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MINISTÉRIO DA SAÚDE

CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

CUIDADO, EDUCAÇÃO E
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


E-BOOK 21

Brasília (DF)
2023  
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS)
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE (CONASEMS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRS)

CUIDADO, EDUCAÇÃO E
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

PROGRAMA SAÚDE COM AGENTE


E-BOOK 21

Brasília (DF)
2023  
2023 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra,
desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde:
bvsms.saude.gov.br

Tiragem: 1ª edição – 2023 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações: Coordenação-geral: Designer educacional:


MINISTÉRIO DA SAÚDE Cristiane Martins Pantaleão – Conasems Alexandra Gusmão – Conasems
Secretaria de Gestão do Trabalho e da Hishan Mohamad Hamida – Conasems Juliana de Almeida Fortunato – Conasems
Educação na Saúde Leandro Raizer – UFRGS Pollyanna Lucarelli – Conasems
Departamento de Gestão da Educação na Luciana Barcellos Teixeira – UFRGS Priscila Rondas – Conasems
Saúde
Coordenação-Geral de Ações Estratégicas
Direção técnica: Colaboração:
de Educação na Saúde – CGAES
Isabela Cardoso de Matos Pinto - SGTES/MS Antonio Jorge de Souza Marques –
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D,
Célia Regina Rodrigues Gil – DEGES/SGTES/MS Conasems
Edifício PO 700, 4º andar
Daniela Riva Knauth - UFRGS
CEP: 70719-040 – Brasília/DF
Organização: Josefa Maria de Jesus – SGTES/MS
Tel.: (61) 3315-3394
Núcleo Pedagógico do Conasems Katia Wanessa Silva – SGTES/MS
E-mail: sgtes@saude.gov.br
Lanusa Terezinha Gomes Ferreira -
CGAES/MS
Supervisão-geral:
Secretaria de Atenção Primária à Saúde Marcela Alvarenga de Moraes – Conasems
Rubensmidt Ramos Riani
Departamento de Saúde da Família Marcia Cristina Marques Pinheiro –
Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Conasems
Coordenação técnica e pedagógica:
7º andar Rejane Teles Bastos – SGTES/MS
Cristina Fatima dos Santos Crespo
CEP: 70058-90 – Brasília/DF Roberta Shirley A. de Oliveira – CGAES/MS
Valdívia França Marçal
Tel.: (61) 3315-9044/9096 Rosângela Treichel – Conasems
E-mail: aps@saude.gov.br Suellen da Silva Ferreira– SGTES/MS
Elaboração de texto:
Kellin Danielski
Secretaria de Vigilância em Saúde Assessoria executiva:
Pedro José Santos Carneiro Cruz
SRTVN 701, Via W5 Norte, lote D, Conexões Consultoria em Saúde LTDA
Edifício PO 700, 7º andar Antonio Jorge de Souza Marques
Revisão técnica:
CEP: 70719-040 – Brasília/DF
Andréa Fachel Leal – UFRGS
Tel.: (61) 3315.3874 Coordenação de desenvolvimento gráfico:
Diogo Pilger – UFRGS
E-mail: svs@saude.gov.br Cristina Perrone – Conasems
Érika Rodrigues De Almeida – SAPS/MS
Fabiana Schneider Pires – UFRGS
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS Diagramação e projeto gráfico:
José Braz Damas Padilha – SVS/MS
MUNICIPAIS DE SAÚDE – Conasems
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Patrícia Campos – Conasems Alexandre Itabayana – Conasems
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CEP: 70058-900
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Tel.:(61) 3022-8900

Fotografias e ilustrações:
Núcleo Pedagógico do Conasems
Biblioteca do Banco de Imagens do
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CEP: 30180-150 Belo Horizonte/MG
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Freepik, Brasil Escola e Wikipédia
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Av. Paulo Gama, 110 - Bairro Farroupilha -
Porto Alegre - Rio Grande do Sul Revisão ortográfica:
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Gehilde Reis Paula de Moura
Tel: (51) 3308-6000 Keylla Manfili Fioravante

Normalização:
Luciana Cerqueira Brito – Editora MS/CGDI
Ficha Catalográfica

Brasil. Ministério da Saúde.


Cuidado, Educação e Comunicação em Saúde[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. – Brasília : Ministério da Saúde, 2023.
xx p. : il. – (Programa Saúde com Agente; E-book 21)

Modo de acesso: World Wide Web:


ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x

1. Agentes Comunitários de Saúde. 2.Cuidado, educação em saúde. 3. Comunicação em Saúde. I. Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde. II. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. III. Título.
CDU 614

Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2023/0xxx


Título para indexação:
Care, Education and Communication in Health
OLÁ AGENTE!

Esse é o seu e-book da disciplina Cuidado, Educação e Comunicação


em Saúde. Certamente você já ouviu falar, ou leu, sobre a Educação
em Saúde e o papel central e estratégico dela para a construção e
consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo na
organização de práticas de saúde, que sejam humanizadoras,
emancipadoras, resolutivas e integrais.

Agora, nosso convite é para que sigamos as discussões, com base no


conhecimento prévio sobre esse tema. A partir de saberes
anteriormente obtidos, quer em conversas, em leitura de panfletos,
em revistas, em cursos, entre outros, de modo que consigamos
apresentar nossas reflexões e elaborações sobre tal assunto.

Estude este material com atenção e consulte-o sempre que


necessário! Acompanhe também a aula interativa, a teleaula e realize
as atividades propostas para assimilar as informações apresentadas.

Bons estudos!
LISTA DE SIGLAS E
ABREVIATURAS
ACE | Agente de Combate às Endemias

ACS | Agente Comunitário de Saúde

CNEPS | Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde

EPS | Educação Popular em Saúde

PICSs | Práticas Integrativas e Complementares em Saúde

PNAB | Política Nacional de Atenção Básica

PNEPS-SUS| Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS

PSF | Programa Saúde da Família

UBS | Unidades Básicas de Saúde

SUS | Sistema Único de Saúde


LISTA DE FIGURAS
31 | Figura 1 - Normatização na educação.
38 | Figura 2 – Modelo de educação baseado na transmissão.
40 | Figura 3 - Passos do método do Arco de Maguerez.
41 | Figura 4 : Passos do Método do Arco de Maguerez
exemplificado.
66 | Figura 5 - Comunicação e conexão entre profissional e
usuário.
74 | Figura 6 - Tirinha sobre Participação Social.
80 | Figura 7 - Participação da sociedade na diversidade de
pessoas e seus diálogos.
SUMÁRIO

7 O CUIDADO EM SAÚDE

19 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OS
VALORES HUMANOS NAS RELAÇÕES

25 COMO COMEÇAR AS PRÁTICAS DE


EDUCAÇÃO EM SAÚDE

35 ABORDAGENS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE

47 EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE

58 CAMINHOS E ALTERNATIVAS PARA CONSTRUIR


PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE COERENTES
COM A INTEGRALIDADE E A PROMOÇÃO DA SAÚDE

62 COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

72 PARTICIPAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE

84 RETROSPECTIVA

86 BIBLIOGRAFIA
O CUIDADO EM
SAÚDE
Reflita um pouco sobre a
seguinte questão: em que
medida você se considera
Cuidador (a) em Saúde?

Como profissionais de saúde, nossa missão para com os usuários e


usuárias não é simplesmente “atender”, mas principalmente “cuidar”.
O ato de cuidar significa estar junto dessas pessoas nos momentos
mais difíceis de crise e insegurança resultantes do processo de
adoecimento. Normalmente, a doença mobiliza uma série de
sentimentos e emoções e, dependendo das circunstâncias e das
implicações familiares, um processo de adoecimento pode gerar
muitas incertezas, medos, anseios e dilemas para os indivíduos e seus
familiares. Assim, cuidar não é apenas dizer às pessoas o que devem
fazer, tampouco como devem fazer.

Cuidar é, sobretudo, orientá-las e apoiá-las,


acompanhando-as e demonstrando que
estamos disponíveis para auxiliar no
enfrentamento desse processo.

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Você, Agente Comunitário de Saúde (ACS) ou Agente de Combate às
Endemias (ACE), convive cotidianamente com os usuários, e conhece
de perto:

E os desafios em
As realidades; Os dramas; busca da saúde e
do bem-estar.

Mas é importante destacar que, embora se entenda que cuidar é estar


junto, não significa enfrentar os problemas pelas pessoas. Cada um
vive sua realidade, e o seu papel nesse processo é atuar como apoio
firme, solidário e efetivo, que inspire, motive e impulsione as pessoas a
seguirem com perseverança os caminhos do seu próprio cuidado.

Na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), o cuidado está


destacado na forma de aproximação e articulação com o princípio da
integralidade em saúde. Com isso, a PNAB preconiza que o cuidado em
saúde deve se materializar por um processo de trabalho em saúde
que seja, efetivamente, centrado no usuário e em suas necessidades,
não somente em procedimentos profissionais técnicos e
especializados. O cuidado traz consigo a ideia de que nos importamos
com os usuários e que desejamos acompanhá-los e apoiá-los no
seguimento de seu processo de cura e reabilitação em saúde (BRASIL,
2017).

9
Eymard Vasconcelos (2008) nos diz que:

Cuidar significa ocupar-se, aqui e agora, dos problemas


passíveis de serem enfrentados, pondo-se à disposição de
acordo com as condições exigidas por eles e não nas
condições oferecidas tradicionalmente pelo serviço. [...]
Cuida-se dessas famílias em situação de risco não como
prêmio por perceber seu esforço ou sua assimilação das
orientações da equipe, mas como resposta ao direito à
cidadania de sujeitos vivendo situações que não lhes
permitem buscar e lutar pelos recursos existentes nos
precários e limitados serviços de saúde destinados às classes
populares. O apoio familiar não pode ser um último teste para
esta família se tornar operativa, mas espaço de vida a mais no
qual lhe propiciamos alguns dos novos suportes que possam
utilizar para compor seu próprio caminho de vida (p. 153).

É importante lembrarmos que


o cuidado é uma atividade
profundamente humana e
que, portanto, não é
atribuição restrita apenas aos
profissionais de saúde.

10
Se pensarmos bem, o cuidado está presente em nossas vidas de
diferentes maneiras e é manejado por diversas pessoas – por exemplo:
o cuidado de nossas mães e pais, avós e avôs, tias e tios, ou outros
parentes, ou mesmo amigos, entre outros. Em situações de
adoecimento diferentes, muitas vezes os primeiros a nos apoiarem,
não são necessariamente profissionais de saúde, mas pessoas que
estão próximas, que se importam conosco e que empenham suas
energias e dedicação para nos ajudar a enfrentar o adoecimento.

Se caminharmos um pouco mais para trás, na história, veremos que o


cuidado existe desde muito antes mesmo da prática da saúde e da
medicina. Desde a origem da humanidade, nas comunidades e
agrupamentos humanos, haviam pessoas com saberes e habilidades
voltadas para o cuidado - curandeiros, erveiras, rezadeiras, parteiras,
entre outros. Ainda é comum se deparar com pessoas com essa
competência que continuam a atuar e ter uma relevância para a
situação de saúde de seu povo, funcionando como apoio nos
processos de adoecimento e de busca pela qualidade de vida em
determinadas comunidades e territórios.

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Para exemplificar o que dissemos anteriormente, o professor Eymard
Vasconcelos (2009) nos apresenta diferentes possibilidades através
das quais o cuidado se expressa nas comunidades. Ele diz que
podemos dividir as práticas populares de saúde segundo a sua
localização social, da seguinte forma: a) práticas familiares ou
caseiras; b) práticas executadas por pessoas para sua renda
(raizeiros, rezadeiras e pais-de-santo); c) práticas dos movimentos
sociais locais.

Assim, podemos entender que o cuidado transborda o setor saúde,


sendo, portanto, uma característica humana, que, embora se expresse
em maior ou menor grau nas vidas das pessoas, sempre está presente
como possibilidade de apoio mútuo e social diante das crises e
problemas que aparecem em situações de dor e adoecimento.

Nosso desafio,
como profissionais
de saúde, é sermos
cuidadores em
saúde.
E isso exige desenvolvermos e aprimorarmos nossa capacidade de
estabelecer vínculos com os usuários e usuárias.

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Não apenas o vínculo formal imposto pela relação de adscrição do (a)
usuário (a) a nosso território, mas o vínculo no sentido expresso pela
PNAB, qual seja: a construção de relações de afetividade e confiança
entre usuários (as) e profissionais de saúde, permitindo que o
atendimento seja um encontro visando o apoio e à
corresponsabilização pela saúde, tendo um potencial terapêutico.

A percepção de não estar sozinho anima o usuário, ou usuária, a


encarar o enfrentamento dos problemas de saúde como um projeto
em parceria com a equipe de saúde.

Como saber se nossas práticas no


cotidiano de trabalho em saúde estão
sendo orientadas pelo conceito de
cuidado? Que tal um exemplo?

13
Imagine que a Agente Comunitária de Saúde (ACS) Bia realizará uma
visita domiciliar à casa de João.

Ele apresenta um quadro de obesidade, somado a outras


comorbidades, como hipertensão e diabetes. Porém, ele se recusa a ir
na Unidade Básica de Saúde (UBS) e não se dispõe a participar do
grupo de hipertensos e diabéticos.

O que Bia deve fazer?

14
Bia deve cuidar.
Em primeiro lugar, a orientação é fazer o
acolhimento de João em sua situação de saúde e
doença. Para isso, é preciso escutá-lo e entender
como ele se sente diante do problema em
questão – a obesidade e as demais
comorbidades. Procurar compreender seus
sentimentos, suas impressões, suas emoções e o
modo como ele está vivenciando essa situação.

Escutar primeiro significa que cuidar dessa pessoa exige, antes de


tudo, construir relações e conexões verdadeiras com ela. Conhecer
sua realidade, seus contextos, suas dinâmicas de vida, suas aflições
e dificuldades.

Para isso, ACS e ACEs têm a oportunidade privilegiada de visitar essa


pessoa sistematicamente, construir pontes e se aproximar para
compreender suas razões, ao mesmo tempo em que permite que a
pessoa compreenda as razões dos profissionais de saúde e a
necessidade de se cuidar.

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A cada visita, ao escutar primeiro, ACS e ACE vão conhecendo a vida
daquela pessoa e de sua família, sabendo mais sobre o trabalho da
família, a escola das crianças, a feira comunitária, as ansiedades de
alguns membros da família, as preocupações quanto à moradia, etc. O
problema ali exposto pode ir muito além da obesidade, e a
abordagem necessária exige muito mais do que a prescrição de uma
dieta pelo nutricionista. É necessário que se tenha em vista uma
abordagem que considere as condições de vida da pessoa, seu
trabalho, sua inserção escolar, sua participação comunitária, sua
cultura, seus gostos, seus anseios.

Assim, certamente, aos poucos, os (as) agentes podem constatar que


não seria suficiente simplesmente dizer ao usuário o que ou como
deveria comer. Entende-se que é necessário construir, com esse
indivíduo, com sua família e com os profissionais da saúde, os
caminhos do comer, considerando os obstáculos sociais locais e as
condições de cada família.

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16
Se há aproximação suficiente e criação de vínculos de confiança,
pouco a pouco o ACS e o ACE podem descobrir, por exemplo, que o
usuário em questão não cumpria dietas anteriormente prescritas a ele,
tanto pela questão de limites financeiros como pelos gostos e pelos
seus desejos e de sua cultura alimentar – aspectos importantes que
eram desconsiderados em tratamentos anteriores e que o fizeram
desanimar e até abandonar o tratamento.

Assim, cuidar não é impor normas de comportamento e tratamento


para as pessoas; como já dito, envolve acolher, escutar e educar, no
sentido de conversar, ensinar, aprender.

O que significa o
Cuidado para nós,
profissionais de
saúde?
O Cuidado é o nosso trabalho como
profissionais de saúde e, ao mesmo tempo,
é uma atitude humana que se expressa nos
mais variados espaços de nossa prática –
seja: nas visitas, seja nas campanhas, seja
nas ações comunitárias, seja nas reuniões e
nos grupos terapêuticos, seja nas atividades
coletivas, seja na sala de espera, seja nas
escutas individuais.

17
Trabalhar na saúde é cuidar das pessoas, onde quer que seja
necessário. Utilizando ferramentas como a Educação, a Comunicação
e a Participação Social em Saúde podemos ampliar e qualificar ainda
mais esse ato de cuidar.

Iremos, portanto, apresentar e discutir temas em torno da Educação,


da Comunicação e da Participação Social em Saúde, pensando de que
outras maneiras essas dimensões das práticas de saúde podem
constituir verdadeiros pilares que colaborem no sentido de
aprimorarmos as ações ofertadas em nossas equipes e caminharmos
ainda mais firmemente na direção de uma atenção à saúde
humanizada e marcada profundamente pelo cuidado.

11
18
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE E OS
VALORES
HUMANOS NAS
RELAÇÕES
A Educação está presente em nossas relações familiares, nas relações
de amizade, nas relações afetivas e nas nossas relações de trabalho e
no próprio trabalho. Frisamos tudo isso porque, muitas vezes, a
encaramos como algo que só tem sentido e expressão dentro de uma
sala de aula (virtual ou remota) de um espaço formal de ensino. Além
da escola, em todo o momento nós estamos em relação com o outro,
seja no ambiente familiar seja em outros vários contextos das nossas
relações de vida, durante o nosso dia a dia.

Em qualquer contexto
em que há duas
pessoas e uma relação
entre elas, existe uma
possibilidade de
aprendizagem.
Se, nessa relação, elas estiverem suficientemente abertas para isso, a
comunicação autêntica e profunda com alguém diferente trará novas
perspectivas, sentimentos, afetações e percepções.

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Além disso, a comunicação com
alguém com gostos diferentes,
opiniões e visões de mundo
distintas vai nos trazendo
conhecimentos, saberes e
experiências novas, o que vai
potencializando nossas
oportunidades de ampliar nossos
horizontes e nossa forma de
compreender e, portanto, de ser,
de estar e de agir no mundo.

E o inverso também acontece. Se nosso interlocutor se dispõe a nos


ouvir, a nos questionar, a se opor a nós ou a concordar conosco,
também estará acrescendo suas oportunidades de crescimento, de
reflexão, logo, assim como nós, podendo gozar de seu direito de ser, de
estar e agir no mundo.

Ao ter contato com outras visões de mundo e conhecer experiências


de outras pessoas, todos somos mobilizados a refletir sobre as nossas
próprias conceituações, opiniões, ideias. No contato com outras
pessoas e suas ideias, é possível que um mesmo assunto seja
percebido de maneiras muito diferentes.

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Estamos, portanto, falando da Educação como um
processo de formação permanente de todos -
homens e mulheres, enquanto humanos e como
cidadãos. O processo de educação acontece pela
comunicação com o outro e com o mundo, de forma
permanente: estamos sempre aprendendo com os
desafios e experiências vividas. Por isso, pensamos na
educação como um fenômeno humano.

Ainda que vejamos a Educação numa perspectiva abrangente, nosso


principal olhar na disciplina será para a educação como um processo
social que, apesar de orgânico (isto é, naturalmente concebido nas
relações dos homens entre si, dos homens com o mundo e com tudo o
que dele faz parte), pode ser construído, tecido, cuidado, pensado e
organizado para ser aprimorado e potencializado.

O trabalho na saúde está permanentemente recheado de


oportunidades de desenvolvimento de processos educativos, os quais
podem e devem ser preparados, pensados e organizados. Essas
oportunidades estão presentes, por exemplo, nas visitas às famílias,
nas orientações dos grupos comunitários, na participação na
construção de projetos terapêuticos singulares, na organização do
acolhimento e em todas as ações desenvolvidas dentro das Unidades
Básicas de Saúde (UBS).

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Ademais, a atualização de processos educativos também pode ser vista
nas ações que possam estar sendo desenvolvidas e protagonizadas por
ACS, ACE e outros (as) profissionais de saúde dentro de contextos de
cuidado e de atendimento clínico.

Diante dessas reflexões, fazemos as seguintes perguntas: em que


medida, ao desenvolver as atividades do cotidiano, pensamos nelas
como processos educativos? Como podemos fazer dessas ações
oportunidades de aprender mais, carregando cada vez mais
conhecimentos, saberes e experiências?

Ora, se pararmos para pensar um pouco, as ações que desenvolvemos


em nosso trabalho na saúde, no encontro com os usuários, constituem
momentos de uma relação educativa. Nesse caso, vivemos
constantemente com os (as) usuários (as) (e também com colegas de
profissão) uma relação educativa cujo objeto é a saúde.
Autores de referência na área da Saúde Coletiva nos ensinam isso.
Vejamos, por exemplo, essa fala de Paulette Albuquerque e de Eduardo
Stotz (2004, p. 264), que nos afirmam:

[...] toda ação de saúde é uma ação educativa. O processo de


promoção-prevenção-cura-reabilitação é também um
processo pedagógico, no sentido de que tanto o profissional
de saúde quanto o cliente-usuário aprendem e ensinam. Esses
conceitos podem mudar efetivamente a forma e os resultados
do trabalho em saúde, transformando pacientes em cidadãos,
co-partícipes do processo de construção da saúde.

23
Assim, não podemos perder
as oportunidades geradas
para nós, profissionais de
saúde, em nosso encontro
com os usuários, no sentido
de pensar o quanto podemos
aprender e ensinar sobre
saúde.

Ao conversar com as pessoas sobre como lidar com a saúde, diante


das questões e características próprias do território e da comunidade
com as quais interagimos, podemos ir ensinando e aprendendo
caminhos de cuidado, buscando juntos estratégias de promoção da
saúde e formas de prevenção contra agravos e doenças.

Além disso, ainda podemos pensar em estratégias de enfrentamento


às situações de exclusão e vulnerabilidade, para que as pessoas
possam, de fato, ter uma vida digna e feliz.

Mas, podemos nos perguntar: como começar um processo de


educação em saúde com essas características?

24
COMO COMEÇAR AS
PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE?
Entendemos que podemos iniciar
nossas práticas educativas em
saúde pelo estabelecimento de uma
relação significativa com os
usuários e usuárias, contemplando
a participação ativa destes em seu
processo de cuidado integral.
Para isso, é fundamental que as práticas de Educação em Saúde que
realizamos reconheçam e valorizem, como ponto de partida, seus
conhecimentos prévios. Em suas realidades, as pessoas vivenciam,
cotidianamente, experiências, com as quais vão aprendendo,
acumulando saberes, ideias e percepções próprias. São esses saberes
que denominamos de conhecimentos prévios.

Assim, o ponto de partida da Educação em Saúde não pode ser um


conjunto de temas e conteúdos técnicos que nós, profissionais,
decidimos ser necessário que as pessoas adquiram.

26
Devemos ter como ponto de partida o que as pessoas estão sentindo
e pensando, reverberando, ou seja, devemos começar nossa atuação
a partir dos problemas que as pessoas estão nos trazendo e dos seus
conhecimentos prévios. Nessa ótica, é preciso rever o todo, considerar
o nosso conhecimento e o conhecimento do (a) usuário (a) para,
juntos, buscarmos agir sobre uma determinada situação
(necessidade ou problema de saúde), a fim de refletir sobre
possibilidades de mudança.

Nesse fluxo de troca de informações


e de saberes, aprendemos,
evoluímos e nos responsabilizamos
pelo processo de cuidar da saúde.

Isso porque um dos principais objetivos da educação em saúde é a


transformação da realidade, ou seja, quando alguém envolvido na
ação educativa muda a forma de pensar ou de agir. No entanto, para
o usuário ou usuária se conscientizar, mudar a concepção que tem
sobre as coisas, ele (a) precisa refletir, associar o conhecimento que
recebe na ação educativa, agregar ou mudar o que pensa sobre o
assunto.

27
Quando uma pessoa hipertensa se conscientiza que o sal em excesso
pode fazer mal à saúde e faz uma horta em casa para substituir o sal
por alguns temperos, ele está mudando a forma de pensar e agir. Por
isso, transformou uma parte importante de sua realidade.

De outra forma, em uma ação educativa, você questiona os usuários e


usuárias do grupo sobre a alimentação, especificamente em relação a
redução do sal na comida, e pede para eles pensarem sobre
estratégias para modificar, e um deles comenta que, quando morava
com a mãe, ela cozinhava com muitos temperos, deixando a comida
gostosa e com pouco sal, o usuário está associando o que o ACS e ACE
falaram sobre o sal em excesso e refletindo sobre como ele pode
mudar para efetivamente reduzir e ajustar a alimentação.

Para esse processo de receber a informação e pensar sobre a


mesma, damos o nome de aprendizagem significativa. Nela, ao
processar a informação, o usuário faz relações que sejam
significativas para ele, como o caso do usuário se lembrar da horta
da mãe dele.

28
Paulo Freire, um importante educador brasileiro, descreve em seus
livros que cada um tem o direito de falar, partindo-se do conceito de
cidadania, em que todos somos cidadãos e, participantes ativos nas
relações da sociedade. Não há quem saiba mais ou menos, pois cada
um sabe assuntos com conhecimentos prévios acumulados ao longo
de suas vidas, ou mesmo com conhecimentos científicos adquiridos de
formas diferentes, vivenciados ou estudados. Por isso, todos aprendem
na atividade educativa.

Por essa visão, a Educação em Saúde constitui uma oportunidade


tanto de ensinar o usuário quanto, como profissionais de saúde, de
aprendermos com ele. Ao escutar o usuário, podemos conhecer a
percepção que eles têm do nosso trabalho. Isso nos ajudará a
acolhê-lo e a compreender suas reações diante das diferentes
situações que estão acontecendo no território ou na unidade e, até
mesmo, em relação ao nosso trabalho.

Com isso, em uma relação de Educação em Saúde, com a


participação crítica das pessoas, podemos, como profissionais de
saúde, promover a abertura de espaços e momentos para discutir
questões que nos possibilitem aperfeiçoar e aprimorar o nosso
trabalho. Poderemos, portanto, ser profissionais melhores, na medida
em que nos abrimos e nos dispomos a aprender com o usuário.

29
Essa postura de receptividade é também
necessária aos ACS e aos ACE, que moram no
território, e têm muito o que aprender a partir das
questões trazidas pelos usuários, pois cada
pessoa tem uma experiência própria e pode
expressar como ninguém os seus sentimentos
como usuário do SUS.

Para tanto, um elemento muito importante para se desenvolver a


Educação em Saúde, é tomar como ponto de partida a realidade
social conforme é vivenciada e sentida pelas pessoas. Não é, portanto,
o profissional de saúde quem deve dizer e, assim, normatizar quais são
os temas a serem discutidos dentro de cada momento específico de
uma prática educativa em saúde.

Por normatizar, nos referimos à ação daquele profissional que impõe


ao usuário o seguimento de normas de conduta, de vida e de hábitos
de saúde considerados corretos e adequados, mas que, muitas vezes,
os usuários não sabem como fazer, ou não faz sentido para eles, ou
não podem implementar, diante de situações e dificuldades sociais,
econômicas, culturais, entre outras. Usamos o termo normatizar
também porque, nesses casos, o profissional impõe medidas sem
considerar o que o usuário já sabe, o que quer, o que deseja e o que
pode fazer.

30
Na figura a seguir, observamos duas imagens. Na primeira, o professor
vê que os alunos têm pensamentos e ideias diferentes entre si, o que é
representado na figura por balões com formatos de desenho variados.
A figura mostra ainda que, diante dessa diversidade de pensamentos
e ideias dos alunos, o professor fica inquieto e aparentemente
incomodado. Na imagem logo abaixo, vemos que o professor se
encontra mais à vontade, apresentando sua forma de pensamento e
seus saberes, os quais parecem ser copiados/reproduzidos pelos
alunos, de maneira que o formato do balão representativo do
pensamento do professor é exatamente o mesmo daquele dos alunos.

Figura 1: Normatização na educação.

Fonte: Blog Mundo de Oz

O que aconteceu então, entre


uma imagem e outra desta
figura?

31
Ora, certamente, ao ver uma turma com pensamentos e ideias diferentes, o
professor atuou para “padronizar” os pensamentos e as ideias dos alunos de
modo que fossem reproduções/cópias dos seus próprios pensamentos e
ideias. Para isso, o professor foi depositando conteúdos dentro da cabeça dos
alunos, sendo que esses precisam pensar, agir e falar da mesma forma que
estão escutando, reproduzindo o conteúdo recebido. Essa maneira de
educação é denominada por método bancário e foi descrita por Paulo Freire.
O professor, nesse caso, está colocando de forma impositiva seu saber e sua
visão de mundo, “normatizando” ou “padronizando” os pensamentos e as
ideias dos alunos.

Assim, o mais importante para o desenvolvimento de ações de educação em


saúde no cotidiano do Agente Comunitário de Saúde (ACS) e Agente
Comunitário de Endemias (ACE) é que os conhecimentos a serem dialogados
sejam aqueles apresentados pelas pessoas, com base em suas dúvidas, seus
problemas, ansiedades, inquietações, ou seja, suas necessidades em seus
contextos de vida.

Com isso, queremos pontuar a


importância do processo de educação em
saúde ser voltado não para memorização
de conteúdos que deixem as pessoas
mais preparadas para atuarem sobre sua
situação de saúde.

Assim, se sentirão fortalecidas para buscar soluções para suas


necessidades e problemas de saúde, incluindo os determinantes e
condicionantes que estejam causando qualquer tipo de
vulnerabilidade social ou econômica, ou num contexto de injustiça
social e de iniquidades.

32
Por condicionantes e determinantes, estamos nos referindo a
aspectos importantes da situação de vida e de trabalho das pessoas,
que estão “no entorno” de sua saúde e influenciam as condições de
saúde delas e de suas famílias.

Ou seja, a situação de saúde das pessoas é resultado de vários fatores;


dentre eles, estão, por exemplo:

as condições de moradia, a infraestrutura de seu bairro, o salário


individual e a renda familiar, as situações de vulnerabilidade social às
quais estejam expostas, a casos de violência doméstica ou de gênero,
à situação de desemprego, a disponibilidade de opções de lazer, o
acesso a educação, a possibilidade de expressão de sua identidade
cultural, entre outros elementos.

Em muitas atividades educativas, os grupos de saúde que acontecem


na unidade de saúde são unidirecionais, ou seja, o profissional de
saúde fala sozinho, fazendo orientações impositivas, determinando o
que o usuário tem que fazer para melhorar sua saúde.

Em um grupo de saúde do adulto, não se pode orientar/determinar


que um usuário faça o café da manhã às 7h00min, o almoço, às
12h00min, às 18h00min, o jantar, e alimentar-se nos intervalos, se,
nesses horários, ele está trabalhando, buscando os filhos na escola.
Enfim, o que queremos lembrar é a necessidade de negociar a
orientação que é a mais adequada para a saúde das pessoas, de
acordo com suas condições de vida, até chegar no ideal possível.

33
E, mesmo assim, não se pode fugir do adoecimento, pois vários outros
fatores podem interferir, como a vulnerabilidade social, a questão
genética, falta de emprego e condição financeira, entre outros que
você já estudou em disciplinas anteriores.

Por isso, é preciso conversar com


o usuário, escutando o que ele tem
a dizer, como ele compreende e faz
adequações para a sua realidade e
as orientações oferecidas /
compartilhadas.
É preciso ver a Educação em Saúde, portanto, como processo de
ensino e de aprendizagem com conhecimentos que promovam uma
reflexão crítica sobre as necessidades e problemas de saúde de
maneira a se produzirem novas ideias, novos conhecimentos e novas
práticas, que possam contribuir com uma melhor qualidade de vida às
pessoas em seus territórios.

Antes de planejar a metodologia, é importante definir o método a ser


utilizado. Já abordamos um pouco sobre isso anteriormente, mas
vamos apresentar didaticamente o método educativo em duas das
formas possíveis de realização: bancário e problematizador
(BORDENAVE; PEREIRA, 1977; BERBEL, 1998; VIEIRA, PANÚNCIO-PINTO, 2015).

34
ABORDAGENS DE
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
O método
bancário: um
enfoque baseado
na transmissão de
informações
O método bancário foi assim denominado por Paulo Freire (2014),
que o caracteriza como método de educação tradicional, marcado
pela normatização e transmissão dos saberes, pois nele os alunos
recebem informações de forma meramente transmissiva, de “alguém
que sabe” (o professor) para “alguém que não sabe” (o aluno). Esse
modo de transmitir conhecimento, que podemos chamar de
unidirecional, foi chamado de bancário porque atua como se os
conhecimentos fossem “depósitos bancários” feitos pelos professores
nas ideias e mentes dos alunos.

Nesse método, são utilizadas estratégias de


memorização, repetição, adestramento/
condicionamento, explanação, narração apenas do
professor.

36
O responsável pela atividade educativa entra na sala, na qual
estão os usuários convocados (são obrigados a participarem, e em
troca, recebem outro tipo de atendimento como consulta médica e
de enfermagem, mensuração de pressão arterial, distribuição de
cestas básicas, entre outros), e inicia a exposição do conteúdo
sobre o tema planejado, com uso de projeção, de multimídia,
entrega de folder com a intenção dos usuários memorizarem o que
tem escrito, e, então finalizam o encontro.

Nesse método, os usuários só escutam e, na próxima vez que vem à


Unidade de Saúde são cobrados por aquelas informações que lhes
foram transmitidas, com abordagens do tipo “você já sabe sobre isso,
já foi falado no grupo”.

Essa forma de abordagem da educação em saúde corre o risco de ser


autoritária, com imposição de normas que deverão ser cumpridas pelo
usuário, a fim de prevenir ou curar a doença. Assim, a partir da escuta
das queixas e identificação de sintomas, prescrevem-se os “antídotos”
para regular a vida das pessoas em seus momentos de crise e de
enfrentamento aos problemas de saúde.

Essa forma de pensar a educação se expressa pela imposição de


saberes e de ideias para que as pessoas aceitem e assimilam de
maneira passiva.

37
Na ilustração da Figura 2, exemplificamos essa situação na maneira
como o educador simplesmente transmite várias letras a alunos que
estão quietos e passivos somente assimilando e “absorvendo”.

Figura 2: Modelo de educação baseado na transmissão.

Fonte: Disponível em:


https://modelos-pedagogicos.fandom.com/es/wiki/MODELO_TRADICIONAL

Podemos exemplificar esse enfoque com uma situação onde, ao


realizar uma ação educativa em um grupo com pessoas com
Hipertensão e Diabetes, o Agente de Saúde (ACS) e o Agente Combate
às Endemias (ACE) fazem uma palestra – sem debate - expondo a
importância da atividade física para o autocuidado e a qualidade de
vida das pessoas com Hipertensão e Diabetes. Ou, no mesmo grupo,
com uma explanação de um nutricionista sobre hábitos alimentares
adequados para prevenir complicações da hipertensão e da diabetes.

Nesses casos, a palestra e a explanação estariam recheadas de


orientações e recomendações do que seria considerado saudável e
indicado para a atividade física e a alimentação dos hipertensos e
diabéticos, mas sem escutá-los nas condições que esses dispõem (ou
não) em adotar essas orientações e recomendações.

38
O enfoque gira em torno do que as pessoas devem fazer para não
adoecer. Começa e termina na transmissão das orientações
consideradas preventivas. No exemplo citado aqui, o especialista
responsável pela palestra irá reforçar que “açúcar faz mal” à saúde do
diabético e que ele deve evitar comer doces e alimentos semelhantes,
que o hipertenso diminua o sal e corte de sua dieta as comidas
salgadas, entre outros. Quanto à atividade física, irá dizer a quantidade
de dias por semana e de horas por dia, e qual atividade deve ser feita.

O método
problematizador:
desenvolvendo o diálogo
de saberes
A segunda forma de praticar a educação em saúde, é chamada de
método problematizador (FREIRE, 2011). Problematizar significa pensar
sobre um determinado problema, investigando suas causas, suas
raízes, seus desdobramentos, suas repercussões e, principalmente, que
estratégias podemos lançar mão para superá-lo. Ou seja,
problematizar é o ato de pensar criticamente sobre um determinado
problema, estudando-o da melhor forma possível, para se produzir
formas de contorná-lo e superá-lo.

39
Nesse método, o diálogo está presente no relacionamento entre
professor e aluno, e esse tem uma postura mais ativa em sala de aula,
participando da condução realizada pelo professor (FREIRE, 1996).

Estão sentados em roda, o que facilita a comunicação entre eles. Além


disso, o professor tem a postura de mediação, traz um tema de que
seja do conhecimento dos alunos (pois esses são cheios de saberes),
para ser discutido em sala de aula, descobrir qual o problema
relacionado ao tema que surge, para então decidir pontos chave,
também entendidos como temas geradores de discussão ou
problemas que serão estudados.

Em seguida, o professor faz uma exposição sobre a temática -


conteúdo, seguida de atividades que solucionem o problema elencado
no início da discussão. E, por último, os alunos aplicam o conhecimento
novo à sua realidade.

40
Dessa forma, como descrito, são caracterizados cinco passos para
essa abordagem, de acordo com o método do Arco de Maguerez
(nome de um educador que criou esse método em 1966 para a
formação de técnicos agrícolas):

Figura 3: Passos do método do Arco de Maguerez

3º PASSO
Demonstração
do conteúdo.

4º PASSO
2º PASSO
Hipóteses de solução: propor
Dificuldades encontradas.
alternativas para as dificuldades.

1º PASSO 5º PASSO
Observação da realidade e elaboração Aplicação à
de um problema, com a exploração de realidade prática.
suas causas/consequências.

REALIDADE

Fonte: Os autores

41
Para cada um dos passos o professor planeja uma estratégia de
ensino e de aprendizagem, de acordo com o objetivo educacional que
se quer alcançar, podendo ser: conversar com o colega do lado; fazer
grupos de forma que conversem entre si; fazer um estudo de caso;
participar de um estudo dirigido; assistir a vídeos e filmes; fazer cenas
e dinâmicas com teatro; pedir a todos para falar o que sabem
(tempestade cerebral); construir algo de artesanato; fazer dinâmicas
com dança; fazer uma simulação; fazer um fórum; construir um mapa
conceitual; planejar projetos de ação; fazer uma exposição dialogada;
organizar um quiz, com jogos de pergunta e resposta; fazer dinâmicas,
entre muitos outros.

Exemplificando, no método problematizador o responsável pela


atividade educativa, no caso você ACS e ACE, acolhe os usuários
convidados para o encontro e os orienta a sentarem em círculo para
que conversem uns com os outros.

1º PASSO

Em seguida, inicia fazendo perguntas sobre um tema, por exemplo,


alimentação saudável, e pede que conversem em duplas, dentro de
um tempo determinado. Depois, as duplas dialogam sobre o que
entendem por alimentação saudável. Podem contar como fazem suas
refeições, quantas vezes ao dia, qual o tipo de alimento, se conhecem
a pirâmide alimentar, etc.

42
2º PASSO

Então o ACS e ACE consideram tudo o que foi falado, e, orientam que
cada um escreva em um papel uma palavra que represente uma
dificuldade sobre o tema, orientando um tempo para que façam, e ao
final desse pede que cada um fale e explique a palavra que escreveu.
O ACS e ACE questionam os porquês, até chegarem na definição da
dificuldade do grupo. Por exemplo, o que e como escolher os alimentos
(2º passo - dificuldades).

3º PASSO

Em seguida, você demonstra os alimentos saudáveis, como frutas,


verduras e legumes, coloca-os em um prato em uma mesa posta, e
explica como fazer escolhas saudáveis, para as refeições do dia, e,
também aborda alguns assuntos relacionados ao que os participantes
falaram no 1º passo (3º passo teorização).

4º PASSO

No passo seguinte (4º passo – resolução da dificuldade), o ACS e ACE


pedem que os usuários escrevam em duplas um cardápio possível de
ser feito. As duplas apresentam e os ACS e ACE complementam.

5º PASSO

E sintetizam no último passo (5º - retorno a realidade), combinando


que os usuários tentarão seguir seus cardápios na semana seguinte, e
agendariam uma consulta com o enfermeiro da Unidade de Saúde,
para acompanhamento.

43
Vamos sintetizar? Note
como a escrita dos passos
do Arco de Maguerez é feita:

Figura 4: Passos do Método do Arco de Maguerez exemplificado

1º passo - observação da realidade: pedir para os usuários


responderem o que entendem por alimentação saudável, e depois,
apresentação.
2º passo - pontos chave – dificuldades: atividade individual, usuários
escrevem uma dificuldade no papel, depois apresentação, e, definição
da dificuldade (resultado do grupo, como escolher os alimentos).
3º passo - teorização: demonstração dos alimentos e explicação sobre
as escolhas saudáveis.
4º passo - hipóteses de solução: propor alternativas para as
dificuldades. Atividade em dupla: escrever um cardápio.
5º passo – aplicação à realidade prática: combinar a aplicação do
cardápio por uma semana, e agendar consulta com enfermeiro para
acompanhamento.

Fonte: Os autores

O método problematizador traz várias possibilidades de pensar e de


fazer Educação em Saúde, que vão num sentido diferente do
tradicional. Ou seja, não no sentido da transmissão sem crítica de um
determinado conjunto de conhecimentos, mas na direção de as
pessoas se apropriarem desses conhecimentos de forma autônoma
(FREIRE, 2011).

44
Na trilha dos exemplos citados anteriormente, esse enfoque iria
contribuir para que as ações educativas do Grupo HiperDia incluíssem,
em sua programação, uma escuta das pessoas sobre as condições e
as dificuldades que as mesmas estejam enfrentando para se
alimentar conforme recomendado, ou para praticar as atividades
físicas conforme recomendado.

Infelizmente, as comunidades possuem


situações de pobreza econômica e
vulnerabilidade social que impedem os
hipertensos e os diabéticos de escolher a
alimentação adequada, ou mesmo de
realizar exercícios físicos.

Por esse enfoque, o Grupo HiperDia envolveria:


• primeiro uma escuta atenta e profunda das pessoas sobre como
estão vivenciado e encarando a questão alimentar e da atividade
física em seu cotidiano;
• depois o grupo poderia incluir momentos de acordos, de
planejamento e de execução de estratégias comuns de apoio, de
solidariedade e de ação colaborativa no sentido das pessoas
enfrentarem os obstáculos sociais que dificultam sua possibilidade
de acesso à alimentação de qualidade e à atividade física regular.

45
Assim, o Grupo giraria muito menos em torno de palestras expositivas,
e muito mais em torno de uma conversa com objetivos muito definidos
e voltados à viabilização de esforços coletivos para que as pessoas
tenham condições de ter uma situação mais adequada de saúde em
suas vidas.

É com base nessas reflexões, entre outras, que a Educação Popular em


Saúde (EPS) aparece como um enfoque relevante e de destaque,
sendo desenvolvida e aprimorada em várias experiências de saúde
comunitária desde os anos de 1970 (VASCONCELOS, 2004). A EPS tem
um embasamento na visão da saúde com suas determinações
sociais, e se propõe a construir uma ação educativa que privilegie,
como ponto de partida, as questões locais e o modo como as pessoas
reagem e convivem com os problemas de saúde.

34
46
EDUCAÇÃO
POPULAR EM
SAÚDE
Você se lembra?
Seguindo o que já foi abordado da disciplina “Política Nacional de
Educação Permanente e Política Nacional de Educação Popular em
Saúde”, iremos retomar os princípios da Educação Popular em Saúde, um
pouco do seu histórico e abordagens possíveis na rotina dos ACS e ACE.

Ao longo das últimas décadas, a EPS passa a


constituir não apenas um referencial para o
desenvolvimento de práticas educativas no setor
saúde, mas também configura um movimento
articulado de várias experiências, de práticas e de
protagonistas, que vai se espalhando país afora, com
diferentes iniciativas em variados setores.

Os atores que realizam a EPS recorrem a abordagens de construção


compartilhada de ações e de dinâmicas participativas de ensino e de
aprendizagem, principalmente por acreditar que enfoques de Educação
em Saúde diferentes dos dominantes precisam ser privilegiados (CRUZ et
al, 2020).

Mesmo tendo se originado a partir dos


aprendizados acumulados por uma série de
práticas ao longo do tempo, a EPS é embasada
em princípios e uma metodologia bastante
própria, tendo como principal referencial o
educador Paulo Freire, considerado um dos
maiores pensadores da pedagogia em todo o
mundo.

48
Na medida em que a Educação em Saúde predominava com uma
abordagem normativa, como frisamos anteriormente, os participantes
das práticas de EPS foram compondo suas experiências através da
articulação de elementos que eram importantes para a integralidade
da atenção, mas que eram ignorados pela abordagem bancária e
seus modos de orientar as pessoas.

Neste sentido, as práticas de EPS foram se constituindo, valendo-se


principalmente de uma ênfase na ideia da Promoção da Saúde, a qual
recomenda uma ação profissional que se articule de forma mais
ampla, que valorize a iniciativa da comunidade e de seus atores no
processo educativo, ao invés de uma abordagem que apenas repasse
conhecimentos aos usuários sem levar em conta o conhecimento que
já carregam.

Além do mais, o conceito de


Promoção da Saúde aponta para
a consciência da importância da
ação intersetorial (entre vários
setores, como saúde, educação,
assistência social, meio
ambiente, trabalho, entre outros)
e da atuação com foco na
característica multidimensional
dos problemas de saúde, com
atenção a suas interfaces sociais,
culturais, políticas, econômicas,
familiares e no trabalho das
pessoas.

49
A EPS compreende que a matéria-prima dos processos educativos em
saúde constitui, justamente, as experiências de vida e de trabalho das
pessoas, experiências as quais serão objeto de reflexão, discussão e
problematização para a construção de novos saberes. Em sua base, a
EPS envolve a crença de que todos nós temos conhecimentos, saberes e
práticas que vão sendo aprendidos e acumulados ao longo de nossas
vidas e, assim, ninguém está vazio de conhecimentos quando se vai
discutir qualquer assunto que seja (CARVALHO, 2007b).

Assim, a base para fazer a EPS está nas experiências prévias das
pessoas e nos modos como estão sentindo, pensando e agindo perante
suas realidades. As autoras Andreia Cardoso e Marilene Nascimento
(2010, p.1512) nos dizem que a expansão e o reconhecimento da EPS têm
estimulado vários serviços e experiências de nosso sistema de saúde a
incluir outras abordagens educativas em saúde, principalmente aquelas
de perfil dialógico, ou seja, baseado no diálogo. Para essas autoras, isso
é muito importante, pois:

Em consequência, acredita-se que o discurso sobre saúde que


invoca exclusivamente o saber técnico, do especialista ou do
administrador (modelo tradicional de educação em saúde)
perde gradativamente sua força, tendendo-se a uma maior
valorização do discurso de outros atores sociais, tais como as
famílias e as comunidades. O surgimento do Programa Saúde
da Família (PSF) expressa uma estratégia capaz de estimular
novas polifonias sociais a respeito da saúde

50
Quando estivermos desenvolvendo uma ação educativa junto a um
grupo de gestantes, a EPS irá nos orientar a não centralizar o grupo
em torno de uma palestra com especialistas sobre as recomendações
mais comuns para o período de pré-natal e os cuidados devidos
nesse momento; pelo contrário, o grupo poderá e deverá começar
com uma escuta coletiva das mulheres sobre como está sendo sua
gestação.

Assim, o ACE e o ACS podem mediar essa ação, estimulando uma


conversa franca e aberta com as gestantes, deixando-as à vontade
para trazer dúvidas que estejam em suas mentes, aflições que
venham sentindo e outras demandas de orientações que sintam
necessidade de saber a partir de suas realidades e contextos. Na
medida em que esse conjunto de questões surgirem nesse bate-papo,
o ACS e o ACE poderão tomar nota e, somente a partir de então,
acionar, junto com os demais profissionais da equipe, os saberes
técnicos e científicos para serem compartilhados no grupo.

Dessa forma, nos grupos orientados pela EPS,


esses saberes técnicos e científicos surgem
das necessidades das pessoas, não das
necessidades do profissional e do
especialista, a partir do seu julgamento
prévio.

51
Cabe pontuar também que, na concepção da EPS, esse grupo de
gestantes será também um espaço de apoio, de intercâmbio de
experiências e de solidariedade; para que as gestantes tragam suas
experiências pessoais (inclusive daquelas que já foram gestantes
anteriormente), bem como para que evidenciem necessidades de
apoio social, são fundamentais, pois na EPS o grupo é muito mais do
que um espaço que gira em torno de conhecimentos, é um espaço de
encontro para propiciar o apoio mútuo entre as pessoas no lidar com
suas questões de saúde.

Diante das necessidades apresentadas, um grupo de gestantes com


essas características poderá envolver também campanhas para que
as gestantes em situação de vulnerabilidade tenham enxovais, ou
mesmo articulação de visitas e consultas ao Centro de Referência em
Assistência Social do bairro para se verificar políticas públicas e
direitos das gestantes em situações de vulnerabilidade social.

Em 2013, foi publicada a Política Nacional de Educação


Popular em Saúde no SUS (PNEPS-SUS), a qual resultou de um
longo processo de construção compartilhada entre Ministério
da Saúde e outros órgãos e setores governamentais, com a
participação ativa de representantes de diferentes coletivos,
organizações e movimentos sociais dedicados à EPS em nível
nacional. Essa construção da PNEPS-SUS teve início em 2009,
com a criação do Comitê Nacional de Educação Popular em
Saúde (CNEPS) no Ministério da Saúde, o qual tinha
representantes do governo, de trabalhadores e da sociedade
civil – este Comitê liderou a formulação dessa Política.

52
A PNEPS-SUS aponta como seus princípios: I – diálogo; II –
amorosidade; III – problematização; IV – construção compartilhada do
conhecimento; V – emancipação; e VI – compromisso com a
construção do projeto democrático e popular. Ademais, indica
diretrizes e campos potentes de ação e contribuição da Educação
Popular em Saúde para o SUS, dentre os quais se destacam: I –
participação, controle social e gestão participativa; II – formação,
comunicação e produção de conhecimento; III – cuidado em saúde; e
IV – intersetorialidade e diálogos multiculturais (BRASIL, 2013).

A instituição dessa Política representa não apenas


uma conquista de movimentos e de práticas sociais e
populares, mas também de entidades e instituições
que, historicamente, priorizavam o trabalho com o
olhar pedagógico da EPS.

Tal conquista trouxe um reconhecimento das


contribuições potentes e significativas que
esse enfoque poderia agregar para as
realizações educativas em saúde nos vários
espaços do SUS.

53
No cotidiano das ações da equipe de Atenção Primária, a EPS pode ser
incorporada com várias estratégias diferentes.

Vamos destacar algumas?


Dentre as práticas mais comumente realizadas pela EPS, destacam-se
os grupos terapêuticos e os grupos de encontro comunitário; sejam
grupos de HiperDia, grupos de gestantes, grupos de idosos, grupos de
Saúde Mental, grupos de adolescentes, entre outros.

Nesses grupos, a EPS vai se expressar na medida em que garantimos a


realização frequente dos mesmos, e que nos encontros sejam
oportunizados aos usuários - por meio de diferentes dinâmicas - falar
sobre como está a sua saúde e como estão convivendo com os
problemas locais.

Em cada grupo, o diálogo será


conduzido de acordo com o tema do
grupo. Por exemplo, os hipertensos e
diabéticos devem ter espaço para
compartilhar como está sendo o
desafio e os dilemas de conviver com
hipertensão e diabetes; os
adolescentes podem trazer dúvidas,
curiosidades e dificuldades que sentem
nessa fase.

54
Dentre as dinâmicas possíveis para convidar as pessoas a partilhar sua
palavra, com seus depoimentos e reflexões, figuram várias
possibilidades, dentre as quais destacamos o uso de pinturas e
desenhos para expressarem o que sentem, e depois comentarem;
realização e montagem de cenas do cotidiano com interpretações
teatrais; produção de tarjetas/cartões com palavras-chave que
expressem como as pessoas se sentem; citação de músicas que
expressem os sentimentos de cada pessoa; entre outras.

Cada dinâmica irá depender do público participante e das condições


das pessoas quanto ao domínio da leitura, da escrita, etc. O importante
é pensarmos em formas de facilitar e convidar as pessoas a
pronunciarem seus pensamentos e reflexões, a partir dos quais iremos,
como profissionais e educadores, mediar uma conversa.

Nessa conversa, tanto podemos e devemos pedir às pessoas que


aprofundem os pensamentos e reflexões compartilhados, como que o
público participante comente e interaja com quem está falando.

55
Assim, os grupos de EPS vão se constituindo em reuniões,
principalmente voltadas para que as pessoas possam compartilhar
sentimentos, pensamentos e ações sobre a saúde e as questões da
vida. Elas têm liberdade e acolhimento de suas falas, e nós, enquanto
mediadores, costuramos estratégias de apoio social e solidariedade.
Assim, proporcionamos o enfrentamento adequado dos problemas
citados e desenvolvemos estratégias de superação mais potentes.

Costumamos chamar esses grupos de “espaços de encontro


comunitário e de convivência”, onde a construção solidária da saúde e
da qualidade de vida é a grande pauta. Neles, as pessoas são
cuidadoras umas das outras.

Esses espaços de EPS têm se multiplicado em várias equipes de saúde


da família no Brasil e vêm contribuindo muito para que nossas
unidades sejam orientadas não apenas pelas ações tradicionais de
vigilância e de atendimento clínico individualizado, mas contemplem
também agendas nas quais os usuários tragam questões do cotidiano
de forma aberta e possam discutir, com outros usuários e com os
profissionais, como estão lidando com os desafios diários para se
promover e preservar a saúde.

56
Outras ações importantes orientadas pela EPS podem consistir do
levantamento, identificação e aproximação com cuidadores populares
e tradicionais da comunidade, como rezadeiras, parteiras, erveiras,
fitoterapeutas populares, entre outras, no sentido de convidar essas
protagonistas a participar de algumas das ações da equipe e de que
algumas parcerias possam ser desenvolvidas na direção de se
potencializar o cuidado na comunidade.

Com conhecimento privilegiado do território, o ACS e o ACE poderão


reconhecer mais facilmente essas cuidadoras populares e frisar para a
equipe a importância das mesmas terem seus saberes valorizados,
inclusive na construção dos planos terapêuticos singulares dos
usuários, na melhor visualização da rede de apoio social local com a
qual os usuários contam, bem como também para a realização dos
grupos e demais ações educativas.

Finalmente, a EPS poderá também ser desenvolvida pela ação do ACS e


do ACE em identificar as principais lideranças comunitárias do território,
e criar oportunidades para que as mesmas tragam suas ideias e
propostas para a equipe, de maneira que o desenvolvimento das
ações do serviço possa ser qualificado a partir do olhar crítico de quem
vive no território e de quem já realiza lutas e trabalhos sociais no
sentido da garantia de direitos sociais e humanos.

Ou seja, que se tragam as


lideranças como parceiras nas
ações da equipe, especialmente
aquelas que envolvem a
necessidade de mobilização da
comunidade.

57
CAMINHOS E
ALTERNATIVAS PARA
CONSTRUIR PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
COERENTES COM A
INTEGRALIDADE E A
PROMOÇÃO DA SAÚDE
Você sabia que são variadas
as estratégias possíveis de
abordagem a grupos sociais,
especialmente a Família,
com o olhar da EPS?
Com elas, espera-se acima de tudo, criar espaços e contextos para o
diálogo das pessoas; ou seja, momentos de encontros nos quais não
se priorize a “palestra” de “alguém que sabe” para “alguém que não
sabe”, mas a reunião de pessoas para aprenderem e conviverem entre
si, em um processo através do qual questões relevantes de seu
cotidiano possam ir surgindo e, coletivamente, sendo discutidas.

Nessa perspectiva, em termos de estratégias de


abordagem, destacamos que a construção desses
espaços sociais é fundamental, realçando a
importância do caráter coletivo das ações educativas,
pois se aposta que as pessoas irão aprender umas com
as outras, a partir de suas experiências, e com base nos
elementos trazidos também pelos profissionais de
saúde, com sua formação técnico-científica.

59
Além disso, o estabelecimento de ambientes propícios ao diálogo e ao
encontro é fundamental também para possibilitar que a conversa não
gire apenas em torno da doença, mas que, principalmente, possa-se
conversar sobre questões da vida, ou seja, pelos gostos, habilidades,
desejos, anseios e inquietações das pessoas na sua vida e na relação
consigo e com os outros em seus territórios.

Em texto onde abordam a EPS na construção da Integralidade na


Atenção Básica, Paulette Albuquerque e Eduardo Stotz (2004) trazem
alguns exemplos de experiências de espaços sociais e de encontro
comunitário, em torno dos quais são desenvolvidos processos
educativos em saúde como: brinquedoteca; clube da terceira idade e
grupos de pessoas idosas; oficinas de artes; rádios comunitárias;
conselhos locais e conselhos populares de saúde; dinâmicas e
vivências com a linguagem do teatro.

60
Nesse mesmo texto, os autores também apresentam oficinas
educativas, voltadas para a criação de espaços de encontro para
conversa com os usuários em torno de linhas de cuidado, como saúde
da mulher, saúde da criança, saúde do homem, saúde mental, entre
outras; trabalho de acompanhamento a famílias em situação de
vulnerabilidade por meio de visitas domiciliares; uso de vídeos
artesanais, com depoimentos de usuários dos serviços de saúde e
pessoas da comunidade (esses vídeos funcionam como instrumentos
para a introdução de novos temas no debate dos grupos);
experiências com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICSs); iniciativas com dinâmicas de música e dança, incluindo
capoeira, danças afro-brasileiras, entre outras.

Amplie seus conhecimentos. Clique aqui e


saiba mais sobre as abordagens no
interior dos processos educativos. Se
estiver lendo este material no formato
impresso, escaneie o QR Code para fazer
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61
8
COMUNICAÇÃO EM
SAÚDE
Na Etapa Introdutória do Curso, o tema de Comunicação em saúde foi
abordado no Módulo ‘Linguagem e Comunicação’. Agora, iremos
pensar a comunicação como um processo que potencializa as
práticas educativas em saúde e qualifica também as iniciativas de
participação social e de construção colaborativa de nosso trabalho
com a comunidade.

Agora reflita:
comunicar é
transmitir ou
dialogar?
Durante nossa abordagem às Práticas Educativas em Saúde, falamos
que as relações sociais e humanas são marcadas por processos
educativos por meio da Comunicação. A comunicação é um processo
presente em boa parte do nosso dia a dia, seja nas conversas, nas
relações sociais, nos modos de como se entende, se interage e se
aborda o outro.

É importante entender que a comunicação vai muito além da ideia de


um conteúdo que é transmitido ou como uma informação (notícias,
orientações, lembretes, normas, avisos etc.) que é repassada.
Comunicação em Saúde não é, portanto, somente uma transmissão
de informações de alguém que sabe para alguém que não sabe algo.

63
Há diferentes formas de se
promover a comunicação em
saúde. Desde práticas
comunicativas apenas
transmissoras de informações
e conteúdos até experiências
de comunicação com uma
perspectiva promotora de
humanização e de autonomia
dos usuários.

É importante analisar a forma como essa comunicação vai ser feita e


seus objetivos. Vejamos. Em uma lógica bancária, iremos observar a
comunicação pelo repasse e transmissão de informações, de um
modo que não se leva em consideração o entendimento da pessoa
que está “recebendo” aquela informação ou aquele conteúdo.

A transmissão é a missão e não há maiores preocupações sobre em


que medida a população estará se apropriando e compreendendo
aquele conteúdo. Mesmo se utilizando de formas e habilidades
criativas de repassar um dado conteúdo, a preocupação está tão
somente no ato de transmitir, não nas possibilidades de interpretação
ou das consequências geradas pela informação, pela forma como foi
transmitida ou pelo conteúdo em si, na realidade das pessoas.

64
Isso ocorre, geralmente, na sala de espera quando fazemos uma
palestra onde apenas nós, enquanto profissionais, falamos. Ou mesmo
em reuniões de grupos, como HiperDia, ou outros, onde os profissionais
falam e os usuários apenas escutam, e não se tem uma segurança
sobre em que medida o conteúdo repassado foi, de fato, entendido e
será utilizado pelos usuários em seu dia a dia.

No dia a dia do trabalho do ACS e do


ACE, pode-se observar que a
comunicação em saúde pode
acontecer pelo repasse de
informações, seja nas visitas, seja na
sala de espera, seja nas campanhas
ou em outro momento educativo.

Sendo assim, em relação a Comunicação em Saúde, é imprescindível


que ACE e ACS pensem não apenas na transmissão das informações,
ou no conteúdo que se quer repassar, mas principalmente na conexão
com o usuário e também no significado e na utilidade dessas
informações para a vida dele. Como nos dizem as autoras Inesita
Soares de Araújo e Janine Miranda Cardoso (2007), o processo de
Comunicação em Saúde não se limita à simples transmissão ou
repasse de conteúdos prontos, portanto não envolve apenas a
transmissibilidade e a assimilação.

A conexão com o usuário trata-se do estabelecimento de um vínculo


a partir do qual construímos uma relação para fazer com que o
processo de comunicação tenha o envolvimento ativo das pessoas
assistidas.

65
Figura 5: Comunicação e conexão entre profissional e usuário

Fonte: CCM. Disponível em: https://www.cmm.com.pt/comunicacao-em-saude/

A figura 5 ilustra um pouco dessa conexão, ao demonstrar que a


comunicação efetiva é aquela por meio da qual conseguimos
aproximar nossos pensamentos com os do usuário, ao ponto de
buscar compreendê-los e também permitir que o usuário compreenda
as ideias e recomendações que nós estejamos compartilhando com
eles. Isso só é possível quando há uma conexão, uma aproximação,
uma ligação entre usuário e profissional.

Por exemplo, se você está em um grupo terapêutico


na comunidade, e constrói uma conexão com os
usuários, não seria adequado dar uma palestra sobre
uma informação importante e, após, levantar-se e
sair; pelo contrário, após a exposição das informações,
o ideal seria conversar com os usuários para saber se
compreenderam o que foi dito, se ficaram com
dúvidas, se existem curiosidades no tema.

66
No que se refere ao significado e à utilidade das informações, talvez
não seja tão efetivo, por exemplo, fazer uma estratégia de
comunicação em saúde sobre a dengue em um território cujo
problema maior, no momento, é a saúde mental.

A comunicação é vista como compreensão pela apropriação da


mensagem que está sendo comunicada. Junto com isso, a
capacidade dessa compreensão ser concreta para nossos usuários,
de maneira a ter sentido na vida deles, a tal ponto que os conteúdos
comunicados tenham real utilidade em seus contextos de vida e de
saúde.

A comunicação útil e eficaz é capaz de promover alternativas,


recursos e respostas aos desafios, conflitos e sentimentos que fazem
parte de sua vida. Portanto, em uma abordagem de comunicação
destinada à promoção de autonomia e de humanização no cuidado
com o usuário, vamos nos preocupar com a utilidade das práticas
comunicativas, de maneira que essas contribuam na construção de
processos onde as pessoas possam construir sua autonomia e
possibilidades de realização de seus direitos.

67
Maria Wanderleya Coriolano-Marinus e seus colegas (2014, p.1361) nos
dizem, em seus estudos, algumas das atitudes mais importantes que
envolvem a realização do processo comunicativo. Eles nos dizem que a
comunicação deve ser:

[...] um ato caracterizado (...) por atitudes de sensibilidade,


aceitação e empatia entre os sujeitos, em um universo de
significações que envolvem tanto a dimensão verbal como
a não verbal (postura e gestos). Nesse processo, é relevante
o interesse pelo outro, a clareza na transmissão da
mensagem e o estabelecimento de relações terapêuticas
entre trabalhadores e usuários.

Para estabelecermos uma comunicação


significativa com os usuários, é necessária
uma postura sensível de acolhimento desse
usuário em suas necessidades e suas formas
diferentes de expressar a alegria, a dor, o
sofrimento e suas questões de saúde.

A comunicação significativa começará, por exemplo, quando


começarmos nossa relação com o usuário (seja na sala de espera,
nas visitas domiciliares, nas ações educativas, nas campanhas, entre
outros) com uma postura acolhedora e compreensiva, não julgadora
ou pré-concebida.

68
É importante, ao sermos abordados pelos usuários, escutarmos
atentamente suas necessidades e exercitar o olhar para saber
identificar os sinais que os mesmos manifestam em suas expressões
corporais, faciais e nas atitudes com as quais chegam ao nosso
encontro nos serviços de saúde.

Após essa escuta compreensiva e esse olhar ampliado para as várias


formas de expressão das pessoas em seus gestos, podemos construir
uma relação de vínculo e de empatia com elas; o que não significa
necessariamente dizer o que as pessoas querem ou esperam escutar,
mas demonstrar a essas pessoas que elas podem, de fato, confiar em
nós, como profissionais de saúde, sendo parceiros delas em suas lutas
e enfrentamentos para a resolução de seus problemas de saúde.

A comunicação envolve muito mais do que a linguagem falada, ela


também inclui a observação sobre o não-dito, sobre aquilo que é
sentido e expressado pelas pessoas em seu olhar, em seus gestos e
suas posturas. Muitas vezes, em uma visita domiciliar, podemos
conversar com uma pessoa e essa não nos relatar qualquer problema
em relação à saúde de sua família.

69
Contudo, se prestarmos bem atenção, poderemos ver que essa
pessoa recebeu a visita com uma expressão de tristeza e
preocupação, manifestada por sua expressão facial, o embargo em
sua voz e sua postura corporal. Nesse momento, caberá ao ACS e ao
ACE tentar compreender essa postura, e ir além daquilo que a pessoa
comunicou com sua fala. Será que está havendo um problema sério
em sua casa? Será que está passando alguma dificuldade? Contudo,
a sensibilidade será importante para que esse “ir além” do “dito” não
seja em tom inquisidor, tampouco invasivo.

Será justamente desenvolvendo a conversa, demonstrando


acolhimento, empatia e solidariedade em nossa forma de falar, em
nosso gesto corporal, que nós poderemos ir, aos poucos,
aprofundando a conversa para entender melhor como essa pessoa se
sente. Se for preciso, respeitar o tempo dessa pessoa, suspender a
visita momentaneamente e fazer outra visita em momentos
posteriores, ou mesmo combinar de encontrá-la em outros espaços,
como a associação de moradores, a igreja comunitária, a própria
unidade de saúde, entre outros.

É importante destacar que a comunicação


precisa ser dialógica, ou seja, é um processo
interativo, baseado no diálogo. Nesse processo,
as pessoas podem interpretar e reinterpretar os
conteúdos comunicados, apropriando-se deles
e tendo a possibilidade de responder, trocar
informações, resultados, conclusões, de
maneira que os conteúdos e a maneira como
estão sendo comunicados possam ser revistos.

70
Além disso, o bom comunicador, nunca ignora as condições de
comunicação: as características locais e do contexto, os níveis
sociais, econômicos e culturais de nosso interlocutor, o momento em
que se está estabelecendo o diálogo etc.

Dito de forma prática: quanto de chance de sucesso comunicacional


terá um profissional de saúde que se dirige a um usuário sem o olhar
nos olhos, sem ouvir com calma todas as suas queixas, olhando o
celular constantemente, ou para o relógio? Quais são as chances de
um profissional de saúde conseguir atender com sucesso um usuário
que não diz claramente o que sente, que evita responder às perguntas
do profissional, que o apressa dizendo que precisa sair porque tem
outro compromisso?

Também não vemos sucesso nas comunicações que são feitas com
palavras de difícil compreensão para o usuário, que orientam o usuário
a mudar sua rotina sem sequer considerar as possibilidades que esse
usuário tem de fazer tal mudança, que escreve suas orientações sem
pensar que o usuário pode não saber ler. Enfim, muitas são as
dificuldades que podem impedir uma boa relação, um bom
atendimento, quando não se dá a devida importância ao fator
Comunicação.

Saiba como superar as dificuldades na


comunicação em saúde. Clique aqui ou
escaneie o QR Code.

71
PARTICIPAÇÃO
SOCIAL EM SAÚDE
Na Etapa Formativa I do curso,
foram abordadas as políticas
públicas que são fundamentais
para a prática da equipe de saúde,
e, especificamente de vocês ACS e
ACE.

Um acontecimento importante na história das Políticas de Saúde foi a


conquista da Participação Social em Saúde nas ações e serviços do
SUS, que reafirmam a Saúde como direito (BRASIL, 2006).

A participação social foi estabelecida como elemento fundamental da


organização das políticas, ações e serviços em Saúde junto com a
construção do próprio SUS. Estão previstos e garantidos pela lei os
espaços institucionais de participação social. As Conferências de
Saúde devem reunir a comunidade, a partir de representações
diversas, “para avaliar a situação da saúde e propor as diretrizes para
a formulação da política de saúde” (Art. 1º, §1º), a cada quatro anos, no
primeiro ano de cada ciclo de gestão (BRASIL, 1990).

Os Conselhos de Saúde, por sua vez, devem ser compostos por


representantes dos usuários do Sistema, por meio de organizações
que expressem a diversidade existente no território, bem como por
representantes das diversas categorias profissionais de Saúde, dos
prestadores de serviço e da gestão de Saúde.

73
O Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo
(BRUTSCHER, 2012). Os Conselhos se caracterizam pela proposição e
pela fiscalização das políticas de saúde. A Lei 8.142/1990, no Art. 1º, § 4º,
assegura que a “representação dos usuários nos (BRASIL, 1990).

Figura 6: Tirinha sobre Participação Social.

Fonte: Ministério da Educação

A tirinha acima ilustra como a participação social é importante no


sentido de abrir espaços para que as instituições e serviços públicos
escutem, acolham e considerem as propostas dos usuários para a
gestão de suas ações e a operacionalização de seus serviços.

Os ACE e ACS têm um papel fundamental para ampliar e qualificar a


participação das lideranças comunitárias nos conselhos de saúde,
desde o conselho local até o conselho municipal. Os ACS e ACE são
atores inseridos no território e conhecem de forma profunda suas
principais características, bem como os principais atores que têm uma
voz ativa no contexto comunitário.

74
Podem e devem, assim, auxiliar a equipe de saúde na identificação
das principais lideranças e na sensibilização para que essas pessoas
possam integrar os espaços de participação social da equipe,
especialmente os conselhos, mas também outras iniciativas, como
grupos, campanhas, entre outras.

Para tanto, é fundamental que os ACS e ACE participem do


planejamento das ações de participação social da equipe, inclusive na
formação dos conselhos locais de saúde, onde poderão identificar e
nominar lideranças sociais que tenham uma atuação protagonista no
contexto local e representem segmentos, grupos e coletivos
importantes para a comunidade.

O papel do ACS e ACE estará não apenas


no levantamento de quais são as
lideranças do bairro, mas também de
contribuir com a equipe nas melhores
estratégias de contato e aproximação
com essas pessoas, auxiliando também
nas mais adequadas formas de
comunicação e de interlocução com tais
lideranças, de maneira a sensibilizá-las e
estimulá-las a integrar os espaços de
participação local em saúde.

Mas o que podemos fazer para movimentar e mobilizar o território?


Entre as alternativas e possibilidades várias, destacamos
principalmente três: visitas domiciliares; grupos; e campanhas de
mobilização.

75
Visitas domiciliares

Nas visitas no território, os ACS e ACE poderão fazer contatos com


lideranças históricas de seu bairro, as quais esses profissionais já
conheçam. Nesse caso, a visita seria um momento de aproximação
para contatar as principais lideranças locais, escutar suas prioridades,
suas demandas e suas críticas ao serviço, e convidá-las a participar
das ações e reuniões do conselho local de saúde.

Grupos

Os grupos são fundamentais, porque constituem experiências de


encontro e debate coletivo. Costumam ser sempre abertos à
participação das pessoas e à inclusão de novos participantes. Além do
mais, conforme os grupos vão acontecendo de forma frequente,
alguns dos usuários participantes podem ir desenvolvendo habilidades
de liderança e de maior protagonismo, o que ajuda também a
envolvê-los nas ações de participação social.

Campanhas

Finalmente, as campanhas constituem também uma boa estratégia


de mobilização, pois são planejadas com ações visando uma ampla
repercussão no território, de maneira que essas ações conseguem
muitas vezes chegar às pessoas que até então não tinham muito
conhecimento sobre o trabalho da equipe de saúde.

76
Como é próprio de muitas campanhas, o caminhar nas ruas, as ações
comunicativas na rádio comunitária, as divulgações nos carros e nas
bicicletas com caixa de som, contribuem para que se atinja um
público mais ampliado do que aquele que convencionalmente as
equipes abrangem. Assim, será possível mobilizar novos atores para a
discussão da participação social em saúde naquele local.

Assim, percebe-se que os ACS e


ACE têm um grande potencial
para contribuir de modo
fundamental na mediação de
como as demandas da
comunidade e de suas lideranças
chegam até a equipe, de maneira
que isso ocorra de forma
propositiva e não conflituosa.

Por exemplo, diante de uma situação de um usuário que se queixa


intensamente da demora no atendimento, em meio à sala de espera, o
ACS ou ACE pode ser o primeiro profissional a se aproximar do usuário
em questão, acolher sua demanda, escutar suas reclamações e
intermediar um diálogo do usuário com a gestão da equipe.

77
Ainda, podemos destacar que os próprios ACS e ACE, muitas vezes,
passam a integrar os conselhos de saúde como membros titulares, e
essa participação é fundamental para agregar sua experiência e seu
olhar privilegiado sobre o território nos temas que estarão em
discussão nos encontros dos conselhos.

Sua inserção em instâncias de maior escala, como os Conselhos


Municipal, Estadual e Nacional de saúde contribuirá ainda mais, no
sentido de levar para esses espaços as demandas sentidas pela
comunidade e as propostas necessárias para que a relação
construtiva entre comunidade e UBS seja qualificada.

Nos espaços de participação social, espera-se que sejam tecidas


trocas de experiências e compartilhamento de pontos de vista sobre
as questões e os problemas de saúde mais importantes em cada
território, bem como sobre como anda o serviço de saúde e de que
maneira as ações desse serviço estão sendo avaliadas e interpretadas
pela população.

Nesses encontros, podem e devem emergir


diferentes pontos de vista e até momentos
de conflito e de tensão, naturalmente
despertados pela divergência de ideias e
opiniões.

78
Podemos considerar, inclusive, que é justamente para emergirem
essas diferenças de ideias que esses encontros são importantes, como
estratégia de se buscar, na divergência, as aproximações e pontes
possíveis entre os diferentes atores do SUS– o do usuário, o do gestor e
o do profissional –, em uma relação que se afirme de maneira
respeitosa e que flua por meio de um diálogo propositivo.

Como exemplo, a equipe pode planejar uma ampla e


qualificada campanha de atenção à saúde do homem na
comunidade, mas prevendo sua realização em um dia útil
de semana e durante o dia. No conselho local, as lideranças
comunitárias poderão apontar que, para envolver a maioria
da população masculina, seja mais adequado marcar a
campanha para um final de semana, ou então no período
noturno, de maneira a se respeitar os períodos dos homens
que trabalham em horário comercial.

Em outro exemplo, algumas lideranças comunitárias poderão apontar


e denunciar a falta de um determinado medicamento na farmácia da
unidade, e articular junto ao conselho reivindicações junto à secretaria
de saúde e outros órgãos competentes, para que esse direito à
assistência farmacêutica seja assegurado.

79
A participação social pode também se dar na dimensão da
proposição, ou seja, pela contribuição dos cidadãos com ideias. É
procurar intervir na sociedade e nos governos que estão no poder com
propostas, apontando alternativas de soluções ou saídas para
questões ou problemas individuais e/ou coletivos que afetam a
comunidade. Propor significa elaborar estratégias, assumindo posição
em relação ao “como” as coisas devem ser conduzidas e realizadas,
seja na sociedade, no governo, no bairro ou na família.
Figura 7: Participação da sociedade na diversidade de pessoas e seus diálogos.

Fonte: Banco de imagens

Como representado acima, participação significa envolvimento de


pessoas diferentes, com pensamentos e propostas diversificadas que
possam ser trazidas para contribuir na gestão das políticas públicas.

Podemos também dizer que a participação social possui ainda a


dimensão do controle, a qual se expressa no plano da fiscalização.
Consiste em acompanhar e conferir se as ações públicas estão sendo
bem executadas pelos responsáveis, especialmente se estão
atendendo ao interesse público.

90
No SUS, trata-se do controle da Política Pública de Saúde, inclusive nos
aspectos econômicos e financeiros (Lei 8.142/1990, art. 1º, § 2). Entre os
profissionais do SUS, convencionou-se falar dessa modalidade de
participação com a denominação de controle social (CRUZ,
BRUTSCHER, 2018). O autor Gilson Carvalho reforça esse entendimento,
nos dizendo que, Participação “é muito mais que Controle: é o
engajamento através da ação, é o desafio da proposição e o controle
dos fatos e feitos” (CARVALHO, 2007a, p. 48).

Em que pese sua importância enquanto conquista institucional,


devemos lembrar que a Participação Social em Saúde vai muito além
dos Conselhos e das Conferências, de maneira que devemos, a todo
tempo, priorizar a construção de espaços de participação social no
cotidiano das ações e serviços de nossas equipes, de maneira a
estabelecermos pontes de comunicação entre profissionais e
população, visando a uma colaboração para a realização de
iniciativas, experiências, grupos e movimentos dedicados à promoção
da saúde.

Neste sentido, cabe a nós


Profissionais de Saúde
reconhecer e valorizar as várias
formas de organização da
população em espaços e
instâncias de Participação
Social.

81
Dentre elas, os Movimentos Sociais têm e merecem destaque, pois
estão no contexto popular e apresentam contribuições nas ações de
prevenção, promoção e atenção à Saúde, exercendo um papel
importante na luta pelos direitos à saúde e na construção e
consolidação do SUS(CHAVES et al., 2014).

Os Movimentos Sociais têm se revelado espaços importantes na


formação de pessoas conscientes de seus direitos e capazes de
intervir no meio social, levando ao desenvolvimento das possibilidades
de cada sujeito, junto ao seu coletivo, enfrentar, de forma mais intensa
e resolutiva, as raízes de seus problemas de saúde.

Abrem, portanto, para o ACS/ACE e demais profissionais da saúde a


possibilidade de uma abordagem mais ampla, que não se reduza à
ocorrência de uma doença ou manifestação de sintomas, mas que
busque também intervir nas condições sociais, ambientais e
psicológicas de base, que estão na raiz dos problemas de saúde
(VASCONCELOS, 2009).

Além dos Movimentos Sociais, outras


formas de Participação Social podem
ser expressas pelo engajamento
popular em grupos terapêuticos, em
práticas educativas e formativas, no
fazer de cuidados populares de saúde
(rezadeiras, benzedeiras, parteiras,
erveiras, entre outras), em iniciativas de
ação comunitária, mobilização social e
resistência popular.

82
Há, portanto, uma diversidade de possibilidades através das quais a
cultura popular repercute, efetivamente, na definição e, em alguns
casos, na reorientação da forma de organizar as ações nos Serviços
de Saúde (BRUTSCHER, CRUZ, 2020).

Espera-se, assim, criar um ambiente de cooperação fraterna e


solidária no contexto das UBS, de maneira, por exemplo, a se
estabelecerem parcerias, a partir das quais os Profissionais de Saúde
possam identificar e envolver redes de apoio (instituições, entidades e
pessoas de referência para ajudar a comunidade e suas famílias)
para enfrentar questões políticas e sociais presentes nos desafios de
cada contexto (CRUZ, BRUTSCHER, 2018).

11
83
RETROSPECTIVA

85
Diante de tudo o que discutimos ao longo desta disciplina, não
podemos nem devemos pensar o cuidado separado da Educação em
Saúde, da Comunicação e da Participação Social. E todas essas
dimensões devem estar atreladas ao processo de trabalho em Saúde,
principalmente nos campos que nós estamos pensando, quais sejam:
a APS e a ESF.

É fundamental que a comunidade possa, aos poucos, ir enxergando a


Unidade não apenas como um lugar para se procurar quando se sentir
doente, mas como um lugar que funcione como centro de referência
para que as pessoas possam ter apoio para viver melhor, para
tentarem viver com mais dignidade e para superarem alguns desafios
no médio e longo prazos. Em resumo, que as intervenções da UBS
possam ajudar a comunidade a tornar seu ambiente mais saudável e
sustentável. No nosso próximo encontro, daremos início aos estudos do
módulo Ações educativas na prevenção de agravos à saúde e ações
de cuidado.

Até breve!

85
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Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
bvsms.saude.gov.br

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