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ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA QUINTA DAS FLORES

Ficha formativa FILOSOFIA

Ano letivo de 2022/ 2023 TURMA ____ DO ____º ANO

MÉTODO DA CIÊNCIA

1. Validade e verificabilidade das hipóteses

Problema: “Será que as hipóteses científicas


podem ser verificadas pela experiência?”

1.1. Uma proposição que pode ser verificada pela experiência é


uma proposição que é verificável.
Ex. Existem corvos negros.
✓ basta observar um corvo negro para podermos concluir
com toda a segurança que ela é verdadeira.

Outro ex. Todos os corvos são negros.


✓ esta proposição não é verificável
✓ por muitos corvos negros que já tenhamos observado, não podemos
excluir a possibilidade de existirem alguns corvos de outra cor.
✓ logo, não podemos concluir que todos os corvos são negros
✓ por isso, a experiência não pode comprovar esta proposição,
pois esta poderá um dia revelar-se falsa
✓ esta proposição é confirmável

Conclusão: uma proposição é verificável se é possível estabelecer, a


partir da observação, de uma vez por todas que ela é verdadeira.

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1.2. Uma proposição que admite uma confirmação indutiva ou
probabilística pela experiência é uma proposição que é confirmável.
Ex. Todos os corvos são negros.
✓ parece ser confirmável porque, se tivermos já observado muitos
corvos negros e nenhum corvo de outra cor, concluímos que é
provável que todos eles sejam negros.
✓ partindo da informação disponível, podemos inferir, por indução,
que todos os corvos são negros.

Conclusão: uma proposição é confirmável se é possível mostrar,


recorrendo à observação, que ela provavelmente é verdadeira.

1.3. Será que as teorias científicas podem ser…

a) comprovadas (isto é, verificadas) pela observação? — NÃO

✓ As teorias científicas incluem proposições universais que visam


captar leis da Natureza — as leis científicas.
✓ Proposições essas que não podem ser comprovadas pela experiência.
✓ Por isso, as teorias científicas não admitem essa comprovação,
ou seja, uma verificação definitiva ou conclusiva.

Nota: é por esta razão que a ciência vai mudando. Como as teorias
aceites em cada momento nunca estão comprovadas, é sempre possível que
venham a revelar-se falsas, o que acontece com bastante frequência.

b) confirmadas (isto é, verificadas de uma forma mais modesta) pela


observação? — ?

b.1. Os indutivistas respondem que sim.


b.2. Popper responde que não.

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1.3.1. O papel da indução no método científico — indutivismo.

Tese: as teorias científicas podem ser confirmadas,


isto é, parcialmente verificadas.

✓ Perspetiva vulgar do método científico (não é a dos filósofos):

1. A observação é o ponto de partida da investigação científica.


2. As teorias científicas são elaboradas mediante um processo de
generalização indutiva.
3. Depois de a teoria ter sido elaborada,
a. tenta-se encontrar confirmações adicionais para a teoria;
b. usa-se a teoria na procura de generalizações indutivas mais vastas.

Ex. Toda a água sob pressão normal ferve a 100ºC.

Tese 1. Exprime a ideia de que a observação precede a teoria.

✓ antes da teoria, o cientista observa o mundo e regista uma grande


quantidade de factos observacionais.

✓ A sua observação deve ser totalmente pura ou isenta, isto é, o


cientista deve «observar as coisas como são», sem se deixar influenciar pelas
teorias em que acredita.

✓ O nosso investigador das propriedades da água começa, então, por


aquecer diversos recipientes com porções diferentes de água, e vai registando
pacientemente a temperatura a que cada uma dessas porções entrou em
ebulição.

Tese 2. Exprime a ideia de que a passagem da observação para a teoria

se dá mediante inferências indutivas.

✓ Segundo o indutivismo, as proposições universais que captam leis da


Natureza são descobertas por indução.

✓ O cientista começa por observar o mundo e, quando dispõe de


informação suficiente, chega às teorias fazendo generalizações indutivas.

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✓ Os factos observacionais dizem respeito a casos particulares.

✓ Partindo de premissas que descrevem esses factos,

o cientista esforçar-se-ia por extrair conclusões teóricas universais.

✓ Ex. inferência indutiva:


Cada uma das porções de água sob pressão normal que foram
examinadas ferveu ao atingir os 100ºC.
Logo, toda a água sob pressão normal ferve a 100ºC.

Depois de ter inferido que toda a água sob pressão normal ferve a
100°C, o investigador pode avançar de duas formas (tese 3):
Tese 3.a) pode esforçar-se por encontrar mais casos particulares
que confirmem a sua teoria.
Exemplo: se toda água que observou até ao momento foi fervida em
recipientes de barro, ele pode querer saber agora se a água
também ferve a 100 °C quando é aquecida noutros recipientes.
✓ Caso descubra que é esse o caso,
a sua teoria ficará confirmada num grau mais elevado.

Tese 3.b) pode apoiar-se nos resultados alcançados para fazer novas
generalizações, esperando assim descobrir leis mais abrangentes.
Exemplo: o cientista, também por indução, descobre que a água ferve
a temperaturas diferentes quando está sob outras pressões.
✓ Reunindo todos os seus resultados, poderá vir a descobrir uma
lei mais abrangente que estabeleça a relação entre o ponto de ebulição
da água e a pressão existente.

Resumindo: o indutivista vê a ciência como um corpo de conhecimento


solidamente assente na observação. Todas as teorias científicas resultam de
generalizações feitas a partir da experiência e à medida que a ciência avança
essas generalizações vão sendo cada vez mais numerosas e abrangentes.

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✓ Críticas ao indutivismo

✓ A versão de indutivismo considerada enfrenta objeções insuperáveis.


Vejamos duas dessas objeções:
1. Não existe observação pura.
2. As teorias científicas referem objetos que não são observáveis.

Objeção 1. O indutivista afirma que a investigação científica assenta na


observação pura, isto é, na observação que é conduzida sem a influência de
quaisquer teorias.
✓ a observação pura é impossível.
✓ sempre que registam aquilo que observam,
os investigadores são influenciados de diversas formas por teorias:
✓ têm certas expetativas teóricas,
✓ aceitam certos pressupostos teóricos,
✓ confiam em certas teorias.
✓ quanto mais a ciência avança, menos pura é a observação.
✓ a observação científica envolve o recurso a muitos instrumentos:
termómetros, telescópios e microscópios.
✓ estes instrumentos são fruto da própria investigação científica,
logo, quem os utiliza está a confiar nas teorias
que os tornaram possíveis.

Objeção 2. O indutivista afirma que as teorias científicas são generalizações


formadas a partir da observação de casos particulares.
✓ muitas teorias científicas referem objetos como neutrões e eletrões,
genes e moléculas de ADN.
✓ estes objetos não são observáveis, ou pelo menos não eram
observáveis na altura em que foram concebidas as teorias
que os referem.

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✓ Logo, estas teorias não podem ter sido desenvolvidas mediante
simples generalizações indutivas baseadas na observação.

1.3.2. O problema da justificação da indução.

Objeção 3. refutar a simples ideia de que as teorias científicas podem ser


confirmadas pela observação.
✓ qualquer perspetiva que atribua algum papel à indução na ciência
inclui esta ideia.
✓ argumento céptico de Hume:

1. As inferências indutivas baseiam-se no princípio da indução.


2. Este princípio não pode ser justificado a priori.
3. Este princípio não pode ser justificado a posteriori.
4. Logo, nenhuma inferência indutiva é justificável.

Premissa 1. Hume defende que as inferências causais pressupõem que a


Natureza é uniforme, ou seja, que as regularidades já observadas na Natureza
continuarão a registar-se no futuro.
✓ é o “princípio da uniformidade da Natureza”.
✓ chamemos-lhe «princípio da indução».
✓ este princípio está subjacente a todas as inferências indutivas,
incluindo as que não captam qualquer relação de causa e efeito,
como aquela que resulta na conclusão de que
todos os corvos são negros.
✓ se a Natureza não fosse uniforme, se ela fosse extraordinariamente
irregular, então a observação de alguns corvos negros não nos
autorizaria a inferir sequer que é provável que todos tenham essa cor
ou que o próximo corvo que observarmos também será negro.
✓ A premissa 1 é plausível.
✓ As generalizações e as previsões indutivas parecem realmente
depender do princípio da indução.

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Problema: Mas será que este princípio é justificável?
✓ Podemos encontrar algum bom argumento a favor da
perspetiva de que a Natureza é uniforme?

Premissa 2. É impossível justificar a priori o princípio da indução. Ou seja,


recorrendo apenas ao pensamento, não conseguiremos encontrar qualquer
razão para acreditar que a Natureza é uniforme.
✓ o princípio da indução não é uma verdade necessária, pois a sua
negação é perfeitamente inteligível: a hipótese de a Natureza ser
completamente caótica não envolve qualquer contradição.
✓ Não podemos conhecer a priori o princípio da indução.
✓ Não podemos justificar a priori o princípio da indução.

Problema: Poderemos justificar a posteriori a princípio da indução?

Premissa 3. É impossível justificar a posteriori o princípio da indução.


✓ Uma vez que não é possível justificar através da experiência que a
natureza é uniforme, qualquer tentativa de justificação conduzirá a uma petição
de princípio.
✓ A tentativa de justificação traduz-se no seguinte argumento:

A Natureza tem-se mostrado uniforme nas observações que fizemos até hoje.
Logo, a Natureza é uniforme.

✓ Este argumento pressupõe aquilo que importa provar (o princípio da


indução), pelo que não passa de uma petição de princípio.

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Conclusão céptica de Hume. Dado que não se pode justificar o princípio da
indução nem a priori nem a posteriori, é impossível justificá-lo.

✓ Pura e simplesmente não temos qualquer boa razão para acreditar


que a Natureza é uniforme.
✓ Todas as inferências indutivas pressupõem o princípio da indução.
O princípio da indução é injustificável.
Logo, também as inferências indutivas são injustificáveis.
✓ A observação de muitos corvos negros não nos dá a menor razão
para acreditar sequer que é provável que todos os sejam.

Problema da justificação da indução: encontrar uma refutação satisfatória do


argumento céptico de Hume e, consequentemente, de mostrar que algumas
das inferências indutivas que fazemos estão justificadas.

Retirado e adaptado de
Pedro Galvão (2006), Filosofia — 11º ano. Porto, Porto Editora

Tarefas/ perguntas:

1. Caraterize o argumento cético de Hume.

2. Refute a premissa um do argumento apresentado.

3. A que conclusão chega Hume?

4. Algumas das inferências indutivas que fazemos estarão justificadas?

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