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CUIDADO, EDUCAÇÃO E
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
Brasília (DF)
2023
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS)
CONSELHO NACIONAL DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE (CONASEMS)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRS)
CUIDADO, EDUCAÇÃO E
COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
Brasília (DF)
2023
2023 Ministério da Saúde.
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Normalização:
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Ficha Catalográfica
1. Agentes Comunitários de Saúde. 2.Cuidado, educação em saúde. 3. Comunicação em Saúde. I. Conselho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde. II. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. III. Título.
CDU 614
Bons estudos!
LISTA DE SIGLAS E
ABREVIATURAS
ACE | Agente de Combate às Endemias
7 O CUIDADO EM SAÚDE
19 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OS
VALORES HUMANOS NAS RELAÇÕES
62 COMUNICAÇÃO EM SAÚDE
84 RETROSPECTIVA
86 BIBLIOGRAFIA
O CUIDADO EM
SAÚDE
Reflita um pouco sobre a
seguinte questão: em que
medida você se considera
Cuidador (a) em Saúde?
8
Você, Agente Comunitário de Saúde (ACS) ou Agente de Combate às
Endemias (ACE), convive cotidianamente com os usuários, e conhece
de perto:
E os desafios em
As realidades; Os dramas; busca da saúde e
do bem-estar.
9
Eymard Vasconcelos (2008) nos diz que:
10
Se pensarmos bem, o cuidado está presente em nossas vidas de
diferentes maneiras e é manejado por diversas pessoas – por exemplo:
o cuidado de nossas mães e pais, avós e avôs, tias e tios, ou outros
parentes, ou mesmo amigos, entre outros. Em situações de
adoecimento diferentes, muitas vezes os primeiros a nos apoiarem,
não são necessariamente profissionais de saúde, mas pessoas que
estão próximas, que se importam conosco e que empenham suas
energias e dedicação para nos ajudar a enfrentar o adoecimento.
11
Para exemplificar o que dissemos anteriormente, o professor Eymard
Vasconcelos (2009) nos apresenta diferentes possibilidades através
das quais o cuidado se expressa nas comunidades. Ele diz que
podemos dividir as práticas populares de saúde segundo a sua
localização social, da seguinte forma: a) práticas familiares ou
caseiras; b) práticas executadas por pessoas para sua renda
(raizeiros, rezadeiras e pais-de-santo); c) práticas dos movimentos
sociais locais.
Nosso desafio,
como profissionais
de saúde, é sermos
cuidadores em
saúde.
E isso exige desenvolvermos e aprimorarmos nossa capacidade de
estabelecer vínculos com os usuários e usuárias.
12
Não apenas o vínculo formal imposto pela relação de adscrição do (a)
usuário (a) a nosso território, mas o vínculo no sentido expresso pela
PNAB, qual seja: a construção de relações de afetividade e confiança
entre usuários (as) e profissionais de saúde, permitindo que o
atendimento seja um encontro visando o apoio e à
corresponsabilização pela saúde, tendo um potencial terapêutico.
13
Imagine que a Agente Comunitária de Saúde (ACS) Bia realizará uma
visita domiciliar à casa de João.
14
Bia deve cuidar.
Em primeiro lugar, a orientação é fazer o
acolhimento de João em sua situação de saúde e
doença. Para isso, é preciso escutá-lo e entender
como ele se sente diante do problema em
questão – a obesidade e as demais
comorbidades. Procurar compreender seus
sentimentos, suas impressões, suas emoções e o
modo como ele está vivenciando essa situação.
15
A cada visita, ao escutar primeiro, ACS e ACE vão conhecendo a vida
daquela pessoa e de sua família, sabendo mais sobre o trabalho da
família, a escola das crianças, a feira comunitária, as ansiedades de
alguns membros da família, as preocupações quanto à moradia, etc. O
problema ali exposto pode ir muito além da obesidade, e a
abordagem necessária exige muito mais do que a prescrição de uma
dieta pelo nutricionista. É necessário que se tenha em vista uma
abordagem que considere as condições de vida da pessoa, seu
trabalho, sua inserção escolar, sua participação comunitária, sua
cultura, seus gostos, seus anseios.
10
16
Se há aproximação suficiente e criação de vínculos de confiança,
pouco a pouco o ACS e o ACE podem descobrir, por exemplo, que o
usuário em questão não cumpria dietas anteriormente prescritas a ele,
tanto pela questão de limites financeiros como pelos gostos e pelos
seus desejos e de sua cultura alimentar – aspectos importantes que
eram desconsiderados em tratamentos anteriores e que o fizeram
desanimar e até abandonar o tratamento.
O que significa o
Cuidado para nós,
profissionais de
saúde?
O Cuidado é o nosso trabalho como
profissionais de saúde e, ao mesmo tempo,
é uma atitude humana que se expressa nos
mais variados espaços de nossa prática –
seja: nas visitas, seja nas campanhas, seja
nas ações comunitárias, seja nas reuniões e
nos grupos terapêuticos, seja nas atividades
coletivas, seja na sala de espera, seja nas
escutas individuais.
17
Trabalhar na saúde é cuidar das pessoas, onde quer que seja
necessário. Utilizando ferramentas como a Educação, a Comunicação
e a Participação Social em Saúde podemos ampliar e qualificar ainda
mais esse ato de cuidar.
11
18
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE E OS
VALORES
HUMANOS NAS
RELAÇÕES
A Educação está presente em nossas relações familiares, nas relações
de amizade, nas relações afetivas e nas nossas relações de trabalho e
no próprio trabalho. Frisamos tudo isso porque, muitas vezes, a
encaramos como algo que só tem sentido e expressão dentro de uma
sala de aula (virtual ou remota) de um espaço formal de ensino. Além
da escola, em todo o momento nós estamos em relação com o outro,
seja no ambiente familiar seja em outros vários contextos das nossas
relações de vida, durante o nosso dia a dia.
Em qualquer contexto
em que há duas
pessoas e uma relação
entre elas, existe uma
possibilidade de
aprendizagem.
Se, nessa relação, elas estiverem suficientemente abertas para isso, a
comunicação autêntica e profunda com alguém diferente trará novas
perspectivas, sentimentos, afetações e percepções.
20
Além disso, a comunicação com
alguém com gostos diferentes,
opiniões e visões de mundo
distintas vai nos trazendo
conhecimentos, saberes e
experiências novas, o que vai
potencializando nossas
oportunidades de ampliar nossos
horizontes e nossa forma de
compreender e, portanto, de ser,
de estar e de agir no mundo.
21
Estamos, portanto, falando da Educação como um
processo de formação permanente de todos -
homens e mulheres, enquanto humanos e como
cidadãos. O processo de educação acontece pela
comunicação com o outro e com o mundo, de forma
permanente: estamos sempre aprendendo com os
desafios e experiências vividas. Por isso, pensamos na
educação como um fenômeno humano.
22
Ademais, a atualização de processos educativos também pode ser vista
nas ações que possam estar sendo desenvolvidas e protagonizadas por
ACS, ACE e outros (as) profissionais de saúde dentro de contextos de
cuidado e de atendimento clínico.
23
Assim, não podemos perder
as oportunidades geradas
para nós, profissionais de
saúde, em nosso encontro
com os usuários, no sentido
de pensar o quanto podemos
aprender e ensinar sobre
saúde.
24
COMO COMEÇAR AS
PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE?
Entendemos que podemos iniciar
nossas práticas educativas em
saúde pelo estabelecimento de uma
relação significativa com os
usuários e usuárias, contemplando
a participação ativa destes em seu
processo de cuidado integral.
Para isso, é fundamental que as práticas de Educação em Saúde que
realizamos reconheçam e valorizem, como ponto de partida, seus
conhecimentos prévios. Em suas realidades, as pessoas vivenciam,
cotidianamente, experiências, com as quais vão aprendendo,
acumulando saberes, ideias e percepções próprias. São esses saberes
que denominamos de conhecimentos prévios.
26
Devemos ter como ponto de partida o que as pessoas estão sentindo
e pensando, reverberando, ou seja, devemos começar nossa atuação
a partir dos problemas que as pessoas estão nos trazendo e dos seus
conhecimentos prévios. Nessa ótica, é preciso rever o todo, considerar
o nosso conhecimento e o conhecimento do (a) usuário (a) para,
juntos, buscarmos agir sobre uma determinada situação
(necessidade ou problema de saúde), a fim de refletir sobre
possibilidades de mudança.
27
Quando uma pessoa hipertensa se conscientiza que o sal em excesso
pode fazer mal à saúde e faz uma horta em casa para substituir o sal
por alguns temperos, ele está mudando a forma de pensar e agir. Por
isso, transformou uma parte importante de sua realidade.
28
Paulo Freire, um importante educador brasileiro, descreve em seus
livros que cada um tem o direito de falar, partindo-se do conceito de
cidadania, em que todos somos cidadãos e, participantes ativos nas
relações da sociedade. Não há quem saiba mais ou menos, pois cada
um sabe assuntos com conhecimentos prévios acumulados ao longo
de suas vidas, ou mesmo com conhecimentos científicos adquiridos de
formas diferentes, vivenciados ou estudados. Por isso, todos aprendem
na atividade educativa.
29
Essa postura de receptividade é também
necessária aos ACS e aos ACE, que moram no
território, e têm muito o que aprender a partir das
questões trazidas pelos usuários, pois cada
pessoa tem uma experiência própria e pode
expressar como ninguém os seus sentimentos
como usuário do SUS.
30
Na figura a seguir, observamos duas imagens. Na primeira, o professor
vê que os alunos têm pensamentos e ideias diferentes entre si, o que é
representado na figura por balões com formatos de desenho variados.
A figura mostra ainda que, diante dessa diversidade de pensamentos
e ideias dos alunos, o professor fica inquieto e aparentemente
incomodado. Na imagem logo abaixo, vemos que o professor se
encontra mais à vontade, apresentando sua forma de pensamento e
seus saberes, os quais parecem ser copiados/reproduzidos pelos
alunos, de maneira que o formato do balão representativo do
pensamento do professor é exatamente o mesmo daquele dos alunos.
31
Ora, certamente, ao ver uma turma com pensamentos e ideias diferentes, o
professor atuou para “padronizar” os pensamentos e as ideias dos alunos de
modo que fossem reproduções/cópias dos seus próprios pensamentos e
ideias. Para isso, o professor foi depositando conteúdos dentro da cabeça dos
alunos, sendo que esses precisam pensar, agir e falar da mesma forma que
estão escutando, reproduzindo o conteúdo recebido. Essa maneira de
educação é denominada por método bancário e foi descrita por Paulo Freire.
O professor, nesse caso, está colocando de forma impositiva seu saber e sua
visão de mundo, “normatizando” ou “padronizando” os pensamentos e as
ideias dos alunos.
32
Por condicionantes e determinantes, estamos nos referindo a
aspectos importantes da situação de vida e de trabalho das pessoas,
que estão “no entorno” de sua saúde e influenciam as condições de
saúde delas e de suas famílias.
33
E, mesmo assim, não se pode fugir do adoecimento, pois vários outros
fatores podem interferir, como a vulnerabilidade social, a questão
genética, falta de emprego e condição financeira, entre outros que
você já estudou em disciplinas anteriores.
34
ABORDAGENS DE
EDUCAÇÃO EM
SAÚDE
O método
bancário: um
enfoque baseado
na transmissão de
informações
O método bancário foi assim denominado por Paulo Freire (2014),
que o caracteriza como método de educação tradicional, marcado
pela normatização e transmissão dos saberes, pois nele os alunos
recebem informações de forma meramente transmissiva, de “alguém
que sabe” (o professor) para “alguém que não sabe” (o aluno). Esse
modo de transmitir conhecimento, que podemos chamar de
unidirecional, foi chamado de bancário porque atua como se os
conhecimentos fossem “depósitos bancários” feitos pelos professores
nas ideias e mentes dos alunos.
36
O responsável pela atividade educativa entra na sala, na qual
estão os usuários convocados (são obrigados a participarem, e em
troca, recebem outro tipo de atendimento como consulta médica e
de enfermagem, mensuração de pressão arterial, distribuição de
cestas básicas, entre outros), e inicia a exposição do conteúdo
sobre o tema planejado, com uso de projeção, de multimídia,
entrega de folder com a intenção dos usuários memorizarem o que
tem escrito, e, então finalizam o encontro.
37
Na ilustração da Figura 2, exemplificamos essa situação na maneira
como o educador simplesmente transmite várias letras a alunos que
estão quietos e passivos somente assimilando e “absorvendo”.
38
O enfoque gira em torno do que as pessoas devem fazer para não
adoecer. Começa e termina na transmissão das orientações
consideradas preventivas. No exemplo citado aqui, o especialista
responsável pela palestra irá reforçar que “açúcar faz mal” à saúde do
diabético e que ele deve evitar comer doces e alimentos semelhantes,
que o hipertenso diminua o sal e corte de sua dieta as comidas
salgadas, entre outros. Quanto à atividade física, irá dizer a quantidade
de dias por semana e de horas por dia, e qual atividade deve ser feita.
O método
problematizador:
desenvolvendo o diálogo
de saberes
A segunda forma de praticar a educação em saúde, é chamada de
método problematizador (FREIRE, 2011). Problematizar significa pensar
sobre um determinado problema, investigando suas causas, suas
raízes, seus desdobramentos, suas repercussões e, principalmente, que
estratégias podemos lançar mão para superá-lo. Ou seja,
problematizar é o ato de pensar criticamente sobre um determinado
problema, estudando-o da melhor forma possível, para se produzir
formas de contorná-lo e superá-lo.
39
Nesse método, o diálogo está presente no relacionamento entre
professor e aluno, e esse tem uma postura mais ativa em sala de aula,
participando da condução realizada pelo professor (FREIRE, 1996).
40
Dessa forma, como descrito, são caracterizados cinco passos para
essa abordagem, de acordo com o método do Arco de Maguerez
(nome de um educador que criou esse método em 1966 para a
formação de técnicos agrícolas):
3º PASSO
Demonstração
do conteúdo.
4º PASSO
2º PASSO
Hipóteses de solução: propor
Dificuldades encontradas.
alternativas para as dificuldades.
1º PASSO 5º PASSO
Observação da realidade e elaboração Aplicação à
de um problema, com a exploração de realidade prática.
suas causas/consequências.
REALIDADE
Fonte: Os autores
41
Para cada um dos passos o professor planeja uma estratégia de
ensino e de aprendizagem, de acordo com o objetivo educacional que
se quer alcançar, podendo ser: conversar com o colega do lado; fazer
grupos de forma que conversem entre si; fazer um estudo de caso;
participar de um estudo dirigido; assistir a vídeos e filmes; fazer cenas
e dinâmicas com teatro; pedir a todos para falar o que sabem
(tempestade cerebral); construir algo de artesanato; fazer dinâmicas
com dança; fazer uma simulação; fazer um fórum; construir um mapa
conceitual; planejar projetos de ação; fazer uma exposição dialogada;
organizar um quiz, com jogos de pergunta e resposta; fazer dinâmicas,
entre muitos outros.
1º PASSO
42
2º PASSO
Então o ACS e ACE consideram tudo o que foi falado, e, orientam que
cada um escreva em um papel uma palavra que represente uma
dificuldade sobre o tema, orientando um tempo para que façam, e ao
final desse pede que cada um fale e explique a palavra que escreveu.
O ACS e ACE questionam os porquês, até chegarem na definição da
dificuldade do grupo. Por exemplo, o que e como escolher os alimentos
(2º passo - dificuldades).
3º PASSO
4º PASSO
5º PASSO
43
Vamos sintetizar? Note
como a escrita dos passos
do Arco de Maguerez é feita:
Fonte: Os autores
44
Na trilha dos exemplos citados anteriormente, esse enfoque iria
contribuir para que as ações educativas do Grupo HiperDia incluíssem,
em sua programação, uma escuta das pessoas sobre as condições e
as dificuldades que as mesmas estejam enfrentando para se
alimentar conforme recomendado, ou para praticar as atividades
físicas conforme recomendado.
45
Assim, o Grupo giraria muito menos em torno de palestras expositivas,
e muito mais em torno de uma conversa com objetivos muito definidos
e voltados à viabilização de esforços coletivos para que as pessoas
tenham condições de ter uma situação mais adequada de saúde em
suas vidas.
34
46
EDUCAÇÃO
POPULAR EM
SAÚDE
Você se lembra?
Seguindo o que já foi abordado da disciplina “Política Nacional de
Educação Permanente e Política Nacional de Educação Popular em
Saúde”, iremos retomar os princípios da Educação Popular em Saúde, um
pouco do seu histórico e abordagens possíveis na rotina dos ACS e ACE.
48
Na medida em que a Educação em Saúde predominava com uma
abordagem normativa, como frisamos anteriormente, os participantes
das práticas de EPS foram compondo suas experiências através da
articulação de elementos que eram importantes para a integralidade
da atenção, mas que eram ignorados pela abordagem bancária e
seus modos de orientar as pessoas.
49
A EPS compreende que a matéria-prima dos processos educativos em
saúde constitui, justamente, as experiências de vida e de trabalho das
pessoas, experiências as quais serão objeto de reflexão, discussão e
problematização para a construção de novos saberes. Em sua base, a
EPS envolve a crença de que todos nós temos conhecimentos, saberes e
práticas que vão sendo aprendidos e acumulados ao longo de nossas
vidas e, assim, ninguém está vazio de conhecimentos quando se vai
discutir qualquer assunto que seja (CARVALHO, 2007b).
Assim, a base para fazer a EPS está nas experiências prévias das
pessoas e nos modos como estão sentindo, pensando e agindo perante
suas realidades. As autoras Andreia Cardoso e Marilene Nascimento
(2010, p.1512) nos dizem que a expansão e o reconhecimento da EPS têm
estimulado vários serviços e experiências de nosso sistema de saúde a
incluir outras abordagens educativas em saúde, principalmente aquelas
de perfil dialógico, ou seja, baseado no diálogo. Para essas autoras, isso
é muito importante, pois:
50
Quando estivermos desenvolvendo uma ação educativa junto a um
grupo de gestantes, a EPS irá nos orientar a não centralizar o grupo
em torno de uma palestra com especialistas sobre as recomendações
mais comuns para o período de pré-natal e os cuidados devidos
nesse momento; pelo contrário, o grupo poderá e deverá começar
com uma escuta coletiva das mulheres sobre como está sendo sua
gestação.
51
Cabe pontuar também que, na concepção da EPS, esse grupo de
gestantes será também um espaço de apoio, de intercâmbio de
experiências e de solidariedade; para que as gestantes tragam suas
experiências pessoais (inclusive daquelas que já foram gestantes
anteriormente), bem como para que evidenciem necessidades de
apoio social, são fundamentais, pois na EPS o grupo é muito mais do
que um espaço que gira em torno de conhecimentos, é um espaço de
encontro para propiciar o apoio mútuo entre as pessoas no lidar com
suas questões de saúde.
52
A PNEPS-SUS aponta como seus princípios: I – diálogo; II –
amorosidade; III – problematização; IV – construção compartilhada do
conhecimento; V – emancipação; e VI – compromisso com a
construção do projeto democrático e popular. Ademais, indica
diretrizes e campos potentes de ação e contribuição da Educação
Popular em Saúde para o SUS, dentre os quais se destacam: I –
participação, controle social e gestão participativa; II – formação,
comunicação e produção de conhecimento; III – cuidado em saúde; e
IV – intersetorialidade e diálogos multiculturais (BRASIL, 2013).
53
No cotidiano das ações da equipe de Atenção Primária, a EPS pode ser
incorporada com várias estratégias diferentes.
54
Dentre as dinâmicas possíveis para convidar as pessoas a partilhar sua
palavra, com seus depoimentos e reflexões, figuram várias
possibilidades, dentre as quais destacamos o uso de pinturas e
desenhos para expressarem o que sentem, e depois comentarem;
realização e montagem de cenas do cotidiano com interpretações
teatrais; produção de tarjetas/cartões com palavras-chave que
expressem como as pessoas se sentem; citação de músicas que
expressem os sentimentos de cada pessoa; entre outras.
55
Assim, os grupos de EPS vão se constituindo em reuniões,
principalmente voltadas para que as pessoas possam compartilhar
sentimentos, pensamentos e ações sobre a saúde e as questões da
vida. Elas têm liberdade e acolhimento de suas falas, e nós, enquanto
mediadores, costuramos estratégias de apoio social e solidariedade.
Assim, proporcionamos o enfrentamento adequado dos problemas
citados e desenvolvemos estratégias de superação mais potentes.
56
Outras ações importantes orientadas pela EPS podem consistir do
levantamento, identificação e aproximação com cuidadores populares
e tradicionais da comunidade, como rezadeiras, parteiras, erveiras,
fitoterapeutas populares, entre outras, no sentido de convidar essas
protagonistas a participar de algumas das ações da equipe e de que
algumas parcerias possam ser desenvolvidas na direção de se
potencializar o cuidado na comunidade.
57
CAMINHOS E
ALTERNATIVAS PARA
CONSTRUIR PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
COERENTES COM A
INTEGRALIDADE E A
PROMOÇÃO DA SAÚDE
Você sabia que são variadas
as estratégias possíveis de
abordagem a grupos sociais,
especialmente a Família,
com o olhar da EPS?
Com elas, espera-se acima de tudo, criar espaços e contextos para o
diálogo das pessoas; ou seja, momentos de encontros nos quais não
se priorize a “palestra” de “alguém que sabe” para “alguém que não
sabe”, mas a reunião de pessoas para aprenderem e conviverem entre
si, em um processo através do qual questões relevantes de seu
cotidiano possam ir surgindo e, coletivamente, sendo discutidas.
59
Além disso, o estabelecimento de ambientes propícios ao diálogo e ao
encontro é fundamental também para possibilitar que a conversa não
gire apenas em torno da doença, mas que, principalmente, possa-se
conversar sobre questões da vida, ou seja, pelos gostos, habilidades,
desejos, anseios e inquietações das pessoas na sua vida e na relação
consigo e com os outros em seus territórios.
60
Nesse mesmo texto, os autores também apresentam oficinas
educativas, voltadas para a criação de espaços de encontro para
conversa com os usuários em torno de linhas de cuidado, como saúde
da mulher, saúde da criança, saúde do homem, saúde mental, entre
outras; trabalho de acompanhamento a famílias em situação de
vulnerabilidade por meio de visitas domiciliares; uso de vídeos
artesanais, com depoimentos de usuários dos serviços de saúde e
pessoas da comunidade (esses vídeos funcionam como instrumentos
para a introdução de novos temas no debate dos grupos);
experiências com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
(PICSs); iniciativas com dinâmicas de música e dança, incluindo
capoeira, danças afro-brasileiras, entre outras.
61
8
COMUNICAÇÃO EM
SAÚDE
Na Etapa Introdutória do Curso, o tema de Comunicação em saúde foi
abordado no Módulo ‘Linguagem e Comunicação’. Agora, iremos
pensar a comunicação como um processo que potencializa as
práticas educativas em saúde e qualifica também as iniciativas de
participação social e de construção colaborativa de nosso trabalho
com a comunidade.
Agora reflita:
comunicar é
transmitir ou
dialogar?
Durante nossa abordagem às Práticas Educativas em Saúde, falamos
que as relações sociais e humanas são marcadas por processos
educativos por meio da Comunicação. A comunicação é um processo
presente em boa parte do nosso dia a dia, seja nas conversas, nas
relações sociais, nos modos de como se entende, se interage e se
aborda o outro.
63
Há diferentes formas de se
promover a comunicação em
saúde. Desde práticas
comunicativas apenas
transmissoras de informações
e conteúdos até experiências
de comunicação com uma
perspectiva promotora de
humanização e de autonomia
dos usuários.
64
Isso ocorre, geralmente, na sala de espera quando fazemos uma
palestra onde apenas nós, enquanto profissionais, falamos. Ou mesmo
em reuniões de grupos, como HiperDia, ou outros, onde os profissionais
falam e os usuários apenas escutam, e não se tem uma segurança
sobre em que medida o conteúdo repassado foi, de fato, entendido e
será utilizado pelos usuários em seu dia a dia.
65
Figura 5: Comunicação e conexão entre profissional e usuário
66
No que se refere ao significado e à utilidade das informações, talvez
não seja tão efetivo, por exemplo, fazer uma estratégia de
comunicação em saúde sobre a dengue em um território cujo
problema maior, no momento, é a saúde mental.
67
Maria Wanderleya Coriolano-Marinus e seus colegas (2014, p.1361) nos
dizem, em seus estudos, algumas das atitudes mais importantes que
envolvem a realização do processo comunicativo. Eles nos dizem que a
comunicação deve ser:
68
É importante, ao sermos abordados pelos usuários, escutarmos
atentamente suas necessidades e exercitar o olhar para saber
identificar os sinais que os mesmos manifestam em suas expressões
corporais, faciais e nas atitudes com as quais chegam ao nosso
encontro nos serviços de saúde.
69
Contudo, se prestarmos bem atenção, poderemos ver que essa
pessoa recebeu a visita com uma expressão de tristeza e
preocupação, manifestada por sua expressão facial, o embargo em
sua voz e sua postura corporal. Nesse momento, caberá ao ACS e ao
ACE tentar compreender essa postura, e ir além daquilo que a pessoa
comunicou com sua fala. Será que está havendo um problema sério
em sua casa? Será que está passando alguma dificuldade? Contudo,
a sensibilidade será importante para que esse “ir além” do “dito” não
seja em tom inquisidor, tampouco invasivo.
70
Além disso, o bom comunicador, nunca ignora as condições de
comunicação: as características locais e do contexto, os níveis
sociais, econômicos e culturais de nosso interlocutor, o momento em
que se está estabelecendo o diálogo etc.
Também não vemos sucesso nas comunicações que são feitas com
palavras de difícil compreensão para o usuário, que orientam o usuário
a mudar sua rotina sem sequer considerar as possibilidades que esse
usuário tem de fazer tal mudança, que escreve suas orientações sem
pensar que o usuário pode não saber ler. Enfim, muitas são as
dificuldades que podem impedir uma boa relação, um bom
atendimento, quando não se dá a devida importância ao fator
Comunicação.
71
PARTICIPAÇÃO
SOCIAL EM SAÚDE
Na Etapa Formativa I do curso,
foram abordadas as políticas
públicas que são fundamentais
para a prática da equipe de saúde,
e, especificamente de vocês ACS e
ACE.
73
O Conselho de Saúde tem caráter permanente e deliberativo
(BRUTSCHER, 2012). Os Conselhos se caracterizam pela proposição e
pela fiscalização das políticas de saúde. A Lei 8.142/1990, no Art. 1º, § 4º,
assegura que a “representação dos usuários nos (BRASIL, 1990).
74
Podem e devem, assim, auxiliar a equipe de saúde na identificação
das principais lideranças e na sensibilização para que essas pessoas
possam integrar os espaços de participação social da equipe,
especialmente os conselhos, mas também outras iniciativas, como
grupos, campanhas, entre outras.
75
Visitas domiciliares
Grupos
Campanhas
76
Como é próprio de muitas campanhas, o caminhar nas ruas, as ações
comunicativas na rádio comunitária, as divulgações nos carros e nas
bicicletas com caixa de som, contribuem para que se atinja um
público mais ampliado do que aquele que convencionalmente as
equipes abrangem. Assim, será possível mobilizar novos atores para a
discussão da participação social em saúde naquele local.
77
Ainda, podemos destacar que os próprios ACS e ACE, muitas vezes,
passam a integrar os conselhos de saúde como membros titulares, e
essa participação é fundamental para agregar sua experiência e seu
olhar privilegiado sobre o território nos temas que estarão em
discussão nos encontros dos conselhos.
78
Podemos considerar, inclusive, que é justamente para emergirem
essas diferenças de ideias que esses encontros são importantes, como
estratégia de se buscar, na divergência, as aproximações e pontes
possíveis entre os diferentes atores do SUS– o do usuário, o do gestor e
o do profissional –, em uma relação que se afirme de maneira
respeitosa e que flua por meio de um diálogo propositivo.
79
A participação social pode também se dar na dimensão da
proposição, ou seja, pela contribuição dos cidadãos com ideias. É
procurar intervir na sociedade e nos governos que estão no poder com
propostas, apontando alternativas de soluções ou saídas para
questões ou problemas individuais e/ou coletivos que afetam a
comunidade. Propor significa elaborar estratégias, assumindo posição
em relação ao “como” as coisas devem ser conduzidas e realizadas,
seja na sociedade, no governo, no bairro ou na família.
Figura 7: Participação da sociedade na diversidade de pessoas e seus diálogos.
90
No SUS, trata-se do controle da Política Pública de Saúde, inclusive nos
aspectos econômicos e financeiros (Lei 8.142/1990, art. 1º, § 2). Entre os
profissionais do SUS, convencionou-se falar dessa modalidade de
participação com a denominação de controle social (CRUZ,
BRUTSCHER, 2018). O autor Gilson Carvalho reforça esse entendimento,
nos dizendo que, Participação “é muito mais que Controle: é o
engajamento através da ação, é o desafio da proposição e o controle
dos fatos e feitos” (CARVALHO, 2007a, p. 48).
81
Dentre elas, os Movimentos Sociais têm e merecem destaque, pois
estão no contexto popular e apresentam contribuições nas ações de
prevenção, promoção e atenção à Saúde, exercendo um papel
importante na luta pelos direitos à saúde e na construção e
consolidação do SUS(CHAVES et al., 2014).
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Há, portanto, uma diversidade de possibilidades através das quais a
cultura popular repercute, efetivamente, na definição e, em alguns
casos, na reorientação da forma de organizar as ações nos Serviços
de Saúde (BRUTSCHER, CRUZ, 2020).
11
83
RETROSPECTIVA
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Diante de tudo o que discutimos ao longo desta disciplina, não
podemos nem devemos pensar o cuidado separado da Educação em
Saúde, da Comunicação e da Participação Social. E todas essas
dimensões devem estar atreladas ao processo de trabalho em Saúde,
principalmente nos campos que nós estamos pensando, quais sejam:
a APS e a ESF.
Até breve!
85
BIBLIOGRAFIA
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à saúde no município: em busca da integralidade. Interface
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