é tratada pelo Código Penal de forma subjetiva, visto

que seu entendimento se extrai a partir da definição dos inimputáveis, sendo

12
considerados como tais, entre outros, os doentes mentais. Nota-se, nesse caso

específico, que o contexto é mais delicado visto que a confirmação da

inimputabilidade do agente está condicionada a exame psiquiátrico.

Entre as doenças mentais, a Esquizofrenia é uma das mais complexas

exigindo, portanto, um exame mais rigoroso, que demanda tempo dos

profissionais que se ocupam e investigam a insanidade.

Não obstante os trabalhos de psicólogos e psiquiatras que atuam para a

confirmação da doença mental perante os tribunais, está o papel do próprio

magistrado em delegar a feitura do exame de sanidade mental. Cabe, pois, ao

juiz requisitar a investigação necessária por parte dos profissionais indicados a

fim de que se apure a insanidade e seu grau, haja vista as várias possibilidades

de julgamento do caso, inclusive, a da semi-imputabilidade.

6. Referências:

BOCK, Ana Mercês Bahia. A psicologia e as psicologias. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 1999.

EDITORA RIDEEL. Vade Mecum. Obra coletiva de autoria da Editora Rideel,


organizada por Ane Joyce Angher. São Paulo: Editora Rideel, 6. ed., 2009.

FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia. Rio de Janeiro: Folha


Carioca Editora, 1998.

MASSON, Cleber. Direito Penal: Parte Geral, Esquematizado, vol. 1. 3. ed.


rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Método, 2010.

MIRANDA, Elaine. A Esquizofrenia sob Expectativa dos Princípios da


Análise do Comportamento. Goiânia: Universidade Católica de Goiás,
Setembro de 2005. Tese (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós Stricto
Sensu em Psicologia, Faculdade de Educação, Universidade Católica de
Goiás, Goiânia, 2005.

SILVA, José Geraldo. Teoria do Crime. 3. ed. rev., atual. e ampl. Campinas,
SP: Milennium Editora, 2007.

13
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do
Direito. 3 ed. rev. E ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009.

14

Você também pode gostar