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Você já deve ter ouvido falar que não devemos fazer generalizações. Que é errado dizer,
por exemplo, que “nenhum homem presta” ou que “mulher não sabe dirigir”. Esses são
exemplos de generalizações incorretas, feitas a partir de uns poucos exemplos. De qualquer
forma, o problema não está na generalização em si, mas na forma como é feita.
Não há nada de errado em fazer generalização, desde que elas sejam feitas de modo
adequado. Os defensores do método indutivo na ciência inclusive acreditam que a
generalização é fundamental para o conhecimento científico. Vamos entender melhor isso.
O que significa generalizar? Do ponto de vista lógico, significa chegar a uma conclusão
geral a partir de afirmações de observação.
Esquentei uma chaleira de água hoje e ferveu quando a temperatura atingiu 100
graus célsius.
Esses são dois exemplos de afirmações de observação. Como o nome sugere, elas
descrevem algo que foi observado por alguém.
Afirmações gerais, por outro lado, se aplicam a todos ou a maioria dos indivíduos de uma
determinada classe. Considere as frases abaixo:
Essas afirmações não se referem a algo específico no espaço e tempo, mas a todos os
metais, a todos os planetas.
O método indutivo nada mais é que esse processo de generalizar a partir de afirmações de
observação. Algumas leis científicas que você aprende na escola, como a de que todos os
objetos caem, na Terra, com a mesma taxa de aceleração constante, são o resultado desse
processo.
Nossa próxima questão é entender o que diferencia uma boa generalização de uma má
generalização.
Na prática, o que esses critérios significam? Consideremos mais uma vez um exemplo para
entender.
O raciocínio indutivo foi sugerido como o método científico apropriado por Francis Bacon
(1561-1626). O filósofo, ao contrário de seus contemporâneos, se recusou aceitar sem
questionar as visões da natureza herdadas dos antigos gregos. Era muito comum naquela
época acreditar serem verdadeiras quaisquer ideias presentes nos livros de Aristóteles ou
na Bíblia.
Bacon insistiu que os cientistas deveriam investigar a natureza através da observação e
experimentação cuidadosas. Ele pensava que os cientistas deveriam coletar o máximo de
fatos possíveis sobre determinados fenômenos e depois disso examiná-los cuidadosamente
e, só então, tirar conclusões.
Dois séculos depois de Bacon, outro filósofo, o empirista John Stuart Mill (1806–1873),
tentou melhorar essas ideias. Ele elaborou o que chamou de método indutivo. O que fez foi
definir regras para determinar quais generalizações eram apoiadas pelos fatos e
observações realizadas por um cientista.
Cientistas que usaram o método indutivo tal como descrito por Bacon e Mill não são difíceis
de encontrar.
Mas Galileu decidiu descobrir por si mesmo. Para isso, inventou uma série de experimentos
nos quais mediu inúmeras vezes a velocidade da queda de bolas de metal com pesos
diferentes de uma altura de trinta metros.
Para sua surpresa, descobriu que todas as bolas caiam na mesma velocidade,
independente do peso. Além disso, Galileu também descobriu que à medida que cada bola
caía e ficava mais próxima ao solo, se movia cada vez mais rápido.
Prosseguindo seu estudo, Galileu construiu planos inclinados longos e suaves e largou
neles uma infinidade de bolas. Durante anos ele trabalhou, soltando cuidadosamente as
bolas e cronometrando o tempo que demoravam para percorrer o plano inclinado.
Então, o que Galileu fez é basicamente o que propõe os defensores do método indutivo:
observação e generalização. Porém, será que é isso que todos os cientistas fazem ao
elaborar suas teorias?
Mas o método indutivo tem seus críticos. Um grande problema é o fato de que toda
generalização vai além das observações nas quais se baseia. Por exemplo, Galileu
observou relativamente poucas bolas de metal caindo de distâncias relativamente curtas
antes de concluir que cada objeto sempre cai na Terra em uma velocidade constantemente
acelerada.
Porque uma generalização sempre vai além da evidência observada, não podemos nunca
dizer que uma determinada generalização foi provada. Esse é o chamado problema da
indução, apresentado por Hume.
Mas mesmo que o indutivista possa lidar com esse problema, há uma razão mais séria para
mostrar que o indutivismo não é uma teoria adequada da relação entre conhecimento
científico e observações sensoriais.
O problema é que quase nenhuma das grandes teorias científicas são meras
generalizações de alguns fatos. Por exemplo, a teoria da evolução de Darwin por seleção
natural afirma que as espécies evoluem ao longo do tempo como resultado de mudanças
genéticas e competição pela sobrevivência e reprodução. Darwin não estabeleceu sua
teoria observando algumas espécies evoluindo dessa forma e depois generalizando a
conclusão de que todas as espécies evoluem assim. De fato, Darwin nunca observou a
evolução de nenhuma espécie porque a evolução das espécies leva muito tempo. Darwin
estava fazendo algo mais do que generalizar a partir de algumas observações sensoriais.