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Problemas relacionados ao

conhecimento

FILOSOFIA I
Material organizado pela Prof.ª Daiane C. Faust
1) O que é conhecimento?

2) Podemos conhecer algo?

3) Qual a origem do
conhecimento?
O que é conhecimento?

❖ Muitos filósofos defendem que todo o


conhecimento envolve uma crença. Por
outras palavras, quando sabemos algo,
acreditamos nesse algo.
❖ “Crença” não quer dizer unicamente a fé
religiosa, mas sim qualquer tipo de
convicção que uma pessoa possa ter.
Exemplo

Podemos acreditar que Aristóteles foi um


filósofo, ou que a Terra é maior do que a
Lua. E acreditar que Aristóteles foi um
filósofo é ter a crença de que Aristóteles foi
um filósofo. Da mesma forma, acreditar que
a Terra é maior do que a Lua é ter a crença
de que a Terra é maior do que a Lua.
1ª Condição

⚫ A crença é uma condição


necessária para o
conhecimento.
Dúvida

Mas basta acreditar para saber?


A crença é suficiente para o
conhecimento?
Sobre verdade e falsidade...

❖ O conhecimento é factivo, ou seja, tem


relação com o que é factível, algo que é
possível de acontecer, que pode ser
considerado verdade.
❖ Não se pode conhecer falsidades, o que
não é o mesmo que dizer que não se
pode saber que algo é falso.
Exemplo

❖ 1) A Mariana sabe que é falso que o céu é


verde;
❖ 2) A Mariana sabe que o céu é verde.
❖ 1 e 2 são muito diferentes. O exemplo 1 não
viola a factividade do conhecimento. Mas o
exemplo 2 sim: a Mariana não pode saber
que o céu é verde, pois o céu não é verde.
2ª Condição

⚫ A verdade é também uma


condição necessária para o
conhecimento.
Dúvida

Para haver conhecimento, aquilo em que


acreditamos tem de ser verdade, mas
podemos acreditar em coisas verdadeiras sem
saber realmente que são verdadeiras.
Portanto, nem todas as crenças verdadeiras
são conhecimento. Por outras palavras: a
crença verdadeira não é suficiente para
o conhecimento. O que falta então?
3ª Condição

⚫ A crença verdadeira tem de estar


também justificada e essa é a
terceira condição necessária.
3ª Condição

O que quer dizer isso?


Ter justificação para acreditar em
algo é ter boas razões a favor da
verdade dessa crença.
Exemplo

Alguém que acredite que o planeta Marte é


vermelho porque sonhou com isso, não tem
justificação para acreditar em tal coisa.
Contudo, se essa pessoa acredita que Marte é
vermelho porque leu um livro sobre Marte, e
não tem razões para duvidar da credibilidade
do livro, então tem justificação para acreditar
que o planeta é vermelho.
Há, portanto, três condições necessárias
para que uma proposição seja conhecida:

⚫ Temos de acreditar nela;


⚫ Ela tem de ser verdadeira;
⚫ Ela tem de estar justificada.
Definição

Assim, ter conhecimento é


ter uma crença verdadeira
justificada.
Definição

Se alguém tiver uma crença, se essa


crença for verdadeira e se, além disso,
houver boas razões a favor da verdade
dessa crença, parece impossível que essa
pessoa não tenha conhecimento.
Exemplo

Se o João acreditar que vai passar de


ano, se tiver boas razões para acreditar
que vai passar de ano e for verdade que
ele vai passar de ano, então é porque o
João sabe que vai passar de ano.
Será possível conhecer algo?

Parece óbvio que todos nós sabemos


alguma coisa. Parece que sabemos, por
exemplo, que a Terra não é plana ou que
o calor aquece os corpos. Poderá alguém
duvidar seriamente disto?
Os céticos

❖ De acordo com os filósofos que defendem o


ceticismo (os céticos), é isso mesmo que está em
causa: não podemos afirmar sem erro que sabemos
seja o que for.
❖ Os céticos põem em causa, assim, a ideia de que
podemos conhecer muitas coisas, apresentando
argumentos no sentido de mostrar que não
sabemos realmente o que julgamos saber e que
aquilo a que chamamos conhecimento pode não
passar de mera ilusão.
Tipos de ceticismo

❖ Alguns filósofos consideram que o


conhecimento acerca de questões morais
não é possível;
❖ Outros que não é possível saber se existem
outras mentes além da nossa;
❖ Outros que não é possível saber se Deus
existe ou não, etc.
Ceticismo pirrônico

❖ O ceticismo que iremos estudar é uma


forma mais geral e radical de ceticismo,
pois sustenta que o conhecimento, seja
acerca do que for, não é possível.
❖ Chama-se ceticismo pirrônico a esta
posição, dado ter sido pela primeira vez
defendida pelo filósofo grego Pirro de Élis
(c. 365-275 a. C.).
Ceticismo pirrônico

❖ Os céticos têm argumentado que, por mais


fortes que sejam as nossas crenças e por
melhores que nos pareçam as suas
justificações, estas serão sempre falíveis ou
insuficientes.
❖ Um cético não nega que temos crenças e até
está disposto a aceitar que algumas possam
ser verdadeiras.
Ceticismo pirrônico

❖ O que ele coloca em causa é que as nossas


crenças, ainda que verdadeiras, possam
alguma vez estar justificadas.
❖ Sendo assim, há uma condição necessária
para o conhecimento – a justificação – que
nunca chega a ser satisfeita, mesmo que as
outras o estejam.
Mas quais são as razões dos céticos para afirmar que
as nossas crenças não estão justificadas?

O filósofo Sexto Empírico apresenta tipos de


razões ou argumentos que nos conduzem
inevitavelmente à dúvida – que designa como
modos conducentes à suspensão do juízo.
Três tipos principais de argumentos:

⚫ As divergências de opinião;
⚫ As ilusões e erros perceptivos;
⚫ A regressão infinita da justificação.
As divergências de opinião:

❖ Seja qual for o assunto, há sempre divergência


irreconciliável de opiniões, mesmo entre os
entendidos nesse assunto.
❖ Se há divergência irreconciliável de opiniões,
mesmo entre os entendidos nesse assunto,
então nenhuma delas está suficientemente
justificada.
❖ Logo, nenhuma opinião (ou crença) está
justificada.
As ilusões e erros perceptivos:

❖ A justificação que temos para uma boa parte das nossas


crenças baseia-se na nossa percepção, que é o modo
como tomamos consciência dos objetos através dos
nossos sentidos. Acontece que em diferentes momentos
percebemos os mesmos objetos de maneiras diferentes.
A percepção dos objetos é relativa ao ponto de vista do
observador.
❖ Outras vezes somos simplesmente enganados pelos
nossos sentidos. Muitas das coisas que vemos, ouvimos,
etc., não passam, pois, de meras ilusões perceptivas, ou
seja, falsas imagens criadas pelos nossos sentidos.
❖ Portanto, é sempre possível que as crenças baseadas na
percepção sejam falsas, não podendo nós saber se as
coisas são realmente como as percebemos.
A regressão infinita da justificação:

❖ O único modo de tentar justificar as nossas crenças é


recorrer a outras crenças. Justificamos, por exemplo, a
nossa crença de que podemos morrer se dermos um
mergulho após o almoço, inferindo-a de outras crenças,
nomeadamente da crença de que os choques de
temperatura enquanto se faz a digestão são
frequentemente fatais.
❖ Se a justificação das nossas crenças é inferida sempre a
partir de outras crenças, então nunca nos podemos dar
por satisfeitos; as justificações que damos precisam elas
mesmas de ser justificadas e, assim, o processo de
justificação continua infinitamente.
E agora?

Será que os céticos têm mesmo razão


e o conhecimento não é possível?
Racionalismo

Descartes procura mostrar que o conhecimento é


possível e que, portanto, os céticos estão enganados.
Procura, além disso, mostrar como chegamos a saber
algo. Ele leva os argumentos céticos muito a sério e
submete todas as nossas crenças à dúvida. O objetivo é
ver se encontra alguma crença de que não seja possível
duvidar e que sirva de fundamento a todas outras. Ao
final, Descartes chega ao famoso cogito: “penso, logo
existo”.
Empirismo

Ao contrário dele, Hume argumenta que o ceticismo não


pode ser totalmente refutado e que, portanto, as nossas
pretensões ao conhecimento devem ser bastante mais
modestas.
Hume defende que a dúvida radical e universal não
permite reconstruir o edifício do conhecimento depois de o
destruirmos. Isto porque, uma vez adotada a dúvida, nunca
mais nos conseguimos ver livres dela.
Se duvidarmos das nossas próprias capacidades racionais,
como exige a dúvida cartesiana, deixamos de poder
recorrer a elas para deduzir seja o que for a partir do
cogito.
Empirismo

Além disso, Hume considera que uma dúvida radical,


como a que recomenda Descartes e a que o ceticismo
pirrônico defende, é impraticável: não podemos
simplesmente viver como se tudo fosse duvidoso, pois
a nossa natureza exige que acreditemos em certas
coisas que são importantes para a nossa vida.
Ainda que alguns desses argumentos possam ser muito
bons, a reflexão filosófica não tem força suficiente
para, na prática, nos levar a deixar de acreditar em
muitas coisas que são fundamentais para as nossas
tomadas de decisão.
Referências

ALMEIDA, Aires; et. al. A arte de pensar – Filosofia 11º ano. Lisboa: Didáctica
Editora, 2008.
BURNHAM, Douglas; BUCKINGHAM,Will. O livro da filosofia. São Paulo: Globo
Livros, 2016.
REALE, Giovanni. História da filosofia: filosofia pagã antiga. v.1. São Paulo:
Paulus, 2003.
______. História da filosofia: do Humanismo a Descartes. v. 3. São Paulo:
Paulus, 2004.
______. História da filosofia: de Spinoza a Kant. v.4. São Paulo: Paulus, 2005.

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