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Resumo da matéria Tema: É possível conhecer?

Turma: 11 B Professor: Edgar Cavaco

1. O que é a epistemologia?

A palavra epistemologia tem a sua raiz em dois termos gregos: epistemé, que significa
“conhecimento”, e logos, que significa “estudo” ou “teoria”. Como tal, a epistemologia dedica-se
ao estudo do problema da natureza, da origem e da possibilidade do conhecimento, sendo por
isso uma das disciplinas centrais da filosofia. A epistemologia coloca questões como as seguintes,
procurando dar-lhes resposta:
Qual é a essência ou natureza do conhecimento? (O que é o conhecimento? Em que
consiste?).
Qual é a origem do conhecimento? (Donde provém o conhecimento? Onde se encontra
fundado/fundamentado? Qual é a sua fonte de jus ficação?).
Qual é a possibilidade do conhecimento? (Será o conhecimento possível? Poderemos
realmente conhecer alguma coisa?).

2. Em que consiste a definição tradicional ou tripar da de conhecimento?

Dá-se o nome de definição tradicional de conhecimento à definição de conhecimento


proposta pela primeira vez há quase 2500 anos, por Platão, num trecho de um diálogo in tulado
Teeteto (ver p. 27 do manual):
“O saber [ou conhecimento] é opinião [ou crença] verdadeira acompanhada de
explicação [ou jus ficação]”.
Esta definição também é conhecida como definição tripar da do conhecimento, porque
considera que o conhecimento depende de três condições:
1) crença; 2) verdade; e 3) jus ficação.
Isolada ou separadamente, cada uma destas condições não é suficiente para que haja
conhecimento. De facto, segundo Platão, quando dizemos que conhecemos algo, é necessário
que estejamos perante as três condições conjuntamente. Se for esse o caso, então as três
condições (tomadas no seu conjunto) são também condições suficientes para que haja
conhecimento.

3. Que crí ca podemos apresentar à definição tradicional de conhecimento?

Existem muitos contraexemplos que mostram que, apesar de uma determinada crença
poder ser verdadeira e poder estar bem jus ficada, a jus ficação que o sujeito tem para essa
crença pode não se basear nos aspetos relevantes da realidade que tornam a sua crença
verdadeira. Recordem-se dos contraexemplos do relógio parado (ver p. 33 do manual), da fake
news sobre o Cris ano Ronaldo e a Coca-Cola (ver p. 37 do manual) ou das diversas no cias que
vos mostrei sobre o eclipse solar que supostamente iria ser visível em Portugal em outubro do

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ano passado. Todos estes contraexemplos mostram que as três condições que Platão julgava
serem necessárias e suficientes (conjuntamente) para que haja conhecimento, afinal não são
condições suficientes conjuntamente (apesar de serem necessárias).

4. Qual é a origem do conhecimento?

Há mais de 2000 anos que diferentes filósofos se têm debruçado sobre o problema da
origem do conhecimento, procurando perceber donde provém o conhecimento e qual é a sua
fonte de jus ficação. Platão, por exemplo, acreditava na reencarnação das almas e por isso
julgava que já nascemos com conhecimento, pelo que apenas precisamos de ajuda para
relembrá-lo e recordá-lo. O seu discípulo Aristóteles, pelo contrário, julgava que nascemos com
a mente em branco, pelo que acreditava que todo o nosso conhecimento tem origem na
experiência adquirida após o nascimento. Estas duas perspe vas antagónicas foram,
respe vamente, a base daquilo que, posteriormente, viria a ser chamado de racionalismo e
empirismo.

5. O que é o fundacionalismo?

Por fundacionalismo entende-se a perspe va segundo a qual o conhecimento está


alicerçado ou fundado em fundamentos certos, seguros e indubitáveis – ou seja, as crenças
básicas, isto é, as crenças que se jus ficam por si mesmas e que, por sua vez, vão cons tuir a base
das crenças não básicas, isto é, as crenças que são jus ficadas por outras crenças. Tanto o
racionalismo como o empirismo se enquadram naquilo a que se pode chamar de fundacionalismo.

6. Qual é a diferença entre racionalismo e empirismo?

Enquanto o racionalismo defende que a origem ou fundamento do conhecimento é a


razão, o empirismo (do grego empiria, ou seja, “experiência”) sustenta que a origem ou
fundamento do conhecimento é a experiência. O racionalismo defende que as crenças básicas
provêm da razão e que há crenças sobre o mundo que podem ser jus ficadas a priori, ao passo
que o empirismo sustenta que as crenças básicas provêm da experiência e que as crenças sobre
o mundo só podem ser jus ficadas a posteriori.

7. Qual é a diferença entre o conhecimento a priori e o conhecimento a posteriori?

O conhecimento a priori é um po de conhecimento que se obtém através da capacidade


de pensar ou de raciocinar, sem ser necessário recorrer à experiência ou aos dados dos sen dos
(exemplo: todos os triângulos têm 3 ângulos; todos os solteiros não são casados). O
conhecimento a posteriori, pelo contrário, é um po de conhecimento que se obtém recorrendo
aos dados que obtemos a par r dos sen dos e da experiência (exemplo: este triângulo é azul e

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aquele é vermelho; o Aníbal e o Asdrúbal são solteiros, enquanto o Leal e o Pascoal são casados).
As verdades matemá cas ou da geometria são bons exemplos de conhecimentos a priori,
enquanto os juízos con ngentes (ou seja, juízos que dependem das circunstâncias concretas) são
bons exemplos de conhecimentos a posteriori.

8. Em que consiste o problema da possibilidade do conhecimento?

Este problema pode ser apresentado sob a forma de diversas questões, como por exemplo
as seguintes: Será o conhecimento possível? Poderemos realmente conhecer alguma coisa?
Tanto o racionalismo como o empirismo apresentam uma resposta afirma va para este
problema, pois ambas perspe vas consideram que existem fundamentos sólidos para alicerçar
o conhecimento, e daí que se enquadrem no chamado fundacionalismo.
Não obstante, existe uma terceira perspe va que apresenta uma resposta diferente a este
problema: o ce cismo.

9. Qual é a resposta cé ca ao problema da possibilidade do conhecimento?

Os cé cos não rejeitam a definição tradicional do conhecimento. Antes defendem que


uma das suas condições necessárias, a jus ficação, nunca pode ser completamente sa sfeita.
Por outras palavras, os cé cos não negam a possibilidade de termos crenças verdadeiras.
O que negam é que haja crenças que, mesmo sendo verdadeiras, estejam apropriadamente
jus ficadas. Assim sendo, para os cé cos, tanto a razão quanto a experiência não podem ser
consideradas fontes de jus ficação sa sfatórias para o conhecimento.
O filósofo Sexto Empírico (c. 160 d.C. – 210 d.C.) sinte zou alguns dos principais
argumentos cé cos para duvidarmos das nossas crenças:

1. Argumento da divergência de opiniões: se fosse possível jus ficar as nossas crenças,


não haveria lugar para divergências de opiniões. Contudo, é evidente que há
divergência de opiniões, incluindo entre peritos de uma determinada área do saber.
Como tal, as nossas opiniões não podem ser uma base segura para jus ficar as nossas
crenças.
2. Argumento da ilusão: sendo óbvio que, por vezes, os nossos sen dos nos enganam,
nunca podemos ter a certeza de que não nos estarão a enganar sempre. Assim sendo,
os nossos sen dos não podem ser uma base segura para jus ficar as nossas crenças.
3. Argumento da regressão infinita da jus ficação: se o único modo que temos para
jus ficar as nossas crenças é recorrendo a outras crenças que também temos de
jus ficar, então caímos numa regressão infinita da jus ficação. Logo, se este processo
jus ficatório não tem fim, então não podemos ter uma base completamente segura
para o conhecimento, pois nenhuma crença será autojus ficada.

Com base nestes três argumentos, os cé cos defendem que nenhuma crença está
devidamente jus ficada, pelo que recomendam a suspensão do juízo (epoché, em grego) acerca da
possibilidade do conhecimento.
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