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FILOSOFIA que é necessário para que a combustão

ocorra? As hipóteses pretendem


O problema do método científico explicar o fenómeno: por exemplo, a
hipótese de que a combustão só
O conhecimento científico é metódico,
ocorreria na presença de oxigénio.
isto é, depende da maneira como os
cientistas trabalham, do método que Para confirmar a hipótese, realizam-se
utilizam para obter conhecimento. O testes experimentais. Estes testes são
método científico dá credibilidade aos realizados de forma criteriosa e todos
resultados da investigação, é o critério os dados e etapas da experimentação
que permite destinguir os devem ser anotados. Por exemplo, no
conhecimentos verdadeiramente caso da combustão, realizar testes
científicos daqueles que não o são. A experimentais na presença e na
sistematização de um método para ausência de oxigénio.
fazer ciência surgiu com Francis Bacon.
Após a experimentação, o cientista
Não há apenas um método científico, pode chegar a conclusões: se os
mas vários. Iremos analisar dois resultados levam a uma generalização,
métodos: o método indutivo clássico, ou seja, se se repetem, o cientista
protagonizado por Francis Bacon, e o formula uma lei científica, um
método hipotético-dedutivo, defendido enunciado que explica o fenómeno. Por
por Karl Popper. exemplo, a combustão só ocorre na
presença de oxigénio.
A teoria científica é o conjunto de
Indutivismo
afirmações consideradas válidas pela
Francis Bacon vai considerar que as comunidade científica para explicar a
teorias científicas têm de ser lei, ou seja, o porquê do fenómeno
confirmadas pela observação, descrito pela lei.
experimentação e indução, defendo o
método indutivo. De acordo com a
prespetiva indutivista do método O critério da verificabilidade
científico, não haveria ciência sem
Tese – uma teoria só é científica se for
indução.
empiricamente verificável.
O cientista parte da observação de
O método indutivo assenta numa
fenómenos o que lhe permite levantar
prespetiva verificacionista, o que
questões a cerca do que foi observado.
significa que o cientista, através da
Os registos desta observação devem ser
experimentação, procura testar a
tão rigorosos e imparciais quanto
hipótese com vista à confirmação da
possível.
mesma. O que distingue um enunciado
Em seguida, formulam-se hipóteses na científico de um enunciado não
tentativa de responder às questões científico é a verificação empírica das
levantas na observação. Por exemplo, a teorias. Uma teoria só seria verdadeira
observação sugere perguntas como: o se os factos a confirmassem. Por
exemplo, a proposição “Há animais corvos são negros. A garantia de que os
carnívoros” pode ser verficada sempre corvos que ainda não tenhamos
que se vê um animal carnívoro. observado são negro é nos dada pelo
princípio da uniformidade da natureza,
No entanto, a proposição “Todos os
ou seja, a noção de que a natureza é
corvos são negros” não pode ser
previsível e repetitiva. Mas, o princípio
empiricamente verficável, dado que é
da uniformidade da natureza é
impossível saber, pela experiência, a cor
resultado de uma generalização,
de todos os corvos que existiram,
baseando-se num raciocínio indutivo.
existem e existirão. Alguns filósofos
Ora, justificar um raciocínio indutivo
consideram que basta que todos os
com base noutro raciocínio induto não
corvos observados até ao momento
justifica o raciocínio indutivo. Assim,
sejam negros para que o enunciado
também na ciência o método indutivo
seja reconhecido como científico.
parece pouco fiável.

Críticas ao indutivismo
Falsificacionismo
Segundo os indutivistas o ponto de
Karl Pooper considera que o modelo
partida é a observação dos fenómenos,
metodológico na qual a ciência se deve
contudo, nem sempre é possível
apoiar é o hipotético-dedutivo: o ponto
observar o que se pretende explicar,
de partida para a ciência não pode ser a
como os campos eletromagnéticos.
observação dos fenómenos, tal como
Ter a observação como ponto de estabelecido no método indutivo.
partida significa, para os indutivistas, Como tal, o problema da indução não
que o cientista classifica levanta qualquer obstáculo à ciência.
cuidadosamente os factos empíricos de
Para Pooper o conhecimento científico
forma neutra e imparcial. Porém, as
começa pela constatação de um
nossas expectativas afetam a forma
problema que surge de conflitos diante
como observamos os fenómenos. O
de expectativas e teorias existentes. Por
cientista é um ser contextualizado e,
exemplo, os peixes, num determinado
como tal, os seus valores e idelogias
rio, estão a morrer. O problema que se
condicionam o modo como o observa
coloca é: porque é que os peixes estão
os fenómenos. Por fim, os cientistas
a morrer?
selecionam os dados que pretendem
registar, escolhem os aspetos Assim, o cientista deverá propor uma
específicos sobre os quais se vão explicação provisória para esse
concentrar. Assim, esta seleção implica fenómeno, sugerindo uma hipótese ou
já as expectativas do cientista. conjetura. A hipótese é resultado do
raciocínio e da imaginação, sendo
Como é que sabemos que todos os
criada pelo cientista. Uma hipótese
corvos são negros? A resposta é obtida
para o problema levantado poderá ser:
por indução: a partir de um número
os peixes morrem quando estão na
significativo de casos observados,
presença da planta aquática X.
retiramos a conclusão de que todos os
Em seguida, deduzem-se as capazes de refutar a teoria. O objetivo
consequências da hipótese, ou seja, o da experimentação é mostrar que não
cientista procura prever o que acontece ocorre aquilo quea hipótese prevê.
se a sua hipótese for verdadeira. Isto é,
a remoção da planta aquática X evitará
a morte dos peixes. O critério de dermacação:
falsificacionismo
Para saber se as previsões estão
corretas é preciso testar a hipótese. A No entender de Pooper, não é a
etapa da experimentação é essencial indução nem a verificabilidade que
na ciência e, Pooper sugere que a permitem distinguir um enunciado
hipótese deve ser sujeita a sérias científico de um enunciado não
tentativas de refutação. Tentar refutar científico, o que é racionalmente
uma hipótese é confrontá-la com expectável é que a teoria científica
potenciais casos que provem a sua possa ser testada. O que os cientistas
falsidade. Se a hipótese for validade fazem com as suas teorias é testá-las,
pela experiência, ela será aceite pela através da falsificação. A proposição
comunidade científica e mostrou-se “Todos os corvos são negros” não pode
provisoriamente verdadeira e foi ser verificada, por maior que seja a
corroborada pela experiência. Por quantidade de corvos negros
exemplo, a remoção da planta aquática observados, mas basta observar um
X evita a morte dos peixes no rio. Se a corvo que não seja negro para a
hipótese não for validada, teremos de a falsificar.
abandonar e substituir por outra que
O cientista não está interessado em
responda melhor ao problema e que
teorias falsas, mas só percebe que as
não enfrente as mesmas dificuldades
teorias não o são, se as submeter a
da anterior. A hipótese foi refutada.
testes rigoros com o objetivo de
determinar a sua resistência à crítica.
Quando as teorias passam nos testes de
O método crítico
falseamento, a teoria foi corroborada,
No entender de Pooper, sem uma isto é, mostrou-se como as que melhor
atitude crítica não estaremos a fazer respondem ao problema até ao
ciência. Através da crítica, o cientista momento. Isto não significa que ela
propõe conjenturas e tenta refutá-las seja verdadeira. Uma teoria é tanto
com a experiência. A função do mais verosímil quanto, resistindo aos
cientista é detetar o erro da teoria e testes que visam falsificá-la, está mais
não protegê-la a todo o custo. próxima da verdade.
O método conjentural não parte da Há graus de testabilidade, quanto mais
observação dos fenómenos, nem a coisas a teoria proibir, mais conteúdo
experimentação tem como propósito empírico ela tem e maior é o seu grau
verificar a teoria. A observação surge de falsificabilidade. As boas teorias são
depois de formulada a hipóstese, com o as que têm um grau de falsificabilidade
objetivo de encontrar contraexemplos elevado.
Críticas a Pooper
A prática científica desmente o
pressuposto de Pooper de que o
cientista vai à procura do erro da teoria.
Os cientistas defendem as suas teorias
e o seu principal objetivo não é testá-
las por meio de falsificação. A história
da ciência mostra que esta não evolui
num processo assente na refutção.
Os cientistas procuram confirmar aquilo
que as teorias propõe e não falsificar,
dando relevância aos resultados
positivos e não aos resultados
negativos. O critério falsificacionista
desvaloriza o papel da confirmação de
hipóteses científicas.
Ao afirmar que basta um caso de
falsificação para que a teoria seja
abandonada, não teve em conta a
possibilidade de erro humano, isto é, de
uma má interpretação dos resultados.
Esta teoria não é muito forte visto que
Pooper apenas afirma que é mais fácil
falsificar uma teoria do que verificá-la e
não que deva ser abandonada no
momento em que surge um caso que a
falsifica.
Ao rejeitar o raciocínio indutivo, deixa-
nos com um problema relativamente a
juízos futuros: é tão justificado
acreditar que amanhã o Sol vai nascer
como acreditar que o Sol não vai
nascer? Assim, conclui-se que a indução
faz parte da prática científica.

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