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COMO PENSAR TEOLOGICAMENTE

A JORNADA
COMO PENSAR
EM BUSCA DE UMA
TEOLOGICAMENTE
TEOLOGIA RELEVANTE

Aula 2
1
18
25 de
de março
março de
de 2021
2021

YAGO MARTINS
YAGOeMARTINS
GUILHERME NUNES

Transcrição:
Transcrição: Júlia Costa | Revisão Júlia
e adaptação: Costa
Alana Lins | Diagramação: Loanny Costa
AULA 2 @institutoschaeffer
COMO PENSAR TEOLOGICAMENTE

Aula 2
Como pensar teologicamente

Seja muito bem-vindo a mais uma aula do Instituto Schaeffer de Teologia e Cultura.

O tema de hoje é: Como Pensar Teologicamente. Quando falamos sobre pensar teologi-
camente, nós estamos falando sobre o estilo de vida. Isso é uma das coisas que, quando
estamos começando a estudar teologia, precisamos ter em mente, porque isso vai deter-
minar todo o nosso caminho do pensar teológico. Isso vai evitar muitas falhas terríveis em
nosso caminho teológico.

Essa matéria é propedêutica, ou seja, uma introdução para fazer com que você não perca
o rumo e não tome alguns caminhos que vão te levar a ter uma mente confusa que não
consegue entender certos temas, ler e entender certos livros. Essa introdução é muito
importante.

Gostaria de ter tido uma aula assim a 10 anos atrás quando eu comecei. Gostaria que
isso tivesse sido aula de Introdução à Fé, aula de batismo na igreja.

Quando começamos a pensar sobre o processo epistemológico, termo usado para falar
da ciência da razão do pensamento na filosofia, e começamos o processo de pensar te-
ologia, estamos diante daquilo que vai nos diferir do modo de ter contato com a vida que
tínhamos antes de sermos crente. Não pensávamos teologicamente. Podíamos pensar re-
ligiosamente em um sentido de religião com esse impulso em direção ao transcendente,
mas não pensávamos de acordo com a Palavra de Deus, não pensávamos com as catego-
rias que a Palavra de Deus coloca para vermos. Então, aprender a pensar teologicamente é
aprender a discipular a mente, aprender a discipular-se nos próprios processos de contato
com a Palavra de Deus.

Pensar teologicamente é quando você imerge em si mesmo, não só numa matéria, não
apenas em um momento de estudar, mas você está imerso numa forma de pensar toda
a vida. Estudar teologia não é simplesmente estudar uma matéria do seminário, não é só
uma disciplina da sua vida. Estudar teologia é usar óculos novos, é ver a vida de uma forma
diferente.

Ao falarmos sobre pensar, estamos falando no sentido de mostrar que teologia vai im-
pactar todas as suas formas de pensar sobre tudo em sua vida. Você como mãe, pai, filho,
esposa, pastor, líder em sua igreja, líder de pequenos grupos. Isso vai impactar os peque-
nos detalhes de sua vida. A maneira que você come, a maneira que fica doente, a maneira
que você procura um hospital. Tudo isso você está sempre pensando com alguns óculos, e
aqui, queremos te oferecer uma forma de pensar todas essas coisas teologicamente.

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É muito diferente a experiência de pensar na teologia e pensar com teologia. São duas
coisas completamente distintas e ambas são profundamente necessárias. Temos de fazer
teologia propriamente dita, pensar nas categorias da palavra de Deus, mas a finalidade nis-
so é pensarmos com teologia. Usarmos o procedimento teológico como um instituto para
a formação da nossa mente, do nosso imaginário, das nossas relações sociais, do nosso
discipulado, da nossa família, do nosso cuidado interior emocional e psicológico. Todo o
modo de olhar para a vida precisa ser pensado com teologia, porque isso vem do processo
de pensar a teologia.

Hoje nós vamos te oferecer três caminhos. Inicialmente, vamos oferecer oito diretrizes
para você pensar teologicamente, depois nós vamos te dar alguns caminhos e metodo-
logias sobre o fazer teologia. A ordem é pensar sobre teologia, para fazer teologia. Pos-
teriormente, iremos terminar com alguns cuidados que você precisa ter quando estamos
falando sobre pensar e fazer teologia. A ordem aqui é muito importante: fazer teologia,
buscar uma metodologia, precisa estar fundamentado na maneira em que você pensa so-
bre a teologia como um todo.

Quando alguém pega um livro de sistemática, muitas vezes, lê apenas trechos sobre
temas específicos e, a partir disso, tenta fazer teologia. A dificuldade é que ao terminar
aquele capítulo, por não ter uma reflexão boa e uma forma de pensar sobre teologia, terá
dificuldade de aplicação a sua própria vida.

Quando se faz teologia e ao mesmo tempo se pensa teologicamente, a maneira de rela-


cionar aquilo que se está estudando vai ser muito mais orgânica e intuitiva. Você não vai
ter alguns obstáculos que algumas pessoas que querem apenas ler livros sobre teologia
têm.

Tomás de Aquino falava sobre uma teologia que é ensinada por Deus, que é sobre Deus
e que leva a Deus. A teologia tem propósito, ela vem diretamente da mão do Senhor. Deus
é que nos ensina a sua Palavra. Ela é ensinada por Deus, sobre Deus.

Deus não apenas ensina sobre coisas, mas sobre ele mesmo através de tudo aquilo que
a Palavra de Deus versa, nos levando a Deus. Nós não aprendemos teologia para simples-
mente encher nossas cabeças. Deus não precisa de pendrive. A memória de Deus não está
acabando para termos que lembrar por ele, mas porque Deus quer, nos ensinando, ensinar
sobre ele, para nos trazer a ele. Pensar na teologia, pensar com teologia, são formas de
ouvir a voz de Deus. Para conhecer mais de Deus, para voltarmos a ele.

O primeiro caminho que você precisa entender para pensar teologicamente é que a teo-
logia é uma nova forma de ver todas as coisas, uma nova forma de ver a realidade. Muitas
vezes, pensamos que o nosso olhar para a realidade é neutro. Às vezes, pensamos em um
positivismo já falido, que nos impede de olhar para os fatos e interpretá-los. Toda a nossa
percepção da realidade é uma interpretação da realidade. Estamos sempre pensando e
interpretando as coisas.

Então a primeira coisa que você precisa para pensar teologicamente é entender que a

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teologia nos dá uma nova forma de ver toda a realidade. Paulo, em sua segunda carta aos
coríntios, ao dizer que anteriormente ele conheceu Jesus segundo a carne. Sendo nova
criatura, as coisas antigas se passaram. O ponto ali é a forma de ver as coisas antigas que
se fizeram novas.

A forma que eu vejo a realidade é totalmente diferente. Pensar teologicamente é entender


que terei de interpretar toda a realidade através da Palavra de Deus, do que Deus revelou
de si mesmo.

Temos que tomar cuidado com o medo do relativismo e do pós-modernismo. Isso pode
se tornar um tipo de dogmatismo. Quem de nós é suficiente para poder dizer que em um
nível último temos interpretações perfeitas da realidade? Só Deus que é perfeito e que vê o
mundo com os seus próprios olhos.

Existe uma verdade absoluta, a existência de um Deus que vê as coisas de forma absolu-
ta. Não somos Deus, por isso, discordamos teologicamente, porque todos temos perspec-
tivas, esforços de tateando em parte, nos aproximarmos da verdade de Deus.

O problema do relativismo é que ele não acredita que nenhum nível de verdade é obser-
vável. Você tem a sua verdade, eu tenho a verdade, verdade não existe...

Quando, na verdade, existe verdade, todos podemos nos aproximar dela em níveis dife-
rentes. No entanto, nenhum de nós alcança o nível perfeito. Por isso, a revelação é impor-
tante. A revelação consegue suplantar parte do nosso pecado e parte do nosso abandono
da mente de Deus. A revelação é Deus falando diretamente conosco. Conseguimos falhar
até na interpretação da revelação, mas a revelação nos tira de um tatear absoluto.

Esse ponto nos leva à humildade, porque percebemos que temos dificuldade na interpre-
tação, em ver a realidade. Precisamos da revelação e ao mesmo tempo, temos dificuldade
de interpretar a revelação.

A dificuldade de identificar e interpretar a revelação não significa que não podemos ter
acesso à revelação. Nós temos acesso ao núcleo do que Deus revelou de si mesmo.

O grande ponto aqui, é que a teologia me ajuda a ver a realidade com a interpretação
correta da realidade e não com a minha própria percepção falha da realidade.

A segunda coisa que a teologia te leva não é apenas em ver de uma nova forma, mas a
saber conectar tudo de uma nova forma.

Aqui está um ponto importante, ao passo que a teologia te ensina a ver tudo de uma nova
forma, a teologia também te ajuda a conectar as coisas de uma nova forma. O problema
nisso é que muitas pessoas até conhecem partes isoladas da realidade, enquanto teologia
vai ensinar a ligar qual é o papel da igreja e com a sua família, por exemplo. Te ajudando a
fazer uma conexão. Ao contrário de outras filosofias, você não teria essa conexão. Não é
apenas ver as coisas de uma forma nova, é também, aprender a conectar todas as coisas

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de uma nova forma.

Isso está relacionado a nossa imaginação, em temos uma nova imaginação para com a
vida. A palavra imaginação é muito importante, lidaremos com isso melhor em aulas futu-
ras.

Imaginar as realidades de Deus não é ter apenas proposições da cabeça, mas ter em
quadros, conseguir formar imagens, cenas daquilo que outrora seriam só ideias proposi-
cionais, fatos, verdades, axiomas, declarações, como um vade mecum. Ver teologicamente
não é simplesmente ter uma série de leis na cabeça como um estudante do direito lendo a
constituição, é ter uma série de quadros na parede.

Um dia vamos conseguir ver melhor, sentir emocionalmente e imaginativamente as ver-


dades que estamos tendo acesso.

Com a teologia, você tem um lavar dos quadros em sua mente, para que você veja não
só a realidade de uma forma diferente, mas aprenda a comentar toda a realidade de uma
forma diferente. Uma dica importante é que fazer teologia tem a ver com conectar realida-
des, conectar coisas. O pastor, por exemplo, está sempre conectando uma coisa à outra.
Ao ler sua Bíblia, está sempre tentando fazer conexões tanto para entender a Bíblia como
para aplicar a Bíblia.

Quando ao ler a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, costumamos fazer conexões de Moisés


em Paulo, de Paulo em Jesus. Estamos constantemente fazendo essas conexões.

Você precisa entender é que fazendo essas conexões não é como um mundo sem lei,
você precisa entender que Deus está interessado em te ensinar a fazer as conexões da
realidade de uma forma apropriada.

Não faça teologia tão compartimentalizada. Às vezes, as pessoas têm dificuldades de


entender escatologia, porque elas não entendem nada de pneumatologia ou da eclesiolo-
gia, não conseguindo perceber que ambas estão conectadas. Diversas vezes na teologia
nos banhamos de um único assunto e achamos aquele assunto tão complicado, tão com-
plexo.

Isso ocorre porque não temos outros assuntos que nos ajudariam a conectar as coisas.

Não é apenas ver a realidade, é aprender a conectar as coisas da realidade.

Isso envolve uma sensibilidade para conseguirmos fazer as perguntas certas para a Es-
critura. Queremos, simplesmente ao olhar para o texto, fazer perguntas para o texto que
não se propõe a responder. Num processo teológico mais maduro, muitas vezes, fazemos
perguntas ao texto que não foram sua intenção primária responder. Isso é legítimo, não é
errado, mas fazemos isso a maior parte do tempo. O processo teológico não treinado é um
processo de não conseguir entender qual é a pergunta que o texto está respondendo. Essa
deve ser a primeira aproximação temos que ter com o texto bíblico, fazer as perguntas

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certas.

Pressupor o que é que Paulo estava respondendo, ele disse aqui, ele está respondendo
isso ou aquilo. Um escopo de uma interpretação primária na passagem. Para entender a
resposta da passagem, preciso primeiro entender a pergunta da passagem e então, cami-
nhar para implicações maiores daquilo para outras áreas.

Diversas vezes, queremos tirar explicações pedagógicas, implicações políticas, econô-


micas, sociais e filosóficas de passagens que não são sobre isso. Existe um caminho para
que isso aconteça, mas é um caminho que você tem que trabalhar com muita paciência e
com muita sensibilidade para contexto bíblico. Não simplesmente nos tornar repetidores
de texto prova, onde selecionamos um amontoado de passagens.

Quando eu era recém-convertido, achava que o teólogo era quem tinha mais versículos
decorados e conseguisse recitá-los. Não é simplesmente juntar versículos à prova, mas
conseguir analisar esses textos, entendendo com sensibilidade qual o significado desses
textos, entendendo o que o autor inspirado quer me dizer e então, achar o sentido sensível
da Escritura.

Isso irá nos levar ao ponto principal de pensar teologia. Pensar teologia não é somente
ter respostas bíblicas, é ajustar as nossas perguntas acerca da existência. Os Evangelhos
me dão novas perguntas, não apenas respostas. Enquanto no mundo a pergunta é de onde
viemos, quem nos criou, para onde vamos, os Evangelhos me colocam em uma outra en-
cruzilhada. Quem é Jesus, de onde ele veio, para onde ele foi? São perguntas novas acerca
da existência e também perguntas que o texto bíblico está fazendo. Para interpretar isso
ou aquilo, precisamos saber qual é a questão que ele está respondendo. Isso vai te exigir
uma sensibilidade enorme, é por isso que quando fazemos teologia pública em várias es-
feras da sociedade, nós precisamos ser fiéis ao texto Bíblico e não só a um pensamento
geral acerca do cristianismo. Nós temos que ter cuidado, pois, muitas vezes, começamos
a fazer várias relações acerca da teologia pública usando Paulo, por exemplo. Devemos ter
cuidado com as implicações que fazemos, não fazendo teologia com o pensamento vago
acerca de teologia, precisamos ir para os autores bíblicos. Antigamente era um problema
muito sério, pois partíamos para a aplicação antes da explicação. Lia-se o texto, procurava
um significado qualquer, quando na verdade, é necessário entender o texto. Entender o que
está escrito para depois procurar o que aquilo significa para sua vida.

O problema mais atual é partir para a teologia pública, tentando fazer o texto dar respos-
tas às áreas do conhecimento quando não era o propósito primário. A Bíblia não está tran-
cada dentro de um cofre onde ela só fala aquela única coisa e não fala mais nada. O ponto
é que você não consegue ler um texto de Paulo para os coríntios no século primeiro, em
uma sociedade pré-capitalista, um jeito super específico, num tipo de Império específico e
tentar trazer aquilo para hoje de forma apressada como se o texto fosse escrito a cristãos
em uma democracia, por exemplo. Isso nos leva a uma extrema sensibilidade no que diz
respeito aos nossos pressupostos. Nós nunca vamos nos livrar dos nossos preconceitos
e dos nossos pressupostos, mas o que vamos conseguir, talvez seja transformá-los. Nós
nunca ficamos neutros e imparciais.

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É necessário sensibilidade literária a maneira que nos aproximamos do texto para poder
identificar as perguntas que o texto está procurando responder.

Precisamos ter uma consciência maior dos nossos pressupostos e da nossa estrutura
de pensamento, para não trazermos um ponto ao texto quando o autor não queria trazer.

Para explicar melhor, é a diferença entre a arquitetura e a cartografia. O arquiteto faz


uma planta baixa para poder construir. Às vezes, já chegamos com a nossa planta baixa
para ler algum livro chegando com os pressupostos, tentando provar algum ponto na teo-
logia, procurando construir prédios com sua planta baixa. Isso é errado.

Uma metáfora melhor é do cartógrafo, que antes de definir, investiga primeiro para de-
pois construir. Na planta baixa, já chegamos para construir, o cartógrafo examina primeiro
para fazer um mapa com base aquilo que ele viu. A sensibilidade aqui é entrar num texto
de forma investigativa, tentando entender se o seu pressuposto não está equivocado. Há
pessoas que torcem o texto, todos nós estamos sujeitos a isso, porque não é uma questão
de saber simplesmente, é uma questão de calibrar a própria sensibilidade para perceber
quando estamos torcendo o texto e sabermos quando estamos interpretando mal.

Ninguém faz isso conscientemente. Quem faz isso conscientemente, geralmente são
teólogos de fora do cristianismo e seguem perspectivas que caminham para isso. Normal-
mente, todos nós estamos sujeitos a uma má interpretação. Teólogos excelentes cometem
falhas de interpretação bíblica. Acabam indo contra o eu, acreditam hermeneuticamente.
No processo subjetivo da interpretação, jogam coisas no texto que, muitas vezes, nem
percebem que estão fazendo isso. Todos nós estamos constantemente nesse processo
de calibrar nossa sensibilidade e adequar a nossa imaginação para que possamos nos
proteger de nós mesmos.

Não apenas nos proteger dos hereges, mas se proteger de si mesmo. No seu esforço de
fazer Deus falar o que ele não disse, quando na verdade, precisamos que Deus nos trans-
forme por meio de sua Palavra. Isso só é possível quando estamos dia após dia, sujeitos
ao poder do Espírito Santo, nos ajudando constantemente a não cair em nossos pecados
interpretativos.

Tendo metodologias e meios de produção em pensamentos teológicos e sendo fiéis a


eles, para se proteger quando pensar em fugir deles.

Meu professor em hermenêutica dizia que não é difícil ter bons princípios hermenêuti-
cos, difícil é ser fiel a eles quando o resultado vai contra sua crença.

Isso nos leva a um outro ponto importantíssimo. Precisamos abraçar uma postura de
teólogos.

Um teólogo não é alguém que lê alguns pontos e livros. A postura de um teólogo é uma
vida que envolve oração, leitura da Palavra, cruz e sofrimento. Como dizia Lutero.
Muitas vezes, Deus vai nos dar provações para mudar a forma que a gente lê alguns

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textos bíblicos. Porque isso dá alegria para você. A Palavra do Senhor é luz, é a verdade, é
alegria.

Quando eu a tenho de forma de uma interpretação pura, ali eu vou ter esse acesso.

Muitas vezes, a provação vem para arrancar de nós uma maneira errada que insistimos
em ver. Para que, como Jó, possamos dizer que antes o conhecíamos só de ouvir falar.

Existe algo mais profundo em Deus de interpretação e conhecimento para que os teus
olhos vejam. Para isso, é necessária essa postura de teólogo.

Muitas vezes as pessoas inteligentes da teologia, não tinham postura de teólogos. Eram
pessoas insuportáveis, pessoas que queriam estar sempre em brigas, pessoas que que-
riam sempre humilhar as outras. Esses teólogos são perigosos para a igreja. Essas pes-
soas não estão fazendo teologia, estão usando a teologia. Apenas usar a teologia causa
dano. Não é conhecer como convém. Essa pessoa não consegue pensar em outras coisas
da vida, não consegue relacionar as coisas da vida. O grande ponto aqui é a necessidade
de abraçar a postura de um teólogo, diferentemente de apenas ser um “papagaio da teolo-
gia”. Isso vai exigir uma postura no dia a dia, não apenas um momento.

Respondendo à pergunta do aluno Vinícius Rodrigues, sobre como é possível nos co-
nectar a Deus lendo a Bíblia, a resposta é lendo a Bíblia com postura de teólogo. Com o
coração, estudando com cruz, com sofrimento. Com o coração derramado diante de Deus.
O aluno Artur Rodrigues perguntou sobre pessoas com menos informação técnica e tec-
nológica estarem aprendendo a pensar teologicamente. E como essas pessoas podem se
blindar contra os perigosos de gente mal-intencionada.

Mais do que pessoas que têm informação técnica e tecnológica ou decorando vários
versículos. Vários teólogos sistemáticos podem discutir sobre quem pensou o quê na his-
tória da igreja. Esse tipo de conhecimento por si só, não pode gerar nada do teu coração.
Pessoas mais simples, com menos informação técnica, são pessoas que podem ser trans-
formadas pela Palavra, tendo uma postura de teólogo muito mais profunda do que quem
conhece os livros, por exemplo.

Eu venho de um tempo em que havia muitos irmãos simples, gente que nunca leu uma
sistemática na vida, que mal sabiam o português, muito menos o grego ou hebraico, mas
que tinham postura de teólogo. Pensavam a partir da Palavra de Deus e confrontavam o
pecado, viviam em santidade. Não estavam imersos no mundo da academia para discutir
as grandes questões do materialismo histórico, das perspectivas trans humanistas, preo-
cupados com a utopia política. Estavam preocupados com realidades muito simples do pai
de família, do filho na droga, uma reforma na igreja, da administração do dinheiro da co-
munidade. Questões que eram muito palpáveis, mas que pensavam a partir da Palavra de
Deus. Não se contentavam com decisões que não fossem pautadas na própria fé, estavam
vivendo em humilhação e em oração o tempo inteiro. Muitas vezes falamos dessas pes-
soas como não entendendo pontos da teologia, quando nós podemos ser essas pessoas.
É um momento de olharmos no espelho e pensar se estamos querendo usar teologia para

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conquistar algo ou se queremos ter uma postura de homem de verdade, de alguém que
está sempre na sombra de Deus.

Quando estamos com essa postura diante da Palavra de pensar teologicamente, quando
entendemos que a teologia nos ajuda a ver as coisas de uma nova forma, conectando as
coisas de uma nova forma, fazendo as perguntas certas ao texto, tendo cuidado com os
nossos pressupostos, tendo uma postura de teólogo, isso nos ajuda a sermos teólogos
com clareza. Existem coisas na teologia que são muito complexas, porque estão envolvi-
das com a existência complexa. Quando falamos sobre novos céus e terra, o Espírito Santo,
por exemplo, são coisas complexas. Quando trazemos assuntos assim para podermos
entender, é natural que essas coisas tenham uma riqueza de conteúdo.

É diferente ter uma riqueza de conteúdo. Há teólogos completamente obscuros e teólo-


gos completamente confusos. No seminário, vi muitas pessoas que às vezes leram mais
de setenta livros, mas quando eu conversava com eles, parecia que não haviam extraído
nada do que leram. Quando nós abraçamos essas coisas, temos a clareza.

Uma dica para o seu coração: antes de falar algo para as pessoas, perceba se você con-
segue pensar aquilo com clareza, se aquilo não está claro para a sua vida. Obviamente
existirá pontos nebulosos e incompreendidos para você, entretanto, de forma geral o que
você deve procurar é ser um teólogo claro, e você só vai ter clareza para falar, se você es-
tudou de forma profunda o tópico. Às vezes, a confusão de ideias existe porque faltou pro-
fundidade, então tome cuidado com isso, busque ser um teólogo claro. A clareza vai exigir
tempo e profundidade para você. Antes de falar para os outros, se você ainda não foi ferido
pelo que você diz, talvez seja hora de usar aquela espada sobre si mesmo.

Fiz uma pesquisa rápida e vi que muitas vezes o estudioso é uma biblioteca organizada.
Ele não consegue ainda lidar com todas aquelas informações que ele recebeu.

Parte do que faremos aqui na Escola de Teologia do Instituto Schaeffer é conseguir for-
necer um caminho para que em todas as leituras que você faça, possam convergir num
núcleo, num sentido, onde essas coisas não sejam só informações pingadas, mas onde
possa se encontrar um fluxo de raciocínio que é rico da informação.

Lembro-me da última vez que eu contei livros para ler. Há pessoas que fazem listas e
funcionam dessa forma. Percebi que no mundo acadêmico de loucuras acadêmicas, a úni-
ca coisa que se pensa hoje é quantos livros eu li, quantos artigos eu li etc.

Essa não é nossa preocupação, mas acho que desde 2013, percebi que eu estava mais
preocupado em bater uma meta do que compreender um conteúdo de fato. Estava me dan-
do ansiedade, eu não estava funcionando. É por isso que, com relação a Bíblia, às vezes
tem pessoas que não conseguem ler toda a Bíblia, porque elas estão preocupadas com o
tempo. Você precisa ter algo que te atraia. Precisa ter metas, claro, não estou negando isso,
mas precisamos sondar muito o nosso coração para saber se as metas não se tornaram
ídolos.

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Muitas vezes, no estudo teológico, nossas metas são idolatradas. É por isso que desa-
nimamos no meio do caminho, pois paramos de buscar compreender. Para conhecer, pre-
cisamos procurar. Não é ler apenas para poder ter uma satisfação mental e dizer que leu.
Você precisa ter muito cuidado nisso, então veja como você funciona, se você funcionar
com listas, ótimo, mas procure sempre perguntar algo para você, ter clareza no que está
pensando, ter clareza no que está falando.

No processo de aprender e de passar para os outros, percebemos se realmente enten-


demos. Na nossa cabeça, tudo está perfeitamente funcionando, mas, quando sai, às vezes,
faz pouco sentido. Quando começamos a colocar para fora, começamos a testar, e então,
entender corretamente aquilo que está internalizado. Por isso, o processo de ensino é im-
portante. Pregar o Evangelho, servir as pessoas, ajudar na igreja, discipular, tudo isso, faz
você crescer em Deus. Isso é aprofundar no conhecimento do Senhor, não só naquilo que
você dá para os outros ou naquilo que você recebe no teu próprio processo de sistemati-
zação para aquilo que você acha que entendeu.

Um exercício meu desde muito tempo é que quanto mais complexo é o tópico, mas eu
escrevo, leio e tenho livros com o assunto. Eu sei que o lucro do livro é bem complexo e
também é muito importante. Escrevo mais o que eu estou lendo e está escrito, tento resu-
mir.

Os meus alunos presenciais, digo a eles para entregar um trabalho com duas páginas,
por exemplo. Peço para que resumam. Às vezes, eles ficam pensando que eu estou cor-
tando as pernas deles, e na verdade eu estou tentando fazer com que nessa parte da vida
deles, eles aprendam a sintetizar as coisas. Estão aprendendo que, às vezes, um resumo
faz toda a diferença para que se tenha clareza e não fique confuso quando você for passar
para as pessoas.

O último ponto aqui, antes de passarmos para o nosso outro tópico, diz respeito a qua-
tro coisas essenciais para que você pense teologicamente. A primeira, eu diria que seria o
sentido. Perguntar ao autor o sentido que ele quis mostrar no texto. Ao lermos Moisés, ten-
tarmos entender dentro do contexto que Moisés o que ele está ensinando acerca da teolo-
gia, não forçando o significado. Isso é ser bíblico, ter uma sensibilidade de entender o que
o autor bíblico está dizendo e não forçando outro autor interpretar um outro autor bíblico.
O processo de leitura bíblica onde eu vou olhar para o autor e deixar cada autor se defen-
der na explicação dos pontos, usando a sua linguagem, as suas ilustrações.

Falamos isso na aula passada, que Paulo usa linguagens diferentes em cartas diferentes.
Os autores, às vezes usam a mesma metáfora para falar de coisas diferentes. Você pre-
cisa olhar com cuidado o que ele está dizendo. Tem que existir esforço sistemático a partir
do momento em que eu entendo que cada autor quis colocar dentro do seu contexto espe-
cífico. O passo seguinte é conseguir relacionar os autores. Por exemplo, Tiago fala algo de
justificação, depois observo Paulo falando sobre justificação. Analisando os dois, têm um
resultado de Paulo, tem um resultado de Tiago, como essas coisas se relacionam?

Em um processo sistemático, eu não posso torcer Tiago para encaixar em Paulo. Existe

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uma linguagem muito comum que se popularizou na teologia de internet que é a de que
a Bíblia interpreta a si mesma. Então, se um versículo contradiz outro, se usa o versículo
mais claro para interpretar o mais difícil. O problema é quem é que define que um versículo
é mais claro do que o outro? Ninguém deveria ter autoridade para definir isso, quem define
isso é a Palavra de Deus em nos apresentar uma série de narrativas, uma série de pistas
que temos que interpretar dentro do seu contexto, e então, fazer o processo sistemático.

O terceiro ponto, é que você seja católico. Nossa teologia não nasceu hoje no século
21, então ser católico significa que interpretamos dentro de um histórico comunitário, a
igreja. Ela já interpreta a Palavra de Deus há muito tempo, então temos que ter muito cui-
dado. Muitos teólogos um pouco voltados para a teologia liberal, sempre criticam a igreja.
Criticam que o povo é legalista, mas quando vemos a interpretação deles, parece que eles
querem sempre inventar a “nova moda”. Eles não estão de acordo e em harmonia com o
histórico da igreja.

A igreja já interpreta a Bíblia há um tempo. Parece que estão sempre querendo inventar
algo novo.

O núcleo da nossa fé é estável, porque ele já tem um histórico de interpretação. Se não


entendermos isso, vamos desprezar os mestres passados. Há quem fale mal de Calvino
por exemplo, ou de Lutero. Há pessoas que se acham superiores a eles. Houve vários pro-
blemas interpretativos de Lutero e Calvino, mas, se pegarmos o núcleo da fé, é o núcleo
que permanece hoje. Existe um histórico eclesiástico litúrgico há um tempo de pensar a
teologia. Precisamos ter cuidado ao que chamamos de linha da ortodoxia. Não significa
que a heresia venceu, mas que a ortodoxia venceu.

O segundo ponto, é ser evangélico. No sentido de você não ver um adepto a seitas.

Não fazer uso do posicionamento escatológico por exemplo, para poder não ter comu-
nhão com o irmão que pensa de escatologia de forma diferente, mas que crê em Jesus
Cristo, que sustenta o núcleo da fé. Tenha cuidado para que quando você fizer teologia não
se tornar um orgulhoso por pertencer a determinada escola de pensamento.

Você vai estar mais prejudicando a igreja do que edificando a igreja.

G. K. Chesterton, famoso filósofo americano, no fim de sua vida, virou católico.

Ele escreveu sobre o fato de que muitos se sentem melhores por terem tido a sorte, por
assim dizer, de nascer depois. Seguindo esse raciocínio, pode-se pensar ser melhor que
Calvino, por exemplo, por ter nascido depois dele. Sendo assim, não precisando voltar na
história da igreja, não precisando consultar toda a história de leitura bíblica que existe.
Simplesmente, definir as coisas por agora. Isso é errôneo porque só existe um Carson, por-
que existiu um João Calvino. Só existe um Carson, porque existe um Agostinho. Há um pro-
gresso claro na teologia, e creio que a interpretação hoje de um teólogo do século XX e XXI
é melhor que ao longo do século XVI. Quando eu vejo as coisas hoje, vejo um progresso e
só há progresso porque é um passo depois do outro. Há um processo que temos que res-

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peitar aqueles que fizeram o que fizeram naquele tempo. Hoje, temos foguetes para voar e
ver a Terra. Antes, mal sabiam que existiam outros planetas e que a Terra é redonda. Hoje
existe a NASA porque houve um homem fazendo os fundamentos. Aquele homem sabia
menos, mas não podemos desprezá-lo, abandoná-lo, tratá-lo com alguém que não precisa
ser consultado mais. Estamos dispostos a construir um saber teológico que olha para a
história da igreja. Sejamos trinitários. Trinitários é perceber que existe uma complexidade
no pensar, ou seja, o Pai, o Filho e o Espírito Santo em um único Deus. Algo complexo e
simples ao mesmo tempo. Essa é uma forma de encarar a teologia. Pense que sempre um
texto vai te dar mais do que uma perspectiva e que isso é ser trinitário. Você vai entender
que existe uma unidade de pensamento dentro de uma complexidade de versículos. Uma
complexidade histórica, uma complexidade textual. Sendo trinitário, você estará pensando
sempre no Pai operando no Filho e se revelando no Espírito tornando essa revelação pes-
soal e possível a nós.

Seja uma pessoa que pensa de forma mais complexa, porque assim é o escopo da his-
tória bíblica. Trinitário, católico, bíblico e sistemático.

Essas foram recomendações introdutórias e fundamentais sobre pensar teologicamen-


te, sobre raciocinar a partir da teologia. Fazer teologia é um processo que, ao longo da his-
tória, passou por diversos métodos, por diversas escolas de pensamento. Desde o começo
da fé, dos debates da escola de Alexandria, onde os crentes interpretavam de forma mais
alegórica os textos bíblicos, entendiam que em cada passagem havia três escalas de inter-
pretação, da alma, do espírito, do corpo. Do corpo, para aquilo que era mais literal. Da alma,
aquilo que é um pouco mais espiritual. Aquilo que era do Espírito, era aquela interpretação
de que o Espírito era contrário à do corpo. Coisas que não tinham nenhum relacionamen-
to a até escolas mais modernas de interpretação teológica. Queremos passar para vocês
aqui, um pequeno panorama dessas escolas e desses caminhos de interpretação teológi-
ca, de se fazer teologia.

Quando pensamos sobre escolas, precisamos entender qual é o fundamento dessas es-
colas e qual é a ênfase do campo de estudo. O passo seguinte - eu suponho que você está
querendo entender um método teológico - você precisa se perguntar no que ela se funda-
menta e qual é o campo de estudos desse método.

O primeiro campo de estudo é o que nós chamamos de Método Teológico Proposicional.


Ele vem de uma escola pós-iluminista e é de um cristão, por sinal um grande comentarista,
Charles Roger. O fundamento para se fazer teologia para Roger, é a palavra de Deus, a Bí-
blia. O ato de fazer teologia é aprender sobre Deus, aprender doutrina.

Na primeira escola proposicional, o fundamento é a Palavra, a Bíblia. A teologia vai ser-


vir para te ensinar doutrina. Um ponto importante aqui é que uma das dificuldades dessa
escola é que Roger é criticado por não levar em conta que ele tem pressupostos. Ele é cri-
ticado por, ao fazer teologia, não pensar que ele também já está sendo influenciado. Não é
só tirar textos da Escritura. Há uma luta com os seus pressupostos, o grande ponto aqui,
surge aquela amontoado de texto prova para poder pegar algo e poder defender alguma
teologia.

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Não está se levando em conta que a Bíblia não está só informando teologicamente, ela
está causando impactos emocionais, impactos de ordem, impactos éticos e muitos outros.
Isso é o que nós chamamos de escola proposicional. Ela está no caminho certo, mas essa
escola falta algo para evitar esses erros de texto prova e achar que não tem pressuposto.

Nós como cristãos, muitas vezes, padecemos de um tipo de racionalismo que é um pro-
blema filosófico bem pós-iluminista. Onde achamos que a nossa razão é uma tábula rasa
que pode interpretar e receber os conceitos da realidade, sempre nenhuma barreira e tra-
zemos isso à leitura bíblica.

Roger entendia que fazer teologia era uma ciência, o que significa que sendo uma ciência
é algo objetivo e que a única necessária é ir ao texto, pegar um trecho e mostrá-lo como
prova. Roger deixou de considerar o contexto do mundo bíblico. Muitas vezes, ele pega
textos provas para poder defender algo da teologia sistemática sem considerar o contexto
daquele texto.

Quando eu penso na teologia como ciência, eu tenho um problema, porque que teologia
não é ciência. Não dá para ir a um laboratório e de uma forma objetiva, sem ajuda de ou-
tros, sem pressupostos obter respostas.

Será que um ateu pode olhar para a Bíblia e interpretá-la como um cristão interpretaria?
Não, pois ele tem um pressuposto diferente de um cristão.

Roger diria que pode ser interpretado de fato a realidade. Mas e os pressupostos dessa
pessoa? E os seus pressupostos?

Geralmente esse é o nosso primeiro contato com a Escritura. Temos a Palavra de Deus e
se cremos nas doutrinas, colecionamos doutrinas e apenas isso.

Essa perspectiva não é a mais errada, há verdade nisso. É uma escolha melhor do que
uma escola muito mais fundamentalista no sentido ruim da palavra.

Ainda assim, temos que transcender as escolas que se colocam sobre nós, porque esse
é o ponto aqui. Não é que eles estavam errados, porque estava faltando coisas.

Quando eu quero interpretar a Bíblia, fora do seu contexto, pegando textos provas, en-
tendendo tudo como ciência, tenho que ter cuidado ao fazer isso.

Qual é o propósito da teologia? Para Roger, era extrair doutrinas da Escritura. Para nós,
o propósito da teologia é bem mais amplo. É extrair texto das Escrituras, aplicar na nossa
vida, na igreja, nas realidades do mundo, como relacionamos isso, por exemplo, com uma
teologia pública? Roger não estava tão preocupado com isso, ele não estava querendo
responder coisas da modernidade. Perceba que não é tanto uma questão de estar errado,
é uma questão de estar talvez incompleto, enquanto propósito da teologia.

O extremo oposto seria o Método Liberal. A segunda forma de fazer teologia do famoso

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filósofo alemão Friedrich Schleiermacher escreveu uma perspectiva filosófica completa-


mente oposta à de Roger, onde o fundamento do fazer teológico era a experiência humana
e não o fundamento da Palavra de Deus, como uma fonte inesgotável de significado, mas
na fonte da experiência humana, do contato do homem com a realidade em sua busca pelo
divino. Nisso, o campo de estudo da teologia deixa de ser a revelação de Deus e passa a
ser simplesmente, algo antropológico e filosófico. Onde o esforço da teologia é entender
quem é o homem, como o homem se percebe, percebe-se as coisas psicologicamente,
como é que o homem encontra algum tipo de alento, conforto, bem-estar através da reve-
lação, mas simplesmente, ignora a possibilidade de proposições muito objetivos a partir
da Palavra de Deus. Se a partir da teologia mais fundamentalista, mais proposicional, a
Palavra de Deus é encontrada como um tipo de código canônico, como um tipo de livro de
direito, um vade mecum, um novo código civil a Constituição onde eu encontro verdade de
proposições etc. Por outro lado, o liberalismo teológico vai para o outro extremo e transfor-
ma a Escritura em algo a ser sentido mais do que algo a ser crido. Tendo um contato mais
psicológico e mais emocional com a Escritura. Há uma percepção antropológica que se dá
a partir desse contato com a humanidade com pitadas de teologia bíblica, naquilo que é
considerado uma verdade kerigmática, porque a Escritura não é errante, porque a Escritura
na Palavra de Deus só tem uma verdade, a de pregação de kerigma. Friedrich Schleierma-
cher vai falar nesse sentido, de que a Escritura só faz sentido quando ela vem se aplica ao
nosso coração apesar de seus erros e suas falhas. Justamente nisso, está o problema de
antologia dessacralizada, onde está muito mais centrado no homem, centrado nas percep-
ções que o homem tem da divindade, diminuindo e quase ignorando o poder da revelação.

Friedrich Schleiermacher propõe para a gente que o campo de estudo da teologia é a


experiência religiosa humana, e isso é inteiramente psicológico. Uma palavra-chave para
definir o liberalismo de Friedrich Schleiermacher você diria que é uma ideia de entender a
experiência religiosa humana, e ao entender, focar nessa experiência religiosa tentando
olhar o que a vida diria sobre essas experiências religiosas, e como a Bíblia pode ser usada
para falar dessas experiências. Em Friedrich Schleiermacher, tem uma origem pietista. Se
pegarmos ali uma linha liberal, onde a experiência humana é enfatizada, existe uma outra
linha liberal de Bauer, que vai enfatizar aquele ceticismo bíblico, não crendo em milagres.
São duas linhas liberais que se abrem na história. A ideia de Schleiermacher, que seria o
pai do liberalismo, tem a ideia de dizer que o nosso campo de estudo não é a revelação,
mas o nosso campo de estudo é a experiência religiosa psicológica humana. Com isso em
mente, vai estudar essa experiência humana. Em contrapartida, virá outro que vai dizer
que não tem como fazermos o nosso campo de estudo a Palavra de Deus, porque ela não
consegue abarcar o transcendente. Além disso, não podemos fazer nosso campo de es-
tudo à experiência humana, porque a experiência humana também não consegue abarcar
o transcendente. Nessa linha de pensamento, é necessário dar uma espécie de salto na
fé, para poder ter alguma experiência com o transcendente de forma que, nos leve a uma
crise, de forma que nos leve até alguma experiência com o transcendente. Chegamos aí,
em uma neo-ortodoxia. A neo-ortodoxia, propõe-se a ser um meio termo entre esses dois.

Karl Barth foi o maior nome daquilo que é chamado de neo-ortodoxia. Ele surge em
oposição ao liberalismo teológico, onde o liberalismo teológico via Deus como algo exage-
radamente Imanente. Onde Deus estava na psicologia humana, Deus era achado na expe-

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riência antropológica.

Karl Barth voltou a ideia de um Deus como totalmente outro, como alguém que é distinto
da natureza, mas que pode ser alcançado de alguma forma. O seu trato com a Escritura
foi um trato de tentar ressacralizar a Escritura, mas em um nível que ainda ia contra ideias
como a inerrância, como a perspicuidade e outras doutrinas importantes para nós, acerca
da Palavra de Deus, como por exemplo, ele define o que é a história salvífica. Você tem
dois tipos de contato com a realidade, tem história que é o fluxo natural dos fatos, você
tem a história salvífica que acontece em paralelo ao fluxo natural dos fatos. Isso veio de
ilustração para falar sobre a própria Escritura. A Escritura tinha a história e na sua história,
eram relativizadas. Mas em sua história salvífica, existia uma verdade kerigmática que se
levantava sobre tudo isso. Por exemplo, em seu livro Church Dogmatics, ele diz que a Bí-
blia em si própria não é revelação, mas apenas e esta é sua limitação, uma testemunha da
revelação. Ou seja, a Escritura já não é tratada com o nível de honra que era tratado numa
perspectiva mais tradicional.

Ele escreve também que não se pode atribuir a própria Bíblia capacidade de nos revelar
Deus de tal forma que pela sua presença, ela nos dê uma fé sincera na Palavra de Deus
contida nela.

A escritura não era mais essa revelação direta da pessoa de Deus. No volume um ele diz
que a Bíblia se torna Palavra de Deus na medida em que Deus a deixa ser sua Palavra, na
medida em que Deus fala através dela.

Se eu tenho no liberalismo teológico a tentativa de dessacralizar a Escritura, uma nega-


ção até mesmo dessa verdade kerigmática na Escritura, um esforço na busca pelo Jesus
histórico, na ideia de que existe um Jesus místico, um Jesus da fé, de fato uma negação
de que certos textos sejam originais. Temos aqui um Karl Barth que todo mundo tem uma
relação de amor e ódio com ele hoje, porque ele vem em oposição ao liberalismo, mas ele
não é o retorno a um amor pela Escritura num sentido tradicional como esperávamos que
fosse. O meio do caminho acaba pegando vantagens das duas posições, se uma perspec-
tiva preposicional e da perspectiva liberal, mas também de desvantagens de ambos.

Como consequência, você tem um nível de distrato com a Escritura ainda, mesmo que
haja um esforço de compreensão teológica. Alguns vão dizer que a neo-ortodoxia é só um
liberalismo moderado, mas hoje, no nosso contexto atual, qualquer cristão neo-ortodoxo
seria chamado de liberal. Hoje, na academia, liberais e ortodoxos são colocados em uma
mesma caixinha. No entanto, quando surgiu, a neo-ortodoxia surgiu como uma oposição
ao liberalismo. Os grandes inimigos da neo-ortodoxia não eram os fundamentalistas, mas
os liberais.

Enquanto um entende que estudar teologia é somente tirar fatos da Bíblia, outros en-
tendem que teologia é estudar a experiência religiosa humana fazendo com que a Bíblia
se adapte a essas experiências religiosas. Karl Barth tenta mostrar que o homem não é o
centro, mas também não coloca na Bíblia o centro. É uma experiência de crise que você vai
ter apesar da Bíblia e apesar de você. Mas, a partir de um tempo, surgiu o que chamamos

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de teologia pós-liberal ou teologia de Yale. A ideia é que, o novo campo de estudo da teo-
logia surge. Você o campo da Bíblia, o campo psicológico, mas agora, o campo de estudo
que vai ser proposto é a de sociologia onde as pessoas tem que estudar os valores socio-
lógicos de uma comunidade e perceber como a Bíblia tem que se adaptar a esses valores
sociológicos daquela comunidade.

Por exemplo, na questão do casamento gay, uma sociedade pode usar a Bíblia, segundo
essa perspectiva pós-liberal, para adaptar esses valores de acordo com essa vivência so-
ciológica daquela comunidade. Aquilo que era o campo da Bíblia, o que foi parte do campo
psicológico, passa a ser sociológico. O problema nisso é que as ênfases estão no lugar
errado.

A experiência humana importa, aspectos sociológicos importam, aspectos preposicio-


nais da Escritura são fundamentais, mas o problema é quando definimos teologia como
sendo estudar experiência humana e que a experiência humana que vai mostrar quem
é Deus. O problema está em achar que a sociedade de organização comunitária que vai
mostrar quem é Deus.

A quarta visão é a perspectiva pós-liberal de George Lind Becks, onde o fundamento está
na comunidade de fé. Essa linguística cultural e o estudo nessa antropologia da sociologia,
onde os valores vêm de toda prática.

Temos a visão preposicional, a visão liberal, no meio do caminho um esforço da neo-or-


todoxia, na visão liberal temos o desenvolvimento do que seria o liberalismo. Da teologia
preposicional, teve um desenvolvimento que seria o pós-conservadorismo, que seria uma
quinta visão.

Um grande homem que poderia se encaixar nesse assunto seria Roger Olson. Ele seria
para nós um dos grandes nomes do pós-conservadorismo. A ideia dele é voltar à Palavra
de Deus, mas não nos termos colocados por visões anteriores. Além disso, voltar a uma
sensibilidade cultural melhor.

O pós-conservadorismo hoje é considerado evangélico. Porque tem uma sensibilidade


bíblica, mas também tenta um diálogo com a cultura.

Observe como o método importa e dependendo de onde é fundamentado, pode parar


longe do correto. Se fundamentam apenas em pressuposições, se fundamentamos nossa
vida com Deus somente nos parâmetros de experiência religiosa, enfatizamos demais a
sociedade e a comunidade.

Temos teologias hoje, como a teologia da libertação, por exemplo, que tem ênfase so-
ciológica. Tendo essa ênfase sociológica como o pós-liberalismo teve, paramos longe do
propósito.

Dependendo de nossa ênfase, teremos problemas com a teologia.

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Além dessas visões, há duas escolas teológicas que se tornaram importantes nos am-
bientes de debates teológicos mais modernos, que hoje tentam tirar o que há de melhor
em todas as escolas, rejeitando o que há de pior em cada uma delas. São tentativas de
beber do que há de melhor em todas as fontes, rejeitando o que está incorreto em cada
uma delas.

Uma delas é a proposta linguística canônica de Kevin J. Vanhoozer, famoso escritor no


Brasil, com um de seus livros intitulado “O Drama da Doutrina”, onde Vanhoozer demonstra
sua perspectiva hermenêutica de interpretação bíblica. Não apenas nesse, mas também
em outros livros que desenvolvem sua linha interpretativa.

O fundamento da proposta linguística canônica de Vanhoozer é a Escritura, como um


drama narrativo. Isso significa que o campo de estudo seria o discipulado.

A doutrina então, não seria apenas uma verdade proposicional sem relacionamento com
a vida, o grande problema que existia na posição proposicional. Os relacionamentos ser-
viriam para mostrar o palco do mundo, para a glória de Deus. Nisso, temos uma teologia
que respeita as Escrituras com verdade proposicional, mas que nos coloca de volta para a
antropologia e psicologia, já que são verdades que nos colocam no palco da vida, e então,
lidando de uma forma mais completa. Existe um imaginário, existem quadros, existe um
drama, um encenar da fé que é procurado através da Escritura. Pois, a Escritura seria um
grande script como com verdades proposicionais. Uma grande descrição de uma peça,
onde nos encaixamos para viver e encenar a doutrina.

Se você abre a Escritura como um novo código civil, você estará lendo um amontoado de
leis e regras. Se abre as Escrituras como um livro de filosofia, terá ali várias ideias. Se abre
as Escrituras como roteiro de cena e se vê como o ator desse filme, você tem uma visão
completamente diferente.

A ideia do Vanhoozer de nos fazer olhar a Bíblia como a história de Deus, nos ajuda a ter
uma melhor sensibilidade aos conceitos bíblicos. Pois antes de buscar a doutrina, estare-
mos lendo a história.

Um exemplo disso é sobre guardar ou não o sábado. As pessoas procuram na Bíblia


textos prova para o sábado. Para Vanhoozer, teologia se faz primeiramente lendo a história
e depois como o sábado é apresentado no drama bíblico. O sábado inicialmente apresen-
tado com descanso de Deus, depois como descanso e Israel, mas depois disso, fica como
descanso de todos aqueles que estão em Cristo. Não mais do dia, mas apontando para o
descanso que Cristo oferecia na cruz. Isso é ler a Bíblia como história. Ler a Bíblia de forma
linguística para Vanhoozer é entender que é necessário obedecer a esses fatores históri-
cos, antes de produzir doutrina. Esse entender o drama da Escritura para produzir doutrina
não é apenas doutrina. Daí vem o ponto de produzir discipulado que vai envolver mais do
que aspectos cognitivos, vai exigir o que ele chama de atos de fala, tornando-se discípulos
performáticos, ou seja, entender, falar os pressupostos preposicionais e agir em resposta
a revelação e sofrer pelo Reino.

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O caminho é entender a história de Deus para poder aplicá-la à própria existência. Ao


aplicar na sua existência, não se é apenas um caixa de ideias, mas um discípulo.

Existe uma última posição que é a proposta da ortodoxia radical fundada pelo famoso
teólogo anglicano John Milbank. Hoje, um dos maiores proponentes dessa proposta é o
filósofo James K. A. Smith, também muito conhecido no Brasil por causa de seu livro “Você
é Aquilo Que Ama”.

Existe um artigo de 2015, escrito por John Milbank chamado “O que é Ortodoxia Radical”,
onde ele apresenta pelo menos sete pontos principais do que seria a ortodoxia radical. Ele
diz que é uma negação profunda do que é fé e razão. Então, você não tem simplesmente
uma desconexão do que é racional e do que é volitivo, fé e razão são unidos novamente
dentro da ortodoxia de forma que toda a criação pode ser entendida como participante do
ser de Deus. Percebe-se os vislumbres da natureza de Deus ainda que não compreenda
Deus em sua totalidade. Construções humanas, em segundo lugar – a cultura, a lingua-
gem, as relações comunitárias – participam do próprio ser de Deus.

Não são elementos meramente laterais e acidentais a verdade de Deus, mas que na
verdade, não são nem mesmo barreiras para o conhecimento de Deus, mas promovem o
próprio conhecimento de Deus. Em quarto lugar, funciona como um tipo de cooperação
entre Deus e o homem. Existe uma sinergia no processo teológico, onde Deus é o dono
da teologia e então, na liturgia, entramos em contato com a ação de Deus em nós. - Isso
lembra muito as próprias perspectivas sobre liturgias culturais do James K. A. Smith - Em
quinto lugar, há uma rejeição do liberalismo relativista, a ideia do niilismo pós-moderno,
onde não existe base nenhuma para a verdade e crescem na verdade de Deus ainda que
seja limitada. Em sexto lugar, a ortodoxia radical insiste na valorização de aspectos mais
humanos como o corpo, a sexualidade, as artes e os aspectos sensoriais. Sustentam que
isso os aproxima de Deus. Em sétimo lugar, a salvação é vista tanto cósmica, como pes-
soal e comunitária.

A salvação não é simplesmente uma libertação pessoal do pecado, mas é uma transfor-
mação de toda a existência em Deus.

Nisso, você tem uma perspectiva teológica que coloca as proposições dentro de um dra-
ma, dentro de uma existência comum, traz Deus de volta para a vida, a praxe pessoal e nos
devolve a uma perspectiva de volta a esse Deus. A perspectiva do Vanhoozer e a perspec-
tiva do John Milbank são um pouco diferentes em sua observação do mundo, gera alguns
efeitos diferentes no seu contato e na sua produção teológica, mas são duas perspectivas
que você pode perceber que são muito mais complexas e maduras do que perspectivas
anteriores que são geralmente muito populares e comuns, mas que não representam pro-
cessos, sentimentos. Imagens e sensibilidades de aproximação com o Texto Sagrado e
com a vida tanto quanto essas perspectivas mais atuais fornecem.

Talvez a ênfase de olhar a criação na posição da ortodoxia radical como litúrgica seja
uma falha dessa posição. O grande problema é que talvez desconsidere o fator “já e ainda
não”.

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Talvez desconsidere certos fatores da própria criação que geme e não está em seu per-
feito estado para servir de um meio litúrgico de criação. Experimentar Deus tendo em vista
o seu gemido. Me parece que olhar a criação como um meio de chegar a Deus e também
um meio de experimentar Deus, pode falhar nesse aspecto do “já e ainda não”, causando
alguns problemas de relação cultural. Talvez causando até alguns problemas sobre sexua-
lidade e outras coisas. Eles estão tentando evitar o liberalismo, evitar a neo-ortodoxia, mas
a ênfase no lugar errado pode causar sérios problemas. Esquecendo de ver a Bíblia como
drama de “já e ainda não”.

A nossa relação com a sociedade e com a criação, não podem ser tão litúrgicas assim,
tendo em vista que, Paulo fala sobre esse gemido da criação. A criação espera ser liberta,
então, não experimentamos a criação como nós vamos experimentar ela no Novo Céu e na
Nova Terra.

Vamos falar bem panoramicamente sobre o método tradicional e ortodoxo de pensar


teologia e sobre o alvo da teologia nesse método mais conservador.

O tradicional, você tem vivência, a Escritura é inspirada por Deus e seu propósito final é
tanto em nos ensinar sobre a história de Deus, a doutrina e a prática da nossa vida.

Ortodoxia, ortopraxia e ortopatia que vai mexer com nossas emoções.

Na preocupação do que a Bíblia nos ensina sobre um assunto. Olhando para a Bíblia
como sendo uma proposta de organização de si mesma e, a partir dela, organizarmos
topicamente os assuntos. Olhar pros exemplos bíblicos de pessoas que fizeram teologia
como Jesus, como Paulo e tantos outros que fizeram teologia na Escritura. Perceber como
eles mesmos fizeram teologia, entendendo que eles também estavam fazendo revelação,
para podermos aprender com os grandes teólogos do Novo Testamento a pensar teologia.
Tentar organizar a Bíblia como um tópico geral e fazermos perguntas sobre nossos tópi-
cos procurando essas respostas na própria Escritura. A ênfase aqui não é em manipular o
tópico para que a sociedade goste ou não ou pautado em uma experiência religiosa, mas
em buscar na Bíblia o efeito prático, emocional e cognitivo das nossas vidas e é ela que vai
moldar a maneira que vemos os tópicos.

O nosso alvo como teólogos numa linha mais conservadora é conhecer a Deus e conhe-
cer a forma correta de adorá-lo. Queremos fazer isso na construção do sistema doutriná-
rio. Ou seja, precisamos ter uma mente voltada à Escritura, uma mente que é alcançada
pela Palavra de Deus, de uma forma que nos afeta de modo completo e profundo. Nossa
aproximação com a Escritura é intelectual, não através de uma encenação física, através
de rituais, através do que sentimos, mas primeiramente, intelectual e pela veia intelectual
transforma meus afetos e emoções. A busca por um sistema doutrinário é a busca por
uma transformação completa, e não apenas uma série de ideias, mas uma série de trans-
formações que vêm a partir das Escrituras. Claro que isso não representa toda a experi-
ência de fé, mas a aproximação teológica é uma aproximação que pega a integralidade de
quem somos, mas que é uma compreensão de um sistema de doutrina.

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O sistema proposicional tinha uma certa verdade, mas isso não é tudo o que somos. Es-
tamos também procurando conhecer Deus e adorá-lo. Viver para glorificar o nome de Deus
nesse grande palco onde nós encenamos a doutrina para que Deus se agrade.

Devemos ter alguns cuidados. Fugir de texto prova e fazer sempre uma boa exegese.
Isso nos fará fugir de alguns reducionismos, tratando tudo como se fosse muito simples.
Praticamente nada, os aspectos da teologia são óbvios. Um outro cuidado a ser tomado
é ter cuidado para não criar um cânon dentro do cânon. A graça, por exemplo, permeia
muitos assuntos da Bíblia, mas se há um esquecimento sobre outros assuntos também
importantes, se cria um cânon dentro do cânon. Indo atrás unicamente de textos das quais
tem afinidade. Lembre-se de guardar todo o conselho de Deus. Cuidado para não ser uma
pessoa que estuda apenas tópicos específicos, mas que tome a Bíblia inteira em toda a
sua complexidade. Comece pelo drama de Deus, pela história de Deus, para que você mol-
de tanto a sua experiência como a comunidade a que você vai refletir sobre a história de
Deus. Isso nos ajuda a correr dos perigos da interpretação bíblica e de uma boa teologia.

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