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Estrutura do Ato de

Conhecer

1. Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva


Quais são as questões da epistemologia?

 Agora que vamos iniciar o estudo de uma nova disciplina filosófica, tratemos de
conhecer os principais problemas a que se dedica.

 A epistemologia é a disciplina que investiga problemas como:


 A natureza do conhecimento: o que é o conhecimento? O que determina o
conhecimento – o sujeito ou o objeto?
 A origem do conhecimento: qual é a fonte do conhecimento: a sensibilidade
ou
a razão?
 A possibilidade do conhecimento: o que podemos conhecer? Conhecemos a
realidade em si mesma? Podemos ter a certeza daquilo que conhecemos?
O que é conhecer?

 Conhecer é:
 uma atividade que se exprime num ato.
 um ato de apreensão de um objeto por parte de um sujeito.

 Os elementos fundamentais do ato de conhecer são:


 o sujeito: entidade responsável pela apreensão e interpretação dos dados do
mundo exterior à mente;
 o objeto: entidade apreendida pelo sujeito e passível de ser conhecida;
transcendente ao sujeito;
 a relação de conhecimento que aqueles estabelecem entre si.
Conhecer é…

“Conhecer é o ato pelo qual um sujeito apreende um objeto. O


objeto deve ser, pelo menos gnosiologicamente, transcendente ao
sujeito, pois, de contrário, não haveria apreensão de algo exterior.”
Ferrater Mora, Dicionário de filosofia, Lisboa, D. Quixote, 1980.
O processo de conhecimento

Condições para que haja conhecimento:

 contato ou relação entre sujeito e objeto;

 órgãos dos sentidos: recebem os estímulos do meio e transmitem ao sistema


nervoso central os dados do objeto;

 unificação ou configuração dos dados, dando-lhes uma forma e atribuindo-lhes


significado, de modo a construir uma representação mental do objeto.
Faculdades responsáveis pelo conhecimento

1. Sensação

2. Perceção

3. Entendimento/Razão
1. Sensação

 A relação mais imediata estabelecida entre nós e o mundo dá-se por via da
sensibilidade.

 Através dos órgãos dos sentidos somos capazes de captar diferentes aspetos da
realidade.

 Os sentidos são as vias de contato mais imediato entre o ser humano e o mundo
exterior.

 A sensação é o resultado da organização das características dos objetos apreendidos


pelos órgãos dos sentidos.
2. Perceção

 A perceção:

 é o processo cognitivo de descodificação, classificação e organização dos


dados
provenientes das sensações;
 permite-nos criar imagens dos objetos;

 introduz diferenças no modo como diferentes sujeitos interpretam o mundo.


3. Razão/entendimento

 Esta é a faculdade responsável por interpretar de forma lógico-racional os dados


percecionados.

 Através do entendimento, passamos de um nível sensível, ainda não totalmente


organizado, para um nível de unificação da informação e da sua transformação em
conhecimento.

 Pelo entendimento, somos capazes de criar teorias e leis para compreender e


explicar os fenómenos; somos capazes de fazer ciência e filosofia, por exemplo.
Em síntese…

Sensação Perceção Razão/entendimento


 Receção, através dos órgãos  Decodificação, organização  Estabelecimento de relações
dos sentidos, dos dados a e classificação dos dados dos lógicas entre os dados
organizar. sentidos; percetivos.
 Elaboração de imagens.  Elaboração de
representações mentais
abstratas.
 Elaboração de leis e teorias
para explicar e compreender o
funcionamento da realidade.
Tipos de conhecimento
 Que tipos de conhecimento existem?

 Iremos distinguir três tipos de conhecimento:

 Conhecimento de aptidão ou “saber-como”: trata-se do conhecimento prático


ou saber-fazer. Exemplo: saber andar de bicicleta.
 Conhecimento por contacto ou “conhecer algo ou alguém”: é o conhecimento
direto ou presencial de um objeto. Exemplos: conhecer Paris, conhecer a Ana.
 Conhecimento proposicional ou “saber que”: é o conhecimento expresso em
proposições do tipo S sabe que P. Descreve um estado de coisas do mundo ou
um
facto. Exemplos: “Sei que amanhã é sexta-feira”; “Sei que estou no 11º ano”.
O conhecimento como crença verdadeira justificada –
Platão

 Teeteto, de Platão, é a obra de referência da chamada conceção tradicional de


conhecimento.

 Neste diálogo, avança-se com algumas possibilidades de definição de conhecimento,


até que se chega à definição que permaneceu por mais tempo na filosofia ocidental.

 1ª definição: o conhecimento é a opinião verdadeira.

 2ª definição: o conhecimento é a crença verdadeira acompanhada de explicação


(logos).
O conhecimento como crença verdadeira justificada –
Platão

 Platão rejeita a 1ª definição: o conhecimento não é apenas uma crença verdadeira.

 Platão distingue “estar na posse da verdade” de “conhecer” alguma coisa, ou seja,


distingue opinião verdadeira de conhecimento ou saber.
 “A opinião carente de explicação encontra-se à margem do saber.”
(Platão, Teeteto - ver manual p. 142)

 Para que haja conhecimento, a crença verdadeira tem de ter uma justificação ou
explicação.
O conhecimento como crença verdadeira justificada

 Esta conceção, de matriz platónica, é também chamada definição tripartida de


conhecimento. Tripartida, porque nela se estabelecem três condições para que haja
conhecimento:

 a existência de uma crença;

 a verdade dessa crença;

 a justificação da crença;

 Se consideradas conjuntamente, são condições suficientes para que haja


conhecimento.

 Se consideradas separadamente, são apenas condições necessárias.


Discussão da definição tradicional de
conhecimento

 Na filosofia contemporânea, Edmund Gettier foi um dos filósofos a colocar em


questão a definição tradicional de conhecimento.

 Para tal, recorreu a contraexemplos.

 Nos contraexemplos, verifica-se que:

 P é verdadeira;

 S acredita que P;

 S tem uma justificação para acreditar que P.


Discussão da definição tradicional de
conhecimento

 Os dois contraexemplos elaborados por Gettier são situações em que as três


condições estão conjuntamente suficientes sem que seja possível afirmar que S sabe
que P.

 Gettier quis demonstrar que as três condições avançadas pela conceção tradicional
de conhecimento podem não ser suficientes para que haja conhecimento
proposicional.

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