EPISTEMOLOGIA – os problemas

Capítulo 1 da definição, possibilidade e origem do conhecimento

EPISTEMOLOGIA
parte da filosofia que estuda
o conhecimento.
Também se pode chamar-lhe:
• Filosofia do conhecimento;
• teoria do conhecimento.
A palavra epistemologia provém
do grego «epistême», que significa
ciência, referindo-se à ideia de um
saber sustentado, por oposição à
opinião (doxa).
EPISTEMOLOGIA

Os três problemas
epistemológicos:

• O que é o conhecimento?

• O conhecimento é possível?

• Qual é a origem
do conhecimento?
EPISTEMOLOGIA
Definição tradicional
Definição de conhecimento

Ceticismo radical

Problemas do
Possibilidade A teoria de Descartes
conhecimento

A teoria de Hume

A teoria de Descartes
(racionalismo)
Origem
A teoria de Hume
(empirismo)
O QUE É O CONHECIMENTO?

É fácil dar exemplos de conhecimentos:

• saber o caminho de casa

• saber somar e multiplicar

• conhecer a composição química da água

• conhecer a tabela de verdade da conjunção

O QUE É O CONHECIMENTO?

Sejam quais forem os conhecimentos

que tivermos em conta, há sempre
dois elementos em comum:

• o sujeito • o objeto

quem aquilo que é

conhece conhecido
TIPOS DE CONHECIMENTO

Para responder à pergunta

«O que é o conhecimento?»
é preciso distinguir diferentes
tipos de conhecimento:

• o conhecimento prático

• o conhecimento por contacto

• o conhecimento proposicional
TIPOS DE CONHECIMENTO
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL

Quando dizemos algo acerca de alguma coisa, como por exemplo, que os metais
dilatam com o calor ou que a República foi instaurada em Portugal em 1910, fazemos
um juízo:
Esse juízo é uma proposição que pode ser V ou F.
Se alguém diz que o Cartaxo fica localizado no Ribatejo, pretendo com isso expressar
um conhecimento através de uma proposição, podendo esta ser V ou F.

À filosofia interessa sobretudo o

conhecimento proposicional,
porque assenta em proposições
suscetíveis de valor de verdade
TIPOS DE CONHECIMENTO

Conhecimento
proposicional
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

Segundo uma definição que remonta O sujeito tem conhecimento

a Platão: proposicional de P se:
• o conhecimento consiste numa • acreditar em P
crença verdadeira justificada
• se P for de facto verdadeira

Três condições necessárias para • se tiver uma justificação

existir conhecimento: adequada para acreditar em P
• crença
• verdade
• justificação
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

qualquer conhecimento é uma

crença verdadeira justificada

qualquer crença verdadeira

justificada é conhecimento
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

Ter uma crença

• é acreditar numa proposição

• é acreditar que uma proposição é

verdadeira

Se não se acredita que uma ideia é

verdadeira, não se pode conhecê-la.
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

Ter uma crença envolve graus

de convicção variados:
• uma ideia é provavelmente
verdadeira
• é absolutamente certo que uma
proposição é verdadeira
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

A crença é: As crenças podem ser

verdadeiras ou falsas
• necessária para o conhecimento

• porém, não é suficiente

Porquê?

Porque a crença – o acreditar em

algo – tem de corresponder a algo
que se verifica, que é verdade Não faz sentido dizer
«Eu sei que o homem foi à Lua,
mas não acredito nisso.»
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

Acertar na verdade por

A verdade é: acaso não é conhecimento
• necessária para o conhecimento

• porém, não é suficiente

Crença e verdade são condições necessárias para

garantir o conhecimento.
Mas…serão condições suficientes?
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

A crença tem de ser verdadeira e justificada!

Platão foi um dos primeiros filósofos

Definição tradicional do conhecimento:
a abordar esta questão na obra
Teeteto:
• A proposição é verdadeira
• A pessoa aceita-a (crença)
O conhecimento é uma crença
• A proposição é evidente para a pessoa
verdadeira e justificada
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

A crença tem de ser verdadeira e justificada!

A justificação:
• consiste em boas razões para
acreditar que uma proposição
é verdadeira;
• essas razões fazem com que Ter
a convicção não se deva sonhado
ao acaso.
com o
vento
Não justifica nem é evidente que está
vento
 DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

Crença Justificação
Verdade
Convicção por parte Fundamentos sobre os
Correspondência com
do sujeito de que algo quais uma proposição
a realidade
corresponde à é sustentada
realidade
« P é verdade»
« P é evidente para S»
«S aceita P»
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

O que é o conhecimento proposicional?

DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO
DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO

Será definição é infalível e segura?

Na verdade, esta teoria tem sido amplamente

discutida, sobretudo por filósofos como Bertrand
Russel (1872-1970) e Edmund Gettier (1927-
2021).
Ambos apresentaram exemplos de situações em
que um indivíduo pode ter uma crença, esta ser
verdadeira e justificada e, ainda assim, não
constituir conhecimento.
 CONTRA EXEMPLO À DEFINIÇÃO TRADICIONAL DE
CONHECIMENTO
Exemplo do relógio

Imagina um indivíduo que, ao olhar para o relógio de uma estação de

comboios, verifica que são 13H20. E realmente são 13H20. À partida,
poderíamos afirmar que este indivíduo sabe que horas são, uma vez
que a sua crença é verdadeira e justificada, pois o relógio indica-o
justamente. No entanto, se esse relógio estiver avariado, podemos
manter a afirmação de que o indivíduo sabe que horas são? Se ele
tivesse olhado para o relógio meia hora antes, continuaria a
considerar que eram 13h20, quando na verdade, seriam 12H50!
O PROBLEMA DA POSSIBILIDADE
DO CONHECIMENTO
Mas…saberemos mesmo o que julgamos saber?

Por vezes, temos crenças falsas.

Vivemos na ilusão de que são

verdadeiras e de que temos
conhecimento.

Essa ilusão pode:

• durar apenas algum tempo;
• durar a vida toda.
Ilusão ótica
O PROBLEMA DA POSSIBILIDADE
DO CONHECIMENTO

Julgamos que conhecemos. Ao fazer estas perguntas

colocamos o problema
Mas teremos de facto conhecimento? da possibilidade
do conhecimento.
Saberemos o que julgamos saber?

Será o conhecimento realmente possível?

O CETICISMO
Será o conhecimento possível?

O ceticismo afirma que o conhecimento não é possível.

Podemos distinguir dois tipos de ceticismo:

CETICISMO CETICISMO
RADICAL MODERADO

duvida da possibilidade duvida da possibilidade

de todo e qualquer de conhecimento em
conhecimento algumas áreas, mas
não noutras
O CETICISMO RADICAL
O conhecimento não é possível

Não existe conhecimento.

Aquilo a que chamamos conhecimento

não passa de uma ilusão.

Crenças que consideramos verdadeiras

podem ser falsas. Assim, não serão
conhecimentos.

Mesmo que algumas das nossas

crenças sejam verdadeiras, não estão Capa de
justificadas. Também não serão Que Nada se Sabe,
conhecimentos. de Francisco Sanches,
filósofo português
(séculos XVI-XVII)
O CETICISMO RADICAL
O conhecimento não é possível

Por vezes, chama-se ceticismo pirrónico

ao ceticismo radical.

O nome vem de Pirro, filósofo grego que

defendeu que não podemos ter a
certeza de nada.

Devemos suspender a crença na ideia

em causa:

• não acreditar;

• nem deixar de acreditar. Pirro

(318-272 a.C.)
O CETICISMO RADICAL
O conhecimento não é possível

A posição do ceticismo radical pode ser expressa

através deste argumento:

Trata-se de um
1 Se as nossas crenças não estão justificadas,
modus ponens.
então não temos conhecimento.

2 As nossas crenças não estão justificadas.

3 Logo, não temos conhecimento.

É um argumento
válido.
Será sólido?
O CETICISMO RADICAL
O conhecimento não é possível

1 Se as nossas crenças não estão justificadas,

então não temos conhecimento.

Esta premissa é bastante plausível.

Apresenta a ideia de que sem justificação

não há conhecimento.
O CETICISMO RADICAL
O conhecimento não é possível

2 As nossas crenças não estão justificadas.

Será esta premissa verdadeira?

Os filósofos pirrónicos usaram vários argumentos

para a defender, por exemplo:

1. Argumento da regressão 2. Argumento dos enganos

infinita da justificação sensoriais
O CETICISMO RADICAL
1. Argumento da regressão infinita da justificação

Os filósofos pirrónicos dizem:

Cada crença precisa de uma justificação.

Cada justificação precisa de uma nova justificação.

É uma regressão sem fim.

O CETICISMO RADICAL
1. Argumento da regressão infinita da justificação
O CETICISMO RADICAL
2. Argumento dos enganos sensoriais

1 Por vezes, somos enganados pelos sentidos.

2 Se por vezes somos enganados pelos sentidos,

então pode suceder que sejamos sempre
enganados pelos sentidos.

3 Se podemos ser sempre enganados pelos sentidos,

então as nossas crenças não estão justificadas.

4 Logo, as nossas crenças não estão justificadas.

OBJEÇÃO AO CETICISMO RADICAL

Uma crítica habitual ao ceticismo radical: é contraditório.

Ao considerar que o conhecimento não é possível, o ceticismo radical pretende ter

um conhecimento: o conhecimento de que o conhecimento não é possível.
Sendo contraditório, o ceticismo radical autorrefuta-se.

Tese: O conhecimento
da regressão
não é possível
infinita da
justificação
Ceticismo
Argumento:
radical
dos enganos
Objeção: É sensoriais
contraditório
(autorrefutante)
O fundacionalismo: uma resposta ao ceticismo radical

. O fundacionalismo é uma das respostas mais célebres ao desafio

levantado pelo argumento cético da regressão infinita.

. Consiste na rejeição da premissa 1 do argumento da regressão infinita:

Os fundacionalistas consideram que nem todas as nossas crenças se

justificam com base noutras, porque distinguem dois tipos de crenças

Crença não-básica: Crença básica:

Justifica-se com é autoevidente
outra crença
Justificam/fundamentam
A resposta fundacionalista

a) Provém da razão:
As crenças básicas representam uma base sólida racionalismo
sobre a qual podemos edificar as restantes
crenças. b) Provém da experiência:
empirismo

Mas
como?
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL

Duas modalidades

Conhecimento a
Pensamento
priori

Fontes do
conhecimento
proposicional

Conhecimento
Experiência a posteriori
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL

Conhecimento a posteriori e a priori

Conhecimento a posteriori Conhecimento a priori

• só pode ser adquirido através • pode ser adquirido pensando
da experiência e sem recorrer à experiência
• também se pode designar
conhecimento empírico
CONHECIMENTO PROPOSICIONAL

Conhecimento a posteriori e a priori

Conhecimento a posteriori Conhecimento a priori

Para saber que: Para saber que:
• a Suíça é um país europeu • o dobro de 30 é metade de 120
• as baleias são mamíferos não precisamos de observar o mundo.
é preciso observar o mundo. Basta pensar, raciocinar ou calcular.
Por mais que pensasse, nenhuma
pessoa obteria esses conhecimentos
sem dados empíricos.