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AULA 1
Primeiramente, vale pontuar que é primordial que esta aula seja objetiva,
tendo em vista que se trata de um primeiro encontro com os conceitos
fundamentais do estudo teológico. Para começar, estudaremos a origem da
palavra teologia e sua ressignificação ao longo da história. Apresentaremos um
breve panorama dos princípios pensantes e das práticas acadêmicas, para
nortear a trajetória acadêmica do futuro teólogo, e, por fim, abordaremos a
atuação e as dificuldades de um teólogo na sociedade contemporânea.
Assim, esta disciplina se propõe a ensinar os alunos que têm vontade de
aprofundar seus conhecimentos a respeito da fé da igreja, para que, com a
reflexão adquirida, possam viver e pensar a partir da teologia.
TEMA 1 – CONCEITUAÇÃO
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Etimologicamente, surgiu a partir da junção dos vocábulos gregos theos
(θεóς), que significa precisamente divindade, verdade, e logos (λóγος), que
significa, por sua vez, o estudo sistemático e a análise de alguma coisa ou algo
que existe. Nesse sentido, Deus é o centro, objeto principal de estudo da teologia
(Libanio; Murad, 2003, p. 62-65), mas foi somente a partir do teólogo franciscano
Scotus (Boff, 1998 [1944], p. 556) que, durante o século XIV, esse termo começa
a ser mais popular e aceito de forma geral.
Boff (1998 [1944], p. 13-15) compara a teologia a uma “arte”, uma vez que
dispõe de um conjunto de ferramentas que alicerçam a produção de um
resultado determinado, colocando-a ao mesmo tempo como um processo
judiciário, que necessita de rigor processual para regular e articular os elementos
fundamentais para a prática teológica.
Rodrigues (1976) conceitua a teologia de forma mais simplória, afirmando
que é pensar sobre Deus e decifrar o oculto. Segundo Libanio e Murad (2003, p.
57), o estudo da teologia deve entrelaçar quatro funções: “aprender teologia,
aprender a fazer teologia, fazer teologia e viver celebrativa e orantemente a
teologia”. Ou seja, a riqueza de estudar teologia se encontra quando há o
aprendizado a respeito dessas funções, sem que haja uma dominante.
A atribuição de aprender teologia diz respeito a uma apropriação do
conteúdo teológico que já foi elaborado e pensado, considerando, para tal
função, a teologia como algo acabado, para que haja uma verdadeira
aprendizagem por parte de quem a estuda. Aprender a fazer teologia diz respeito
a entender a complexidade dos detalhes que envolvem todos os aspectos desta,
que não se resumem a simplesmente estudá-la ou praticá-la na vida diária.
Trata-se de se debruçar sobre o estudo de regras internas para que haja
uma produção técnica de teologia. “Aqueles que não estudam de modo ordenado
se parecem com os potros, que correm o tempo todo e ali. Mas o jumento, com
o mesmo passo, tanto mais avança quanto mais regular é seu andar” (São
Boaventura, citado por Boff, 1998 [1944], p. 16).
Outra parte do estudo da teologia pensada por Libanio e Murad (2003, p.
58) consiste em fazer teologia, que, segundo eles, é um processo vivo e
interminável, na medida em que acontece tanto no nível de discurso religioso,
que diz respeito a uma teologia popular de quem crê e irá falar sobre sua fé,
quanto de quem crê e, a partir da crença, reflete segundo as regras internas do
discurso teológico.
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Por fim, ainda segundo Libanio e Murad (2003, p. 59), celebrar e rezar a
teologia é entender seu lugar, no sentido de colocar o mistério de Deus no centro,
uma vez que o teólogo deve ser a pessoa que foi capturada e tem um coração
atraído pelo Eterno. Também se fala de uma teologia orante, que diz respeito
justamente a esse contato direto com Deus e também com a liturgia.
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TEMA 2 – RELAÇÃO ENTRE FÉ E TEOLOGIA
Segundo Boff (1998 [1944], p. 27), é natural que, em certo momento, toda
pessoa que tem fé comece a questionar a veracidade de sua crença. A fé é,
antes de tudo, um processo de autoconhecimento motivado por sua própria
curiosidade. Essa busca por um saber que procura explicar os mistérios da
existência divina e humana é permeada do desejo de atrair o bem e afastar o
mal, dando conforto e segurança ao homem e tendo como critério a fé.
Daí se tem a definição clássica da teologia: fides quaerens intellectum (a
fé buscando entender). Fica claro que a fé, originária da natureza do próprio
espírito humano, além de objeto e objetivo teológico, é também pressuposto para
a teologia, podendo ser descrita como “fé de olhos abertos, que enxergam com
lucidez, inteligência e criticismo” (Boff, 1998 [1944], p. 27).
Para Boff (1998 [1944], p. 31), a fé e a teologia se relacionam assim como
a seiva está para a árvore:
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TEMA 3 – PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS
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próprios métodos, argumentos, raciocínios e premissas, pois deve analisar todas
as variáveis e, com isso, poder antecipar contra-argumentações (Tittle, citado
por Canal, 2013, p. 12).
O último valor filosófico a ser apresentado é o de honestidade intelectual.
Para Tugendhat, citado por Wagner (2012, p. 5), este deve ser descrito antes de
tudo como uma atitude, que caminhe, então ao lado de valores morais e
responsáveis, os quais são comuns ao cotidiano. Trata-se de um esclarecimento
a respeito da realidade (Tugendhat, citado por Wagner, 2012, p. 7).
O estudante deve se colocar em posição crítica e, como diz Tugendhat,
citado por Wagner (2012, p. 6), lutar contra uma preguiça da razão, ou seja,
abster-se da racionalidade. Deve também sair da zona de conforto e assumir
pensamentos que não sejam fundamentados em si mesmos, mas em razões
(Tugendhat, citado por Wagner, 2012, p. 7).
Neste tópico, estudaremos temas fundamentais que irão guiar aquele que
estuda teologia, tendo em vista que a matéria exige reflexão sobre uma fé a
serviço do povo e deve ser guiada pelo amor ao estudo da fé, senso do mistério
e compromisso com o povo (Boff, 1998 [1944], p. 525).
O estudo da teologia deve ser um ato amoroso, no sentido de que deve
haver paixão por seus assuntos principais: Deus e seu plano. Tal paixão vem
com o aprofundamento da própria fé, uma vez que quem crê quer e ama saber
as razões pelas quais faz isso (Boff, 1998 [1944], p. 525).
É importante entender qual a relevância da fé para a vida e perceber que
se trata da percepção da importância que há em assumir um compromisso de
transformação da existência – ou seja, da vida real, segundo a ótica divina. “Em
particular, quando alguém se dá conta de quanto a teologia pode ajudar o povo
oprimido a se libertar, então o interesse por ela também cresce” (Boff, 1998
[1944], p. 526).
O próprio estudo da teologia por si só pode parecer difícil em um primeiro
momento, mas, com o tempo, torna-se gratificante, o que, por sua vez, torna o
teólogo um “filólogo” (amante do logos divino), sendo o ato teológico um ato
amoroso. Dessa forma, “o amor à inteligência da fé leva naturalmente à
aplicação, isto é, à busca, à pesquisa” (Boff, 1998 [1944], p. 526).
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Em contrapartida, há também uma cultura pragmatista que versa sobre o
desamor ao estudo da teologia e que pode ser traduzida em três fatores.
Primeiramente, a cultura de massa, por conta de seu lado sensacionalista e
apassivador – no sentido de querer tornar as coisas fáceis –, o que se resume
no não favorecimento da reflexão pessoal, da pesquisa e do estudo (Boff, 1998
[1944], p. 527).
Depois, há o ativismo, que pode ser pastoral ou não, mas que faz com
que as coisas fiquem fora de lugar, não se aprofundando em resolutividade de
problemas. Por fim, há um clima de materialismo (que se preocupa em explicar
fenômenos naturais, sociais e mentais) e de hedonismo (o qual tem o prazer
como bem supremo) que dificulta a compreensão de realidades como a fé (Boff,
1998 [1944], p. 529).
Boff (1998 [1944], p. 530) trata também do anti-intelectualismo, que é
basicamente uma preguiça mental ou aversão ao estudo. Na teologia, é
chamado também de fideísmo e se divide em dois tipos:
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A tagarelice, por sua vez, diz respeito ao segundo mandamento, que
alerta sobre “não falar o nome de Deus em vão”, o que vale especialmente para
o teólogo, tendo em vista que fala sobre Deus. O que deve ser compreendido
nesse ponto é que a qualidade das palavras vale mais do que a quantidade, uma
vez que muitos falam demais e não dizem nada. Estes são apontados como
tagarelas, e, na teologia, o que verdadeiramente importa é “antes o modo de
falar de Deus, o espírito com o que fala dele” (Boff, 1998 [1944], p. 539).
Boff (1998 [1944], p. 541) trata também de um último tema quando
falamos das boas práticas de estudo, que é o compromisso com o povo. A prática
teológica não pode nem termina no puro saber, mas se preocupa com a fé e a
caridade. Devemos encarar o saber teológico como um saber-para, não
bastando um saber “o que”, mas um saber “para que” e “como”.
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TEMA 5 – PERFIL DO TEÓLOGO
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problemas novos e velhos à luz da fé e da razão [...]” (Zilles, 2008, p. 342). A fé
é condição básica para fazer teologia, mas isso não significa que é suficiente.
NA PRÁTICA
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9. Não se esqueça de desdobrar a dimensão sociolibertadora da fé: é
de extrema importância o acolhimento das realidades sociais e culturais
para a prática da teologia, que deve ser chamada para dar relevância
aos problemas de justiça e igualdade, dos direitos humanos e sociais.
10. Faça teologia com o ouvido aberto ao pobre: optar pelo pobre, na
teologia, corresponde a colocar os pobres como alvo do nosso discurso
e também dar importância aos seus problemas.
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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