Tradicionalmente, o conhecimento universais, leis e teorias que se referem não a
.Escola Nossa Senhora do Rosário científico é derivado de observações e
.Diretora: Conceição Lourenço
.Prof.: Wilton Sampaio
4º Bimestre de 2023. (2ª Etapa)
Filosofia Contemporânea
 A Filosofia da Ciência
A epistemologia do séc. XX é fruto de
um paradoxo. O mesmo progresso
extraordinário que gerou a impressão de que o
ser humano havia chegado às fronteiras do
conhecimento possível sobre o mundo gerou
também a dúvida quanto à sua possibilidade de
conhecer.
Para John Horgan, essa dúvida quanto à
capacidade cognitiva do ser humano é efeito
colateral da velocidade com que as descobertas
científicas se sucederam: “Quando uma teoria
sucede à outra tão rapidamente, como podemos
estar seguros de que são válidas?”
Alguns intelectuais da época atribuíam
esse mal-estar dos cientistas a um grupo de
filósofos que haviam atacado à Ciência dizendo
que esta não podia alcançar o conhecimento
objetivo, taxando-os de “os traidores da
verdade”, entre tais filósofos estavam Karl
Popper e Thomas Kuhn.
Popper e o Problema da Indução
Para Karl Popper (1902-1994), físico,
matemático e filósofo, o caráter distintivo da
ciência é o método. Pode-se mesmo dizer que a
sua obra tem como ponto central a explanação
acerca de qual é esse método, começando por
uma crítica ao procedimento de obtenção de
asserções gerais por meio da indução.
um aspecto situado no tempo e no espaço, mas
experiências realizadas a partir de dados da
realidade. A objetividade da ciência decorre da
observação de regularidades e da “descoberta”
de um princípio (uma lei) que explique as
repetições de fatos e permita prevê-los. Para
tanto, é preciso supor não apenas um universo
ordenado como também, por detrás de tal
ordem, um princípio universal, o princípio de
causalidade, que torna possível a associação
entre dois fatos aleatoriamente observados,
fazendo com que a ocorrência de um dependa
da do outro. Obviamente, a ciência não se
contenta em apenas enunciar tais leis. Sua
autoridade advém, sobretudo, da capacidade
de demonstrar os fatos por aquelas enunciados,
repetindo-os nas mesmas condições e obtendo
idênticos resultados.
Esse poder quase mágico da ciência de,
como queria Bacon, fazer, ainda que por meio
da tortura, que a natureza confessasse os seus
segredos, é levado a termo pelo uso de um
método, cuja descrição, ao longo dos tempos,
confundiu-se com a própria definição de
ciência: o método indutivo. É preciso, no
entanto, explicar o processo lógico que o
constitui, de maneira a compreender como, por
meio dele, o cientista parece adquirir o dom de
prever o futuro.
O cientista deve fazer uso dos sentidos
para registrar fielmente o que percebe, sem
preconceitos ou valorações subjetivas. Essas
proposições são chamadas singulares, uma vez
que têm o intuito de descrever algo que ocorreu
no mundo, em tempo e lugar definidos, e que
foi presenciado por um observador atento. Se
bem que parta dessas proposições singulares, o
conhecimento científico constitui-se por
afirmações de outro tipo, proposições
a todos os fenômenos, independentemente do
lugar ou do momento em que tenham ocorrido
ou venham a ocorrer. É nesse sentido que
diferem, respectivamente, afirmações como “O
cisne x é branco” e “Todos os cisnes são
brancos.”
Esse tipo de raciocínio, que parte de
proposições singulares para proposições
universais é o que se denomina de raciocínio
indutivo (ou inferência indutiva), e o processo
que a ele corresponde, chama-se indução.
Podemos exemplificar o que é denominado de
“princípio de indução” do seguinte modo: Se
um grande número de As foi observado sob
uma ampla variedade de condições, e se todos
esses As observados possuíam sem exceção a
propriedade B, então todos os As têm a
propriedade B.
Mas, se por um lado, o raciocínio
indutivo é utilizado pelos cientistas para a
formulação de teorias e leis, é por meio de
um outro tipo de raciocínio que eles
podem, retornando para os fenômenos,
prever e explicar a sua ocorrência. Este
outro tipo de raciocínio é o raciocínio
dedutivo, que funciona como mediador
entre a observação de um acontecimento
singular e a afirmação de que ele virá a se
repetir no futuro. Não fosse tal raciocínio
dedutivo, de modo algum se poderia haver
uma afirmação que antecedesse um dado
fenômeno. Por exemplo, a partir da
observação particular de que, a nível do
mar, a água ter fervido a 100ºC inferir o
enunciado geral de que a água sempre ferverá a
100ºC. Durante muito tempo, o raciocínio
dedutivo foi concebido como o raciocínio
lógico par excelência, representando o modo
específico de o pensamento se apropriar do
real. Sua fórmula, da qual o silogismo é a
representação mais acabada, consiste em inferir,
a partir de enunciados gerais (leis universais),
consequências específicas.
Ponto importante a ser ressaltado é o de
que uma lógica dedutiva não tem o poder de
firmar a verdade das asserções que utiliza como
premissas. A correção da conclusão obtida
dedutivamente é unicamente de caráter lógico,
vale dizer, de coerência interna entre as
premissas e a conclusão: se ambas as premissas
forem verdadeiras, a conclusão logicamente o
será; mas não há qualquer critério lógico que
possa garantir a verdade de tais premissas. A
ciência vai buscar essas garantias não na
dedução, mas na observação indutivista.
Assim, o cientista parte da observação e
descrição de fatos, a partir da qual elabora
teorias e leis de caráter geral e universal,
aplicando essas mesmas leis e teorias a novos
fenômenos, visando, por meio de um processo
dedutivo, explicá-los e prevê-los.
A questão a ser colocada consiste no
seguinte: se a ciência é feita a partir de
proposições singulares, o que supostamente lhe
garante objetividade e certeza, como é possível,
logicamente, passar destas a proposições de
caráter universal? Ou, noutros termos, como se
justifica a inferência indutiva?
A esse problema, de saber se a
inferência indutiva se justifica e em que
condições, o filósofo Karl Popper denomina “o
problema da indução”, indo buscar na obra do
filósofo empirista David Hume (1711-1776) o
questionamento acerca da indução como
argumento válido ou meio justificável de
raciocínio. Se o método indutivo não se
sustenta logicamente como critério de
validação objetiva ao discurso científico, em
sua forma como até então foi utilizado como
princípio de comprobabilidade e científica e consequentemente, do papel dos
confirmabilidade do enunciado científico; faz-
se necessário inverter seu critério de aplicação
aos enunciados científicos. Ou seja, se a
observação do maior número possível de cisnes
de cor branca não permite afirmar que todos os
cisnes são brancos, a existência de um único
cisne que não é branco tem o poder de falsificar
o enunciado geral que diz que “Todos os cisnes
são brancos”. É essa particularidade que dará
fundamento ao que se costuma chamar de
falsificacionismo ou falseacionismo, em
Popper, que utilizará o método indutivo não
como critério de confirmabilidade ou
comprobabilidade dos enunciados científicos,
mas sim como critério de falseabilidade ou
refutabilidade desses enunciados.
Com isso Karl Popper denuncia a
impossibilidade de o entendimento humano ter
acesso a uma verdade última e decisiva sobre o
mundo. Popper parecia ter consciência do efeito
aterrador que essas conclusões poderiam causar
nos cientistas acostumados com o método
indutivista nas ciências como critério de
confirmação de verdade aos enunciados
científicos, pois privou a ciência empírica
daquilo que constituía, aparentemente, sua
característica mais importante: a comprovação
da verdade última de seus enunciados.
Contudo, Karl Popper tratou de elaborar
uma resposta para a pergunta: “Ora, mas se a
verdade é impossível para a ciência, para que
ela serve?”
Popper salvou a ciência com uma
grande e brilhante explicação ad hoc (se a
ciência não pode atingir a verdade, basta mudar
o que se entende por ciência). O que interessa,
no entanto, é que, ao fazê-lo, a resposta já
implicava uma reconstrução da atividade
cientistas. Uma nova concepção de ciência: foi o
que Popper ousou conceber.
Assim, se na inferência indutiva a
verdade da premissa não garante a verdade da
conclusão, seu uso ao menos permite falsear
enunciados a partir da negação de uma de suas
observações.
O Circulo de Viena
Na história da epistemologia
contemporânea temos o Círculo de Viena,
formado em 1920 por cientistas de diversas
áreas de investigação, tais como Moritz
Schilick, Rudolf Carnap, Otto Neurath, entre
outros. Essa comunidade científica fundou e
desenvolveu o neopositivismo, também
chamado positivismo lógico ou empirismo
lógico, que propõe um claro e preciso critério
de demarcação entre a Ciência (que tem por
base juízos de fato demonstráveis pela
verificabilidade) e a Metafísica.
Para os cientistas do Círculo de Viena, o
método exigido na produção do conhecimento
científico devia ser necessariamente o método
indutivo. Apenas os enunciados passíveis de
verificação empírica, isto é, que podiam ser
submetidos ao critério da verificabilidade ou
confirmabilidade teriam objetividade científica.
A Refutação de Popper ao
Círculo de Viena
 Popper criticou profundamente o
critério da verificabilidade ou
confirmabilidade) proposto pelo Círculo de
Viena. Ou seja, recusou aceitar a Lógica
Indutiva do princípio de verificabilidade do
positivismo lógico por ela não proporcionar
adequado critério de demarcação entre
conhecimento científico e não-científico. Por
isso, no lugar do critério da verificabilidade,
propôs o critério da falseabilidade ou
refutabilidade como mais ideal para demarcar o
saber científico do não-científico.
A preocupação epistemológica essencial
de Popper diz respeito à elucidação do “valor
das teorias científicas, ou seja, ao grau de
confiança que podemos depositar nelas, em
função dos dados empíricos que podemos
dispor. Neste nível, ele deu uma contribuição
decisiva para a solução de dois problemas
fundamentais:
 1º Problema: o problema é o da demarcação
entre ciência e metafísica.
 2º Problema: o problema da indução e de seu
valor para a ciência.
Popper teve que combater os dois
dogmas fundamentais das teorias do
conhecimento e das epistemologias empiristas
tradicionais.
Ciência, Metafísica e Indução
A primeira característica do critério da
falseabilidade que se deve compreender é a
distinção popperiana entre ciência e metafísica.
Tal como o positivismo lógico, o o critério de objetividade do saber metafísico.
falseacionismo procura demarcar os limites da
ciência e da metafísica. A preocupação inicial
do falseacionismo é, portanto, o da demarcação
entre ciência e não-ciência, entre o testável e o
não testável. Ora, entre o que é testável se
enquadram as ciências naturais (ou empíricas)
e, entre o que não é testável, e aqui a surpresa,
se encaixam a matemática, a lógica e a
metafísica, que produzem juízos puros.
Matemática, lógica e metafísica estão, pois, no
mesmo nível epistemológico, produzem um
tipo de conhecimento que não pode ser testado
empiricamente.
A Crítica do Círculo de Viena à Metafísica
O positivismo lógico rejeitava o
conhecimento metafísico pelo fato de seus
anunciados não poderem ser verificados
empiricamente, mas se esquecia que a
matemática e a lógica se constituem igualmente
de enunciados que não podem ser verificados
empiricamente. Karl Popper não cai no erro do
positivismo lógico. Ele reconhece a distinção
epistemológica dimensional existente entre as
ciências naturais e as ciências puras, sem negar
objetividade a nenhuma delas. Apenas delimita
o âmbito da realidade observável como próprio
das ciências naturais, e propõe a elas o critério
da falseabilidade como princípio crítico de
fundamentação mais ideal ao discurso
científico.
Popper mostra que tanto o critério da
verificabilidade ou confirmabilidade indutiva
quanto o conceito de «significado» ou «sentido»
não são apropriados para realizar a demarcação
entre ciência e metafísica. Primeiro, porque o
fato da metafísica se constituir de enunciados
de juízos puros, portanto não passíveis de
verificação empírica, não anula ou desqualifica
Do contrário anularia ou desqualificaria
igualmente o da matemática e o da lógica, que
são ciências constituídas também de juízos
puros, não passíveis de verificação empírica.
A negação da metafísica pelo critério do
conceito de “sentido” ou “significado” objetivo
é outro critério positivista inválido como
refutação da metafísica, uma vez que a metafísica
nã o se revela como carente de sentido ló gico, por
mais que nã o seja um saber científico de
conteú do empírico.
Popper faz valer a observaçã o do pró prio
empirista David Hume para derrubar o pretenso
fundamento do positivismo ló gico, ao afirmar que
nenhuma teoria científica pode ser verificada
empiricamente. Isso porque, do ponto de vista
ló gico, é impossível induzir leis universais a
partir da observação de fenômenos
particulares. Como podemos inferir de forma
vá lida um enunciado universal a partir de
enunciados existenciais particulares (por
muitos que sejam)? Em que podemos nos basear
para tirar, de vá rios casos particulares
observados, conclusõ es relativas aos casos nã o
observados. A esta questã o, Popper responde
dizendo que, por maior que seja o nú mero de
enunciados observacionais verificados, nã o
temos o direito de concluir pela existência da
verdade de uma teoria universal, devido ao seu
cará ter infinito. Por exemplo, a proposiçã o
universal “todos os cisnes são brancos” nã o é
verificá vel. Resumindo, Karl Popper mostrou que
nã o existe processo algum de induçã o pelo qual
possam ser confirmadas as teorias científicas.
A metodologia indutivista dos
positivistas supunha que fosse possível passar
de uma série de enunciados singulares para um
enunciado universal. Ou seja, supunha que
fosse possível passar de observações empíricas
como: "este é um cisne branco", "ali está outro
cisne branco", e por aí em diante, para um
enunciado universal como: "todos os cisnes são
brancos". Este método é claramente inválido em
lógica, uma vez que será sempre possível que
exista um cisne não-branco que por algum
motivo não tenha sido observado.
Este era exatamente o problema da
indução identificado por David Hume no
século XVIII e cuja resolução é proposta por
Popper. Por reconhecer que a produção do
conhecimento científico não pode se
fundamentar em inferências indutivas propôs o
critério da falseabilidade como a solução do
problema da indução. Popper viu que embora
um enunciado existencial singular - como "este
cisne é branco" - não possa ser usado para
inferir um enunciado universal, ele pode porém
ser usado para mostrar que um determinado
enunciado universal é falso: a observação
existencial singular de um cisne negro é
suficiente para mostrar que o enunciado
universal "todos os cisnes são brancos" é falso.
Essas considerações sugerem que deve ser
tomado como critério de demarcação, não a
verificabilidade, mas a falseabilidade de um
sistema.
Assim sendo, o critério da falseabilidade
revela-se mais ideal para fundamentar a
objetividade do conhecimento científico. Pois,
de acordo com critério da falseabilidade, uma
teoria mantém-se como verdadeira até que seja
refutada (negada), isto é, até que se mostre sua
falsidade, sua insustentabilidade. A teoria se
sustentará enquanto resistir a todos os testes
possíveis de falsificação.
Por estas razões é que Popper não
concorda com a tese empirista de que a mente é
uma “tábula rasa” que depende previamente
dos sentidos. Para ele, não existe observação
pura, pois todas as observações são sempre
realizadas à luz de pressupostos e de teorias Referências Bibliográficas
que o cientista traz consigo, sendo confirmadas
(provisoriamente) ou não pela observação. COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia:
Nunca houve uma teoria tão bem estabelecida história e grandes temas. São Paulo. Ed.
ou confirmada quanto a de Newton. No Saraiva, 2002.
entanto, a teoria de Einstein veio mostrar que a
teoria newtoniana não passa de uma hipótese ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e
ou conjectura. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Segundo Popper, o que não é falseável introdução à filosofia. São Paulo. Ed. Moderna,
ou refutável não pode ser considerado 1998.
científico. As teorias da gravitação universal de
sir Isaac Newton são científicas, por que além CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo. Ed.
de se enquadrarem na definição ao propor Ática, 2003.
equações simples que descrevem os modelos
cósmicos gravitacionais, também é possível se REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História
fazer previsões acertadas com base nelas. E as da Filosofia. São Paulo. Ed. Paulus, 1997.
teorias de Newton também são falseáveis.
Tanto que o foram, quando Albert Einstein com
sua Teoria da Relatividade demonstrou que a
mecânica newtoniana não era válida em
velocidades próximas à da luz. Mesmo assim,
as teorias de Newton continuam válidas para a
maioria das aplicações cotidianas, quando a
influência da velocidade pode ser considerada
desprezível para as aplicações práticas. A
ciência mais uma vez mostrava seu poder de se
renovar e melhorar a partir de suas próprias
definições.
Assim, é a possibilidade de falsificar
uma hipótese científica que permite a correção e
o desenvolvimento das teorias científicas, e em
última análise o progresso da ciência, embora
nenhuma teoria possa jamais ser fundamentada
de forma conclusiva. O conhecimento é
portanto essencialmente conjectural, sendo
impossível a certeza definitiva