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O estatuto do conhecimento científico

Do modelo indutivista (Francis Bacon) ao modelo falsificacionista (Karl Popper)

Os principais problemas da epistemologia são os seguintes:

- o problema da demarcação

- o problema do método

- o problema da evolução científica

- o problema da objetividade da ciência

A. O PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO
O que distingue as teorias científicas das não científicas?

Tradicionalmente, o critério de demarcação considerava que uma teoria era científica se fosse
verificável.

K. Popper propõe um novo critério: falsificabilidade. Assim, uma teoria é científica se, e só se, for
empiricamente falsificável e for muito informativa. As teorias com maior grau de falsificabilidade são
as que contêm maior conteúdo informativo, são as que correm mais riscos de serem refutadas.

K. Popper considera que as teorias da astrologia (os nativos do signo Gémeos têm tendência para
adiar decisões importantes) não são falsificáveis. Logo, a astrologia é uma pseudociência.
Considera, também, que a teoria psicanalítica de Freud e a teoria do desenvolvimento histórico de
Karl Marx são pseudociências.

Segundo alguns críticos, nem todas as teorias científicas são falsificáveis (sobre a origem do
universo, por exemplo). Afirmam, também, que há falsificações inconclusivas. Além disso, na sua
prática, os cientistas, habitualmente, não procedem deste modo (não procuram o contraexemplo –
se a teoria diz que “Todos os cisnes são brancos”, os cientistas vão procurar cisnes brancos).

B. O PROBLEMA DO MÉTODO
Em que consiste o método científico?

A resposta indutivista sustenta que o método científico se desenvolve em 4 momentos


fundamentais:

a) Observação (isenta, neutra)


b) Formulação da hipótese
c) Experimentação
d) Lei (generalização ou previsão)

Objeções a este modelo:

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- a observação não é o ponto de partida da investigação científica (uma vez que toda a observação
deve ser planeada) e há aspetos da teoria científica que não são observáveis (moléculas de ADN,
genes, neutrinos, eletrões…); a observação não é isenta, neutra.

- o problema da indução (levantado por D. Hume – a indução é injustificável e assenta num


pressuposto igualmente injustificável, que é a crença na uniformidade da natureza). A indução
baseia-se num determinado número de casos observados para chegar a uma conclusão que inclui
casos que ainda não tivemos experiência. Será que podemos confiar nas inferências indutivas?
Convém lembrar que basta um caso não considerado (ainda não observado) para colocar em causa a
verdade da conclusão.

A resposta falsificacionista destaca que o método científico tem 3 fases:


a) Facto-problema
b) Hipótese ou conjetura (devem ser ousadas, correr riscos) + dedução das consequências
c) Tentativa de refutação da conjetura através de testes experimentais

Caso haja uma boa ingestão de cálcio e de vitamina D, existirão muitos menos casos de osteoporose.
É preciso verificar se há situações em que há um aumento significativo de boa ingestão de cálcio e
de vitamina D, mas os casos de osteoporose não diminuam.

- Este método propõe o recurso ao raciocínio dedutivo. Se a teoria resistir aos testes é verosímil, pois
foi corroborada. Se a teoria não resistir aos testes, ela é refutada.

Objeções a este modelo:


- não é razoável abandonar uma conjetura ou teoria só porque foi refutada por um teste.
- contraria a prática dos cientistas-
- gera desconfiança (como podemos confiar na ciência?)

C. A EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA
Como progride a ciência?

De acordo com o modelo conservador (indutivista), a ciência evolui de forma linear e acumulando
conhecimentos.

De acordo com a perspetiva de K. Popper, a ciência progride, ainda que de forma irregular, por
aproximação à verdade. De acordo com K. Popper, uma teoria é melhor do que a anterior se resistiu
aos testes de falsificabilidade a que a anterior não resistiu. A ciência avança por um processo
racional de eliminação de erros (geocentrismo/heliocentrismo)

D. OBJETIVIDADE DA CIÊNCIA
A ciência é inteiramente objetiva?

Segundo K. Popper, a ciência é inteiramente objetiva, dado que cada teoria é avaliada por meio de
estes severos/rigorosos, os quais ao aplicados de forma imparcial.

Poderá K. Popper dar esta garantia? Estará a experiência imune a fatores subjetivos? Os
instrumentos técnicos utilizados estarão bem aferidos e poderão garantir essa objetividade?

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