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O que é Conhecimento?

Se dedicarmos a um instante de reflexão, perceberemos que nossa existência é um


constante ato de conhecer coisas e pessoas. Nesse sentido, viver não significa,
simplesmente, estar no mundo; viver é, de fato, conhecer o mundo.

Sendo assim, nossa relação com o mundo é definida por um processo de absorção e
compreensão dos elementos que estão à nossa volta. Mas essa afirmação bastaria para
definir o que é conhecimento? Certamente, não.

Diante disso, nosso objetivo é definir o que é conhecimento.

Você já pensou sobre isso?

Etimologia do Termo
Como já sabemos, etimologia é a compreensão das palavras a partir do estudo de suas
origens. Sendo assim, num primeiro momento, dedicaremos à compreensão da origem
do termo “conhecer”.

Tal expressão possui duas derivações: latim – cognoscere, que significa saber,
conhecer, de com-, junto mais gnoscere, saber; e grego – gignoskein, saber.

Com base na etimologia da palavra, vamos elaborar uma definição para o termo
“conhecer”.

Como Definir o Conhecimento?


Quando nos referimos ao conhecimento, é preciso ficar claro que ele é um processo que
ocorre mediante a relação entre sujeito e objeto. Dessa forma, podemos afirmar que
conhecer é a percepção que o sujeito constrói acerca do objeto contemplado.

Se o conhecimento depende da relação entre sujeito e objeto, fica evidente que a


construção do conhecimento é uma experiência particular. Vejamos o seguinte exemplo:

Caso duas pessoas observem o céu, durante o período da noite, por alguns minutos e no
momento seguinte você pedir para que elas descrevam o que cada uma delas visualizou,
certamente os respectivos relatos revelaram aspectos particulares daquilo que elas
perceberam. Desse modo, teremos a comprovação de que as experiências, mesmo que
sejam semelhantes, são particulares.

No entanto, você pode até estar pensando que o objeto sugerido é muito extenso. Porém,
se fornecermos um objeto menor, tal como um quadro, às mesmas pessoas da
experiência anterior, a conclusão não seria tão diferente.

Conhecer implica numa percepção externa e interna. Logo, os dados que obtemos
mediante os órgãos do sentido (tato, olfato, paladar, audição e visão) e os sentimentos
derivado de uma dada experiência resultam na elaboração de um conhecimento peculiar
ao indivíduo que contemplou o objeto.

Compartilhando Conhecimento
Podemos supor também que uma pessoa compartilhe com outras pessoas as
experiências vividas. Assim, seria possível que as pessoas que compartilharam dessas
experiências poderiam elaborar os mesmos conhecimentos?

Sem dúvida, a resposta seria não.


Podemos assegurar que as experiências relatadas por uma pessoa fornecem apenas a
ideia de uma experiência vivida. Nesse caso, as experiências geradas a partir dos relatos
são apenas ideias de conhecimento.

Mais uma vez, é possível afirmar que a experiência do conhecer é particular.

Enfim, podemos concluir que o conhecimento é a elaboração de um determinado saber


proveniente de uma percepção individual.

O conhecimento é a construção de um dado saber derivado das nossas experiências.

O conhecimento é elaborado a partir da relação que o sujeito estabelece com o objeto.


Nessa perspectiva, o conhecimento sempre será uma percepção individual que o sujeito
obteve do objeto.

Formas de conhecimento.

Ao recordarmos o nascimento da Filosofia, observaremos a preocupação dos


primeiros filósofos em compreender o que é o mundo, por que e como as coisas
existem, qual a origem da natureza e quais as causas de sua transformação. Esses
questionamentos centralizavam-se na questão de “o que são as coisas?”, que com o
transcorrer do tempo passou a ser formulada como “o que é o ser?”. Estes filósofos
afirmavam que a “realidade é racional e que podemos conhecê-la, pois também somos
racionais; nossa razão é parte da racionalidade do mundo”.

Ao longo da história, diversas teorias e correntes de pensamento foram


desenvolvidas para tentar responder a tais questionamentos, nem todos convergindo ao
mesmo centro, na verdade, muitos se direcionam em sentidos opostos. O homem
primitivo, como ser racional tinha seus questionamentos, a necessidade de explicação
sobre os fenômenos da natureza; desprovido de qualquer ciência moderna, ele teve de
criar suas contestações a partir de sua imaginação. Desta forma nasce o conhecimento
mítico, que mais tarde veio a ser desacreditado pelo conhecimento filosófico e pelo
científico, nem por isso ele deixa ser representativo, pois o conhecimento não é
divisível, mas um caminho em busca da verdade.

As formas de conhecimento podem ser resumidas como as maneiras que o


homem, ao longo de sua história, encontrou para explicar o mundo que o cerca. Neste
objeto de estudos abordaremos sobre elas que, a saber, são: (1) conhecimento mítico;
(2) teológico; (3) filosófico; (4) científico e (5) conhecimento empírico – também
conhecido por vulgar ou do senso-comum.

As formas de conhecimento

Para que possamos melhor compreender as formas como o conhecimento pode ser
classificado, primeiro devemos compreender o que é propriamente o conhecimento e a
diferença entre pensar e conhecer.

O conhecimento é formado por hipóteses, descrições, conceitos, teorias, princípios


e procedimentos, mas não se circunscreve a isso. O conhecimento é aquilo que
assimilamos a partir de alguma informação, assim, podemos dizer que compõem o
conhecimento o dado e a informação. Dado é um conjunto de códigos decifráveis ou
não. A partir do momento que podemos interpretar os dados, por exemplo, da
linguagem, geramos um processo comunicativo que nos permite acesso às informações
que eles transmitem e a partir delas gerar algum conhecimento.

O conhecimento pode também ser relacionado a um processo ou a um resultado


obtido da aprendizagem surgida através do acúmulo de hipóteses, teorias, conceitos etc.
Acontece que todo resultado é inseparável de um processo, portanto, o conhecimento
trata-se de um processo de aprender, apreender e compreender, isto é, tomar
conhecimento de algo, assimilar mentalmente e entender esse algo, ou seja, ter uma
ideia clara, racional.

A definição clássica de conhecimento é originada por Platão e diz que o


conhecimento se baseia na crença verdadeira e justificada. Aristóteles o divide em três
áreas: científica, prática e técnica.

Mas, o que é conhecer? "Conhecer é elaborar um modelo de


realidade" e "projetar ordem onde havia caos" (CYRINO & PENHA, 1992, p. 13).
Para que exista conhecimento, em tal aspecto, segundo o doutor Wilson Correia, fazem-
se necessários três elementos: (1º) O sujeito, que é o ser que conhece; (2º) O objeto,
aquilo que o sujeito investiga para conhecer; (3º) A imagem mental em forma de
opinião, ideia ou conceito que resultam da relação sujeito-objeto e que passa a habitar a
subjetividade daquele que conhece. Nesse processo, o ser humano que é “pensante-
sentinte-comunicante” formula pensamentos e sentimentos e os transmite por meio da
linguagem – falar, escrever, gesticular etc.

Segundo Arendt1 “a distinção entre as duas faculdades, razão e intelecto,


coincide com a distinção entre as duas atividades espirituais completamente diferentes:
pensar e conhecer; e dois interesses inteiramente distintos: o significado, no primeiro
caso, e a cognição, no segundo”. O conhecer busca resultados certos e averiguáveis
tanto no campo da ciência como do senso-comum; já o pensar não gera resultados
concretos, diz respeito ao significado que procuramos naquilo que nos ocorre. De outra
maneira, poderíamos dizer que conhecer é possuir uma concepção sólida sobre algo,
enquanto que o pensar é uma “estrada infinda”, como por exemplo, “os porquês” que
nunca acabam (Por que do por quê? Por quê?...).

Além dos conceitos platônico e aristotélico supracitados, o conhecimento pode


ainda ser classificado em pelo menos cinco designações ou categorias as quais veremos
a seguir.

* Conhecimento empírico: Do momento em que nascemos até o momento de


nossa morte passamos pelo processo de produção deste conhecimento o qual se
fundamenta na experiência natural da vida. Esta forma de conhecimento, também
conhecida por saber da vida, conhecimento do senso-comum ou vulgar, caracteriza-se
1
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes
do século XX.
pela não-sistematicidade, motivo pelo qual não é produzido segundo uma técnica
determinada, isto é, de acordo a um modelo de descoberta. Por exemplo, ao tentar abrir
a porta de sua casa, o indivíduo percebe que a fechadura está com problema e após
algumas tentativas frustradas, descobre uma determinada maneira de girar a chave.

* Conhecimento mítico: Como mencionado à introdução, trata-se de uma forma


de conhecimento não-lógico, fantasioso, isto é, embasa-se na sensação de que existem
modelos naturais e sobrenaturais donde advém o sentido de tudo o que existe; ajudando
o ser humano a “esclarecer” o mundo por meio de alegoria; não é produzido através de
experimentações científicas, e sim a partir da imaginação humana. Por exemplo, na
mitologia grega, o comportamento do mar, isto é, se havia tempestades em alto mar,
ondas fortes, escassez de peixes, ou o contrário, era resultado do temperamento de
Posseidon, governador dos mares; um dos muitos deuses da mitologia grega.

* Conhecimento teológico: Fundamenta-se na fé, ou seja, na adesão ou na


aceitação pessoal a Deus e seus desígnios. “É a exposição sistemática que tem por
objetivo um credo religioso ou uma divindade. A teologia posiciona-se num campo
intelectual, enquanto que as crenças pertencem à esfera emocional”. O conhecimento
teológico parte da compreensão e da aceitação de um Deus ou deuses, os quais
constituem a razão de ser de todas as coisas. Eles “revelam-se” aos humanos e lhes
transmitem suas verdades marcadamente incontestáveis, assim, não é necessário à razão
compreendê-las, e sim aceitá-las, são leis absolutas. O teólogo busca continuamente
racionalizar a fé, que é algo de essência místico-emotiva. A Teologia cristã, de todas as
existentes hoje, é a mais bem organizada, pois utilizou-se da Filosofia grega para
arquitetar seu racionalismo. O auge da Teologia foi sob o título de Teologia Escolástica
(corpo de doutrina racionalizado), da qual São Tomás de Aquino foi o maior
representante. Por exemplo, dentro do Cristiano, Jesus Cristo e seus ensinamentos são o
centro da vida, da verdade, pois é Ele “Filho Unigênito de Deus [...] Deus verdadeiro
de Deus verdadeiro. [...] Por ele todas as coisas foram feitas. [...]”. (Excertos do
Símbolo Niceno-constantinopolitano da Santa Igreja Católica Apostólica Romana).

* Conhecimento filosófico: Trata-se de um conhecimento racional, isto é,


argumentado, debatido e compreendido que busca saber a índole e as conjecturas do
pensamento humano, partindo de determinadas normativas de lógica do pensamento,
dando sentido a discussão e viabilizando atingir-se desenlaces compreensíveis que
possam ser aceitos e respeitados pelos restantes. Assenta-se na investigação, na
elucubração em volta do que é real, objetivando a busca da verdade. É sistemático,
porém, não é experimental; vai ao princípio do objeto, sendo produto da precisão lógica
que exige a razão de um conhecimento que se pretende como verdade. É um
conhecimento ativo, por que coloca o ser em busca de réplica para as questões que ele
próprio é passível de formular. Por exemplo, em um debate, ambas as partes expõem
seus argumentos com lógica, frutos de pesquisas e reflexões pessoais; ao término pode-
se não haver um ganhador, e sim uma conclusão racional, fruto das exposições e
lucubrações dos componentes que atende como resposta verdadeira, aceita e
compreendida ao questionamento que originou a discussão.

* Conhecimento científico: Análogo a classificação prévia, esta forma do


conhecimento é também racional, gerado a partir do exame da realidade, por meio de
experimentos ou por meio da averiguação da compreensão lógica de fatos, fenômenos,
enfim, o que se passa na existência cósmica, humana e da natureza. É uma forma de
conhecimento produzido metodicamente, que se alicerça na experimentação, validação
e comprovação daquilo que se pretende a verdade. Por meio dos princípios que obtém,
possibilita ao homem desenvolver ferramentas as quais lhe permite alterar a realidade
para melhor ou pior. Exemplo: através do estudo do vírus H1N1 pode-se desenvolver
um medicamento para combatê-lo, mas antes que este chagasse ao mercado foi testado
para garantir não apenas sua eficácia contra o vírus citado como também eliminar riscos
de possíveis reações nocivas ao organismo humano.

Considerações Finais

Ao longo de sua História, o ser humano preocupou-se em encontrar respostas a


seus questionamentos, em explicar o mundo a sua volta. Com a evolução do
pensamento humano novos conhecimentos, mais aprofundados e racionais foram se
originando, invalidando muitas vezes as arcaicas teorias. Como dito à introdução,
surgiram também teorias, correntes de pensamento opostos, como a velha concepção de
que “religião e ciência são inimigas”, ora, temos aí duas formas de conhecimento:
teológico e científico e bem vimos que, embora baseado na fé e não na razão
propriamente, o conhecimento teológico escolástico, além de pregar a verdade divina,
busca racionalizar a fé e o científico busca com base na razão a experimentação,
comprovação e validação da verdade. Outro conceito equivocado é com relação ao
conhecimento filosófico que para muito parece sem sentido, sendo não raro questionada
a utilidade da Filosofia, no entanto, verdade, pensamento racional, procedimentos para
conhecer fatos, aplicação prática de teorias, correção e acúmulo de saberes, muito mais
que intentos da ciência – da qual o mérito nunca é questionado por apresentar sempre
resultados tangíveis e práticos – são propósitos filosóficos. O que pretendo ao
apresentar estas questões é demonstrar que o conhecimento é único, as
divisões/classificações que lhe atribuímos existem unicamente em um ambiente
acadêmico. O conhecimento não é apenas resultado de um processo, mas sim fruto da
atividade intelectual que compreende todo o processo e seus resultados, é ele um meio
termo entre a crença e a verdade.

O conhecimento propriamente não pode ser transmitido, o que podemos legar, são
informações, através das quais o indivíduo pode gerar algum conhecimento. A leitura,
por exemplo, pode acrescentar conhecimentos desde que o individuo devidamente
alfabetizado seja capaz de interpretar os símbolos da linguagem (os dados) na qual o
texto (a informação) está escrito assim como seu significado e a partir daí produzir
algum conhecimento acerca do que trata o escrito.

Por exigência da professora, dever-se-ia, na conclusão, eleger umas das


classificações do conhecimento que fosse considerada “mais importante” e argumentar
sobre ela, todavia, é quase impossível dizer que determinada forma de conhecimento é
mais ou menos relevante que outra, uma vez que todas elas estejam interligadas de
alguma forma, pois o conhecimento em si é uno. O conhecimento cientifico necessita do
filosófico para existir, o filosófico, de alguma maneira se embasa no teológico e
segundo os autores Philip Gardiner e Gary Osborn em “O priorado secreto”, as crenças
religiosas (compreendidas na Teologia) originam-se no conhecimento mítico e, em cada
um e em todas estas formas de conhecimento citadas, está presente o conhecimento
empírico. O que se pode destacar e que observa-se ao longo do estudo é que o homem é
capaz de produzir variegados modelos de informação, conhecimento e saberes por que é
um ser pensante, capaz de questionar, raciocinar, julgar, avaliar e através disso agir no
mundo. Através das relações que ele estabelece, da vivência no mundo é capaz de
construir representações desse.

Não obstante, para atender à exigência da docente elegeria o conhecimento


filosófico, talvez por parecer que nele haja mais equilíbrio no uso do pensar e do
conhecer. Atualmente, nosso sistema educacional trabalha predominantemente o
conhecer, não somos instruídos a desenvolver o nosso pensar, mas sim a conhecer
teorias, fórmulas e leis, a resolver problemas e não criá-los; há a preocupação por parte
do sistema na transmissão do saber, de que adquiramos competências, mas muito pouca
ou nenhuma voltada à compreensão do mundo. Os conhecimentos possuem utilidades
gerais, mas são limitados com relação a atribuir significado à nossa relação com o
mundo. O pensamento por outro lado, busca quase que especificamente esse significado
por meio da reflexão sobre as experiências, sobre nossas ações.

Por fim, só resta reiterar que nenhum conhecimento é melhor do que o outro, mas que
são complementares uns aos outros, afinal, como seres “bio-psico-socais”, “pensantes-
sentintes-comunicantes” precisamos deles para compreendermo-nos e viver, para
prosseguir a busca da verdade que tanto ansiaram e procuraram os antigos filósofos
gregos.

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução, coordenação e revisão de


Alfredo Bosi et al. 2. ed. São Paulo. Mestre Jou, 1982.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de


Filosofia. São Paulo: Moderna, 2012.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofia com
textos: Temas e história da Filosofia. São Paulo: Moderna, 2013.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005.

DIMENSTEIN, Gilberto; RODRIGUES, Marta M. Assumpção; GIASANTI, Alvaro


Cesar Giansanti. Dez lições de Filosofia. São Paulo: FTD, 2012.

FERRY, Luc. Aprender a viver – Filosofia para os novos tempos. Tradução de Vera
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PRADO, Caio Jr. O que é Filosofia. São Paulo: Brasiliense, 1996.

REALE, Giovanni Antiseri. História da Filosofia. São Paulo: Pulus, 1990.

VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. Tradução de Ísis Borges B.


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