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Método indutivo

De acordo com os defensores do método indutivo, a ciência começa com a observação.


Depois de repetidas observações, é possível chegar a leis científicas.

O que é o método indutivo?

Você já deve ter ouvido falar que não devemos fazer generalizações. Que é errado dizer,
por exemplo, que “nenhum homem presta” ou que “mulher não sabe dirigir”. Esses são
exemplos de generalizações incorretas, feitas a partir de uns poucos exemplos. De qualquer
forma, o problema não está na generalização em si, mas na forma como é feita.

Não há nada de errado em fazer generalização, desde que elas sejam feitas de modo
adequado. Os defensores do método indutivo na ciência inclusive acreditam que a
generalização é fundamental para o conhecimento científico. Vamos entender melhor isso.

O que significa generalizar? Do ponto de vista lógico, significa chegar a uma conclusão
geral a partir de afirmações de observação.

Afirmações de observação são afirmações singulares, sobre a ocorrência de algo específico


em determinado tempo e espaço. Considere as frases abaixo:

No dia 25 de maio de 2019 choveu em Porto Alegre.

Esquentei uma chaleira de água hoje e ferveu quando a temperatura atingiu 100
graus célsius.

Esses são dois exemplos de afirmações de observação. Como o nome sugere, elas
descrevem algo que foi observado por alguém.

Afirmações gerais, por outro lado, se aplicam a todos ou a maioria dos indivíduos de uma
determinada classe. Considere as frases abaixo:

Os planetas se movem em elipse em torno do sol

Os metais se expandem quando aquecidos.

Essas afirmações não se referem a algo específico no espaço e tempo, mas a todos os
metais, a todos os planetas.

Então, agora temos condições de compreender melhor o que é uma generalização.


Generalizar significa concluir, a partir de afirmações de observação, afirmações gerais.
Suponha que você faça um experimento com metais. Seleciona uma série deles, aquece a
altas temperaturas e mede para verificar se ocorreu uma expansão. Ao constatar que isso
ocorre em todos os casos, conclui que “todos os metais se expandem quando aquecidos”.
Ao fazer isso, está generalizando.

O método indutivo nada mais é que esse processo de generalizar a partir de afirmações de
observação. Algumas leis científicas que você aprende na escola, como a de que todos os
objetos caem, na Terra, com a mesma taxa de aceleração constante, são o resultado desse
processo.

Nossa próxima questão é entender o que diferencia uma boa generalização de uma má
generalização.

De acordo com os defensores do método indutivo, para uma generalização se apropriada,


ela deve respeitar pelo menos três condições:

1. O número de afirmações de observação que formam a base de uma generalização


deve ser grande;
2. As observações devem ser repetidas sob uma ampla variedade de condições;
3. Nenhuma afirmação de observação deve conflitar com a generalização realizada.

Na prática, o que esses critérios significam? Consideremos mais uma vez um exemplo para
entender.

Se cheguei à conclusão de que “todos os metais se expandem quando aquecidos”, então


de acordo com a primeira condição acima devo ter feito um grande número de observações,
com uma variedade muito grande de metais, se possível todos. Além disso, é necessário
variar as circunstâncias nas quais essas observações são feitas, por exemplo, em lugares
com maior ou menor pressão atmosférica e outras variações. Por fim, para concluir que
“todos os metais se expandem” não pode existir nenhum metal que não esteja de acordo
com essa lei. Do contrário, estará incorreta.

Agora, se voltarmos aos exemplos de generalizações com os quais começamos o texto,


veremos o que possuem de incorreto. Em primeiro lugar, são baseadas num número muito
pequeno de observações e, em segundo lugar, conflitam com muitos casos, talvez a
maioria, de homens que prestam e mulheres que sabem dirigir.

Francis Bacon, pai do indutivismo

O raciocínio indutivo foi sugerido como o método científico apropriado por Francis Bacon
(1561-1626). O filósofo, ao contrário de seus contemporâneos, se recusou aceitar sem
questionar as visões da natureza herdadas dos antigos gregos. Era muito comum naquela
época acreditar serem verdadeiras quaisquer ideias presentes nos livros de Aristóteles ou
na Bíblia.
Bacon insistiu que os cientistas deveriam investigar a natureza através da observação e
experimentação cuidadosas. Ele pensava que os cientistas deveriam coletar o máximo de
fatos possíveis sobre determinados fenômenos e depois disso examiná-los cuidadosamente
e, só então, tirar conclusões.

Dois séculos depois de Bacon, outro filósofo, o empirista John Stuart Mill (1806–1873),
tentou melhorar essas ideias. Ele elaborou o que chamou de método indutivo. O que fez foi
definir regras para determinar quais generalizações eram apoiadas pelos fatos e
observações realizadas por um cientista.

Na opinião de Bacon e Mill, o método científico é caracterizado por três fatores:

1. Acúmulo de observações particulares. O método científico começa com a


coleta do maior número possível de fatos observados em relação ao tópico
sob investigação.
2. Generalização a partir das observações particulares. O método científico
então prossegue inferindo leis gerais a partir dos fatos particulares
acumulados.
3. Confirmação repetida. O método científico continua a acumular fatos mais
específicos para ver se a generalização continua sendo verdadeira. Quanto
mais casos particulares de uma “lei” forem encontrados, mais confirmação a
lei terá e maior será sua probabilidade.

Assim, para o indutivista, a ciência se diferencia da opinião, superstição e preconceito por


ser baseada na generalização a partir de inúmeras observações particulares. As
pseudociências, ao contrário, não são solidamente baseadas em boas observações
sensoriais e repetidas confirmações.

Exemplos de uso do método indutivo

Cientistas que usaram o método indutivo tal como descrito por Bacon e Mill não são difíceis
de encontrar.

Durante o século XVII, Galileu Galilei (1564–1642) interessou-se em estudar o movimento


de objetos em queda. A maioria dos cientistas de seu tempo contentou-se em aceitar a
opinião de Aristóteles, que havia declarado que os objetos caem mais rápido quanto mais
pesados são.

Mas Galileu decidiu descobrir por si mesmo. Para isso, inventou uma série de experimentos
nos quais mediu inúmeras vezes a velocidade da queda de bolas de metal com pesos
diferentes de uma altura de trinta metros.
Para sua surpresa, descobriu que todas as bolas caiam na mesma velocidade,
independente do peso. Além disso, Galileu também descobriu que à medida que cada bola
caía e ficava mais próxima ao solo, se movia cada vez mais rápido.

Prosseguindo seu estudo, Galileu construiu planos inclinados longos e suaves e largou
neles uma infinidade de bolas. Durante anos ele trabalhou, soltando cuidadosamente as
bolas e cronometrando o tempo que demoravam para percorrer o plano inclinado.

Depois de um grande número de observações, formulou a importante generalização de que


todos os objetos caem, na Terra, com a mesma taxa de aceleração constante. Aristóteles
estava errado. Incontáveis ​cientistas depois de Galileu confirmaram sua lei de queda de
corpos, tornando-a uma lei altamente provável.

Então, o que Galileu fez é basicamente o que propõe os defensores do método indutivo:
observação e generalização. Porém, será que é isso que todos os cientistas fazem ao
elaborar suas teorias?

Críticas ao método indutivo

Mas o método indutivo tem seus críticos. Um grande problema é o fato de que toda
generalização vai além das observações nas quais se baseia. Por exemplo, Galileu
observou relativamente poucas bolas de metal caindo de distâncias relativamente curtas
antes de concluir que cada objeto sempre cai na Terra em uma velocidade constantemente
acelerada.

Porque uma generalização sempre vai além da evidência observada, não podemos nunca
dizer que uma determinada generalização foi provada. Esse é o chamado problema da
indução, apresentado por Hume.

Mas mesmo que o indutivista possa lidar com esse problema, há uma razão mais séria para
mostrar que o indutivismo não é uma teoria adequada da relação entre conhecimento
científico e observações sensoriais.

O problema é que quase nenhuma das grandes teorias científicas são meras
generalizações de alguns fatos. Por exemplo, a teoria da evolução de Darwin por seleção
natural afirma que as espécies evoluem ao longo do tempo como resultado de mudanças
genéticas e competição pela sobrevivência e reprodução. Darwin não estabeleceu sua
teoria observando algumas espécies evoluindo dessa forma e depois generalizando a
conclusão de que todas as espécies evoluem assim. De fato, Darwin nunca observou a
evolução de nenhuma espécie porque a evolução das espécies leva muito tempo. Darwin
estava fazendo algo mais do que generalizar a partir de algumas observações sensoriais.

De fato, embora leis científicas relativamente simples e de baixo nível sejam


frequentemente estabelecidas por indução, as grandes, amplas e fundamentais teorias da
ciência que explicam e relacionam amplas matrizes de fenômenos e fornecem as bases
para programas de pesquisa ricos não são estabelecidas por indução.
Em resposta a esses problemas, surgiram outras ideias sobre o método científico. O
falsificacionismo de Popper, os paradigmas de Kuhn e o anarquismo epistemológico de
Feyerabend são alguns exemplos.

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