Você está na página 1de 4

Curso de Teologia

Frei Everton Leandro


APRESENTAÇÃO DA MATÉRIA
TEOLOGIA E TEOLOGIZAR

De que se trata quando se fala de metodologia teológica? Qual é a natureza própria desse
assunto?

Para começar, importa saber que aqui não se discute sobre teorias teológicas (tratados), mas
mais precisamente sobre a prática teológica. Por outras, trata-se do ato teológico ou do exercício de
fazer teologia. O interesse aqui não é a teologia, mas o teologizar, a teologiz-ação.
A metodologia analisa o processo teológico: os elementos que aí estão em jogo e as regras de
sua articulação. Por analogia, é como se trabalhássemos com um dicionário (elementos) e com uma
gramática (articulação). De um lado, devemos estabelecer os elementos constitutivos da teologia e,
do outro, o modo de seu uso ou a forma de sua combinação.
Mais: a metodologia teológica procura também dar razão de tudo isso. Isto é, tenta fundar e
justificar por que se usam tais elementos e por que devem ser assim combinados. Esse é o nível
mais profundo da metodologia, o de sua crítica epistemológica.

Teologia não se faz de qualquer jeito. Fazer teologia tem algo a ver com um processo judiciário.
Há que seguir um procedimento definido. Há um percurso a se obedecer. E, semelhantemente ao
direito, pode-se perder a causa porque não se encaminhou bem a questão, embora se tenha razão.
Assim, além dos erros teológicos de conteúdo, pode haver erros teológicos de forma. E é justamente
o caso quando não se segue um método teológico.

ELEMENTOS ARTICULADORES
Entre os elementos que entram na articulação teológica podemos estabelecer uma dúzia:
 a Fé,
 a Escritura,
 a Igreja,
 o Senso dos fiéis,
 a Tradição,
 O Dogma,
 o Magistério,
 a Prática Pastoral,
 as Outras teologias,
 a Razão,
 a Linguagem,
 a Filosofia,
 as Ciências.

Como se vê, o discurso teológico põe em ação uma pluralidade de instâncias. São como
os pivôs sobre os quais a teologia se apoia.
 a Fé deve ter a primazia absoluta na teologia;
 a Biblia é o primeiro testemunho a ser ouvido;
 a Razão deve estar a serviço da compreensão do dado revelado;
 a Prática é uma fonte de teologia, assim como uma de suas finalidades;
 a Linguagem da teologia é a da analogia, pois só ela se adequa ao Mistério;
 o Magistério é critério de autenticidade. E assim por diante.

Quanto aos processos, a metodologia teológica diz que:


 antes de tudo, é preciso ouvir os testemunhos da fé;
 em seguida, que se deve esclarecer e aprofundar seu conteúdo interno;
 e, por fim, que se deve confrontá-los com a vida concreta.
Esse é em grandes linhas o método da teologia. É o procedimento, ex posto aqui de forma
sumária, pois cada uma destas etapas comporta um percurso específico.
TRÊS VIAS PARA APRENDER TEOLOGIA
Deve-se, em primeiro lugar, estudar e assimilar teoricamente as próprias leis da prática
teológica. Esse é o objeto e o objetivo da presente matéria.
Em seguida, é preciso imitar o modo como os "artesãos" ou, se quisermos, os "artistas"
da teologia, que são os teólogos, praticam seu oficio. Vê-los dar aulas e ler seus escritos já é
muito instrutivo.

Finalmente, aprende-se exercendo por própria conta a "arte" teológica. Na verdade, em


qualquer arte é só com a prática que se adquire uma verdadeira habilidade e uma sólida
competência.

Para fazer uma teologia correta é necessário estudar as regras de seu método. A
propósito, sirva aqui uma metáfora ousada, que São Boaventura usou:
Aqueles que não estudam de modo ordenado se parecem com os potros que
correm o tempo todo aqui e ali. Mas ojumento, com o mesmo passo, tanto mais
avança quanto mais regular é seu andar.

OS NÍVEIS DA METODOLOGIA TEOLÓGICA

Podemos identificar, na metodologia teológica, quatro níveis de pro_ fundidade crescente:

1. Nível das técnicas. Falamos aqui dos recursos que usa a teologia, ou seja, dos meios
e modos que entram no seu exercício. Tais são, por exemplo, a pesquisa, a leitura, a interpretação
dos textos, a análise e aprofundamento das questões, a organização do material, a elaboração das
ideias, etc. Esse é o plano mais superficial do método, o plano, por assim dizer, da "tecnologia
teológica".

2. Nível do método propriamente dito. Trata-se das etapas por que passa o processo
da prática teológica em seus elementos articuladores, tais como: a ausculta da Palavra, sua
interpretação crítica, a recuperação da Tradição da fé, o direcionamento para a vida e assim por
diante.
3. Nível da epistemologia. É o "discurso do método" em teologia: a bus ca de sua
fundamentação crítica e de sua justificação racional, assim como de seu alcance e de seus
limites.

4. Nível do espírito teológico. Por trás da prática teológica existe um espírito que
atravessa e sustenta tudo. É a busca por entender o Mistério. É, no fim, essa "vontade de conhecer"
a Deus que se confunde com a própria fé em sua dinâmica interna. Ser teólogo é muito mais que
manipular técnicas, usar métodos ou discutir epistemologias. É ser possuído pela paixão de
"compreender qual é a largura, comprimento, altura e profundidade" do Mistério divino (cf. Ef 3,
18). Essa é a alma secreta de todo o labor teológic0.

Você também pode gostar