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SÍNTESE FILOSÓFICA - TEORIA DO CONHECIMENTO

Bruno Lucas da Silva Barbosa

INTRODUÇÃO

A Teoria do Conhecimento, sendo um ramo da Filosofia, busca entender como


adquirimos e justificamos o conhecimento. O objeto próprio da Teoria do Conhecimento é o
próprio conhecer e, dessa forma, investiga as origens, natureza, limites e validade do
conhecimento humano, questionando como podemos distinguir o conhecimento verdadeiro
da mera opinião ou crença.
A tarefa da teoria do conhecimento é investigar os componentes do pensamento
humano e examinar sua referência à realidade. Ademais, dentro do ramo do conhecimento,
existem conhecimentos mais excelentes que outros, ou seja, as dimensões do conhecimento
humano possuem gradações, elevado-se a algo mais excelso. E, entendo a teoria do
conhecimento como um processo gradativo, pode resumir em um silogismo: O conhecimento
é gradativo; A teoria do conhecimento é um conhecimento; logo, a teoria do conhecimento é
gradativa.
Em suma, a teoria do conhecimento tem como objetivo compreender os processos
pelos quais os seres humanos adquirem, justificam e validam o conhecimento. Ao analisar as
diversas perspectivas filosóficas ao longo do tempo, podemos refletir sobre a essência e os
obstáculos envolvidos no conhecimento humano.

1 NÍVEIS DO CONHECIMENTO

Ao pensar no conhecimento, é preciso voltar ao entendimento de filosofia. É sabido


que a etimologia da palavra “sabedoria” indica “amigo/amante da filosofia”, no sentido em
que o homem procura algo na filosofia que carece nele mesmo. Neste sentido, é preciso
recordar aquilo que Aristóteles falou em sua Metafísica, dizendo que o homem possui o
desejo natural pelo saber, e não qualquer saber, mas aqueles saberes mais elevados. E se o
homem deseja os saberes mais elevados, passará por um processo, em que iniciará com os
saberes mais simples direcionando-se aos mais complexos.
Dito isso, serão apresentados determinados tipos de conhecimento que, não
necessariamente, são mais elevados que os outros, mas que sim o método que o homem pode
conhecer as coisas. São os conhecimentos: ordinário, mítico, filosófico, da fé e científico.
1.1 Conhecimento Ordinário

Sem entrar em quaisquer termos filosóficos, podemos entender o presente


conhecimento apenas olhando para seu próprio nome: ordinario. Aquilo que é ordinário está
em conformidade com aquilo que é normal e comum; desse modo, aquilo que é ordinário está
presente no cotidiano sem quaisquer complicações e especificidades. Entendendo de forma
natural, podemos fazer a ligação com a filosofia. O conhecimento de modo ordinário está
ligado ao senso comum do homem, ou seja, uma das grandes características do homem é seu
bom senso, que será refletido posteriormente.

1.2 Conhecimento mítico

A realidade mítica sempre foi algo presente na filosofia, que está relacionado à
exemplificação de algo intelectual. O mito, por muitas vezes, é usado como ponto de partida
para trazer algum conhecimento. Este tipo de conhecimento está presente no homem porque,
por vezes, o homem não conseguirá encontrar meios para explicar ou exemplificar alguma
informação, senão pela realidade mítica.

1.3 Conhecimento filosófico

A filosofia, por si só, está em íntima ligação ao intelecto, por isso, a realidade do
conhecimento filosófico estará relacionada ao campo racional do homem. Estando ligado ao
racional, é caracterizado pelo esforço da razão para entender e discernir os caminhos a serem
traçados, se são corretos ou falsos.

1.4 Conhecimento da fé

A fé é a adesão do homem a uma verdade revelada. Com isso, o conhecimento por


meio da fé será dado ao homem por meio daquilo que é divino. Seria um erro, portanto,
entender que o homem não procure aquilo de eterno e divino, e atingirá tal conhecimento,
que lhe carece, por meio de uma relação vertical.

1.5 Conhecimento científico


A ciência lida com ocorrências e fatos e, consequentemente, o conhecimento
científico partirá daquilo que é apresentado como fato. Dessa maneira, a ciência investigará
as hipóteses que possuem maior e menor veracidade, por meio da experiência, e não apenas
pelo esforço racional, como o filosófico. Sendo assim, será o conhecimento por meio de uma
análise minuciosa por meio da experiência.

2 FUNDAMENTOS DA CULTURA OCIDENTAL


2.1 Sócrates

A filosofia de Sócrates, e consequentemente uma teoria do conhecimento, consiste a


vida moral como fundamento para o viver bem, ou seja, para o homem alcançar a sabedoria
(conhecimento) será necessário viver de maneira virtuosa. Sendo assim, Sócrates entende o
homem como sua consciência, personalidade intelectual e moral, que resumirá sua natural.
A filosofia socrática baseia-se em um “desenvolvimento” de si para caminhar rumo ao
conhecimento. De início, tal afirmação pode ser entendida de maneira errônea, mas será
desenrolada ao longo de sua filosofia. A máxima socrática: “conhecer-se a si mesmo” indica
um plano de vida virtuoso para chegar à dimensão da sabedoria e, portanto, atingir a
dimensão da sabedoria será o mesmo que dizer: a meta filosófica de Sócrates será a
felicidade.
Quando Sócrates apresenta o homem como sua natureza (alma), a virtude parece ser
apresentada como um remédio para a alma, auxiliando-a em sua plena realização. Se a
natureza humana é reconhecida como consciência e personalidade intelectual e moral, é
claramente possível entendê-la como uma atividade cognoscitiva e, corroborando a isso, a
virtude intensificará tal atividade que deseja atingir a sabedoria. Dessa maneira, poderá
atingir sua finalidade, que é a felicidade, por meio da posse do saber.
Dessa maneira, Sócrates leva seu leitor a entender que a virtude pode ser resumida no
conhecimento, pois, segundo ele, “o cultivo da alma vale mais que toda a riqueza material”.
A base para todas as virtudes será o domínio de si - por isso a célebre frase de Sócrates: “uma
vida irrefletida não merece ser vivida” -, sendo livre perante seus instintos, derivado da
psychê, que levará a verdadeira felicidade, que se encontra na posse da sabedoria.

2.1.1 Refutação e a Ironia


Os diálogos socráticos são, em sua maioria, baseados em perguntas ao interlocutor
que, por sua vez, reconhecerá sua própria ignorância. Entretanto, tal método socrático não é
em vão e nem uma coincidência, mas sim o seu método. A refutação será apresentada como o
meio em que Sócrates levará seu interlocutor ao conhecimento da verdade, em que, para cada
colocação levantada, Sócrates apresentará uma nova refutação e, consequentemente, a
verdade, por vezes, parece sair do próprio interlocutor. Em contrapartida, Sócrates se usa da
ironia como um meio para amarrar seu interlocutor em suas próprias contradições e erros
filosóficos. Por fim, Sócrates apresenta, de modo bastante claro, os traços do não-saber e da
ignorância em seus diálogos.

2.1.2 A maiêutica

O método do conhecimento de Sócrates é baseado, primeiramente, pela refutação e


ironia e posteriormente pela maiêutica para chegar à verdade. A verdade, para Sócrates, só
pode ser alcançada se a alma dela “estiver grávida”. Tal colocação se refere na ideia que a
ideia já está presente nela e, portanto, será preciso uma espécie de arte obstétrica para a
verdade vir à luz; tal arte será denominada por “maiêutica”, que será o método, por meio de
perguntas e respostas, que irão faz o indivíduo chegar à verdade.

2.1.3 Os conceitos universais

Os conceitos universais estão sempre relacionados ao conceito de verdade. Com isso,


se fez necessário, para Sócrates, estabelecer algo universal para evitar quaisquer conclusões
errôneas. Exemplificando o presente conceito: a ideia de um quadrado é dada ao homem de
modo universal, uma vez que, quadrado é uma forma geométrica formada por quatro lados
iguais; essa verdade será universal, seja no hemisfério norte ou no hemisfério sul. Sócrates,
dessa forma, traz os conceitos universais para que as opiniões e juízos não interfiram no
conteúdo do conhecimento.

2.2 Platão

Platão, estando no período antigo da filosofia, foi o primeiro filósofo a falar da


existência supra sensível, não de maneira religiosa, mas trazendo um pensamento racional. O
pensamento platônico colaborou para a maturidade e profundidade da filosofia, graças ao seu
contato com Sócrates, que o ajudou em sua formação filosófica.

2.2.1 Mundo das ideias

A metafísica de Platão é apresentada por sua visão supra sensível, presente no mundo
das ideias, que é plenamente transcendente e inteligível; em outras palavras, não faz parte da
realidade sensível e só é possível alcançar por meio da inteligência.
A existência do mundo das ideias apresenta a possibilidade das formas perfeitas das
coisas, enquanto que, no mundo material, as coisas existem de maneira imperfeita. E isso
acontece porque as coisas sensíveis, presentes no mundo material, são uma cópia do mundo
inteligível. Com isso, chegamos à realidade humana que sempre procura o bem e o saber; o
homem está em um mundo imperfeito que procura um bem maior que isso. Dado o fato, o
homem só conseguirá encontrar o Bem e o conhecimento através do pensamento direcionado
ao mundo inteligível. O mundo das ideias é o único meio do homem chegar ao pleno
conhecimento.

2.2.2 Aprender é recordar

A teoria platônica do conhecimento começa com a defesa da Anamnese


(rememoração), porque, segundo Platão, a alma humana já conhece, de modo a priori, todas
as coisas; o processo que se faz necessário é o da anamnese, ou seja, a alma precisa relembrar
que ela já porta diversos conhecimentos. O processo de rememoração porque a alma humana
já esteve no mundo das ideias e conheceu todas as coisas de modo pleno, entretanto, ao
ingressar no mundo sensível, a matéria o impede de portar todos conhecimento, por isso se
faz necessário o processo de rememoração.
Platão apresenta sua teoria do conhecimento de dois modos: mítico (almas imortais
que viram todas ideias antes de subsistir em um corpo) e dialético (todos podem conhecer
todas as coisas, que antes eram esquecidas). Com isso, um quadro é apresentado: do plano do
ser e do conhecer. No plano do conhecer, temos a doxa (opinião), dividido na imaginação que
leva às imagens sensíveis e na pistis que leva aos objetos sensíveis. De outro modo, temos a
episteme (ciência), por meio da dianoia (conhecimento mediano) que leva aos objetos
matemáticos e a noesis (intelecção) que leva às ideias e Ideia de Bem.
Dessa forma, todo e qualquer conhecimento, na doutrina platônica, será por meio da
anamnese, que é o método de recordar para aprender. O homem, que acessa seu interior,
relembra dos conhecimentos adquiridos no mundo das ideias e os traz para o mundo material,
ainda que seja de maneira imperfeita e incompleta.

2.2.3 O mito da caverna

Dado momento é apresentado na República, de Platão, representa homens


acorrentados em uma caverna, em que só podem olhar para uma parede que os possibilita ver
apenas as sombras dos objetos, podendo, assim, conhecer os objetos apenas de modo
imperfeito. O grande questionamento do mito é na real possibilidade dos homens olharem
para trás e conhecerem os objetos como são, não apenas suas sombras. De igual modo a
possibilidade de sair da caverna e conhecer tantos outros objetos que, por ora, lhe são
impossibilitados o conhecimento por estarem acorrentados na caverna.
Em suma, o mito da caverna procura questionar aquilo que é evidente ao homem, que
é o mundo. O homem é um ser que possui a capacidade de conhecer todas as coisas e, para
Platão, o homem já possui todos esses conhecimentos, basta relembrar.
Sendo assim, o mito da caverna apresenta um impasse do homem e do mundo, da
realidade inteligível e sensível. A alma humana, existindo no sensível unido a um corpo, é
impossibilitada de ter acesso a tudo. Seria um erro, portanto, não entender a caverna como
sendo a realidade sensível como algo impeditivo ao homem, que o incapacita no acesso e no
conhecimento de todas as coisas presentes no mundo das ideias.

2.3 Aristóteles

Aristóteles traz diversos avanços para a filosofia, principalmente para a teoria do


conhecimento, onde ele sistematiza o conhecimento de modo ordenado e discursivo. Seria um
erro entender Aristóteles como sendo totalmente o oposto de Platão, que fora seu mestre, uma
vez que os dois procuravam entender as mesmas coisas, o que se diferenciava eram seus
métodos, mas se uniam em um ponto: os dois pretendiam conhecer a essência das coisas.
Aristóteles, por sua vez, como explicita em sua metafísica: o homem possui um anseio
natural pelo saber, e o faz por meio do mundo concreto e não pelo mundo das ideias, como
Platão.
2.3.1 A descoberta da lógica

A lógica aristotélica será um meio eficaz para chegar ao conhecimento das coisas,
sejam eles novos ou para comprovar aquilo já conhecido. Com isso, a lógica será apresentada
como uma ferramenta do pensamento, como o intuito de ajudar no caminho até o
conhecimento.
Ela será o meio para averiguar a correnteza dos conhecimentos que, por vezes, podem
ser apresentados como ambíguos, e para tal se faz necessário tal processo. Dentro da lógica,
temos o silogismo, que tenta chegar a conclusões válidas, baseando-se em três leis: o
princípio de identidade (a=a); princípio da não-contradição (uma coisa não pode ser
verdadeira e falsa ao mesmo tempo); princípio do terceiro excluído (uma proposição ou é
verdadeira ou falsa, não existe uma terceira opção). Exemplificando uma averiguação de
correnteza, por meio do silogismo: Todo homem é mortal; Pedro é mortal; Logo, Pedro é
mortal. Em sua, a lógica não irá fazer juízos dos conhecimentos, mas irá averiguar a
correnteza dos conhecimentos.

3.2.2 Uma teoria do conhecimento

Tratando-se de uma teoria do conhecimento aristotélica cabe ter em mente a íntima


relação entre sabedoria (conhecimento) e felicidade; ou seja, na medida que o homem adquire
conhecimento ele se realiza enquanto ser humano e caminha rumo à sua felicidade. Sendo
assim, a sabedoria é uma espécie de bem adquirido por meio do exercício da inteligência e
deve fazer uso desse conhecimento para alcançar sua vida feliz
Tendo estabelecido a finalidade aristotélica do conhecimento, se faz necessário
apresentar três aspectos de sua teoria do conhecimento, são eles: A ciência como
conhecimento verdadeiro e certo, a ciência como conhecimento universal e o processo do
conhecimento.
A ciência como conhecimento do verdadeiro e do certo está relacionado aos sentidos
que captam o conhecimento que está presente no sensível e, dessa forma, captando o
conhecimento ele estará presente na potência racional que, por sua vez, poderá gerar novas
informações a partir daquelas que já são apresentadas como corretas. Exemplificando: o
homem, ao ver uma animal, abstrai sua essência dele e como já o conhece saberá se é um
cachorro ou um gato; se nunca tivesse visto um cachorro ou um gato, não poderia discernir.
Por isso, o conhecimento está intimamente ligado ao verdadeiro e ao certo.
A ciência como conhecimento universal gira em torno do método indutivo, ou seja,
parte de dados particulares para chegar ao universal. Porém, em dado momento será
dificultoso conhecer o universal apenas pelo particular, é preciso que os conceitos e
conhecimentos sejam universais. Vendo Pedro, Júlia e Marcelo consegue-se abstrair que são
seres humanos, mas não apenas pelo fato de serem particulares, mas porque o conceito
universal de homem abarca os três, sejam homens ou mulher.
O processo do conhecimento, para Aristóteles, só é possível por meio dos sentidos,
que, posteriormente, se tem a percepção da coisa em si, sendo seguida pelo juízo e intuição; e
assim chegará ao conhecimento verdadeiro de algo. Com isso, podemos classificar em três:
ciências produtivas, práticas e teorética. A ciência produtiva está ligada à produção de algo
fora do próprio objeto como finalidade. A ciência prática às ações morais, como a ética e a
política. E, por fim, a ciência teorética, que se refere àquilo que não possui um fim prática,
mas sim o puro conhecimento como tal.

4 O HELENISMO

O helenismo se trata da transição da filosofia clássica para a filosofia medieval, sendo


criado por Alexandre, o Grande, em 323 a.C. Apresentado como uma ligação, caracteriza-se
com algumas mudanças do período clássico, e as ideias de busca pelo bem-estar e
tranquilidade está ganhando força, dado o fato que, nesse período, houve a descoberta do
indivíduo, ou seja, a ética será estruturada de forma autônoma, levando em conta a
singularidade humana.

4.1 Estoicismo

O estoicismo, sendo um escola filosófica fundada em Atenas, pode ser resumido em


um modo vida, tendo sua finalidade a descoberta de cada homem para o modo natural do
viver, por meio de regras, tendo sob controles suas emoções e paixões. E, pensando naquele
que porta o conhecimento - o sábio - é aquele que é imune às perturbações, ou como dizer:
uma “calma estoica”, vivendo em sintonia com o Logos.
O conhecimento, apresentado pelos estóicos, é atingido por meio racional, que faz o
homem entender aquilo que é verdadeiro ou falso. Dessa forma, a lógica terá seu papel
fundamental, que, por meio dos sentidos captam as pulsações sensíveis do objeto (após o
contato com ele), levará para a mente, e na mente, deixará suas impressões.
Para eles, o homem precisa estar em harmonia com a natureza, por meio de uma
Lógica Formal e uma ética naturalista: este será o principal foco do conhecimento. Sendo
assim, o conhecimento levará a virtude, que consiste na plena harmonia com a natureza, logo,
a felicidade estóica é viver em conformidade com a natureza.
Em suma, o estoicismo buscará o conhecimento de modo semelhante ao que
Aristóteles apresentou, que é pelos sentidos, e buscará conhecer a verdade de todas as coisas.
Entretanto, a finalidade será não tão semelhante, pois, para os estóicos, o conhecimento deve
levá-los para a conformidade com a natureza; por este motivo afirmam que o sábio é aquele
que vive em sintonia com o Logos.

4.2 Epicurismo

Ainda que o estoicismo seja primeiro em ordem cronológica, será o epicurismo aquele
que se apresenta como a primeira escola das grandes escolas. Tal ideia dos epicuristas gira em
torno da busca pelos prazeres no intuito de alcançar um verdadeiro estado de tranquilidade e
libertação do medo, por meio da ausência de sofrimento corporal e de preocupações.
Entretanto, até a busca dos prazeres deve ser feita de modo moderado
Com isso, o conhecimento, na escola epicurista, se fundamente sobre as sensações,
prolepses (é um recurso narrativo através do qual se pode descrever o futuro, um ato futuro,
prevendo-o ou anunciando-o antecipadamente) e sentimentos de dor e prazer.
Por fim, podemos resumir o epicurismo em três características do prazer: Os naturais
e necessários, que subtraem a dor, e por isso devem ser buscados; os naturais não necessários,
que são variações supérfluas (comer bem, amor), que devem ser moderados; e os não naturais
e não necessários, que são os prazeres vãos, que o homem deve fugir deles.

4.3 Ceticismo

Pode-se dizer que o ceticismo, além de uma escola, pode ser encarado como uma
postura filosófica advinda do helenismo, que busca afirmar que a mente humana não é capaz
de atingir nenhuma certeza acerca da verdade, e não sendo capaz, é impossível expressar
alguma opinião. Em suma, o ceticismo gira em torno de certo inatismo, no sentido de não
afirmar nada, dado que não podem chegar à verdade.

4.4 Ecletismo
O ecletismo, dentre as várias corrente presentes no helenismo, busca conciliar as
diversas doutrinas, que possuem teses mais aceitáveis, e escolher pontos das várias doutrinas
e formar uma nova e melhor tese.

5 FILOSOFIA CRISTÃ
5.1 Santo Agostinho

Em Santo Agostinho que a filosofia patrística encontra seu mais alto nível filosófico.
É sabido que a filosofia agostiniana encontra suas bases na filosofia platônica e, munido-se
dela, dá um passo a mais, colocando Deus como centro, meta e ápice de sua filosofia. E,
consequentemente, sua teoria do conhecimento terá uma íntima ligação com Deus, afirmando
que todo conhecimento humano é adquirido por meio de uma iluminação divina.

5.1.1 A experiência sensível

Influenciado pela filosofia platônica, Agostinho apresenta a relação uma relação entre
corpo e alma, deixa bastante explícito que o corpo possui um princípio passivo e a alma um
princípio ativo, no sentido de que a alma influencia o corpo. Com isso, apresenta grande
importância - e diz que é o mais evidente - na experiência sensível no conhecimento,
afirmando que cada sentido tem o seu objeto próprio, mas que o objeto pode ser conhecido
por mais de um sentido. Entretanto, não é puramente sensível; Agostinho apresentará que a
sensação é espiritual, porque, segundo ele, é próprio da alma. Exemplificando: A dor, que é
transmitida por meio do corpo, é a alma que sofre, da mesma maneira as afecções: ainda que
seja o corpo que percebe, será a alma a atingida. Tal afirmação agostiniana só se torna
aceitável em virtude de uma luz espiritual advinda da alma que capacita o conhecimento
sensível, mesmo que o corpo possua algumas defecções, a luz espiritual é comum a todos.
Dessa forma, a sensação é apresentada como uma atividade da alma que é uma
“exploração” do corpo pela alma, que, por sua vez, age sobre os sentido como causa deles, ou
seja, a alma é causa dos sentidos e é ela que produz a sensação. Por isso, a ideia agostiniana
de que o homem retorna a alma faz sentido, porque, segundo ele, o homem precisa buscar a
verdade no interior de sua alma, e não fora dela, uma vez que ela que causa a sensação.

5.1.2 O conhecimento intelectual


Dois conceitos são fundamentais para entender como se dá o conhecimento
intelectual: mente e alma. O primeiro será responsável pelo processo do conhecimento e do
pensamento; enquanto que a alma é a sede do pensamento, que abrange a razão e o intelecto.
Dessa forma, o intelecto é capaz de conhecer a verdade na realidade, enquanto que a razão -
sendo inferior à inteligência - será responsável por distinguir e ordenar a verdade das coisas -
graças à luz da inteligência. Concomitantemente a isso, Agostinho apresenta verdade -
superior à razão - que julga aquilo que a razão distinguiu e a modera, uma vez que a verdade
é algo superior ao próprio intelecto; e tal verdade não pode ser acidental, muito mesmo
mutável. Partindo disso, Agostinho afirma que tal verdade deve ser garantida por algo
superior, ao homem e às coisas, que é Deus.

5.1.3 Fundamento último da verdade

Para estabelecer um ponto inquestionável, Agostinho parte da ideia de que existe um


sujeito que pode errar, mas que é vivente e pensante; sabendo ele mesmo que é e que pensa,
pois, o sujeito não pode duvidar que vive, que recorda, que entende, que escolhe e que julga.
Ademais, mesmo que o sujeito se engane, na medida que se engana ele existe.
Fazendo-se necessário afirmar a existência do sujeito que busca a verdade, será
preciso compreender o fundamento último da verdade. Pois, se está presente na realidade,
deve advir de algum “lugar”. De modo contrário a Platão, Agostinho apresentará que as
ideias estão presente no próprio Deus, e o homem, por sua vez, poderá conhecer, não mais
pela reminiscência, mas pela teoria da iluminação: Deus, que é a própria e suma verdade,
transmite aos homens a potencialidade de conhecer a verdade, dando-os a presente
capacidade, ainda que sejam contingentes, porque, a verdade só pode ser conhecida pelo
contato com Deus.

5.1.4 A linguagem

Em duz obra, De Magistro (Sobre o Mestre), escreve um tratado educacional e como


se faz importante a linguagem no papel do ensino. Dessa maneira, Agostinho apresenta uma
divisão no processo linguístico, em três perspectivas: A gramática ou sinal interno, que
expressa o pensamento e comunida à memória as recordações apreendidas; a dialética ou
sinais externos, que ocorre na prática da linguagem cotidiana; e, por fim, a retórica ou verbo
interior, que é o discurso e a eloquência. Concomitantemente a isso, ainda traz outras quatro
funções da linguagem, que são: a comunicação, expressão, o discurso e a compreensão ou
interpretação. Dado o fato, em seu tratado da educação, Agostinho apresenta a linguagem
como a forma de comunicar verdades e conhecimento que estão presentes no interior do
homem.

5.2 O método escolástico

A escolástica pode ser entendida como o apogeu da filosofia cristã e, dessa forma, é
no século XIII que as maiores expressões da filosofia são apresentadas, sob duas vertentes: a
escola franciscana, com São Boaventura e Duns Scotus e a escola dominicana, com Santo
Tomás de Aquino.
Outro grande acontecimento no período escolástico se encontra no surgimento das
universidades e a formação das escolas, que, em suma, será a filosofia ensinada nas escolas.
Desse modo, acontece o redescobrimento das obras aristotélicas, que influenciará diretamente
a filosofia escolástica, principalmente com Santo Tomás. E, será no Aquinate que a plena
interpretação das filosofia aristotélica poderá ser encontrada, sendo ele um dos maiores,
senão o maior, comentador de Aristóteles.
Ademais, a formação intelectual na escolástica será encontrada no estudo das artes
liberais, por meio do Trivium - gramática, retórica e dialética - e do Quadrivium - aritmética,
geometria, música e astronomia; e outro grande meio serão as próprias universidades, sendo
elas estimuladas pela Igreja Católica, que ocorrerá a integração do professor e do aluno.
Em suma, o grande método escolástico será o ensino , através das lições, da lectio
(leitura), dos seminários, da disputatio (disputa), em que os professores irão aprofundar o
conhecimento do presente momento vivido. Além disso, o estudo da filosofia será entendido
como instrumento para a teologia, como forma para entender as verdades reveladas.

5.3 A questão do nominalismo e dos universais

Tratando-se dos universais e dos nominalistas, podemos trazer a ideia de Boécio e


Ockham. O primeiro, define os universais como algo presente apenas no intelecto, porque, na
realidade, existem apenas os penas os singulares; entretanto, quando se abstrai as
características comuns obtém-se os universais, ou seja, o intelecto abstrai que há de
incorpóreo da matéria. Enquanto que os nominalistas afirmam que existem apenas os
indivíduos, dessa forma, não existe nada universal; e, para ele, os universais não passam de
um nome e não de uma realidade.

5.4 Santo Tomás de Aquino

Em Santo Tomás encontra-se a maior representação da filosofia escolástica, e sua


filosofia é considerada como um preambulum fidei (preparação para a fé), porque ele
entendeu o papel da filosofia, como serva da teologia. Sendo assim, apresenta a possibilidade
- que não era um dificuldade para a escolástica entender - que existe a plena possibilidade da
Filosofia caminhar junto a Teologia, no sentido de orientar a razão, porque a verdade é única:
Deus, que é o autor da natureza e da revelação.
A teoria do conhecimento de Tomás se baseia na seguinte afirmação: o primeiro a ser
conhecido é o ente (Ens est primum cognitum), e pode-se colocar quatro fundamentos para o
processo de conhecimento: Species Sensibilis, Species Intelligibilis, Species Impressa e
Species Expressa. O primeiro - species sensibilis - diz respeito a tudo o que o homem
conhece passa primeiro pelos sentidos, e isso forma no intelecto uma representação sensível
mesmo com as características específicas. O segundo - species intelligibilis - trata-se do
produto do intelecto, que abstrai a essência e o que há de comum na espécie, ou seja, é o
produto intelectual. O terceiro - species impressa - se refere ao conteúdo armazenado na
memória. E, por fim, a species extensa, que diz respeito à representação mental que o homem
tem do espaço e da extensão física.

6 A VERDADE E O CONHECIMENTO
6.1 Noção de verdade

Acerca da verdade, Santo Tomás de Aquino, em sua suma teológica, diz que é
adequatio rei et intellectus (adequação da inteligência às coisas). Dessa forma, o Aquinate
apresenta a verdade lógica, diferenciando-se da verdade ontológica, que é a capacidade do
ente ser conhecido pela inteligência. Com isso, é possível dizer que a verdade existe quando é
formada de um objeto que corresponde ao o que ele é na realidade, trazendo uma íntima
relação entre a ideia e a realidade. O resultado dessa adequação é o próprio conhecimento da
coisa na realidade.
A causa da verdade é a própria coisa que se encontra no intelecto. Concomitantemente
a isso, Aristóteles diz que o conhecimento se dá pela potência da alma conhecer todas as
coisas; e se o homem busca conhecer todas as coisas, é possível afirmar que o homem se
conforma às formas materiais. Com isso, duas realidades são bastantes presentes: o ser e o
intelecto; o primeiro rege o segundo.

6.2 A verdade e o ente

Tomás de Aquino afirma que a verdade do ente depende do grau de ser que ela possui,
ou seja, quanto mais “Ser” ela possui, mais verdadeiro será. Ao dizer que o ente possui mais
ou menos ser, deve se entender que os ente finitos são mais ou menos verdadeiros na medida
da participação no ser divino.
Diferentemente do idealismo, que fundam o conhecimento no ato de pensar as coisas,
ou seja, para eles é o ente que dita a verdade, e não a verdade presente nas coisas; e, dessa
forma, o ente e a verdade - segundo essa visão - carece de fundamento real.
Em suma, a verdade no conhecimento deve ser fundamentada na verdade ontológica,
porque o homem conhece as coisas a partir do momento que ele tem contato com a coisas, e a
coisas transparece uma verdade, que será formada uma verdade no ente.

6.3 A verdade no conhecimento

A verdade não pode ser encontrada nos sentidos, porque ele não pode captar a
essência da coisa, mas apenas a imagem da coisa; e também não pode estar presente no
conceito, porque ele é somente a expressão verbal da ideia das coisas. Sendo assim, a verdade
no conhecimento se fundamente na verdade ontológica, pois o homem conhece a partir do
contato com a coisa. Ademais, a verdade se dá no juízo, pelo processo reflexivo sobre a coisa
é ou não é o que os sentidos captam. Somente o juízo é capaz de dizer algo verdadeiro ou
falso,

6.4 Estados da mente perante a realidade

A razão possui a potência de emitir juízos e proposições, ou seja, indução (do


particular ao universal) e dedução (do universal ao particular) , que podem ser mais ou menos
fundamentadas, e tal fundamentação será baseada nos meios que lhe são dispostos.
Que o homem pode alcançar a verdade é claro, mas não basta isso, é preciso discernir
alguns meios que irão assegurar a apreensão da verdade. Dentre eles, pode-se destacar o erro,
que pode ser entendido como o grau de falseabilidade.

6.4.1 O erro

Cada ação humana possui um objeto: o objeto da vontade é a bondade, dos sentidos a
beleza e o objeto do intelecto é a verdade. A verdade, segundo Tomás de Aquino, é a
adequação entre o intelecto e as coisas, logo, o erro pode ser entendido como a inadequação
entre o intelecto e as coisas. O erro em si, é um erro que a inteligência comete um erro ao
formar um juízo e, por vezes, ser levado pelas aparências que podem enganar.
Em suma, pode-se elencar três conceitos para basear a “inadequação entre o intelecto
e a realidade”, são elas: Nesciência, ignorância e o próprio erro. O primeiro diz respeito à
própria ausência do seber; o segundo, se dá pela carência do conhecimento que era devido;
por último, é a afirmação de algo falso como se fosse verdadeiro. Ademais, o erro pode sofrer
o influxo da vontade, mas aquela que busca a bondade, mas aquela que está afetada pelos
vícios e paixões.

7 MÉTODO FENOMENOLÓGICO

Tratando-se da fenomenologia, existe um nome que entra em pauta, que é Edmund


Husserl, sendo ele influenciado por Franz Brentano. Sendo motivado por sua crítica à ciência
positivista, buscou estabelecer um novo método para obter conhecimentos, que é o
fenomenológico. Tal método se baseia na apreensão da essência das coisas. Tal inovação
busca não apenas conhecer o ser ou sua representação, mas algo superior, que é entender
como se apresenta o fenômeno.
Antes de entrar na doutrina husserliana, basta entender o que a palavra
“fenomenologia” quer passar. Tal palavra advém da palavra fenômeno, trazendo a ideia de
voltar ao que a coisas quer passar, ou seja, conhecer as coisas como elas são apresentadas ao
homem. Husserl indica um caminho baseado no puro fenômeno como e mostra à consciência;
não se trata no conhecimento dos objetos, mas na consciência de tais objetos compreendidos
como fenômenos.

7.1 Subjetividade transcendental


Conforme exposto, o papel da fenomenologia, de acordo com Husserl, busca estudar a
significação das vivências da consciência. Entendendo tal vivência da consciência, irá se
tratar de um “voltar-se” para o interior, um interiorização; tal processo é denominado
transcendental. Dessa forma, a fenomenologia, além de buscar as vivências, se capta sempre
uma essência (eidos); as essências não são apenas resultados de uma abstração, mas são
maneiras do aparecer dos fenômenos.
Portanto, a essência também é algo dado à consciência. Assim como a intuição
empírica do individual é um dar-se do objeto individual originalmente, a intuição eidética é
um dar-se do eidos ou essência: objeto universal. A intuição de essências é um ato que se dá
originalmente e, enquanto tal, um ato à percepção sensível e não à imaginação. Por fim, para
que a fenomenologia seja ciência de rigor, Husserl exige três condições: ausência de
pressupostos, caráter a priori e evidência apodítica.

7.1.1 Ausência de pressupostos

A fenomenologia husserliana é um meio para chegar ao conhecimento, e tal caminho


deve ser absolutamente livre de pressupostos. Segundo Husserl, a fenomenologia, método
filosófico desenvolvido por ele, busca descrever as essências das experiências conscientes de
forma neutra, sem assumir qualquer pressuposto sobre a natureza do mundo externo ou da
mente. O objetivo é alcançar uma descrição rigorosa e imparcial das vivências e das
estruturas da consciência. Para o entendimento husserliano todas as crenças e pressupostos
distorcem a percepção e compreensão do mundo e, desta maneira, limita a capacidade de
alcançar um conhecimento verdadeiro, ou seja, para Husserl, estar livre de pressupostos é
extremamente necessário.

7.1.2 Caráter a priori

Para que a filosofia alcance um status científico rigoroso, é necessário que ela se
baseie em princípios universais a priori, em vez de dados empíricos ou fatos contingentes.
Essa é a abordagem adotada por Husserl, que parte de idealidades como fundamentos válidos
e independentes da contingência dos fatos. Essas idealidades constituem a prioridade radical
para todas as ciências.
Dessa maneira, a fenomenologia husserliana busca compreender as “coisas em si” em
sua inteireza e pureza, da maneira em que se apresentam à consciência, sem o dado empírico.
Em suma, busca estabelecer uma base certa e universal para as ciências, para chegar ao
conhecimento sem apoiar-se em fatos contingentes.

7.1.3 Evidência apodítica

Podemos dizer que o fim da fenomenologia se encontra na evidência apodítica, que


refere-se ao conhecimento certo, indubitável, inquestionável e irrefutável. Exemplificando: ao
observar um computador, conhecemos aquilo que é acidental de início e o conhecimento
precisa abstrair os acidentes para conhecer aquilo de mais essencial e é capaz de afirmar tudo
de mais essencial do objeto sem quaisquer erros, ou seja, seja o conhecimento livre de
quaisquer pressupostos e juízos.

7.2 A intencionalidade da consciência

O entendimento de Husserl acerca da consciência não é simplesmente um depositário


de lembranças e imagens; não se trata apenas disso. A consciência é uma atividade
direcionada às coisas, ou seja, uma intencionalidade que dá sentido às coisas. Portanto, a
consciência está sempre direcionada para as coisas e sempre visando algo. Exatamente isso
que é a intencionalidade para Husserl: nada é feito sem uma intenção. Logo, as coisas
apresentam fenômenos e a consciência apreende perfeitamente, e apreendendo, tem uma
intenção.

7.3 Redução ou epoqué

Se foi apresentada a intencionalidade, ela irá conduzir para uma redução; tal redução é
colocar as coisas entre parênteses das coisas que o senso comum concebe. Não se trata,
portanto, de uma eterna dúvida acerca das coisas existentes, mas o faz para se fundamentar
em algo indubitável. Sendo assim, a redução (epoqué) não pode ser entendida como a
tentativa de duvidar, é apenas a suspensão de quaisquer juízos para chegar ao irrefutável.
BIBLIOGRAFIA

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Fontes, 2007.

ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. Porto Alegre: Edipucrs, 1995.

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Brindes, Porto Alegre, 1985.

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MONDIN, Battista. Lógica, Semântica, Gnoseologia. Studio Domenicano, Bologna, 1999.


HUBER, Carlo. Crítica de Sapere. PUG, Roma 1998.

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