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SONIA FERREIRA

SOB O OLHAR DE UMA MÃE

SUICÍDIO JUVENIL
COMO RECONHECER OS SINAIS

Compartilha a importância de observar sinais atípicos nos nossos jovens.


Uma colaboração através de pesquisas e levantamentos feitos com
profissionais na área da saúde mental e dados de cartilhas, manuais,
informativos de órgãos competentes à prevenção ao suicídio juvenil.

Goiânia – Go
Kelps, 2018
Copyright © 2018 by Sonia Ferreira

Editora Kelps
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Diagramação: Marcos Digues


diguesdiagramacao.com.br

CIP - Brasil - Catalogação na Fonte


TAINÁ DE SOUSA GOMES - CRB-1 (1ª Região) 3134

FER Ferreira, Sonia.


su Suicídio juvenil: sob o olhar de uma mãe. Como reconhecer
os sinais. - Sonia Ferreira. - Goiânia: / Kelps, 2018

28 p. il.

ISBN:978-85-400-2573-8

1.Comportamento. 2. Suicídio – prevenção. I. Título.

DIREITOS RESERVADOS

É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem
a autorização prévia e por escrito da autora. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98)
é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2018

2 SONIA FERREIRA
SONIA FERREIRA
Publicitária, redatora. Traba-
lhou para o Jornal “O Popular”, em-
presa do grupo Jaime Câmara, afi-
liada à Globo, durante 30 anos. Foi
empreendedora no segmento de
livros, brinquedos e buffet infantil.
Atualmente trabalha na produção de
artigos e textos no segmento de au-
toajuda, coaching, para plataformas
digitais, sites, blogs e editoras. É pesquisadora e estudiosa no
assunto de prevenção, posvenção e manejos do suicídio, atra-
vés de cursos voltados na área de Suicidologia. Acolhe famílias
sobreviventes ao suicídio promovendo palestras sobre o assun-
to em escolas, comunidades, igrejas e empresas. Foi voluntá-
ria do CVV (Centro de Valorização da Vida). Fundou o Grupo
Renascer de apoio à mães enlutadas - em novembro de 2017,
que acolhe todas as mamães que tiveram perdas de qualquer
natureza, sem contudo mensurar a dor individual de cada uma
delas. Faz parte de um conselho dos grupos mais expressivos
de luto no país, onde são tomadas decisões sobre programa de
acolhimento para pessoas enlutadas. É uma das organizadoras
do projeto voluntário “Diante disso, o que faço com isso”, do
Grupo Mulheres do Brasil, núcleo GO, fundado em 04 de se-
tembro de 2018, criado para atender as demandas das escolas
públicas e privadas na prevenção do suicídio juvenil por meio
do atendimento de profissionais voluntariados na área da saú-
de mental. Perdeu uma filha adolescente, por suicídio, em 2016.

SUICÍDIO JUVENIL 3
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 5
2.QUEBRANDO O TABU................................................................................. 6
3. ESTATÍSTICAS................................................................................................ 8
4. ENTENDENDO O COMPORTAMENTO................................................. 9
5. DESENCADEANTES DO PROCESSO SUICIDA............................... 10
6. FATORES DE PROTEÇÃO.........................................................................12
7.SINAIS VERBAIS DIRETOS........................................................................ 16
8.SINAIS VERBAIS INDIRETOS....................................................................17
9.SINAIS COMPORTAMENTAIS...................................................................18
10. CUIDADO COM OS MITOS..................................................................... 19
11. BULLYING E CONFLITOS DE IDENTIDADE SEXUAL.....................21
12. UM MUNDO VIRTUAL.............................................................................22
13. DEZ DICAS DE PERGUNTAS PARA DETECTAR
SINAIS DE SUICÍDIO.......................................................................................24

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1. INTRODUÇÃO

UMA DOR SILENCIOSA QUE PODE


SER EVITADA

Estamos vivendo momentos de grande fragilidade


em relação aos nossos jovens. O suicídio no Brasil e no
mundo vem crescendo assustadoramente. Em Goiânia,
o crescimento foi de 90% em duas décadas, ficando o
estado de Goiás em nono lugar em quantidade de mor-
tes por suicídio, entre os 27 estados brasileiros, com
6.637 casos registrados. Segundo dados da Organiza-
ção Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda
principal causa morte de pessoas entre 15 a 29 anos.
No Brasil, os casos aumentaram 65% entre jovens com
idade de 10 a 14 anos e 45% na faixa de 15 a 19 anos –
mais do que o aumento da média da população, que foi
de 40%. Pais devem ficar atentos às mudanças no com-
portamento dos filhos. Depressão, isolamento, tristeza,
são sentimentos cada vez mais comuns entre jovens,
que podem resultar em situações mais graves.

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2.QUEBRANDO O TABU

Apesar de ser um problema de saúde pú-


blica, falar sobre suicídio ainda é tabu. Alguns
tem dificuldades em falar no assunto por igno-
rância, outros por preconceito ou até mesmo
estigma. Mas como ajudar quem você ama ou
alguém bem próximo de você?

É PRECISO
QUEBRAR
ESSE
TABU!

Segundo a Organização Mundial da Saúde


(OMS), 90% dos casos de suicídios poderiam
ser evitados se falássemos mais sobre isso. A
exemplo de outras doenças, como Câncer e
Doenças Sexualmente Transmissíveis, é preciso
mais campanhas de conscientização, conforme

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dados do CVV. Após esses temas serem fala-
dos e discutidos, a prevenção se tornou bem
sucedida. Falar sobre suicídio como forma de
orientar é bem diferente de incentivar. Não será
disparado gatilhos se não dermos enfoque com
intuito de reforçar métodos, como afirma pro-
fissionais especializados. Precisamos ter em-
patia para lidar com esse assunto. Não pode-
mos enxergar isso como vergonha, crime, ou
sinal de fraqueza. Quando o adolescente tira
a própria vida, ele queria, na verdade, se livrar
da dor, não da vida, por isso, não podemos li-
dar com o suicídio como um tabu e atrelar esse
comportamento como um pecado. Precisamos
entender o que está levando nossos filhos ao
auto extermínio. A sociedade precisa procu-
rar entendimento e tratar esse assunto com um
olhar mais humano para poder ajudar no que
for preciso, ou seja, ser mais empática, se colo-
car no lugar do outro, no lugar da família que
está vivenciando o problema.

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3. ESTATÍSTICAS

65% Aumento da Taxa


de Suicídio entre
CRIANÇAS jovens no Brasil.
DE 10 A 14 ANOS

Maior do que
o aumento da
45%
ADOLESCENTES
população
DE 15 A 19 ANOS

Diante dessa estatística, é preciso


conversar abertamente, sem tabu,
para não criar nos jovens a culpa e a
vergonha

Fonte: Organização Mundial da Saúde

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4. ENTENDENDO O COMPORTAMENTO

Se você não entender o processo de um adoles-


cente que pensa em tirar a própria vida, você não terá
condições de ajudá-lo. O suicídio entre jovens, por ser
multifatorial, envolvem motivações muito complexas.
Profissionais afirmam que, além da influência do am-
biente em que o adolescente vive, o fator genético e
o histórico de suicídio, quando há, na família, também
são fatores relevantes no processo. O desejo de viver
e de morrer se confundem no adolescente. Nesse mo-
mento, o que eles querem mesmo é acabar com a dor
e a única saída que eles encontram é a morte. Os pro-
fissionais e as literaturas chamam esse sentimento de
“ambivalência”. O desejo de viver e superar esses mo-
mentos conflituosos existem mas, a dor, a infelicidade,
a desesperança toma uma proporção tão grande que
eles acabam procurando no auto extermínio o único re-
médio para encontrar esse descanso e interromper o
sofrimento.

Fonte: Shneidman, 1985 CFM Publicações - Manuais,


protocolos e cartilhas, Suicídio. Brasília, 2014.

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5. DESENCADEANTES
DO PROCESSO SUICIDA

1 – Problemas de relacionamento
2 – Trauma psíquico e violência
3 – Estresse e problemas de ordem financeira
4 – Separação, divórcio
5 – Perda de ente querido
6 – Relacionamentos conflituosos
7 – Eventos de vida traumáticos e negativos
8 – Depressão e outras doenças psiquiátricas
9 – Abuso de álcool e drogas
10 – Doenças físicas / dor.

Múltiplos são os fatores desencadeantes que le-


vam o adolescente ao suicídio. Tem que ser analisado
e acompanhado pela família, escola e profissionais. Os
sinais são atípicos mas podem ser confundidos com
outros problemas emocionais. É preciso ter bastante
atenção e cautela nesse olhar.
O adolescente, quando está nesse quadro crítico,
pode apresentar um humor depressivo, desesperança
pela vida, desespero, sentimento de desamparo, im-
pulsividade em alto grau. Uma expressiva sensação
de estar dando muito trabalho: “Eu sou um peso para

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minha família”. Estar envolvido demais em problemas
emocionais familiares sociais e financeiros a ponto de
lhe afetar. É preciso, nos dias de hoje, ter muito cui-
dado em não envolver os filhos nas questões financei-
ras, negócios da família. Essas decisões são tomadas
pelos adultos. Estamos vivendo momentos de crise no
país e isso é fator de preocupação para os filhos. Evite
envolvê-los nessa esfera. Vale ressaltar que em muitos
casos, os fatores desencadeantes estão concentrados
dentro de casa através da rejeição, da negligência para
com o adolescente, maus tratos, abuso físico e sexual
na infância, uma longa história familiar de transtornos
psiquiátricos.

Fonte: Danuta Wasserman. (2001) Suicide – Na Unne-


cessary Death. London.

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6. FATORES DE PROTEÇÃO
Muitos processos suicidas terminam. Existe uma
luz no fim do túnel. Para mudar esse cenário, de acordo
com pesquisas feitas por Danuta Wasserman, professo-
ra em psiquiatria e suicidologia na Europa, vai depen-
der muito do enfrentamento ou tratamento individual
do adolescente. Conheça os fatores de proteção:

COMPORTAMENTO E PERSONALIDADE

• Censo de valor pessoal


• Confiança em si mesmo, na própria situação
e conquistas
• Busca de ajuda durante as dificuldades
• Busca de conselhos quando escolhas impor-
tantes precisam ser feitas
• Abertura para experiências e soluções vindas
de outras pessoas
• Abertura para aprender
• Habilidade para se comunicar

Todas essas habilidades precisam estar sendo de-


senvolvidas no adolescente que pensa em tirar a pró-
pria vida. Ele precisa voltar a ter o “sentimento de per-
tencimento”. Perceber que ele é importante para as
pessoas, para a família. Que ele faz parte de uma at-

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mosfera familiar que o deseja, que se preocupa com ele
e que sua vida é importante tanto para ele como para
toda a família, amigos. Para isso é preciso a ajuda da
família e de um profissional que desenvolva e trabalhe
essas competências de forma assertiva, com validação.

SOZINHO ELE NÃO CONSEGUE...

PADRÕES FAMILIARES

• Relacionamento bom com a família


• Suporte da família
• Pais dedicados e consistentes
• Habilidade para se comunicar

O QUE OS PAIS PODEM FAZER NESSE MOMENTO?

Quem já passou por isso sabe bem como é... E


agora? O que fazer com o medo de perder meu filho?
O que os pais podem fazer é manter a calma e “bancar”
esse momento com o filho. Tentar uma brecha de opor-
tunidade para uma conversa onde o adolescente dê
uma abertura de diálogo. Ele precisa confiar aos pais
esse momento de dor e transtorno emocional que ele
está vivendo, para que os pais possam lhe dar o apoio
emocional necessário, reforçando no filho o desejo de
viver. Dar ouvidos à ele sem julgamento.
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FATORES CULTURAIS E SOCIAIS

• Adoção de valores culturais e tradições


• Relacionamentos bons com amigos, colegas
de trabalho e vizinhos
• Ter suporte de pessoas importantes
• Amigos que não usam drogas
• Integração social. Exemplo: através do traba-
lho, participação em esportes, atividades em
igrejas, etc.
• Ser importante para alguém

Os fatores culturais e sociais são muito importan-


tes para a mudança do quadro do suicídio juvenil. Há
um discussão sobre falar ou não sobre suicídio. É pre-
ciso sim ter muito cuidado ao abordar o assunto para
não disparar gatilhos, mas a sociedade não pode fechar
os olhos pra isso, pois precisamos acolher esses jovens.
Não falar do assunto é um risco. Para os adolescentes,
que perderam o sentido da vida, de futuro, não é uma
tarefa fácil lidar com esse turbilhão de emoções que
ele vive. O presente e o passado é um reforço para o
seu sofrimento, seus medos, suas angústias. A avalia-
ção que ele faz de si mesmo é muito negativa. O papel
do profissional da área da saúde mental é fundamental,
embora muitos adolescentes tem dificuldade em admi-
tir que precisa dessa ajuda. Imagina-se o motivo.... ver-

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gonha, medo do julgamento de toda a sociedade, famí-
lia, escola, colegas. Nesse momento a sociedade acaba
se tornando um grande “fator de risco” para o suicídio.
Quantos casos tivemos conhecimento, somente neste
ano de 2018, de adolescentes com dificuldades no pro-
cesso de identidade sexual na escola. O resultado do
bullying deixou esses jovens “sem saída”, levando-os a
tirar a própria vida.

FATORES AMBIENTAIS

• Boa alimentação
• Sono bom
• Luz do sol
• Atividades físicas
• Ambiente sem drogas ou cigarro

Por ser o suicídio “multifatorial”, temos


que ter muito cuidado ao avaliar os sinais
e fatores, para não chegar a um diagnóstico
errado. Procurar ajuda de um profissional da
área da saúde mental é o mais adequado

Fonte: Danuta Wasserman. (2001) Suicide – Na Unnecessary Dea-


th. London.

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7.SINAIS VERBAIS DIRETOS

O MAIS ÓBVIO ENTRE OS SINAIS


DE ALERTA

“Eu quero morrer”

“Vou me matar”

“Gostaria de estar morto”

“Se isso acontecer novamente,


acabarei com tudo”

“A morte poderá resolver essa


situação”

Fonte: Popenhagen, Mark P. and Roxanne M. Qualley.


Adolescent Suicide: Detection, Intervention, and Pre-
vention. Professional School Counseling Foto: Canva

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8.SINAIS VERBAIS INDIRETOS

“Eu não posso aguentar mais isso”

“Você sentirá saudades quando eu


partir”

“Não estarei aqui quando você voltar”

“Estou cansado da vida, não quero


continuar”

“Tudo ficará melhor depois da minha


partida”

“Não sou mais quem eu era”

“Logo você não precisará mais se


preocupar comigo”

“Ninguém mais precisa de mim”

Fonte: Popenhagen, Mark P. and Roxanne M. Qualley. Adolescent


Suicide: Detection, Intervention, and Prevention. Professional
School Counseling Foto: Pixabay 1822702

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9.SINAIS COMPORTAMENTAIS
• Sinais observáveis de depressão grave
• Oscilação de humor
• Pessimismo
• Desespero
• Dificuldade em trabalhar frustrações
• Falta de esperança pela vida
• Delirio
• Desamparo
• Dependência química
• Ansiedade, dor psíquica, estresse acentuado
• Problemas associados ao sono (excessivo ou insônia,
pesadelos)
• Raiva, impulsividade, desejo de vingança
• Sensação de estar preso e sem saída
• Isolamento: família, amigos, eventos sociais
• Mudança dramática do humor
• Falta de sentido para viver
• Aumento do uso de álcool e outras drogas
• Impulsividade e interesse por situações de riscos

Fonte: Popenhagen, Mark P. and Roxanne M. Qualley. Adolescent


Suicide: Detection, Intervention, and Prevention. Professional
School Counseling Foto: Pixabay 1822702 Foto: Pixabay 3049553

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10. CUIDADO COM OS MITOS
1 - Quem fala sobre suicídio não o comete.
Falso. Achar que o adolescente quer chamar atenção é um
erro muito grave. A maioria dos jovens que suicidam falam ou dão
sinais sobre a ideia de morte. Já expressou para algum amigo ou
profissional em algum momento.

2- O que “ os suicidas” querem é morrer...


Falso. Quando uma pessoa jovem pensa em se matar ela
quer acabar com o sofrimento, com a dor. A forma que ela conse-
gue eliminar esse sofrimento latente é tirando a própria vida.

3 - Melhoras significativas após uma tentativa de suicídio ou de


uma crise, significa que o risco de suicídio diminuiu?
Falso. Um dos períodos mais perigosos é quando se está
melhorando da crise ou quando o jovem ainda está no hospital na
sequência de uma tentativa. A semana que se segue à alta do hos-

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pital é um período durante o qual a pessoa está particularmente
fragilizada, portanto, o risco continua.

4 - Perguntar para um adolescente deprimido sobre o suicídio o


induzirá a completar o suicídio?
Falso. Muito pelo contrário. Falar com alguém sobre o as-
sunto pode aliviar a angústia e a tensão que estes pensamentos
trazem. Precisa apenas ter cuidado em não mensurar e criar pre-
conceitos em relação a este assunto, ou achar que é brincadeira.

5 - É proibido a abordagem da mídia sobre o tema suicídio?


Falso. A mídia, os veículos de comunicação, tem a obrigação
de tratar desse importante assunto de saúde pública e abordar
esse tema de forma adequada, sem expor pessoas, nomes, forma
de extermínio. Isso não aumenta o risco de outros jovens se ma-
tarem, ou mesmo, suicídio em massa, como se comenta nas redes
sociais, ao contrário, é fundamental dar informações à população
sobre o problema, como e onde buscar ajuda.

6 - Quando um jovem pensa em se matar, terá risco de suicídio


para o resta da vida?
Falso. O risco de suicídio pode ser eficazmente tratado, por
profissionais, terapia, medicação adequados. Após o tratamento a
pessoa não estará mais em risco.

7 - O suicídio juvenil é uma decisão individual, considerando que


cada pessoa tem pleno direito em exercitar o seu livre arbítrio.
Falso. O jovem, quando idealiza a morte, está vivendo um
transtorno emocional que pode estar associado a uma doença
mental que altera, de forma radical, a sua percepção da realidade,
interferindo no seu livre arbítrio. O tratamento eficaz da doença é
o pilar mais importante da prevenção do suicídio.

Foto: Pixabay - 1081


Fontes: Shneidman, 1985 / CFM Publicações - Manuais, protocolos e car-
tilhas, Suicídio. Brasília, 2014 / Instituto Vita Alere, 2018, Karen Skavancini

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11. BULLYING E CONFLITOS
DE IDENTIDADE SEXUAL
O reforço a este papel de gênero, muitas vezes impe-
de os meninos de procurarem ajuda para os sentimentos
suicidas e depressivos. O isolamento social e o bullying
nas escolas são fatores para aumentar o risco. As meninas
se suicidam menos em função das redes sociais de pro-
teção mais fortes e acabam também se engajando mais
facilmente que os meninos em diversas atividades do-
mésticas e comunitárias - que lhes conferem o sentido de
pertencimento. Um fator muito importante para a supera-
ção. O enfrentamento do adolescente que se encontra em
conflitos e na incerteza em relação a identidade sexual é
muito grande. Tanto os pais quanto as escolas precisam
ter cuidado com esses conflitos e muita sensibilidade na
abordagem com os jovens. As escolas se encontram per-
didas em meio a tantas manifestações de ofensas, pre-
conceitos, falta de respeito entre os colegas. Além de
prejuízo no aprendizado os jovens expostos ao bullying
podem desenvolver vários traumas diante de tanta per-
seguição. Reações como agressões, atitudes violentas,
como vimos em várias escolas, jovens atirando pra todo
lado, automutilações, chegando até ao suicídio. Lamentá-
vel demais esse cenário. Estudos feitos por profissionais,
nos Estados Unidos, apontaram o bullying como uma das
principais causas do suicídio infantil e juvenil.

SUICÍDIO JUVENIL 21
12. UM MUNDO VIRTUAL
Adolescentes no mundo virtual. “Um mundo den-
tro de outro mundo” (Robson Filho). Isolado, distante
da família, assim é o dia a dia dos nossos jovens: dentro
do quarto. Esse é o cenário de muitas famílias com seus
adolescentes. Sem estofo emocional, sem compartilhar
momentos como almoçar e jantar juntos. Vivem num
mundo virtual onde os amigos não são reais, são de
whatsapp a redes sociais. Os jogos, como a “baleia
azul”, pegaram muitos de nossos jovens pela fragilida-
de que eles estão enfrentando, os dramas existenciais

22 SONIA FERREIRA
reais ou imaginários. Existe um adulto que comanda
tudo do outro lado desse jogo, dando ordens a esses
adolescentes e crianças. Esse adulto começa a solicitar
tarefas e assim que o adolescente cumpre as tarefas ele
é validado pelo adulto. Finalmente, tem alguém dando
atenção à ele e aplaudindo quando ele vence a fase do
jogo. E não é nenhuma máquina. É gente mesmo. Dian-
te desse cenário, o que nós, pais, podemos fazer com
isso? Vai uma sugestão de mãe... e porque não? Ao invés
de proibir nossos filhos de ter acesso à internet, porque
não vamos jogar com eles tantos outros jogos disponí-
veis, jogos de tabuleiro. Entrar no universo deles, fazer
com que eles sintam nossa presença e proximidade. A
busca dos pais por uma vida melhor para os filhos, fez
com que se distanciassem deles. Parar um momento do
dia para bater papo com o filho, se interessar pela vida
dele, seu dia a dia na escola, ficou secundário.
Em busca do melhor para o filho, pais trabalham
muito para proporcionar uma boa escola, viagens, etc,
e também o melhor aparelho celular - se não o filho se
frustra. Mas, cuidado! Limitar o uso do celular e proibir
o acesso às redes sociais, que pode ser a única via de
comunicação e interação de um adolescente em crise,
pode ser um fator de risco para piorar o problema. O
melhor é tentar se aproximar e navegar com ele em
“mares tranquilos” e evitar ambientes de perigo.

SUICÍDIO JUVENIL 23
13. DEZ DICAS DE PERGUNTAS
PARA DETECTAR SINAIS DE SUICÍDIO
Como perguntar indiretamente, sem constrangimen-
to, para o adolescente, se ele está com pensamentos
suicidas, sem usar o termo suicídio.

1. Pergunte se ele tem planos para o futuro


2. Se a vida vale a pena ser vivida
3. O que o deixa sem esperanças
4. Se ele, algum dia, pensou em não viver mais
5. Se está se sentindo um peso para a família
6. Se sente algum tipo de isolamento
7. Se está aborrecido com algo no ambiente escolar
8. Se está se sentindo perdido
9. Se tem algo a dizer sobre suas expectativas da vida
escolar
10. Como está seu relacionamento com os colegas de
escola.

Vá conversando com ele. Deixe-o se sentir seguro


e confiante. Tenha empatia nesse momento, se colo-
cando no lugar dele, entendendo sua dor. Não deixe
que ele sinta que é um peso para a família. Deixe claro
que ele é importante. Não faça objeções, apenas escu-
te. Não mensure sua dor. Acolha! Dê um abraço e diga
que você está com ele, que pode contar sempre com
seu apoio. Que ele não está sozinho.

24 SONIA FERREIRA
SUICÍDIO JUVENIL 25

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