de pensamento filosófico consistia em fazer com obter a ciência, mediante a razão.
Isto quer dizer que
Colégio Nossa Senhora do Rosário. que seus interlocutores buscassem, através do a verdadeira instrução não deve consistir na Diretora: Maria da Conceição Lourenço. raciocínio e do reconhecimento de sua imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, Prof. Wilton Sampaio. ignorância acerca do assunto questionado, as mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, Conteúdo Programático para o 2º Bimestre de 2023. (1ª Etapa) certezas objetivas da própria razão, sem acessar à razão imanente e constitutiva de seu considerar os costumes da tradição e dogmas espírito humano, que tem um valor universal. Esta impostos. será a função didática da maiêutica socrática, que Filosofia Clássica Grega auxilia os partos das ideias do espírito, como sua Semelhante aos sofistas, Sócrates é mãe auxiliava os partos do corpo. cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica. Para ele, a única ciência Esta interioridade do conhecimento possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida científico – que não é absolutamente subjetivista, para os valores universais, não particulares. mas é a certeza objetiva da própria razão – Pois, segundo ele, o agir humano – bem como o patenteia-se no famoso dito socrático: “conhece-te a conhecer humano – se baseiam em normas ti mesmo” que, no pensamento de Sócrates, significa objetivas e transcendentes. O fim da filosofia é a precisamente consciência racional de si mesmo, moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é para organizar racionalmente a própria vida. mister conhecê-lo. Para construir uma ética é Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes necessária uma teoria. Por isso que, para de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, Sócrates, a gnosiologia deve preceder portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, Sócrates (470 ou 469 a.C.) é considerado o é prático, o prático depende, por sua vez, do ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um fundador da ciência em geral, mediante a doutrina teorético, no sentido de que o homem tanto poderoso impulso para o saber, embora o do conceito, assim como é considerado o fundador, opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo em particular, da ciência moral, mediante a doutrina malvado, o ignorante. O moralismo socrático é filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates de que eticidade significa racionalidade, ação fundado no mais radical intelectualismo, achou apenas a forma conceitual da ciência, não o racional. racionalismo, e que está contra todo seu conteúdo. # Universalismo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, Segundo este pensador, o procedimento Superação do relativismo dos sofistas ativismo. A filosofia socrática, portanto, limita- lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, se à gnosiologia e à ética, sem metafísica ou O relativismo dos sofistas havia introduzido científico, conceitual é, antes de tudo, a indução: isto cosmologia. na cultura grega uma indistinção entre os conceitos é, remontar do particular ao universal, da opinião à de justiça e injustiça, bem e mal, verdadeiro e falso. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, Para Sócrates, a única forma de sair desta concepção espírito dos conhecimentos errados, dos depois, determinado precisamente mediante a relativista era procurar definir conceitos universais preconceitos, opiniões; esta será a função definição, representando o ideal e a conclusão do que descrevessem a essência imutável dos seres, das didática da ironia, isto é, da crítica aos processo gnosiológico socrático, que julga nos dá o coisas e dos valores. Só neste plano de pretensos saberes oriundos dos costumes e da conhecimento da essência da realidade. universalidade se poderia encontrar o verdadeiro tradição. Sócrates, semelhante aos sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a Caracterização da Objetividade do Conceito saber, ultrapassando o relativismo sofístico. independência do sujeito em relação à Os sofistas, insistindo no perpétuo fluxo das Filho de um escultor e de uma parteira, autoridade e à tradição, a favor da reflexão coisas e na variabilidade extrema das impressões herdou as artes do pai e da mãe, tornando-se um livre e da convicção racional. Só assim será sensitivas dos sentidos, optaram pelo ceticismo escultor de almas e parteiro de ideias. Seu processo possível acessar o conhecimento verdadeiro e radical, alegando a impossibilidade absoluta e objetiva do conhecimento. Sócrates restabelece a reter tão-somente o elemento comum e imutável concreto percebido por nossos sentidos é uma cópia possibilidade do conhecimento determinando o que define sua essência ou natureza específica. A imperfeita do mundo das Ideias. No sentido verdadeiro objeto da ciência. este segundo processo pedagógico, em memória ontológico, os seres autênticos e verdadeiros são os da profissão de sua mãe, Sócrates o denominou seres ideais: entidades transcendentes do mundo O objeto da ciência não é o sensível, o de maiêutica ou engenhosa obstetrícia do das ideias. A ontologia de Platão pressupõe que algo particular, o individual, mas sim o inteligível, o espírito, que facilitava a parturição das ideias. só pode ser e existir no mundo sensível mediante a imutável, o universal definido em um conceito. Este participação ou imitação da ideia correspondente que conceito ou ideia geral obtém-se por um processo Pensamento Platônico se acha no mundo inteligível. por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, Platão (428/27-347 a. C.) Definição do mundo inteligível: Realidade eliminar-lhes as diferenças individuais, as Platão foi um filósofo e imaterial, eterna e imutável; mundo das Ideias, qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento matemático do período formas ou essências atemporais. Entendido em comum, estável, permanente, sua natureza clássico da Grécia Platão como tendo uma realidade autônoma, específica, sua essência. Por onde se vê que a Antiga, autor de diversos tanto em relação ao mundo sensível, do qual indução socrática não tem o caráter demonstrativo diálogos filosóficos e constitui o modelo perfeito, quanto ao do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à fundador da Academia pensamento humano (ideias subjetivas), sendo o lei, mas é um meio de generalização, que remonta em Atenas, a primeira ser essencial transcendente daquilo que existe no do indivíduo particular à noção de um conceito instituição de educação tempo e em nossos pensamentos (ideias universal a partir de propriedades comuns e superior do mundo imutáveis específicas. ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, O Método Socrático e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da ciência e da filosofia Em sua didática dialética, Sócrates adotava ocidental. Acredita-se que seu nome verdadeiro sempre o diálogo, que se desdobrava de duas tenha sido Arístocles. Platão era um apelido que, maneiras, conforme se tratasse de um adversário a provavelmente, fazia referência à sua confrontar ou de um discípulo a instruir: característica física. 1. No primeiro caso, Sócrates assumia Em linhas gerais, Platão desenvolveu a humildemente a atitude de quem aprende e ia Solução Platônica ao Problema Filosófico noção de que o homem está em contato multiplicando as perguntas até convencer o permanente com dois tipos de realidade: a de Heráclito e Parmênides adversário presunçoso de sua evidente contradição, inteligível e a sensível. O problema que Platão se propõe a resolver levando-o ao constrangimento humilhante em com essa Teoria dos dois Mundos é a tensão entre reconhecer sua ignorância. Este método didático A realidade inteligível é o mundo da Heráclito e Parmênides. dialético corresponde a ironia socrática. eternidade, imutabilidade, imaterialidade, transcendência, constituído pelas essências, Para Heráclito, o Ser é o devir, cujo princípio 2. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e formas ou ideias (a ideia para Platão não é como essencial é a mutabilidade, que explica e justifica a era muitas vezes o próprio adversário vencido), para nós uma coisa mental, mas é algo de transformação incessante da realidade temporal. A multiplicava-se ainda mais as perguntas, dirigindo-as objetivo, real e eterno). permanência ou imutabilidade de qualquer coisa ou agora com um intuito de obter, por meio do que ser é uma ilusão; tudo está em constante movimento A realidade sensível é o mundo empírico e denominou de indução, o conceito essencial do e transformação. material em que vivemos; mundo da objeto em questão. A indução socrática parte dos mutabilidade, da pluralidade, da transitoriedade e Para Parmênides, a mutabilidade não pode casos particulares e concretos, eliminando suas da ilusão; mundo dos sentidos (audição, visão, constituir a verdade do Ser; o devir é pura ilusão. diferenças individuais e qualidades mutáveis a fim de paladar, tato e odor). Pois, para Platão, o mundo Pois, se o Ser é a verdade, não preciso deixar de ser aquilo que já é. Portanto, deve ser necessariamente força de transcender ao fluir das sensações? todo verdadeiro deve ser algo de imutável, sempre imutável, transcendente, atemporal. Essa foi a pergunta que Platão se fez e que o idêntico consigo mesmo. Portanto, o verdadeiro é preocupou, desde o início da sua reflexão. No eterno e atemporal. Por séculos afora, este conceito Heráclito, para Platão, é o filósofo que Mênon, diálogo que constitui uma primeira de verdade dominou o pensamento e a filosofia explica o mundo em que vivemos e que, de fato, está etapa do esforço especulativo de Platão, a ocidental. Assim Platão desenvolve a partir da em devir. O fluxo eterno existe. O engano de Teoria das Ideias já se encontra elaborada: ao metafísica de Parmênides e do conceito universal de Heráclito estava em considerar o devir como a mundo subjetivo do conceito corresponde o Sócrates sua concepção filosófica de verdade. totalidade do real, quando é apenas a marca do mundo objetivo das Ideias. Pois, segundo mundo sensível, isto é, do mundo das coisas # A Sensibilidade Platão, existe um mundo de realidades ideais. materiais e corpóreas, submetidas ao nascimento, à Esse é o mundo da inteligibilidade plena, o Mas de onde nos vem o conhecimento da transformação e à corrupção. O devir é a realidade fundamento de todo o processo racional, o verdade? Seguindo a tradição racionalista grega, do mundo das aparências, percebidas por meio dos mundo real por excelência. Platão assevera que a sensibilidade não pode ser a nossos sentidos. Em razão de o mundo sensível ser o fonte da verdade. A sensibilidade designa tanto a mundo das aparências e das transformações, nele e # Sobre o Conceito de Verdade percepção subjetiva sensível que temos das coisas, dele só podemos ter opiniões (doxa). Há dois conceitos clássicos como como também o mundo objetivo dos sentidos, o Parmênides, segundo Platão, encontra-se definições da verdade: mundo dos corpos dispostos no espaço e no tempo. mais próximo da verdade do que Heráclito. Ao exigir Não pode ser o mundo dos sentidos porque ele é o 1º - A verdade pode ser uma propriedade do a identidade, imutabilidade, perenidade e mundo do vir-a-ser e do constante movimento, onde nosso pensamento e da nossa linguagem: é a singularidade do Ser, Parmênides foi o primeiro a nada permanece imutável, mas se transforma verdade lógica. Esta consiste em o nosso juízo e aproximar-se do mundo inteligível, isto é, do mundo continuamente. Esta era a tese de Heráclito, que nossas palavras concordarem perfeitamente com das formas incorpóreas e imateriais, imutáveis e Platão também conhecia. Se na realidade sensível a realidade que julgamos reproduzir no eternas. A identidade, imutabilidade, perenidade e tudo corre, tudo passa, tudo se transforma, não pode pensamento e na linguagem. singularidade das formas imateriais é a marca do haver no mundo dos sentidos nenhuma verdade. Uma mundo das essências ou das ideias. O engano de 2º - Mas, para Platão, a verdade deve ser vez que o conceito clássico de verdade aponta para Parmênides estava em supor que havia uma única também necessariamente ontológica, isto é, deve algo permanente, imutável, eterno, sempre igual a si essência, o Ser, quando, na verdade, existe uma significar uma propriedade do Ser. Se o Ser é mesmo. pluralidade de essências, que são as Ideias, como deve ser, então é verdadeiro: verdade # A Racionalidade conhecidas exclusivamente pelo pensamento. ontológica. Neste sentido falamos de ouro verdadeiro, flores verdadeiras, frutas verdadeiras, Segundo Platão, a fonte da verdade encontra- Sócrates descobre o conceito universal e etc. Em sua filosofia, Platão prioriza mais este se em nosso próprio espírito. Ele assevera que há em permite que o conhecimento se constitua em sua segundo sentido. nosso espírito um saber apriorístico. Ou seja, a essencialidade inteligível. Com ele, torna-se ciência e os conceitos retos já residem a priori na possível explicar a existência de um discurso válido, A distinção entre o verdadeiro ser e o ser alma humana. Os juízos de igualdade, de grandeza, para todas as pessoas e para todos os tempos. empiricamente existente, que não é verdadeiro de pequenez, do bem e do mal, do justo e do injusto, No entanto, Sócrates se contentara em ser, por estar compreendido entre o Ser e o não- do certo e do errado, enfim, de qualquer essência em evidenciar apenas a existência do conhecimento Ser, domina inteiramente toda a filosofia si, o ser humano já os têm em seu espírito. Platão os universal e necessário, que perdura apesar do platônica. Pois, em Platão, o empiricamente denomina de conceitos, pensamentos, ciência ou, fluir do mundo das sensações. Deixou, porém, não existente nunca se identifica totalmente com a simplesmente, “Ideias”. resolvida a questão da origem da universalidade e sua Ideia. Para ele, o verdadeiro é a própria # A Teoria da Reminiscência da necessidade do conceito, uma vez que os Ideia. A Ideia é a verdade ontológica do Ser. Segundo Platão, na pré-existência de nossa sujeitos humanos são eles também particulares e O pressuposto para ambas as alma, junto dos deuses, contemplamos as Ideias em contingentes. De onde provém aos conceitos a significações do conceito de verdade é o mesmo: sua realidade pura, cujas lembranças são despertadas em nós pelas percepções sensíveis que temos das últimos dias. Seu pai, Nicômaco, era médico e, a profundidade essencial e estrutural do Ser a partir coisas e dos seres em nosso mundo espaço-temporal. como tal, pertencia à corporação dos Asclepíades da realidade existencial dos próprios entes. Conhecer é, pois, reconhecer, é recordação de algo (de Asclépios, deus patrono da medicina). Assim, acusa a Platão de ter duplicado inútil já previamente sabido. Mas tais Ideias não têm seu Aristóteles, em relação a Platão, é um e prejudicialmente a realidade. Não existe o pretenso fundamento no mundo sensível, mas sim no mundo realista e, mesmo, um empirista. Sem abdicar Mundo das Ideias. O que existe é o mundo concreto inteligível. É esse conhecimento apriorístico que da fé racionalista do pensamento grego, canaliza possibilita ao homem ir além dos dados dos sentidos, dos indivíduos, o mundo da experiência (empiria). É sua filosofia, com certa teimosia de paixão, para por recordar a verdade contemplada e, por isso, já preciso, pois, renunciar a Teoria do Mundo das a análise do indivíduo e do concreto. É certo conhecida de sua alma. Ideias, e passar a pensar as coisas concretas que a que não podemos defini-lo como um empirista Portanto, segundo Platão, o conhecimento experiência nos oferece a partir da própria realidade ou positivista em termos modernos, pois sua verdadeiro não provém da experiência, mas se filosófica não se limita a fazer descrição do fato empírica. manifesta à consciência por meio da reminiscência. empírico em sua facticidade apenas, mas Platão, ao mostrar que há em nosso espírito um sustenta a concepção de que o fato transcende a Por assim pensar, Aristóteles revela-se um conhecimento imutável, cujo conteúdo tem valor própria facticidade e se explica e se realiza pensador realista, na medida em que se impõe a universal e a priori, supera a posição do relativismo numa estrutura metafísica imanente à própria tarefa de pensar o mundo concreto a partir da própria dos sofistas, tornando-se um dos primeiros grandes realidade sensível. Contudo, Aristóteles realidade empírica, material, ainda que não se limite adversários do materialismo e do empirismo. privilegia a realidade individual na dimensão propriamente aos dados factuais da realidade sensível que a sensibilidade a revela, imediatamente. em sua explicação filosófica. Paradoxalmente, Platão defende um idealismo realista. A ideia não é mera forma subjetiva, # Aristóteles Versus Platão com a qual o sujeito pensa a realidade. Ela é a # O Ser do ente. Platão concluíra que para pensar o ser própria essência do real; é nela que o real se Para Aristóteles, o que existe é, pois, o torna transparente para a inteligência. Aderir à empírico de forma objetiva deveria pensá-lo a indivíduo, isto é, aquilo que ele chama de ideia é aderir ao real, na sua fonte. O conceito partir do Ser ideal, suporte e origem do ser substância primeira: este corpo, aqui e agora, reflete a Ideia, em plano subjetivo, e é por isso empírico. Mas ele não ficou somente nisso. Ele diverso daquele outro corpo (da mesma espécie), que que Sócrates pôde considerá-lo fundamento do pensou que esse Ser ideal existe mesmo. Aliás, é está lá ou esteve lá; e diverso, é claro, dos corpos de discurso científico, de caráter necessário, a existência por excelência, plena, eterna, outras espécies. imutável e universal. Assim é superada a incorruptível. O ser empírico ficou pensado ameaça do relativismo e do ceticismo da Como é possível pensá-lo? Aristóteles como cópia imperfeita tendo por referência assevera que o conceito não é unívoco. Quando sofística. Portanto, como discípulo de Sócrates, Platão assegura na idealidade inteligível o essencial o Ser ideal. dizemos que um determinado ser é flor e é cheirosa, fundamento conceitual e universal da verdade. Aristóteles começa a distinguir-se de flor e cheiro são seres, mas o são analogicamente. Platão no momento em que rejeita sua Flor é substância (ousía), algo que está debaixo de concepção dualista da realidade. Para explicar (sub-stat); cheiro é acidente, algo que modifica, Pensamento Aristotélico com objetividade o fundamento ontológico do afeta e cai em cima da substância. Então posso mundo sensível não se faz necessário recorrer a afirmar que a flor é cheirosa e que ela não é Aristóteles nasceu em 384 existência de outro mundo, de outra realidade. A cheirosa. Basta que não seja ao mesmo tempo e sob a.C. na pequena cidade de Estagira possibilidade do conhecimento objetivo da (hoje Tessalônica), na costa realidade material deve ser buscada na estrutura o mesmo aspecto. noroeste da península da Calcídia. metafísica pertencente à própria realidade Todo ser indivíduo deve, pois, ser pensado Sua mãe, Festis, era originária de empírica. A razão teórica humana pode conhecer como composto de substância e acidente, seus dois Cálcis, onde Aristóteles viveu seus co-princípios ou binômios constitutivos. A substância é algo que permanece em Assim, a explicação do ser do ente ente é em sua essência. Portanto, as causas todas as mudanças do indivíduo. Os acidentes são individual está nele mesmo, isto é, no próprio ser primeiras nos dizem o que é, como é, por que é e aquilo que se modifica ao longo da permanência da do ente, sem necessitar recorrer ao Mundo das para que é um ente. São quatro as causas primeiras: substância. Substância e acidente são condições Ideias para explicá-lo. 1. Causa material, isto é, aquilo de que um ser é necessárias e suficientes para que se possa pensar, ao A Teoria do Hilemorfismo Aristotélico feito, a constituição de sua materialidade (a mesmo tempo, a permanência e a mudança dos proporção dos quatro elementos: água, fogo, terra e seres. São, pois, a própria estrutura real dos seres A metafísica da matéria-forma é ar); individuais. designada como hilemorfismo. O todo é aqui sempre anterior à parte. As partes são pelo todo, 2. Causa formal, isto é, aquilo que explica a forma Além do ser substancial e acidental, há e não o todo pelas partes. Todo devir é assim que um ser possui (por exemplo, o formato de uma mais dois co-princípios determinantes do ser do ente: orientado pela forma. Esta não é um produto árvore, de um homem, de uma mesa, de uma casa, o ato e a potência, que não são dois seres, mas final, mas determina, desde o princípio, o etc.). No pensamento aristotélico, a forma é modos de ser do Ser. Todo ser indivíduo, diz processo total do devir. Por detrás de todas as propriamente a essência do ente, aquilo que ele é em Aristóteles, é, pois, síntese de ato e potência, isto é, aparências, está a forma como a alma do devir. si mesmo ou aquilo que o define em sua identidade e síntese do que ele é e do que ele pode vir a ser. Devemos saber que a forma, em diferença com relação a todos os outros entes; Com esse binômio ou co-princípios (ato e Aristóteles, desempenha o mesmo papel que em potência) Aristóteles atinge o cerne da sua 3. Causa eficiente ou motriz, isto é, aquilo que Platão: ela determina a essência do ponto de interpretação do indivíduo físico, chamado por ele de explica como uma matéria recebeu uma forma para vista lógico e ontológico; é o ser propriamente móvel, pois sofre mudança. O movimento pode ser constituir sua essência (por exemplo, o ato sexual é a dito. Dirige o devir e é, por isso, o fundamento explicado do seguinte modo: mover-se não é passar causa eficiente ou motriz que faz a matéria do dos fenômenos. Quando se fala da forma, surge do nada ao Ser e vice-versa, o que seria absurdo. óvulo, ao receber o esperma, adquirir a forma de um imediatamente o conceito correlato de matéria. Nem passar do Ser ao Ser, que também é absurdo, novo animal ou de uma criança; o marceneiro ou Só com a forma não se pode fazer uma casa, diz como explica Parmênides. Mover-se é passar do ser carpinteiro é a causa eficiente ou motriz que faz a Aristóteles; é também necessária a matéria da potencial (potência) ao ser em ato (ato). madeira receber a forma da mesa; o fogo é a causa construção. eficiente ou motriz que faz os corpos frios tornarem- Um terceiro binômio vem à luz, quando A Metafísica Aristotélica se quentes, etc.); enfocamos o ser indivíduo, do ponto de vista estático e na sua clara manifestação de unidade e De modo breve e simplificado, os 4. Causa final, isto é, a causa que dá o motivo, a pluralidade. A unidade do ser é atribuída à forma. principais conceitos da metafísica aristotélica (e razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser Sua pluralidade é atribuída à matéria. Todos os que se tornarão as bases de toda a metafísica tal como ela é (por exemplo, o bem comum é a causa indivíduos da mesma espécie têm a mesma forma ocidental) podem ser assim resumidos: final da política; a felicidade é a causa final da ética; substancial (a mesma maneira de ser), realizando-se o Primeiro Motor Imóvel é a causa final do Os Primeiros princípios: são os três na diversidade que a matéria possibilita e, portanto, movimento dos seres naturais, etc.). princípios da lógica formal clássica, isto é, na diversidade de formas físicas. Essa doutrina de princípio da identidade, da não contradição e Conceito de Matéria: é o elemento físico de que Aristóteles foi chamada de hilemorfismo, por causa do terceiro excluído. Tais princípios dizem as coisas da natureza, os animais, os homens, os das duas palavras gregas: hylé = matéria, e morphé = respeito a estrutura da racionalidade humana. artefatos são feitos; sua principal característica é forma. possuir virtude potencial ou conter em si mesma As Primeiras Causas: Estas explicam o que a Com os três binômios ou co-princípios: possibilidade de transformação, isto é, de mudança. essência de uma coisa ou de um ente é, como substância e acidente, ato e potência, matéria e também a origem e o motivo da existência dessa Conceito de Forma: é o que individualiza e forma, Aristóteles pensa superar o monismo radical essência. Pois, para a cultura grega, o princípio determina uma matéria, fazendo existir as coisas ou de Parmênides, o pluralismo absoluto e cético dos causal explica não só o “porquê” de um ente os seres particulares; sua principal característica é heraclitiano e o idealismo platônico. existir, mas também “o quê” e o “como” esse ser aquilo que uma essência é. Conceito de Potência: é a virtualidade que está acidente. A humanidade é a essência primordial contida numa matéria e pode vir a existir, se for (animal, mortal, racional, voluntário), enquanto o atualizada por alguma causa (por exemplo, na acidente (magro, gordo, alto, baixo, negro, semente de uma árvore específica subjaz a branco) é o que, existindo ou não, nunca afeta o possibilidade de vir a ser uma nova árvore futura. ser da essência. A essência é o universal; o Assim sendo, na semente já temos a árvore em acidente, o particular. potência. Semelhantemente, a criança é em potência o adulto que virá a ser no futuro.). Conceito de Substância: é aquilo em que se encontram a matéria-potência, a forma-ato, Conceito de Ato: é a atualização de uma matéria onde estão os atributos essenciais e acidentais, por uma forma e numa forma. Dito de outra sobre o qual agem as quatro causas; em suma, é maneira, ato é a forma atualizada de uma potência o Ser propriamente dito. antes contida numa matéria. Observação: Potência e matéria são idênticas, assim como forma e ato são idênticos. A matéria ou Referências Bibliográficas potência é uma realidade passiva que precisa do ato ou da forma, isto é, da atividade que cria os seres MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da determinados. Graças aos conceitos de potência e filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 6ª ato, a metafísica aristotélica pode explicar a causa e edição. Rio de Janeiro: Jorge Zohar editora, a racionalidade de todos os movimentos naturais 2016. ou dos seres físicos, isto é, de todos os seres dotados LARA, Tiago Adão. Caminhos da razão no de matéria e forma. Refutando o pensamento de Ocidente: a filosofia nas suas origens gregas. Parmênides, Aristóteles ensina que o devir não é Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 2014. aparência nem ilusão, ele é o movimento pelo qual a potência se atualiza, a matéria recebe a forma e HIRSCHBERGER, Johannes. História da muda de forma. filosofia na antiguidade. (Tradução: Alexandre Correia). S. Paulo. Ed. Herder, 2014. Conceito de Essência: é a unidade interna e CHAUÍ, Marilena. Introdução à História da indissolúvel entre uma matéria e uma forma, filosofia: dos Pré-socráticos a Aristóteles. São unidade que lhe dá um conjunto de propriedades ou Paulo. Ed. Brasiliense, 2017. atributos que a fazem ser necessariamente aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um ser humano é por CHAUÍ, Marilena. Filosofia. São Paulo. Ed. essência ou essencialmente um animal mortal Ática, 2014. racional dotado de vontade, linguagem e afetividade, REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História gerado por outros semelhantes a ele e capaz de gerar da Filosofia. São Paulo. Ed. Paulus, 2014. outros semelhantes a ele, etc. SOUZA, Sonia Maria Ribeiro de. Um outro Conceito de Acidente: é uma propriedade ou olhar: filosofia. São Paulo. FDT, 2013. atributo que uma essência pode ter ou deixar de ter COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia: sem perder seu ser próprio. Por exemplo, um ser história e grandes temas. São Paulo. Ed. Saraiva, humano é racional e mortal por essência, mas é 2014. baixo ou alto, gordo ou magro, negro ou branco, por