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UNIDADE CURRICULAR: DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

CÓDIGO: 41019

DOCENTE: Ana Paula Cordeiro

A preencher pelo estudante

NOME: Sandro Vladmir dos Santos Sá e Silva

N.º DE ESTUDANTE: 2104406

CURSO: Licenciatura em Estudos Europeus

DATA DE ENTREGA: 15-12-2023

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

O trabalho realizado por estes atores pode enquadrar-se no âmbito da Sociologia de


Intervenção e Desenvolvimento Comunitário, visto que, estes trabalhos podem ser
usados para melhorar a eficácia da intervenção social, ajudando a mudar os
comportamentos dos atores e o próprio ambiente externo ao seu redor.

A violência doméstica em Portugal apresenta números assustadores, com 30389


participações às autoridades (GNR/ PSP) em 2022, um aumento de 3878
participações em relação ao ano de 20211, que resultaram na morte de 24 mulheres
em 2022, mais 8 do que 2021.

O impacto destes crimes, pode ter diversas reações nas vítimas, visto que nem toda a
gente reage da mesma maneira a determinado evento, mas numa visão generalizada,
podemos dizer que por norma, as vítimas de violência doméstica relatam
frequentemente uma baixa autoestima e experienciam problemas psicológicos graves,
como o stress pós-traumático, depressão, fobias, ataques de ansiedade, além dos
traumas sociais, de culpabilização e exclusão. É neste campo que as práticas de
empowerment e advocacy entram com grande contributo, pois podem ser vistas como
o meio para a igualdade e quebra desta conjuntura de violência. O fazer a denúncia,
podemos dizer que é o primeiro passo para o empoderamento da vítima, pois é visto
como uma vontade de mudança, é-lhe dada uma voz, um sentimento de
autodeterminação, que procura uma consciencialização das suas competências,
reforçando assim a sua autoestima, é o primeiro passo para abandonar a relação
abusiva. Estas práticas ajudam as vítimas no desenvolvimento dos seus
conhecimentos, das suas atitudes, dando-lhes a capacidade para recuperar o controlo
das suas vidas, dotando-as de poder pessoal e social. Aliado ao empoderamento,
temos também a advocacy, que tem como função a defesa e a promoção da
argumentação nas vítimas, usando meios éticos para conseguir os seus objetivos. É
uma representação destas junto dos decisores sociais, mas também com uma
vertente socioeducativa de forma a que também assumam a sua própria advocacy.

Várias ações têm vindo a ser criadas para reduzir ou erradicar totalmente a violência
contra as mulheres. Estas ações podem partir do Estado ou das várias organizações
não governamentais. Tem sido visível o empenho do Estado em aumentar o apoio
institucional às vitimas de violência doméstica, com a criação de planos, tais como, o

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Plano de ação para a prevenção e o combate à violência contra as mulheres e à
violência doméstica (PAVMVD), com a finalidade de consciencialização da sociedade
na condescendência para às várias manifestações de violência doméstica, apoio e
proteção das vítimas, intervenção junto dos agressores, promovendo a
responsabilização, e atuando também na formação das várias entidades e serviços de
intervenção. O Estado tem criado vários protocolos de cooperação institucionais no
âmbito do combate à violência doméstica, tais como, o protocolo com o Instituto da
Habitação e da Reabilitação Urbana, I.P.2 ou o protocolo com a Associação Nacional
de Municípios Portugueses3. Várias organizações não governamentais, tais como, a
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) oferecem de forma gratuita apoio
psicológico, judicial e social às vítimas, incluindo casas de abrigo, assim como a Casa
de Abrigo Alcipe, que por sua vez as ajuda na normalização das suas vidas,
empoderando-as e fazendo com que se sintam mulheres livres, autónomas e com uma
melhor autoestima.

Como mencionado acima, o flagelo da violência doméstica em Portugal atinge


proporções preocupantes, com o número de ocorrências reportadas a aumentar de
ano para ano. Portugal continua a ser uma sociedade demasiadamente patriarcal4,
onde ainda se fazem notar algumas desigualdades salariais, na divisão das tarefas
domésticas e nas dificuldades em ter mulheres em cargos de decisão. Do ponto de
vista judicial, segundo as estatísticas5, perto de 90% dos casos de 2022 não
transitaram para julgamento, e dos que foram a julgamento, apenas 10% resultaram
em prisão efetiva. É necessário introduzir na sociedade uma consciencialização de
que a violência doméstica não é um crime menor, é um crime com proporções
gravíssimas para as vítimas e um atentado aos direitos humanos. Esta mudança pode
ser feita com várias estratégias, desde a cooperação institucional, na formação dos
vários atores interventores e também com estratégias como as de “Não-violência
Ativa” (NVA). A não violência ativa tem como objetivo a coesão social e a vontade de
mudança nas relações de poder e na organização social, é normalmente manifestada
como uma reação a um contexto de desigualdade. A não violência ativa apresenta-se
como uma força não violenta contra a injustiça, que usa as emoções, o intelecto e a
indignação das pessoas como o combustível para conseguir alcançar as mudanças
necessárias para a resolução do conflito. No caso específico da violência doméstica
a estratégia da não violência ativa pode ter uma relevante eficácia no empoderamento
das vítimas, na sua educação e capacitação sobre os seus direitos e na compreensão
dos vários tipos de violência, ensinando métodos de combate não violentos, de modo

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à não perpetuação desta. Do ponto de vista social, a não violência ativa ajuda a
desmontar a sociedade patriarcal, que de certo modo mantém esta violência contra as
mulheres, proporcionando a igualdade de géneros. Disciplinas como Cidadania e
Desenvolvimento também fazem parte desta estratégia, pois tem como objetivo educar
os mais novos para uma sociedade mais justa e inclusiva, promovendo a igualdade de
género, desta forma estamos a criar pessoas com competências sociais e intelectuais
de forma a que atuem contra as injustiças de futuro. A mobilização da sociedade em
movimentos não violentos, tais como, manifestações contra a violência de género,
ajudam criando uma consciencialização social, uma pressão sobre as instituições e
legisladores para que sejam criadas mudanças capazes de erradicar este flagelo. Esta
estratégia também atua na parte dos agressores, focando na sua reabilitação,
tentando perceber quais as causas desse desequilíbrio para podermos evitar futuras
reincidências.

O caminho é longo, mas é com estas práticas, tais como o empowerment, advocacy,
não violência ativa e muitas outras que podemos caminhar no rumo certo para uma
sociedade livre de violência e injustiças.

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1 https://www.cig.gov.pt/area-igualdade-entre-mulheres-e-homens/indicadores-2022/violencia-de-genero/

2 Tornando o fácil acesso ao arrendamento a baixo custo, para dar resposta habitacional a vítimas de
violência doméstica. https://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/05/Protocolo-IHRU.pdf

3 Com o intuito de uma cooperação institucional entre as partes no âmbito do processo de autonomização
e empoderamento das vítimas de violência doméstica, integradas em casas abrigo, descobrindo
soluções que possam dar uma resposta às suas necessidades de habitação aquando da sua saída e
retorno à vida na comunidade.
https://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2019/05/Protocolo_ANMP_CIG_2019.pdf

4 Sociedade patriarcal é uma sociedade que promove o privilégio masculino, onde os homens controlam
grande parte do poder social, político, económico e religioso.

5 https://estatisticas.justica.gov.pt/sites/siej/pt-pt/Paginas/Violencia_domestica.aspx

Bibliografia

Carmo, Hermano (coord.); Esgaio, Ana; Pinto, Carla; Pinto, Paula Campos. 2014.
Desenvolvimento Comunitário. Lisboa: Universidade Aberta. [ebook]

Violência de Género. (n.d.). Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género.


https://www.cig.gov.pt/area-igualdade-entre-mulheres-e-homens/indicadores-2022/violencia-de-
genero/

Violência Contra as Mulheres-Protocolo IHRU. (n.d.). Comissão para a Cidadania e a Igualdade


de Género. [Consult. 2023-12-14]. Disponível na Internet:<URL: https://www.cig.gov.pt/wp-
content/uploads/2019/05/Protocolo-IHRU.pdf

Violência Contra as Mulheres-Protocolo ANMP. (n.d.). Comissão para a Cidadania e a Igualdade


de Género. [Consult. 2023-12-14]. Disponível na Internet:<URL: https://www.cig.gov.pt/wp-
content/uploads/2019/05/Protocolo_ANMP_CIG_2019.pdf

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